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Tratamento artroscópico da condromatose sinovial do ombro: relato de caso

Arthroscopic treatment of synovial chondromatosis of the shoulder: a case report

Resumos

Os autores descrevem caso raro de condromatose sinovial do ombro e seu tratamento cirúrgico. A artroscopia possibilitou a visualização de todos os compartimentos da articulação glenoumeral, permitindo a remoção dos corpos livres e realização da sinovectomia.

Condromatose sinovial; Articulação do ombro; Membrana sinovial; Artroscopia; Corpos livres articulares; Relatos de casos [Tipo de publicação]


The authors describe a rare case of synovial chondromatosis of the shoulder and its surgical treatment. Arthroscopy enabled the visualization of all compartment of the glenohumeral joint, and allowed the removal of free bodies and the performance of a synovectomy.

Chondromatosis; synovial; Shoulder joint; Synovial membrane; Arthroscopy; Joint loose bodies; Case reports [Publication type]


RELATO DE CASO

Tratamento artroscópico da condromatose sinovial do ombro: relato de caso* * Trabalho realizado no Grupo de Cirurgia de Ombro e Cotovelo do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil.

Arthroscopic treatment of synovial chondromatosis of the shoulder: a case report

Arildo Eustáquio PaimI, Daniel Costa FerreiraII, Alessandro PaimII, Ricardo Mota de AlmeidaIII

IChefe do Grupo de Grupo de Cirurgia de Ombro e Cotovelo da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil

IIAssistente do Grupo de Grupo de Cirurgia de Ombro e Cotovelo da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil

IIIResidente do 4º ano do Grupo de Grupo de Cirurgia de Ombro e Cotovelo da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rua Ramalhete 550/500, Serra – 30210-500 – Belo Horizonte, MG. Tel.: (31) 3213-4398. E-mail: Arildo.bhe@terra.com.br

RESUMO

Os autores descrevem caso raro de condromatose sinovial do ombro e seu tratamento cirúrgico. A artroscopia possibilitou a visualização de todos os compartimentos da articulação glenoumeral, permitindo a remoção dos corpos livres e realização da sinovectomia.

Descritores: Condromatose sinovial/cirurgia; Articulação do ombro; Membrana sinovial; Artroscopia; Corpos livres articulares; Relatos de casos [Tipo de publicação]

ABSTRACT

The authors describe a rare case of synovial chondromatosis of the shoulder and its surgical treatment. Arthroscopy enabled the visualization of all compartment of the glenohumeral joint, and allowed the removal of free bodies and the performance of a synovectomy.

Keywords: Chondromatosis, synovial/surgery; Shoulder joint; Synovial membrane; Arthroscopy; Joint loose bodies; Case reports [Publication type]

INTRODUÇÃO

A condromatose sinovial primária do ombro é uma situação clínica rara, que cursa com a formação de múltiplos corpos livres intra-articulares nos vários compartimentos da articulação glenoumeral. O presente relato de caso tem como objetivo mostrar que a artroscopia permitiu visualizar todos os compartimentos intra-articulares acometidos, retirar os corpos livres e realizar a sinovectomia.

RELATO DO CASO

Paciente do sexo feminino, 23 anos de idade, com história de dor no ombro direito havia cerca de um ano, sem história de traumatismo. Durante o exame físico, a paciente apresentava dor à movimentação do ombro e limitação da amplitude de movimento (100º de elevação anterior, 45º de rotação externa, rotação interna em T8 e 45º de abdução) (figura 1).


Estudos por imagem foram obtidos através de radiografias simples e artrorressonância magnética, os quais demonstraram múltiplos corpos livres intra-articulares e osteoartrose glenoumeral incipiente (figura 2).


O tratamento cirúrgico foi realizado por via artroscópica, na Santa Casa de Belo Horizonte. Após a realização de bloqueio interescalênico e anestesia geral, a paciente foi posicionada em decúbito lateral. Quatro portais foram feitos, sendo dois posteriores e dois anteriores. Os compartimentos: anterior, posterior, os recessos axilar e subescapular foram visualizados com os corpos livres (figura 3). Durante o ato cirúrgico observamos lesões condrais, tanto na cavidade glenóidea quanto na cabeça umeral. A sinovite estava presente em pequenas áreas. Através de cânulas cirúrgicas de 8,25mm foi possível retirar 44 corpos livres (figura 4). A sinovectomia foi realizada após a retirada dos corpos livres para evitar sangramento excessivo durante o ato cirúrgico. O exame histológico revelou corpos livres cartilaginosos calcificados com pequenos nódulos metaplásicos imaturos e revestidos por membrana sinovial caracterizando condromatose sinovial (figura 5).




No pós-operatório, a paciente usou tipóia durante 10 dias, permitindo exercícios autopassivos para o ombro, cotovelo e mão. Depois desse período foi iniciada a fisioterapia formal. Na avaliação após 12 meses da cirurgia, a paciente relatou melhora da dor e retorno da amplitude de movimento do ombro operado (figura 6). O controle radiográfico constatou ausência de corpos livres e não progressão da osteoartrose glenoumeral (figura 7).



