Acessibilidade / Reportar erro

Cisto ósseo aneurismático parosteal Trabalho feito no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

resumo

O cisto ósseo aneurismático tem uma incidência de 0,14 a cada 100 mil indivíduos. O subtipo parosteal é o menos prevalente, representa 7% de todos. Apresentamos um paciente mas culino, 38 anos, com dor e abaulamento em braço direito havia oito meses. Diagnosticado previamente como tumor de células gigantes, teve sua lâmina revisada e então foi feito o diagnóstico de cisto ósseo aneurismático parosteal. O paciente foi tratado com infiltração intralesional de corticosteroide e calcitonina e evoluiu com melhoria clínica e radiológica já nas primeiras cinco semanas pós-operatórias.

Palavras-chave:
Cisto ósseo aneurismático; Calcitonina; Corticosteroides; Infiltração.

ABSTRACT

The incidence of aneurysmal bone cysts is 0.14 cases per 100,000 individuals. Parosteal aneurysmal bone cysts are the least prevalent subtype and represent 7% of all aneurysmal bone cysts. We present the case of a 38-year-old male patient with pain and bulging in his right arm for eight months. He had previously been diagnosed as presenting giant-cell tumor, but his slides were reviewed and his condition was then diagnosed as parosteal aneurysmal bone cyst. The patient was treated with corticosteroid and calcitonin infiltration into the lesion and evolved with clinical and radiological improvement within the first five weeks after the operation.

Keywords:
Aneurysmal bone cyst; Calcitonin; Corticosteroids; Infiltration

Introdução

O cisto ósseo aneurismático (COA) foi descrito primeiramente em 1942 por Jaffe e Lichtenstein.1Jaffe HL, Lichtenstein L. Solitary unicameral bone cyst: with emphasis on the roentgen picture. The pathologic appearance and the pathogenesis. Archsurg. 1942;44(6):1004-25.Representa 1% a 2% de todos os tumores ósseos primários e acomete a região meta- fisária de ossos longos de crianças, adolescentes e adultos jovens.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. 3Pietschmann MF, Oliveira AM, Chou MM, Ihrler S, Niederhagen M, Baur-Melnyk A, et al. Aneurysmal bone cysts of soft tissue represente true neoplasm. A report of two cases. J Bone Joint Surg Am. 2011;93(45):1-8.

A lesão típica desenvolve-se dentro do osso.4Kobayashi S, Hayakawa K, Takeno K, Baba H, Meir A. Parosteal aneurysmal bone cyst of the humerus with birdcage-like ossification on three-dimensional CT scanning: a case report. Joint Bone Spine. 2009;76(6):705-7.Cistos loca lizados na cortical óssea são raros e representam 7-9,3% de todos os COAs.5Sherman RS, Soong KY. Aneurysmal bone cyst: its roentgen diagnosis. Radiology. 1957;68(1):54-64. 6De Dios AMV, Bond JR, Shives TC, McLeod RA, Unni KK. Aneurysmal bone cyst. A clinicopathologic study of 238 cases. Cancer. 1992;69(12):2921-31.

Poucos são os casos na literatura e a conduta é indivi dualizada e de acordo com a experiência de cada serviço. Apresentamos um caso de cisto ósseo aneurismático parosteal tratado conforme nossa experiência.

Relato de caso

Paciente masculino, 38 anos, pardo, com queixa de dor e abaulamento em braço direito - de caráter progressivo - havia pelo menos oito meses. Negava trauma ou cirurgia prévia.

O paciente, atendido anteriormente em outro serviço, fez biópsia, na qual o diagnóstico histopatológico foi compatível com tumor de células gigantes. Ao chegar a nosso serviço, pelas características clínicas e radiológicas (figs. 1,2,3,4), foi soli citada revisão das lâminas.

Figura 1:
Radiografia em AP e perfil de úmero direito

Figura 2:
Aspectos tomográficos.

Figura 3:
Ressonância magnética.

Figura 4:
Cintilografia óssea.

A revisão de lâmina evidenciou: lesão constituída por membranas de cisto que, por vezes, mostraram septações completas e constituídas por células fusiformes e gigantes multinucleadas. Notaram-se ainda trabéculas ósseas dissociadas por tecido conjuntivo fibroso, assim como trabéculas ósseas neoformadas com padrão reativo, que levaram ao diagnóstico de cisto ósseo aneurismático parosteal.

Foi indicada, após decisão do grupo, infiltração intralesional com calcitonina e corticoesteroide. Na quinta semana pós-operatória, a lesão já se mostra em processo de ossificação

(fig. 5).

Figura 5:
Radiografias pós-operatórias.

