Acessibilidade / Reportar erro

Profilaxia com descolonização nasal em pacientes submetidos a artroplastia total de joelho e quadril: revisão sistemática com metanálise Trabalho desenvolvido no Hospital Manoel Victorino, Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Salvador, BA, Brasil.

RESUMO

Apesar da evolução dos resultados após a artroplastia total de joelho (ATJ) e quadril (ATQ), a infecção ainda é uma das causas mais desafiadoras para o cirurgião. Em virtude da gravidade e dificuldade do tratamento da infecção articular periprotética, foram criados protocolos de profilaxia para esse tipo de complicação. O objetivo deste estudo foi avaliar a profilaxia infecciosa com a descolonização nasal prévia contra Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), identificados por meio da coleta de material da nasofaringe por swabs em pacientes com programação cirúrgica de ATJ e ATQ. Foi elaborado um estudo de revisão sistemática com metanálise que usou o protocolo PRISMA-2015, no qual foram utilizados os descritores: arthroplasty e nasal decolonization ou joint arthroplasty e decolonization ou joint arthroplasty e nasal decolonization na língua inglesa. Foram selecionados quatro estudos observacionais dentre as 79 referências identificadas. A amostra total foi de 10.179 pacientes, divididos em dois grupos: controle (4.788 pacientes) e intervenção (5.391 pacientes). Foi observado que, no grupo de intervenção, no qual a profilaxia com descolonização nasal foi aplicada, 59 (1,09%) dos pacientes desenvolveram infecção do sitio cirúrgico (ISC), enquanto a ISC foi observada em 86 (1,79%) dos pacientes no grupo controle. Essa tendência se repetiu em todos os artigos estudados, não sendo observador viés de publicação, constituindo em uma amostra homogênea. A profilaxia pré-operatória com descolonização nasal para MRSA, reduz em 39% os casos de infecção pós-artroplastias do joelho, devendo ser considerada como um protocolo complementar pelos cirurgiões.

Palavras-chave:
Artroplastia; Profilaxia; Infecção; Descontaminação

ABSTRACT

Despite the evolution of the total knee and hip arthroplasty surgery, high postoperative complication rates in the short and long term still persist. Infection is one of the most challenging complications; due to its gravity and treatment difficulties, prophylaxis protocols have been created to decrease its incidence. The objective of this study was to evaluate the impact of the prophylaxis protocol for methicillin-resistant Staphylococcus aureus decolonization of the nares in patients previously identified by swab cultures, who were to be submitted to a total joint arthroplasty. A systematic review with meta-analysis was conducted, following the PRISMA-2015 protocol, using the descriptors: “arthroplasty” and “nasal decolonization,” or “joint arthroplasty” and “decolonization,” or “joint arthroplasty” and “nasal decolonization,” for final selection of four observational studies from 79 references identified. This study included a total sample of 10,179 patients, divided in two groups: the control group (4788 patients) and intervention group (5391 patients). It was observed that the intervention group, in which prophylaxis with nasal decolonization was used, 59 (1.09%) of the patients developed a surgical site infection, while in the control group there were 86 cases of surgical site infection (1.79%). This trend repeated itself in all articles, showing no publication biases, forming a homogeneous sample. The use of a prophylaxis protocol for decolonization of methicillin-resistant Staphylococcus aureus, reduced surgical site infection cases by approximately 39%.

Keywords:
Arthroplasty; Prophylaxis; Infection; Decontamination

Introdução

As artroplastias totais de joelho (ATJ) e quadril (ATQ) são definidas como procedimentos cirúrgicos indicados com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, com a promoção do alívio da dor, ganho funcional e correção de deformidades da articulação afetada.11 Lima ALLM, Pécora JR, Albuquerque RM, Paula AP, D'Elia CO, Santos ALG, et al. Infection following total knee joint arthroplasty: considerations and treatment. Acta Ortop Bras. 2004;12(4):236-41.,22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
A cada ano são feitas 600.000 artroplastias totais de joelho nos Estados Unidos da América e é esperado um aumento de 673% na demanda até 2030 no mundo. No Brasil, o número de ATJ é estimado entre 60 e 70 mil ao ano.33 Almeida RF, Queiroz AA, Belloti JC, Castro Filho JM, Cohen M, Navarro RD. Approach towards total knee arthroplasty in Brazil: cross-sectional study. Sao Paulo Med J. 2009;127(4):190-7.,44 D'Elia CO, Santos ALG, Leonhardt MC, Lima ALLM, Pécora JR, Camanho GL. Treatment of infections following total knee arthroplasty: 2 -year follow-up outcomes. Acta Ortopédica Bras. 2007;15(3):158-62.Apesar da evolução dos resultados com as artroplastias, as complicações no período pós-operatório, em curto e longo prazo, ainda persistem. A infecção pós-artroplastias é uma das causas mais desafiadoras para o cirurgião.55 Carvalho Júnior LH, Temponi EF, Badet R. Infecção em artroplastia total de joelho: diagnóstico e tratamento. Rev Bras Ortop. 2013;48(5):389-96.,66 Choi H-R, von Knoch F, Zurakowski D, Nelson SB, Malchau H. Can implant retention be recommended for treatment of infected TKA? Clin Orthop Relat Res. 2011;469(4):961-9. A taxa de infecção do sítio cirúrgico (ISC) pós-ATJ pode variar entre 0,5% e 23% e tem um impacto de cerca de 300 milhões de dólares em países da América do Norte.77 Pradella JGDP, Bovo M, Salles MJC, Klautau GB, Camargo OAP, Cury RPL. Artroplastia primária de joelho infectada: fatores de risco para falha na terapia cirúrgica. Rev Bras Ortop. 2013;48(5):432-7. A ISC é apontada como uma das principais infecções associadas à assistência à saúde, sendo responsável por 17% delas nos Estados Unidos da América e 37% no mundo, segundo a OMS.77 Pradella JGDP, Bovo M, Salles MJC, Klautau GB, Camargo OAP, Cury RPL. Artroplastia primária de joelho infectada: fatores de risco para falha na terapia cirúrgica. Rev Bras Ortop. 2013;48(5):432-7.

