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Luxação acromioclavicular tipo VI associada à fratura diafisária da clavícula

Resumos

O objetivo é apresentar um caso muito raro de luxação inferior da articulação acromioclavicular (AAC) associada à fratura da clavícula. Trata-se de um paciente jovem que sofreu queda de bicicleta e evoluiu com esse tipo de patologia. Foi operado e obtido ótimo resultado clínico. A literatura cita vários casos de luxação subcoracoide, mas existem somente dois casos subacromiais semelhantes ao nosso. É descrito o caso, feita uma revisão literária e discutido o tratamento.


The purpose is to present a very unusual case of the acromioclavicular joint inferior dislocation associated with the clavicle fracture. It concerns to a young patient who had a bike fall and had this type of pathology, had been operated and obtained excellent clinic result. The literature mentions many cases of subcoracoide dislocation, but there are only two subacromial similar to ours. The case is described, a literary revision is done and discussed and the treatment is discussed.

Acromioclavicular articulation /surgery; Clavicle/injuries Dislocations


Introdução

A luxação acromioclavicular (LAC) representa umas das patologias traumáticas mais antigas registradas na literatura, sendo sua frequência de 5 a 10 vezes maior no sexo masculino.1 A causa mais comum de sua ocorrência é a queda sobre o ombro com o braço aduzido, porém traumas indiretos também podem lesar essa articulação.1

As luxações acromioclaviculares são classificadas em seis tipos, segundo Rockwood et al.,2 sendo que o tipo VI é dividido em subacromial e subcoracoide.

O primeiro caso descrito de luxação inferior da clavícula (subcoracoide) foi em 1967 por Patterson,3 que descreve o mecanismo de luxação subcoracoide ser devido a uma hiperabdução forçada do braço associada a retração da escápula. Esse mecanismo poderia lesar o nervo acessório. Essa lesão ocorre geralmente em politraumatizados, podendo estar associada também à fratura do acrômio, da clavícula, escápula e/ou de arcos costais.4

Na luxação subacromial não há descrição do mecanismo de trauma específico, mas pelas características das lesões ocorridas na fratura da diáfise da clavícula associada à luxação inferior da AAC sugere ser o mesmo causado nas fraturas segmentares, onde haveria vários traumas na clavícula.5

Relatamos um caso raro de um jovem que apresentou LAC subacromial associada a fratura diafisária incompleta com desvio da clavícula, tratado cirurgicamente com resultado satisfatório.

Relato do caso

Paciente masculino de 19 anos sofreu queda de bicicleta e foi levado ao Pronto Socorro com queixa isolada de dor na clavícula direita. Exame clínico não apresentava déficit neurovascular local ou patologias associadas. Ao fazer o exame radiográfico digital da clavícula apresentou fratura incompleta da diáfise com desvio póstero-inferior e consequente luxação da extremidade lateral da clavícula para o espaço subacromial e posteriormente (Figs. 1A e 1B). Clinicamente havia proeminência da região medial do acrômio e desvio inferior da extremidade distal da clavícula. Paciente queixava-se de muita dor local e importante limitação dos movimentos.

Fig. 1A
Fratura diafisária incompleta da clavícula direita e a luxação inferior da AC.

Fig. 1B
Imagem obtida da radioscopia mostrando o desvio posterior da AC.

Foi optado pelo tratamento cirúrgico, sendo feita a redução cirúrgica da LAC e da fratura da clavícula com manobra manual. Como a fratura diafisária era em galho verde, a redução foi fácil e estável. Havia integridade dos ligamentos coracoclaviculares e lesão do ligamento AC. Foi suturado o ligamento AC e essa articulação foi fixada com dois fios de Steinmann (Fig. 2). Esses fios foram retirados após sete semanas com anestesia local e o paciente foi encaminhado à fisioterapia. O exame radiológico digital facilitou a avaliação das duas patologias, não sendo necessário exame distinto de cada patologia.5 O resultado final após doze meses apresentou um ótimo resultado clínico e radiográfico (Fig. 3).

Fig. 2
Redução da LAC e da fratura da clavícula.

Fig. 3
Resultado final da fratura e LAC.

Discussão

Na revisão bibliográfica, encontramos 11 artigos de LAC tipo VI, sendo cinco com deslocamento inferior ao coracoide3,4,6-8 e seis subacromiais. Desses, três artigos são referentes a luxação recorrente da AC,8-10 dois apresentam associação com fratura diafisária da clavícula11,12 e um com luxação subacromial encarcerada.1

Koka e D'Arcy11 descrevem a presença de LAC subacromial associada a fratura diafisária completa da clavícula com desvio. Feito tratamento cirúrgico semelhante ao descrito em nosso relato, com um excelente resultado funcional.

Juhn e Simonian12 descrevem um caso de fratura diafisária em galho verde da clavícula com boa evolução após o tratamento clínico. No dia seguinte ao trauma o paciente já apresentava bom arco de movimento, motivo pelo qual se optou pelo tratamento conservador.

Assim como Juhn e Simonian,12 concordamos com que a classificação da LAC deveria ser classificada em Tipo VI - A para a subacromial e Tipo VI - B subcoracoide.

Portanto, conforme alguns autores1,2,4,8,10,11 achamos que o tratamento cirúrgico para lesões inferiores da articulação AC asseguram um resultado funcional satisfatório.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2013

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2011
  • Aceito
    21 Dez 2011
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