Acessibilidade / Reportar erro

Fisionomia e organização da vegetação do carrasco no planalto da Ibiapaba, estado do Ceará

Physiognomy and organization of the "carrasco" vegetation on the Ibiapaba plateau, Northeastern Brazil

Resumos

O carrasco no planalto da Ibiapaba constitui formação vegetal própria? Para responder a essa questão, mediram-se a altura vertical (menos das trepadeiras) e o diâmetro basal (a partir de 3cm) do caule de plantas lenhosas e extraíram-se alíquotas de solo (0-50cm, 50-100cm de de profundidade) de 100 parcelas (10x10m) aleatórias em Jaburuna (3º54'34"S e 40º59'24"W, altitudes em torno de 830m), município de Ubajara, Estado do Ceará. Dados de clima, solo, diâmetro, altura, densidade, área basal e fisionomia foram comparados com os levantados por outros autores em carrasco, caatinga é cerrado no nordeste. O carrasco ocorre sob precipitação anual média entre 668 e 1.289mm e temperaturas entre 22 e 24ºC, sobre solo de Areias Quartzosas álicas, em altitudes entre 700e 900m: tem densidade maior e área basal menor que a catinga e o cerrado, diâmetros pequenos e similares, altura vertical média entre 3,7 e 5,4m. Difere da caatinga, do cerrado (e do cerradão) e da capoeira em vários aspectos do ecótopo, da organização e da fisionomia, sendo formação vegetal própria, que pode ser caracterizada como fruticeto caducifólio alto, fechado, uniestratificado, com trepadeiras, dossel irregular e árvores emergentes esparsas.

carrasco; fruticeto; organização; fisionomia; planalto da Ibiapaba


Is the "carrasco" on the Ibiapaba plateau a unique plant formation? To answer this question the vertical height (except of climbers) and the stem basal diameter (from 3cm on) of woody plants were measured, and soil extracts (0-50 and 50-100cm depth) were taken from 100 random plots (10x10m) at Jaburuna (3º54'34"S and 40º59'24"W, altitudes near 830m), municipality of Ubajara, Ceará State. Data on climate, soil, diameter height, density, basal area, and physiognomy were compared with those surveyed by other researchers from the carrasco, caatinga, and cerrado in Northeastern Brazil. The carrasco occurs under an annual rainfall of between 668 and 1,289mm and temperatures from 22 to 24ºC, on alic Quartz Sand soils, at altitudes between 700 and 900m: it has a larger density and a smaller basal area than the caatinga and the cerrado, small and similar diameters, and an average vertical height between 3,7 and 5,4m. It differs from the caatinga, cerrado (and cerradão) and secondary forest in many items of lhe ecotope, organization and physiognomy, thus being a unique plain formation, which can be characterized as a deciduous, high, closed, and unistratified shrubland intermingled by lianas, with an irregular canopy and sparse, emergent trees.

carrasco; shrubland; organization; physiognomy; Ibiapaba plateau


Fisionomia e organização da vegetação do carrasco no planalto da Ibiapaba, Estado do Ceará* * Parte da Tese de Doutorado do primeiro Autor; auxílios parciais à pesquisa da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa

Physiognomy and organization of the "carrasco" vegetation on the Ibiapaba plateau, Northeastern Brazil

Francisca Soares de AraújoI; Fernando Roberto MartinsII

IDepartamento de Biologia, Centro de Ciências, UFC, Campus do Pici, Bloco 906, C. Postal 12191, CEP 60455-760 Fortaleza, CE, Brasil. Bolsa CAPES/PICD

IIDepartamento de Botânica, Instituto de Biologia, UNICAMP, C. Postal 6109, CEP 13083-970, Campinas, SP, Brasil

