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Tratamento da fasciíte plantar crônica pela terapia de ondas de choque: avaliação morfológica ultrassonográfica e funcional Trabalho realizado no Hospital IFOR, São Bernardo do Campo, SP, Brasil.

Resumos

Objetivo:

Este trabalho teve como objetivo analisar prospectivamente os resultados do tratamento com terapia de ondas de choque (TOC) em pacientes portadores de fasciíte plantar crônica resistente ao tratamento conservador.

Métodos:

Obtivemos 30 pacientes (36 pés), 16 (53,3%) do sexo masculino e 14 (47,7%) do feminino, cuja idade, em média, foi de 48,37 anos, com variação de 33 a 78 anos; 16 (53,3%) apresentavam a afecção no pé esquerdo, 14 (46,7%) no direito e seis (20%) bilateralmente; a sintomatologia variou de seis a 60 meses, com média de 13,58 meses. Os pacientes foram submetidos a uma sessão semanal de TOC por quatro semanas consecutivas. Mensuramos a espessura da fáscia plantar em milímetros pelo ultrassom e usamos a escala da American Orthopaedic Foot and Ankle Society (AOFAS) para tornozelo e retropé e a escala de Roles & Maudsley nos momentos pré-TOC, após o primeiro, o terceiroeosexto meses após a aplicação.

Resultados:

Observamos melhoria dos critérios avaliados (p < 0,001) e da espessura da fáscia plantar pelo ultrassom (p = 0,011) nos diferentes momentos estudados.

Conclusão:

A TOC pode ser considerada importante instrumento no tratamento primário ou adjuvante da fasciíte plantar crônica, quando aliada às terapias convencionais. Essa metodologia é segura, não invasiva e promove reabilitação e retorno precoces às atividades habituais pelos resultados das análises estatísticas. Proporciona também redução da espessura da fáscia plantar.

Fasciíte plantar ; Ondas de choque de alta energia/uso terapêutico ; Ultrassonografia ; Avaliação ; Morfologia


Objective:

This paper has the purpose to analyze prospectively the treatment results in patients with chronic plantar fasciitis resistant to conservative treatment who underwent extracorporeal shock wave therapy (ESWT).

Methods:

We evaluated 30 patients (36 feet); 16 (53.3%) patients were male and 14 (47.7%) female with mean age of 48.7 y.o., varying from 33 to 78 y.o.; 16 (53.3%) present the problem on the left side, 14 (46.7%) on the right ones and 6 (20%) bilateral; the symptomatology varied from 6 to 60 months, with the average of 13.58 months. These patients were submitted to a weekly ESWT session for 4 consecutive weeks. We measured the plantar fascia thickness millimeters with ultrasound and we applied American Orthopaedic Foot and Ankle Society (AOFAS) scale for ankle and hindfoot, and Roles & Maudsley scales in pre ESWT, after one, three and six months after and decrease in the plantar fascia thickness by the ultrasound (p = 0.011) along the different moments studied.

Results:

We observed improvement of the evaluated criteria (p < 0.001) and plantar fascia thickness by ultrasound (p = 0.011) at different time points studied.

Conclusion:

The ESWT can be considered an important tool in the primary or adjuvant treatment of the chronic plantar fasciitis when associated with conventional therapies. This methodology is safe, non-invasive and provides precocious rehabilitation and return to regular activities considering the results of the statistical analysis. This resource provides decrease in the thickness of the plantar fascia.

Fasciitis, plantar; High energy shock waves/therapeutic use; Ultrasonography ; Evaluation ; Morphology


Introdução

A fasciíte plantar caracteriza-se por ser uma afecção degenerativa da aponeurose plantar proximal, cujo local mais frequente de envolvimento é junto à tuberosidade medial do calcâneo. Os achados patológicos dessa entidade nosológica incluem mudanças degenerativas teciduais caracterizadas pela proliferação fibroblástica e presença de tecido inflamatório.1 1. Jarde O, Diebold P, Havet E, Boulu G, Vernois J. Degenerative lesions of the plantar fascia: surgical treatment by fasciectomy and excision of the heel spur: a report on 38 cases. Acta Orthop Belg. 2003;69(3):267 -74.

2. Leach RE, Seavey MS, Salter DK. Results of surgery in athletes with plantar fasciitis Foot Ankle. 1986;7(3):156 -61.
- 33. Lemont H, Ammirati KM, Usen N. Plantar fasciitis: a degenerative process (fasciosis) without inflammation. J Am Podiatr Med Assoc. 2003;93(3):234 -7. Admite-se atualmente que essa fasciopatia seja enquadrada como uma das entesopatias, ainda que sua fisiopatologia seja mal compreendida.

