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Qualidade de ovos e resistência óssea de poedeiras alimentadas com minerais orgânicos

Quality of eggs and bone strength of layers fed organic minerals

Resumos

Avaliou-se o efeito da utilização de níveis crescente de minerais orgânicos sobre a qualidade externa e interna de ovos e a resistência de ossos da tíbia de poedeiras semi-pesadas. Foram utilizadas 256 aves, com idade inicial de 30 semanas, distribuídas em 64 gaiolas perfazendo quatro aves por gaiola em delineamento inteiramente ao acaso. Os tratamentos consistiram da inclusão de minerais inorgânicos ou níveis crescentes de orgânicos na dieta basal das poedeiras, resultando em quatro tratamentos. Foram avaliados peso do ovo (g), gravidade específica, peso (g) e espessura (mm) da casca, altura do albúmen (mm), unidade Haugh, peso da gema (g) e do albúmen (g) e resistência óssea (kg). Houve diferença significativa (P>0,05) entre as médias para peso do ovo e do albúmen. O fornecimento de dietas suplementadas com minerais orgânicos, em nível intermediário resultou na produção de ovos mais pesados, com maior peso de albúmen, e na manutenção das demais características de qualidade externa e interna dos ovos e de resistência óssea.

poedeira; peso do albúmen; peso do ovo


The effect of increasing levels of organic minerals on the external and internal quality of eggs and tibia bone strength of brown-egg laying hens was studied. A total of 256, 30-week old was equally distributed in 64 cages in a total of four birds per cage in a completely randomized experimental design. The dietary treatments consisted of inorganic or increasing levels of organic minerals in the diets of laying hens, resulting in four treatments. Egg weight (g), specific gravity, shell weight and thickness (mm), albumen height (mm), Haugh unit, yolk weight and albumen (g) and bone strength (kg) were evaluated. A significant difference (P<0.05) among treatment means for egg weight and albumen was found. Intermediate inclusion levels of organic minerals resulted in the production of heavier eggs, with higher albumen weight and maintenance of the other characteristics of internal and external quality of eggs and bone strength.

laying hen; albumen weight; egg weight


ZOOTECNIA E TECNOLOGIA E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL

Qualidade de ovos e resistência óssea de poedeiras alimentadas com minerais orgânicos

Quality of eggs and bone strength of layers fed organic minerals

J.K. NunesI; V.L. SantosI; P. RossiI; M.A. AnciutiII; F. RutzI; J.C. MaierI; J.G.C. SilvaI

IUniversidade Federal de Pelotas - Capão do Leão, RS

IIInstituto Federal Sul Rio-Grandense - Campus Pelotas ­Visconde da Graça - Pelotas, RS

RESUMO

Avaliou-se o efeito da utilização de níveis crescente de minerais orgânicos sobre a qualidade externa e interna de ovos e a resistência de ossos da tíbia de poedeiras semi-pesadas. Foram utilizadas 256 aves, com idade inicial de 30 semanas, distribuídas em 64 gaiolas perfazendo quatro aves por gaiola em delineamento inteiramente ao acaso. Os tratamentos consistiram da inclusão de minerais inorgânicos ou níveis crescentes de orgânicos na dieta basal das poedeiras, resultando em quatro tratamentos. Foram avaliados peso do ovo (g), gravidade específica, peso (g) e espessura (mm) da casca, altura do albúmen (mm), unidade Haugh, peso da gema (g) e do albúmen (g) e resistência óssea (kg). Houve diferença significativa (P>0,05) entre as médias para peso do ovo e do albúmen. O fornecimento de dietas suplementadas com minerais orgânicos, em nível intermediário resultou na produção de ovos mais pesados, com maior peso de albúmen, e na manutenção das demais características de qualidade externa e interna dos ovos e de resistência óssea.

