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Hip disability and osteoarthritis outcome score (HOOS): um estudo de validação intercultural da versão na língua portuguesa

Resumo

Objetivo

Escalas traduzidas e validadas são de grande importância, pois podem ser utilizadas por pesquisadores que estudam diferentes populações como mesmo problema. O objetivo do presente estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar a escala Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) para a língua portuguesa.

Métodos

O HOOS foi traduzido do inglês para a língua portuguesa, traduzido de volta para o inglês e submetido a um comitê de especialistas. Foi administrado a 100 pacientes com osteoartrite de quadril. A avaliação psicométrica incluiu a análise fatorial; medidas de confiabilidade interna, confiabilidade de teste-reteste em 7 dias e a comparação de validade de conteúdo com a versão brasileira da Escala de Dor Crônica Graduada (GCPS, na sigla em inglês).

Resultados

A análise fatorial demonstrou uma solução de cinco fatores. A confiabilidade de teste-reteste mostrou um alto grau de consistência interna para as 5 subescalas (dor e dificuldades físicas, 0,97 no 1° dia e 0,93 aos 7 dias; dor e dificuldade em sentar, deitar e levantar, 0,93 no 1° dia e 0,89 aos 7 dias; dificuldade em flexionar o joelho, 0,92 no 1° dia e 0,83 aos 7 dias; dificuldade de caminhada, 0,88 no 1° dia e 0,87 aos 7 dias; qualidade de vida, 0,80 no 1° dia e 0,35 aos 7 dias). A validade de conteúdo foi estabelecida durante a comparação da versão brasileira da GCPS.

Conclusões

Uma versão brasileira do HOOS foi desenvolvida com confiabilidade e validade adequadas. Isso facilitará a avaliação clínica do quadril em uma grande população de pacientes e entre diferentes culturas.

Palavras-chave:
osteoartrite do quadril; reproducibilidade de resultados; validade dos testes; linguagem; Brasil

Abstract

Objective

Translated and validated outcome instruments are of great importance, since they can be used for researchers studying different populations with the same problem. The objective of the present study was to translate, culturally adapt and validate the Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) into Brazilian Portuguese.

Methods

The HOOS was translated from English into Brazilian Portuguese, translated back into English, and submitted to an experts committee. It was administered to 100 patients with hip osteoarthritis. The psychometric evaluation included factor analysis; internal reliability measures, test-retest reliability at 7 days, and construct validity comparison with the Brazilian version of the Graded Chronic Pain Scale (GCPS).

Results

Factor analyses demonstrated a five-factor solution. The test-retest reliability showed a high degree of internal consistency for the five subscales (pain and physical difficulties, 0.97 at baseline and 0.93 at 7 days; pain and difficulty sitting, lying down and getting up, 0.93 at baseline and 0.89 at 7 days; difficulty flexing the knee, 0.92 at baseline and 0.83 at 7 days; difficulty walking, 0.88 at baseline and 0.87 at 7 days; quality of life, 0.80 at baseline and 0.35 at 7 days). The construct validity was established during the comparison of the Brazilian version of the GCPS.

Conclusions

A Brazilian version of the HOOS was developed with adequate reliability and validity. It will facilitate evaluation of the hip within a large patient population and across cultures.

Keywords:
hip osteoarthritis; reproducibility of results; validity of tests; language; Brazil

Introdução

Os distúrbios musculoesqueléticos representam a maior preocupação em saúde pública, bem como as principais causas de incapacidade, ausência no trabalho e aumento dos custos de saúde.11 Machado GPM, Barreto SM, Passos VM, Lima-Costa MF. [Health and aging study: prevalence of chronic joint symptoms among the elderly in Bambuí]. Rev Assoc Med Bras (1992) 2004;50(04): 367-372 A osteoartrite é conhecida como uma doença social caracterizada por dor, inflamação e rigidez, devido ao acometimento da cartilagem articular, dos tecidos moles e dos ossos. Além disso, a osteoartrite representa um grande desafio terapêutico para os profissionais de saúde, já que várias causas são atribuídas à doença.22 Goldring SR. Role of bone in osteoarthritis pathogenesis. Med Clin North Am 2009;93(01):25-35, xv Um dos principais problemas para o profissional de saúde é a escolha do instrumento a ser usado para medida dos desfechos.