São descritas diversas opções terapêuticas, das quais o tratamento conservador é tido como o principal método de escolha. Tem-se obtido um resultado satisfatório em cerca de 90% dos pacientes.

Preconiza-se o uso de medicamentos anti-inflamatórios, analgésicose infiltraçõeslocais com corticoides e PRP (plasma rico em plaquetas). E também o uso de palmilhas, calcanheiras, talas e órteses noturnas, bem como da fisioterapia, com o propósito de auxiliar a remissão do quadro inflamatório e álgico.4 4. Gill LH. Plantar fasciitis: diagnosis and conservative management. J Am Acad Orthop Surg. 1997;5(2):109 -17.

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Mais recentemente, alguns estudos demonstram eficácia com a aplicação de membrana amniótica humana desidratada (dHAM). Outros estudos demonstram eficácia similar com a aplicação de ácido hialurôrico de alto peso molecular. Mudanças nos hábitos de vida, como diminuição do peso, uso de calçados adequados, assim como a mudança postural durante o trabalho,7 7. Furey JG. Plantar fasciitis: the painful heel syndrome. J Bone Joint Surg Am. 1975;57(5):672 -3.

8. Martin RL, Irrgang MS, Conti SF. Outcome study of subjects with insertional plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 1998;19(12):803 -11.

9. Shikoff MD, Figura MA, Postar SE. A retrospective study of 195 patients with heel pain. J Am Podiatr Med Assoc. 1986;76:71 -5.
- 1010. Wolgin M, Cook C, Graham C, Mauldin D. Conservative treatment of plantar heel pain: long-term follow-up. Foot Ankle Int. 1994;15(3):97 -102. são também recomendadas.

Os outros 10% dos pacientes remanescentes, sem resolução com o tratamento conservador, podem ser considerados casos de fasciopatias recalcitrantes. Nesses casos, o tratamento cirúrgico pode ser útil por meio da liberação aberta ou endoscópica da fáscia plantar1111. Barrett SL, Day SV, Pignetti TT, Robinson LB. Endoscopic plantar fasciotomy: a multi-surgeon prospective analysis of 652 cases. J Foot Ankle Surg. 1995;34(4):400 -6. com exérese do tecido patológico. Em alguns casos específicos, a descompressão nervosa simultânea está indicada.

Na tentativa de se evitar um procedimento invasivo, inúmeros estudos sobre o uso da TOC nos casos crônicos têm mostrado sua eficácia na melhoria sintomática e na qualidade de vida dos pacientes portadores dessa afecção. A TOC tem por princípio básico estimular o processo de regeneração tecidual nos ossos e nos tendões.1212. Hammer DS, Rupp S, Kreutz A, Pape D, Kohn D, Seil R. Extracorporeal shockwave therapy (ESWT) in patients with chronic proximal plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2002;23(4):309 -13. , 1313. Rompe JD, Hopf C, Nafe B, Burger R. Low-energy extracorporeal shock wave therapy for painful heel: a prospective controlled single-blind study. Arch Orthop Trauma Surg. 1996;115(2):75 -9. Sua eficácia é notada principalmente nos tecidos que envolvem o osso e os tendões e também na interface osso-tendão (enteses). A liberação de radicais livres, óxido nítrico (NO) e substância P no local da aplicação, bem como a inibição da enzima COX II, produz efeito antiinflamatório.1212. Hammer DS, Rupp S, Kreutz A, Pape D, Kohn D, Seil R. Extracorporeal shockwave therapy (ESWT) in patients with chronic proximal plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2002;23(4):309 -13. , 1313. Rompe JD, Hopf C, Nafe B, Burger R. Low-energy extracorporeal shock wave therapy for painful heel: a prospective controlled single-blind study. Arch Orthop Trauma Surg. 1996;115(2):75 -9. Análises microscópicas experimentais em tecidos submetidos previamente à TOC demonstram intensamente o aumento da neovascularização e da angiogênese.

Este trabalho foi feito com o objetivo de analisar prospectivamente, por meio de métodos validados de avaliação, os resultados do tratamento com TOC em pacientes portadores de fasciopatia recalcitrante.

