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Tratamento cirúrgico da rizartrose: trapezectomia com ou sem ligamentoplastia versus prótese total

Resumos

OBJETIVO: O objetivo deste estudo consiste em rever os casos submetidos a tratamento cirúrgico por duas técnicas: trapezectomia com ou sem ligamentoplastia e artroplastia com implante. MÉTODOS: Foram avaliadas 52 mãos tratadas cirurgicamente por rizartrose entre 1995 a 2008: 32 trapezectomias com ou sem ligamentoplastia (grupo A) e 20 artroplastias com implante (grupo B). Follow-up médio: grupo A - 72 meses, grupo B - 23 meses. Não houve resultados significativamente diferentes quanto à dor, atividades da vida diária, mobilidade e força. No estudo radiográfico, a altura escafometacarpiana foi mais preservada no grupo B. O tempo médio de recuperação foi de 10 semanas no grupo A e de 4,5 no grupo B. Foram registradas quatro complicações: um caso de algoneurodistrofia no grupo A e 2 casos de luxação e um caso de fratura do trapézio no grupo B. RESULTADOS: O resultado das próteses superam o tratamento tradicional da rizartrose com trapezectomia com ou sem ligamentoplastia pela rápida recuperação que proporcionam. CONCLUSÃO: Contudo, a sua aplicação deve ser criteriosa, pois existe potencial de complicações relacionadas com os implantes.

Osteoartrite; Trapézio; Artroplastia


OBJECTIVE: The aim of this study was to review cases that underwent surgical treatment using two techniques: trapeziectomy with or without ligamentoplasty and arthroplasty with implant. METHODS: Fifty-two hands that were surgically treated for rhizarthrosis between 1995 and 2008 were evaluated: 32 cases of trapeziectomy with or without ligamentoplasty (group A) and 20 with implant arthroplasty (group B). The mean follow-up for group A was 72 months and for group B, 23 months. There were no significantly different results with regard to pain, activities of daily living, mobility or strength. In the radiographic evaluation, it was found that the scaphometacarpal height was better preserved in group B. The mean time taken to achieve recovery was 10 weeks in group A and 4.5 in group B. Four cases with complications were recorded: one case of algoneurodystrophy in group A and two cases of dislocation and one case of fracture of the trapezium in group B. RESULTS: The results from prostheses were better than the results from the traditional treatment for rhizarthrosis using trapeziectomy with or without ligamentoplasty because of the rapid recovery that prostheses provide. CONCLUSION: However, prostheses should be applied carefully, because there is a potential for complications relating to the implants.

Osteoarthritis; Trapezium; Arthroplasty


ARTIGO ORIGINAL

Tratamento cirúrgico da rizartrose: trapezectomia com ou sem ligamentoplastia versus prótese total

Surgical treatment of rhizarthrosis: trapeziectomy with or without ligamentoplasty versus total prosthesis

Claudia SantosI; Manuel Alexandre PereiraI; Luis Fernando Nunes Pires SilvaI; Rui Miguel Teixeira ClaroII; Miguel Nuno Albuquerque Cardoso TrigueirosII; Joaquim César Ferreira da SilvaIII

IInterno Complementar de Ortopedia. Serviço de Ortopedia do Hospital Santo António, Porto - Portugal

IIAssistente Hospitalar de Ortopedia. Serviço de Ortopedia do Hospital Santo António, Porto - Portugal

IIIAssistente Hospitalar Graduado de Ortopedia. Serviço de Ortopedia Santo António, Porto - Portugal

Correspondência Correspondência: Serviço de Ortopedia. Hospital Santo António Largo Professor Abel Salazar 4099-001 Porto E-mail: claudsantos@hotmail.com

RESUMO

OBJETIVO: O objetivo deste estudo consiste em rever os casos submetidos a tratamento cirúrgico por duas técnicas: trapezectomia com ou sem ligamentoplastia e artroplastia com implante.