Nos últimos anos, os instrumentos de desfechos utilizados em estudos observacionais ortopédicos têm aumentado.33 Poolman RW, Swiontkowski MF, Fairbank JC, Schemitsch EH, Sprague S, de Vet HC. Outcome instruments: rationale for their use. J Bone Joint Surg Am 2009;91(03, Suppl 3):41-49 Há algumas escalas e questionários específicos, que são instrumentos muito importantes para que os profissionais de saúde esclareçam o status funcional, as dificuldades e as habilidades de realização das atividades diárias do paciente com osteoartrite.44 Saleh KJ, Mulhall KJ, Bershadsky B, Ghomrawi HM, White LE, Buyea CM, et al. Development and validation of a lower-extremity activity scale. Use for patients treated with revision total knee arthroplasty. J Bone Joint Surg Am 2005;87(09):1985-1994 Muitos desses instrumentos estão disponíveis apenas em inglês, o que pode gerar dificuldades na troca de informações.

Ao serem traduzidos e validados, esses questionários automaticamente se tornam uma ferramenta para uso em estudos multicêntricos, permitindo que os pesquisadores avaliem o status funcional em uma ampla gama de diferentes populações linguísticas.55 Taylor MK, Pietrobon R, Menezes A, Olson SA, Pan D, Bathia N, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the Brazilian Portuguese version of the short musculoskeletal function assessment questionnaire: the SMFA-BR. J Bone Joint Surg Am 2005;87 (04):788-794 Um dos instrumentos mais utilizados para pesquisa e avaliação clínica é a escala chamada Hip Dysfunction and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS). A HOOS foi desenvolvida como uma ferramenta para avaliação da opinião dos pacientes sobre seus problemas de quadril e outros problemas associados. Foi criado para utilização em casos de incapacidade funcional do quadril, com ou sem osteoartrite.66 Klässbo M, Larsson E, Mannevik E. Hip disability and osteoarthritis outcome score. An extension of the Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index. Scand J Rheumatol 2003;32(01):46-51 Essa escala foi bastante usada em estudos anteriores que investigaram o estado funcional do quadril.77 Vaarbakken K, Ljunggren AE. Superior effect of forceful compared with standard traction mobilizations in hip disability? Adv Physiother 2007;9(03):117-128 88 Gossec L, Hawker G, Davis AM, Maillefert JF, Lohmander LS, Altman R, et al. OMERACT/OARSI initiative to define states of severity and indication for joint replacement in hip and knee osteoarthritis. J Rheumatol 2007;34(06):1432-1435 Até onde temos conhecimento, a versão original sueca do HOOS66 Klässbo M, Larsson E, Mannevik E. Hip disability and osteoarthritis outcome score. An extension of the Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index. Scand J Rheumatol 2003;32(01):46-51 foi traduzida para o francês,99 Ornetti P, Parratte S, Gossec L, Tavernier C, Argenson JN, Roos EM, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the French version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) in hip osteoarthritis patients. Osteoarthritis Cartilage 2010;18(04):522-529 dinamarquês, holandês,1010 de Groot IB, Reijman M, Terwee CB, Bierma-Zeinstra SM, Favejee M, Roos EM, et al. Validation of the Dutch version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score. Osteoarthritis Cartilage 2007;15(01):104-109 lituano e coreano.1111 LeeYK, Chung CY,Koo KH, Lee KM, LeeDJ, Lee SC, et al. Transcultural adaptation and testing of psychometric properties of the Korean version of the Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS). Osteoarthritis Cartilage 2011;19(07):853-857 Essas traduções facilitam as comparações transculturais de incapacidade funcional entre populações de idiomas distintos. Além de uma boa tradução linguística, as escalas destinadas ao uso em diferentes populações devem ser culturalmente adaptadas para manter a validade do instrumento em diferentes contextos culturais.1212 Ornetti P, Perruccio AV, Roos EM, Lohmander LS, Davis AM, Maillefert JF. Psychometric properties of the French translation of the reduced KOOS and HOOS (KOOS-PS and HOOS-PS). Osteoarthritis Cartilage 2009;17(12):1604-1608 Hoje, os pacientes com indicação de ATQ (artroplastia total do quadril) exigem mais do que apenas as atividades diárias habituais.1313 Nilsdotter AK, Lohmander LS, Klässbo M, Roos EM. Hip disability and osteoarthritis outcome score (HOOS)-validity and responsiveness in total hip replacement.BMCMusculoskelet Disord 2003;4:10 O número de pacientes com osteoartrite no Brasil é grande. O Brasil é um país com mais de 180 milhões de pessoas, o que justifica a necessidade de escalas de desfechos validadas para o português brasileiro. Além disso, o Brasil gradualmente aumenta sua participação mundial em ensaios clínicos, o que reforça a necessidade de instrumentos traduzidos e validados para o português brasileiro.