Material e métodos

Inicialmente foi delineado um projeto de pesquisa que foi submetido à avaliação do Comitê Científico do Hospital Ifor e permitida a sua execução.

Em um estudo prospectivo, foram avaliados pacientes portadores de fasciíte plantar crônica que não tivessem respondido satisfatoriamente às medidas terapêuticas conservadoras, nas quais métodos tradicionais, como medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, fisioterapia e uso adicional de órteses ou palmilhas, foram sistematicamente aplicados.

Como critérios de inclusão consideramos pacientes de ambos os sexos nos quais o diagnóstico da fasciíte plantar foi feito por meio de avaliação clínica e de imagem, com evolução superior a seis meses. Não foram incluídos indivíduos portadores de outras afecções concomitantes do pé e do tornozelo, com comorbidades como diabetes mellitus, neuropatias, pé insensível, portadores de cirurgias prévias e que não aceitassem participar do estudo após terem lido o termo de esclarecimento e consentimento.

Logo, compilamos 30 pacientes (36 pés), 16 (53,3%) do sexo masculino e 14 (47,7%) do feminino, cuja idade, em média, foi de 48,37 anos, com variação de 33 a 78 anos. Com relação à lateralidade, observamos que 16 pacientes (53,3%) apresentavam a afecção no pé esquerdo e 14 (46,7%) no pé direito e a bilateralidade ocorreu em seis (20%) situações. O índice de massa corpórea (IMC) variou de 20,89 a 40,60kg/m2, com média de 28,48 kg/m2. A sintomatologia, em nossa amostra, variou de seis a 60 meses, com média de 13,58 meses.

Fizemos exame radiográfico dos pés com sustentação da carga no lado acometido pela afecção. Observamos que dos 30 pacientes avaliados, 16 (53,3%) apresentavam osteófito plantar no calcâneo e a média do comprimento desses osteófitos foi de 0,5 cm ao avaliarmos os exames radiográficos dos pés.

Os pacientes foram submetidos a uma sessão semanal de TOC por quatro semanas consecutivas. O aparelho usado no estudo foi o Swiss Dolorcast(r), da empresa suíça EMS. Usouse o gerador do tipo radial e foram feitos em cada sessão dois mil impulsos, na pressão de 0,18 mj por milímetro quadrado. O local de aplicação dessa terapia correspondeu ao ponto mais doloroso do pé que foi apontado pelo paciente. Para sua aplicação,desenvolvemos um diagrama, compostoporquatro quadrantes (fig. 1). Os quadrantes ímpares (1 e 3) correspondem à região plantar medial distal e proximal e os pares (2 e 4) encontram-se na região plantar lateral distal e proximal do calcâneo. Observamos que 17 (56,6%) pacientes apontaram o quadrante número 3 como sendo o mais doloroso, nove (30%) o número 1, quatro (13,3%) o número2eum (3,3%) o número 4.

Figura 1
Diagrama da região plantar do calcanhar dividido em quadrantes. Quadrante 1 - plantar medial distal; Quadrante 2 - plantar lateral distal; Quadrante 3 - plantar medial proximal; Quadrante 4 - plantar lateral proximal.

Usamos para a avaliação dos resultados, após tratamento dos pacientes, a escala da American Orthopaedic Foot and Ankle Society (AOFAS) (anexo 1) para avaliação do tornozelo e do retropé e o método de avaliação do Roles & Maudsley Score (fig. 2). A aplicação desses questionários foi feita por profissional que não fez o tratamento com TOC.

Figura 2
Avaliação de Roles & Maudsley.

A avaliação da fáscia plantar foi feita por um único pro-fissional da área de diagnóstico por imagem com o uso da ultrassonografia da região plantar dos pés, na qual foi aferida a espessura dessa estrutura anatômica em quatro momentos: previamente ao tratamento, com 30 dias, 90 dias e 180 dias após tratamento.

Foi usado um aparelho de ultrassom com transdutor de alta frequência (7-12 MHz). Foi feita a medida transversal, em milímetros, da fáscia plantar a um centímetro do ponto de maior sombra acústica, que corresponde ao tubérculo calcâneo. A aplicação da TOC foi feita por um único profissional.

Os resultados obtidos foram compilados e analisados estatisticamente por um profissional especializado nessa área.

Resultados

A tabela 1 demonstra os resultados descritivos, que levaram em consideração o lado acometido pela afecção, a bilateralidade e os quadrantes em que foram aplicadas as ondas de choque.

