Acessibilidade / Reportar erro

NOTA DA EDITORA

Recebi o convite para ser editora da Rebep com muita honra e satisfação. Após tantos anos apoiando as diretorias da Abep e da Alap, colaborando para o crescimento dessas associações e para a institucionalização de suas revistas, conheço todo o difícil caminho já percorrido e o lugar privilegiado onde a revista se encontra. Reconheço o tamanho da responsabilidade que esta atividade implica, pois para manter a revista neste caminho, em um contexto de grande aumento do número de veículos de publicação e métricas cada vez mais exigentes na produção científica, principalmente dos programas de pós-graduação, a tarefa não é menor. Juntamente com o presidente da Abep, Cássio Turra, colocamos um objetivo principal para os próximos anos: internacionalizar a Rebep. Ou seja, fazer com que nossas pesquisas e nossos ensaios científicos sejam conhecidos e reconhecidos em todo o mundo. A nossa barreira a transpor estava clara, o idioma. No entanto, as barreiras vão além do idioma. Uma pequena pesquisa sobre as citações dos trabalhos publicados na Rebep revelam que nós mesmos não nos reconhecemos (por meio das citações) e somos pouco reconhecidos em outras revistas brasileiras, e mesmo nas latino-americanas, supostamente mais próximas do nosso idioma.

Para percorrer este caminho, convidamos um Comitê Editorial que tem muita experiência em publicações, demógrafos brasileiros, latino-americanos e norte-americanos, todos com um relacionamento de pesquisa e de colaboração conhecido de longa data com a demografia brasileira. Juntamente com o Comitê Editorial, além de buscar a internacionalização, vamos trabalhar para transpor as barreiras nacionais, modernizar e agilizar a revista. Neste sentido, este número traz novidades em seu formato. Os padrões em coluna do texto não combinavam mais com a leitura na tela, cada vez mais frequente; assim, buscamos um desenho interno que combinasse com esta nova forma de leitura. Fizemos também uma pesquisa para encontrar uma fonte de letra e um espaçamento entre linhas que proporcionassem uma leitura mais fluida e agradável. Esperamos que este novo interior da revista cumpra com estes requisitos. Para acompanhar este interior mais moderno, mudamos também a capa, marcando este novo momento da revista. Com inspiração em nosso grande arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), que sempre trabalhou com curvas, que são ferramentas de análise do dia-a-dia dos demógrafos, a capa traz uma curva demográfica ao seu estilo.

A maior tarefa na modernização está em andamento e esperamos em breve colocá-la à disposição do usuário. Trata-se da submissão, acompanhamento e publicação da revista de maneira informatizada. Para tal escolhemos o software de uso livre, Open Journal System (OJS), traduzido no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), que desde 2003 é conhecido e difundido como Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (Seer). A vantagem do uso do sistema é a facilidade no recebimento de manuscritos para publicação, assim como sua distribuição para avaliadores, mantendo a característica de avaliação duplo-cega utilizada na revista a partir do cadastro de avaliadores. Toda a movimentação fica registrada em uma base de dados, minimizando perdas de comunicação e, principalmente, permitindo consultas sobre estatísticas de submissão, revisão, aceitação, enfim estatísticas sobre o processo completo, desde o primeiro envio de um manuscrito até sua possível publicação. Com isso, poderemos facilmente ter indicadores que podem tanto nos revelar o que vai por bom caminho como identificar novos desafios.

