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Conhecimento da comunidade local para a elaboração e implementação de programas intergeracionais

Introdução

Nas últimas décadas, o envelhecimento demográfico registrado em todo o mundo e com mais força na Europa (EUROSTAT, 2010_________. L'Europe en chiffres – L'annuaire d'Eurostat 2010. Luxembourg: Publications Office of the European Union, 2010. Disponível em: <http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_OFFPUB/KS-CD-10-220/FR/KS-CD-10-220-FR.PDF>. Acesso em: 26 fev. 2014.
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; 2013EUROSTAT. Population density: total resident population per square km (2007-2010). S/d. Disponível em: <http://epp.eurostat.ec.europa.eu/tgm/table.do?tab=table&init=1&plugin=0 &language=en&pcode=tgs00079>. Acesso em: 17 jan. 2013.
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) tem suscitado um interesse crescente na procura de resoluções não só políticas, mas também de intervenção cultural e socioeducativa. Nesse contexto, urge a necessidade de colocar as diferentes gerações em inter-relação e promover a comunicação e o empoderamento das pessoas para uma maior participação na construção de soluções para os problemas da comunidade de que fazem parte. Uma importante abordagem para se caminhar nesta direção é a proposta de intervenção apresentada nesta nota de pesquisa: os Programas Intergeracionais (PI), que são a mais recente e inovadora forma de intervenção neste domínio (RAMOS, 2013RAMOS, N. Relationships and intergenerational solidarities – social, educational and health challenges. In: OLIVEIRA, A. L. et al. (Coord.). Promoting conscious and active learning: how to face current and future challenges? Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013, p. 129-148. Disponível em: <http://www.uc.pt/imprensa_uc/catalogo/ebook/E-book_Promoting>. Acesso em: 28 mar. 2014.
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; VILLAS-BOAS et al., 2013VILLAS-BOAS, S.; OLIVEIRA, A.; RAMOS, N.; MONTERO, I. Intergeneration education as a strategy for promoting active ageing: analyzing the needs of a local community as a way to develop relevant and sustainable projects of intervention. In: OLIVEIRA, A. L. et al. (Coord.). Promoting conscious and active learning: how to face current and future challenges? Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013, p. 161-174. Disponível em: <http://www.uc.pt/imprensa_uc/catalogo/ebook/E-book_Promoting>. Acesso em: 28 mar. 2014.
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; SOUSA, 2013SOUSA, L. Intergenerational solidarity: bringing together social and economic development. In: OLIVEIRA, A. L. et al. (Coord.). Promoting conscious and active learning: how to face current and future challenges? Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2013, p. 149-159. Disponível em: <http://www.uc.pt/imprensa_uc/catalogo/ebook/E-book_Promoting>. Acesso em: 28 mar. 2014.
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).

Estes programas foram definidos na primeira Conferência Internacional Intergeracional organizada pelo Consortium for Intergenerational Programes (ICIP), em 2002, da seguinte forma:

Os Programas Intergeracionais constituem um sistema, uma abordagem e uma prática em que todas as gerações, independentemente da idade, [cultura], [género], localização e estatuto socioeconómico, se unem no processo de gerar, promover e utilizar ideias, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores de forma interativa com o objetivo de fomentar a melhoria pessoal e o desenvolvimento da comunidade (ODUARAN, 2002, apud HATTAN-YEO, 2002HATTON-YEO, A. Conference Report. In: ICIP INTERNATIONAL INTERGENERATIONAL CONFERENCE, 1. Connecting generations – A global perspective, 1, 2002. Keele, England: Unesco Institute for Education and Beth Johnson Foundation, 2002, p. 1-48. Disponível em: <http://www.unesco.org/education/uie/pdf/keelereport.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2013.
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, p. 19).