Palavras-chave: poedeira, peso do albúmen, peso do ovo

ABSTRACT

The effect of increasing levels of organic minerals on the external and internal quality of eggs and tibia bone strength of brown-egg laying hens was studied. A total of 256, 30-week old was equally distributed in 64 cages in a total of four birds per cage in a completely randomized experimental design. The dietary treatments consisted of inorganic or increasing levels of organic minerals in the diets of laying hens, resulting in four treatments. Egg weight (g), specific gravity, shell weight and thickness (mm), albumen height (mm), Haugh unit, yolk weight and albumen (g) and bone strength (kg) were evaluated. A significant difference (P<0.05) among treatment means for egg weight and albumen was found. Intermediate inclusion levels of organic minerals resulted in the production of heavier eggs, with higher albumen weight and maintenance of the other characteristics of internal and external quality of eggs and bone strength.

Keywords: laying hen, albumen weight, egg weight

INTRODUÇÃO

Os minerais estão presentes, em diversas concentrações, nos ingredientes usualmente empregados nas formulações das dietas e na constituição dos tecidos animais, e representam cerca de 3 a 4% do peso vivo das aves (Saldanha et al., 2009). Portanto, a suplementação mineral na alimentação é de extrema importância para o desenvolvimento e a manutenção dos animais (Polli, 2002).As primeiras pesquisas sobre as fontes de minerais passíveis de serem utilizadas nas dietas remetem à década de 50; neste período, os esforços eram destinados à utilização da suplementação mineral como solução para problemas ósseos e de desempenho produtivo das aves (Araujo et al., 2008).

Com relação à quantidade de suplementação, os minerais são classificados como macro ou microelementos, ou seja, quando adicionados às dietas em quantidades superiores ou inferiores a 70mg/kg de peso vivo do animal (Bondei, 1987). Entre os microminerais, o ferro e o selênio participam de inúmeras reações de síntese de compostos do organismo animal, como da hemoglobina e dos hormônios tireoidianos, além de atuarem na manutenção da integridade das membranas biológicas (MacDowell, 1992). O zinco, o manganês e o cobre estão associados ao crescimento e ao desenvolvimento do tecido ósseo.

Hoje, além dos minerais inorgânicos, os nutricionistas contam com as fontes orgânicas. Segundo Veiga e Cardoso (2005), os microelementos, ao serem ofertados na forma de um complexo orgânico ou quelatos, proteinatos ou polissacarídeos, apresentam o seu valor biológico otimizado. Uma das principais características dos minerais orgânicos é o fato de serem mais biodisponíveis, o que representa melhor aproveitamento, sendo, portanto, menos excretáveis pelos animais, proporcionando a estes melhores condições para expressão de seu genótipo (Rutz e Murphy, 2009).

Kratzer e Vohra (1986) afirmaram que os minerais orgânicos geralmente utilizam as vias de absorção das moléculas que os ligam, o que faz com que não tenham problemas de interações com outros minerais, resultando em absorção superior quando comparados aos inorgânicos. Para Reddy et al. (1992) e Clydesdale (1998), o ligante forma um composto solúvel com o mineral, sendo, com isso, melhor absorvido pela mucosa intestinal e, consequentemente, mais biodisponível. De acordo com Junqueira (2008), a biodisponibilidade de minerais orgânicos pode ultrapassar 90%, o que poderá resultar em maior produção de ovos, casca mais resistente, menor mortalidade e redução dos efeitos do estresse (Sechinatto, 2003), visto que, durante a ação de fatores estressantes, seja de forma aguda ou crônica, vários minerais são mobilizados, sendo, por conseguinte, excretados em maior quantidade, podendo levar a perdas econômicas e à contaminação do meio ambiente (Malleto, 1997).

Como todos os animais, as poedeiras precisam ter suas necessidades nutricionais atendidas diariamente, como aporte para a manutenção de sua produtividade. Assim sendo, as exigências de nutrientes variam com a idade, a linhagem, a taxa de produção, o tamanho do ovo e o clima. Estudos realizados por Kienholz (1992), Xavier et al. (2004), Rutz et al. (2005) e Brito et al. (2006) apontam a suplementação mineral atuando positivamente na resistência óssea, na excreção minerálica, no desempenho produtivo e na qualidade dos ovos.