RESUMO

O carrasco no planalto da Ibiapaba constitui formação vegetal própria? Para responder a essa questão, mediram-se a altura vertical (menos das trepadeiras) e o diâmetro basal (a partir de 3cm) do caule de plantas lenhosas e extraíram-se alíquotas de solo (0-50cm, 50-100cm de de profundidade) de 100 parcelas (10x10m) aleatórias em Jaburuna (3º54'34"S e 40º59'24"W, altitudes em torno de 830m), município de Ubajara, Estado do Ceará. Dados de clima, solo, diâmetro, altura, densidade, área basal e fisionomia foram comparados com os levantados por outros autores em carrasco, caatinga é cerrado no nordeste. O carrasco ocorre sob precipitação anual média entre 668 e 1.289mm e temperaturas entre 22 e 24ºC, sobre solo de Areias Quartzosas álicas, em altitudes entre 700e 900m: tem densidade maior e área basal menor que a catinga e o cerrado, diâmetros pequenos e similares, altura vertical média entre 3,7 e 5,4m. Difere da caatinga, do cerrado (e do cerradão) e da capoeira em vários aspectos do ecótopo, da organização e da fisionomia, sendo formação vegetal própria, que pode ser caracterizada como fruticeto caducifólio alto, fechado, uniestratificado, com trepadeiras, dossel irregular e árvores emergentes esparsas.

Palavras-chaves: carrasco, fruticeto, organização, fisionomia, planalto da Ibiapaba

ABSTRACT

Is the "carrasco" on the Ibiapaba plateau a unique plant formation? To answer this question the vertical height (except of climbers) and the stem basal diameter (from 3cm on) of woody plants were measured, and soil extracts (0-50 and 50-100cm depth) were taken from 100 random plots (10x10m) at Jaburuna (3º54'34"S and 40º59'24"W, altitudes near 830m), municipality of Ubajara, Ceará State. Data on climate, soil, diameter height, density, basal area, and physiognomy were compared with those surveyed by other researchers from the carrasco, caatinga, and cerrado in Northeastern Brazil. The carrasco occurs under an annual rainfall of between 668 and 1,289mm and temperatures from 22 to 24ºC, on alic Quartz Sand soils, at altitudes between 700 and 900m: it has a larger density and a smaller basal area than the caatinga and the cerrado, small and similar diameters, and an average vertical height between 3,7 and 5,4m. It differs from the caatinga, cerrado (and cerradão) and secondary forest in many items of lhe ecotope, organization and physiognomy, thus being a unique plain formation, which can be characterized as a deciduous, high, closed, and unistratified shrubland intermingled by lianas, with an irregular canopy and sparse, emergent trees.

Key words: carrasco, shrubland, organization, physiognomy, Ibiapaba plateau

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido em 18/02/1998.