Tabela 1
Frequências absolutas e relativas das variáveis

A tabela 2 demonstra o valor da espessura da fáscia plantar nos diferentes momentos de avaliaçãoeoresultado da análise estatística. Pela análise de variância com medidas repetidas observamos que houve alteração significante dos resultados ultrassonográficos (p = 0,011) quando comparamos os diferentes momentos entre as avalições. O exame feito no primeiro mês difere dos exames feitos no terceiro mês (p = 0,003) e no sexto mês (p = 0,003), com valores significantes maiores quando comparados aos outros dois.

Tabela 2
Valores descritivos do USG

A figura 3 apresenta a evolução da espessura ultrassonográfica nos diferentes momentos.

Figura 3
Representação gráfica da evolução da USG.

A tabela 3 mostra os resultados pela análise de variância com medidas repetidas, nos quais observamos que há alteração significante dos resultados da escala AOFAS ao longo das avaliações (p<0,001). O momento anterior ao tratamento apresenta diferença significante quando comparamos os demais momentos (um mês: p < 0,001, três meses: p < 0,001 e seis meses: p < 0,001). O valor pré-TOC é significantemente menor quando comparado aos demais momentos. No primeiro mês de avaliação há diferença estatisticamente significante quando comparados aos demais momentos (três meses: p < 0,001 e seis meses: p < 0,001). No primeiro mês os resultados são significantemente menores quando comparados ao terceiro e ao sexto meses de seguimento. Os valores obtidos no terceiro mês de avaliação são significantemente maiores do queosapresentadosnosextomêsdeavaliação(p<0,001).

Tabela 3
Valores descritivos da AOFAS

A figura 4 demonstra os resultados da escala AOFAS nos diferentes momentos da avaliação.

Figura 4
Representação gráfica da evolução da escala AOFAS.

A tabela 4 demonstra os resultados da análise estatística pela escala de Roles & Maudsley quando usado o teste não paramétrico de Friedman e observamos que houve alteração significante ao longo das avaliações (p<0,001). O momento pré-TOC não apresentou diferença estatística significante quando comparado ao primeiro mês de evolução (p>0,05). Houve diferença no terceiro mês (p<0,05) e no sexto

Tabela 4
Valores descritivos do R&M

Discussão

O uso da TOC foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos,1414. Ogden JA, Alvarez R, Levitt R, Lee Cross GL, Marlow M. Shock wave therapy for chronic proximal plantar fasciitis. Clin Orthop Relat Res. 2001;387:47 -59. e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no Brasil.

O mecanismo exato do efeito da TOC nas afecções do aparelho locomotor ainda permanece indefinido.

Acredita-se que a onda de choque promova uma resposta biológica, na qual diversos fenômenos ocorrem: neovascularização, liberação de antígeno nuclear de proliferação celular, fatores de crescimento endotelial, óxido nitroso endotelial1515. Thiel M. Application of shock waves in medicine. Clin Orthop Relat Res. 2001;387:18 -21. (bloqueio do impulso nervoso) e proteína óssea morfogenética. Tais fenômenos promovem um aumento do aporte sanguíneo e do reparo ósseo e tendíneo. Microtraumas locais proporcionariam uma estimulação e ativação do processo de cicatrização tecidual que leva à ativação da proliferação de fibroblastoseàremoção dos depósitos calcáreos.1616. Kaya BK. Plantar fasciitis in athletes. J Sport Rehabil. 1996;5(4):305 -20.

A sua eficiência tem sido demonstrada no tratamento das diversas afecções do aparelho locomotor, entre as quais se destacam as pseudartroses, cuja taxa de sucesso é de aproximadamente 75%. Outras indicações incluem: necrose óssea, tendinoses (calcaneana), entesopatias insercionais, epicondilites, bursites e tendinite calcárea do ombro.1717. Benton-Weil W, Borrelli AH, Weil Jr LS, Weil Sr LS. Percutaneous plantar fasciectomy: a minimally invasive procedure for recalcitrant plantar fasciitis. J Foot Ankle Surg. 1998;37(4):269 -72.

Até o momento, a TOC demonstrou, em estudos preliminares, índices de 48% a 81% de sucesso na eliminação da dor.1212. Hammer DS, Rupp S, Kreutz A, Pape D, Kohn D, Seil R. Extracorporeal shockwave therapy (ESWT) in patients with chronic proximal plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2002;23(4):309 -13.