No presente estudo, descrevemos a tradução, a adaptação cultural e a validação de uma versão em português brasileiro da Hip Dysfunction and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS).

Métodos

Ética

A aprovação do comitê de ética em pesquisa de nossa instituição foi obtida antes do início deste projeto. Todos os participantes do estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido antes da inclusão no estudo.

Hip Dysfunction and Osteoarthritis Outcome Score

A versão sueca original da HOOS é composta por cinco subescalas: dor, outros sintomas, função na vida diária (ADL), função em esporte/recreação (Sport/Rec) e qualidade de vida (QoL, na sigla em inglês) relacionada ao quadril. No total, são 40 questões: 3 itens são relacionados a sintomas e dificuldades do quadril; 2 itens dizem respeito à quantidade de rigidez articular sentida pelo paciente; 10 itens se referem à dor no quadril; 17 itens dizem respeito à função física (capacidade de se movimentar e cuidar de si mesmo); 4 itens são relacionados à função física quando o paciente está mais ativo; e os 4 últimos itens se referem à qualidade de vida relacionada ao quadril. As questões também avaliam como o paciente se sentiu durante a última semana. As opções de resposta são padronizadas (cinco alternativas em escala Likert), e cada questão é pontuada de zero a quatro. A pontuação normalizada (em que 100 indica a ausência de sintomas e zero indica sintomas extremos) é calculada para cada subescala. A tradução do HOOS para o português brasileiro, conforme discutido nas seções a seguir, foi realizada de acordo com as recomendações da American Academy of Orthopedic Surgeons para a adaptação transcultural de medidas de estado de saúde.1414 Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine 2000;25(24):3186-3191

Tradução inicial para o português brasileiro

O HOOS foi inicialmente traduzido do inglês para o português do Brasil. Três traduções foram realizadas por tradutores bilíngues, cuja língua materna era o português.1515 Hendricson WD, Russell IJ, Prihoda TJ, Jacobson JM, Rogan A, Bishop GD, et al. Development and initial validation of a duallanguage English-Spanish format for the Arthritis Impact Measurement Scales. Arthritis Rheum 1989;32(09):1153-1159 Dois tradutores estavam cientes dos conceitos específicos do questionário, enquanto o terceiro não tinha conhecimento nem foi informado acerca dos conceitos.

Síntese da tradução

Uma síntese das três versões traduzidas foi produzida, gerando uma tradução comum. Os três tradutores e um observador documentaram o processo de síntese e resolveram todos os conflitos de maneira consensual.

Retrotradução para o Inglês

Dois tradutores bilíngues diferentes, cuja língua materna era o inglês e que não conheciam os conceitos do HOOS, retrotraduziram a versão sintetizada do questionário para a língua inglesa. A retrotradução foi usada para assegurar a tradução confiável do conteúdo original da escala.

Comitê de especialistas

A tradução sintetizada e as versões retrotraduzidas da escala foram analisadas por um comitê formado por especialistas clínicos, psicométricos e linguísticos. O comitê era composto por três indivíduos bilíngues, falantes nativos de português brasileiro; dois norte-americanos bilíngues, cuja língua mãe era o inglês; dois especialistas em língua portuguesa brasileira; e dois médicos bilíngues. Os membros do comitê desenvolveram uma versão pré-final do questionário HOOS em português brasileiro para testes em campo.

Avaliação qualitativa

Para determinar se outros ajustes eram necessários, a versão preliminar do questionário HOOS foi aplicada em uma primeira avaliação a um grupo de 20 pacientes atendidos por apresentarem patologias do quadril. Pedimos para os pacientes lerem cada item em voz alta e, em seguida, perguntamos sua compreensão sobre o significado do item. Uma versão final do questionário em português brasileiro foi finalmente obtida e aprovada pelo comitê de especialistas.

Teste da versão final

A versão final do instrumento foi administrada a 100 pacientes1616 Gorsuch RL. Factor analysis. Hillsdale: Erlbaum; 1983 1717 MacCallum RC, Widaman KF, Preacher KJ, Hong S. Sample size in factor analysis: the role of model error. Multivariate Behav Res 2001;36(04):611-637 com incapacidade do quadril e osteoartrite avaliados em um hospital de grande porte no sul do Brasil. Pacientes com idade inferior a 42 anos ou acima de 89 anos foram excluídos do estudo, pois o HOOS não é aplicável a pacientes nessas faixas etárias. Os pacientes de teste-reteste foram escolhidos de maneira aleatória com uma tabela de números randômicos gerados por linguagem R.1818 The R Project for Statistical Computing. Accessed January 20, 2013. Available at: http://www.r-project.org
http://www.r-project.org...

