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Migração e mobilidade pendular em municípios do aglomerado de confecções das mesorregiões Agreste de Pernambuco e Borborema da Paraíba

Migration and commuting in municipalities of the garment industry cluster in the Agreste of Pernambuco and Borborema of Paraíba Mesoregions

Migración y viaje a diario en municipios del clúster de la industria de confección de las mesorregiones Agreste de Pernambuco y Borborema de Paraíba

Resumo

O objetivo deste artigo é avaliar indicadores de migração e mobilidade pendular da população residente em municípios selecionados de Pernambuco e da Paraíba, onde está localizado um aglomerado de confecções, paralelamente à evolução de indicadores da população ocupada em atividades econômicas que caracterizam o recorte territorial. A análise baseia-se nos microdados dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Os municípios foram classificados em três grupos, em função da trajetória histórica para o desenvolvimento do aglomerado e da participação da população em atividades de produção e comercialização de vestuário e acessórios. Verificou-se que, no período considerado, a população do aglomerado aumentou sua participação nos respectivos estados em função da atratividade migratória, fato confirmado pelos resultados do saldo migratório, mas com diferenças importantes entre os grupos. Também foi observado crescimento da participação da população ocupada nas atividades referidas. Foram encontradas evidências do transbordamento das atividades vinculadas às confecções dos municípios centrais para os municípios periféricos do aglomerado. Por fim, evidenciou-se a ampliação de movimentos pendulares para trabalho, juntamente com a maior integração dos municípios do aglomerado em função desses movimentos e dos fluxos migratórios.

Palavras-chave
Migração; Movimentos pendulares; Confecção de vestuário; Comércio de vestuário

Abstract

This article aims to evaluate migration and commuting indicators of the resident population in selected municipalities of Pernambuco and Paraíba, where a cluster of garment industry and trade is located, in parallel to the evolution of indicators of population occupied in economic activities that characterize the territory. The analysis is based on the Demographic Census data of 1991, 2000, and 2010. The municipalities were classified into three groups according to the historical relevance to the cluster development and the proportion of the population occupied in activities related to the garment industry and trade. It was found that the total population of the cluster increased its participation in the corresponding states due to migration inflows, a fact confirmed by the net migration rate, but with important differences between municipalities. There was also increasing participation of those occupied in the referred activities. Evidence was found of the overflow of activities linked to the garment industry from the economic center to the cluster's peripheral municipalities. Finally, the expansion and increase of work commuting flows were observed, together with the greater integration of the municipalities in the cluster due to the current configuration of commuting and migratory flows.

Key words
Migration; Commuting; Garment industry; Garment trade

Resumen

Este artículo tiene como objetivo evaluar indicadores de migración y desplazamientos de la población residente en municipios seleccionados de Pernambuco y Paraíba, donde se ubica un clúster de industria y comercio de la confección, en paralelo a la evolución de indicadores de la población ocupada en actividades económicas que caracterizan el territorio. El análisis se basa en los datos de los censos demográficos de 1991, 2000 y 2010. Los municipios fueron clasificados en tres grupos según su relevancia histórica en el desarrollo del clúster y la proporción de la población ocupada en actividades relacionadas con la industria y el comercio de la confección. Se encontró que la población total del clúster aumentó su participación en los estados correspondientes debido a los flujos migratorios, hecho confirmado por la tasa neta de migración, pero con importantes diferencias entre municipios. También hubo una participación creciente de los ocupados en las actividades referidas. Se encontró evidencia del desbordamiento de actividades vinculadas a la industria de la confección desde el centro económico hacia los municipios periféricos del clúster. Finalmente, se observó la expansión y el aumento de los viajes a diario para trabajar, junto con la mayor integración de los municipios en el clúster debido a la configuración actual de los flujos migratorios y de viajes a diario para trabajo.

Palabras clave
Migración; Viaje a diario; Confección; Comercio de ropa

Introdução

O objetivo deste artigo é analisar a dinâmica de mobilidade espacial, mais especificamente em termos de migração e deslocamento pendular, em território abrangido por determinados municípios das mesorregiões do Agreste de Pernambuco e da Borborema da Paraíba, onde se situa um aglomerado de confecções. Esse território, com especialização em confecção e comércio de vestuário e acessórios, tem nas cidades de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama seu núcleo histórico, sendo antes conhecido como Feira da Sulanca1 1 Conforme indicam relatos de antigos moradores da região, a expressão “sulanca” é uma corruptela das palavras “sul” e “helanca”. As “feiras da sulanca” utilizavam predominantemente confecções produzidas com malhas vindas de São Paulo – do “Sul”. Tal expressão passou a designar os produtos baratos e de baixa qualidade, destinados a populações de baixa renda da região e entorno. e atualmente denominado com mais frequência de Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco.2 2 Para algumas caracterizações gerais, ver, por exemplo: Raposo e Gomes (2003), Lyra (2005), Cabral (2007), Lira (2011), Véras de Oliveira (2011 e 2013) e Sebrae (2013). O conjunto maior de municípios considerados no presente estudo, referido como aglomerado de confecções do Agreste de Pernambuco e entorno, será denominado, por conveniência, de aglomerado ampliado.

Os estados de Pernambuco e Paraíba, assim como o conjunto da população da região Nordeste, têm perdido população por décadas via emigração, principalmente para o Sudeste (BAPTISTA; CAMPOS; RIGOTTI, 2017BAPTISTA, E. A.; CAMPOS, J.; RIGOTTI, J. I. R. Migração de retorno no Brasil. Mercator, Fortaleza, v. 16, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.4215/rm2017.e16010. Acesso em: 30 jan. 2019.). Por outro lado, há alguns anos Caruaru e outros municípios de seu entorno e, mais recentemente, municípios paraibanos próximos vêm recebendo aportes populacionais relevantes devido à atratividade migratória. Cabe lembrar a afirmação de Patarra e Baeninger (2006PATARRA, N. L.; BAENINGER, R. Mobilidade espacial da população no Mercosul: metrópoles e fronteiras. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 21, n. 60, p. 83-102, 2006., p. 84) que, embora tenha sido elaborada para analisar o cenário da migração internacional, aplica-se muito bem para o caso das migrações no território do aglomerado ampliado, ao considerar-se que “sua importância estaria muito mais em suas especificidades, em suas diferentes intensidades e espacialidades e em seus impactos diferenciados”, particularmente em escala local, mais do que informa a escala regional como um todo. Assim, o estudo da dinâmica migratória e de movimentos pendulares dos municípios que configuram o aglomerado ampliado pode apontar aspectos relevantes de sua constituição e desenvolvimento.

As atividades de produção e comercialização, referidas inicialmente à Feira da Sulanca e, em seguida, ao Polo de Confecções do Agreste, vêm chamando a atenção de estudiosos de diversas áreas, tais como Campelo (1983)CAMPELO, G. M. da C. A atividade de confecções e a produção do espaço em Santa Cruz do Capibaribe. Dissertação (Mestrado em Geografia) − Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 1983., Castilho (1987)CASTILHO, C. Pequena indústria e produção do espaço em Toritama-PE. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS SOBRE CRESCIMENTO URBANO. Anais [...]. Recife: Editora Massangana, 1987. p. 275-280., Gomes (2002), Raposo e Gomes (2003)RAPOSO, M.; GOMES, G. Estudo de caracterização econômica do Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco. Recife: Fade/UFPE/Sebrae, 2003. Disponível em: http://200.249.132.89:8030/downloads/poloconfec.pdf. Acesso em: 15 dez. 2018.
http://200.249.132.89:8030/downloads/pol...
, Lyra (2003)LYRA, M. R. S. de B. O processo de migração de retorno no fluxo Pernambuco – São Paulo – Pernambuco. Tese (Doutorado em Demografia) − Programa de Pós-graduação em Demografia, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2003., Lucena (2004)LUCENA, W. Uma contribuição ao estudo das informações geradas pelas micro e pequenas empresas localizadas na cidade de Toritama, no Agreste de Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) − Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2004., Machado (2005)MACHADO, V. L. A feira de confecções como fator de integração e dinamismo regional: o eixo Caruaru/Toritama/Santa Cruz do Capibaribe–Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Geografia) − Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2005., Xavier (2006)XAVIER, M. O processo de produção do espaço urbano em economia retardatária: a aglomeração produtiva de Santa Cruz do Capibaribe (1960-2000). Tese (Doutorado em Desenvolvimento Urbano) − Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2006., Lima (2006)LIMA, H. S. As lavanderias de jeans de Toritama: uma contribuição para a gestão das águas. Dissertação (Mestrado Profissional em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste) – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2006., Araújo (2006)ARAÚJO, C. A. Análise da cadeia têxtil e de confecções do estado de Pernambuco e os impactos nela do fim do Acordo sobre Têxteis e Vestuário – ATV. Dissertação (Mestrado em Economia) − Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2006., Cabral (2007)CABRAL, R. Relações possíveis entre empreendedorismo, arranjos organizacionais e institucionais: estudo de casos múltiplos no Polo de Confecções do Agreste Pernambucano. Tese (Doutorado em Administração) − Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2007., Andrade (2008), Rabossi (2008)RABOSSI, F. En la ruta de las confecciones. Critica en desarrollo. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, v. 2, p. 151-171, 2008., FUNDAJ (2008), Matos (2009)MATOS, F. R. N. O tecido empreendedor e o capital social costurando o desenvolvimento local: um estudo em um aglomerado de confecção no agreste pernambucano. Tese (Doutorado em Administração) − Programa de Pós-graduação em Administração, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2009., Lira (2011), Silva (2009)SILVA, S. R. A juventude na “sulanca”: os desafios da inserção no mundo do trabalho em Taquaritinga do Norte-PE. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) − Programa de Pós- -graduação em Ciências Sociais, Universidade de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2009., Dieese (2010)DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Diagnóstico do setor têxtil e de confecções de Caruaru e Região. Relatório de Pesquisa. Recife, 2010., Véras de Oliveira (2011 e 2013), Lima (2011), Sá (2011)SÁ, M. Feirantes: quem são e como administram seus negócios. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2011., Souza (2012)SOUZA, A. M. de. A gente trabalha onde a gente vive: a vida social das relações econômicas-parentesco, “conhecimento” e as estratégias econômicas no agreste das confecções. Dissertação (Mestrado em Antropologia) − Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2012., Espírito Santo (2013)ESPÍRITO SANTO, W. Sulanqueiras: o trabalho com vestuário e outros ofícios no Agreste Pernambucano. Tese (Doutorado em Antropologia) − Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2013., Sebrae (2013), Pereira Neto (2013), Burnett (2013)BURNETT, A. A saga dos retalheiros: um estudo sobre a institucionalização da feira da sulanca no Agreste Pernambucano. Século XXI: Revista de Ciências Sociais, v. 3, n. 2, p. 9-40, jul./dez. 2013., Heleno (2013), Braga (2014), Pereira (2019)PEREIRA, J. N. "Empreendedoras" das confecções: um estudo sobre a implementação do MEI e o trabalho faccionado no Agreste Pernambucano. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) − Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2019., Freire (2016)FREIRE, C. Da sulanca à fábrica: configurações do trabalho no Polo de Confecções de Pernambuco. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) − Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2016., entre outros. Mais especificamente sobre processos migratórios associados à atividade econômica relativa ao aglomerado de confecções do Agreste de Pernambuco, mas com recorte espacial restrito a Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, destacam-se os estudos de Lyra (2005), Duarte e Fusco (2008), Fusco e Vasconcelos (2010) e Vasconcelos (2012).