8 Organização Mundial da Saúde. Segundo desafio global para a segurança do paciente: Cirurgias seguras salvam vidas (orientações para cirurgia segura da OMS). Rio de Janeiro: Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2009. Available form: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/seguranca_paciente_cirurgia_salva_manual.pdf.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...

9 Centers for Disease Prevention and Control (CDC). The National Healthcare Safety Network (NHSN) Manual. Healthcare personnel safety component protocol. Atlanta, GA, USA: CDC; 2009. Available from: http://www.cdc.gov/nhsn/pdfs/hspmanual/hps_manual.pdf.
-1010 Anderson DJ, Podgorny K, Berríos- Torres SI, Bratzler DW, Dellinger EP, Greene L, et al. Strategies to prevent surgical site infections in acute care hospitals: 2014 update. Infect Control Hosp Epidemiol. 2014;35(6):605-27.Em virtude da gravidade e dificuldade do tratamento da infecção periprotética (IP), o desenvolvimento de medidas eficazes para minimizar estes índices se mostram necessárias, de modo que foram demonstradas na literatura medidas profiláticas no pré-operatório de ATJ.22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
,1010 Anderson DJ, Podgorny K, Berríos- Torres SI, Bratzler DW, Dellinger EP, Greene L, et al. Strategies to prevent surgical site infections in acute care hospitals: 2014 update. Infect Control Hosp Epidemiol. 2014;35(6):605-27.Parvizi et al.22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
desenvolveram um protocolo que resume as medidas profiláticas mais eficazes e comprovadas. Entre as medidas demonstradas está a investigação da colonização nasal por Staphylococcus aureus e sua cepa resistente à meticilina (MRSA). No entanto, tal medida ainda permanece sem consenso para a recomendação de uma triagem universal, mesmo que reconheça que a descolonização de portadores de MRSA diminui a taxa de ISC.1010 Anderson DJ, Podgorny K, Berríos- Torres SI, Bratzler DW, Dellinger EP, Greene L, et al. Strategies to prevent surgical site infections in acute care hospitals: 2014 update. Infect Control Hosp Epidemiol. 2014;35(6):605-27.Dentre as infecções hospitalares pós-operatórias, contata-se que o Staphylococcus aureus é o principal germe isolado em exames de cultura. Níveis elevados de colonização nasal por cepas de MRSA podem ser um fator de risco para desenvolvimento de infecção no sítio cirúrgico.1111 Rezapoor M, Parvizi J. Prevention of periprosthetic joint infection. J Arthroplasty. 2015;30(6):902-7. O epitélio nasal se destaca como o local de maior colonização, cuja prevalência chega, em média, a 40% na população adulta. Como parte da microbiota humana, a referida bactéria não constitui um risco, podendo ser carreada por um longo período sem prejuízos para a saúde dos indivíduos.1212 Evangelista SS, Oliveira AC, Evangelista SS, Oliveira AC. Community-acquired methicillin- resistant Staphylococcus aureus: a global problem. Rev Bras Enferm. 2015;68(1):136-43.A técnica de coleta de amostra de material das narinas, com o método de swab, permite a identificação do MRSA por cultura ou teste de reação em cadeia de polimerase (PCR), ambos com alto valor preditivo positivo e especificidade.1313 Hombach M, Pfyffer GE, Roos M, Lucke K. Detection of methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in specimens from various body sites: performance characteristics of the BD GeneOhm MRSA assay, the Xpert MRSA assay, and broth- enriched culture in an area with a low prevalence of MRSA infections. J Clin Microbiol. 2010;48(11):3882-7. Esse método é indicado para rastreio de MRSA em foco nasal de pacientes em programação cirúrgica de ATJ e ATQ.1414 Parvizi J, Ghanem E, Sharkey P, Aggarwal A, Burnett RSJ, Barrack RL. Diagnosis of infected total knee: findings of a multicenter database. Clin Orthop. 2008;466(11):2628-33.Como método profilático, está indicado o uso de antibióticos tópicos, que atuem sobre as cepas de Staphylococcus aureus. A mupirocina tópica é a mais frequentemente utilizada e recomendada para a descolonização nasal (DN) pré-operatória, devendo ser considerada como um dos pilares da profilaxia anti-infecciosa.1515 Coia JE, Duckworth GJ, Edwards DI, Farrington M, Fry C, Humphreys H, et al. Guidelines for the control and prevention of meticillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in healthcare facilities. J Hosp Infect. 2006;63 Suppl. 1:S1-44.Dessa forma, a profilaxia com DN para Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) pode ser apontada como um importante método profilático para infecção articular periprotética.1616 Da Silva Pinto CZ, Alpendre FT, Stier CJN, Maziero ECS, de Alencar PGC, de Almeida Cruz ED. Characterization of hip and knee arthroplasties and factors associated with infection. Rev Bras Ortop. 2015;50(6):694-9.,1717 Laudermilch DJ, Fedorka CJ, Heyl A, Rao N, McGough RL. Outcomes of revision total knee arthroplasty after methicillin- resistant Staphylococcus aureus infection. Clin Orthop. 2010;468(8):2067-73. No entanto, os estudos que analisam essa temática, no intuito de validar a profilaxia com investigação universal de MRSA em pacientes que serão submetidos a ATJ e ATQ, não demonstram uniformidade na afirmativa.22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
O objetivo deste estudo foi avaliar a profilaxia infecciosa como fator de redução de risco para ISC através da descolonização nasal de MRSA em pacientes identificados através da coleta de material da nasofaringe por swabs e com programação cirúrgica para ATJ e ATQ.

