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Expressão imunoistoquímica da proteína S-100 na discondroplasia da tíbia

S-100 protein immunostaining in tibial dyschondroplasia

COMUNICAÇÃO COMMUNICATION

F. Capela e SilvaI, II; E. LamyII; J.C. ReisIII; J.C. PotesII, III; A. PereiraII, IV; A.S. CabritaV

IDepartamento de Biologia, Universidade de Évora, Portugal

IIInstituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM), Universidade de Évora, Portugal

IIIDepartamento de Medicina Veterinária, Universidade de Évora, Portugal

IVDepartamento de Zootecnia, Universidade de Évora, Portugal

VInstituto de Patologia Experimental, Universidade de Coimbra, Portugal

Palavras-chave: frango de corte, tíbia, discondroplasia, proteína S-100, imunoistoquímica

ABSTRACT

It was compared, by immunohistochemistry, the expression of S-100 protein from normal and tibial dyschondroplasia (TD) growth plates. The results suggest that S-100 may be involved in growth plate homeostasis. The expression of S-100 in dyschondroplastic chondrocytes may be due to a low level of calcium in the lesion and/or compression of chondrocytes by the accumulated matrix. One further possibility is the association between S-100 and the regulation of matrix metalloproteinases (MMPs) and their endogenous inhibitors (TIMPs). Further studies will be necessary to provide insight into involvement of S-100 in tibial dyschondroplasia development and the precise nature of the pathology.

Keywords: broiler, tibia, dyschondroplasia, S-100 protein, immunohistochemistry

A discondroplasia da tíbia é uma patologia das placas de crescimento epifisárias dos ossos longos das estirpes de rápido crescimento de espécies avícolas, caracterizada por anomalias na diferenciação dos condrócitos, traduzindo-se na acumulação de uma massa cartilagínea branca, opaca, não calcificada e avascular (Orth e Cook, 1994). Para além do aparecimento espontâneo, com forte base genética, vários fatores afetam a incidência e a gravidade das lesões discondroplásicas (Orth e Cook, 1994). Os trabalhos realizados têm caracterizado a cartilagem discondroplásica relativamente à expressão de vários genes e seus produtos (Farquharson e Jefferies, 2000; Praul et al., 2000; Leach e Monsonego-Ornan, 2007). Sua etiologia não está ainda devidamente esclarecida, sendo de supor uma origem multifatorial (Orth e Cook, 1994).

As proteínas S-100 constituem uma família de proteínas citoplasmáticas de baixo peso molecular, que se podem ligar ao Ca2+, ao Zn2+ e ao Cu2+ e que estão envolvidas em muitos processos biológicos importantes (Donato, 2003). Inicialmente foram descritas como sendo específicas do sistema nervoso, tendo sido, no entanto, identificadas noutros tecidos, incluindo a cartilagem e o osso (Weiss e Dorfman, 1986; Dascalu et al., 1996; Balmain et al., 2003). O presente trabalho teve como objetivo principal avaliar a expressão imunoistoquímica da proteína S-100 na discondroplasia da tíbia.

Frangos de corte, da linhagem Cobb, foram criados em sistema padronizado, desde o dia do nascimento até aos 21 dias de idade (dieta e água foram disponibilizadas ad libitum), cumprindo as normas de bem-estar animal (FELASA, <http://www.felasa.eu>). Foram estabelecidos dois grupos com 20 animais cada, sendo um grupo-controle e um grupo experimental. Para obtenção de animais com lesões discondroplásicas, incorporou-se à dieta o ditiocarbamato Tirame (CAS nº 137-26-8, SIGMA, nº T5638), na concentração de 35mg/kg. Ao fim de 21 dias, e após anestesia, os animais foram sacrificados por deslocamento cervical, seguido por remoção da tíbia esquerda e seccionamento longitudinal de sua epífise proximal. Os fragmentos obtidos foram imediatamente fixados em formaldeído neutro a 10%, tamponado, durante 24 horas, após o que se procedeu à sua desmineralização em EDTA a 5%, pH 7,4, durante 7-10 dias.