O trabalho desenvolvido teve por objetivo a avaliação da substituição dos minerais inorgânicos por orgânicos sobre a qualidade externa e interna de ovos e a resistência óssea de poedeiras semipesadas.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi aprovado pela Comissão de Ética e Experimentação Animal da Universidade Federal de Pelotas e está protocolado sob número 23110.000618/2009-74.

Durante 280 dias, divididos em 10 ciclos, foram utilizadas 256 poedeiras semipesadas da linhagem Hisex Brown, com idade inicial de 30 semanas. As aves foram alojadas em 64 gaiolas de um aviário do tipo dark house, e aunidade experimental foi representada pela gaiola com quatro poedeiras alojadas. A densidade de alojamento respeitou o protocolo de bem-estar para aves poedeiras (União..., 2008), que é de 450cm2/ave. O fornecimento de ração e de água foi à vontade, sendo que, para a alimentação, foram utilizados comedouros do tipo calha aberta, dispostos na frente das gaiolas. Já a água foi disponibilizada por meio de bebedouros tipo nipple, de maneira que as poedeiras de cada gaiola tivessem acesso a dois bebedouros.

As poedeiras foram submetidas a um fotoperíodo de 16h de luz diária. A temperatura e a umidade interna do aviário foram registradas por um termo-higrômetro de mínima e máxima, tendo oscilado, durante o período experimental, entre 18,0°C e 25,0°C e entre 50% e 65%, respectivamente.

Os tratamentos (Tab. 1 e 2) consistiram da inclusão de minerais inorgânicos e porcentagens de minerais orgânicos na dieta basal das poedeiras, resultando em quatro tratamentos, em que T1: dieta basal + 0,3ppm de selenito de Na + 60ppm óxido de Zn + 60ppm monóxido de Mn + 30ppm de sulfato Fe + 0,5ppm de iodato de Ca + 6,0ppm de sulfato de Cu; T2: dieta basal + 0,1ppm de Se levedura + 20ppm de proteinato de Zn + 20ppm de proteinato de Mn + 10ppm de proteinato de Fe + 2,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T3: dieta basal + 0,2ppm de Se levedura + 40ppm de proteinato de Zn + 40ppm de proteinato de Mn + 20ppm de proteinato de Fe + 4,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T4: dieta basal + 0,3ppm de Se levedura + 60ppm de proteinato de Zn + 60ppm de proteinato de Mn + 30ppm de proteinato de Fe + 6,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca. As dietas formuladas eram isocalóricas, isocálcicas, isofosfóricas e isosódicas, variando os níveis em função do atendimento das exigências nutricionais, de acordo com a idade das aves.

Tabela 1. Composição das dietas experimentais fornecidas às poedeiras, no período de 30 a 45 semanas de idade

T1: dieta basal + 0,3ppm de selenito de Na + 60ppm óxido de Zn + 60ppm monóxido de Mn + 30ppm de sulfato Fe + 0,5ppm de iodato de Ca + 6,0ppm de sulfato de Cu; T2: dieta basal + 0,1ppm de Se levedura + 20ppm de proteinato de Zn + 20ppm de proteinato de Mn + 10ppm de proteinato de Fe + 2,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T3: dieta basal + 0,2ppm de Se levedura + 40ppm de proteinato de Zn + 40ppm de proteinato de Mn + 20ppm de proteinato de Fe + 4,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T4: dieta basal + 0,3ppm de Se levedura + 60ppm de proteinato de Zn + 60ppm de proteinato de Mn + 30ppm de proteinato de Fe + 6,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca.

Garantia por kg do produto:

1Suplemento mineral inorgânico (Alltech Agroindustrial do Brasil): monóxido de Mn: 140000mg, óxido de Zn: 100000mg, sulfato ferroso: 120000mg, sulfato de Cu: 200000mg, iodato de Ca: 1400mg, selenito de Na: 700mg.