Para o desenvolvimento destes programas, é fundamental começar pela compreensão de quais as necessidades a que se pretende responder e das possibilidades/oportunidades existentes na comunidade para dar essa resposta, criando-se a posteriori os objetivos, que podem ser, por exemplo, reduzir o isolamento de pessoas de idade avançada e de jovens, abordar problemas sociais relacionados com demandas educativas, culturais, sociais e econômicas, promover o envelhecimento ativo, promover o desenvolvimento comunitário e melhorar a qualidade de vida local. Desse modo, os PI, para estreitarem as relações entre diferentes gerações e atingirem seus objetivos, precisam partir, por um lado, das necessidades da comunidade e do contexto local e, por outro, das necessidades e interesses específicos dos participantes (GRANVILLE; ELLIS, 1999GRANVILLE, G.; ELLIS, S. Developing theory into practice: researching intergenerational exchange. Education and Ageing, v. 14, n. 3, p. 231-248, 1999.; KUEHNE, 2003KUEHNE, V. S. State of our art – Intergenerational program research and evaluation: Part one. Journal of Intergenerational Relationships, v.1, n.1, p. 145-161, 2003., 2005_________. Making what difference? How intergenerational programs help children and families. Baltimore, MD: The Annie E. Casey Foundation, 2005.; BRESSLER et al., 2005BRESSLER, J.; HENKIN, N.; ADLER, M. Connecting generations, strengthening communities: a toolkit for intergenerational program planners. Philadelphia, PA: Center for Intergenerational Learning, Temple University, 2005.; NEWMAN; SÁNCHEZ, 2007NEWMAN, S.; SÁNCHEZ, M. Los programas intergeneracionales: concepto, historia y modelos. In: SÁNCHEZ, M. (Dir.). Programas intergeneracionales:hacia una sociedad para todas las edades. Barcelona: Fundación "la Caixa", 2007, p. 34-69 (Colección Estudios Sociales, v. 23).; SÁNCHEZ et al., 2008SÁNCHEZ, M.; DÍAZ, P.; LÓPEZ, J.; PINAZO, S.; SÁEZ, J. INTERGEN: descripción, análisis y evaluación de los programas intergeracionales en España. Modelos y buenas prácticas. Resumen ejecutivo. 2008. Disponível em: <http://www.imserso.es/InterPresent1/groups/imserso/documents/binario/idi172_06ugranada.pdf>. Acesso em: 5 fev. 2014.; SPRINGATE et al., 2008SPRINGATE, I.; ATKINSON, M.; MARTIN, K. Intergenerational practice: a review of the literature – LGA Research Report. Slough: NFER, 2008.; MARTIN et al., 2010MARTIN, K.; SPRINGATE, I.; ATKINSON, M. Intergenerational practice: outcomes and effectiveness – LGA Research Report. Slough: NFER, 2010.).

No presente estudo ilustra-se o processo de coleta de informações, de modo inter-relacionado e multidimensional, sobre a freguesia do Bonfim da cidade do Porto, por meio da sua caracterização sociodemográfica. Pretende-se assim identificar possibilidades/ potencialidades e recursos, bem como problemas e dificuldades sob a forma de necessidades que orientarão o conhecimento da comunidade local e o aprofundamento da análise de demandas em fases posteriores, necessárias ao desenho e implementação destes programas.

Metodologia

Num primeiro nível de análise, utilizando o estudo de diversos documentos e informações, tais como dados estatísticos dos censos 2011 (INE, 2012INE – Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011 – Resultados definitivos. Lisboa: INE, IP, 2012. Disponível em: <http://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_apresentacao>. Acesso em: 08 nov. 2012.
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), do Ministério da Educação, do Ministério da Saúde e da Associação de Apoio à Vítima (APAV, 2012APAV – Associação de Apoio à Vítima. Estatísticas APAV – Relatório anual 2012. Disponível em: <http://apav.pt/apav_v2/images/pdf/Estatisticas_APAV_Relatorio_Anual_2012.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2013.
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), foram identificadas as principais situações-problema e as situações-oportunidades/possibilidades (os dois principais eixos de análise) para a freguesia do Bonfim da cidade do Porto. Atendendo à experiência de implementação de PI, um pouco por todo mundo, incidiu-se sobre nove âmbitos considerados imprescindíveis para diagnosticar as situações identificadas na localidade em estudo, a saber: história, geografia, demografia, economia, habitação, educação, saúde, segurança e caracterização das instituições existentes na freguesia.