Aceito em 17/12/1998

  • Andrade-Lima, D. de. 1978. Vegetação. Pp. 131-135. In R. C. Lins (ed.), Bacia do Parnaíba: aspectos fisiográficos. Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (Série Estudos e Pesquisas, 9), Recife.
  • Andrade-Lima, D. de. 1981. The caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica 4(2): 149-153.
  • Araújo, F. S. 1992. Composição florística e fitossociologia da vegetação de carrasco, Novo Oriente-CE. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
  • Araújo, F.S.: Sampaio. E. V. S. B.; Figueiredo, M. A.; Rodal, M. J. N. & Fernandes, A. G. 1998a. Composição florística da vegetação de carrasco, Novo Oriente, CE. Revista Brasileira de Botânica 21(2): 105-116.
  • Araújo, F. S.; Sampaio, E. V. S. B.; Rodal, M. J. N & Figueiredo, M. A. 1998b. Organização comunitária do componente lenhoso de três áreas de carrasco em Novo Oriente - CE. Revista Brasileira de Biologia 58(1): 85-95.
  • Bell, A. D 1991. Plant form. An illustrated guide to flowering plant morphology. Oxford University Press, Oxford.
  • Budowski, G. 1963. Forest succession in tropical lowlands. Turrialba 13(1): 42-44.
  • Bullock, S. H. 1990. Abundance and allometry of vines and self-supporting plants in a tropical deciduous forest. Biotropica 22(1): 106-109.
  • Crawley, M. J. (ed.) 1997. Plant ecology. 2nd ed. Blackwell, Oxford.
  • Drake, J. A. 1990. Communities as assembled structures: do rules govern pattern? Trends in Ecology and Evolution 5(5): 159-164.
  • Eiten, G. 1970. A vegetação do Estado de São Paulo. Boletim do Instituto de Botânica 7: 1-147.
  • EMBRAPA. 1979. Manual de métodos de análises de solo. SNLCS. Rio de Janeiro.
  • Fernandes, A. & Bezerra, P. 1990. Estudo fitogeográfico do Brasil. Stylus Comunicações, Fortaleza.
  • Fernandes, A. G. 1982. Vegetação do Piauí. Pp. 313-318. In Anais do XXXII Congresso Nacional de Botânica, Teresina 1981. Sociedade Botânica do Brasil, Teresina.
  • Fernandes, A. 1990. Temas fitogeográficos. Stylus Comunicações. Fortaleza.
  • Ferreira, A. B. H. (s.d.) Novo dicionário da língua portuguesa. Nova Fronteira. Rio de Janeiro.
  • Ferri, M. G. 1980. Vegetação brasileira. Editora Itatiaia/EDUSP (Coleção Reconquista do Brasil), São Paulo.
  • Figueiredo, M. A. 1986. Vegetação. Pp. 24-25 In SUDEC (eds.). Atlas do Ceará, Fortaleza.
  • Fonseca, M. R. 1991. Análise da vegetação arbusto-arbórea da caatinga hiperxerófila do noroeste do Estado de Sergipe. Tese de Doutorado. UNICAMP, Campinas.
  • FUNCEME. 1995. Dados de pluviometria por faixa de anos - Estado do Ceará. Departamento de Apoio Tecnológico (DETEC), Fortaleza.
  • Furley, P .A. & Ratter J. A. 1988. Soil resources and plant communities of central Brazilian cerrado and their development. Journal of Biogeography 15(1) 97-108
  • Goedert, W. J. 1986. Solos dos cerrados; tecnologias e estratégias de manejo. (eds.) EMBRAPA-CPAC, Nobel, Brasília.
  • Gomes, M A. F. 1979. Padrões de caatinga nos Cariris Velhos, Paraíba. Dissertação de Mestrado. UFPE, Recife.
  • Hallé, F.; Oldeman, R. A. A. & Tomlinson, P. B. 1978. Tropical trees and forests: an architectural analysis. Springer-Verlag, Berlin.
  • Jacomine, P. K. T.; Almeida, J. C. & Medeiros, L. A. R. 1973. Levantamento exploratório-reconhecimento de solos do Estado do Ceará, v. I. SUDENE (Boletim Técnico 28), Recife.
  • Jacomine, P. K. T.; Cavalcanti, A. C.; Silva, F. B. R.; Montenegro, J. O.; Formiga, R. A.; Burgos, N. & Melo-Filho, H. F. R. 1979. Levantamento exploratório-reconhecimento da margen direita do rio São Francisco, Estado da Bahia. v. II. SUDENE (Boletim Técnico 52), Recife.
  • Klein, R. M. 1980. Ecologia da flora e vegetação do vale do Iatajaí. Sellowia 32: 165-389.
