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Nota da Editora

Como anunciado na última edição da Revista no ano passado, a Rebep está passando por várias mudanças. Este é o primeiro número na periodicidade quadrimestral, adotada a partir de 2015. Visto que esta é somente uma das transformações previstas para a Revista, esta publicação fica pronta somente agora. Com o tempo, buscar-se-á publicar os números até o meio do período correspondente ao quadrimestre e não no final, mas, para manter a qualidade da Rebep e, ainda, buscando seu aprimoramento, neste momento de adaptações técnicas, abriu-se mão da pontualidade no presente número.

Outra mudança na forma de atuação da Revista, possível neste formato quadrimestral, é a abertura de chamadas de artigos para números temáticos e, também, para Dossiês. Nessa linha, a Rebep fez uma convocatória para recebimento de artigos, notas de pesquisas, pontos de vista e resenhas no tema População, Espaço e Ambiente, em parceria realizada com o Grupo de Trabalho (GT) de mesmo nome, da Abep. O Comitê Editorial da Revista acolheu com satisfação essa proposta do GT, visto que o tema sugerido vincula-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que, em grande medida, orientarão as discussões vinculadas a esta agenda de pesquisa nos próximos anos e, ainda, pela oportunidade da realização da Conferência do Clima (COP 21), onde espera-se que importantes decisões sejam tomadas diante dos desafios das mudanças climáticas. A chamada está disponível no site da Revista (www.rebep.org.br) e, dependendo da oferta de trabalhos, o número será publicado ainda em 2015.

Na mesma linha, o Comitê Editorial aceitou a proposta do GT de Demografia dos Povos Indígenas para a chamada de um número temático a ser publicado em 2016. Com o título Demografia, Saúde e Condições de Vida dos Povos Indígenas: Perspectivas Contemporâneas, pretende-se aprofundar e sistematizar o conhecimento e as reflexões sobre a dinâmica demográfica dos povos indígenas. Adicionalmente, para além da temática em si, tem-se a oportunidade para uma discussão mais sistematizada sobre a produção de dados neste assunto, diante das informações coletadas de maneira inédita no Censo Demográfico de 2010, com perguntas específicas em Áreas Indígenas.

Também algumas propostas de Dossiês foram enviadas para serem consideradas para o próximo ano, as quais o Comitê Editorial ainda deverá analisar. É importante destacar que, para estes números temáticos e dossiês, as submissões passarão pelo mesmo processo de avaliação de pares em formato duplo-cega e com aprovação final pelo Comitê Editorial, assim como aquelas enviadas no formato de fluxo contínuo. Portanto, a efetiva publicação destes números especiais dependerá tanto da oferta quanto da qualidade dos trabalhos que serão submetidos. Adicionalmente, incentiva-se fortemente os pesquisadores a enviarem trabalhos à Revista no fluxo contínuo, buscando sempre divulgar os resultados de suas pesquisas, bem como ampliar os debates na área, utilizando este meio, o qual se espera que tenha uma publicação mais ágil nos próximos anos.

O conjunto de artigos aprovados para publicação neste número atesta o fato de que a Rebep vem atraindo autores para além das fronteiras nacionais. Como exemplo, no último ano a Revista recebeu submissões provenientes de alguns países da América Latina, de Portugal e da Espanha, sendo que alguns destes artigos foram indicados para publicação pelos avaliadores e podem ser lidos neste número. Seguindo as diretrizes da SciELO, a Rebep procura cada vez mais esta ampliação, mas chamando a atenção que ainda é necessário um maior alcance regional interno, para o qual a Revista tem esbarrado em dificuldades, pois, apesar de receber artigos de todas as partes do país, estes não têm sido bem avaliados pelos pareceristas, sempre lembrando que a avaliação é desidentificada. Acredita-se que uma busca e ampliação de parcerias regionais entre as instituições de pesquisa e ensino seriam importantes para expandir a abrangência regional, em relação tanto à afiliação dos autores como à publicação de trabalhos que incluam as diversas regiões em seus objetos de estudo.

O primeiro artigo deste número, de autoria de Nilton Cezar Pereira Pinto, trata do tema da mão de obra dos imigrantes na Espanha e os impactos que a crise econômica e as altas taxas de desemprego têm tido na determinação de novos fluxos migratórios. Utilizando os dados do Eurostat e da Pesquisa de População da Espanha, o autor chega à conclusão de que os migrantes que chegaram de maneira expressiva na década de 1990 na Espanha, atualmente, em função da grave crise, é o segmento da população mais vulnerável ao desemprego, sendo que grandes volumes têm saído do país, mesmo aqueles que já conseguiram a nacionalidade espanhola. Muitos fazem o caminho de volta aos seus países de origem, mas outros buscam a sorte em outros países, uma vez que a nacionalidade espanhola abre esta possibilidade na União Europeia.

Também no tema de imigração, mas com enfoque no Brasil, o artigo de Elaine Meire Vilela e Daniela Portella Sampaio traz uma análise das autorizações de entradas temporárias e permanentes, a partir das informações registradas pela Coordenação Geral de Imigração (CNIg) para o período de 2003 a 2011. Apesar das dificuldades e limitações inerentes à base de dados, as autoras procuram identificar o perfil dos estrangeiros que tiveram autorizações concedidas para entrar no país, concluindo que a maioria é composta por pessoas que obtiveram autorização para trabalhar, majoritariamente homens, investidores com alta qualificação profissional, que na maior parte se dirigem à Região Sudeste. As autoras chamam a atenção para a política migratória brasileira, que tende a ser seletiva no tipo de autorização concedida.

