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Nova espécie de Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae) para Minas Gerais, Brasil

New species of Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae) from Minas Gerais State, Brazil

Resumos

É descrita e ilustrada uma nova espécie de Miconia para o Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais - Miconia kriegeriana Baumgratz & Chiavegatto - pertencente à seção Glossocentrum (Crueger) Hook. Caracteriza-se, principalmente, pela lâmina foliar bulada, brácteas e profilos crassos e involucrais, cálice 4-6-mero e 12-19 estames. Comenta-se também sobre diferenças morfológicas em relação às espécies próximas, incluindo da seção Miconia ser. Glomeratiflorae Naudin e ser. Seriatiflorae Naudin.

Miconia; Melastomataceae; campo rupestre; Minas Gerais


A new species of Miconia from Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais is described and illustrated - Miconia kriegeriana Baumgratz & Chiavegatto. This species belongs to the section Glossocentrum (Crueger) Hook. and it is characterized by the bullate leaves, bracts and profiles thick and clustered, calyx 4-6-merous and 12-19 stamens. Comments are presented about morphological differences towards related species, including the section Miconia ser. Glomeratiflorae Naudin and ser. Seriatiflorae Naudin.

Miconia; Melastomataceae; campo rupestre; Minas Gerais


Nova espécie de Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae) para Minas Gerais, Brasil

New species of Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae) from Minas Gerais State, Brazil

José Fernando Andrade BaumgratzI,1 1 Autor para correspondência: jbaumgra@jbrj.gov.br ; Berenice ChiavegattoII

IInstituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Programa Diversidade Taxonômica; Bolsista de Produtividade/CNPq

IIEscola Nacional de Botânica Tropical do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rua Pacheco Leão 915, CEP 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO

É descrita e ilustrada uma nova espécie de Miconia para o Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais - Miconia kriegeriana Baumgratz & Chiavegatto - pertencente à seção Glossocentrum (Crueger) Hook. Caracteriza-se, principalmente, pela lâmina foliar bulada, brácteas e profilos crassos e involucrais, cálice 4-6-mero e 12-19 estames. Comenta-se também sobre diferenças morfológicas em relação às espécies próximas, incluindo da seção Miconia ser. Glomeratiflorae Naudin e ser. Seriatiflorae Naudin.

Palavras-chave:Miconia, Melastomataceae, campo rupestre, Minas Gerais

ABSTRACT

A new species of Miconia from Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais is described and illustrated - Miconia kriegeriana Baumgratz & Chiavegatto. This species belongs to the section Glossocentrum (Crueger) Hook. and it is characterized by the bullate leaves, bracts and profiles thick and clustered, calyx 4-6-merous and 12-19 stamens. Comments are presented about morphological differences towards related species, including the section Miconia ser. Glomeratiflorae Naudin and ser. Seriatiflorae Naudin.

Key words:Miconia, Melastomataceae, campo rupestre, Minas Gerais

Introdução

As Melastomataceae, incluindo Memecylaceae, constituem uma numerosa família pantropical e subtropical, com mais de 4.500 espécies (Clausing & Renner 2001), floristicamente abundante e diversificada na América do Sul. No Brasil, encontram-se ca. 1.500 espécies, distribuídas em 66 gêneros e ocorrendo principalmente em áreas tropicais (Baumgratz & Souza 2005).

Miconia Ruiz & Pav. é o gênero com maior número de espécies na família, ocorrendo desde o sul do México até a Argentina. No Brasil, as espécies ocorrem em diferentes ecossistemas, desde o nível do mar, nas restingas, até as florestas alto-montanas, no domínio da Mata Atlântica, bem como em formações vegetacionais na região central do país, como os cerrados e os campos rupestres.

Uma nova espécie de Miconia foi encontrada durante o recente estudo sobre a diversidade taxonômica das Melastomataceae nos campos rupestres do Parque Estadual do Ibitipoca, localizado no município de Lima Duarte, Minas Gerais. A inconsistência da classificação do gênero Miconia proposta por Cogniaux (1887-1988, 1891) tem sido assinalada por vários autores (Baumgratz & Souza 2004; Goldenberg 2004; Wurdack 1962), que comentam sobre a fragilidade dos limites das categorias infragenéricas e a incongruência de suas características diagnósticas com as respectivas descrições. Conseqüentemente, isso dificulta o enquadramento de espécies recém descobertas em uma das categorias, seja no nível de seção e/ou série, ao mesmo tempo em que faculta diferentes possibilidades de posicionamento e análises de relações interespecíficas, conforme se observa também para M. kriegeriana.

Resultados e discussão

Miconia kriegeriana Baumgratz & Chiavegatto,sp. nov.