  • Lins, R. C. 1978. Bacia do Parnaíba: aspectos fisiográficos. Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais (Série Estudos e Pesquisas 9), Recife.
  • Löfgren, A. 1898. Ensaio para a distribuição dos vegetaes nos diversos grupos floristicos no Estado de São Paulo. Boletim da Comissão Geographica e Geológica de São Paulo 11: 50p.
  • Martins, F. R. 1990. Atributos de comunidades vegetais. Quid 9(1/2): 12-17.
  • Martins, F.R. 1991. Estrutura de uma floresta mesófila. Editora da UNICAMP (Série Teses), Campinas.
  • Mueller-Dombois, D. & Ellenberg, H. 1974. Aims and methods of vegetation ecology. John Wiley & Sons, New York.
  • Oldeman, R. A. A. 1979. Quelques aspects quantifiables de l'arborigenèse et de la sylvigenese. Oecologia Plantarum 14(3): 289-312.
  • Oldeman, R. A. A. 1991. Forests. Elements of sylvology. Springer-Verlag, Berlin.
  • Raunkiaer, C. 1934. The life forms of plants and statistical plant geography. Being the collected papers of C. Raunkiaer. Clarendon Press, Oxford.
  • Reis, A.C. de S. 1976. Clima da caatinga. Anais da Academia Brasileira de Ciências 42: 325-335.
  • Rizzini, C. T. 1997. Tratado de fitogeografia do Brasil. 2Ş ed. Âmbito Cultural Edições Ltda., Rio de Janeiro.
  • Rodal, M. J. N. 1992. Fitossociologia da vegetação arbustivo-arbórea cm quatro áreas de caatinga em Pernambuco. Tese de Doutorado. UNICAMP, Campinas.
  • Romariz, D. A. 1974. Aspectos da vegetação do Brasil. IBGE, Rio de Janeiro.
  • Rougerie, G. 1988. Géographie de la biosphère. Armand Colin Editeur, Paris.
  • Sampaio, E. V. S. B. 1995. Overview of the Brazilian caatinga. Pp. 35-63. In S. H. Bullock ; H. A . Mooney & E. Medina (eds.), Seasonally dry tropical forests. University Press, Cambridge.
  • Sampaio, E. V. S. B. 1996. Fitossociologia. Pp. 203-230. In E. V. S. B. Sampaio; S. J. Mayo & M. R. V. Barbosa (eds.), Pesquisa botânica nordestina: progresso e perspectivas. Sociedade Botânica do Brasil / Seção Regional de Pernambuco, Recife.
  • Shepherd, G. J. 1995. FITOPAC 1. Manual do usuário. Departamento de Botânica, UNICAMP, Campinas.
  • Shimwell, D. W. 1971. Description and classification of vegetation. Sidgwick & Jackson, London.
  • Souza, M. J. N. 1988. Contribuição ao estudo das unidades morfo-estruturais do Estado do Ceará. Revista de Geologia 1(1): 73-91.
  • SUDEC. 1980. Levantamento de reconhecimento semidetalhado dos solos de região natural da Ibiapaba. SUDEC, Fortaleza.
  • SUDENE. 1990. Dados pluviométricos mensais do Nordeste: v.1 - Ceará. SUDENE (Série Pluviométrica 3), Fortaleza.
  • UNESCO. 1979. Écosystèmes florestiers tropicaux. UNESCO. Recherches sur les Resources Naturelles 14, Paris.
  • Vester, H. F. M. & Cleef, A. M. 1998. Tree architecture and secondary tropical rain forest development. A case study in Araracuara, Colombiam Amazonia. Flora 193(1): 75-97.
  • Weiher, E. & Keddy, P. A. 1995. Assembly rules, null models, and trait dispersion: new questions from old patterns. Oikos 74(1) 159-164.
  • Weiher, E.: Paul-Clarke, G. D. & Keddy, P. A. 1998. Community assembly rules, morphological dispersion, and the coexistence of plain species. Oikos 81(2) 309-322.
  • Wilkinson, L. 1992. SYSTAT: The system for statistics. SYSTAT Inc., Evanston.
  • Zar, J. H. 1984. Biostatistical analysis. 2Şed, Prentice-Hall, Inc., New Jersey.
  • *
    Parte da Tese de Doutorado do primeiro Autor; auxílios parciais à pesquisa da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Abr 1999

    Histórico

    • Aceito
      17 Dez 1998
    • Recebido
      18 Fev 1998
    Sociedade Botânica do Brasil SCLN 307 - Bloco B - Sala 218 - Ed. Constrol Center Asa Norte CEP: 70746-520 Brasília/DF. - Alta Floresta - MT - Brazil
    E-mail: acta@botanica.org.br