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Uma nova espécie de Lippia L. (Verbenaceae) do cerrado brasileiro

A new species of Lippia L. (Verbenaceae) from Brazilian cerrado

Resumos

O gênero Lippia L. apresenta uma alta diversidade de espécies nos cerrados brasileiros. Lippia minima (Verbenaceae), endêmica do estado de Goiás, é descrita e ilustrada. Esta espécie é notável pelo hábito reduzido, sistema subterrâneo desenvolvido e folhas coriáceas, revolutas e densamente puberulento-glandulares.

espécies ameaçadas; flora; nova espécie; taxonomia


The genus Lippia L. is highly diversified in Brazilian cerrado. Lippia minima (Verbenaceae), endemic to Goiás state, is described and illustrated. This species is noteworthy for its small habit, xylopodium and coriaceous, revolute, and densely puberulent-glandulose leaves.

endangered species; flora; new species; taxonomy


ARTIGOS

Fátima Regina Gonçalves Salimena

Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Biológicas, Departamento de Botânica, Juiz de Fora, MG, Brasil

RESUMO

O gênero Lippia L. apresenta uma alta diversidade de espécies nos cerrados brasileiros. Lippia minima (Verbenaceae), endêmica do estado de Goiás, é descrita e ilustrada. Esta espécie é notável pelo hábito reduzido, sistema subterrâneo desenvolvido e folhas coriáceas, revolutas e densamente puberulento-glandulares.

Palavras-chave: espécies ameaçadas, flora, nova espécie, taxonomia

ABSTRACT

The genus Lippia L. is highly diversified in Brazilian cerrado. Lippia minima (Verbenaceae), endemic to Goiás state, is described and illustrated. This species is noteworthy for its small habit, xylopodium and coriaceous, revolute, and densely puberulent-glandulose leaves.

Key words: endangered species, flora, new species, taxonomy

Introdução

Lippia L. compreende cerca de 200 espécies com ampla distribuição nos neotrópicos (Atkins 2004). O gênero está incluído na tribo Lantanae Briq., subtribo Lantaninae (Junell 1934) e é morfologicamente mais semelhante à Lantana L., do qual difere por apresentar fruto esquizocárpico, separando-se em dois mericarpos unisseminados quando maduro e cálice comprimido, muito reduzido, tubuloso ou conato na base, bilobado (Sanders 2001). O gênero Lippia pode ser caracterizado por apresentar plantas arbustivas ou subarbustivas, com folhas decussadas, geralmente com indumento glandular, florescências parciais capituliformes ou espiciformes, congestas, axilares, brácteas membranáceas ou cartáceas, verdes ou coloridas, amarelas, róseas ou vináceas, ultrapassando ou não o comprimento das flores; flores sésseis, cálice comprimido, 2-alado, induplicado, membranáceo, inconspícuo, persistente no fruto; corola hipocraterimorfa, alva, rósea, magenta, lilás ou amarelas, tubo reto ou curvo, limbo 4-5 lobado, lábio superior ou adaxial 2-lobado, lábio inferior ou abaxial único, 2 lobos laterais; estames 4; ovário monocarpelar, bilocular, 2-ovulado, estigma lateral. Fruto dividido na maturidade em dois mericarpos (Troncoso 1974).

As espécies de Lippia estão distribuídas nas regiões áridas do sudoeste dos EUA, nas florestas tropicais decíduas da América Central e nos campos rupestres e cerrados do Brasil, regiões de altos índices de endemismos. Se estende até o Uruguay e região central da Argentina. Na África sua ocorrência também coincide com centros de alto endemismo, na região leste, associada às montanhas mais altas e picos alpinos (Salimena 2000).

Suas semelhanças com Lantana tornam ainda mais confusa a taxonomia do gênero, sendo que recentemente as espécies de Lantana sect. Sarcolippia Schauer foram incluídas na circunscrição de Lippia por apresentarem frutos esquizocárpicos (Silva & Salimena 2002). A superposição de caracteres utilizados para separação das espécies tem resultado em problemas de identificação e delimitação específica, muitas sinonímias e tipificações (Múlgura de Romero & Salimena-Pires1997; Salimena 2002).

Material e métodos

A nova espécie aqui descrita foi encontrada durante a revisão do gênero Lippia para a série Flora Neotropica e preparação da Flora de Verbenaceae para os estados de Goiás e Tocantins. Para esses trabalhos foram analisados materiais dos herbários CEN, HTINS, IBGE, RB, SP, SPF, UB e UFG. A terminologia utilizada para descrição do novo táxon foi baseada em Harris & Harris (2001), Múlgura de Romero et al. (1998), Stearn (2000) e Weberling (1992).

Resultados e discussão

Lippia minima Salimena, sp. nov.

Fig. 1-6


Lippiae pumilae Cham. et L. grandiflorae Mart. & Schauer habitu caespitoso et xylopodio similis sed ab ambabus speciebus foliis congestis, minutis, coriaceis, nitidis in facie adaxiali, marginibus revolutis et copioso indumento trichomatibus glandularibus capitatis, sessilibus, aureis in planta tota distributis et floribus purpureis abunde differt.

