Acessibilidade / Reportar erro

Espécies de Ganoderma P. Karst (Ganodermataceae) e Phellinus Quél. (Hymenochaetaceae) na Estação Científica Ferreira Penna, Pará, Brasil

Species of Ganoderma P. Karst (Ganodermataceae) and Phellinus Quél. (Hymenochaetaceae) from Ferreira Penna Scientific Station, Pará, Brazil

Resumos

Este trabalho foi baseado em coleções realizadas pelos autores e em material depositado no herbário João Murça Pires (MG), procedentes da Estação Científica Ferreira Penna (ECFPn, 1°38' - 1°48S; 51°20' - 51°36'W). Ganoderma esta representado por três espécies: G. australe, G. multiplicatum e G. stipitatum, e Phellinus por sete: P. baccharidis, P. calcitratus, P. extensus, P. fastuosus, P. gilvus, P. shaferi e P. undulatus.

Amazônia; Basidiomycetes; Fungos poliporóides


This work is based on collections undertaken by the authors and on material deposited in the João Murça Pires herbarium (MG), from the Ferreira Penna Scientific Station (ECFPn, 1°38' - 1°48S; 51°20' - 51°36'W). Ganoderma is represented by three species: G. australe, G. multiplicatum and G. stipitatum, and Phellinus by seven: P. baccharidis, P. calcitratus, P. extensus, P. fastuosus, P. gilvus, P. shaferi and P. undulatus.

Amazonia; Basidiomycetes; Polypores


ARTIGOS ARTICLES

Espécies de Ganoderma P. Karst (Ganodermataceae) e Phellinus Quél. (Hymenochaetaceae) na Estação Científica Ferreira Penna, Pará, Brasil1 1 Parte da dissertação de Mestrado do primeiro Autor

Species of Ganoderma P. Karst (Ganodermataceae) and Phellinus Quél. (Hymenochaetaceae) from Ferreira Penna Scientific Station, Pará, Brazil

Alcindo da Silva Martins JúniorI; Tatiana Baptista GibertoniII; Helen Maria Pontes SotãoIII, IV

ISecretaria Executiva de Educação do Estado do Pará, Belém, PA, Brasil

IIUniversidade Federal de Pernambuco, Departamento de Micologia, Recife, PE, Brasil

IIIMuseu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Botânica, Belém, PA, Brasil

IVAutor para correspondência: helen@museu-goeldi.br

RESUMO

Este trabalho foi baseado em coleções realizadas pelos autores e em material depositado no herbário João Murça Pires (MG), procedentes da Estação Científica Ferreira Penna (ECFPn, 1°38' - 1°48S; 51°20' - 51°36'W). Ganoderma esta representado por três espécies: G. australe, G. multiplicatum e G. stipitatum, e Phellinus por sete: P. baccharidis, P. calcitratus, P. extensus, P. fastuosus, P. gilvus, P. shaferi e P. undulatus.

Palavras-chave: Amazônia, Basidiomycetes, Fungos poliporóides

ABSTRACT

This work is based on collections undertaken by the authors and on material deposited in the João Murça Pires herbarium (MG), from the Ferreira Penna Scientific Station (ECFPn, 1°38' - 1°48S; 51°20' - 51°36'W). Ganoderma is represented by three species: G. australe, G. multiplicatum and G. stipitatum, and Phellinus by seven: P. baccharidis, P. calcitratus, P. extensus, P. fastuosus, P. gilvus, P. shaferi and P. undulatus.

Key words: Amazonia, Basidiomycetes, Polypores

Introdução

A Estação Científica Ferreira Penna (ECFPn) é uma base de pesquisa com 33.000 hectares gerenciada pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) localizada ao norte da FLONA de Caxiuanã (1°38' - 1°48S e 51°20' - 51°36'W, Melgaço, Pará). Segundo Lisboa (2002), a ECFPn apresenta uma significativa representatividade de parte do bioma amazônico, o que a torna uma referência para pesquisa na Amazônia voltada para a sustentabilidade e desenvolvimento da região.