Metodologia

O estudo de revisão sistemática com metanálise foi elaborado de acordo com o protocolo PRISMA Statement (2015).1818 Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, et al. Preferred reporting items for systematic review and meta- analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev. 2015;4:1.A busca da literatura foi feita para identificar estudos que avaliassem a profilaxia como fator que reduz risco para ISC através da DN para MRSA em pacientes colonizados, identificados através da coleta de material da nasofaringe por swabs.Os critérios de inclusão para seleção dos estudos que avaliam o tratamento profilático após a investigação da colonização pelo MRSA no pré-operatório de pacientes que seriam submetidos a ATJ e ATQ foram estudos de coorte nos idiomas português e inglês.Foram excluídos estudos com descrição inadequada e quando o desfecho clínico não fosse o proposto pelo autor. Não foram considerados relato de casos, estudo de série de casos ou revisões narrativas. Foram excluídos também artigos incompletos ou que não forneciam dados a respeito da colonização pelo MRSA em pacientes submetidos a ATJ e ATQ. Não foram selecionados artigos que apresentaram pontuação menor do que 7 ao ser avaliados pelo método de Newcastle-Ottawa Quality Assessment Scale (NOS),1919 Ottawa Hospital Research Institute. Available from: http://www.ohri.ca/programs/clinical_epidemiology/oxford.asp [accessed 11.08.16].
http://www.ohri.ca/programs/clinical_epi...
que determina a qualidade do estudo, ou que não se adequassem à classificação necessária dada pelo Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - Oxford Centre for Evidence-based Medicine - para determinar o valor de publicação do estudo.2020 Phillips B, Ball C, Sackett D, Badenoch D, Straus S, Haynes B, et al. Oxford centre for evidence-based medicine levels of evidence; 1998. Available from: http://www.cebm.net/levels_of_evidence.asp.
http://www.cebm.net/levels_of_evidence.a...
Os critérios de inclusão, presentes na tabela 1, e exclusão foram escolhidos na observância do objetivo deste estudo, de maneira que a escolha se valeu apenas dos artigos que avaliassem a eficácia da profilaxia cirúrgica com DN para MRSA. Tais critérios estão disponíveis na tabela 1 e foram organizados segundo a estratégia PICO (Paciente, Intervenção, Comparação, Objetivos)2121 Bernardo WM, Nobre MRC, Jatene FB. Evidence based clinical practice: part II - searching evidence databases. Rev Assoc Médica Bras. 2004;50(1):104-8. com o intuito de conferir validade interna ao trabalho.

Tabela 1
Critérios de inclusão de acordo com a estratégia PICO

As bases de dados usadas para a pesquisa foram Medline, SciELO; Science Direct; PubMed; Scopus e Google Schoolars.A busca foi feita com os seguintes descritores: “arthroplasty” e “nasal decolonization”, ou “joint arthroplasty” e “decolonization”, ou “joint arthroplasty” e “nasal decolonization” na língua inglesa; “artroplastia” e “descolonização nasal”, ou “artroplastia” e “descolonização” “artroplastia de articulação” e “descolonização nasal” na língua portuguesa.Os resultados foram apresentados através de organograma para seleção de artigos, apresentação e compilação dos dados de dispersão em funil e de floresta, para compreensão da metanálise. A porcentagem da ISC, em pacientes submetidos a artroplastia, foi expressa como Risco Relativo (RR) em Intervalo de Confiança (IC) de 95%. Os resultados de diferentes estudos foram reunidos em um modelo de efeito aleatório, uma vez que todos não apresentavam a mesma metodologia. A heterogeneidade foi analisada pelos testes de Chi2, I2 e Tau com o intuito de identificar diferenças que pudessem vir a causar viés ao estudo. Tais análises se deram através de apropriado programa: Review Manager, versão 5,2 The Cochrane Collaboration, 2012.