Fig. 1a-n


Tipo: Brasil, Minas Gerais, Lima Duarte, Parque Estadual do Ibitipoca, trilha para o Monjolinho, 21º42'26"S, 43º59'02,2"; 15/VI/2004, fl., fr., B. Chiavegatto 87, J.F.A. Baumgratz, M.O. Afonso & L.M. Neto (Holótipo - RB; Isótipos - CESJ, SPF).

Species nova praesertim margine, subtus pilis stellatis et 5 nervis foliorum et inflorescentiarum cum M. cineracens optime congruens, sed differt bracteis et profiliis crassis involucratis, foliis supra bulatis, subtus indumento sparsis vestitis superficie expositis, floribus pedicellatis, calycis 4-6-meris, 12-19 staminis, stylis 12-13 mm longis.

Arvoretas 2,5-3 m alt.; indumento dos ramos, folhas, inflorescências, brácteas, profilos, hipanto, face adaxial das lacínias do cálice e frutos densa a esparsamente estrelado-tomentoso, tricomas pedicelados e sésseis, caducos. Ramos jovens achatados, adultos cilíndricos. Pecíolo 0,7-1,4 cm compr.; lâmina 4,6-16,5×2-7,3 cm, discolor, face adaxial verde-escura a castanha, bulada, face abaxial verde-clara a pardacenta, nitidamente reticulada, superfície epidérmica exposta, não totalmente recoberta pelo indumento, cartácea, elíptica, oblongo-elíptica ou estreito-ovada, base obtusa a arredondada, às vezes aguda, ápice agudo, acuminado ou atenuado-acuminado, margem ondulada a denticulada, espessa, revoluta; 5 nervuras acródromas basais ou as mais internas até 1mm suprabasais, estas e nervuras secundárias transversais nitidamente proeminentes na face abaxial. Tirsóides de glomérulos 6-10 cm compr., terminais, oblongos; pedúnculo 1,3-2,4 cm compr.; brácteas foliáceas 3,5-4×1,5-2 cm, não involucrais, estreito-elípticas a oblongas, pecioladas; brácteas crassas, não foliáceas, ca. 12×3 mm, involucrais, estreito-triangulares, ápice acuminado, margem ondulada, persistentes ou tardiamante caducas; profilos ca. 3,5×2,5 mm, crassos, involucrais, obovados, ápice obtuso a arredondado, persistentes ou tardiamente caducos. Flores com pedicelo 0,2-0,3 mm compr.; hipanto 4-4,5×4,5-5 mm, campanulado; zona do disco glabra; cálice de tetrâmero a hexâmero, tardia e circuncisamente caduco, tubo inconspícuo, lacínias bilobadas, eretas, as externas ca. 0,5×0,5 mm, inconspicuamente denticuladas, obscurecidas pelo indumento, as internas ca. 1,7×1,7 mm, triangulares, ápice agudo, face adaxial glabra; corola pentâmera, pétalas 3-3,2×2-2,5 mm, alvas, reflexas, obovadas, ápice arredondado a emarginado, assimétrico, unilateralmente unilobado, papilosas; 12-19 estames, alvos, subisomórficos, subiguais em tamanho, filetes 3-4 mm, filiformes, anteras 3-4 mm compr., oblongas com base atenuada, poro terminal-ventral, conectivo prolongado 1-1,5 mm abaixo das tecas, geralmente inapendiculado, às vezes com apêndice lateralmente bilobulado; ovário 2-2,5×2-2,5 mm, 1/2-ínfero, 3-locular, glabro; estilete 12-13 mm, dilatado no ápice; estigma capitado. Bacáceos 4-6×4-5 mm, atropurpúreos, polispérmicos; sementes 21-25, ca. 2,5×2 mm, sublenticulariformes a obovadas, às vezes obovado-triangulares, superfície lisa.

Parátipos: BRASIL. Minas Gerais: Lima Duarte, Parque Estadual do Ibitipoca, trilha para o Monjolinho, 15/VI/2004, fl., B. Chiavegatto et al. 85 (CEPEC, FLOR, RB, SP); subida para o Monjolinho, 25/XI/2004, fl., B. Chiavegatto et al. 123 (CESJ, HUFU, RB).

Etimologia: o epíteto kriegeriana é em homenagem ao Pe. Leopoldo Krieger, fundador do Herbário CESJ, da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, e coletor pioneiro no Parque Estadual do Ibitipoca.

Espécie restrita ao Parque Estadual do Ibitipoca, onde ocorre, geralmente, em áreas de transição entre o campo rupestre e formações florestais. Floresce e frutifica de novembro a junho.

As principais características diagnósticas desta espécie são a face adaxial da lâmina foliar bulada, inflorescências em glomérulos, brácteas crassas, não foliáceas, e profilos involucrais, persistentes ou tardiamente caducos, nítida variação do número de lacínias do cálice, de 4 a 6, e dos estames, 12 a 19, além do conectivo inapendiculado na maioria dos estames e, às vezes, com dois lóbulos laterais.