2Suplemento mineral, vitamínico e aminoácido: Ca: 269g, P: 94g, Mn: 2334mg, Zn: 1667mg, Fe: 2000mg, Cu: 334mg, I: 12mg, Se: 10,2mg, vit. A: 334000 UI, vit. D3: 67000 UI, vit. E: 234mg, vit. K3: 50mg, vit. B1: 54mg, vit. B2 147mg, vit. B6: 100g, vit. B12: 400mcg, niacina: 867mg, ácido fólico: 24mg, ácido pantotênico: 334mg, metionina: 34g.

3Suplemento mineral orgânico1: Se levedura: 1000mg/kg.

4Suplemento mineral orgânico1: proteinato de Zn: 15%.

5Suplemento mineral orgânico1: proteinato de Mn: 150000mg/kg.

6Suplemento mineral orgânico1: proteinato de Fe: 150000g.

7Suplemento mineral orgânico1: proteinato de Cu: 100000g.

Tabela 2. Composição das dietas experimentais fornecidas às poedeiras, no período de 46 a 70 semanas de idade

T1: dieta basal + 0,3ppm de selenito de Na + 60ppm óxido de Zn + 60ppm monóxido de Mn + 30ppm de sulfato Fe + 0,5ppm de iodato de Ca + 6,0ppm de sulfato de Cu; T2: dieta basal + 0,1ppm de Se levedura + 20ppm de proteinato de Zn + 20ppm de proteinato de Mn + 10ppm de proteinato de Fe + 2,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T3: dieta basal + 0,2ppm de Se levedura + 40ppm de proteinato de Zn + 40ppm de proteinato de Mn + 20ppm de proteinato de Fe + 4,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T4: dieta basal + 0,3ppm de Se levedura + 60ppm de proteinato de Zn + 60ppm de proteinato de Mn + 30ppm de proteinato de Fe + 6,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca.

Garantia por kg do produto:

1Suplemento mineral inorgânico: monóxido de Mn: 140000mg, óxido de Zn: 100000mg, sulfato ferroso: 120000mg, sulfato de Cu: 200000mg, iodato de Ca: 1400mg, selenito de Na: 700mg.

2Suplemento mineral, vitamínico e aminoácido: Ca: 269g, P: 94g, Mn: 2334mg, Zn: 1667mg, Fe: 2000mg, Cu: 334mg, I: 12mg, Se: 10,2mg, vit. A: 334000UI, vit. D3: 67000UI, vit. E: 234mg, vit. K3: 50mg, vit. B1: 54mg, vit. B2 147mg, vit. B6: 100 g, vit. B12: 400mcg, niacina: 867mg, ácido fólico: 24mg, ácido pantotênico: 334mg, metionina: 34g.

3Suplemento mineral orgânico: Se levedura: 1000mg/kg.

4Suplemento mineral orgânico: proteinato de Zn: 15%.

5Suplemento mineral orgânico: proteinato de Mn: 150000mg/kg.

6Suplemento mineral orgânico: proteinato de Fe: 150000g.

7Suplemento mineral orgânico: proteinato de Cu: 100000g.

As variáveis de qualidade externa dos ovos analisadas foram peso do ovo, gravidade específica, peso e espessura da casca, e as de qualidade interna foram altura do albúmen, unidade Haugh e pesos da gema e do albúmen do ovo. Essas variáveis foram analisadas para cada período de 28 dias, e a produção de ovos teve controle diário.

Ao final do período experimental, foram abatidas três aves de cada tratamento, para coleta dos ossos da tíbia, esquerdo e direito. Os ossos foram mantidos sob refrigeração e, posteriormente, foram encaminhados para a análise de resistência óssea, utilizando-se o equipamento Instron Universal Testing Machine (MOD. 1130). Para a obtenção da medida de resistência dos ossos da tíbia, foi utilizada uma célula larga, plana, de pistão chato com diâmetro de 24mm e com calibre de 50kg, e a velocidade da carga e da cabeça empregada para a leitura dos resultados foi de 10cm/min.