Resultados

Na figura 1 está representado o organograma de seleção dos artigos, nos quais foram identificadas 79 referências como potencialmente relevantes durante a busca. Após analise de titulo, resumo e língua de publicação foram excluídos 68 estudos pelos critérios de inclusão. Das 11 referências restantes, sete foram descartadas segundo os critérios de exclusão, pautadas na ausência de dados ou desenho de estudo inadequado.

Figura 1
Organograma da seleção dos artigos. Protocolo PRISMA-2015.

Após a seleção de quatro estudos,2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8.

23 Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100.

24 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90.
-2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52. a amostra total de 10.179 pacientes foi dividida em dois grupos: sem uso de profilaxia com 4.788 (47,03%); com uso de profilaxia com 5.391 (52,96%) (fig. 1), para análise estatística.Na tabela 2 é possível notar a reunião de dados que caracterizam os quatro estudos selecionados.2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8.

23 Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100.

24 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90.
-2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52. Todos os estudos que foram selecionados apresentavam desenho de coorte, adequados para revisão sistemática com metanálise, baseado pelo Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - Oxford Centre for Evidence-based Medicine2121 Bernardo WM, Nobre MRC, Jatene FB. Evidence based clinical practice: part II - searching evidence databases. Rev Assoc Médica Bras. 2004;50(1):104-8. - e que apresentaram um valor mínimo de sete pelo método de NOS.2020 Phillips B, Ball C, Sackett D, Badenoch D, Straus S, Haynes B, et al. Oxford centre for evidence-based medicine levels of evidence; 1998. Available from: http://www.cebm.net/levels_of_evidence.asp.
http://www.cebm.net/levels_of_evidence.a...
Todos os estudos identificaram os pacientes com MRSA através da coleta de material por swab nasal. Foi avaliado o uso de mupirocina tópica aplicada nas narinas, como método profilático, por cinco dias em três dos estudos,2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8.,2323 Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100.,2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52. a exceção foi observada no estudo de Baratz et al.2424 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90. que avaliou o uso de cefalosporina por duas semanas. Os pacientes foram acompanhados para a ocorrência do desfecho por dois anos nos estudos de Baratz et al.2424 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90. e Hacek et al.,2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52. enquanto esse acompanhamento se deu em um ano nos estudos de Barbero Allende et al.2323 Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100. e Rao et al.2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8.

Tabela 2
Características dos estudos selecionados

Foi observado que no grupo em que a profilaxia para MRSA havia sido realizada, 59 (1,09%) dos pacientes desenvolveram infecção do sitio cirúrgico, enquanto que a infecção pós-cirúrgica se deu em 86 (1,79%) dos pacientes no grupo que não realizou, o que reflete uma redução de 39% nos casos dessa complicação (tabela 3). Ocasionalmente se verificou redução: 40,7% no estudo de Barbero Allende et al.2323 Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100.; 27,2% no estudo de Baratz et al.2424 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90.; 50% no estudo de Hacek et al.2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52.; 47,6% no estudo de Rao et al.2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8.

Tabela 3
Características e revisão dos estudos

Foi notado que no estudo de Baratz et al.,2424 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90. que apresentaram as menores taxas de infecção, houve 0,78% de afetados no grupo em que havia sido feita a intervenção e 1,07% no grupo controle (tabela 3).O peso atribuído a cada estudo no resultado final, relatado na tabela 3, é uma ponderação baseada no algoritmo do modelo de efeito aleatório, o qual considera que há diferenças metodológicas consideráveis entre os estudos e por isso faz um cálculo de forma diferenciada, com base na variância, e não só no número de pacientes.É possível notar na tabela 3 que o intervalo de confiança não ultrapassa o valor 1, indica que o grupo intervenção, em que havia sido realizada a profilaxia, apresentou menor risco de infecção. Isso se comprova com o teste estatístico final, que apresentou p = 0,004.Em relação aos testes de heterogeneidade, que buscam identificar variações entre os estudos que possam sugerir dados conflitantes, seja por diferenças de desenho, metodológicas, amostrais, vieses, entre outros, o primeiro parâmetro, Tau22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
, que avalia de forma quantitativa a heterogeneidade dos resultados entre si, demonstrou que se sobrepuseram de forma bastante ordenada (fig. 2), confluindo em um baixo valor. Na sequência, foi aplicado o teste Chi22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
, com respectivo valor P, novamente buscando-se identificar evidências de heterogeneidade. Por fim, no parâmetro I22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
, para explicar quanto da variabilidade entre os resultados está associada à heterogeneidade, o valor 0 indicou que a inconsistência entre os estudos não deve ser um fator importante (tabela 3).

Figura 2
Gráfico de Floresta (FlorestPlot). RR= razão de risco; IC= intervalo de confiança.

A heterogeneidade, representada pelo gráfico de funil (fig. 3), foi não significativa (Tau22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
= 0,0; I22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
= 0%) e a estimativa ocasional para o risco relativo foi de 0,62 (IC 95% = 0,44-0,86). Portanto não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os estudos (fig. 2 e tabela 3).

Figura 3
Gráfico de dispersão em funil (funnelplot) das quatro amostras independentes que examina a relação entre o risco de infecção do sítio cirúrgico e a intervenção.

Na figura 3, observa-se que todos os estudos indicaram dados favoráveis à intervenção, com leve tendência a um melhor resultado nos grupos menores, como pode ser identificado na comparação com o valor obtido na compilação dos resultados.