Por apresentar anteras oblongas, com base atenuada, uniporadas e conectivo geralmente inapendiculado, esta espécie enquadra-se mais adequadamente na seção Glossocentrum. Das espécies desta seção, aproxima-se de M. cinnerascens Miquel pelo conjunto de caracteres relacionados: lâmina foliar com margem crenulada a denticulada, face abaxial com indumento constituído de tricomas estrelados e cinco nervuras acródromas, inflorescências de glomérulos, cinco pétalas. Entretanto, esta espécie difere, principalmente, pela lâmina foliar com a face adaxial não bulada e a face abaxial com indumento revestindo totalmente a superfície epidérmica, brácteas e profilos não involucrais, flores sésseis, cálice 4-6-mero, 10-12 estames e menor comprimento (ca. 4 mm) do estilete.

Entretanto, observa-se uma inconsistência das circunscrições das seções estabelecidas por Cogniaux (1887-1888), pois características diagnósticas de algumas seções mostram-se incongruentes com descrições de espécies nelas enquadradas. Desse modo, pelas inflorescências com ramos não espiciformes, flores dispostas em glomérulos e anteras oblongas, uniporadas, com conectivo às vezes bilobulado na base, poderia ser integrada à seção Miconia ser. Glomeratiflorae, próxima a Miconia warmingiana Cogn., principalmente, pelos pecíolos curtos (0,71,4 cm), lâmina foliar oblonga, ápice agudo a atenuado-acuminado, com a face abaxial estrelado-tomentosa e cálice caduco. Entretanto, esta espécie difere pela face adaxial das folhas não bulada, brácteas e profilos não involucrais, flores sésseis, pétalas de dimensões menores (1,5-2 × ca. 1 mm), cálice pentâmero, com lobos internos arredondados, estames em número de 10, menor comprimento dos filetes (ca. 2 mm), anteras (1,-1,7 mm) e estilete (3-4 mm) e frutos oligospérmicos. Poderia ainda se enquadrar na ser. Seriatiflorae, se aproximando de Miconia pulchra Cogn. pelo indumento estrelado-tomentoso e pelo estilete com ápice dilatado. Entretanto, esta difere pelas faces adaxial e abaxial da lâmina foliar planas, base aguda, nervuras acródromas basais, inflorescências escorpiódes, 20 estames e conectivo inapendiculado.

Agradecimentos

Aos curadores dos herbários citados, pelos empréstimos concedidos e envio de fotografias; à Dra. Maria Leonor D'El Rei Souza, da Universidade Federal de Santa Catarina, pelas sugestões; ao Dr. Jefferson Prado, do Instituto de Botânica, São Paulo, pela revisão da diagnose latina; à Maria Alice Rezende, pela ilustração em nanquim; ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais e à Administração do Parque Estadual do Ibitipoca, pela licença de coleta e apoio técnico e logístico; ao CNPq e CAPES, pelas bolsas concedidas ao primeiro e segundo autores, respectivamente.

Recebido em 7/07/2005. Aceito em 21/11/2005

  • Baumgratz, J.F.A. & Souza, M.L.D.R. 2004. Two new species of Miconia (Melastomataceae) from Bahia, Brazil. Bradea 10: 1 25-33.
  • Baumgratz, J.F.A. & Souza, M.L.D.R. 2005. Novas espécies de Leandra Raddi (Melastomataceae) para o Estado de São Paulo, Brasil. Acta Botanica Brasilica 19(3): 561-566.
  • Clausing, G. & Renner, S.S. 2001. Molecular Phyllogenetics of Melastomataceae and Memecylaceae: implications for character evolution. American Journal of Botany 88: 486-498.
  • Cogniaux, C.A. 1887-1888. Miconia Ruiz & Pav. (Melastomataceae). Pp. 213-424. In: C.F.P. Martius & A.G. Eichler (eds.). Flora Brasiliensis 14(4). Frid Fleischer., München.
  • Cogniaux, C.A. 1891. Melastomataceae. Pp. 1-1256. In: A. & C. de Candolle (eds.). Monographiae Phanerogamarum 7 Paris, G. Masson.
  • Goldenberg, R. 2004. O gênero Miconia (Melastomataceae) no Estado do Paraná, Brasil. Acta Botanica Brasilica 18(4): 927-947.
  • Wurdack, J.J. 1962. Melastomataceae of Santa Catarina. Sellowia 14: 109-217.
  • 1
    Autor para correspondência:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Fev 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2006

    Histórico

    • Aceito
      21 Nov 2005
    • Recebido
      07 Jul 2005
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