Acessibilidade / Reportar erro

Nova espécie de Galium L. (Rubiaceae) para o Estado de São Paulo, Brasil

A new species of Galium L. (Rubiaceae) from São Paulo State, Brazil

Resumos

Uma nova espécie de Rubiaceae, Galium shepherdii Jung-Mendaçolli, procedente da Serra da Mantiqueira, Estado de São Paulo, Brasil, é descrita e ilustrada.

Galium; Rubiaceae; espécie nova


A new species of Rubiaceae, Galium shepherdii Jung-Mendaçolli, from Serra da Mantiqueira, São Paulo State, Brazil, is described and illustrated.

Galium; Rubiaceae; new species


Nova espécie de Galium L. (Rubiaceae) para o Estado de São Paulo, Brasil

A new species of Galium L. (Rubiaceae) from São Paulo State, Brazil

Sigrid L. Jung-Mendaçolli

Instituto Agronômico, C. Postal 28, CEP 13001-970, Campinas, SP, Brasil (jung-mend@iac.sp.gov.br)

RESUMO

Uma nova espécie de Rubiaceae, Galium shepherdii Jung-Mendaçolli, procedente da Serra da Mantiqueira, Estado de São Paulo, Brasil, é descrita e ilustrada.

Palavras-chave: Galium, Rubiaceae, espécie nova

ABSTRACT

A new species of Rubiaceae, Galium shepherdii Jung-Mendaçolli, from Serra da Mantiqueira, São Paulo State, Brazil, is described and illustrated.

Key words: Galium, Rubiaceae, new species

Introdução

Como parte dos estudos sobre as Rubiaceae nativas do Estado de São Paulo, foi reconhecida uma nova espécie de Galium L., procedente da Serra da Mantiqueira, coletada em altitude que oscila entre 2.500-2.660m.s.m., onde a vegetação é predominantemente herbáceo-arbustiva e o substrato rochoso.

O gênero Galium compreende aproximadamente 400 espécies (Judd et al. 1999), sendo bem representado nas regiões temperadas do hemisfério norte e locais montanhosos dos trópicos (Burger & Taylor 1993). As plantas são bissexuadas, unissexuadas ou poligâmicas, apresentam hábito herbáceo, caule quadrangular e estípulas geralmente iguais às folhas em forma e tamanho, indistingüiveis das últimas, exceto por não apresentarem gemas axilares; o conjunto de folhas e estípulas, denominado pela maioria dos autores, simplesmente como folhas, apresenta-se como verticilos nos ramos. O protótipo da inflorescência de Galium é uma címula que consiste de uma flor terminal e dois râmulos laterais, os quais podem ou não ramificar-se (Dempster 1982), dando origem a inflorescências que podem ser paniculadas, com ramificações dicasiais ou tricotômicas, três flores a partir do nó distal ou flores solitárias. (Burger & Taylor 1993). A inflorescência padrão do grupo Relbunium - ao qual pertencem as espécies de Galium da América do Sul, América Central, Sudoeste dos Estados Unidos e ilhas do Caribe - consiste de pedúnculo originado de uma axila foliar, encimado por quatro brácteas involucrais foliáceas e uma única flor séssil (Dempster 1990). As flores podem ser bissexuais ou unissexuais, muito pequenas (1-4mm diâm.); cálice diminuto ou ausente; corola rotada a campanulada ou urceolada, amarela, verde, rosa ou vermelha; estames geralmente alternos às pétalas, anteras versáteis, exsertas; ovário 2-locular, 1 óvulo por lóculo, estiletes 2, às vezes ausentes nas flores funcionalmente estaminadas, estigmas capitados. Fruto bacáceo, variando de carnoso a relativamente seco, geralmente 2-lobado, separando-se em dois "mericarpos" 1seminados. Semente convexa dorsalmente (Dempster 1990; Burger & Taylor 1993). São conhecidas 23 espécies de Galium no Brasil (Dempster 1980; 1981; 1982; 1990). A descrição desta nova espécie elevará para nove o número de espécies ocorrentes no Estado de São Paulo e 24 para o Brasil.

Descrição e discussão

Galium shepherdii Jung-Mendaçolli, sp.nov.

Fig. 1, a-f


Galium shepherdii Jung-Mendaçolli proxime accedit ad G. hatschbachii Dempster corolla pro ratione magna (3,5-4,0mm et 4,0mm diam. secundum individua) tamen ab ea differt internodiis brevioribus, foliis minoribus, 1-2 pedunculis in unoquoque nodo, foliis inclusis, lamina ovali-lanceolata, raro elliptica nervisque secundariis non visibilibus.