Discussão

Apesar da evolução positiva no controle da infecção, principalmente no curto prazo, após ATJ ou ATQ, o tratamento de infecções estabelecidas em articulações protéticas continua difícil e dispendioso em termos de tempo e recursos. Portanto, é importante a cuidadosa atenção na prevenção da infecção.Inserida nesse contexto, esta metanálise avaliou a profilaxia para MRSA como fator redutor de ISC nos pacientes colonizados, identificados por coleta de material da nasofaringe por swabs em programação cirúrgica para ATJ e ATQ em quatro estudos de coorte.O estudo demonstrou, em seus resultados, que a profilaxia com DN é um fator protetor. Tal modelo foi responsável por uma redução de 39% na incidência de ISC, com uma taxa que decresceu de 1,79% no grupo controle para 1,09% no grupo em que a intervenção havia sido feita. Essa tendência pode ser observada em todos os quatro estudos dispostos de maneira ordenada, senda apresentada diferenças estatisticamente irrelevantes, o que sugerem a ausência de heterogeneidade.Os resultados obtidos se refletem no valor do risco relativo (0,62) e seu intervalo de confiança (0,44-0,86) que apontam a profilaxia para MRSA como fator de proteção. Isso provavelmente decorre da prevalência desses germes e suas cepas na população geral e intra-hospitalar, reconhecido como um dos principais causadores de ISC.1313 Hombach M, Pfyffer GE, Roos M, Lucke K. Detection of methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in specimens from various body sites: performance characteristics of the BD GeneOhm MRSA assay, the Xpert MRSA assay, and broth- enriched culture in an area with a low prevalence of MRSA infections. J Clin Microbiol. 2010;48(11):3882-7.,2626 Levent T, Vandevelde D, Delobelle J-M, Labourdette P, Létendard J, Lesage P, et al. Infection risk prevention following total knee arthroplasty. Orthop Traumatol Surg Res. 2010;96(1):49-56. A infecção neste grupo de pacientes pode estar associada à colonização das narinas, o que justifica o tratamento para DN com muporicina tópica ou antibiótico que atue sobre esse germe.2727 Matar WY. Preventing infection in total joint arthroplasty. J Bone Jt Surg Am. 2010;92 Suppl. 2:36.,2828 Nasser S. Prevention and treatment of sepsis in total hip replacement surgery. Orthop Clin North Am. 1992;23(2):265-77.A importância da profilaxia pré-operatória com investigação da colonização por MRSA pode ser refletida em trabalhos como os de Barbero Allende et al.,2323 Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100. que observaram a profilaxia em pacientes no pré-operatório de ATJ e ATQ através do tratamento com mupirocina tópica aplicada nas narinas e banho com clorexidina. Quando comparados os grupos que realizaram ou não o método profilático, verificou-se uma significativa diminuição nas taxas de ISC, com uma redução de 40,7%; Identificou-se um redução na incidência de 4,94%, no grupo em que não foi realizada a profilaxia, para 2,93%, no grupo intervenção.Baratz et al.2424 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90. compararam a incidência de ISC, em pacientes submetidos a ATJ e ATQ, levando em conta os pacientes haviam sido tratados com DN para MRSA e sensíveis à meticilina (MSSA) e o grupo sem profilaxia. Foi observado que o grupo de intervenção, tratado previamente à realização da cirurgia, com cefalosporina de primeira geração, apresentou incidência de 0,79%, representando uma redução de 27,3% em relação ao grupo controle com incidência de 1,07%.No mesmo contexto, Hacek et al.2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52. demonstraram que os pacientes tratados com DN 1,2% evoluíram com ISC em relação a 2,4% do grupo em que não foi realizada a DN o que impactou uma redução de 50% na incidência de ISC.Rao et al.2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8. observaram os resultados da DN comparando os pacientes que haviam sido submetidos a DN com mupirocina nasal e banho de clorexidina, no pré-operatório. As taxas de infecção pós-operatória comparadas entre os grupos que realizaram a profilaxia com o grupo controle, obtiveram taxas de ISC de 1,41% e 2,69%, respectivamente. Os dados apresentados sugerem uma redução da ISC em 47,6%.Com o objetivo de avaliar a porcentagem de pacientes submetidos à ATJ, que persistem colonizados por S. aureus apesar da DN profilática, Economedes et al.,2929 Economedes DM, Deirmengian GK, Deirmengian CA. Staphylococcus aureus colonization among arthroplasty patients previously treated by a decolonization protocol: a pilot study. Clin Orthop. 2013;471(10):3128-32. em um estudo piloto, avaliaram 634 pacientes que fizeram o procedimento pelo mesmo cirurgião e que foram submetidos ao protocolo de DN antes da cirurgia. Os autores demonstraram que 33% (19 de 58) dos pacientes que foram descolonizados continuaram com cultura positiva para S. aureus apesar da descolonização pré-operatória, inferindo que a DN não é capaz de garantir que os pacientes continuarão descolonizados em todo o período pós-operatório. Os efeitos da colonização persistente por S. aureus, no período posterior à cirurgia, requerem mais estudos para que se possa afirmar que esse grupo de pacientes tem maior risco de adquirir infecção tardia.2929 Economedes DM, Deirmengian GK, Deirmengian CA. Staphylococcus aureus colonization among arthroplasty patients previously treated by a decolonization protocol: a pilot study. Clin Orthop. 2013;471(10):3128-32.Na mesma linha de raciocínio o “Consenso internacional em infecções articulares periprotéticas”, elaborado por Parvizi et al.,22 Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/cons...