Os resultados aqui apresentados correspondem ao primeiro esboço do perfil comunitário da freguesia do Bonfim, o qual se prevê aprofundar numa segunda fase, em estudo qualitativo, por meio de entrevistas com informantes privilegiados da comunidade. Do conjunto destas duas fases resultará um desenho do perfil comunitário mais completo, o qual permitirá equilibrar os recursos (que são limitados) e ampliar o potencial dos PI a serem desenvolvidos na comunidade. Finda a fase de pré-análise, passaremos à análise principal, por meio de questionários e entrevistas com a população da freguesia do Bonfim e da organização de grupos de discussão com representantes das instituições e associações locais (Figura 1).

Como a meta final deste estudo é elaborar um Plano de Programas Intergeracionais relevantes e sustentáveis e, simultaneamente, promotores do envelhecimento ativo na comunidade, a primeira e a segunda fases da análise de necessidades são fundamentais para estabelecer os critérios de ação com base nas demandas e potencialidades, uma vez que os PI que se centram na satisfação de necessidades reais e claramente identificadas têm maior probabilidade de serem sustentáveis e de mostrarem um impacto positivo em todos os participantes (BRESSLER et al., 2005BRESSLER, J.; HENKIN, N.; ADLER, M. Connecting generations, strengthening communities: a toolkit for intergenerational program planners. Philadelphia, PA: Center for Intergenerational Learning, Temple University, 2005.).

FIGURA 1
Etapas metodológicas

Resultados preliminar

Da consulta e análise dos documentos e fontes anteriormente referidas, emergiu a caracterização sociodemográfica, em função dos dois eixos de análise supramencionados, que passamos a apresentar.

Situações de contornos problemáticos da freguesia do Bonfim

A freguesia do Bonfim tem 24.265 mil habitantes (INE, 2012INE – Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011 – Resultados definitivos. Lisboa: INE, IP, 2012. Disponível em: <http://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_apresentacao>. Acesso em: 08 nov. 2012.
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) e encontra-se confrontada com um acentuado processo de envelhecimento demográfico (índice de envelhecimento de 265,7), superior ao nacional e ao da cidade do Porto (Tabela 1). Este fenômeno resulta de um “envelhecimento de base”, com a diminuição de jovens com menos de 14 anos, e de um “envelhecimento de topo”, com o aumento de pessoas de idade avançada, ou seja, decorre do designado duplo envelhecimento populacional (NAZARETH, 2009NAZARETH, J. M. Crescer e envelhecer – constrangimentos e oportunidades do envelhecimento demográfico. Lisboa: Editorial Presença, 2009.). Numa leitura mais cuidada, é possível verificar que este envelhecimento demográfico emerge da conjugação de vários fatores. Entre os mais significativos destacam-se o aumento da esperança de vida ao nascimento, a diminuição da mortalidade, a redução da natalidade e a saída forçada de jovens para a periferia, por falta de condições de acesso à oferta de habitação na freguesia. Segundo Martins et al. (2008)MARTINS, I.; FARIA, A.; FERREIRA, C.; ROCHA, E.; LAGE, G.; MACHADO, I.; ROCHA, S. Rede social do Porto: Relatório de pré-diagnóstico. Porto: Câmara Municipal do Porto, 2008. Disponível em: <http://www.cm-porto.pt/users/0/56/PdRSP_Relatorio_09c0809544420e609217983c1262080f.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2014.
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, este movimento populacional centrífugo a partir do Bonfim, à imagem do que acontece na cidade do Porto, é geralmente a favor das freguesias mais periféricas e dos conselhos vizinhos, atingindo em particular casais jovens, por estar fortemente associado aos elevados custos da habitação na cidade e à oferta crescente de novas habitações na periferia. O duplo envelhecimento da população está acarretando consequências nefastas para a freguesia, tais como: a dependência dos idosos é muito elevada (44,00) (Tabela 1); o índice de sustentabilidade potencial1 1 Relação entre a população em idade ativa e a população idosa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos. Sendo o valor encontrado de 2,3 pessoas ativas por idoso, indica que esta freguesia, por si só, não conseguiria manter os sistemas de proteção social e assegurar os regimes de pensão da sua população. é muito baixo (2,30) (Tabela 1); e a taxa de atividade (43,77%) é inferior à nacional (47,56%) e à da própria cidade do Porto (45,17%) (Tabela 2).

