Acessibilidade / Reportar erro

Nota dos editores

EDITORIAL

Nota dos editores

Certa vez o jovem e brilhante aluno de doutorado do Departamento de Estatística Social da Universidade de Southampton, Youni Courra, discorria sobre as contribuições científicas contemporâneas. Courra, hoje professor sênior da London School of Economics, ressaltava que as teses de doutorado tinham como finalidade trazer pequenas contribuições para a solução de problemas suscitados pelos novos paradigmas. Na realidade, de um modo geral, as diversas áreas de atuação se desenvolvem por meio de pequenas contribuições, cujo acúmulo pode resultar em grandes transformações.

E é assim que percebemos a dinâmica da Revista Brasileira de Estudos de População. Ao longo dos 28 anos de existência, o sucesso da Rebep resultou das pequenas colaborações de cada editor e conselho editorial responsáveis pela organização da revista. Dois fatos, no entanto, merecem destaque: a regularização da periodicidade da Rebep, alcançada na gestão de Elizabeth Bilac, e sua indexação na SciELO, concretizada no período em que Carlos Eugênio era o editor.

Na gestão que ora se encerra, houve grande ênfase na divulgação da revista nas áreas afins, em linha com o caráter interdisciplinar da Rebep, resultando em aumento significativo do número de artigos submetidos, o que torna viável a mudança da periodicidade da revista, de semestral para quadrimestral. Todo esse esforço foi reconhecido na classificação dos periódicos no Qualis/Capes. Na avaliação referente ao triênio 2009-2011, recentemente publicada pela Capes, a Rebep manteve a classificação A2 nas áreas de Planejamento Urbano e Regional/Demografia, Sociologia e História; passou de B1 para A2 nas áreas interdisciplinares e Geografia; e foi classificada como B1 na área de Enfermagem. A conquista mais importante, porém, se deu na área de Saúde Coletiva, na qual a Rebep passou de B3 para B1, atingindo o mesmo patamar de periódicos tradicionais, como a Revista Brasileira de Epidemiologia, da USP, a Ciência & Saúde Coletiva, da Abrasco, e a Revista Brasileira de Saúde Materno-Infantil, do Imip. Estamos, assim, exultantes e aproveitamos para parabenizar todos os editores e conselhos editoriais envolvidos nesse rico processo de trabalho junto à Rebep.

Em relação ao presente número, Queiroz e Sawyer analisam o quesito do Censo 2010 referente ao número de óbitos ocorridos no domicílio nos últimos 12 meses. França e Rios-Neto chamam a atenção para as dificuldades do sistema de ensino fundamental em atender às necessidades e desempenho de crianças com algum tipo de incapacidade. A educação é abordada em outros dois artigos, nos quais o foco principal é sua associação com a desigualdade. Marteleto, Carvalhaes e Hübert avaliam as diferenças de oportunidades de educação entre adolescentes do Brasil e do México, enquanto França e Gonçalves mensuram o impacto de diversas dimensões da desigualdade sobre o rendimento escolar. A desigualdade também está presente no artigo de Xavier e Neves, que investigam como o status ocupacional é afetado pela origem social de cada indivíduo, com base em modelos que consideram a estrutura hierárquica dos dados. Já Muniz dá um panorama da dinâmica demográfica por níveis de renda.

Em um país no qual o processo de envelhecimento vem se desenvolvendo rapidamente, Santos e colaboradores traçam o perfil sociodemográfico dos aposentados por invalidez no Estado da Paraíba. Os padrões de casamento de imigrantes brasileiros em Portugal são tematizados por Ferreira e Ramos. Segundo as autoras, o elevado número de casamentos mistos sinaliza uma forte integração com a população das comunidades nas quais os imigrantes foram acolhidos.

Outra vertente importante abordada nesse número diz respeito à violência de gênero e gravidez na adolescência. Chacham e colaboradores mostram que a relação com parceiros abusivos diminui a chance de uso de algum método contraceptivo na relação sexual, aumentando assim o risco de uma gravidez na adolescência. Tema tão polêmico nos fóruns políticos e acadêmicos, o aborto entre jovens de comunidades pobres é analisado por Silva e Andreoni. Nesse estudo ressalta-se a necessidade de implementação de políticas voltadas para a saúde reprodutiva entre os jovens, de modo a evitar a gravidez indesejada.

Refletindo a integração de diversas áreas do conhecimento, a Rebep traz dois artigos que problematizam a questão da população e meio ambiente. Silva, Barbieri e Monte-Mór, por meio de análise de cluster, descrevem o perfil demográfico mais associado com a produção de resíduos sólidos no município de Belo Horizonte. Já Matos nos remete a uma instigante reflexão sobre população, recursos naturais e territorialização. Finalizando esse conjunto de artigos, Ferreira e colaboradores analisam o impacto das exposições ambientais sobre a incidência de leucemias.

Duas notas de pesquisa são incluídas nesta edição. A nota elaborada por Machado e Guimarães avalia a utilização de Respondent-driven sampling (RDS) no processo de coleta de informações de populações de difícil acesso, neste caso, homens que têm sexo com homens. Em outra linha de pesquisa, Dias e colaboradores descrevem o perfil de indivíduos diagnosticados com depressão no Estado de Minas Gerais.

Complementando esse número, temos as resenhas de Oswaldo Truzzi e de Adriane Medeiros.

Iuri da Costa Leite

Carla Jorge Machado

Editores

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 2012
Associação Brasileira de Estudos Populacionais Rua André Cavalcanti, 106, sala 502., CEP 20231-050, Fone: 55 31 3409 7166 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: editor@rebep.org.br