O diferencial deste artigo reside em evidenciar as correspondências entre o transbordamento das atividades relacionadas à produção e comercialização de itens de vestuário para outros municípios situados no entorno de Caruaru, incluindo municípios da Paraíba, e as dinâmicas de migração e deslocamentos pendulares que ocorreram entre 2000 e 2010 nesse território. A hipótese principal que guia este estudo é a de que o aglomerado de confecções que se constituiu ao longo de décadas na mesorregião do Agreste de Pernambuco, e que agora também se estende para a mesorregião da Borborema na Paraíba, tem sido um fator de atração para imigrantes com origem no entorno e em outros estados, colocando essas regiões em contraste com as dinâmicas migratórias presentes em ambos os estados, na média, e no Nordeste, mais amplamente. Busca-se, assim, conhecer a evolução diferenciada da dinâmica migratória e de movimentos pendulares associada à expansão de uma atividade econômica específica na configuração urbana de um espaço com características particulares do interior do Nordeste.

A base de dados utilizada são os Censos Demográficos do IBGE de 1991, 2000 e 2010, com foco nas variáveis de população, ocupação, atividade, migração de data fixa e mobilidade pendular. A partir dessas variáveis foram produzidos: a taxa de crescimento anual para análise comparativa entre diferentes recortes; a participação da população ocupada em atividades de produção e comercialização de vestuário e acessórios, visando registrar sua relevância e a ampliação de sua participação durante o período analisado; os volumes de migração de data fixa, saldos migratórios e taxas líquidas de migração com o objetivo de evidenciar a atratividade migratória do recorte em referência, a composição e sentidos dos fluxos, os resultados diferenciados no interior do recorte e sua relação com o crescimento populacional; e os movimentos pendulares para trabalho, os quais permitem a análise espaço-temporal de sua evolução em termos de volume, composição e sentidos.

Este artigo está estruturado em quatro partes, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira, buscamos posicionar o presente estudo diante da bibliografia que trata especialmente da relação entre dinâmicas econômica e migratória. Na sequência, apresentamos um quadro informativo básico sobre o aglomerado ampliado. Seguimos, discutindo a evolução demográfica dos municípios situados no território deste aglomerado, comparando-a com os comportamentos mais gerais de Pernambuco, Paraíba, Nordeste e Brasil, complementando com as diferenciações de desempenho populacional entre três grupos de municípios pertencentes ao território do aglomerado ampliado. Na quarta, tratamos dos fluxos migratórios de data fixa e dos movimentos pendulares para trabalho.

Abordagens sobre migração interna, mobilidade pendular e dinâmica econômica

As várias crises econômicas que atingiram o Brasil e o mundo nas décadas de 1980 e 1990 criaram o ambiente propício para inovações em políticas micro e macroeconômicas. A visão neoliberal dominou as economias capitalistas, em maior ou menor grau, e atribuiu às forças de mercado a condução das decisões econômicas nacionais simultaneamente à diminuição do papel do Estado e de seu tamanho. A adoção do que se denominou de reestruturação produtiva foi uma das consequências desse processo, cuja aplicação consistiu em diversas medidas para a reorganização das empresas visando maior eficiência e produtividade (DUARTE; FUSCO, 2008DUARTE, R. S.; FUSCO, W. Migração e emprego precário em dois contextos distintos: São Paulo e Toritama. Caderno CRH, v. 21, n. 53, p. 337-347, maio/ago. 2008.). Dentre outros recursos analíticos para dinâmicas espaciais, os impactos territoriais da reestruturação produtiva na redistribuição da população foram incorporados nos estudos de cientistas sociais que se debruçam sobre o tema, especialmente para a compreensão do fenômeno migratório em sua complexidade e diversidade observadas em período recente (BAENINGER, 2013BAENINGER, R. Migrações internas no Brasil no século 21: entre o local e o global. In: BAENINGER, R.; DEDECCA, C. (org.). Processos migratórios no estado de São Paulo: estudos temáticos. Campinas-SP: Nepo-Unicamp, 2013. p. 193-214. (Coleção Por Dentro do Estado de São Paulo, v. 10).). Ainda que a interação entre dinâmicas migratória e econômica tenha sido sempre acionada nos estudos que buscam explicar as migrações internas no Brasil, a ocorrência simultânea de tipos de movimentos migratórios e transformações econômicas está atualmente mais matizada e necessita de novos filtros para sua observação. Não é objetivo deste artigo fazer um levantamento exaustivo das abordagens sobre as mudanças observadas na relação entre migrações internas e economia, mas sim apontar aspectos essenciais e sugestões analíticas para contextualizar o caso em foco.

Com o crescimento da economia urbano-industrial no Brasil a partir de 1940, a migração no sentido rural-urbano emergiu com intensidade e permaneceu como modalidade dominante até os anos 1970, acelerando o processo de urbanização acompanhado de um desenvolvimento espacialmente desigual (DOTA; FERREIRA, 2020DOTA, E. M.; FERREIRA, F. C. Reestruturação produtiva, divisão territorial do trabalho e migração no Espírito Santo. In: IX CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE POBLACIÓN. Anais […]. Valparaíso, Chile: Alap, 2020.; CUNHA, 2005CUNHA, J. M. P. Migração e urbanização no Brasil: alguns desafios metodológicos para análise. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 4, p. 3-20, 2005.). Na década de 1960 observou-se, paralelamente, a redistribuição populacional por meio dos migrantes que partiram em direção às áreas de fronteiras agrícolas em busca de assentamento (BAENINGER, 2005BAENINGER, R. São Paulo e suas migrações no final do século 20. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 3, p. 84-96, set. 2005.). No caso específico da região Nordeste, a questão climática junta-se à econômica, uma vez que as secas episódicas causaram o êxodo de grande parcela da população rural do sertão para as áreas urbanas do próprio Nordeste ou para outras regiões do país, especialmente para o Sudeste (DUARTE; FUSCO, 2008DUARTE, R. S.; FUSCO, W. Migração e emprego precário em dois contextos distintos: São Paulo e Toritama. Caderno CRH, v. 21, n. 53, p. 337-347, maio/ago. 2008.).

Entre as décadas de 1970 e 1980, os fluxos urbano-urbano ganharam maior relevância, privilegiando a concentração populacional nas grandes metrópoles do Sudeste. A partir de 1980, já com predomínio do fluxo entre áreas urbanas, passaram a ser observadas com maior frequência as migrações de retorno, as de curta duração, a rotatividade migratória e a mobilidade pendular (BAPTISTA; CAMPOS; RIGOTTI, 2016; BAENINGER, 2013), muito em função da saturação do mercado de trabalho nas regiões mais centrais (BRITO; OLIVEIRA, 2016BRITO, D. J. M.; OLIVEIRA, A. M. H. C. Determinantes da migração e da migração de retorno no Nordeste. In: VII CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE POPULAÇÃO E XX ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS. Anais [...]. Foz do Iguaçu: Alap; Abep, 2016.), da reconfiguração do espaço urbano e do mercado imobiliário (LOBO, CARDOSO; ALMEIDA, 2018LOBO, C.; CARDOSO, L.; ALMEIDA, I. L. de. Mobilidade pendular e integração regional: uma metodologia de análise para as regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Cadernos Metrópole, São Paulo, v. 20, n. 41, p. 171-189, abr. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-99962018000100171&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 25 mar. 2021.). Grande parte desse cenário é creditada às crises econômicas dessa década, com impacto direto na taxa de desemprego e no aumento da informalização (BRITO, 2000BRITO, F. Brasil, final de século: a transição para um novo padrão migratório. In: XII ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS. Anais [...]. Caxambu-MG: Abep, 2000. v. 1, p. 1-44.).

Na década de 1990, uma associação entre políticas econômicas de viés neoliberal e a intensificação dos processos de reestruturação produtiva, responsáveis pela incorporação de inovações tecnológicas e gerenciais no sistema produtivo, produziu uma generalizada crise do emprego em todo o país, com elevação do desemprego aberto, assim como das ocupações não assalariadas, registrando-se queda na proporção de assalariados no total de ocupados, especialmente com carteira assinada (POCHMANN, 2008POCHMANN, M. O emprego no desenvolvimento da nação. São Paulo: Boitempo, 2008.). No que se refere à relação entre migração e economia com reflexos sociais, Brito (2000) argumenta que “a redução excepcional da capacidade de geração de emprego e de novas oportunidades ocupacionais, objetivamente, descolou a mobilidade espacial da mobilidade social”. A inércia da trajetória que leva nordestinos para São Paulo mantém o caminho estrutural funcionando nos dois sentidos, com idas e vindas mais frequentes devido ao baixo poder de retenção populacional em ambos os lados (BRITO, 2000BRITO, F. Brasil, final de século: a transição para um novo padrão migratório. In: XII ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS. Anais [...]. Caxambu-MG: Abep, 2000. v. 1, p. 1-44.). Além do movimento de retorno, também se consolidaram e ampliaram os deslocamentos de curto prazo, a rotatividade migratória e a mobilidade pendular.

A partir do início do século 21, ampliou-se a percepção do caráter complexo da relação entre as dinâmicas migratória e econômica. Segundo Baeninger (2013, p. 195), “A diversidade de situações migratórias locais, regionais, estaduais recodifica a complexidade do fenômeno, não sendo possível nos pautarmos apenas no dinamismo econômico das áreas”. Para avançar nessa questão, a autora propõe a incorporação da discussão mais atual sobre os impactos da reestruturação produtiva no território. A partir desse debate, considera-se que as mudanças nos processos urbanos caminham juntas com o aumento da importância de determinadas cidades pequenas e médias no contexto da dinâmica regional, em termos sociais, econômicos, políticos e demográficos, influenciando volume, direção, sentido e permanência de fluxos migratórios. Essas mesmas mudanças transportam as cidades do local para o global, colocando-as em um cenário que as liga aos fenômenos regionais, nacionais e internacionais, proporcionando, assim, novo entendimento para os movimentos migratórios (BAENINGER, 2013). De acordo com Harvey (1992HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992., p. 266), “a produção ativa de lugares dotados de qualidades especiais se torna um importante trunfo na competição espacial entre localidades, cidades, regiões”.

O processo de integração econômica do Nordeste ao resto do país, intensificado a partir da atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – Sudene (especialmente entre 1960 e 1980), introduziu grandes transformações na base produtiva da região (OLIVEIRA, 1981OLIVEIRA, F. de. Elegia para uma re(li)gião: Sudene, Nordeste, planejamento e conflito de classes. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.). Isso, contudo, não foi capaz de estancar o tradicional movimento migratório que envolvia principalmente as populações interioranas em relação aos grandes centros do país. Ao contrário, houve uma diversificação desses movimentos. Além do fluxo em direção às metrópoles do Centro-Sul, foram intensificadas as migrações intrarregionais, especialmente oriundas das zonas rurais e dos pequenos municípios com destino às médias e grandes cidades nordestinas, com destaque para Salvador, Recife e Fortaleza. Nos anos 1990, mesmo com a crise do emprego que atingiu todo o país, essa dupla movimentação continuou (FUSCO, 2012FUSCO, W. Regiões metropolitanas do Nordeste: origens, destinos e retornos de migrantes. Revista Interdisciplinar da Mobilidade Urbana, Brasília, ano XX, n. 39, p. 101-116, jul./dez. 2012.). As secas que assolaram o semiárido nordestino entre 1990-1993 e 1998-1999 contribuíram decisivamente para isso.

O território no qual se situa o aglomerado ampliado de confecções, recortando as mesorregiões do Agreste de Pernambuco e da Borborema na Paraíba, insere-se nesse contexto mais amplo, mas dele se diferencia, em particular no que se refere às relações nele expressas entre dinâmicas econômicas e migratórias, o que justifica um olhar específico. Com esse fim, o presente estudo busca incorporar o debate teórico atual sobre mobilidade espacial da população à análise sobre a atratividade migratória e o transbordamento das atividades econômicas específicas de um aglomerado de municípios do interior de Pernambuco e da Paraíba. Apesar da permanência de fatores de atração e expulsão, fundamentais para explicar as migrações do passado recente, as novas configurações econômicas conferem maior possibilidade de entendimento para o processo migratório, de mobilidade pendular e de expansão observados naquele território.