indica que pacientes colonizados por MRSA, principalmente na porção anterior das narinas, têm fonte potencial de infecções hospitalares e pós-cirúrgicas e que sua descolonização, com mupirocina tópica, aplicada nas narinas por cinco dias, previamente à cirurgia, uma medida eficaz na redução da incidência de ISC.A redução da taxa de ISC após triagem e profilaxia para MRSA corrobora o raciocínio clínico e patológico, no qual o germe se destaca por ser um dos principias causadores de infecção, devido a sua elevada presença intra-hospitalar e na população geral. A preocupação com a cepa MRSA se torna ainda maior devido a seu difícil tratamento e controle, uma vez que não responde a antibióticos betalactâmicos, inclusive os sintéticos, como no caso da meticilina, o que implica a necessidade de uma profilaxia pré-operatória adequada.3030 Patel H, Khoury H, Girgenti D, Welner S, Yu H. Burden of surgical site infections associated with arthroplasty and the contribution of Staphylococcus aureus. Surg Infect. 2016;17(1):78-88. A mupirocina tópica para DN é o método de escolha mais indicado.3131 Chandrananth J, Rabinovich A, Karahalios A, Guy S, Tran P. Impact of adherence to local antibiotic prophylaxis guidelines on infection outcome after total hip or knee arthroplasty. J Hosp Infect. 2016;93(4):423-7. Apesar de algumas cefalosprinas de primeira geração terem eficácia no combate ao S. aureus, não é o antimicrobiano de primeira escolha, seja porque tem pouca ou nenhuma atividade contra MRSA, seja por que seu uso indiscriminado de rotina pode contribuir para o surgimento de gerações de bactérias resistentes.3232 Duplessis C, Crum-Cianflone NF. Ceftaroline a new cephalosporin with activity against methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA). Clin Med Rev Ther. 2011;3, pii:a2466.A não realização da profilaxia contra a ISC no período pré-operatório, oferece evidências que corroboram o raciocínio clinico e patológico desta complicação ao demonstrar o aumento do fator de risco para a sua ocorrência.3333 Wu CT, Chen IL, Wang JW, Ko JY, Wang CJ, Lee CH. Surgical site infection after total knee arthroplasty: risk factors in patients with timely administration of systemic prophylactic antibiotics. J Arthroplast. 2016;31(7):1568-73.De maneira geral, são também causadores de infecção periprotética: Staphylococcus coagulase negativo, Streptococcus, bacilos gram-negativos e anaeróbios.3434 Rosenthal VD. International nosocomial infection control consortium (INICC) resources: INICC multidimensional approach and INICC surveillance online system. Am J Infect Control. 2016;44(6):e81-90.Nos estudos de Baratz et al.,2424 Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90. Hacek et al.2525 Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52. e Rao et al.,2222 Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8. foi possível inferir que a despeito da redução significativa da ISC, devido à triagem e ao protocolo de profilaxia para S. aureus, ainda ocorria infecções originadas por outros germes, como as bactérias dos gêneros: Pseudomonas, Enterobacter, Streptococcus, dentre outras mais esporádicas.A variação na incidência de S. aureus se relaciona com a existência de fatores de risco associados para infecção, como obesidade, idade precoce e diabete.3535 Malinzak RA, Ritter MA, Berend ME, Meding JB, Olberding EM, Davis KE. Morbidly obese, diabetic, younger, and unilateral joint arthroplasty patients have elevated total joint arthroplasty infection rates. J Arthroplast. 2009;24 6 Suppl.:84-8. Dessa forma, populações de características diferentes podem apresentar taxas de incidência para ISC distintas.3535 Malinzak RA, Ritter MA, Berend ME, Meding JB, Olberding EM, Davis KE. Morbidly obese, diabetic, younger, and unilateral joint arthroplasty patients have elevated total joint arthroplasty infection rates. J Arthroplast. 2009;24 6 Suppl.:84-8.Devido a sua característica inerente de agrupar diversos trabalhos, que somam as amostras e os resultados individuais, em uma síntese, alguns fatores não puderam ser abordados, como o impacto quantitativo e qualitativo do perfil de diferentes populações na taxa de incidência de ISC nos pacientes submetidos a ATJ e ATQ e a eficácia em longo prazo do uso sistemático do método profilático sugerido, bem como o espectro de ação do antibiótico utilizado e possíveis associações. Por esse motivo, novos trabalhos serão necessários para a análise multivariável desses fatores.Esta revisão sistemática com metanálise, assim como as demais encontradas na literatura, se baseia em dados secundários extraídos de estudos de coorte originais. No entanto, tal característica se constitui em limitação para o modelo, uma vez que não permite avaliar todos os dados necessários para análises multivariáveis e está sujeita a possíveis vieses.As características inerentes ao estudo tornam este trabalho nível de evidência 2 segundo o Nível de Evidência Científica por Tipo de Estudo - Oxford Centre for Evidence-based Medicine:1818 Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, et al. Preferred reporting items for systematic review and meta- analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev. 2015;4:1. revisão sistemática, com homogeneidade, de estudos de coorte.Embora as possibilidades diagnósticas tenham melhorado com a evolução das novas técnicas imunológicas e de imagem, as consequências devastadoras de uma infecção, mesmo com diagnóstico precoce, continuam um grande desafio para o cirurgião ortopédico. Diante desse fato, o desenvolvimento de técnicas adicionais para a profilaxia devem ser pesquisadas no intuito de se alcançar uma diminuição ainda maior dos índices dessa grave complicação. Não obstante o emprego da triagem para DN por S. aureus, e sua cepa MRSA, através de material coletado por swab de nasofaringe pode ser apresentada como medida eficaz na redução da ISC ATJ e ATQ, devendo ser empregadas.