Subarbusto ca. 10 cm alt., cespitoso, com xilopódio, folhagem congesta. Ramos hirsuto-glandulares, tricomas tectores simples, alvos, tricomas glandulares capitados sésseis, internós 1-2 mm compr. Folhas decussadas a 3-verticiladas, congestas, patentes, sésseis, coriáceas, ovais, 3-4 x 1,2-1,7 mm compr., base obtusa a ligeiramente cordada, ápice agudo, margem inteira, revoluta, ciliada; face adaxial rugosa, nítida, esparso pubescente, glabrescente, tricomas glandulares capitados pedicelados, nervura central e 3 pares de nervuras secundárias impressas; face abaxial denso glandular, tricomas glandulares capitados sésseis, dourados, nervura central, proeminente, hirsuta, tricomas simples, alvos, nervuras secundárias proeminentes. Pleiobótrios homotéticos frondosos, florescências parciais, 1 por axila, ca. 7 mm diâm., pedúnculos filiformes, cilíndricos, ca. 2,5 cm compr., hirsuto-glandulares; brácteas membranáceas, côncavas, ovais, 2-3 x 1-1,5 mm compr., faces adaxial e abaxial densamente hirsuto-glandulares, tricomas glandulares capitados sésseis e pedicelados dourados, nervura central conspícua; cálice tubular ca. 1 mm compr., inconspicuamente 2-lobado, externamente hirsuto-glandular, ciliado; corola lilás, 8 mm compr., tubo estreito, curvo, constrito na região mediana, 0,3-0,4 mm diâm., externamente esparso-hirsuto, tricomas glandulares capitados, pedicelados, limbo inclinado, 4-5 mm larg., lobo superior truncado-emarginado, lobo inferior e laterais obtusos, margem crispada; estames com anteras orbiculares, 1 mm compr., inseridos no terço basal do tubo da corola; gineceu 2 mm compr., estilete conspicuamente rostrado, estigma lateral. Fruto, esférico, 2 x 1,4 mm, castanho, faces comissural e convexa lisas.

Tipo: Brasil. Goiás. Estrada Alto Paraíso-Teresina, 10 de outubro de 1979, E. P. Heringer et al. 2302 (holótipo: IBGE).

Lippia minima está incluída na seção Zapania Schauer, apresentando florescências parciais axilares, um paracládio por axila, sem desenvolvimento de paracládios acessórios, brácteas côncavas, plurisseriadas e cálice tubuloso, membranáceo, reduzido.

É uma espécie distinta pelo hábito, reduzido, cespitoso, com xilopódio desenvolvido, folhas coriáceas diminutas de até 4 milímetros de comprimento, congestas, com copiosa cobertura de tricomas glandulares capitados, sésseis e dourados na face abaxial.

Assemelha-se à L pumilla Cham. que pertence à seção Diocolippia Troncoso, pelo hábito, diferindo desta por não apresentar flores amarelas e diclinas e à L. grandiflora Mart. & Schauer que também apresenta hábito cespitoso de altura reduzida e sistema subterrâneo desenvolvido do tipo xilopódio, mas difere desta pelas folhas coriáceas ovais, diminutas, com margem revoluta, nítida e glabrescente na face adaxial, combinadas com copioso indumento glandular e dourado que recobre toda a planta.

L. minima é uma espécie conhecida apenas pela coleção-tipo, E. P. Heringer et al. 2302, procedente da rodovia Alto Paraíso -Teresina, em Goiás, datada de 1979 O epíteto específico se refere ao hábito reduzido da espécie.

Agradecimentos

A autora agradece à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais pelo financiamento recebido - Processo EDT-2185/03; aos botânicos Luiz Menini Neto pelas ilustrações e Tarciso Filgueiras pela diagnose em latim.

Recebido em 3/10/2008.

Aceito em 22/10/2009

Autor para correspondência: fatima.salimena@ufjf.edu.br

  • Atkins, S. 2004. Verbenaceae. Pp. 449-468. In: K.Kubtzki & J.W.Kadereit (eds.). The Families and Genera of Vascular Plants, v. 7. Berlin, Springer-Verlag.
  • Harris, J.G & Harris, M.W. 2001. Plant identification terminology: An illustrated glossary 2 ed. Spring Lake, Spring Lake Publishing.
  • Junell, S. 1934. Zur Gynaceummorphologie und Systematik der Verbenaceen und Labiaten. Symbolae Botanicae Upsalienses 4: 1-219.
  • Múlgura de Romero, M.E. & Salimena-Pires F.R. 1997. Nuevos sinônimos de Lippia lasiocalycina (Verbenaceae). Hickenia 2: 249-250.
  • Múlgura de Romero, M.E.; Martínez, S. & Suyama,A. 1998. Morfología de las inflorescencias en Lippia (Verbenaceae). Darwiniana 36(1-4): 1-12.
  • Salimena, F.R.G. 2000. Revisão taxonômica de Lippia sect. Rhodolippia Schauer (Verbenaceae). Tese de Doutorado Universidade de São Paulo. Brasil.
  • Salimena, F.R.G. 2002. Novos sinônimos e tipificações em Lippia sect. Rhodolippia Schauer (Verbenaceae). Darwiniana 40(1-4): 121-125.
  • Sanders, R.W. 2001. The genera of Verbenaceae in the south-eastern United States. Harvard Papers in Botany 5(2): 303-358.
  • Stearn, W. T. 2000. Botanical Latin 4 ed. Portland, Timber Press.
  • Silva, T.R.S. & Salimena, F.R.G. 2002. Novas combinações e novos sinônimos em Lippia e Lantana (Verbenaceae). Darwiniana 40: 57-59.
  • Troncoso, N.S. 1974. Los gêneros de Verbenáceas de Sudamérica extratropical (Argentina, Chile, Bolívia, Paraguay, Uruguay y sur de Brasil). Darwiniana 18: 295-412.
  • Weberling, F. 1992. Morphology of flowers and inflorescences. Cambridge, Cambridge University Press.
  • Uma nova espécie de Lippia L. (Verbenaceae) do cerrado brasileiro

    A new species of Lippia L. (Verbenaceae) from Brazilian cerrado
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Jun 2010
    • Data do Fascículo
      Mar 2010

    Histórico

    • Recebido
      03 Out 2008
    • Aceito
      22 Out 2009
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