Caracterização do aglomerado ampliado

As atividades de produção e comercialização de produtos populares de vestuário começaram a ganhar destaque na região central de Pernambuco a partir dos anos 1970, com a instalação das chamadas “feiras da sulanca”, inicialmente em Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e, depois, em Toritama. Contudo, as primeiras atividades de costura e comercialização local de peças de vestuário e acessórios remontam às décadas de 1940 e 1950 no município de Santa Cruz do Capibaribe (GOMES, 2002GOMES, S. de C. Do comércio de retalhos à feira da sulanca: uma inserção de migrantes em São Paulo. Dissertação(Mestrado em Geografia Humana) − Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2002.; LYRA, 2005LYRA, M. R. S. de B. Sulanca x muamba: rede social que alimenta a migração de retorno. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, p. 144-154, 2005.; LIRA, 2011LIRA, S. M. de. Muito além das feiras da sulanca: a produção de confecções no Agreste-PE. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2011.; ANNAHID, 2013).

As costureiras de Santa Cruz do Capibaribe, em associação com motoristas de caminhão que traziam retalhos inicialmente do Recife e, na sequência, em suas viagens de volta de São Paulo, produziam roupas e colchas que eram comercializadas nas tradicionais “feiras livres”, cuja principal expressão na região era a Feira de Caruaru. Gradativamente, tais produtos passaram a ser comercializados nos municípios vizinhos e de outros estados. Com a consolidação do negócio da sulanca (produção e comercialização), começaram a surgir na década de 1970 as primeiras feiras da sulanca, especificamente organizadas para a comercialização dos seus produtos. A primeira delas foi a de Santa Cruz do Capibaribe, sendo que a de Caruaru, que veio em seguida, firmou-se como uma seção da renomada feira central da cidade (ANNAHID, 2013). A feira da sulanca de Toritama foi a terceira a se constituir (BRAGA, 2014BRAGA, B. M. A dinâmica formal-informal do trabalho no parque das feiras e entorno: constituição histórica e mudanças recentes. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) − Programa de Pós- -graduação em Ciências Sociais (PPGCS), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2014.).

As primeiras unidades produtivas, de base familiar, com funcionamento em geral domiciliar (cf. HELENO, 2013HELENO, E. do A. Configurações do trabalho a domicílio nas confecções de roupas de jeans no município de Toritama-PE. Tese (Doutorado em Sociologia) − Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, 2013.) e informal, dedicadas ao atendimento das demandas locais e regionais de perfil popular, adquiriram a denominação de “fabricos”. Com o tempo, alguns fabricos se destacaram ao se modernizarem técnica e organizacionalmente e ao se formalizarem. Uns poucos, dentre esses, converteram-se em fábricas, propriamente, e criaram marca comercial própria, passando a se inserir em mercados consumidores mais exigentes. Ao lado dos fabricos e fábricas surgiram as “facções”, unidades produtivas também de base familiar, domiciliar e informal, voltadas a atender, sob a condição de subcontratadas e dispondo de condições em geral ainda mais precárias do que as dos fabricos, demandas de fábricas e fabricos por tarefas especializadas no processo de produção, com destaque para a costura, o corte, o bordado, o travete (no caso do jeans), a implantação de casas e botões, etc. (VÉRAS DE OLIVEIRA, 2013VÉRAS DE OLIVEIRA, R. O Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco: elementos para uma visão panorâmica. In: VÉRAS DE OLIVEIRA, R.; SANTANA, M. A. (org.). Trabalho em territórios produtivos reconfigurados no Brasil. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2013.). As lavanderias de jeans constituem um caso especial, sendo unidades encarregadas da lavagem, tingimento e confecção do jeans. Sua atuação na região gerou graves problemas ambientais, com a poluição dos rios Capibaribe, em Toritama, e Ipojuca, em Caruaru, e com a utilização ilegal de madeira da caatinga (LIMA, 2011LIMA, A. S. “Empreendendo” a sulanca: o Sebrae e o Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) − Centro de Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2011.).

Com o tempo a produção de confecções se modernizou, assim como as atividades comerciais e de serviços conexas. Dada a incapacidade das feiras da sulanca de comportarem a expansão e modernização produtiva e organizacional das atividades de confecção do aglomerado, a partir de meados dos anos 2000, começaram a ser construídos gigantescos centros comerciais nas cidades de Toritama, Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe. Tais empreendimentos resultaram da iniciativa de investidores privados, com alguma parceria por parte dos poderes públicos municipais. O primeiro deles, o Parque das Feiras, foi inaugurado em 2001 (BRAGA, 2014BRAGA, B. M. A dinâmica formal-informal do trabalho no parque das feiras e entorno: constituição histórica e mudanças recentes. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) − Programa de Pós- -graduação em Ciências Sociais (PPGCS), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2014.). O segundo, o Polo Comercial de Caruaru, foi construído em 2004. O terceiro, de longe o maior de todos, o Moda Center, situado em Santa Cruz do Capibaribe, foi lançado em 2006. Em paralelo, a partir de 2002, sob a ação de um pool de instituições e a liderança do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado de Pernambuco (Sindivest) e do Sebrae, foi lançada uma agressiva campanha para renomear o aglomerado como Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco ou Polo da Moda de Pernambuco (LIMA, 2011LIMA, A. S. “Empreendendo” a sulanca: o Sebrae e o Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) − Centro de Humanidades, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina Grande, 2011.; VÉRAS DE OLIVEIRA, 2013VÉRAS DE OLIVEIRA, R. O Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco: elementos para uma visão panorâmica. In: VÉRAS DE OLIVEIRA, R.; SANTANA, M. A. (org.). Trabalho em territórios produtivos reconfigurados no Brasil. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2013.).

Ao passar dos anos, essa se firmou como uma das principais regiões produtoras e comerciais do ramo das confecções no país e um dos polos econômicos mais dinâmicos e com maior potencial de geração de trabalho e renda no estado de Pernambuco. Atualmente conta com um portfólio variado de produtos. Segundo pesquisa do Sebrae (2013), 53,8% das “empresas” (fábricas e fabricos) situadas nos dez principais municípios produtores do aglomerado de confecções do Agreste produzem moda casual, enquanto 18,6% se dedicam à produção de peças de jeanswear, 8,4% à produção de peças de streetwear, 7,6% de moda íntima, 6,4% de roupas para esportes, 4,1% de moda praia, 3,5% de roupas profissionais, 3,8% de moda festa e 1,9% de peças para cama, mesa e banho. No que se refere às facções, os percentuais foram de 33,1%, 54,3%, 9,6%, 5,0%, 4,9%, 3,1%, 1,9%, 1,3% e 0,3%, respectivamente.3 3 A soma ultrapassa 100% pela existência de múltiplas produções.

A projeção regional e nacional das atividades comerciais e produtivas no Agreste de Pernambuco e entorno, sua expansão para municípios paraibanos da vizinhança, sua modernização produtiva e organizacional, uma crescente presença de agentes exógenos, públicos e privados (com ações de fiscalização, orientação, institucionalização, prestação de serviços) e o início de uma inserção comercial internacional, entre outros fatores, vêm trazendo importantes mudanças no seu perfil, principalmente a partir do final dos anos 1990. Apesar desses processos de modernização, seus produtos se destinam ainda em geral ao consumo popular e suas formas produtivas continuam fortemente imersas na informalidade (SEBRAE, 2013SEBRAE. Estudo econômico do Arranjo Produtivo Local de Confecções do Agreste Pernambucano, 2012. Relatório final. Recife, 2013.).

Estudos como Tendler (2002), Noronha e Turchi (2007)NORONHA, E.; TURCHI, L. O pulo do gato da pequena indústria precária. Tempo Social, v. 19, n. 1, 2007., Andrade (2008), Fundaj (2008), Martins et al. (2009), entre outros, têm em comum o fato de abordarem esse aglomerado comercial-produtivo sob um referencial teórico apoiado nos conceitos de cluster, arranjo produtivo local (APL) e noções afins. Partem do pressuposto de que “mesmo sendo socialmente desejável, não necessariamente uma aglomeração se transformará em um APL ou Cluster” (FUNDAJ, 2008FUNDAJ – Fundação João Nabuco. O Polo de Confecções de Toritama: análise das relações de trabalho e da informalidade. Relatório de Pesquisa. Recife, 2008., p. 7). Procedem, em geral, de modo a avaliar em que medida o aglomerado comercial-produtivo do Agreste avançou na direção de um cluster, de um APL.

Noronha e Turchi (2007, p. 251) tomam a noção de APL como uma “tradução simplificada de cluster, inclusive na ambiguidade que o termo em inglês envolve”. Os autores destacam, desta última, dois critérios essenciais: a especialidade da produção e a delimitação espacial, mas os têm como “minimalistas” e a esses incorporam mais dois outros critérios, propostos pela RedeSist:4 4 A Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) consiste em uma articulação de pesquisadores sediada na UFRJ e que tem se dedicado ao estudo de arranjos produtivos locais e sistemas produtivos e inovativos locais. Na definição da RedeSist, segundo Lastres e Cassiolato (2003), “arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e treinamento. Sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local”. Um quadro amplo de estudos sobre APL no Brasil pode ser encontrado, ainda, em Oliveira et al. (2017). a ideia de interação entre as empresas e a presença ativa de associações privadas ou sindicais e órgãos governamentais.

A emergência, na década de 1980, do debate internacional sobre clusters, distritos industriais, desenvolvimento local, no rastro da crise do modelo fordista e da emergência de experiências como a da Terceira Itália,5 5 Ver, a respeito, Piore e Sabel (1984). repercutiu no Brasil sobretudo nos anos 1990, influenciando o debate acadêmico, assim como instituições públicas e privadas.6 6 O encontro e a cooperação estabelecida entre o Sebrae e a RedeSist foram um dos principais resultados práticos desse processo. Em uma das primeiras publicações conjuntas produzidas sobre o assunto, o então presidente do Sebrae assim se colocou, na Apresentação: “Instituição envolvida diretamente com a temática do desenvolvimento dos pequenos negócios, o SEBRAE participa ativamente desse novo pensar. Na busca desses conhecimentos fomos à Itália, à região conhecida como Terceira Itália, estudar detalhadamente os chamados distritos industriais, territórios embasados nas tradições, na história e nos pequenos negócios, hoje responsáveis por metade das exportações italianas. No Brasil, em parceria com o CNPq e a FINEP, a Financiadora de Estudos e Projetos, o SEBRAE promoveu um amplo estudo, realizado pela RedeSist, sobre os chamados arranjos produtivos locais, que inspirou esta publicação” (LASTRES et al., 2002, p. 7). No que se refere, particularmente, ao aglomerado comercial-produtivo do Agreste, como vimos, ao longo da década de 1990 e na passagem para os anos 2000, sua trajetória evoluiu para uma modernização, em termos técnicos, organizacionais, de infraestrutura, etc., assim como, quanto à sua institucionalidade, ganhou novos contornos e uma configuração mais complexa. Para além das redes pessoais e familiares, desde sempre presentes e influentes na sua dinâmica, esta passou a incorporar (ao mesmo tempo, contraditoriamente) relações de tipo empresarial e institucional. Diante da complexificação da sua dinâmica e da visibilidade adquirida, de um lado, cresceram as necessidades internas de organização própria por parte dos atores locais e, de outro, ampliaram-se as investidas de instituições públicas e privadas, de fora para dentro, a exemplo do Sebrae, do Senai, do Senac, da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, do Centro Tecnológico da Moda (CTM), do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Estado de Pernambuco (Sindivest), do Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores na Indústria de Confecções de Roupas do Estado de Pernambuco (Sindcostura), do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Nordeste do Brasil, entre outras (ANDRADE, 2008ANDRADE, T. de S. A estrutura institucional do APL de Confecções do Agreste Pernambucano e seus reflexos sobre a cooperação e a inovação: o caso do município de Toritama. Dissertação (Mestrado em Economia) − Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), Universidade Federal da Paraíba (UFPA), João Pessoal, 2008.). Isso, com o propósito de reorientar os caminhos, implementar estratégias mercadológicas, fornecer suporte técnico à produção e à gestão, possibilitar linhas de crédito, instituir formas mais amplas de governança e favorecer processos de institucionalização. O cruzamento entre aquele contexto macro e essa dinâmica específica do aglomerado comercial-produtivo trouxe importantes modificações a este, suscitando um debate entre os estudiosos dessa experiência sobre se, e em que medida, poder-se-ia falar em um caso de APL.

