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Hérnia diafragmática traumática transpericárdica

CARTA AO EDITOR

Hérnia diafragmática traumática transpericárdica

Sra. Editora:

Os traumas toracoabdominais (TTA) que levam à formação de hérnias diafragmáticas transpericárdicas (HDTP) são acontecimentos raros que poucos têm o privilégio de diagnosticar e tratar. Em 1991 deparamos com essa situação clínica e em 1992 a apresentamos em congresso(1). Durante longo tempo estudamos e fizemos a revisão desse assunto, que foi publicada em 1998(2). Congratulo-me com o Dr. Roberto Ruben Pando-Serrano et al. pelo relato de caso similar recentemente publicado neste periódico(3) e, se permitido for, gostaria de tecer alguns comentários sobre o mesmo.

Em nossa revisão (2), compreendendo o período de 1937 até 1991, foram documentados 38 casos de HDTP conseqüentes a TTA contusos e quatro advindos de TTA penetrantes, todos contendo estruturas anatômicas intrapericárdicas. Além disso, identificamos mais 13 relatos em que as roturas conjuntas do pericárdio e do diafragma permitiram hérnias apenas para as cavidades pleurais. Houve, portanto, 55 HDTP, incidência bastante distinta da citada no artigo atual(3).

Ainda em nosso estudo(2), as radiografias do tórax e as contrastadas do trânsito gastrintestinal, realizadas nos pacientes com conteúdo herniário intrapericárdico, definiram o diagnóstico em 11, informaram a presença de hérnias diafragmáticas em 22, permitiram o falso diagnóstico de hérnia do hiato esofágico em um e nada esclareceram em apenas quatro. As tomografias computadorizadas realizadas em um dos pacientes revistos(2) e, também, no caso relatado pelo autor(3), quando comparadas com as radiografias baritadas, nada acrescentaram para definir a presença ou não da HDTP. Suponho, pelas próprias palavras de Adamthwait DN et al.(4), que as obstruções gastrintestinais e compressões cardíacas ocorridas em dois dos seus três pacientes foram conseqüentes ao uso do contraste em momentos clínicos inadequados. Acredito que o exame radiográfico, sem e com contraste, quando bem indicado e realizado com devida técnica, ainda é o melhor e mais econômico meio complementar para o estudo da hérnia diafragmática, seja ela transpericárdica ou não.

Embora desconhecendo a data exata da última ocorrência de HDTP, mas considerando cronologicamente distribuídos os nossos relatos e as citações neles apontadas(2,3),faço a seguinte interrogação: a incidência da HDTP está aumentando em conseqüência do elevado número de TTA, ou estamos mais atentos à possibilidade da sua existência e, assim, a diagnosticamos mais freqüentemente?

ANTONIO SEBASTIÃO PORTO

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Professor Adjunto IV, aposentado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Ex-Professor de Cirurgia Cardiovascular e Torácica, Hospital Universitário "Alzira Velano", Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Alfenas, Alfenas, MG

REFERÊNCIAS

1. Porto AS, Oshiro Y, Medeiros CGS, Pontes JCVD, Muniz AN. Hérnia intrapericárdica transdiafragmática em trauma contuso (Tema Livre-Resumo). J Pneumol 1992;18(Supl 1):9.

2. Porto AS, Oshiro Y, Pontes JCVD, Medeiros CGS, Nandes AM, Ovando LA. Hérnia intrapericárdica transdiafragmática em trauma contuso: relato de caso e revisão da literatura. Rev Bras Cir Cardiovasc 1998; 13:60-70.

3. Pando-Serrano RR, Leal AJF, Gomes MRA, Crepaldi Filho R. Hérnia diafragmática transpericárdica: relato de caso. J Pneumol 2000;26:317-320.

4. Adamthwait DN, Snyders DC, Mirwis J. Traumatic pericardiophrenic hernia: a report of 3 cases. Br J Surg 1983;70:117-119.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Out 2002
  • Data do Fascículo
    Mar 2001
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