Avaliação das propriedades psicométricas

A consistência interna da HOOS-BR foi examinada com o teste alfa de Cronbach. Valores alfa acima de 0,70 foram considerados aceitáveis.1919 Nunnally JC. Psychometric theory. New York: McGraw-Hill; 1978 As confiabilidades de teste-reteste foram analisadas em 7 dias (n = 20). A validade (definida como a capacidade do instrumento de medir o que se pretendia) também foi analisada. A escala foi correlacionada à versão em português brasileiro da Escala Graduada de Dor Crônica (Graded Chronic Pain Scale [GCPS]-BR), esperando correlações positivas entre cada uma das subescalas da GCPS-BR e as subescalas da HOOS-BR. A GCPS trata-se de um questionário de oito itens usada em vários estudos2020 Carroll LJ, Cassidy JD, Côté P. Depression as a risk factor for onset of an episode of troublesome neck and lowback pain. Pain 2004;107 (1-2):134-139 2121 Cassidy JD, Côté P, Carroll LJ, Kristman V. Incidence and course of low back pain episodes in the general population. Spine 2005;30 (24):2817-2823 2222 Mercado AC, Carroll LJ, Cassidy JD, Côté P. Passive coping is a risk factor for disabling neck or low back pain. Pain 2005;117(1-2): 51-57 para análise da persistência, intensidade e incapacidade associada à dor.2323 Von Korff M. Epidemiological and survey methods: assessment of chronic pain. In: Turk DC, Melzack R, eds. Handbook of pain assessment. New York: Guildford Press; 2001:603-618 Sua validade foi analisada em populações norte-americanas e britânicas,2424 Von Korff M, StewartWF, Lipton RB. Assessing headache severity. New directions. Neurology 1994;44(06, Suppl 4):S40-S46 2525 Smith BH, Macfarlane GJ, Torrance N. Epidemiology of chronic pain, from the laboratory to the bus stop: time to add understanding of biological mechanisms to the study of risk factors in population-based research? Pain 2007;127(1-2):5-10 e seu construto possui itens que medem cada um dos principais componentes da classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde da Organização Mundial da Saúde.2626 Dixon D, Pollard B, JohnstonM.What does the chronic pain grade questionnaire measure? Pain 2007;130(03):249-253 A GCPS foi escolhida porque os pacientes incluídos no estudo têm dor crônica, e consideramos que qualquer outra escala já traduzida culturalmente para o português brasileiro não captura toda a extensão do construto medido pela HOOS. Por fim, a estrutura fatorial da HOOS foi analisada.

Métodos estatísticos

Todas as análises estatísticas foram realizadas em software Stata/SE (versão 9.0) para Windows (Stata, College Station, TX, Estados Unidos). A princípio, análises descritivas com médias, porcentagens, e intervalos de confiança de 95% foram utilizadas para o estabelecimento das características demográficas e clínicas da amostra. Os coeficientes de correlação intraclasse foram usados para exame da confiabilidade de teste-reteste da escala e os coeficientes de confiabilidade alfa de Cronbach foram calculados para cada subescala. A validade do instrumento foi determinada por análises de correlação e teste t, e a estrutura fatorial foi submetida à análise fatorial com rotação varimax.

Resultados

Características basais

A maioria dos participantes era do sexo feminino (n = 53; 53,0%), caucasiana (n = 98; 98,0%) e com baixo nível de escolaridade (65% tinham ensino básico, mas este era incompleto) (Tabela 1).

Tabela 1
Dados demográficos basais dos pacientes

Características psicométricas do HOOS

Análise fatorial da HOOS

Os 40 itens da HOOS foram submetidos à análise fatorial (com rotação varimax) (Tabela 2). A HOOS produziu uma solução de cinco fatores. A solução fatorial mais interpretável da HOOS tinha cinco fatores. As 5 subescalas foram identificadas como dor e dificuldades físicas (15 itens), dor e dificuldade em sentar, deitar, e levantar (9 itens), movimentos do quadril (8 itens), dificuldade de caminhada (5 itens) e qualidade de vida (3 itens). Após a identificação dos fatores, novos procedimentos de confiabilidade e validação foram realizados, inclusive uma comparação das subescalas recém-identificadas com as da GCPS-BR.