Considerando o benefício determinado pela TOC e o tempo de aplicação, observamos que existe uma progressão das taxas de sucesso que varia de 57% após três meses,1414. Ogden JA, Alvarez R, Levitt R, Lee Cross GL, Marlow M. Shock wave therapy for chronic proximal plantar fasciitis. Clin Orthop Relat Res. 2001;387:47 -59. 48%1818. Rompe JD, Kullmer K, Eysel P, Riehle HM, Burger R, Nafe B. Niedrigenergetische extrakorporale Stobwellentherapie (ESWT) beim plantaren fersensporn. Orthop Praxis. 1996;32(4):271 -5. a 83%1212. Hammer DS, Rupp S, Kreutz A, Pape D, Kohn D, Seil R. Extracorporeal shockwave therapy (ESWT) in patients with chronic proximal plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2002;23(4):309 -13. em seis meses, 58% em 12 meses1919. Krischek O, Rompe JD, Herbsthofer B, Nafe B. Symptomatische niedrig-energetische Stobwellentherapie bei Fersenschmerzen und radiologisch nachweisbarem plantaren Fersen-sporn. Z Orthop. 1998;136:169 -74. e 77,4% após 24 meses.1313. Rompe JD, Hopf C, Nafe B, Burger R. Low-energy extracorporeal shock wave therapy for painful heel: a prospective controlled single-blind study. Arch Orthop Trauma Surg. 1996;115(2):75 -9.

Esses resultados corroboram os dados observados em nosso trabalho, apesar de termos feito a avaliação até o sexto mês da aplicação.

A literatura aponta uma diversidade de benefícios quando usamos essa opção terapêutica. Como esse recurso decorre de uma intervenção não operatória, as complicações potenciais inerentes à cirurgia passam a não existir. O tempo de recuperação é significativamente menor e o indivíduo tem a possibilidade de retorno às suas atividades habituais no dia seguinte à aplicação.2020. Ogden JA, Alvarez RG, Marlow M. Shockwave therapy for chronic plantar fasciitis: a meta-analysis. Foot Ankle Int. 2002;23(4):301 -8. Consideramos, ainda, que esse recurso poderia ser usado como derradeiro antes de indicarmos um procedimento invasivo. A TOC tem demonstrado taxas de sucesso comparáveis às da cirurgia e de outras terapias convencionais.88. Martin RL, Irrgang MS, Conti SF. Outcome study of subjects with insertional plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 1998;19(12):803 -11. , 2121. Davies MS, Weiss GA, Saxby TS. Plantar fasciitis: how successful is surgical intervention? Foot Ankle Int. 1999;20(12):803 -7.

Como contraindicações à aplicação da TOC têm-se: discrasias sanguíneas, uso de anticoagulantes, portadores de tumores, vigência de processo infeccioso, crianças e adolescentes nos quais a fise ainda se mantém aberta.

Levando em conta o aspecto funcional da marcha, foi encontrado em um estudo que 51% dos pacientes submetidos ao tratamento foram capazes de caminhar sem dor após seis meses, em comparação com indivíduos que não foram tratados ou receberam placebo. Após cinco anos, 58% dos pacientes necessitaram ser submetidos à liberação cirúrgica de sua fáscia plantar, enquanto apenas 13% dos do grupo tratado pela TOC necessitaram desse recurso.2222. League AC. Current concepts review: plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2008;29(3):358 -66.

Em outro estudo no qual os autores usaram a escala AOFAS para comparar os resultados entre dois grupos não foram encontradas diferenças estatísticas significantes e os pacientes com fasciíte plantar crônica não demonstraram déficits significativos da amplitude de movimento antes ou depois do tratamento.2323. Theodore GH, Matthias B, Amendola A, Bachmann C, Fleming LL, Zingas C. Extracorporeal shock wave therapy for the treatment of plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2004;25(5): 290 -7.

Em nosso trabalho, quando usamos a escala AOFAS, observamos que houve melhoria progressiva dos resultados entre os diferentes momentos da avaliação (76,7%), de acordo com a figura 5.

Figura 5
Representação gráfica da evolução do R&M.

Alguns estudos apontam que o local ideal para a aplicação das ondas seria a extremidade do calcâneo ou o centro do esporão dessa estrutura óssea, pois essa porção corresponderia à parte mais espessa da fáscia plantar. Porém, outros consideram que o local ideal para a aplicação seria o ponto da origem da dor.2424. Dorotka R, Sabeti M, Jimenez-Boj E, Goll A, Schubert S, Trieb K. Location modalities for focused extracorporeal shock wave application in the treatment of chronic plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2006;27(11):943 -7.

