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Editorial: Os sessenta anos da Sociedade Botânica do Brasil 1950 - 2010

EDITORIAL

Os sessenta anos da Sociedade Botânica do Brasil 1950 - 2010

Nesse ano de 2010, a Sociedade Botânica do Brasil (SBB) completa seus 60 anos de vida, dedicados ao estímulo e desenvolvimento das pesquisas na área da Sciencia Amabilis.

A história da SBB remonta aos meados do século XX, quando a comunidade cientifica brasileira de diferentes áreas, começou a sentir a necessidade de se reunir em grupos, para apresentar e discutir os seus trabalhos e melhor analisar os problemas relacionados ao desenvolvimento dessas mesmas áreas. Tal posicionamento certamente esteve ligado à criação em décadas anteriores de algumas universidades iniciando-se com a USP em 1936, onde foram criados os Departamentos de Botânica, para os Cursos de Biologia, Farmácia e Agronomia, e a consolidação de algumas instituições de pesquisa ligadas à área, como por exemplo: o Museu Nacional, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Instituto de Botânica de São Paulo, só para citar algumas. Nessa época, a botânica era exercida especialmente por médicos, farmacêuticos e agrônomos, mas a esses se associaram os naturalistas e posteriormente os biólogos, formando o escopo dos profissionais que lidam com a Botânica no Brasil.

As bases para criação da SBB foram estabelecidas em alguns eventos, especialmente, a I Reunião Sul-Americana de Botânica realizada no Rio de Janeiro em 1938 e a II Reunião Sul-Americana de Botânica em Tucuman na Argentina em 1948. Nesse mesmo ano, era criada a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no Brasil. A SBB foi proposta e efetivada em nove de janeiro de 1950, no edificio central da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, sendo esse ato presidido pelo Prof. Alcides Franco. Assinaram a ata de criação, quarenta e três pessoas e aqui gostaríamos de destacar alguns nomes, que apesar de não estarem mais entre nós, são conhecidos de toda a comunidade botânica, através dos livros e trabalhos que escreveram, e dos alunos que formaram. Entre esses fundadores da SBB citamos: Prof. Honório Monteiro Filho da UFRJ, Prof. Alarich Schultz da UFRGS, Prof. Karl Arens da USP e UNESP, Dr. Luis Emygdio de Mello Filho do MN, Dr. Alcides Teixeira do IBt e Felix Rawistscher da USP. Também nesse dia memorável esteve presente o Dr. Paulo Alvim, Dra. Maria do Carmo C. Monteiro e Dra. Berta Lange de Morretes, que continua entre nós. A esse grupo pequeno, que se reuniu na UFRJ, logo se agregaram outros botânicos e os Congressos de Botânica começaram a ser realizados a cada ano, e em diferentes localidades do país.

Os Congressos de Botânica dos primeiros vinte anos da SBB aconteciam sempre em janeiro, e eram esperados por toda a comunidade botânica, a qual se preparava para o evento praticamente durante todo o ano. Eram nesses congressos anuais, que os resultados das pesquisas mais recentes eram apresentados, reunidos nas seções de Sistemática e Paleobotânica; Fitopatologia, Ecologia e Fisiologia Vegetal, Anatomia e Morfologia.

Durante os Congressos, era feito o lançamento dos jovens botânicos, onde os trabalhos na forma de palestra de dez minutos eram assistidos por uma seleta plateia, sempre tendo na primeira fileira os nomes mais consagrados da área. Assim, por exemplo, estavam presentes nas seções de: Anatomia - Berta Lange de Morretes da USP, Fernando Milanez da UNB e Artemísia Arraes da UFC; Fisiologia - Paulo Alvim do CEPLAC e Luiz Fernando Labouriau do IBt; Taxonomia de Angiospermas - Graziela Maciel Barroso do JBRJ, Dárdano de Andrade-Lima do IPA e UFRPE, Luiz Emygdio de Mello Filho do MN, Honório Monteiro da UFRRJ e Ângelo Rizzo da UFG; Taxonomia de Criptógamas - Aylthon Brandão Joly da USP, Alcides Teixeira do IBt e Chaves Batista da UFPE; e Ecologia - Mário Guimarães Ferri, Leopoldo Coutinho e Mariko Meguro todos da USP. Essas apresentações eram seguidas por apreciações bastante embasadas e discussões filosóficas e metodológicas. A "aprovação nessa banca" era o passaporte para um futuro estágio de especialização com um desses renomados botânicos e era, especialmente, a aprovação para publicação na revista mais importante da área de Botânica no Brasil: Anais da Sociedade Botânica do Brasil. O periódico era editorado por uma Comissão Editorial do respectivo congresso, e reunia os trabalhos nas diferentes áreas, recebidos em até um mês depois do congresso, e distribuídos no Congresso seguinte, a todos os sócios da SBB.