Considerações finais

A investigação de material coletado por swab de nasofaringe, no intuito de detectar a colonização por Staphylococcus aureus e sua variante resistente à meticilina, em pacientes com indicação para artroplastia do joelho e quadril, seguida da descolonização com antibioticoterapia tópica com muporicina, apresenta dados que comprovam a eficácia da sua aplicação como método profilático, no intuito de diminuir as taxas de infecção pós-operatória.

References

  • 1
    Lima ALLM, Pécora JR, Albuquerque RM, Paula AP, D'Elia CO, Santos ALG, et al. Infection following total knee joint arthroplasty: considerations and treatment. Acta Ortop Bras. 2004;12(4):236-41.
  • 2
    Parvizi J, Gehrke T. Consenso Internacional em Infecções Articulares Periprotéticas. Available from: http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf [accessed 11.01.16].
    » http://www.rbo.org.br/pdf/consensos/consensos_ciiap.pdf
  • 3
    Almeida RF, Queiroz AA, Belloti JC, Castro Filho JM, Cohen M, Navarro RD. Approach towards total knee arthroplasty in Brazil: cross-sectional study. Sao Paulo Med J. 2009;127(4):190-7.
  • 4
    D'Elia CO, Santos ALG, Leonhardt MC, Lima ALLM, Pécora JR, Camanho GL. Treatment of infections following total knee arthroplasty: 2 -year follow-up outcomes. Acta Ortopédica Bras. 2007;15(3):158-62.
  • 5
    Carvalho Júnior LH, Temponi EF, Badet R. Infecção em artroplastia total de joelho: diagnóstico e tratamento. Rev Bras Ortop. 2013;48(5):389-96.
  • 6
    Choi H-R, von Knoch F, Zurakowski D, Nelson SB, Malchau H. Can implant retention be recommended for treatment of infected TKA? Clin Orthop Relat Res. 2011;469(4):961-9.
  • 7
    Pradella JGDP, Bovo M, Salles MJC, Klautau GB, Camargo OAP, Cury RPL. Artroplastia primária de joelho infectada: fatores de risco para falha na terapia cirúrgica. Rev Bras Ortop. 2013;48(5):432-7.
  • 8
    Organização Mundial da Saúde. Segundo desafio global para a segurança do paciente: Cirurgias seguras salvam vidas (orientações para cirurgia segura da OMS). Rio de Janeiro: Organização Pan-Americana da Saúde; Ministério da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2009. Available form: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/seguranca_paciente_cirurgia_salva_manual.pdf
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/seguranca_paciente_cirurgia_salva_manual.pdf
  • 9
    Centers for Disease Prevention and Control (CDC). The National Healthcare Safety Network (NHSN) Manual. Healthcare personnel safety component protocol. Atlanta, GA, USA: CDC; 2009. Available from: http://www.cdc.gov/nhsn/pdfs/hspmanual/hps_manual.pdf.
  • 10
    Anderson DJ, Podgorny K, Berríos- Torres SI, Bratzler DW, Dellinger EP, Greene L, et al. Strategies to prevent surgical site infections in acute care hospitals: 2014 update. Infect Control Hosp Epidemiol. 2014;35(6):605-27.
  • 11
    Rezapoor M, Parvizi J. Prevention of periprosthetic joint infection. J Arthroplasty. 2015;30(6):902-7.
  • 12
    Evangelista SS, Oliveira AC, Evangelista SS, Oliveira AC. Community-acquired methicillin- resistant Staphylococcus aureus: a global problem. Rev Bras Enferm. 2015;68(1):136-43.
  • 13
    Hombach M, Pfyffer GE, Roos M, Lucke K. Detection of methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in specimens from various body sites: performance characteristics of the BD GeneOhm MRSA assay, the Xpert MRSA assay, and broth- enriched culture in an area with a low prevalence of MRSA infections. J Clin Microbiol. 2010;48(11):3882-7.
  • 14
    Parvizi J, Ghanem E, Sharkey P, Aggarwal A, Burnett RSJ, Barrack RL. Diagnosis of infected total knee: findings of a multicenter database. Clin Orthop. 2008;466(11):2628-33.
  • 15
    Coia JE, Duckworth GJ, Edwards DI, Farrington M, Fry C, Humphreys H, et al. Guidelines for the control and prevention of meticillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) in healthcare facilities. J Hosp Infect. 2006;63 Suppl. 1:S1-44.
  • 16
    Da Silva Pinto CZ, Alpendre FT, Stier CJN, Maziero ECS, de Alencar PGC, de Almeida Cruz ED. Characterization of hip and knee arthroplasties and factors associated with infection. Rev Bras Ortop. 2015;50(6):694-9.
  • 17
    Laudermilch DJ, Fedorka CJ, Heyl A, Rao N, McGough RL. Outcomes of revision total knee arthroplasty after methicillin- resistant Staphylococcus aureus infection. Clin Orthop. 2010;468(8):2067-73.