O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, e os dados foram submetidos à análise de variância a 5% de probabilidade, regressão polinomial e comparação de médias por meio de contrastes polinomiais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados das variáveis de qualidade externa dos ovos estão apresentados na Tab. 3. O peso do ovo produzido pelas poedeiras que receberam T3 - dieta suplementada com percentual intermediário de minerais orgânicos ­apresentou significativamente (P=0,0234) valores mais elevados. O resultado assemelha-se ao de Xavier et al. (2004), que observaram ovos mais pesados (1,3%) por aves alimentadas com minerais quelatados. O maior peso do ovo é reflexo do aumento da gema, do albúmen e da casca do ovo (Rutz et al., 2003), logo proveniente do melhor aproveitamento de nutrientes. Araujo et al. (2008) afirmaram que, além da quantidade e da qualidade dos minerais na ração, a inter-relação entre os minerais e os demais nutrientes também é importante.

Tabela 3. Qualidade externa de ovos de poedeiras alimentadas com minerais orgânicos, no período de 30 a 70 semanas de idade

1Tratamento: T1: dieta basal + 0,3ppm de selenito de Na + 60ppm óxido de Zn + 60ppm monóxido de Mn + 30ppm de sulfato Fe + 0,5ppm de iodato de Ca + 6,0ppm de sulfato de Cu; T2: dieta basal + 0,1ppm de Se levedura + 20ppm de proteinato de Zn + 20ppm de proteinato de Mn + 10ppm de proteinato de Fe + 2,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T3: dieta basal + 0,2ppm de Se levedura + 40ppm de proteinato de Zn + 40ppm de proteinato de Mn + 20ppm de proteinato de Fe + 4,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T4: dieta basal + 0,3ppm de Se levedura + 60ppm de proteinato de Zn + 60ppm de proteinato de Mn + 30ppm de proteinato de Fe + 6,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca.

2P: probabilidade de declarar significativo efeito inexistente dos minerais.

3Equação da função polinomial ajustada: peso do ovo = 32,968 + 19,116 minerais orgânicos – 3,107 minerais orgânicos2; gravidade específica = 1092; peso da casca do ovo = 4,057 + 1,480 minerais orgânicos - 0,237 minerais orgânicos2; espessura da casca do ovo = 0,42.

Acompanhando o aumento no peso do ovo, as aves alimentadas com T3 produziram ovos com cascas mais pesadas, apresentando as duas variáveis, peso do ovo (PO) e de casca (PSCS), pela análise de regressão polinomial, resposta quadrática: PO = 32,968 + 19,116 minerais orgânicos - 3,107 minerais orgânicos2; e PSCS = 4,057 + 1,480 minerais orgânicos - 0,237 minerais orgânicos2. Lundeen (2001) observou melhora da qualidade de casca de ovos de poedeiras quando suplementadas com manganês e zinco quelatados no período de 20 a 60 semanas de idade. O Zn participa, sob a forma de carbonato, da fixação do Ca nos ossos e da ativação de sistemas enzimáticos, entre outras funções orgânicas (Torres, 1969). A adição de zinco metionina à dieta, comparada com óxido de zinco para aves de postura, provoca uma redução nos problemas de casca do ovo, por aumentar a resistência à quebra e a atividade da anidrase carbônica, principal enzima responsável pela síntese de carbonato de cálcio para a formação da casca do ovo.