MÉTODOS: Foram avaliadas 52 mãos tratadas cirurgicamente por rizartrose entre 1995 a 2008: 32 trapezectomias com ou sem ligamentoplastia (grupo A) e 20 artroplastias com implante (grupo B). Follow-up médio: grupo A - 72 meses, grupo B - 23 meses. Não houve resultados significativamente diferentes quanto à dor, atividades da vida diária, mobilidade e força. No estudo radiográfico, a altura escafometacarpiana foi mais preservada no grupo B. O tempo médio de recuperação foi de 10 semanas no grupo A e de 4,5 no grupo B. Foram registradas quatro complicações: um caso de algoneurodistrofia no grupo A e 2 casos de luxação e um caso de fratura do trapézio no grupo B.

RESULTADOS: O resultado das próteses superam o tratamento tradicional da rizartrose com trapezectomia com ou sem ligamentoplastia pela rápida recuperação que proporcionam.

CONCLUSÃO: Contudo, a sua aplicação deve ser criteriosa, pois existe potencial de complicações relacionadas com os implantes.

Descritores: Osteoartrite; Trapézio; Artroplastia

ABSTRACT

OBJECTIVE: The aim of this study was to review cases that underwent surgical treatment using two techniques: trapeziectomy with or without ligamentoplasty and arthroplasty with implant.

METHODS: Fifty-two hands that were surgically treated for rhizarthrosis between 1995 and 2008 were evaluated: 32 cases of trapeziectomy with or without ligamentoplasty (group A) and 20 with implant arthroplasty (group B). The mean follow-up for group A was 72 months and for group B, 23 months. There were no significantly different results with regard to pain, activities of daily living, mobility or strength. In the radiographic evaluation, it was found that the scaphometacarpal height was better preserved in group B. The mean time taken to achieve recovery was 10 weeks in group A and 4.5 in group B. Four cases with complications were recorded: one case of algoneurodystrophy in group A and two cases of dislocation and one case of fracture of the trapezium in group B.

RESULTS: The results from prostheses were better than the results from the traditional treatment for rhizarthrosis using trapeziectomy with or without ligamentoplasty because of the rapid recovery that prostheses provide.

CONCLUSION: However, prostheses should be applied carefully, because there is a potential for complications relating to the implants.

Keywords: Osteoarthritis; Trapezium; Arthroplasty

INTRODUÇÃO

O conceito de artroplastia com implante surgiu em 1960 como alternativa à trapezectomia, para evitar o encurtamento e instabilidade do polegar(1,3). Swanson em 1970 introduziu o implante de silicone, que foi rapidamente abandonado por causar erosão óssea e sinovite marcada. Atualmente, é reservada para alguns casos de artrite reumatoide. Em 1979, Caffiniére publica os primeiros trabalhos de prótese total da trapeziometacarpiana utilizando um desenho semelhante à da prótese do quadril, com uma taça de polietileno no trapézio que articula com a cabeça do componente metálico do primeiro metacarpiano(1,2).

Esta inovação no tratamento cirúrgico da rizartrose trouxe uma grande controvérsia, uma vez que existem poucos estudos que demonstrem a superioridade da artroplastia em relação à trapezectomia. O tempo de recuperação parece ser mais curto no caso das próteses, mas a longevidade dos implantes ainda não é conhecida(4).

Os autores pretendem com este estudo comparar os resultados clínicos e radiográficos entre a trapezectomia com ou sem ligamentoplastia e artroplastia com implante do tipo ball-and-socket para o tratamento de rizartrose idiopática.

MATERIAL E MÉTODOS

De janeiro de 1995 a outubro de 2008, foram operados 74 doentes por rizartrose grau III e IV da classificação de Eaton e Litter. Quarenta e sete doentes compareceram à consulta de revisão. Destes, sete foram excluídos por se tratarem de artrodese, próteses de silicone e próteses de resurfacing e 12 foram operados bilateralmente.

No total foram avaliados 40 doentes e 52 mãos. Dividimos os doentes em dois grupos, dependendo do tipo de procedimento cirúrgico. Trinta e duas mãos foram submetidas à trapezectomia isolada ou associada à liga-mentoplastia segundo a técnica de Sigfuson-Lundborg(5) (grupo A) e 20 mãos foram submetidas à artroplastia TMC tipo ball-and-socket (grupo B). Os critérios de inclusão para artroplastia foram: doentes de sexo feminino, bom stock ósseo, sem doença inflamatória sistêmica e doentes com poucas exigências laborais manuais. Os doentes com prótese foram imobilizados com tala gessada durante aproximadamente duas semanas e os da trapezectomia com ou sem ligamentoplastia durante aproximadamente três semanas.