O período do Congresso se revertia em grande atividade científica e social. Assim, sendo janeiro um mês de férias escolares era comum que toda a família dos participantes estivessem juntos no evento, transformando assim, a reunião anual, em um evento da família botânica (os pesquisadores e seus familiares). O número de participantes era pequeno em comparação com os congressos atuais, mas os congressos no Rio de Janeiro em 1968 e de São Paulo em 1971 reuniram mais de trezentos participantes e o de Garanhuns, no interior de Pernambuco em 1972, duzentos participantes.

A década de 1970 presenciou três eventos que tiveram forte influência sobre o desenvolvimento da atual SBB:

1. A criação dos Programas de Pós-graduação em Botânica, inicialmente na USP e depois estendido para várias instituições do país até atingir os 21 cursos atuais. O grande número de professores e especialmente de alunos envolvidos na pós-graduação fez com que a pesquisa na área da Botânica tivesse um novo impulso e especialmente os congressos da SBB aumentaram muito em número de trabalhos e participantes, sendo necessário que a maior parte dos trabalhos fosse apresentada sob forma de pôsteres.

2. A participação ativa e marcante da SBB nas ações ligadas ao Meio Ambiente. A SBB mesmo durante o regime político da ditadura se posicionou corajosamente sobre vários temas, algumas vezes contrariando posições governamentais. Eventos como a poluição em Cubatão e seus reflexos sobre a vegetação da Serra de Paranapiacaba em São Paulo ou a construção do aeroporto de São Paulo em Caucaia do Alto (sob o lema Defenda o Verde de Caucaia) tiveram na SBB Seccional de São Paulo, na época sob a Coordenação de Dra. Nanuza Luiza de Menezes da USP, uma participação atuante e decisiva, tanto na forma de pronunciamentos e campanhas, como na forma de divulgação para o grande público dos problemas envolvidos, na forma de cursos como, por exemplo, "Ameaças ao Meio Ambiente Brasileiro" que reuniu mais de 800 inscritos.

3. No final dessa década, a SBB através da Seccional de São Paulo, propõe a criação da Revista Brasileira de Botânica (RBB), com um corpo editorial composto pelos mais renomados cientistas da época. Porém, se a SBB estava forte cientificamente e politicamente, a sua estrutura administrativa era fraca, resumindo-se a Diretorias itinerantes, que se alternavam em diversas regiões do país e ao Conselho Superior que se reunia durante os congressos anuais, especialmente para análise das contas dos congressos. A falta de um CNPJ nacional e do registro da RBB foram as justificativas para a criação da Sociedade Botânica de São Paulo e o registro da revista pela mesma sociedade. Tal situação mostrou a necessidade de maior profissionalização da SBB, sendo levantadas várias discussões que culminaram com a proposição de uma diretoria com mandato de três anos, tendo sido eleita como a primeira Presidenta da SBB (1983-1985), a sócia Maria Luiza Porto da UFRGS. Entre os anos de 1986-1988, a SBB foi presidida por Dr. Alfredo Gui Ferreira da mesma UFRGS, e que havia sido vice-presidente na gestão anterior. Esse período de seis anos sob o comando da Seccional do Rio Grande do Sul foi de grandes mudanças e de ganho excepcional, podendo ser incluídos entre outros fatos, a aprovação dos novos estatutos com mudanças radicais, incluindo a escolha da sede do congresso com dois anos de antecedência, solicitações da SBB como de utilidade pública, inserção da SBB em diversos foros nacionais e participação mais efetiva em políticas de Ciência e Tecnologia, e em 1987 foi criada e registrada a Acta Botanica Brasilica.

Depois desses presidentes, vários outros se sucederam na direção da SBB, e cada qual, a sua maneira, tem tentado tornar a SBB cada vez mais atuante. Foi assim que foram vividos e construídos os 60 anos da Sociedade Botânica do Brasil. Labor não de muitos, mas de todos.

A Diretoria da Sociedade Botânica do Brasil

(Gestão 2010-2013)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Fev 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2010
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