Para gravidade específica (GE) e espessura da casca do ovo (ESC), não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) entre os tratamentos, e a resposta polinomial verificada foi constante: GE = 1092; ECS = 41,98. Dale e Strong (1998), ao estudarem a influência de um complexo mineral orgânico na gravidade específica dos ovos, também não encontraram diferença entre os tratamentos utilizados, mas, quando foi analisado um período em que foram removidos os minerais orgânicos, os autores observaram menor valor de gravidade específica para os ovos das aves que receberam o mineral orgânico quando comparados aos das aves que receberam minerais na forma inorgânica. Contudo, no presente experimento, a qualidade da casca dos ovos, representada pela gravidade específica, mesmo não diferindo entre os tratamentos, apresentou valor acima de 1080, valor mínimo para que os ovos comerciais resistam ao transporte e ao processamento (Balander et al., 1997).

Contrastando os tratamentos com mineral inorgânico (T1) e minerais orgânicos no maior percentual (T4), observou-se que as aves alimentadas com os minerais inorgânicos produziram ovos mais pesados (P<0,0001). Portanto, não é conveniente utilizar os mesmos níveis de minerais orgânicos em substituição aos inorgânicos, pois tanto a deficiência como o excesso de minerais na dieta podem proporcionar desequilíbrio mineral, prejudicando a absorção de nutrientes e o desempenho animal (Araujo et al., 2008).

Na Tab. 4, podem ser observados os resultados das variáveis de qualidade interna dos ovos estudadas. Para as variáveis altura do albúmen, unidade Haugh e peso da gema, não foram verificados efeitos significativos (P>0,05) dos tratamentos. Estes dados assemelham-se aos obtidos por Lundeen (2001) e Saldanha et al. (2009), que não observaram efeito de tratamento sobre a qualidade interna de ovos, ao contrastarem dietas que continham minerais inorgânicos com dietas que apresentavam na sua formulação minerais orgânicos.

Tabela 4. Qualidade interna dos ovos de poedeiras alimentadas com minerais orgânicos, no período de 30 a 70 semanas de idade

1Tratamento: T1: dieta basal + 0,3ppm de selenito de Na + 60ppm óxido de Zn + 60ppm monóxido de Mn + 30ppm de sulfato Fe + 0,5ppm de iodato de Ca + 6,0ppm de sulfato de Cu; T2: dieta basal + 0,1ppm de Se levedura + 20ppm de proteinato de Zn + 20ppm de proteinato de Mn + 10ppm de proteinato de Fe + 2,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T3: dieta basal + 0,2ppm de Se levedura + 40ppm de proteinato de Zn + 40ppm de proteinato de Mn + 20ppm de proteinato de Fe + 4,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T4: dieta basal + 0,3ppm de Se levedura + 60ppm de proteinato de Zn + 60ppm de proteinato de Mn + 30ppm de proteinato de Fe + 6,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca.

2P: probabilidade de declarar significativo efeito inexistente dos minerais.

3Equação da função polinomial ajustada: altura do albúmen = 7,28; unidade Haugh = 84,78; peso da gema = 7,295 + 5,801 minerais orgânicos – 0,972 minerais orgânicos2; peso do albúmen = 18,520 + 12,247 minerais orgânicos - 1,992 minerais orgânicos2.

Observou-se efeito significativo (P=0,0375) dos tratamentos sobre o peso do albúmen, o qual apresentou maior valor para os ovos das aves alimentadas com o T3. Também se verificou resposta polinomial quadrática para pesos da gema e do albúmen. Embora não significativo, o peso da gema foi maior para os ovos produzidos pelas aves que receberam o T3. Portanto, o observado associa-se ao maior peso do ovo proveniente também desse tratamento.

Ao contrastar os tratamentos 1 e 4, verificou-se efeito significativo para pesos da gema (P=0,0036) e do albúmen (P=0,0011), sendo os maiores pesos para os ovos das poedeiras alimentadas com o T1. Ressalta-se que a utilização dos minerais orgânicos em substituição aos inorgânicos não deve ser realizada nos mesmos percentuais (Araujo et al., 2008).