Tabela 2
Análise fatorial da solução de cinco fatores do Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score

Índices de confiabilidade da escala

Os índices de confiabilidade de teste-reteste, medidos pelos coeficientes de correlação intraclasse (ICC, na sigla em inglês), foram 0,972 no 1° dia (n = 14), e 0,937 em 7 dias (n = 14); na subescala dor e dificuldades físicas, 0,939 no 1° dia (n = 9), e 0,897 em 7 dias (n = 9); na subescala dor e dificuldade em sentar, deitar, e levantar, 0,924 no 1° dia (n = 8), e 0,839 em 7 dias (n = 8); na subescala movimentos do quadril, 0,884 no 1° dia (n = 5), e 0,875 em 7 dias (n = 5); na subescala dificuldade de caminhada e 0,800 no 1° dia (n = 3), e 0,354 em 7 dias (n = 3) na subescala qualidade de vida (Tabela 3).

Tabela 3
Índices de Confiabilidade da Escala do Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score

Correlação entre a HOOS e a GCPS

As pontuações da HOOS apresentaram correlações estatisticamente significativas, nas direções esperadas, com todas as subescalas da GCPS (Tabela 4). O padrão mais convincente foi observado na pontuação de incapacidade (r = -0,700, p< 0,0001). (r = -0,700, p< 0,0001). A subescala dor e dificuldades físicas demonstrou forte correlação com a intensidade da dor característica (r = -0,631, p< 0,0001), pontuação de incapacidade (r = -0,644, p < 0,0001) e dias de incapacidade (r = -0,358, p< 0,0001). A correlação da subescala dor e dificuldade em sentar, deitar, e levantar foi significativa com todas as subescalas da GCPS. As subescalas movimentos do quadril, dificuldade de caminhada e qualidade de vida também foram relacionadas a com todas as subescalas da GCPS.

Tabela 4
Comparação do Hip Disability and Osteoarthritis Outcome Score com as subescalas graduadas de dor crônica

Discussão

A HOOS-BR demonstrou confiabilidade e validade de escala adequadas, e sua análise fatorial gerou uma solução de cinco fatores. Tanto as subescalas convencionais quanto as recém-identificadas da versão em português brasileiro demonstraram confiabilidade interna suficiente e os dois grupos de subescalas apresentaram correlações significativas com praticamente todas as subescalas relevantes da GCPS-BR.

Neste estudo, os coeficientes de consistência interna do HOOS-BR foram notáveis. Ornetti et al.99 Ornetti P, Parratte S, Gossec L, Tavernier C, Argenson JN, Roos EM, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the French version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) in hip osteoarthritis patients. Osteoarthritis Cartilage 2010;18(04):522-529 também relataram coeficientes de confiabilidade aceitáveis nas cinco subescalas da versão francesa da HOOS (0,83 na subescala Dor, 0,84 na subescala outros sintomas, 0,86 na subescala ADL, 0,89 na subescala Sport/Rec, e 0,89 na subescala QoL relacionada ao quadril). Da mesma forma, De Groot et al.1010 de Groot IB, Reijman M, Terwee CB, Bierma-Zeinstra SM, Favejee M, Roos EM, et al. Validation of the Dutch version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score. Osteoarthritis Cartilage 2007;15(01):104-109 relataram coeficientes de confiabilidade da versão alemã da HOOS de 0,74 na subescala dor, 0,95 na subescala outros sintomas, 0,98 na subescala ADL, 0,91 na Sport/Rec, e 0,75 na subescala QoL relacionada ao quadril em pacientes com osteoartrite do quadril. Além disso, Ornetti et al.1212 Ornetti P, Perruccio AV, Roos EM, Lohmander LS, Davis AM, Maillefert JF. Psychometric properties of the French translation of the reduced KOOS and HOOS (KOOS-PS and HOOS-PS). Osteoarthritis Cartilage 2009;17(12):1604-1608 relataram em um estudo de validade comparativa e responsividade do HOOS-PS uma versão reduzida da HOOS uma consistência interna de 0,79 segundo o alfa de Cronbach.