O tempo médio de seguimento foi de 72 meses no grupo A e 23 meses no grupo B. No grupo A foram operados quatro doentes do sexo masculino e 18 do sexo feminino. No grupo B foram operados 18 doentes do sexo feminino. Quanto à idade média, na altura da cirurgia foi de 60 anos no grupo A e de 62 anos no grupo B (Tabela 1). Dois doentes foram operados bilateralmente com duas técnicas diferentes (Tabela 2 e Figura 1).


O resultado do tratamento foi avaliado segundo critérios clínicos e radiográficos, e foi utilizada a escala funcional de Quick-Dash. A avaliação clínica foi baseada em quatro itens: dor, função, mobilidade e força. A avaliação radiográfica foi realizada no pré e no pós-operatório, com incidências de frente, perfil e em stress. Foi calculada a diferença de altura da coluna escafometacarpiana (linha que une o ponto mais distal do escafoide ao ponto mais distal do primeiro metacarpiano) entre as duas mãos do mesmo doente (Figura 2). O estudo de imagem permitiu também avaliar a colocação dos implantes, presença de linhas de radioluzência e a preservação da altura da coluna escafometacarpiana.


A mobilidade da articulação TMC foi medida em duas direções: abdução radial e abdução palmar.

Em todos os doentes foi medida a força de preensão e de pinça utilizando o mesmo dinamômetro (Jamar ® Hand Dynamometer - 5030J1).

RESULTADOS

Os resultados, no que diz respeito à dor (Tabela 3), atividades de vida diária (Tabela 4) e mobilidade e força do polegar (Tabela 5) não foram significativamente diferentes nos dois grupos.

A dor foi avaliada segundo a escala visual de dor, variando entre 0 e 10 pontos, correspondendo a ausência de dor e dor máxima, respectivamente.

A avaliação funcional baseou-se na possibilidade de executar atividades de vida diária, tais como: apanhar moedas, abrir uma tampa de garrafa, rodar uma chave na fechadura, abotoar/desabotoar uma peça de roupa e escrever.

Quanto à altura da coluna escafometacarpiana, verificamos que a diferença entre a mão operada e a não operada foi em média -0,269cm no grupo A e 0,036cm no grupo B. Isto é, existe diminuição da altura da coluna escafometacarpiana no grupo das trapezectomias e preservação no grupo das próteses.

Quanto ao tempo de recuperação, os doentes do grupo A requerem, em média, 10 semanas para retomar as atividades de vida diária, e os doentes do grupo B, 4,5 semanas.

Dois doentes foram operados bilateralmente com duas técnicas diferentes. A mão submetida à artroplastia com implante apresenta melhor abdução radial e palmar, força de preensão e de pinça e uma maior altura escafometacarpiana (Tabela 2 e Figura 1).

Na avaliação radiográfica das próteses verificou-se uma calcificação heterotópica e três casos de linhas radioluzentes peritrapézio. Só um apresenta dor à mobilização, estando os restantes assintomáticos e satisfeitos com o tratamento.

Foram registradas quatro complicações: um caso de algoneurodistrofia no grupo A e duas luxações e uma fratura do trapézio no grupo B. Só um doente necessitou de cirurgia de revisão. A algoneurodistrofia foi resolvida após um ano de tratamento médico. Uma luxação foi tratada com redução fechada e a outra com redução aberta e remoção de osteófito volar do trapézio. A fratura do trapézio foi detectada intraoperatoriamente durante a colocação do implante e foi tratada com imobilização pós-operatória, apresentando boa evolução.

A escala de Quick-Dash foi em média 45,6 no grupo A e 41,7 no grupo B.

O grau de satisfação subjetiva foi sobreponível nos dois grupos (Tabela 6).