TABELA 1
Índices de envelhecimento, de dependência total e de sustentabilidade potencial, por local de residência - 2011
TABELA 2
Taxas de atividade e de desemprego, por local de residência - 2011

As mudanças nas estruturas familiares que as sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento têm apresentado nos últimos anos também constituem problemas para a freguesia, nomeadamente o elevado número de pessoas divorciadas e viúvas, de famílias monoparentais e de pessoas de idade avançada que vivem sozinhas. Salienta-se ainda que as mulheres são o grupo mais afetado por todos estes problemas, estando assim sujeitas a maior risco de pobreza, desgaste e isolamento.

A taxa elevada de desemprego da freguesia (17,16%), superior à nacional (13,18%, Tabela 2) também é motivo de preocupação, subsistindo este grupo de pessoas principalmente de apoios sociais, da ajuda de familiares e de algum trabalho precário, o que o coloca numa situação de grande desvantagem em termos sociais, econômicos, educativos/ formativos e de acessibilidade a bens culturais. Muito embora a solidariedade intergeracional primária, ou seja, o apoio familiar seja um fator positivo, no sentido de constituir um indicador de que na freguesia do Bonfim este tipo de solidariedade não está completamente extinto, muitas destas famílias estão expostas ao risco de pobreza, sobretudo as que vivem nos focos populacionais que apresentam vulnerabilidade social elevada, sendo o caso das que habitam as ilhas e os bairros sociais, focos populacionais que, por várias razões, constituem motivo de cuidado e de maior atenção.

Quanto ao nível de educação, a freguesia depara-se com algumas dificuldades, entre as quais se destacam os recentes aumentos das taxas de abandono escolar (2,68%) e de retenção no 3º ciclo e no ensino secundário, afetando sobretudo homens e jovens da faixa etária dos 15 aos 19 anos, e a taxa de analfabetismo (2,76%) que, embora se mantenha num nível inferior ao nacional (5,23%), atinge principalmente as mulheres. Também em nível da saúde foram encontrados alguns problemas, tais como: a taxa bruta de mortalidade da cidade (14%) é superior à nacional (10%); muitas pessoas não dispõem de acompanhamento de um médico de família; incidência de doenças relacionadas com hábitos de higiene, alimentares e estilos de vida nocivos; e a percentagem de mães adolescentes da cidade do Porto (6,4%) é a segunda mais elevada da área predominantemente urbana nacional, que se situa em 4%.

Na área de segurança, verifica-se aumento dos crimes contra as pessoas (furto, roubo, abuso de confiança, burla, extorsão, crimes contra a vida ou integridade física, crimes contra a liberdade pessoal, crimes sexuais e crimes contra a honra). Segundo os dados da Associação de Apoio à Vítima (2012)APAV – Associação de Apoio à Vítima. Estatísticas APAV – Relatório anual 2012. Disponível em: <http://apav.pt/apav_v2/images/pdf/Estatisticas_APAV_Relatorio_Anual_2012.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2013.
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, a maioria dos crimes é praticada na residência comum e por familiares próximos.

A fraca percentagem de imigrantes na freguesia é outro problema, considerando-se que sua integração nos territórios é uma das medidas apontadas pela União Europeia para fazer face ao envelhecimento demográfico. Como é sabido, as trajetórias e a fixação destas pessoas são fortemente influenciadas pelas redes sociais existentes no país de acolhimento, geralmente constituídas por familiares e/ou imigrantes da mesma nacionalidade. Assim, como existem poucos imigrantes na comunidade, é menor a probabilidade de que, no futuro, se fixem mais imigrantes na freguesia (ESTRELA, 2013ESTRELA, V. O Leste em Portugal: a integração de imigrantes ucranianos e a educação de adultos. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Coimbra, Coimbra, 2013.).

Este primeiro “retrato” aponta para duas realidades territoriais diferentes, sendo que a zona sul da freguesia parece viver confrontada com mais dificuldades sociais e econômicas do que a zona norte. É nesse território que se localizam os bairros sociais e a maioria das ilhas, assim como a escola pública que apresenta piores resultados no contexto nacional.

Mencionadas as situações de contornos problemáticos mais relevantes, considerem-se agora os fatores que parecem ser os pontos fortes ou as forças (situações-oportunidades/ possibilidades) da freguesia. Estas últimas representam possíveis recursos e potenciais soluções para a resolução dos problemas encontrados, os quais poderão ser mobilizados nos PI.