Ganoderma P. Karst. é o gênero tipo de Ganodermataceae Donk, abrangendo 80 espécies (Kirk et al. 2008) e caracterizado basicamente pelos esporos truncados e ornamentados (Moncalvo & Ryvarden 1997). Phellinus Quél. pertence à família Hymenochaetaceae Imazeki & Toki, possuindo 180 espécies (Kirk et al. 2008) e sendo determinado pelo sistema hifálico dimítico aliado ao basidioma séssil (Larsen & Cobb-Poulle 1990; Ryvarden 2004).

Sotão et al. (1997; 2002; 2009) apresentaram listagens de fungos da ECFPn, incluindo esses gêneros. Entretanto, considerando a extensão da Amazônia, as poucas áreas inventariadas e sua diversidade, esse conhecimento ainda pode ser considerado limitado, principalmente perante a quantidade de material ainda aguardando identificação, coletado pelos autores e colaboradores na FLONA de Caxiuanã e depositados no herbário "João Murça Pires" (MG). Diante disso, foi desenvolvido o presente trabalho, cujo principal objetivo é contribuir para o conhecimento sobre a micobiota amazônica.

Material e métodos

Os espécimes de Basidiomycetes estudados são resultantes de coletas realizadas entre 1995 e 2008, na ECFPn. Os métodos de coleta, preservação e herborização seguiram as técnicas citadas por Fidalgo & Bononi (1989).

Para a etapa de identificação, foram realizadas observações das microestruturas, seguindo as técnicas rotineiras empregadas em estudos com Basidiomycetes poliporóides (Ryvarden & Johansen 1980; Teixeira 1995). Literatura especializada, tais como Larsen & Cobb-Poulle (1990) e Ryvarden (2004), foi utilizada para a identificação dos espécimes.

Resultados e discussão

Foram analisados 159 espécimes e identificadas três espécies de Ganoderma e sete de Phellinus. Ganoderma australe (Fr.) Pat. foi o táxon com maior número de espécimes (55), seguido por Phellinus fastuosus (Lév.) Ryvarden (32) e P. gilvus (Schwein.) Pat. (31). Todos os espécimes foram encontrados sobre troncos em decomposição.

1. Ganoderma australe (Fr.) Pat., Bull. Soc. Mycol. Fr. 5: 67, 1889.

Descrição e ilustração: Nuñez & Ryvarden (2000), Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 19/XI/1995, Sotão et al. 95-364 (MG); ibidem, II/2008, Gibertoni et al. 2008-47 (MG).

Comentários: Segundo Moncalvo & Ryvarden (1997), G. applanatum é semelhante a G. australe, porém possui basidiosporos menores e uma distribuição mais ao norte, em regiões de clima temperado.

2. Ganoderma multiplicatum (Mont.) Pat., Bull. Soc. Mycol. Fr. 5: 74, 1889.

Descrição e ilustração: Gottlieb & Wright (1999), Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 14/XII/1996, Sotão et al. 96-321 (MG); ibidem, II/2008, Gibertoni et al. 2008-106 (MG).

Comentários: De acordo com Ryvarden (2004), G. multiplicatum pode ser reconhecida pelos elementos cuticulares amilóides com excrescências apicais, presentes na superfície abhimenial, e basidiosporos de 7-8 µm de comprimento. Nos espécimes analisados, os basidiosporos apresentam uma pequena variação no tamanho (7-9,5 µm).

3. Ganoderma stipitatum (Murrill) Murrill, Bull. Torrey Bot. Cl. 30: 229, 1903.

Descrição e ilustração: Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 19/XI/1995, Sotão et al. 95-295 (MG); ibidem, III/2007, Gibertoni 2007-5 (MG).

Comentários: Ryvarden (2004) relata que G. stipitatum é reconhecida principalmente por suas bandas resinosas pretas no contexto marrom pálido. Ganoderma stipitatum é semelhante a G. lucidum (M. A. Curtis) P. Karst., considerada como uma espécie restrita à zona de clima temperado. No presente trabalho, uma nova análise dos espécimes identificados anteriormente como G. lucidum (Sotão et al. 2002b) revelou que todos são G. stipitatum.

4. Phellinus baccharidis (Pat.) Pat., Ess. Tax. P. 97, 1900.

Descrição e ilustração: Ryvarden & Johansen (1980), Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 13/XII/1996, Sotão et al. 96-263 (MG); ibidem, VIII/2007, Gibertoni TBG AP 2007-428 (MG).