DISCUSSÃO

As duas técnicas (trapezectomia com ou sem ligamentoplastia versus prótese total) não diferem significativamente quanto à dor, mobilidade, força e destreza nas atividades da vida diária(4,6). As pequenas diferenças encontradas entre os dois grupos talvez estejam relacionadas com a diferença de follow-up entre eles. Os doentes submetidos à trapezectomia com ou sem ligamentoplastia têm um follow -up mais longo, pelo que poderão ter mais tempo para adaptação.

A artroplastia com implante permite manter a coluna escafometacarpiana, embora não tenha sido possível relacionar com melhores resultados clínicos e maior estabilidade(7). Tem maior custo e maior risco de complicações, nomeadamente luxações e descelagens(8). De referir que obtivemos 15% de complicações com o grupo das próteses, das quais 10% (dois doentes) foram luxações, com necessidade de revisão cirúrgica em apenas um.

A grande vantagem da artroplastia com implante é o retorno mais precoce às atividades da vida diária(9,10).

Não foi o âmbito deste estudo comparar a trapezectomia isolada com a trapezectomia associada a ligamentoplastia, nem comparar os diferentes tipos de implantes.

CONCLUSÃO

A artroplastia com implante para o tratamento da rizartrose é uma atitude atrativa pela rápida recuperação que proporciona. Contudo, a sua aplicação deve ser criteriosa, pois os resultados a longo prazo e a taxa de revisão cirúrgica ainda permanecem desconhecidos. Deverá, na opinião dos autores, ser reservada a mulheres com idade superior a 60 anos e evitada em doentes jovens e de sexo masculino com atividades de vida diária exigentes.

Trabalho recebido para publicação: 14/04/10, aceito para publicação: 04/11/10.

Trabalho realizado no Serviço de Ortopedia. Hospital Santo António. Centro Hospitalar do Porto, Portugal.

Declaramos inexistência de conflito de interesses neste artigo

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  • 2. Nicholas RM, Calderwood JW. De la Caffinière arthroplasty for the basal thumb joint osteoarthritis. J Bone Joint Surg Br. 1992;74(2):309-12.
  • 3. Pellegrini VD Jr, Burson RI. Surgical management of the basal joint arthritis of the thumb: Part I. Long-term results of silicone implant arthroplasty. J Hand Surg Am. 1986;11(3):309-24.
  • 4. Brutus JP, Kinnen L. Remplacement prothétique total de la trapézométacarpienne au moyen de la prothèse ARPE dans le traitement de la rhizarthrose: notre expérience à court terme dans une série personnelle de 63 cas consécutifs. Chir Main. 2004;23(5):224-8.
  • 5. Sigfusson R, Lundborg G. Abductor pollis longus tendon arthroplasty for treatment of the arthrosis in the first carpometacarpal joint. Scand J Plast Reconstr Surg Hand Surg. 1991;25(1):73-7.
  • 6. Moutet F, Lignon J, Oberlin C, Alnot JY, Sartorius C. Les prothèses totales trapézo-métacarpiennes. Résultats de l'étude multicentrique (106 cas). Ann Chir Main Memb Super. 1990;9(3):189-94.
  • 7. kadiyala RK, Gelbermann RH, Kwon B. Radiografic assessment of the trapezial space before and after ligament reconstruction and tendon interposition arthroplasty. J Hand Surg Br. 1996;21(2):177-81.
  • 8. Van Capelle HGJ, Elzenga P, Von Horn JR. Long-term results and loosening analysis of the De La Caffinière replacements of the trapeziometacarpal joint. J Hand Surg Am. 1999;24(3):476-82.
  • 9. Wahl SW, Sunward GR. Non-cemented replacement of the trapeziometacarpal joint. J Bone Joint Surg Br. 1996;78(5):787-92.
  • 10. Wachtl SW, Guggenheim PR, Sennwald GR. Cemented and noncemented replacements of the trapeziometacarpal joint. J Bone Joint Surg Br. 1998;80(1):121-5.
  • Correspondência:

    Serviço de Ortopedia. Hospital Santo António
    Largo Professor Abel Salazar
    4099-001 Porto
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Jun 2011
    • Data do Fascículo
      2011

    Histórico

    • Recebido
      14 Abr 2010
    • Aceito
      04 Nov 2010
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