Outra facilidade do sistema informatizado é que, além de disponibilizar todos os volumes e números da Rebep, desde a sua fundação em 1984, com leitura completa na Internet, também será possível a busca por meio de qualquer palavra do título, palavras-chave ou qualquer palavra contida no resumo e nomes de autores. De fato, como os resumos são colocados em formato aberto na Internet, ficam disponíveis para toda base de dados e indexadores de artigos científicos espalhados pelo mundo, ampliando o escopo de alcance da revista, além da identificação dos artigos por DOI (Digital Object Identifier). O trabalho de informatizar este passivo de quase 30 anos de publicações é grande, mas será recompensado pela facilidade de ter os volumes completos e sistematizados em um local próprio, um espaço que será facilmente acessado pelos administradores do sistema de qualquer parte do mundo, independente de onde estará localizado seu/sua editor/a ou assistentes administrativos. Também aproveitaremos este canal do site da revista, por meio do componente de notícias, para comunicação sobre a investigação demográfica no país e sua interlocução com as áreas afins. Daremos mais informações sobre estas facilidades e outras no próximo número.

Todo este trabalho não seria possível sem a participação e colaboração ativa do Comitê Editorial na definição dos números deste ano, ajudando na avaliação de artigos, oferecendo excelentes contribuições para as inovações mencionadas e com ótimas ideias de quais são os caminhos que temos que seguir, por exemplo, repensando o regulamento da revista. Para quem está chegando, também faz enorme diferença ter uma equipe de trabalho muito competente e comprometida, que foi formada ao longo dos anos, para realizar a diagramação, normatização e revisão de idiomas. Também faz enorme diferença termos uma diretoria comprometida, que conseguiu recursos financeiros junto à Fundação Carlos Chagas, além dos recursos que o CNPq tem brindado anualmente, para garantir as inovações e manter a qualidade da Rebep.

Recebemos uma lista grande de artigos que tinham sido avaliados e aprovados pelos editores e Comitê Editorial anteriores. Assim, todos os artigos que publicaremos este ano já foram avaliados e aprovados, mas todo o processo de revisão esteve a cargo do atual Comitê Editorial e assumimos qualquer responsabilidade sobre problemas editoriais que possam existir. Como temos vários artigos aprovados, publicaremos um número suplementar este ano. Estamos recebendo artigos interessantes para avaliação e incentivamos que continuem enviando, pois buscaremos publicar de forma ágil, na medida do possível.

Finalmente, vamos ao conteúdo desta edição. Este ano a revista alcançou o volume 30 e seu primeiro número traz 13 artigos de temas variados, uma nota de pesquisa e duas resenhas. Os cinco primeiros textos tratam da mobilidade espacial da população. O artigo de Tiago Augusto da Cunha, José Marcos Pinto da Cunha e Alberto Augusto Eichman Jakob discute a dinâmica intraurbana na Baixada Santista e o papel das redes sociais como mediadoras dos movimentos migratórios, a partir de levantamento de dados primários. Utilizando o caso do litoral norte paulista, com resultados do Censo Demográfico de 2010, Eduardo Marandola Jr. e colegas identificam as novas áreas de risco com crescimento urbano e a população que mora ou trabalha nestas áreas para uma discussão mais ampla sobre o modelo de urbanização. As mudanças nos fluxos e movimentos migratórios no final da década de 2000 são analisadas por Everton Emanuel Campos de Lima e Fernando Gomes Braga, a partir da proposição de indicadores de classificação dos municípios com base em suas características migratórias. O tema de imigrações internacionais tem duas contribuições distintas: Fausto Brito discute o tema polêmico sobre os aspectos políticos versus os direitos humanos nos deslocamentos internacionais; e o artigo de Ricardo Alexandrino Garcia brinda estimativas do número de emigrantes brasileiros, no último quinquênio da década de 1990, por estados e com a distribuição de sexo e idade da população emigrante.