Após a desmineralização, os fragmentos foram processados em um sistema automático, incluídos em parafina e cortados em micrótomo em secções com 5μm de espessura. As secções foram estendidas em lâminas de vidro de 75 x 25mm, tratadas com polilisina. Para a imunoistoquímica, utilizou-se o método LAB-SA (UltraVision Detection System Kit, NeoMarkers, USA, ref. TP-015-HD), de acordo com as indicações do fabricante, com anticorpo primário comercial (NeoMarkers, ref. RB-044, diluição 1:100, e incubação overnight, a 4ºC). Como controle negativo, usaram-se secções sem o anticorpo primário. As preparações definitivas foram observadas em microscópio (Nikon Eclipse 600), com a ampliação de 100x, em secções correspondendo a 4-5 animais/grupo e uma secção/animal, sendo as imagens obtidas por meio de câmara digital Nikon DN100.

Foram observados condrócitos positivos na zona de hipertrofia, nas placas de crescimento normais e discondroplásicas (Fig. 1 e Tab. 1). Nestas últimas, foi evidente a expressão citoplasmática da proteína S-100 no interior das lesões, embora algumas células proliferativas tenham exibido expressão nuclear. Alguns condrócitos na fase final de hipertrofia, junto aos canais vasculares e aos locais de mineralização, mostraram, igualmente, imunomarcação citoplasmática intensa. Evidenciou-se também imunomarcação positiva de osteoblastos, osteoclastos, osteócitos e de inúmeras células da medula óssea. Não foi observada imunomarcação nas secções de controle negativo.


Os resultados obtidos estão de acordo com os de outros autores, uma vez que foram observados condrócitos positivos fundamentalmente na zona de hipertrofia e junto aos canais vasculares, nas placas de crescimento normais (Weiss e Dorfman, 1986), e nas placas de crescimento discondroplásicas, embora algumas células proliferativas tenham exibido expressão nuclear. Nas placas de crescimento discondroplásicas, foram observados condrócitos hipertróficos positivos no interior das lesões, o que pode estar associado à reparação dos tecidos adjacentes (Leonardi et al., 2000), ou pode tratar-se de uma resposta à situação de inflamação crônica derivada do estresse bioquímico e mecânico provocado pela acumulação de matriz (Dascalu et al., 1996).

Os dados deste trabalho sugerem ainda que as proteínas da família S-100 podem estar envolvidas na proliferação, na hipertrofia e na apoptose dos condrócitos, como evidenciado por outros autores para outros tecidos (Donato, 2003), na estimulação da angiogênese da placa de crescimento (Ambartsumian et al., 2001) e na participação da homeostase do cálcio (Barger e Van Eldik, 1992). O conhecimento da participação das proteínas S-100 na mineralização da cartilagem (Weiss e Dorfman, 1986; Balmain et al., 2003) e do seu envolvimento na regulação da remodelação da matriz extracelular, influenciando a expressão das metaloproteinases da matriz (MMPs) e dos seus inibidores tecidulares (TIMPs) (Elenjord et al., 2008), torna interessante um estudo mais aprofundado sobre a eventual ligação dessas proteínas no desenvolvimento de lesões discondroplásicas.

A expressão da proteína S-100 nos osteoblastos, nos osteoclastos e nos osteócitos, bem como em inúmeras células da medula óssea, similar em ambos os tipos de placas de crescimento, provavelmente, estaria relacionada com a participação da S-100 na proliferação, na diferenciação - processos essenciais no normal decurso da ossificação endocondral - e na sobrevivência desses tipos celulares (Donato, 2003).

Recebido em 28 de outubro de 2009

Aceito em 26 de fevereiro de 2010

E-mail: fcs@uevora.pt

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  • Expressão imunoistoquímica da proteína S-100 na discondroplasia da tíbia

    S-100 protein immunostaining in tibial dyschondroplasia
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Maio 2010
    • Data do Fascículo
      Abr 2010
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