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RBO desigual

A igualdade é uma das mais interessantes utopias que procuramos, pois ela não existe em nada que seja oriundo de seres vivos. A principal característica das coisas vivas, seja na forma, seja no conteúdo, é a diferença.

As diferenças étnicas, climáticas, culturais e sociais continuam a ser um dos principais motivos dos problemas e das soluções com que temos de conviver.

Há um grupo de teóricos que, ou por amor a utopias, ou por interesse, pregam a igualdade e procuram forçar a sua ocorrência com o uso do poder determinado pelos chamados menos favorecidos, que são a maioria. Esses grupos políticos usam o apoio eleitoral da maioria numérica e uma minoria qualitativa domina cargos públicos eletivos e pretende impor uma igualdade baseada sempre no nível inferior.

Observamos isso na nossa área de interesse, a educação, com a criação das chamadas cotas, que, baseadas no fato de que alguma etnia tem o maior número de desfavorecidos, estabelecem que todos os pertencentes a ela sejam considerados incapazes e, portanto, protegidos por vantagens nos processos de acesso à universidade, por exemplo. Os membros capazes são também estigmatizados com o favorecimento, que será a marca de todos os profissionais daquela etnia "protegida".

Os títulos de especialidade nas diversas áreas da medicina passaram a ser conferidos após um estágio em um dos excelentes hospitais públicos do SUS, o que contraria décadas de aprimoramento que as sociedades médicas passaram para melhorar os seus exames de qualificação.

Mesmo as residências qualificadas sofrem essa influência maléfica, pois a cada ano de militância em assistência aos programas de saúde da família, no programa Mais Médicos, há um ganho percentual na nota para o exame de ingresso em uma residência de bom nível.

Assim, o médico formado que passar um ano no atendimento ao Programa de Valorização da Atenção Básica (PROVAB) nos postos de saúde sem aparelhamento para assistência médica mínima terá 10% de vantagem na nota do exame para residência médica, na concorrência com os seus "desiguais" que buscaram complementar a sua formação médica no fim do curso, como ocorre há mais de 50 anos.

A mais recente investida ocorre na área dos currículos de ensino, que foram adequados para níveis inferiores, para que os "menos favorecidos" concorram em condições de igualdade com os mais favorecidos; seria como o comitê olímpico estabelecer que a marca para os 100 metros passasse a ser 20 segundos, para que os menos favorecidos pudessem concorrer em condições de igualdade.

Neste momento estamos na contramão da história, pois buscamos excelência para a RBO e estamos já com níveis de recusa que atingem 40%. O que ocorreu foi uma melhoria impressionante na qualidade dos trabalhos e uma busca cada vez maior de autores para publicar no espaço da RBO. Em seis anos analisamos mais de 1.700 trabalhos.

Poderíamos ter criado cotas e aceitado, sem crivo, os trabalhos de má qualidade, vindos de áreas consideradas de pior qualidade. Teríamos cometido erros gravíssimos ao estigmatizar e dividir a revista em dois blocos, os bons trabalhos e os maus trabalhos, pois é obvio que ninguém iria ler os maus trabalhos e condenaríamos grupos a serem sempre considerados inferiores, por razões geográficas, por exemplo, que nada têm a ver com a qualidade de um trabalho.

Observamos ao longo desta longa jornada na edição da RBO que essas filosofias de proteção são completamente equivocadas, pois temos bons trabalhos produzidos em locais teoricamente menos favorecidos, como temos trabalhos de pouca qualidade produzidos em centros tidos como de excelência.

A qualidade de um trabalho não tem endereço, etnia ou tamanho, é algo inerente ao empenho dos autores.

Essa estranha filosofia de proteger o pior e punir o melhor, para que em algum momento se igualem, ainda não atingiu a área editorial. Talvez seja pelo fato de que os teóricos dessa linha de pensamento leiam muito pouco.

Sorte a nossa!

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Aug 2016
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