Outro tema polêmico é tratado por dois artigos sobre fecundidade e saúde reprodutiva. O perfil de usuárias da anticoncepção de emergência no Chile, atualmente proibida, a partir de curta liberação, é abordado por José Manuel Morán Faúndes, mostrando as dificuldades de acesso para as mais jovens, pobres e com menor nível educacional. Outro tópico, cada vez mais relevante diante das mudanças na estrutura etária da fecundidade, é estudado com cuidado por Adriana de Miranda Ribeiro, Eduardo Luiz Gonçalves Rios-Neto e José Alberto Magno de Carvalho, na determinação dos efeitos tempo e quantum na taxa de fecundidade de período no Brasil, com a utilização dos dados dos Censos Demográficos de 1980 a 2000, mostrando que até o momento o efeito tempo inflou a taxa de fecundidade e que, a partir de 2000, poderá causar uma redução na mesma. As questões relacionadas às mudanças na estrutura familiar e domiciliar no país são tratadas em dois textos. Maria Carolina Tomás apresenta um artigo de revisão sobre os estudos de família e aponta para caminhos que deveriam ser seguidos nos levantamentos de dados, assim como abordagens teóricas que necessitam de atenção no país. Uma proposta de indicadores para classificação dos domicílios, a partir das necessidades de ampliação das residências, é oferecida por Gustavo Henrique Naves Givisiez e Elzira Lúcia de Oliveira, utilizando dados das PNADs brasileiras de 2006, 2007 e 2008, com o propósito de identificação de populações-alvo de políticas públicas.

Um penúltimo grupo de artigos está mais voltado para políticas públicas e mercado de trabalho. O texto de João Batista Pamplona mostra a significativa redução na quantidade e mudança do perfil dos trabalhadores no comércio ambulante da cidade de São Paulo nos anos 2000, redução que acompanha a melhoria do mercado de trabalho na metrópole após 2004. Aline Nogueira Menezes Mourão, Mariana Eugenio Almeida e Ernesto Friedrich de Lima Amaral procuram mostrar, e quantificar, como o recebimento do seguro-desemprego pode causar um efeito negativo no mercado de trabalho formal no período posterior ao recebimento deste benefício.

Dois textos metodológicos, também relacionados a políticas públicas, fecham os artigos disponíveis neste número. No primeiro, James R. Hull e Gilvan Guedes apresentam uma adaptação e combinação de metodologias existentes para medir o bem-estar, a partir de uma abordagem multidimensional da pobreza, que permitem a comparação entre diferentes contextos, aplicando o método aos domicílios rurais de duas fronteiras agrícolas em contextos totalmente diversos. O artigo de Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souza chama atenção para os problemas metodológicos nas estimativas de populações-alvo de políticas de transferência de renda, especificamente o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada, mostrando como o desenho amostral, devido à representatividade da amostra e ao viés de captação dos dados, explica as diferenças encontradas entre os registros administrativos e as pesquisas domiciliares.

Os pesquisadores João Carlos Tedesco e Denize Grzybovski apresentam uma nota técnica de pesquisa em andamento no Rio Grande do Sul sobre a nova dinâmica migratória de senegaleses no Estado, chamando atenção para a importância crescente do tema da imigração internacional no Brasil.

Finalmente, foram elaboradas duas resenhas de fôlego de livros publicados em 2012. Susana Beatriz Adamo faz uma revisão exaustiva do livro População e sustentabilidade na era das mudanças ambientais globais: contribuições para uma agenda brasileira, organizado por George Martine em uma atividade vinculada à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, realizada em 2012. A cientista política Lucia Avelar comenta os resultados da pesquisa sobre as eleições brasileiras de 2010, publicados no livro As mulheres nas eleições 2010, organizado por José Eustáquio Diniz Alves, Céli Regina Jardim Pinto e Fátima Pacheco Jordão.

Convidamos todos a lerem os artigos e publicarem, na seção "Ponto de Vista", na próxima edição da revista, opinião qualificada ou crítica a artigo publicado em fascículo imediatamente anterior, abrindo, assim, um debate acadêmico importante nos temas polêmicos apresentados neste número.

Suzana Cavenaghi

Editora Rebep, 2013-2014

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jul 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 2013
Associação Brasileira de Estudos Populacionais Rua André Cavalcanti, 106, sala 502., CEP 20231-050, Fone: 55 31 3409 7166 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: editor@rebep.org.br