Ao exame de ultrassom, o parênquima testicular de bovinos é homogêneo e tem ecogenicidade moderada (Pechman e Eilts, 1987; Cardilli et al., 2010), a qual aumenta com a idade do animal (Chandolia et al., 1997; Aravindakshan et al., 2000; Kastelic, 2001; Brito et al., 2004; Abdel-Razek e Ali, 2005; Cardilli et al., 2012).
A circunferência escrotal é o melhor indicador de puberdade em bovinos Nelore e pode ser utilizada na seleção de touros para precocidade sexual (Brito et al., 2004). Alguns autores tentaram estabelecer a importância da ultrassonografia testicular como indicador de precocidade sexual ou de potencial reprodutivo dentro de um rebanho, fundamentados em resultados nos quais animais púberes tiveram o parênquima testicular mais ecogênico que os pré-púberes na mesma idade (Aravindakshan et al., 2000; Brito et al., 2004).
Brito et al. (2004) informaram que bovinos Nelore criados em sistema extensivo dificilmente apresentam sêmen compatível com puberdade antes dos 16 meses de idade; a mesma observação foi feita por Cardilli et al. (2012). No presente estudo, buscaram-se animais com sêmen compatível com puberdade antes dos 16 meses, com o intuito de verificar se esses animais apresentavam maior ecogenicidade testicular que aqueles não púberes na mesma idade, a fim de demonstrar a importância da ultrassonografia como indicador de precocidade sexual ou potencial reprodutivo dentro de um rebanho. Este estudo se baseou nos resultados obtidos por Freneau et al. (2006), os quais relataram que a idade média de puberdade para bovinos Nelore criados em sistema extensivo foi de 15 meses, bem como no fato de que, neste caso, tratava-se de animais criados em sistema intensivo, já que a nutrição é um relevante fator que interfere na idade à puberdade.
Foram realizados exames ultrassonográficos em testículos de 111 bovinos da raça Nelore, os quais faziam parte de um mesmo rebanho, criado em sistema intensivo, na cidade de Sertãozinho-SP (latitude -21º 08' 16" e longitude 47º 59' 25"). Os animais foram mantidos durante todo o período de realização da pesquisa com uma dieta de 14% de proteína bruta e 63 % de energia.
Os exames ultrassonográficos foram realizados com aparelho Pie Medical Scanner 200C, ligado a um transdutor linear de 8MHz. Após contensão dos animais em tronco e aplicação de gel acústico diretamente sobre a bolsa testicular, foram realizadas varreduras em planos transversais e longitudinais nos testículos direito e esquerdo. Ao início de cada dia de trabalho, o aparelho de ultrassonografia foi calibrado sempre de uma mesma maneira quanto à intensidade de brilho e também quanto à posição do foco principal.
As imagens selecionadas foram transferidas diretamente ao computador por meio do software Eview-Echo Image Viewer, versão 1.00, Pie Medical Equipament B.V., copyright Pie Medical (EIV). Com o auxílio do software EIV, foram selecionadas duas regiões de interesse (RI) em cada plano de varredura nos testículos direito e esquerdo. Cada RI foi delimitada por um quadrado de 6,3mm de lado e estava localizada lateral e medialmente ao mediastino testicular no plano transversal e nas faces ventral e dorsal do testículo, excluindo-se o mediastino testicular, no plano longitudinal. As RI contiveram o máximo de parênquima testicular, sem englobar pele, túnicas, epidídimo e o mediastino testicular.
Automaticamente, o software EIV calculou a ecogenicidade do parênquima testicular nas RI, em uma escala que variou de zero a 100%, sendo 0% para uma imagem totalmente preta ao monitor (parênquima testicular menos ecogênico) e 100% para uma imagem totalmente branca (parênquima testicular mais ecogênico). Também por meio do software EIV foram feitas as aferições da espessura do mediastino testicular, sempre no plano longitudinal de varredura dos testículos.
Os exames andrológicos foram feitos segundo a metodologia descrita por Krause (1993).