Situações que se constituem em oportunidades/possibilidades da freguesia do Bonfim

A localização geográfica da freguesia é central na cidade do Porto, o que significa uma boa rede de transportes públicos e proximidade com a rede de serviços institucionais (segurança social, finanças, correios, estabelecimentos de ensino e formação, estabelecimentos de saúde, esquadras de polícia, associações de apoio social, entre outros). Ao mesmo tempo, isso significa um bom potencial de mobilização física da população para a participação em PI. Da mesma forma, a densidade populacional elevada da freguesia, de 17.837 habitantes por km2 (INE, 2012INE – Instituto Nacional de Estatística. Censos 2011 – Resultados definitivos. Lisboa: INE, IP, 2012. Disponível em: <http://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_apresentacao>. Acesso em: 08 nov. 2012.
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), a qual supera a da cidade do Porto (5.736 habitantes por km2) e já equivale às registradas nas cidades de maior densidade populacional da Europa (EUROSTAT, s/d), pode ser considerada uma mais-valia (uma força), dada a proximidade espacial das pessoas.

O aumento da esperança de vida e do número de pessoas com idade superior aos 64 anos é um indicador de sucesso e de bom desenvolvimento da humanidade, podendo ser considerado um fator benéfico para a comunidade, na medida em que as pessoas de idade avançada podem constituir recursos humanos valiosíssimos, em termos de contributo potencial para a resolução de problemas, tendo em conta sua vasta experiência e saber. Nesse sentido, o fato de se encontrarem várias pessoas que ultrapassaram a idade da reforma trabalhando e frequentando a formação de adultos – personificando e sendo exemplo de envelhecimento ativo – pode constituir um indicador de uma predisposição dos cidadãos desta faixa etária para uma maior capacitação e participação na comunidade, caso tenham oportunidades para isso.

O nível educacional da freguesia é superior ao registrado na cidade do Porto e muito maior do observado para Portugal (Gráfico 1). Estamos perante uma importante possibilidade, uma vez que são os elevados recursos humanos qualificados existentes na freguesia, nas mais distintas áreas, que em muito podem contribuir para a educação das outras pessoas e para o empreendedorismo comunitário.

GRÁFICO 1
Nível de escolaridade completo mais elevado, por local de residência – 2011

Finalmente, a freguesia dispõe de uma rede ampliada de instituições, tais como estabelecimentos de ensino, centros de formação e associações, que constituem locais apropriados onde, com as devidas contextualizações e justificações, podem vir a desenvolver PI e fortalecer redes de solidariedade intergeracional.

Considerações finais

Tendo em vista que o mais importante nos PI são as pessoas, que simultaneamente são “matéria-prima” e benefício, e considerando-se que estes programas aspiram ter impacto não só nas pessoas envolvidas, mas também na esfera mais alargada da comunidade local, a caracterização sociodemográfica da comunidade e o estudo da população, tal como apresentamos nesta nota de pesquisa, constituem um alicerce de sustentação fundamental para a posterior construção e implementação de PI. Para além dos problemas evidenciados na freguesia e, concomitantemente, das suas forças ou potenciais, ficam aqui bem explícitas, por um lado, a relevância da elaboração de programas intergeracionais nesta comunidade (porque é extremamente envelhecida) e, por outro, a constatação de que o perfil demográfico não é homogêneo, ao contrário, é pautado por grandes assimetrias, para as quais os fatores sociais, econômicos e educacionais têm um contributo de grande peso. E porque estes fatores variam de território para território, conclui-se que, de modo algum, não se pode prescindir da análise cuidadosa da realidade no seu contexto e local.

  • 1
    Relação entre a população em idade ativa e a população idosa, definida habitualmente como o quociente entre o número de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos e o número de pessoas com 65 ou mais anos. Sendo o valor encontrado de 2,3 pessoas ativas por idoso, indica que esta freguesia, por si só, não conseguiria manter os sistemas de proteção social e assegurar os regimes de pensão da sua população.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2015

Histórico

  • Recebido
    03 Set 2014
  • Aceito
    21 Abr 2015
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