Comentários: Os basidiosporos globosos de 5-6,5 µm, hialinos a amarelo-dourado-pálidos, ausência de setas, linha preta distinta abaixo do tomento e a consistência quebradiça dos tubos são características diagnósticas de P. baccharidis (Ryvarden 2004).

5. Phellinus calcitratus (Berk. & M.A. Curtis) Ryvarden, Norw. J. Bot. 19: 234, 1972.

Descrição e ilustração: Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 15/XII/1996, Sotão et al. 96-373 (MG); ibidem, 28/I/2006, Martins Jr & Gibertoni 2006-135 (MG);

Comentários: Góes-Neto et al. (2000) registram que os tubos cartilaginosos e translúcidos são as principais características que definem P. calcitratus. O hábito efuso-reflexo não é um caráter referido por Ryvarden (2004) na descrição de espécimes neotropicais de P. calcitratus. No entanto, é uma característica muito frequente nos espécimes analisados neste trabalho.

6. Phellinus extensus (Lév.) Pat., Essai tax. p. 97, 1900.

Descrição e ilustração: Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 31/I/2006, Martins Jr & Gibertoni 2006-267 (MG); ibidem, III/2007, Gibertoni 2007-105 (MG).

Comentários: De acordo com Ryvarden (2004), as principais características que identificam a espécie são: macroscopicamente, o píleo aplanado, adpresso tomentoso, com zona preta abaixo do tomento; microscopicamente, os basidiosporos pequenos (3-4 µm de diâmetro), globosos, hialinos a amarelo-pálidos (3-4 x 2,5-4 µm), aliados às setas curtas (10-20 x 5-9 µm) fortemente ventricosas agudas e de paredes espessas.

7. Phellinus fastuosus (Lév.) Ryvarden, Norw. J. Bot. 19: 234, 1972.

Descrição e ilustração: Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 14/IV/1995, Sotão et al. 95-80 (MG); ibidem, 29/I/2006, Martins Jr & Gibertoni 2006-150 (MG).

Comentários: Esta espécie pode ser reconhecida pelos basidiomas aplanados com crusta preta recobrindo toda sua extensão, ausência de setas tramais e himeniais e basidiosporos marrom-ferrugíneos.

8. Phellinus gilvus (Schwein.) Pat., Ess. Tax. Hym. p. 97, 1900.

Descrição e ilustração: Loguercio-Leite & Wright (1995), Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 13/IV/1995, Sotão et al. 95-66 (MG); ibidem, 26/I/2006, Martins Jr & Gibertoni 2006-40 (MG).

Comentários: Segundo Ryvarden (2004), P. gilvus apresenta grande variação morfológica e é uma das mais coletadas nos trópicos. O sistema hifálico dimítico, as setas himeniais (20-30 x 5-6 µm) abundantes, subuladas, pontiagudas com parede espessa, e basidiosporos elipsóides a ovóides, hialinos, caracterizam microscopicamente a espécie.

9. Phellinus shaferi (Murrill) Ryvarden, Norw. J. Bot. 19: 235, 1972.

Descrição e ilustração: Ryvarden (2004)

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 29/I/2006, Martins Jr & Gibertoni 2006-173 (MG); ibidem, II/2008, Gibertoni 2008-248 (MG).

Comentários: Segundo Ryvarden (2004), dentre as espécies ressupinadas de Phellinus, P. shaferi é caracterizada por poros de tamanho médio (5-6 poros/mm), basidiosporos globosos, amarelo-pálidos a marrom-ferrugíneos e setas himeniais ventricosas acuminadas.

10. Phellinus undulatus (Murrill) Ryvarden, Norw. J. Bot. 9: 235, 1972.

Descrição e ilustração: Larsen & Cobb-Poulle (1990), Ryvarden (2004).

Material selecionado: BRASIL. Pará: Melgaço, FLONA de Caxiuanã, ECFPn, 26/I/2006, Martins Jr & Gibertoni 2006-13 (MG); ibidem, II/2008, Gibertoni 2008-132 (MG).