Discussão

O cisto ósseo aneurismático - descrito primeiramente em 1942 por Jaffe e Lichtenstein - é caracterizado, segundo a Organização Mundial da Saúde, como lesão óssea cística benigna composta por lacunas ósseas repletas de san gue separadas por septos de tecido conectivo que contêm fibroblastos, células gigantes osteoclásticas e tecido ósseo reativo.1Jaffe HL, Lichtenstein L. Solitary unicameral bone cyst: with emphasis on the roentgen picture. The pathologic appearance and the pathogenesis. Archsurg. 1942;44(6):1004-25. 2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. 3Pietschmann MF, Oliveira AM, Chou MM, Ihrler S, Niederhagen M, Baur-Melnyk A, et al. Aneurysmal bone cysts of soft tissue represente true neoplasm. A report of two cases. J Bone Joint Surg Am. 2011;93(45):1-8. 7Reddy KIA, Sinnaeve F, Gaston CL, Grimer RJ, Carter SR. Aneurysmal bone cysts: do simple treatments work? Clin Orthop Relat Res. 2014;472(6):1901-10.

O COA representa 1% a 2% de todos os tumores ósseos primários e tem uma incidência de 0,14 a cada 100 mil indivíduos.8Steffner RJ, Liao C, Stacy G, Atanda A, Attar S, Avedian R, et al. Factors associated with recurrence of primary aneurysmal bone cysts: is argon beam coagulation an effective adjuvant treatment?. J Bone Joint Surg Am 2011;93(21):e1221-9.As lesões acometem a região metafisária de ossos longos de crianças, adolescentes e adultos jovens.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. 3Pietschmann MF, Oliveira AM, Chou MM, Ihrler S, Niederhagen M, Baur-Melnyk A, et al. Aneurysmal bone cysts of soft tissue represente true neoplasm. A report of two cases. J Bone Joint Surg Am. 2011;93(45):1-8.

A lesão desenvolve-se geralmente dentro do osso e causa afilamento cortical e eventualmente protrusão óssea.4Kobayashi S, Hayakawa K, Takeno K, Baba H, Meir A. Parosteal aneurysmal bone cyst of the humerus with birdcage-like ossification on three-dimensional CT scanning: a case report. Joint Bone Spine. 2009;76(6):705-7.Cistos localizados na cortical óssea são raros e eram previamente denominadas de tumor de células gigantes subperiosteais ou osteoclasia subperiosteal.4Kobayashi S, Hayakawa K, Takeno K, Baba H, Meir A. Parosteal aneurysmal bone cyst of the humerus with birdcage-like ossification on three-dimensional CT scanning: a case report. Joint Bone Spine. 2009;76(6):705-7.Lichtenstein,9Lichtenstein L. Aneurysmal bone cyst: a pathological entity commonly mistaken for giant cell tumor and occasionally for hemangioma and osteosarcoma. Cancer. 1950;3(2):279-89.em 1950, publicou artigo que elucidou e diferenciou o cisto ósseo aneurismático parosteal do tumor de células gigantes subperiosteais, do hemangioma e do sarcoma osteogênico.

Então, em 1957 Sherman e Soong5Sherman RS, Soong KY. Aneurysmal bone cyst: its roentgen diagnosis. Radiology. 1957;68(1):54-64.classificaram os COA em três tipos: excêntricos, parosteais e centrais. O subtipo parosteal representa o subtipo menos frequente, com 7% a 9,3% de todos os COAs.5Sherman RS, Soong KY. Aneurysmal bone cyst: its roentgen diagnosis. Radiology. 1957;68(1):54-64. 6De Dios AMV, Bond JR, Shives TC, McLeod RA, Unni KK. Aneurysmal bone cyst. A clinicopathologic study of 238 cases. Cancer. 1992;69(12):2921-31.

A dor é o sintoma mais prevalente, com duração de semanas a meses.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.Radiograficamente apresenta-se como lesão única, excêntrica, insuflativa, que atinge o periós- teo e tem margens bem definidas.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. 3Pietschmann MF, Oliveira AM, Chou MM, Ihrler S, Niederhagen M, Baur-Melnyk A, et al. Aneurysmal bone cysts of soft tissue represente true neoplasm. A report of two cases. J Bone Joint Surg Am. 2011;93(45):1-8.Reacão periosteal em casca de cebola e triângulo de Codman podem estar associados.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. 6De Dios AMV, Bond JR, Shives TC, McLeod RA, Unni KK. Aneurysmal bone cyst. A clinicopathologic study of 238 cases. Cancer. 1992;69(12):2921-31.

A tomografia auxilia no diagnóstico diferencial da lesão. Mostra uma densidade líquida e pode evidenciar nitidamente os níveis líquidos.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013. 6De Dios AMV, Bond JR, Shives TC, McLeod RA, Unni KK. Aneurysmal bone cyst. A clinicopathologic study of 238 cases. Cancer. 1992;69(12):2921-31.A cintilografia demonstra um aumento na captacão na periferia da lesão.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.Na ressonância magné tica a lesão é bem definida, com contornos lobulados e níveis líquidos.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.