Erva decumbente; ramos glabros, lenhosos na base, quadrangulares, sub-alados, internós curtos, 1,5-4mm compr.; folhas subsésseiss, 4verticiladas; lâmina 5-6×3-4mm, ovallanceolada, raro elíptica, ápice agudo, desprovido de múcron, base cuneada, margem revoluta, crassa, glabra, face adaxial brilhante, olivácea a nigrescente in sicco, 1-nervada, nervuras secundárias não observáveis. Flores 1-2 por axila, inclusas nas folhas, bissexuais; brácteas involucrais 4, ligeiramente desiguais, ca. 2,5mm compr., elíptico-lanceoladas ou oboval-lanceoladas, ápice agudo a arredondado; pedúnculo ca. 2,0mm compr.; corola rotada, amarelo-esverdeada, 4-6-mera, 3,2-4mm diâm., pétalas 1,6-1,8×0,8-1,0mm, triangulares a lanceoladas, ápice agudo, com glândulas vináceas dispostas em duas linhas laterais e uma mediana; flor estaminada (?): estames sempre 4, ca. 0,8mm compr., filetes filiformes, ca. 0,4mm compr., anteras suborbiculares, pólen presente; lóculos do ovário 1(-0) ovulados, estigmas 2, sésseis. Frutos não observados.

Tipo: BRASIL: São Paulo: Queluz, Serra da Mantiqueira, crista da montanha vizinha à Pedra da Mina, entre 22º25'53'' e 22º26'08''S e 44º50'05''W, altitude 2.500-2.660m, 18/II/1997, fl., G.J. Shepherd, 97-51, R. Goldenberg, R. Belinello, J.C. Galvão & Santos (Holótipo UEC, Isótipo IAC).

A corola relativamente grande aproxima G. shepherdii de G. hatschbachii (3,5-4mm e 4,0mm diâm., respectivamente). Entretanto, a análise de parátipos desta última (G. Hatschbach 43217, G. Hatschbach 20822 & J. P. Fontella), evidencia internós maiores (1,0-9,0cm compr.), folhas mais longas (até 1,4cm compr.), lâmina estreitamente elíptica ou oblanceolada e nervuras secundárias conspícuas e geralmente quatro pedúnculos por nó, nitidamente exsertos. G. hatschbachii tem sua ocorrência assinalada para os Estados do Paraná (municípios de São José dos Pinhais, Uberaba de Baixo e Roseira) e Santa Catarina (Campo Alegre e Joinville), crescendo em capões e bordas de florestas.

Ainda como observação final, G. shepherdii é facilmente reconhecida pelos internós bastante encurtados, conferindo um aspecto contraído à planta, e pelos pedúnculos curtos, ocultando as flores entre os verticilos foliares.

Agradecimentos

Aos herbários BAUR, BOTU, ESA, FFCL, FUEL, HB, HRCB, ICN, ISA, IF, MBM, P, PMSP, R, RB, S, SJRP, SP, SPF, SPFR, SPSF, UEC, UB e Gray Herbarium, por possibilitarem a consulta e/ou o empréstimo de materiais botânicos de espécies de Galium e que permitiram a certeza do reconhecimento da nova espécie aqui tratada; à FAPESP e ao CNPq, pelo auxílio e bolsa de produtividade concedidos; à Profa. Neusa M. Monteferrante, responsável pelas cadeiras de Língua Latina e Literatura Latina da Universidade São Marcos, pela redação da diagnose; à bióloga e bolsista da FAPESP, Luciane Perosin Cabral, pela colaboração nos trabalhos referentes ao gênero Galium durante o período de seu estágio no IAC.

Recebido em 25.08.2002

Aceito em 03/06/2003

  • Burger, W. & Taylor, C.M. 1993. Rubiaceae. In Flora Costaricensis (Burger, W. ed.). Fieldiana: Botany, New Series 33: 1-333.
  • Dempster, L.T. 1980. The genus Galium section Lophogalium (Rubiaceae) in South America. III. Allertonia 2(4): 247-279.
  • Dempster, L.T. 1981. The genus Galium (Rubiaceae) in South America. II. Allertonia 2(8): 393-426.
  • Dempster, L.T. 1982. The genus Galium (Rubiaceae) in South America. III. Allertonia 3(3): 211-258.
  • Dempster, L.T. 1990. The genus Galium (Rubiaceae) in South America. IV. Allertonia 5(3): 283-345.
  • Judd, W.S.; Campbell, C.S.; Kellogg, E.A. & Stevens, P.F. 1999. Plant systematics - a phylogenetic approach Sinauer Associates, Inc., Massachusets.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Abr 2004
  • Data do Fascículo
    Dez 2003

Histórico

  • Aceito
    03 Jun 2003
  • Recebido
    25 Ago 2002
Sociedade Botânica do Brasil SCLN 307 - Bloco B - Sala 218 - Ed. Constrol Center Asa Norte CEP: 70746-520 Brasília/DF. - Alta Floresta - MT - Brazil
E-mail: acta@botanica.org.br