DISCUSSÃO

A condromatose sinovial primária é afecção rara, benigna, normalmente monoarticular, na qual ocorre a formação de corpos livres cartilaginosos. Isso se dá, principalmente, por metaplasia da membrana sinovial articular, podendo ocorrer também por metaplasia da bainha de tendões ou, até mesmo, da bursa(1). Quando ocorre em uma articulação previamente acometida por alguma condição patológica, como osteoartrose ou osteonecrose, é denominada condromatose sinovial secundária(1).

A articulação mais acometida é o joelho, seguido do quadril, cotovelo, punho, tornozelo e ombro. Bloom e Pattinson revisaram 191 casos de condromatose sinovial e somente 10 casos (cerca de 5%) envolviam o ombro(2).

A sintomatologia inclui dor, inchaço, crepitação e limitação do movimento.

A radiografia simples pode ser negativa nos estágios iniciais e a ressonância magnética pode identificar corpos livres em estágios precoces.

Milgram descreveu 30 casos de condromatose sinovial, identificando três estágios distintos: (1) doença com atividade intra-sinovial, mas sem a presença de corpos livres; (2) lesão transicional, com atividade sinovial e corpos livres; (3) múltiplos corpos livres, mas sem atividade sinovial(3). A paciente que estudamos se encontrava no estágio 3, pois apresentava múltiplos corpos livres intra-articulares e na artroscopia observamos discretos focos de sinovite.

A transformação maligna pode ocorrer, porém, é mais comum após múltiplos episódios de recidiva. Davis et al revisaram 53 pacientes com condromatose sinovial primária e identificaram recidiva em nove deles (17%). Três desses nove pacientes sofreram transformação maligna para condrossarcoma(4).

Apesar dos relatos de remissão espontânea, o tratamento de escolha é o cirúrgico(5). A via tradicional é utilizada para a retirada dos corpos livres e sinovectomia(6). Neer recomendou a desinserção do tendão do subescapular e abertura suficiente da cápsula para subluxar a cabeça umeral(5). O advento da artroscopia, além das vantagens como pequenas incisões e reabilitação mais rápida, permite avaliar toda a articulação glenoumeral, com possibilidade de retirada de corpos livres, sinovectomia, tenodese da cabeça longa do bíceps quando comprometida e desbridamento da cartilagem articular(7-8). Neste caso, através da artroscopia, conseguimos visualizar todos os compartimentos do ombro com apenas quatro pequenas incisões (portais), retirar os corpos livres e realizar a sinovectomia.

A recidiva é pouco freqüente (0 a 15%) e está relacionada à retirada insuficiente dos corpos livres articulares ou sinovectomia incompleta da membrana sinovial patológica(9). Atualmente, a paciente, motivo deste relato, se encontra no período pós-operatório de 12 meses, sem dor, com os movimentos normais do ombro operado sem sinais de recidiva.

COMENTÁRIO

Na condromatose sinovial do ombro, o tratamento por via artroscópica parece ser indicação terapêutica eficiente.

Recebido em 30/10/07.

Aprovado para publicação em 8/4/08.

  • 1. Milgram JW, Hadesman WM. Synovial osteochondromatosis in the subacromial bursa. Clin Orthop Relat Res. 1988;(236):154-9.
  • 2. Bloom R, Pattinson JN. Osteochondromatosis of the hip joint. J Bone Joint Surg Br. 1951;33(1):80-4.
  • 3. Milgram JW. Synovial osteochondromatosis: a histopathological study of thirty cases. J Bone Joint Surg Am. 1977;59(6):792-801.
  • 4. Davis RI, Hamilton A, Biggart JD. Primary synovial chondromatosis: a clinicopathologic review and assessment of malignant potential. Hum Pathol. 1998;29(7): 683-8.
  • 5. Neer CS. Rare shoulder lesions: glenoumeral osteochondromatosis. In: Neer CS, editor. Shoulder reconstruction. Philadelphia: Saunders; 1990. p. 478-9.
  • 6. Brasil Filho R, Filardi Filho CS, Menitti EL, Baptista MV, Daher SS. Condromatose sinovial: relato de um caso. Rev Bras Ortop. 1997;32(11):921-3.
  • 7. Snyder SJ. Synovial chondromatosis and osteochondromatosis. In: Snyder SJ. Shoulder arthroscopy. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2003. p. 281-3.
  • 8. Lunn JV, Castellanos-Rosas J, Walch G. Arthroscopic synovectomy, removal of loose bodies and selective biceps tenodesis for synovial chondromatosis of the shoulder. J Bone Joint Surg Br. 2007;89(10): 1329-35.
  • 9. Sah AP, Geller DS, Mankin HJ, Rosemberg AE, Delaney TF, Wright CD, Hornicek FJ. Malignant transformation of synovial chondromatosis of the shoulder to chondrosarcoma. A case report. J Bone Joint Surg Am. 2007;89(6):1321-8.
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    Rua Ramalhete 550/500, Serra – 30210-500 – Belo Horizonte, MG.
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    Trabalho realizado no Grupo de Cirurgia de Ombro e Cotovelo do Serviço de Ortopedia e Traumatologia da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2008
    • Data do Fascículo
      Abr 2008

    Histórico

    • Aceito
      08 Abr 2008
    • Recebido
      30 Out 2007
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