Comentários: O basidioma ressupinado, os poros de tamanho médio (5-6 poros/mm) e setas com ápice recurvado são as principais características de P. undulatus.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao MPEG/CBO e à ECFPn pelo apoio durante as coletas, logística de campo e laboratório; ao Programa de Biodiversidade da Amazônia (PPBio)/MCT pelo apoio recebido; aos colaboradores que participaram das etapas de campo; ao CNPq, pela concessão de bolsa de mestrado ao primeiro autor; ao programa BECA (IIEB/Fundação Moore), Università degli Studi di Pavia e ao PPG-Biologia de Fungos (UFPE) pelo auxílio financeiro.

Recebido em 01/11/2008

Aceito em 17/05/2011

  • Fidalgo, O. & Bononi, V.L.R. 1989. Técnicas de coleta, preservação e herborização de material botânico São Paulo, Instituto de Botânica.
  • Góes-Neto, A.; Loguercio-Leite, C. & Guerrero, R.T. 2000. Poroid Hymenochaetales in a seasonal tropical forest fragment in the State of Bahia, Brazil: taxonomy and qualitative ecological aspects. Mycotaxon 76: 197-211.
  • Gottlieb, A.M. & Wright, J.E. 1999. Taxonomy of Ganoderma from southern South America: subgenus Ganoderma Mycological Research 103: 661-673.
  • Kirk, P.M.; Cannon, P.F.; Minter, D.W. & Stalpers, J.A. 2008. Ainsworth & Bisby's Dictionary of the Fungi 10th ed. Wallingford, CAB International.
  • Larsen, M.J. & Cobb-Poulle, L.A. 1990. Phellinus (Hymenochaetaceae) Oslo, Fungiflora.
  • Lisboa, P.L.B. 2002. A Estação Científica Ferreira Penna/ECFPn (1993-2000). Pp. 35-55. In: Lisboa, P.L.B. (Org.). Caxiuanã: Populações tradicionais, Meio Físico e Diversidade Biológica Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi.
  • Loguercio-Leite, C. & Wright, J.E. 1995. The genus Phellinus (Hymenochaetaceae) of the Island of Santa Catarina, Brazil. Mycotaxon 54: 361-388.
  • Moncalvo, J.M. & Ryvarden, L. 1997. A nomenclatural study of the Ganodermataceae Donk Oslo, Fungiflora.
  • Nuñez, M. & Ryvarden, L. 2000. East Asian Polypores. Synopsis Fungorum 14: 1-352.
  • Ryvarden, L. 2004. Neotropical Polypores. Part 1. Synopsis Fungorum 19: 1-229.
  • Ryvarden, L. & Johansen, I. 1980. A preliminary Polypore Flora of East Africa Oslo, Fungiflora.
  • Sotão, H.M.P.; Hennen, J.F.; Gugliotta, A.M.; Melo, O.A.; Campos, E.L. 1997. Os fungos - Basdiomycotina. Pp. 213-219. In: Lisboa, P.L.B. (Org.). Caxiuanã Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi.
  • Sotão, H.M.P.; Gugliotta, A.M.; Oliveira, A.P.; Luz, A.B. & Melo, O. 2002. Fungos poliporóides. Pp. 433-444. In: Lisboa, P.L.B. (Org.). Caxiuanã, populações tradicionais, meio físico e diversidade biológica Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi.
  • Sotão, H.M.P.; Gibertoni, T.; Maziero, R.; Baseia, I.; Medeiros, P. S.; Martins Júnior, A.S. & Capelari, M. 2009. Fungos macroscópicos da Floresta Nacional de Caxiuanã: Basidiomycota (Agaricomycetes). Pp. 383-396. In: Lisboa, P.L. (Org.). Caxiuanã: Desafios para conservação de uma Floresta Nacional na Amazônia Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi.
  • Teixeira, A.R. 1995. Método para estudo das hifas do basidiocarpo de fungos poliporáceos São Paulo, Instituto de Botânica. Manual n° 6.
  • 1
    Parte da dissertação de Mestrado do primeiro Autor
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Nov 2011
    • Data do Fascículo
      Set 2011

    Histórico

    • Recebido
      01 Nov 2008
    • Aceito
      17 Maio 2011
    Sociedade Botânica do Brasil SCLN 307 - Bloco B - Sala 218 - Ed. Constrol Center Asa Norte CEP: 70746-520 Brasília/DF. - Alta Floresta - MT - Brazil
    E-mail: acta@botanica.org.br