Andrade (2008) se deteve sobre cada uma dessas formas organizativas endógenas e instituições exógenas. A Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic) foi criada em 1920, sendo a mais antiga da região. Segundo Andrade (2008, p. 123):

Inspirados no projeto “empreender” do SEBRAE, os membros da entidade criaram no ano de 2000 as chamadas Câmaras Setoriais, com o intuito de aumentar a capacidade competitiva dos confeccionistas do arranjo. Desde a sua criação a ACIC tem experimentado uma franca expansão e atualmente tem, aproximadamente, 750 sócios ativos (120 são do setor têxtil), dispondo de 13 Câmaras Setoriais, dentre as quais quatro funcionam especificamente em prol do arranjo: i) Câmara da Moda, responsável pelo planejamento e realização das rodadas de negócios; ii) Câmara de Componentes Têxteis; iii) Câmara dos Lojistas do Parque 18 de maio; e, iv) Câmara dos Lojistas do Pólo Comercial.

A partir de então a Acic tem atuado estimulando a criação de outras associações empresariais de confeccionistas nos demais municípios do entorno. A Associação dos Confeccionistas de Santa Cruz do Capibaribe (Ascap) foi criada em 1993, com o apoio do Sebrae, reunindo, em 2008, cerca de 180 sócios. A Associação Comercial e Industrial de Toritama (Acit), por sua vez, foi criada em 2004 e contava com cerca de 100 sócios, em 2008. Nos três casos acima quase todos os sócios eram empresários formalizados, majoritariamente do setor industrial, mas também dos ramos comerciais e de serviços. Somando-se à Associação dos Lojistas do Parque das Feiras de Toritama (ALPF), em 2009 com 400 sócios,7 7 Conforme entrevista dada pelo presidente da ALPF a Eliana Moreira, Bruno Mota, Jéssica Sobreira, Renata Milanês, em outubro de 2009. tais organizações atuam em forte parceria com o Sebrae, o Senai, o Senac, entre outras instituições. O Sindivest, que em 1986 passou de associação, criada em 1982, para sindicato, reunia em 2008 cerca de 720 associados. Teve um papel decisivo a partir de 1997, especialmente por meio do “Projeto de Desenvolvimento do Polo de Confecções do Agreste”, lançado em 2002, no sentido de influenciar a dinâmica do aglomerado comercial-produtivo, sobretudo ao apoiar uma presença bem mais significativa do Sebrae e de outras instituições junto aos empreendedores locais e às suas associações. Quanto ao Sebrae, há um escritório em Caruaru, instalado em 1983, denominado Unidade de Negócios Agreste Central e Setentrional, com atuação em 35 municípios da região,

[...] cujas ações são planejadas no intuito de gerar fundamentalmente um ambiente favorável ao desenvolvimento de arranjos produtivos, através de apoio à melhoria da qualidade dos produtos, da modernização da gestão empresarial, da expansão de mercado, da busca e incentivo pela criação e adoção de inovação tecnológica e o fortalecimento de canais de interação. Dentre as políticas planejadas e praticadas de apoio ao arranjo, destacam-se a existência de dois projetos, quais sejam: “Melhoria da Imagem do APL de Confecções” e “Melhoria da Competitividade do APL de Confecções”. (ANDRADE, 2008ANDRADE, T. de S. A estrutura institucional do APL de Confecções do Agreste Pernambucano e seus reflexos sobre a cooperação e a inovação: o caso do município de Toritama. Dissertação (Mestrado em Economia) − Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), Universidade Federal da Paraíba (UFPA), João Pessoal, 2008., p. 140)

O Sebrae tem se afirmado como uma das instituições mais influentes junto ao aglomerado comercial-produtivo do Agreste. É um dos principais responsáveis pela reformulação da sua imagem e por sua renomeação como Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco. Atua em parceria com as associações e sindicatos empresariais, com as demais instituições do Sistema S, órgãos governamentais, entre outros. Já o Senai conta com duas unidades operacionais instaladas no Agreste de Pernambuco, ambas focadas no setor de confecções: as Escolas Técnicas de Caruaru e de Santa Cruz, instaladas, respectivamente, em 1970 e 2002 (Pereira, 2013PEREIRA NETO, E. Qualificação e informalidade: os modos de atuação do Senai no Polo de Confecções de Pernambuco. Recife: Editora Massangana, 2013.). Em ambos os casos, são realizados cursos técnicos, de aprendizagem e de qualificação, além de ações de consultoria junto aos empreendimentos. No segmento do ensino superior, além dos campi da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade de Pernambuco (UPE), situados em Caruaru, há várias faculdades privadas instaladas em Caruaru e Santa Cruz, oferecendo diversas opções de cursos referidos, direta ou indiretamente, às atividades de confecções (Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Gestão Comercial, Gestão de Negócios, Publicidade e Propaganda, Tecnologia, Sistema de Informação e Design, entre outros). Andrade (2008) cita, ainda, as atuações: da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper), órgão da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de Pernambuco para agir junto à iniciativa privada, tendo passado a atuar na região em 2007; do Centro Tecnológico da Moda (CTM), instalado em Caruaru, em 2003, pelo governo estadual, com o fim de “dar suporte, apoiar o APL da região, através de ações direcionadas à formação profissional, à criação de inovações tecnológicas e estímulo ao empreendedorismo local” (ANDRADE, 2008ANDRADE, T. de S. A estrutura institucional do APL de Confecções do Agreste Pernambucano e seus reflexos sobre a cooperação e a inovação: o caso do município de Toritama. Dissertação (Mestrado em Economia) − Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), Universidade Federal da Paraíba (UFPA), João Pessoal, 2008., p. 142); do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep); do Banco do Brasil; da Caixa Econômica Federal, etc. Há, também, no estudo em questão, uma referência ao Sindicato dos Oficiais Alfaiates, Costureiras e Trabalhadores na Indústria de Confecções de Roupas do Estado de Pernambuco, criado em 1938, principalmente por alfaiates, mas tendo se tornado majoritariamente uma entidade de costureiras. Entretanto, conforme constata a pesquisadora, tem uma atuação junto ao polo ainda muito tímida.

Ao final, Andrade (2008, p. 151) considerou que “a matriz institucional deste arranjo apresenta alguns aspectos positivos e outros bastante deficientes.” Em síntese, “A rápida expansão da produção confeccionista na região exigiu a configuração de um ambiente institucional capaz de acompanhar o ritmo de desenvolvimento do segmento produtivo”. Assim, “pode-se ressaltar a existência de uma rede de interação, a qual, conforme os relatos, tem sido decisiva para o desenvolvimento do APL”, mas que “ainda não está consolidada, dado que alguns agentes estabelecem relações de cooperação muito tímidas”. A isso, a autora acrescenta que “há uma certa deficiência na promoção de incentivos, marcadamente os originários do poder público, levantando questionamentos com relação ao papel de fato desempenhado pelo Governo de Pernambuco”.

Para efeito do que pretendemos aqui demonstrar, é preciso levar em conta que as atividades produtivas e comerciais que vieram a configurar o aglomerado de confecções no Agreste de Pernambuco não surgiram das políticas de incentivo da Sudene – que, nos termos de Oliveira (1981), se orientou para a priorização do grande capital como fator por excelência da industrialização do Nordeste e de sua integração à economia nacional e internacional –, nem da “guerra fiscal” que, com o refluxo da política regional de desenvolvimento no país, se estabeleceu nos anos 1990 com forte repercussão no Nordeste – tendo sido, conforme Britto e Cassiolatto (2000)BRITTO, J.; CASSIOLATTO, J. Mais além da “guerra fiscal”: políticas industriais descentralizadas no caso brasileiro. Indicadores Econômicos FEE, v. 28, n. 3, p. 191-217, 2000. e Lima (2002), um importante fator de deslocamento de plantas industriais das áreas mais industrializadas do país para regiões menos desenvolvidas, especialmente nos ramos calçadista e de confecções. Segundo Saboia (2001)SABOIA, J. A dinâmica da descentralização industrial no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de Economia, UFRJ, 2001. (Texto para Discussão, n. 452)., a “guerra fiscal” dos anos 1990 (que envolveu estados e municípios na disputa por novos investimentos) foi uma decorrência da reestruturação produtiva (que atingiu, sobretudo, as regiões industriais mais dinâmicas do país, gerando desemprego e precarização do trabalho), produzindo o deslocamento de plantas industriais mencionado anteriormente. Lima (2002) destacou que, para as populações locais – condicionadas historicamente a escassas oportunidades de emprego e baixo padrão de remuneração –, os novos investimentos representaram oportunidades antes não existentes.

Entretanto, a origem e desenvolvimento do aglomerado de confecções do Agreste passaram à margem desses dois processos (investimentos da Sudene e da “guerra fiscal”). Ao contrário, surgiu e se conservou em grande medida ancorado no trabalho autônomo e no pequeno negócio, de base familiar, domiciliar, popular e informal. É certo que, com o passar do tempo, e quanto mais se consolidou como uma atividade produtivo-comercial de projeção regional (e até nacional), foi estabelecendo conexões com os mercados capitalistas (na venda de produtos, na compra de insumos, na busca de crédito, na demanda por serviços diversos, etc.) e, consequentemente, com as dinâmicas de acumulação de capital, em suas diversas escalas de realização (VÉRAS DE OLIVEIRA, 2011VÉRAS DE OLIVEIRA, R. O Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco: ensaiando uma perspectiva de abordagem. In: ARAÚJO, A.; VÉRAS DE OLIVEIRA, R. (org.). Formas de trabalho no capitalismo atual. São Paulo: Annablume, 2011.). Com isso, o aglomerado de confecções do Agreste de Pernambuco se converteu em um grande absorvedor de força de trabalho, mesmo não se tratando de uma região metropolitana, nem tendo sido impulsionado originalmente por grandes investimentos públicos ou privados. Mais do que isso, tal região chamou a atenção por sua capacidade de manter crescente o nível de ocupação inclusive nos momentos de crise generalizada do emprego, a exemplo do que ocorreu nos anos 1990. Apesar de, a partir de final dos anos 1990 e início dos 2000, contar com a presença de empresas industriais e comerciais com relevância regional, o aglomerado continuou a se alimentar em grande medida do trabalho familiar e do pequeno negócio, voltados para a venda de produtos de baixos preços, mostrando-se altamente resiliente às crises econômica e de emprego pelas quais passou o país no período. É o que explica sua grande capacidade de atrair migrações do entorno e de regiões mais distantes, produzindo, assim, um fenômeno singular nas suas conexões entre dinâmicas econômicas e movimentos migratórios.