A colheita do sêmen foi realizada por eletroejaculação aos 13 e 15 meses de idade, sempre após os exames ultrassonográficos. Os parâmetros avaliados e a metodologia de análise do sêmen foram as mesmas utilizadas por Brito et al. (2004).
O parâmetro estabelecido para a puberdade neste estudo foi: ejaculado com mínimo de 50x106 espermatozoides, pelo menos 10% de motilidade progressiva e 70% ou mais de células normais no ejaculado, semelhante ao utilizado por Brito et al. (2004).
A ecogenicidade do parênquima testicular foi analisada pelo método dos quadrados mínimos, por meio do procedimento General Linear Model (GLM) do programa SAS (SAS 9.1, SAS Institute, Cary, NC, USA), utilizando-se um modelo que incluiu os efeitos de touro (1-111), planos (longitudinal e transversal), testículos (direito e esquerdo), idade e interações entre esses efeitos. Quando o efeito ou a interação foi significativa pelo teste F, as médias foram comparadas pelo teste Tukey a 5% de probabilidade.
Entre os 111 animais, 4 apresentaram sêmen compatível com puberdade aos 15 meses de idade (Tab. 1), e a média da ecogenicidade do parênquima testicular dos nove aos 15 meses foi significativamente maior nos animais púberes quando comparados com os pré-púberes na mesma idade, respectivamente, 35,66% e 30,44%. A diferença de ecogenicidade entre animais púberes e pré-púberes passou a ser significativa a partir dos 13 meses (Tab. 2).
Tabela 1 Análise do sêmen dos animais púberes aos 15 meses de idade. Unesp - Jaboticabal, SP, 2013
Touros | Volume do ejaculado(mL) | Motilidade(%) | Vigor(0-5) | Concentração (x106/mm3) | Defeitos maiores(%) | Defeitos menores(%) | Defeitos totais(%) |
---|---|---|---|---|---|---|---|
2 | 5 | 50 | 3 | 1000 | 4 | 6 | 10 |
7 | 4 | 10 | 2 | 100 | 6 | 5 | 11 |
10 | 4 | 10 | 2 | 300 | 4 | 3 | 7 |
11 | 4 | 25 | 2 | 300 | 5 | 3 | 8 |
Tabela 2 Média da ecogenicidade do parênquima testicular para os animais púberes e pré-púberes em cada momento de avaliação. Unesp - Jaboticabal, SP, 2013
Meses | Púberes(%) | Pré-púberes(%) |
---|---|---|
9 | 19,25a | 19,02ª |
13 | 43,16a | 33,15b |
15 | 44,57a | 39,15b |
Médias seguidas de letras diferentes entre as linhas diferem estatisticamente pelo teste Tukey (P<0,05).
Aravindakshan et al. (2000) e Brito et al. (2004), ao trabalharem com as raças Hereford e Canchim, respectivamente também encontraram resultados semelhantes ao do presente estudo e sugeriram que a ultrassonagrafia pode ser utilizada como um indicador de precocidade sexual. Brito et al. (2004) concluíram que a circunferência escrotal foi melhor indicador de precocidade sexual do que a medida da ecogenicidade do parênquima testicular, pois apresentou maiores valores em testes de sensibilidade e especificidade para essa característica.
Cardilli et al. (2012), em um estudo com bovinos Nelore criados em sistema extensivo, relataram resultados contraditórios àqueles apresentados acima, Esses autores não encontraram diferença significativa na ecogenicidade do parênquima testicular entre animais púberes e pré-púberes na mesma idade. Vale ressaltar, entretanto, que o presente estudo foi feito com um maior número de animais, criados em sistema intensivo, haja vista a grande importância da nutrição na reprodução.
Com base nos resultados encontrados no presente estudo, sugere-se que a ultrassonografia testicular pode ser utilizada como indicador de precocidade sexual, já que animais púberes apresentam maior ecogenicidade testicular que os pré-púberes na mesma idade.