A histologia do COA caracteriza-se por lacunas reple tas de sangue. Essas lacunas são recobertas com uma camada simples de células indiferenciadas. O tecido sólido perilesional compõe-se de fibrose ricamente vascularizada.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.A diferenciacão diagnóstica entre o tumor de células gigan tes e o osteossarcomatelengiectásico torna-se complexa em relacão ao aspecto anatomopatológico.2Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.

O tratamento, por representar lesão agressiva, é a curetagem, seguida ou não de adjuvantes, como enxer tia óssea, aspirado de medula óssea, crioterapia, cimento ósseo, argônio, fenol e calcitonina com corticosteroide intralesional.7Reddy KIA, Sinnaeve F, Gaston CL, Grimer RJ, Carter SR. Aneurysmal bone cysts: do simple treatments work? Clin Orthop Relat Res. 2014;472(6):1901-10. 10Docquier PL, Dellove C. Treatment of aneurysmal bone cysts by introduction of demineralized bone and autogenous bone marrow.. J Bone Joint Surg Am 2005;87(10):2253-8.Em nosso servico, o corticosteroide associ ado à calcitonina intralesional é o método de escolha no tratamento desse padrão de lesão. Foram descritos casos de resolucão das lesões após episódio de fratura, após a biópsia ou mesmo espontaneamente.7Reddy KIA, Sinnaeve F, Gaston CL, Grimer RJ, Carter SR. Aneurysmal bone cysts: do simple treatments work? Clin Orthop Relat Res. 2014;472(6):1901-10. 8Steffner RJ, Liao C, Stacy G, Atanda A, Attar S, Avedian R, et al. Factors associated with recurrence of primary aneurysmal bone cysts: is argon beam coagulation an effective adjuvant treatment?. J Bone Joint Surg Am 2011;93(21):e1221-9.A recorrência da lesão está associada a pacientes jovens, cisto ósseo aneu- rismático prévio, localizacão periarticular ou justafisária, número reduzido de mitoses e presenca de outras fises abertas.8Steffner RJ, Liao C, Stacy G, Atanda A, Attar S, Avedian R, et al. Factors associated with recurrence of primary aneurysmal bone cysts: is argon beam coagulation an effective adjuvant treatment?. J Bone Joint Surg Am 2011;93(21):e1221-9.

Apresentamos um caso raro de cisto ósseo aneurismático parosteal no qual os achados clínicos, radiológicos e anato mopatológicos, bem como uma equipe multidisciplinar, se fizeram imperativos para a completa elucidacão diagnóstica.

Referências

  • Jaffe HL, Lichtenstein L. Solitary unicameral bone cyst: with emphasis on the roentgen picture. The pathologic appearance and the pathogenesis. Archsurg. 1942;44(6):1004-25.
  • Jesus-Garcia R. Diagnóstico e tratamento de tumores ósseos. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2013.
  • Pietschmann MF, Oliveira AM, Chou MM, Ihrler S, Niederhagen M, Baur-Melnyk A, et al. Aneurysmal bone cysts of soft tissue represente true neoplasm. A report of two cases. J Bone Joint Surg Am. 2011;93(45):1-8.
  • Kobayashi S, Hayakawa K, Takeno K, Baba H, Meir A. Parosteal aneurysmal bone cyst of the humerus with birdcage-like ossification on three-dimensional CT scanning: a case report. Joint Bone Spine. 2009;76(6):705-7.
  • Sherman RS, Soong KY. Aneurysmal bone cyst: its roentgen diagnosis. Radiology. 1957;68(1):54-64.
  • De Dios AMV, Bond JR, Shives TC, McLeod RA, Unni KK. Aneurysmal bone cyst. A clinicopathologic study of 238 cases. Cancer. 1992;69(12):2921-31.
  • Reddy KIA, Sinnaeve F, Gaston CL, Grimer RJ, Carter SR. Aneurysmal bone cysts: do simple treatments work? Clin Orthop Relat Res. 2014;472(6):1901-10.
  • Steffner RJ, Liao C, Stacy G, Atanda A, Attar S, Avedian R, et al. Factors associated with recurrence of primary aneurysmal bone cysts: is argon beam coagulation an effective adjuvant treatment?. J Bone Joint Surg Am 2011;93(21):e1221-9.
  • Lichtenstein L. Aneurysmal bone cyst: a pathological entity commonly mistaken for giant cell tumor and occasionally for hemangioma and osteosarcoma. Cancer. 1950;3(2):279-89.
  • Docquier PL, Dellove C. Treatment of aneurysmal bone cysts by introduction of demineralized bone and autogenous bone marrow.. J Bone Joint Surg Am 2005;87(10):2253-8.
  • Trabalho feito no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 2015

Histórico

  • Recebido
    04 Jun 2014
  • Aceito
    23 Out 2014
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbo@sbot.org.br