A atratividade migratória observada nos municípios centrais do aglomerado ampliado pode ser entendida como resultado da reconfiguração econômica e urbana local, acrescida da condução articulada dos empreendedores locais que investiram nas atividades de produção e comercialização de vestuários e acessórios, visando a criação de um território especializado nesse segmento, com a consequente expansão espacial para o entorno, por efeito de transbordamento – no sentido de Myrdal (1960)MYRDAL, G. Teoria econômica e regiões subdesenvolvidas. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1960. e Hirschman (1977)HIRSCHMAN, A. Transmissão inter-regional do crescimento econômico. In: SCHWARTZMAN, S. (org.). Economia regional: textos escolhidos. Belo Horizonte: Cedeplar, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 1977. – com as áreas mais desenvolvidas incorporando as menos desenvolvidas com seu dinamismo econômico.

Em função da trajetória histórica para seu desenvolvimento e da participação da população dos municípios integrantes do aglomerado ampliado em atividades de produção e comercialização de vestuário e acessórios, procedemos à sua distinção em três grupos:8 8 Tal classificação se justifica especificamente para os fins analíticos a que se propõe este artigo. Caruaru, grupo 1 e grupo 2, representados nas Figuras 1 e 2.

Figura 1
Representação do aglomerado ampliado em grupos de municípios entre os estados de Pernambuco e da Paraíba
Figura 2
Representação dos municípios do aglomerado ampliado em grupos de municípios

Embora a constituição do aglomerado tenha contado originalmente com um papel central por parte dos municípios de Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, como fartamente documenta a bibliografia pertinente, o primeiro se destaca por deter o maior peso populacional no conjunto dos municípios do aglomerado (38% em 2010), ao que se soma a condição de maior e mais diversificada economia da região, dispondo de equipamentos urbanos e serviços que exerceram e exercem importância estratégica para o desenvolvimento das atividades do aglomerado, tendo a tradicional Feira de Caruaru cumprido relevante papel na projeção regional dos seus produtos. Por tudo isso, para os efeitos que interessam aqui, justifica-se tomá-lo em separado.

O grupo 1 é integrado por seis municípios que se situam próximos a Caruaru e apresentam as maiores proporções de pessoas ocupadas nas atividades vinculadas à confecção no aglomerado, tendo também desempenhado importância histórica na sua consolidação. Além de Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, que se destacam em primeiro plano (uma vez que os costureiros e comerciantes de vestuários desses municípios passaram de 62% para 67% e de 50% para 53%, respectivamente, relativamente ao total de ocupados, entre 2000 e 2010), foram incluídos ainda Taquaritinga do Norte, Riacho das Almas, Brejo da Madre de Deus e Vertentes, todos de Pernambuco e com participação da população ocupada em atividades vinculadas à confecção sempre acima de 28,5% em 2010.

O grupo 2, por sua vez, reúne mais 15 municípios, não só de Pernambuco, mas também da Paraíba, podendo sua inclusão ser caracterizada como resultante do processo de ampliação mais recente das atividades do aglomerado. São eles: Agrestina, Belo Jardim, Cupira, Frei Miguelinho, Jataúba, Santa Maria do Cambucá, São Caitano e Surubim (grupo de Pernambuco) e Alcantil, Barra de São Miguel, Cabaceiras, Caraúbas, Coxixola, Riacho de Santo Antônio e São Domingos do Cariri (grupo da Paraíba), com a participação da população ocupada em atividades de produção e comercialização de vestuário e acessórios sempre acima de 5,4% (Cabaceiras) em 2010.

As atividades produtivas e comerciais de grande porte concentraram-se nas cidades de Caruaru, Santa Cruz e Toritama, com os demais municípios do entorno e integrantes do aglomerado ampliado tendo um papel de tipo mais subordinado e complementar. Neles se situam basicamente facções urbanas e rurais, destinadas a atenderem às demandas dos “fabricos” e, sobretudo, das fábricas da região.

A Figura 1 mostra, nos estados de Pernambuco e da Paraíba, a posição dos municípios do aglomerado ampliado e sua correspondência com os grupos descritos. Apresenta-se, na Figura 2, a identificação de cada um dos municípios do aglomerado e evidenciam-se os arcos sucessivos formados pelos grupos 1 e 2 em torno de Caruaru.

O aglomerado comercial-produtivo desenvolveu-se sob condições extremamente adversas, a partir da iniciativa de milhares de homens e mulheres pobres, tendo convergido para o segmento das confecções. Afirmou-se como uma economia de mercado, envolvendo produção e comercialização, agregando, com o tempo, fornecedores de insumos, prestadores de serviços, agentes institucionais públicos e privados. Integrou, ressignificando, o rural ao urbano e a agricultura à atividade urbana de tipo industrial e comercial. Baseou-se historicamente e, não obstante as mudanças pelas quais vem passando, continua se baseando atualmente em um regime produtivo intensivo em trabalho, em relações de tipo familiar, domiciliar, informal e precário. Incorporou um elemento de “especialização da produção”, de “delimitação espacial”, de “interação entre as empresas” e de “presença de associações privadas ou sindicais e órgãos governamentais” – conforme os critérios recuperados por Noronha e Turchi (2007), para definir um APL. Constituiu-se, portanto, como uma aglomeração produtiva e comercial, situada em uma região da periferia do capitalismo.

Aglomerado ampliado: desempenho demográfico e sua correlação com a expansão da atividade de produção e comercialização de vestuário e acessórios

O desempenho demográfico observado nas últimas décadas nos territórios onde se estabeleceu o aglomerado de confecções, cujo núcleo estendido situa-se em Caruaru e municípios do grupo 1, no Agreste de Pernambuco, chama a atenção pelos contrastes produzidos diante do que se nota em escalas mais amplas, em âmbitos estadual, regional e nacional.

A Tabela 1 apresenta as populações do Brasil e de recortes territoriais selecionados por ano do Censo Demográfico de 1991 a 2010, assim como a taxa geométrica de crescimento anual entre os censos. A diminuição observada no ritmo de crescimento da população do Brasil, entre os três últimos censos, ocorreu principalmente em função da queda da fecundidade. A região Nordeste segue a mesma tendência (MOREIRA; FUSCO, 2017MOREIRA, M. de M.; FUSCO, W. Mapeando a fecundidade nordestina: 2000-2010. Confins, n. 33, 2017. Disponível em http://journals.openedition.org/confins/12528; DOI: 10.4000/confins.12528. Acesso em: 15 fev. 2018.), com o fator adicional de perda populacional pela emigração para outras regiões do país (OJIMA; FUSCO, 2015OJIMA, R.; FUSCO, W. (org.). Migrações nordestinas no século 21 − Um panorama recente. São Paulo. Edgard Blücher, 2015.). O saldo migratório negativo também é importante para explicar o baixo crescimento de Pernambuco e, mais intensamente, da Paraíba, em relação aos recortes anteriores, assim como para as mesorregiões do Agreste de Pernambuco e Borborema da Paraíba, as quais apresentam crescimento inferior aos seus respectivos estados. Em contraste, os municípios onde se situam as atividades do aglomerado,9 9 Referidos nas Tabelas 1 e 2 como “Aglomerado PE” e “Aglomerado PB”, reunindo respectivamente os municípios de Pernambuco e da Paraíba, esses recortes foram utilizados somente para que o conjunto de municípios do aglomerado pudesse ser analisado em relação ao desempenho das mesorregiões e estados respectivos. localizados no Agreste de Pernambuco e em Borborema da Paraíba, mostram taxas de crescimento sempre superiores às mesorregiões das quais fazem parte e aos seus respectivos estados. O grupo de municípios pernambucanos do aglomerado cresceu proporcionalmente mais que todos os recortes superiores nos dois períodos. A população dos municípios paraibanos do aglomerado, por sua vez, apresenta taxa de crescimento superior à mesorregião de Borborema e ao estado da Paraíba no primeiro período e a todos os recortes maiores no período mais recente, em consonância com o argumento da atratividade migratória derivada da expansão das atividades vinculadas às confecções nesses espaços.

TABELA 1
População residente e crescimento populacional anual Brasil, Nordeste, Pernambuco, Paraíba e recortes territoriais selecionados – 1991-2010

O desempenho diferenciado do território do aglomerado em relação ao crescimento populacional é confirmado pela evolução ao longo dos anos da participação proporcional dos municípios que o integram nas respectivas populações estaduais, como pode ser visto na Tabela 2. Os municípios do lado paraibano (designados de aglomerado PB) são reduzidos tanto em número como em volume populacional, compreendendo menos de 1% da população do estado. Ainda assim, experimentaram aumento contínuo da proporção de residentes na Paraíba, chegando a pouco mais de 4,7% de crescimento na participação percentual entre 1991 e 2010. Os municípios do lado pernambucano (aglomerado PE) registram uma parcela mais importante do estado e cresceram, também, de forma mais intensa no período, chegando a pouco mais de 15% de aumento na participação populacional entre 1991 e 2010. Em ambos os casos, a taxa de incremento populacional superior às taxas dos respectivos estados deve-se ao desempenho migratório diferenciado dos espaços analisados.

TABELA 2
Participação dos municípios do aglomerado ampliado na respectiva população estadual Recortes territoriais selecionados – 1991-2010

Em porcentagem


Conforme já indicado por outros estudos (VASCONCELOS, 2012VASCONCELOS, V. M. Migração e pendularidade: as consequências de atração de população para o município de Toritama-PE. Dissertação (Mestrado em Geografia) − Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2012.), o desempenho demográfico diferenciado da maior parte dos municípios integrantes do aglomerado PE está associado à importância das atividades de produção e comercialização inscritas no setor de confecções que ali se concentram, hipótese esta que se pretende fortalecer com os dados que se seguem. Da mesma forma, o crescimento dos municípios do aglomerado PB pode ser explicado por razões semelhantes.

Uma medida da crescente importância da produção e comercialização de vestuário e acessórios10 10 Classificadas de forma independente na coleta de informações para os Censos Demográficos, as categorias de produção de artigos do vestuário e acessórios e de comercialização de têxteis e de artigos do vestuário e acessórios foram agrupadas neste estudo para compor o conjunto de pessoas ocupadas em atividades relacionadas às confecções. Fizemos essa opção por considerarmos, conforme mostram os estudos sobre o aglomerado de confecções do Agreste (a exemplo de VÉRAS DE OLIVEIRA, 2011), que nele as atividades produtivas e comerciais são realizadas sob fortes interações, muitas vezes pelos mesmos grupos familiares, que dividem a semana entre a produção das peças e sua venda nas feiras e centros comerciais. Foram feitas as devidas compatibilizações entre as categorias usadas nos Censos de 2000 e 2010. Para saber mais sobre a utilização e adaptação da CNAE-Domiciliar pelo IBGE, ver https://concla.ibge.gov.br/classificacoes/por-tema/atividades-economicas/cnae-domiciliar-2-0.html. para o território do aglomerado ampliado (conjunto dos municípios do aglomerados PE e PB) é verificada na Tabela 3. Em 1991, a participação dos que trabalhavam nessas atividades no conjunto de pessoas ocupadas no Brasil era de 4,5%, enquanto no Nordeste correspondia a 3,7%. Nesse mesmo ano, os municípios do aglomerado ampliado registravam 14,9% dos trabalhadores ativos no conjunto de atividades econômicas em referência. Em 2000, também como resultado do impacto da abertura da economia nacional no conjunto da cadeia têxtil e de confecções (KELLER, 2010), esse índice caiu para 3,3% no Brasil. Mesmo com o deslocamento de plantas industriais para a região, motivado pela reestruturação produtiva dos parques industriais do Sudeste e do Sul do país (LIMA, 2002), tal índice retrocedeu para 2,7% no Nordeste. Mas os municípios do aglomerado ampliado aumentaram esse mercado de trabalho para 17,2%. Em 2010, observa-se certa estabilidade da atividade no Brasil e crescimento no Nordeste, em função do desempenho econômico do país e principalmente da região na década anterior, com impactos positivos sobre o conjunto do mercado de trabalho (LEONE; BALTAR, 2012LEONE, E. T.; BALTAR, P. O mercado de trabalho no Brasil nos anos 2000. Carta Social e do Trabalho, v. 19, p. 2-15, 2012.). Enquanto isso, o território do aglomerado ampliado seguiu concentrando a ocupação nessas atividades, expandindo a participação para 24,1% do mercado de trabalho local.