Para avaliar a localização exata onde a aplicação é necessária, observamos autores que compararam os resultados terapêuticos quando o local de aplicação foi determinado pela fluoroscopia ou quando foi relatado pelo paciente. Como resultado, não foi observada diferença significativa na evolução clínica quando avaliados os diferentes métodos para identificar a melhor localização, embora os índices de sucesso fossem considerados excelentes ou bons, pelos critérios de Roles & Maudsley, após três meses da aplicação.2424. Dorotka R, Sabeti M, Jimenez-Boj E, Goll A, Schubert S, Trieb K. Location modalities for focused extracorporeal shock wave application in the treatment of chronic plantar fasciitis. Foot Ankle Int. 2006;27(11):943 -7.

Nossos resultados foram semelhantes ao usarmos esses critérios, com os quais observamos melhoria progressiva (fig. 6).

De acordo com a análise de nosso material, desenvolvemos um diagrama de quatro quadrantes, no qual a região mais apontada como sendo dolorosa foi a póstero-medial, que correspondeu a 54,8% das áreas de aplicação. Consideramos que essa metodologia seja reprodutível e determinou taxas favoráveis de bons resultados.

Sugere-se com isso que o uso da TOC deva ser considerado como opção terapêutica. Junto à TOC, orientou-se a feitura de exercícios domiciliares para alongamento da cadeia posterior. Estudos demonstraram que os resultados obtidos pelo uso concomitante da TOC com o alongamento da cadeia posterior são superiores àqueles analisados isoladamente.

A avaliação estrutural da fáscia plantar, considerando sua espessura, foi estudada pela ressonância magnética, na qual foram avaliados pacientes assintomáticos que foram submetidos previamente à liberação aberta ou endoscópica da fáscia plantar. A espessura dessa estrutura foi de duas a três vezes maior do que a normal, apesar da resolução completa do edema perifascial e da fáscia plantar.2525. Wang C-J, Chen H-S, Huang T-W. Shockwave therapy for patients with plantar fasciitis: a one-year follow-up study. Foot Ankle Int. 2002;23(3):204 -7.

Emnossoestudo,usamos umamensuração ultrassonográfica cuja avaliação foi sistematizada para ser efetuada 30, 90 e 180 dias após a aplicação da TOC. Observamos diminuição da espessura da fáscia plantar em nossos pacientes quando comparamos a espessura antes do início do tratamento. Esse fato foi interpretado pela redução do processo inflamatório e pelo estiramento da fáscia plantar, determinado pela maleabilidade e elasticidade próprias dessa estrutura.

Por meio desse recurso, não pudemos avaliar se o esporão do calcâneo determina alguma influência na distribuição e absorção das ondas de choque.

Porém, enfatizamos que os altos custos da ressonância magnética poderiam ser diminuídos pelo uso do ultrassom.

Com nosso estudo, entendemos que a TOC pode ser considerada um importante instrumento no tratamento primário ou adjuvante da fasciíte plantar crônica, quando aliada às terapias convencionais. Consideramos que essa metodologia é segura, não invasiva, não apresenta complicações significativas e promove uma reabilitação e um retorno precoce às atividades habituais.

Numa sociedade na qual o ritmo de trabalho aumenta assustadoramente, poucos são os indivíduos que conseguem ficar ausentes das atividades laborais por tempo prolongado. Nessa questão, a TOC demonstra ser um recurso eficaz, com o qual o paciente exime-se de um procedimento cirúrgico que o deixará afastado do trabalho por um longo período. Outro fator importante a ser considerado diz respeito aos elevados custos relacionados ao tratamento cirúrgico.

Conclusão

Este estudo demonstrou uma diminuição estatisticamente significante da espessura da fáscia plantar nos pacientes submetidos à TOC (p = 0,011).

De acordo com as escalas AOFAS para retropé e de Roles & Maudsley, os pacientes deste estudo obtiveram melhoria estatisticamente significante de seus escores (p < 0,001).

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Anexo 1.  Escala AOFAS de avaliação clínica do tornozelo e do retropé

  • Trabalho realizado no Hospital IFOR, São Bernardo do Campo, SP, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2013

Histórico

  • Recebido
    02 Abr 2013
  • Aceito
    11 Abr 2013
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