Segundo Booden (1986) e Santos (2005), o albúmen constitui cerca de 60%, e a gema 30% do peso do ovo, logo gema e albúmen mais pesados refletem em ovos mais pesados. Utilizando uma combinação de minerais orgânicos ­zinco, selênio e manganês ­Rutz et al. (2003) observaram melhora no peso do albúmen e da gema do ovo de poedeiras, durante o segundo ciclo de postura. Um albúmen mais consistente pode ser reflexo da utilização de selênio orgânico (Wakebe, 1999) ou devido a uma combinação de minerais orgânicos ­selênio, zinco e manganês (Rutz et al., 2003). Ainda, segundo Surai (2006), citado por Rutz e Murphy (2009), a suplementação das dietas de poedeiras com selênio orgânico, entre outros benefícios, resulta em maior concentração deste mineral em todas as partes do ovo.

Não se observou efeito significativo dos tratamentos para a variável resistência óssea (ROS), obtendo-se resposta polinomial constante (ROS = 14,28kg), conforme pode ser observado na Tab. 5. Contudo, algumas pesquisas (Henry et al., 1992; Wedekind et al., 1992; Brito et al., 2006) demonstraram haver resultados significativos para esta variável quando a dieta dos animais foi suplementada com minerais orgânicos.

Tabela 5. Resistência dos ossos da tíbia de poedeiras alimentadas com minerais orgânicos, no período de 30 a 70 semanas de idade

1Tratamento: T1: dieta basal + 0,3ppm de selenito de Na + 60ppm óxido de Zn + 60ppm monóxido de Mn + 30ppm de sulfato Fe + 0,5ppm de iodato de Ca + 6,0ppm de sulfato de Cu; T2: dieta basal + 0,1ppm de Se levedura + 20ppm de proteinato de Zn + 20ppm de proteinato de Mn + 10ppm de proteinato de Fe + 2,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T3: dieta basal + 0,2ppm de Se levedura + 40ppm de proteinato de Zn + 40ppm de proteinato de Mn + 20ppm de proteinato de Fe + 4,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca; T4: dieta basal + 0,3ppm de Se levedura + 60ppm de proteinato de Zn + 60ppm de proteinato de Mn + 30ppm de proteinato de Fe + 6,0ppm de proteinato de Cu + 0,5ppm de iodato de Ca.

2P: probabilidade de declarar significativo efeito inexistente dos minerais.

3Equação da função polinomial ajustada: resistência óssea = 14,28kg.

Os minerais orgânicos utilizados, no presente estudo, foram adequadamente absorvidos e metabolizados. Parte disso pode, possivelmente, ser justificado pela boa formação óssea observada. O osso é um tipo de tecido conjuntivo formado por matriz orgânica, onde microminerais (cobre, manganês e zinco), como cofatores enzimáticos, apresentam papel fundamental na sua síntese e uma porção mineral, constituída de fosfato de cálcio. O fornecimento adequado de cálcio na dieta, por exemplo, não propicia carência deste mineral para a formação da casca do ovo, portanto não há necessidade da utilização de cálcio do osso medular (Saldanha et al., 2009). Desse modo, as aves depositam as quantidades necessárias de minerais nos ossos, que os tornam mais densos e resistentes, mesmo com o aumento da idade (Paz, 2006). Não havendo perdas na soma total de minerais da estrutura óssea, não ocorre aumento na fragilidade e susceptibilidade a fraturas, principalmente da tíbia (Whitehead e Fleming, 2000).

CONCLUSÕES

O fornecimento de dietas suplementadas com minerais orgânicos, em nível intermediário de substituição dos minerais inorgânicos, para poedeiras semipesadas, resulta na produção de ovos mais pesados, com maior peso de albúmen, e na manutenção das demais características de qualidade externa e interna dos ovos e de resistência óssea.

Recebido em 9 de setembro de 2011

Aceito em 20 de julho de 2012

E-mail: julianaklug@yahoo.com.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 2013

Histórico

  • Recebido
    09 Set 2011
  • Aceito
    20 Jul 2012
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