TABELA 3
Participação de pessoas ocupadas em atividade de produção ou comercialização de vestuário e acessórios em relação ao total de pessoas ocupadas Brasil, Nordeste e aglomerado ampliado – 1991-2010

Em porcentagem


As populações dos municípios do aglomerado ampliado, por ano do Censo, podem ser observadas na Tabela 4, assim como as respectivas taxas de crescimento geométrico anuais intercensitárias. Caruaru, tendo em conta o tamanho de sua população, tem crescimento expressivo e contínuo nas décadas recentes, evidenciando atratividade migratória em função de sua economia dinâmica. Da mesma forma, os municípios do grupo 1 apresentam indicadores de crescimento sempre superiores aos nacionais, exceto Riacho das Almas, em ambos os períodos, e Vertentes, na década de 1990. Destacam-se nesse grupo, uma vez mais, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama, com taxas sempre superiores a 4% ao ano, situando-se entre as mais altas do Brasil. Além disso, o crescimento demográfico consistente e relevante de Caruaru, assim como de Taquaritinga do Norte e Brejo da Madre de Deus, do grupo 1, associado às altas proporções de população ocupada em produção e comercialização de vestuário e acessórios de todos os municípios do grupo (Figura 3), ratifica a consolidação da dinâmica econômica nesses espaços.

TABELA 4
População e taxa de crescimento geométrico anual Municípios do aglomerado ampliado – 1991-2010
Figura 3
Proporção da população ocupada em produção e comércio de itens de vestuário em relação ao total de ocupados

Entre os municípios do grupo 2, apenas Cupira e Frei Miguelinho (em Pernambuco) e Cabaceiras (na Paraíba) exibiram decremento no primeiro período, mas todos cresceram na década de 2000, ainda que para alguns se observem índices abaixo do próprio estado, como Alcantil e Barra de São Miguel (PB) e os municípios de Pernambuco, com exceção de Surubim e Agrestina.

Ainda em relação ao grupo 2, cabe esclarecer que, apesar de apresentarem taxa de crescimento na mesma faixa que alguns municípios do grupo 1, Coxixola e Riacho de Santo Antônio têm uma população muito pequena, motivo pelo qual a avaliação de resultados desagregados para estes municípios deve ser cuidadosamente relativizada. Por outro lado, todos os municípios do grupo 2 registram índice de ocupação em atividades ligadas à confecção acima da média regional.

Migração de data fixa e mobilidade pendular para trabalho no território do aglomerado

O saldo migratório (SM),11 11 O SM é calculado a partir de dados de migração de data fixa. No caso dos Censos Demográficos do IBGE, a data fixa refere-se à informação de residência do imigrante há exatos cinco anos da data de referência do respectivo censo. ou seja, a diferença entre imigrantes e emigrantes, e a taxa líquida de migração (TLM)12 12 Nesse texto, acompanhando sugestão de Carvalho e Rigotti (1998), a TLM é calculada como o quociente entre o saldo migratório e a população no fim do período e expressa em porcentagem. são elementos essenciais para explicar o crescimento populacional e indicar a capacidade de atração e retenção de migrantes (CARVALHO; RIGOTTI, 1998CARVALHO, J. A. M.; RIGOTTI, J. I. Os dados censitários brasileiros sobre migrações internas: algumas sugestões para análise. Revista Brasileira de Estudos de População, v. 15 n. 2. p. 7-17, 1988.). A Tabela 5 e os Gráficos 1 e 2 consideram cada grupo de municípios como um recorte territorial fechado e não levam em conta os fluxos migratórios intragrupos. Os resultados apresentados na Tabela 5 mostram que, em 2000, os quantitativos de imigrantes nos três recortes selecionados guardavam relativa correspondência com as participações populacionais dos grupos no aglomerado, mas também mostram que o número de emigrantes variou bastante. Enquanto o grupo 1 teve um SM de mais de sete mil pessoas, Caruaru registrou pouco mais de quatro mil e o grupo 2, perto de zero. Como resultado, a TLM do grupo 1 expressa a grande importância da migração para seu crescimento populacional, ao passo que Caruaru recebeu comparativamente menor contribuição nesse quesito, ainda que relevante. A migração no grupo 2 praticamente não afetou o crescimento do conjunto da população entre 1995 e 2000.

TABELA 5
Emigrantes e imigrantes de data fixa, saldo migratório e taxa liquida de migração, segundo grupos de municípios Aglomerado ampliado – 2000-2010
GRÁFICO 1
Distribuição dos imigrantes de data fixa, por grupo de destino no aglomerado, segundo origem do imigrante Brasil − 1995/2000-2005/2010
GRÁFICO 2
Distribuição dos imigrantes de data fixa, por origem do imigrante, segundo grupo de destino no aglomerado Brasil − 1995/2000-2005/2010

O volume de imigração cresceu consideravelmente em Caruaru e no grupo 1 em 2010, enquanto no grupo 2 manteve-se nos patamares verificados em 2000. O fato de a emigração ter sido menor em todos os recortes, no período mais recente, proporcionou o registro de SM maiores, mas com diferenças importantes entre os espaços analisados. Ainda que o SM do grupo 1 tenha sido pouco mais do que o dobro do quinquênio anterior, em Caruaru essa medida mais que triplicou, com o correspondente crescimento, proporcionalmente superior, de sua TLM. Este resultado pode ser creditado em parte ao aumento da participação da atividade de comércio de vestuários e ao recente processo de interiorização das universidades (FUSCO; OJIMA, 2017FUSCO, W.; OJIMA, R. Educação e desenvolvimento regional: os efeitos indiretos da política de descentralização do ensino superior e a mobilidade pendular no estado de Pernambuco. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 13, n. 1, p. 247-263, 2017.), elementos que têm em Caruaru sua maior expressão. Ainda assim, é o grupo 1 que apresenta a maior TLM nesse ano. Pode-se dizer, então, que Caruaru e o agregado do grupo 1 são espaços ganhadores, segundo a denominação de Baeninger (2000)BAENINGER, R. Espaços ganhadores e espaços perdedores na dinâmica migratória paulista. In: HOGAN, D. J.; CUNHA, J. M. P. da; BAENINGER, R.; CARMO, R. L. do (org.). Migração e ambiente em São Paulo. Aspectos relevantes da dinâmica recente. Campinas-SP: Nepo-Unicamp, 2000. v. 1, p. 173-232.. O grupo 2 registrou, novamente, muito mais circulação do que retenção de migrantes, caracterizando esse território como espaço de rotatividade migratória, conforme conceituado por Baeninger (2008)BAENINGER, R. Rotatividade migratória: um novo olhar para as migrações no século XVI. In: XVI ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS. Anais [...]. Caxambu-MG: Abep, 2008..

No total, considerando o conjunto de municípios do aglomerado ampliado, observam-se os SM de 11.487 e 30.436 e as TLM de 1,7% e 3,7%, em 2000 e 2010, respectivamente. Evidencia-se, com isso, a significativa capacidade do aglomerado e sua dinâmica econômica, especialmente do centro estendido, Caruaru e grupo 1, de gerar saldo migratório positivo e, com isso, produzir crescimento populacional diferenciado em relação ao estado, à região e ao país.

Entre os fluxos migratórios que se destinaram ao território do aglomerado, segundo registros dos Censos de 2000 e 2010, pode-se constatar, por meio dos dados do Gráfico 1, que, dependendo do local de origem, as escolhas preferenciais recaíram de modo diferenciado sobre Caruaru, o grupo 1 e o grupo 2. Foram estabelecidos cinco recortes territoriais de origem a partir da importância quantitativa do conjunto de suas populações, a saber: o próprio aglomerado; os demais municípios de Pernambuco e da Paraíba; os demais estados do Nordeste; o estado de São Paulo; e os demais estados do Brasil.

Um primeiro movimento pode ser observado entre os municípios dos grupos do próprio território do aglomerado, ao que podemos denominar de fluxo intra-aglomerado, sem contar nesses resultados os fluxos intragrupos. Nota-se, sobretudo, o importante efeito de atração populacional exercido pelos municípios do grupo 1 sobre aqueles do grupo 2. Em 2000, mais da metade (55%) dos imigrantes que saíram de municípios do aglomerado escolheu como lugar de residência os municípios do grupo 1, enquanto quase um quarto (cerca de 25%) optou pelos municípios do grupo 2, vindo por último Caruaru (com pouco mais de 20%). Em 2010, o quadro se repete, embora com algumas variações: os imigrantes com origem nos municípios do aglomerado novamente se dirigiram prioritariamente para o grupo 1 (51%), mas com um aumento de importância para Caruaru como destino (26%), que superou a posição do grupo 2 registrada no

censo anterior.

O Gráfico 1 mostra, ainda, os registros do fluxo migratório com origem em outros municípios de Pernambuco e da Paraíba com destino ao território do aglomerado. Neste caso, em 2000, a principal conexão dessas origens foi com Caruaru (41%), seguido pelo grupo 2 (35%), com o grupo 1 chegando a 24%. Em 2010, Caruaru manteve a posição (com pouco menos de 41%), mas as posições dos grupos 1 e 2 se inverteram, tendo o primeiro assumido a dianteira (quase 36% contra menos de 24% do segundo). A principal mudança verificada em 2010, neste caso, foi a ampliação da participação do grupo 1 como lugar de residência para os imigrantes originados de outros municípios de Pernambuco e da Paraíba.

Ao observar o fluxo migratório com origem em outros estados do Nordeste com destino ao território do aglomerado, nota-se a seguinte distribuição: 40,7%, 35% e 24,3%, respectivamente, para Caruaru, grupo 1 e grupo 2, em 2000; e 45,7%, 33,5% e 20,8%, na mesma ordem, para 2010, ou seja, houve uma pequena transferência na participação dos destinos em favor da maior cidade do território em análise. Se considerados os casos dos que, com residência anterior no estado de São Paulo, o centro mais dinâmico da economia nacional, migraram em direção aos municípios do aglomerado, em 2000 e 2010, novamente o grupo 2 assume a dianteira (com 51,8% e 43,8%, respectivamente), vindo em seguida Caruaru (com 30,4% e 32,4%) e só depois o grupo 1 (com 17,7% e 23,8%). Nesse caso, são os municípios mais periféricos que registraram aumento mais relevante na participação da emigração que parte de São Paulo, referente, na maioria dos casos, a fluxos de retorno. A partir dos demais estados, subtraindo São Paulo e os estados do Nordeste, Caruaru ganha novamente maior relevo (38,3% e 41,3%, para 2000 e 2010), enquanto as posições dos grupos 1 e 2 se invertem entre 2000 e 2010: passaram de 33,7% para 24,7% os imigrantes que se destinaram ao grupo 2 e de 28% para 34% os que priorizaram o grupo 1. Como se constata no Gráfico 1, em seu conjunto, o grupo 2, de forma geral, perdeu importância relativa como destino para todos os lugares de origem analisados no período recente.