Os índices de confiabilidade, medidos pela correlação intraclasse, mostraram boa confiabilidade; o mesmo foi observado com a HOOS-D,99 Ornetti P, Parratte S, Gossec L, Tavernier C, Argenson JN, Roos EM, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the French version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) in hip osteoarthritis patients. Osteoarthritis Cartilage 2010;18(04):522-529 que demonstrou boa confiabilidade na subescala dor (ICC = 0,88) e excelente confiabilidade nas subescalas outros sintomas (ICC = 0,97), ADL (ICC = 0,94), Sport/Rec (ICC = 0,96) e QoL relacionada ao quadril (ICC = 0,97) em um período médio de 7,6 dias em um grupo de 49 pacientes com osteoartrite do quadril. Ornetti et al.99 Ornetti P, Parratte S, Gossec L, Tavernier C, Argenson JN, Roos EM, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the French version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) in hip osteoarthritis patients. Osteoarthritis Cartilage 2010;18(04):522-529 também demonstraram a confiabilidade satisfatória nas subescalas dor (ICC = 0,83), outros sintomas (ICC = 0,84), ADL (CCI = 0,86), Sport/Rec (ICC = 0,89) e QoL relacionada ao quadril (ICC = 0,86) duas semanas depois, um período considerado curto o suficiente para prevenir a mudança clínica da dor e da incapacidade da osteoartrite do quadril.

Assim, nossos resultados, que sugerem que a HOOS-BR é um instrumento internamente estável, são condizentes com os resultados das validações da tradução francesa e alemã da escala.

Acredita-se que a HOOS original possua cinco subescalas (dor, outros sintomas, ADL, Sport/Rec e QoL relacionada ao quadril) em sua estrutura fatorial. Na análise fatorial da HOOS-BR aqui relatada, examinamos cinco modelos concorrentes e uma solução de cinco fatores levou à separação mais clara entre os fatores. As cinco subescalas que surgiram foram denominadas Dor e Dificuldades Físicas, Dor e Dificuldade de Sentar, Deitar, e Levantar, Movimentos do Quadril, Dificuldade de Caminhada e Qualidade de Vida.

Um dos métodos que usamos para estabelecer a validade do construto da HOOS-BR foi compará-lo às subescalas de GCPS-BR. Todas as subescalas da HOOS-BR se correlacionaram, nas direções esperadas, com todas as subescalas da GCPS-BR, em concordância com a HOOS original, que também demonstrou validade de construto quando correlacionado a SF-36. A validade do construto da versão holandesa da HOOS99 Ornetti P, Parratte S, Gossec L, Tavernier C, Argenson JN, Roos EM, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the French version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) in hip osteoarthritis patients. Osteoarthritis Cartilage 2010;18(04):522-529 foi determinada por sua comparação a SF-36, Oxford Hip Score (OHP) e Visual Analog Scale (VAS, Escala Análoga Visual) para dor. As maiores correlações entre o HOOS-D e as escalas de validade foram observadas nas subescalas destinadas à medida de construtos similares em uma amostra de 39 pacientes com osteoartrite do quadril. Da mesma forma, Ornetti et al.99 Ornetti P, Parratte S, Gossec L, Tavernier C, Argenson JN, Roos EM, et al. Cross-cultural adaptation and validation of the French version of the Hip disability and Osteoarthritis Outcome Score (HOOS) in hip osteoarthritis patients. Osteoarthritis Cartilage 2010;18(04):522-529 avaliaram as relações entre a versão francesa das subescalas HOOS, VAS para dor e o índice de Lequesne em uma amostra de 32 pacientes com osteoartrite do quadril. Uma forte correlação foi observada entre todas as subescalas HOOS e o índice de Lequesne ou VAS de dor que mediram construtos semelhantes.

A HOOS-BR avalia bem as incapacidades causadas pela osteoartrite, o que explica a forte correlação entre todas as subescalas da HOOS e a subescala de incapacidade de GCPS-BR.

Apesar do delineamento experimental cuidadoso do estudo, algumas limitações podem ser apontadas, como o recrutamento de pacientes em um único hospital universitário que pode não representar toda a população com osteoartrite do quadril. O curto intervalo entre as aplicações dos testes de confiabilidade também poderia implicar em um viés de memória. Outra limitação a ser considerada é o pequeno número de pacientes que retornaram para a avaliação de teste-reteste.

Conclusão

Em resumo, traduzimos, adaptamos culturalmente e validamos a HOOS-BR. A análise fatorial gerou uma solução de cinco fatores. A confiabilidade e a validade adequadas da escala foram demonstradas. Uma versão em português brasileiro da HOOS facilitará a avaliação do quadril em uma grande população de pacientes em estudos multinacionais.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2019
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2019

Histórico

  • Recebido
    12 Mar 2018
  • Aceito
    15 Maio 2018
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