  • 18
    Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A, Petticrew M, et al. Preferred reporting items for systematic review and meta- analysis protocols (PRISMA-P) 2015 statement. Syst Rev. 2015;4:1.
  • 19
    Ottawa Hospital Research Institute. Available from: http://www.ohri.ca/programs/clinical_epidemiology/oxford.asp [accessed 11.08.16].
    » http://www.ohri.ca/programs/clinical_epidemiology/oxford.asp
  • 20
    Phillips B, Ball C, Sackett D, Badenoch D, Straus S, Haynes B, et al. Oxford centre for evidence-based medicine levels of evidence; 1998. Available from: http://www.cebm.net/levels_of_evidence.asp
    » http://www.cebm.net/levels_of_evidence.asp
  • 21
    Bernardo WM, Nobre MRC, Jatene FB. Evidence based clinical practice: part II - searching evidence databases. Rev Assoc Médica Bras. 2004;50(1):104-8.
  • 22
    Rao N, Cannella B, Crossett LS, Yates AJ, McGough R. A preoperative decolonization protocol for Staphylococcus aureus prevents orthopaedic infections. Clin Orthop. 2008;466(6):1343-8.
  • 23
    Barbero Allende JM, Romanyk Cabrera J, Montero Ruiz E, Vallés Purroy A, Melgar Molero V, Agudo López R, et al. Eradication of Staphylococcus aureus in carrier patients undergoing joint arthroplasty. Enferm Infec Microbiol Clin. 2015;33(2):95-100.
  • 24
    Baratz MD, Hallmark R, Odum SM, Springer BD. Twenty percent of patients may remain colonized with methicillin- resistant Staphylococcus aureus despite a decolonization protocol in patients undergoing elective total joint arthroplasty. Clin Orthop. 2015;473(7):2283-90.
  • 25
    Hacek DM, Paule SM, Thomson RB, Robicsek A, Peterson LR. Implementation of a universal admission surveillance and decolonization program for methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA) reduces the number of MRSA and total number of S. aureus isolates reported by the clinical laboratory. J Clin Microbiol. 2009;47(11):3749-52.
  • 26
    Levent T, Vandevelde D, Delobelle J-M, Labourdette P, Létendard J, Lesage P, et al. Infection risk prevention following total knee arthroplasty. Orthop Traumatol Surg Res. 2010;96(1):49-56.
  • 27
    Matar WY. Preventing infection in total joint arthroplasty. J Bone Jt Surg Am. 2010;92 Suppl. 2:36.
  • 28
    Nasser S. Prevention and treatment of sepsis in total hip replacement surgery. Orthop Clin North Am. 1992;23(2):265-77.
  • 29
    Economedes DM, Deirmengian GK, Deirmengian CA. Staphylococcus aureus colonization among arthroplasty patients previously treated by a decolonization protocol: a pilot study. Clin Orthop. 2013;471(10):3128-32.
  • 30
    Patel H, Khoury H, Girgenti D, Welner S, Yu H. Burden of surgical site infections associated with arthroplasty and the contribution of Staphylococcus aureus. Surg Infect. 2016;17(1):78-88.
  • 31
    Chandrananth J, Rabinovich A, Karahalios A, Guy S, Tran P. Impact of adherence to local antibiotic prophylaxis guidelines on infection outcome after total hip or knee arthroplasty. J Hosp Infect. 2016;93(4):423-7.
  • 32
    Duplessis C, Crum-Cianflone NF. Ceftaroline a new cephalosporin with activity against methicillin- resistant Staphylococcus aureus (MRSA). Clin Med Rev Ther. 2011;3, pii:a2466.
  • 33
    Wu CT, Chen IL, Wang JW, Ko JY, Wang CJ, Lee CH. Surgical site infection after total knee arthroplasty: risk factors in patients with timely administration of systemic prophylactic antibiotics. J Arthroplast. 2016;31(7):1568-73.
  • 34
    Rosenthal VD. International nosocomial infection control consortium (INICC) resources: INICC multidimensional approach and INICC surveillance online system. Am J Infect Control. 2016;44(6):e81-90.
  • 35
    Malinzak RA, Ritter MA, Berend ME, Meding JB, Olberding EM, Davis KE. Morbidly obese, diabetic, younger, and unilateral joint arthroplasty patients have elevated total joint arthroplasty infection rates. J Arthroplast. 2009;24 6 Suppl.:84-8.
  • Trabalho desenvolvido no Hospital Manoel Victorino, Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Salvador, BA, Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Nov-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    11 Ago 2016
  • Aceito
    28 Out 2016
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbo@sbot.org.br