Assim, além do fluxo migratório caracterizado como intra-aglomerado, é possível se falar em fluxos de natureza intraestadual e inter-regional destinados aos municípios do aglomerado. Apesar da intensa dinâmica migratória envolvendo todo o seu território, internamente e a partir de fora, sobressai o papel de Caruaru e do grupo 1 como principais destinos, produzindo-se com isso um efeito de concentração populacional nas áreas centrais e com maior tradição na trajetória do aglomerado. Provavelmente em razão da intensa ampliação de vagas de nível superior em Caruaru e entorno na década de 2000, tanto em instituições públicas como privadas, associada ao incremento das atividades industriais, comerciais e de serviços relacionadas ao setor de confecções, essas áreas ampliaram seu peso como destino para quase todos os lugares de origem selecionados.

O Gráfico 2, que retrata outra forma de observar as informações usadas para construir o Gráfico 1, registra o peso para os locais de destino (Caruaru, grupo 1 e grupo 2) dos fluxos de imigração. Nesse caso, é a soma dos valores respectivos aos espaços de origem que resulta em 100% para cada grupo do aglomerado. Quando observado o agregado do aglomerado ampliado como destino, a informação mais importante a se destacar é que os fluxos com origem nos demais municípios de Pernambuco (principalmente) e da Paraíba (em menor escala) são os mais importantes quantitativamente dentre todos, com participação em torno ou superior a 50%. Se a análise recai sobre os recortes internos ao aglomerado ampliado, o que sobressai é que, no caso das migrações destinadas ao grupo 1, em 2000, os principais lugares de origem se distribuem em proporções mais ou menos próximas entre municípios do aglomerado e outros de Pernambuco e da Paraíba (40,4% e 37,4%, respectivamente). Essa dinâmica se modifica completamente em 2010, quando apenas 27,1% dos que se destinaram ao grupo 1 eram oriundos de municípios do aglomerado, sendo 50,9% os migrantes que se originavam de outros municípios de Pernambuco e da Paraíba. No que se refere aos imigrantes que passaram a residir em Caruaru, as maiores proporções correspondem aos originários de outros municípios de Pernambuco e da Paraíba, seja em 2000 (58,4%), seja em 2010 (59,8%). Essa distribuição assemelha-se ao caso das migrações com destino ao grupo 2, pois nesse grupo de origem se encontravam 50,4% e 50,9%, entre 2000 e 2010, respectivamente. Embora registrando uma queda entre esses dois anos, o grupo 2 apresenta a maior proporção dos imigrantes provenientes do estado de São Paulo (passando de 22,2% para 16,1%).

A principal conclusão que se pode derivar do Gráfico 2 é a de que os fluxos de migração para o aglomerado (que, conforme vimos a partir do Gráfico 1, se concentram prioritariamente em Caruaru e no grupo 1) indicam a ampliação da atratividade para municípios de Pernambuco e da Paraíba, ou seja, fora do próprio aglomerado, mas próximos a ele, evidenciando a continuidade de expansão da atratividade para seu entorno por meio dessas conexões. Como era de se esperar, os municípios de Pernambuco (exceto do aglomerado) são os que mais contribuem para alimentar o contingente de imigrantes (resultado não apresentado), principalmente pela maior presença (espacial e populacional) do recorte territorial do aglomerado em Pernambuco.

A Tabela 6 registra os movimentos migratórios de data fixa com origem e destino no próprio aglomerado e, diferentemente da Tabela 5 e dos Gráficos 1 e 2, considera os fluxos intragrupos. Os imigrantes com origem em Caruaru decidiram residir em proporção ligeiramente maior no grupo 2, tanto em 2000 como em 2010 (56% e 53%, respectivamente), mas, se for considerado que a população do grupo 1 era menor do que a do grupo 2, foi o primeiro que apresentou maior atratividade relativa. Os emigrantes do grupo 1, o maior quantitativo em todas as situações, distribuíram-se principalmente no próprio grupo nos dois períodos, mas com dispersão levemente maior para os demais grupos em 2010. Os emigrantes do grupo 2 dirigiram-se majoritariamente para o grupo 1 nos dois períodos (56% e 50%, respectivamente). Quando considerados os fluxos totais nos dois períodos, Caruaru ampliou sua atratividade em detrimento dos dois outros grupos, passando de 20% para 26% como destino. De forma geral, o grupo 1 foi o maior tributário dos fluxos intra-aglomerado, seguido de Caruaru e do grupo 2, nesta ordem.

TABELA 6
Migração intra-aglomerado de data fixa, por lugar de origem e destino Aglomerado ampliado − 1995/2000-2005/2010

Observando mais detalhadamente as migrações intra-aglomerado em direção aos municípios do grupo 1, destaca-se o desempenho de Santa Cruz do Capibaribe, que captava 48% dos imigrantes em 2000. No entanto, a participação deste município como destino registra queda relativa, para 38%, em 2010, devido principalmente à maior atratividade verificada por Toritama e Brejo da Madre de Deus, que ampliaram sua participação no contingente desses imigrantes de 14% para 20%, aproximadamente. Essas mudanças não retratam diminuição em volume de imigração em Santa Cruz do Capibaribe, mas sim a redistribuição relativa desse fluxo para os outros dois municípios, em processo de maior integração entre eles. Estes dados desagregados por município foram explorados para análises específicas, mas não estão apresentados em tabelas, devido ao número (22 municípios para cada ano do censo) e pelo cuidado necessário ao lidar com amostras em municípios pequenos.

A Tabela 7 mostra a proporção de pessoas ocupadas em atividades de produção e comercialização de artigos de vestuário e acessórios em relação ao total de ocupados, para imigrantes de data fixa e demais residentes ocupados, segundo o grupo do município de residência e o ano. Para a Tabela 7, classificou-se como “demais residentes ocupados” o indivíduo com mais de cinco anos de residência no município atual. O objetivo foi contrastar o desempenho desse indicador entre o imigrante recente, com cinco anos ou menos de residência, e o conjunto dos demais moradores, incluindo neste conjunto os não migrantes e os imigrantes com maior tempo de residência. Observa-se crescimento desse índice em todos os grupos, tanto para os imigrantes recentes como para os demais residentes ao longo do tempo, mas com maior destaque para a ampliação da proporção de imigrantes do grupo 2 nessas atividades, em 178%, e entre os demais residentes ocupados, em 140%. Em seguida, destacam-se os demais residentes em Caruaru e ocupados nas atividades em foco, que aumentaram em 57% entre os imigrantes e 44% entre os demais. Cabe considerar que a possibilidade de variação na participação nessas ocupações é tanto maior quanto menor for a medida inicial, dada a margem existente para avançar. Assim, verificam-se os menores ritmos de aumentos para os imigrantes e demais residentes do grupo 1 (11% e 14%, respectivamente), muito em função da mais alta proporção de pessoas ocupadas nessas atividades no aglomerado no início do período (37% dos imigrantes e 39% dos demais residentes em 2000). Esses indicadores têm como expoentes Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, que registravam nessas atividades, respectivamente, 67% e 53% do total de demais residentes ocupados em 2010. Ainda que o mesmo índice para os imigrantes com até cinco anos de residência seja bastante elevado (52% e 39%), a diferença segundo a condição migratória indica o transbordamento dessa atratividade específica para os demais municípios do grupo 1, nos quais verificou-se maior participação nas atividades em referência entre os imigrantes recentes, nos dois censos. O grau de especialização dessas duas cidades é impressionante, sendo que a contínua ampliação de vagas nesse mercado de trabalho vem provocando efeitos de expansão nos municípios do entorno próximo há tempos, e na periferia distante mais recentemente.

TABELA 7
Participação de pessoas ocupadas em produção e comercialização de vestuário e acessórios no total de pessoas ocupadas e variação, segundo condição migratória e grupos de municípios Aglomerado ampliado – 2000-2010

Em porcentagem


A Figura 3 detalha esses resultados por município em cada grupo, segundo faixas do índice de ocupação nesses setores de atividade, mas sem considerar a condição migratória do ocupado. No grupo 1 (municípios numerados de 2 a 7), a cidade com menor índice de ocupação nesses setores, Riacho das Almas-PE, contabiliza 25% das pessoas ocupadas. No grupo 2 (municípios numerados de 8 a 22), a cidade que apresenta o menor índice nesse quesito é Cabaceiras, com 5,4%, em contraste com São Domingos do Cariri, com 24%. Apesar de Caruaru registrar pouco mais de 20% da população ocupada nas atividades em referência, esse município concentra 33% dessas ocupações no aglomerado, evidenciando sua indiscutível centralidade. Ao observar esse índice para os imigrantes, constata-se que houve importante aumento entre 2000 e 2010, sendo que que neste último ano a maior parte dos municípios registrou imigrantes de data fixa com maior participação nessas atividades do que os demais residentes, o que aponta para a continuidade do processo de especialização econômica do aglomerado.

Outra dimensão importante da dinâmica demográfica, especialmente quando a atenção recai sobre sua associação com a dinâmica econômica de uma dada região, diz respeito ao tema da mobilidade pendular, constituída por deslocamentos diários de pessoas entre municípios, por razões de trabalho ou de estudo. Na presente análise, é o deslocamento por motivo de trabalho que interessa.

A Tabela 8 mostra a população com idade entre 15 e 64 anos que realizava deslocamento pendular para trabalhar no aglomerado, segundo origem e destino, por ano do Censo. No Censo Demográfico de 2000, diferentemente do levantamento de 2010, não era possível saber se o deslocamento para outro município era feito por motivo de trabalho ou estudo para indivíduos ocupados e que frequentavam escola. Para possibilitar a utilização dos resultados dos dois censos visando a comparação direta, optou-se por considerar na análise de pendularidade somente os indivíduos ocupados que não frequentavam escola no momento do censo. Em 2000, a população com residência em Caruaru que realizava movimento pendular deslocava-se principalmente para trabalhar no grupo 1 (88,3%), fato que continuou em 2010, com importante ampliação no número absoluto de deslocamentos (aumento de 76%), mas com redução relativa como destino (passou para 76,3%), em favor do grupo 2. Os trabalhadores pendulares com residência no grupo 1, ainda que se deslocassem prioritariamente para municípios do próprio grupo, apresentaram maior diversificação nos destinos, aumentando a proporção dos que se dirigiam a Caruaru (de 14,0% para 21,6%) e ao grupo 2 (de 2,5% para 4,6%), entre 2000 e 2010. Aqueles pendulares residentes no grupo 2, cujo contingente mais que triplicou, deslocavam-se em maior proporção para trabalhar em Caruaru nos dois períodos, mas observa-se aumento da participação do grupo 1 como destino em 2010. Os trabalhadores pendulares com origem fora do aglomerado ampliaram sua participação relativa em 188% entre 2000 e 2010. A maior parte desse grupo trabalhava em Caruaru, seguido pelos grupos 2 e 1, nesta ordem, nos dois períodos. O crescimento mais expressivo do número de pessoas que se deslocavam para trabalhar com origem no grupo 2 e em municípios fora do aglomerado reflete o transbordamento da atratividade para trabalhadores desses espaços.