O tema sobre a violência no trânsito, com altas taxas de mortalidade, é avaliado para o caso da Argentina. O autor Gabriel Escanés propõe-se a estimar os anos de esperança de vida perdidos devido a atropelamentos e acidentes no trânsito ocorridos entre 2000 e 2002 e os compara com os dados de quase uma década posterior. O crescimento da mortalidade por violência no trânsito, no período analisado, leva a um aumento na perda, em média, de sete para oito meses de esperança de vida, com grande diferencial por sexo, como na maioria dos países Latino Americanos e também naqueles desenvolvidos. O autor chama a atenção para o fato que este cenário se deu mesmo mediante a implementação de melhorias na estrutura viária, colocando a necessidade de melhorar, entre outros aspectos, a educação no trânsito, a fiscalização e o controle das normas de trânsito.

A autora María José Vilalta nos leva ao passado para tentar compreender um pouco mais sobre o debate a respeito do que ela denomina de "catástrofe demográfica das populações indígenas" na área dos Andes Equatoriano e vai além, desvendando o perfil da população e as taxas de incidência de mortalidade, a partir de registros paroquiais dos tempos coloniais. Com a análise sobre a mortalidade desta população, a autora discute como a população indígena foi dizimada, deixando-a não somente muito reduzida, mas também criando-se uma nova forma de marginalização excludente e de longa duração, que fez com que até os tempos atuais esta população tenha perdido seu protagonismo na sociedade.

Trazendo outro assunto totalmente contemporâneo e com consequências importantes a serem consideradas na dinâmica demográfica futura, Rafael Henrique Moraes Pereira e colegas analisam os possíveis efeitos que o envelhecimento populacional terá sobre a política de gratuidade nos transportes para a população idosa (65 anos ou mais), que repassa todo seu custo para o preço das passagens pagas pelos demais usuários. Utilizando a Pesquisa Origem-Destino na Região Metropolitana de São Paulo, os autores mostram que, no curto prazo, o efeito é muito pequeno, mas até 2030 e 2050 o custo da tarifa poderia aumentar ao redor de 10% e 20%, pelo simples efeito demográfico, caso a política de subsídios cruzados se mantenha ao longo do tempo no formato atual.

Fernanda Fortes de Lena e Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira, utilizando dados bastantes inovadores coletados no Censo Demográfico de 2010, que identificam casais do mesmo sexo morando em um mesmo domicílio, mostram como variam as preferências dos indivíduos na formação de famílias no Brasil. O objetivo do artigo é fazer uma análise sobre as diferenças entre os casais de mesmo sexo em comparação àqueles de sexos diferentes, no que se refere à homogamia e exogamia para características como idade, cor/ raça e perfis educacionais. A principal conclusão é de que a escolaridade e cor/raça dos parceiros são mais importantes na seletividade entre os casais homossexuais e a idade e cor/raça para os casais heterossexuais.

Em uma linha distinta de investigação, voltada para um perfil mais didático, os dois últimos textos trazem contribuições importantes em dois temas que estão sempre presentes em muitas análises demográficas. O primeiro deles, de Reinaldo Onofre dos Santos e Alisson Flávio Barbieri, faz uma revisão e posterior aplicação dos métodos de projeção populacional, utilizando técnicas de extrapolação matemática. Os autores comparam esses métodos para estimativas populacionais das microrregiões de Minas Gerais, a partir de uma análise dos desvios resultantes da aplicação de cada método, em que são corroborados resultados anteriores, que mostram que técnicas matemáticas simples são aderentes à realidade de curto prazo. O último artigo faz uma exaustiva comparação das informações sobre rendimento coletadas nas pesquisas domiciliares. Pedro Herculano Guimarães Ferreira de Souzachama a atenção para as possíveis origens das discrepâncias observadas na renda domiciliar per capita no Censo Demográfico, na Pesquisa de Orçamento Familiar e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, propondo uma compatibilização entre estas fontes. O autor conclui que, apesar de algumas diferenças impossíveis de serem harmonizadas pós-coleta dos dados, a proposta apresentada aproxima bastante as distribuições de rendimento domiciliar per capita nessas pesquisas amostrais.

Finalmente, este número da Revista traz uma Nota de Pesquisa e uma Resenha. A primeira, de autoria de Susana Villas-Boas e colegas, relata sobre aspectos de uma pesquisa em curso, realizada na freguesia do Bonfim, na cidade do Porto, em Portugal, para implementação de programas intergeracionais. As autoras mostram como a simples caracterização do perfil demográfico das comunidades e as entrevistas em profundidade são importantes para o conhecimento do contexto local e que sem estes é muito difícil conseguir o sucesso na implementação dos programas intergeracionais. A resenha elaborada por Ricardo Ojima versa sobre o livro Urban growth in emerging economies: lessons from the BRICS, organizado por Gordon McGranahan e George Martine, que aborda as diferentes trajetórias de urbanização dos países pertencentes a esse grupo, buscando os aspectos comuns e apontando para cenários futuros.

Boa leitura!

Suzana Cavenaghi
Editora Rebep, 2013-2016

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2015
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