TABELA 8
Distribuição da população ocupada com idade entre 15 e 64 anos que realizava deslocamento pendular para trabalho, segundo origem e destino Aglomerado ampliado – 2000-2010

Em porcentagem


A Tabela 9 mostra a distribuição dos ocupados exclusivamente em atividades de produção e comercialização de vestuário e acessórios que se deslocavam para trabalhar em outro município, em 2000 e 2010. Aqui fica muito mais evidente a concentração no grupo 1 dos que realizavam deslocamento pendular no início do período. Dos que residiam em Caruaru, 100% viajavam para o grupo 1 em 2000 e em 2010. Os residentes no grupo 1, maior grupo nessa classe de trabalhadores em 2000, deslocavam-se predominantemente para outro município do próprio grupo, tanto em 2000 como em 2010, mas com aumento de pessoas que trabalhavam em Caruaru em 2010. Além disso, fica evidente o transbordamento da atratividade pelas atividades associadas às confecções, pois os deslocamentos pendulares com origem no grupo 2 e nos espaços exteriores ao aglomerado aumentaram de forma considerável. As pessoas que residiam no grupo 2 e realizavam deslocamento pendular para trabalhar nas atividades referidas, número que cresceu 834% no período, dividiam-se exclusivamente entre as que se dirigiam a Caruaru e ao grupo 1, nos dois períodos analisados. Aqueles que residiam fora do aglomerado trabalhavam principalmente em Caruaru (47,1%) e no grupo 1 (48,1%) em 2000, diminuindo a participação relativa (pois aumentou em volume) de Caruaru como destino (30,0%) e ampliando as do grupo 1 (53,8%) e do grupo 2 (16,3%) em 2010. Além disso, o número de trabalhadores que realizavam deslocamento pendular para trabalhar nas atividades de produção e comercialização de vestuários e acessórios com origem fora do aglomerado cresceu 435% no período.

TABELA 9
Distribuição da população ocupada em atividades de produção e comercialização de vestuário e acessórios com idade entre 15 e 64 anos que realizava deslocamento pendular para trabalho, segundo origem e destino Aglomerado ampliado – 2000-2010

Em porcentagem


De modo geral, a ampliação do volume de ocupados exclusivamente nas atividades associadas às confecções e que realizavam deslocamento pendular para trabalho, entre 2000 e 2010, ficou um pouco abaixo da variação do total de pessoas ocupadas, no mesmo período, no aglomerado (aumento de 128% e 144%, respectivamente). Quanto a essa questão, cabe considerar como possível fator explicativo que o trabalho de confecção de vestuário e acessórios tem a particularidade de ser realizado de forma proeminente no próprio domicílio do trabalhador. Como exemplo, 47% dos ocupados nessa atividade e residentes no aglomerado realizavam seu trabalho no próprio domicílio, em 2010, enquanto 23% da população ocupada no conjunto de municípios de Pernambuco e Paraíba fazia o mesmo.

Dessa forma, constata-se que foi principalmente pela ampliação da participação dos ocupados no comércio de artigos de vestuários e acessórios (aumento de 675% desses trabalhadores que realizavam movimento pendular para trabalho) que o número de deslocamentos pendulares aumentou entre os trabalhadores em atividades da confecção (comércio e produção) no período, e menos devido à inclusão dos costureiros nesse tipo de deslocamento (crescimento de 99% na pendularidade dos que trabalhavam na confecção). Ou seja, a mobilidade cotidiana entre residência e trabalho em municípios distintos, que apresentou enorme aumento no país entre 2000 e 2010, incorporou os ocupados em atividades de comércio de vestuário e acessórios em proporção consideravelmente maior que os trabalhadores da confecção.

Considerações finais

A partir dos resultados combinados da população ocupada em atividades de confecção, da imigração e da mobilidade pendular ao longo do tempo no território do aglomerado, para os grupos de municípios, algumas constatações podem ser feitas.

Em 2000 e 2010, com exceção de Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, os imigrantes recentes (data fixa) do grupo 1 registravam taxa de ocupação em confecções acima dos demais residentes. Pelo fato de esses dois municípios deterem proporção de ocupados nas atividades em referência na casa dos 50% e mais (com 67% em Toritama em 2010) e de os imigrantes recentes nos demais municípios do grupo 1 apresentarem esses índices acima dos demais residentes, considera-se que o transbordamento dessas atividades (e da atratividade migratória específica e correspondente a elas) a partir dos primeiros para os demais municípios do grupo está em ritmo acelerado. Em relação ao grupo 2 em 2000, quase metade de seus municípios registrou imigrantes de data fixa com taxa de ocupação nas atividades em tela maior do que os demais residentes. Em 2010, observou-se que a proporção de municípios com o mesmo desempenho subiu para 80%. Essa evolução entre os dois censos indica que a propagação dessa especialização econômica para o grupo 2 estava em estágio intermediário para avançado.

No que toca à dinâmica migratória de forma mais geral, o aglomerado de municípios teve saldo migratório positivo e taxa líquida de migração importantes, com maiores níveis no período mais recente. Em consideração aos efeitos que a dinâmica regional imprimiu no território abarcado pelo aglomerado como espaço marcado por diferentes condições migratórias (BAENINGER, 2019), podemos afirmar que Caruaru e o grupo 1 constituem áreas de retenção de população, enquanto o grupo 2 caracteriza-se como área de rotatividade migratória. A intensidade e ampliação dos fluxos intragrupos e no interior dos grupos indicam progressiva integração entre os municípios do aglomerado, sendo o grupo 1, em primeiro lugar, e Caruaru, em seguida, os espaços de maior centralidade nesse quesito. A grande e crescente participação dos demais municípios de Pernambuco e da Paraíba como origem de fluxos em direção ao aglomerado confirma o contínuo processo de ampliação do efeito de atratividade exercido por ele.

A mobilidade pendular para trabalho, por sua vez, apresentou grande impulso no aglomerado na década de 2000, como resultado da dinâmica econômica na região, ainda que o crescimento dos pendulares na categoria dos ocupados em confecção tenha sido ligeiramente menor do que o total de trabalhadores. Como já foi visto em outros estudos, os deslocamentos pendulares nos principais municípios do aglomerado eram realizados por trabalhadores mais qualificados, com maior renda e escolaridade (FUSCO; VASCONCELOS, 2010FUSCO, W.; VASCONCELOS, V. M. Migrantes costureiros: trabalhadores do setor de confecções em Toritama-PE. Cadernos de Estudos Sociais, Recife, v. 25, n. 1, p. 43-60, 2010.). Esse resultado soma-se ao que foi encontrado a respeito das migrações e ajuda a caracterizar a ampliação do mercado de trabalho na confecção como indutor do efeito de complementaridade entre migração e movimento pendular (ainda que o comércio de vestuários tenha também sido responsável pelo maior número de imigrantes e de pendulares). Ao mesmo tempo, outros segmentos do mercado de trabalho foram tributários do crescimento da economia e impactados na intensificação da pendularidade para trabalho nos municípios do aglomerado. Ademais, a ampliação e redistribuição dos movimentos pendulares intra-aglomerado e intragrupos ratifica a integração e complementaridade entre os respectivos municípios.

Finalmente, em termos de agenda futura, desejamos verificar o mais recente grau de consolidação das atividades de confecção e comércio de vestuário e acessórios no espaço compreendido pelos municípios do grupo 2 e a configuração de mobilidade espacial mais atual de todo o aglomerado. É possível que as modalidades de televendas e vendas por internet, já presentes nesse espaço, se ampliem e se consolidem, também como resultado da atual crise sanitária. Caso esse cenário se confirme, haverá diminuição da demanda por trabalhadores no setor de comércio presencial e implicações na capacidade do aglomerado em continuar a absorver novos trabalhadores nesse segmento. Esperamos poder contar com o próximo Censo Demográfico para aprofundar esse estudo.

Notas

  • 1
    Conforme indicam relatos de antigos moradores da região, a expressão “sulanca” é uma corruptela das palavras “sul” e “helanca”. As “feiras da sulanca” utilizavam predominantemente confecções produzidas com malhas vindas de São Paulo – do “Sul”. Tal expressão passou a designar os produtos baratos e de baixa qualidade, destinados a populações de baixa renda da região e entorno.
  • 2
    Para algumas caracterizações gerais, ver, por exemplo: Raposo e Gomes (2003), Lyra (2005), Cabral (2007), Lira (2011), Véras de Oliveira (2011 e 2013) e Sebrae (2013).
  • 3
    A soma ultrapassa 100% pela existência de múltiplas produções.
  • 4
    A Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) consiste em uma articulação de pesquisadores sediada na UFRJ e que tem se dedicado ao estudo de arranjos produtivos locais e sistemas produtivos e inovativos locais. Na definição da RedeSist, segundo Lastres e Cassiolato (2003), “arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e treinamento. Sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local”. Um quadro amplo de estudos sobre APL no Brasil pode ser encontrado, ainda, em Oliveira et al. (2017).
  • 5
    Ver, a respeito, Piore e Sabel (1984).
  • 6
    O encontro e a cooperação estabelecida entre o Sebrae e a RedeSist foram um dos principais resultados práticos desse processo. Em uma das primeiras publicações conjuntas produzidas sobre o assunto, o então presidente do Sebrae assim se colocou, na Apresentação: “Instituição envolvida diretamente com a temática do desenvolvimento dos pequenos negócios, o SEBRAE participa ativamente desse novo pensar. Na busca desses conhecimentos fomos à Itália, à região conhecida como Terceira Itália, estudar detalhadamente os chamados distritos industriais, territórios embasados nas tradições, na história e nos pequenos negócios, hoje responsáveis por metade das exportações italianas. No Brasil, em parceria com o CNPq e a FINEP, a Financiadora de Estudos e Projetos, o SEBRAE promoveu um amplo estudo, realizado pela RedeSist, sobre os chamados arranjos produtivos locais, que inspirou esta publicação” (LASTRES et al., 2002, p. 7).
  • 7
    Conforme entrevista dada pelo presidente da ALPF a Eliana Moreira, Bruno Mota, Jéssica Sobreira, Renata Milanês, em outubro de 2009.
  • 8
    Tal classificação se justifica especificamente para os fins analíticos a que se propõe este artigo.
  • 9
    Referidos nas Tabelas 1 e 2 como “Aglomerado PE” e “Aglomerado PB”, reunindo respectivamente os municípios de Pernambuco e da Paraíba, esses recortes foram utilizados somente para que o conjunto de municípios do aglomerado pudesse ser analisado em relação ao desempenho das mesorregiões e estados respectivos.
  • 10
    Classificadas de forma independente na coleta de informações para os Censos Demográficos, as categorias de produção de artigos do vestuário e acessórios e de comercialização de têxteis e de artigos do vestuário e acessórios foram agrupadas neste estudo para compor o conjunto de pessoas ocupadas em atividades relacionadas às confecções. Fizemos essa opção por considerarmos, conforme mostram os estudos sobre o aglomerado de confecções do Agreste (a exemplo de VÉRAS DE OLIVEIRA, 2011VÉRAS DE OLIVEIRA, R. O Polo de Confecções do Agreste de Pernambuco: ensaiando uma perspectiva de abordagem. In: ARAÚJO, A.; VÉRAS DE OLIVEIRA, R. (org.). Formas de trabalho no capitalismo atual. São Paulo: Annablume, 2011.), que nele as atividades produtivas e comerciais são realizadas sob fortes interações, muitas vezes pelos mesmos grupos familiares, que dividem a semana entre a produção das peças e sua venda nas feiras e centros comerciais. Foram feitas as devidas compatibilizações entre as categorias usadas nos Censos de 2000 e 2010. Para saber mais sobre a utilização e adaptação da CNAE-Domiciliar pelo IBGE, ver https://concla.ibge.gov.br/classificacoes/por-tema/atividades-economicas/cnae-domiciliar-2-0.html.
  • 11
    O SM é calculado a partir de dados de migração de data fixa. No caso dos Censos Demográficos do IBGE, a data fixa refere-se à informação de residência do imigrante há exatos cinco anos da data de referência do respectivo censo.
  • 12
    Nesse texto, acompanhando sugestão de Carvalho e Rigotti (1998), a TLM é calculada como o quociente entre o saldo migratório e a população no fim do período e expressa em porcentagem.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    22 Fev 2021
  • Aceito
    10 Maio 2021
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