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Aplicação do adesivo de lidocaína 5% em cicatrizes cirúrgicas dolorosas: Ensaio clínico* * Trabalho realizado no Serviço de Ortopedia e Traumatologia, Hospital Ipiranga, São Paulo, SP, Brasil

Resumo

Objetivo

Avaliar o emplastro de lidocaína 5% como método de tratamento da dor neuropática após cirurgias ortopédicas em comparação com massagem terapêutica realizada sobre incisões.

Métodos

Trata-se de um ensaio clínico prospectivo, randomizado, com 37 pacientes submetidos a cirurgia ortopédica entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2017. Foram incluídos pacientes com idade entre 13 e 70 anos que foram submetidos a cirurgia ortopédica no pé e tornozelo com dor neuropática ou hipersensibilidade na incisão cirúrgica por no mínimo 90 dias após o procedimento. Todos os indivíduos foram avaliados segundo a escala visual analógica (EVA) de dor e o questionário de qualidade de vida SF-36 no início do tratamento e após 30, 60 e 90 dias.

Resultados

Os dois grupos apresentaram melhora da dor; porém, o grupo que utilizou o emplastro apresentou maior redução com o passar do tempo. Em relação aos parâmetros do questionário SF-36, nenhum deles demonstrou diferença estatisticamente relevante. Em relação à capacidade funcional, aos aspectos físicos, à vitalidade, aos aspectos emocionais, aos aspectos sociais, ao estado geral de saúde e saúde mental, não houve evidências signifìcativas. A grande vantagem do emplastro está no grau de satisfação pessoal dos pacientes, com relevância estatística, provavelmente pela facilidade de aplicação e pelo efeito psicológico de uma terapia medicamentosa.

Conclusão

O emplastro e a massagem são métodos de tratamento efìcazes na redução da dor cicatricial, apresentando resultados semelhantes. O emplastro está associado à melhora do grau de satisfação dos pacientes. Nível de Evidência 1. Ensaio clínico prospectivo randomizado.

Objective

The present paper aims to evaluate the use of a 5% lidocaine patch to treat neuropathic pain after orthopedic procedures in comparison with therapeutic massage over surgical incisions.

Methods

This is a prospective, randomized clinical trial with 37 patients who underwent orthopedic surgery from January 2015 to February 2017. The study included subjects aged 13 to 70 years old who underwent foot and ankle orthopedic surgery and presented neuropathic pain or hypersensitivity at the surgical incision site for at least 90 days after the procedure. All patients were assessed for pain (using the visual analog scale [VAS]) and quality of life (with the SF-36 questionnaire) at the beginning of the treatment and after 30, 60, and 90 days.

Results

Although the treatment improved pain in both groups, subjects using the lidocaine patch presented greater pain reduction over time. There were no statistically significant differences in the SF-36 questionnaire, with no significant evidence regarding functional capacity, physical aspects, vitality, emotional aspects, social aspects, general health condition, and mental health. The great advantage of the patch was the degree of personal satisfaction of the patients, with statistical relevance, probably due to the easy application and psychological effect of a drug therapy.

Conclusion

Lidocaine patches and massages are effective treatment methods for reducing scar tissue pain, with similar outcomes. The patches improved the degree of patient satisfaction. Level of Evidence 1. Prospective randomized clinical trial.

Palavras-chave
procedimentos ortopédicos; dor; neuralgia; lidocaína; massagem

Resumo

Objetivo

Avaliar o emplastro de lidocaína 5% como método de tratamento da dor neuropática após cirurgias ortopédicas em comparação com massagem terapêutica realizada sobre incisões.

Métodos

Trata-se de um ensaio clínico prospectivo, randomizado, com 37 pacientes submetidos a cirurgia ortopédica entre janeiro de 2015 e fevereiro de 2017. Foram incluídos pacientes com idade entre 13 e 70 anos que foram submetidos a cirurgia ortopédica no pé e tornozelo com dor neuropática ou hipersensibilidade na incisão cirúrgica por no mínimo 90 dias após o procedimento. Todos os indivíduos foram avaliados segundo a escala visual analógica (EVA) de dor e o questionário de qualidade de vida SF-36 no início do tratamento e após 30, 60 e 90 dias.

Resultados

Os dois grupos apresentaram melhora da dor; porém, o grupo que utilizou o emplastro apresentou maior redução com o passar do tempo. Em relação aos parâmetros do questionário SF-36, nenhum deles demonstrou diferença estatisticamente relevante. Em relação à capacidade funcional, aos aspectos físicos, à vitalidade, aos aspectos emocionais, aos aspectos sociais, ao estado geral de saúde e saúde mental, não houve evidências significativas. A grande vantagem do emplastro está no grau de satisfação pessoal dos pacientes, com relevância estatística, provavelmente pela facilidade de aplicação e pelo efeito psicológico de uma terapia medicamentosa.

Conclusão

O emplastro e a massagem são métodos de tratamento eficazes na redução da dor cicatricial, apresentando resultados semelhantes. O emplastro está associado à melhora do grau de satisfação dos pacientes. Nível de Evidência 1. Ensaio clínico prospectivo randomizado.

Keywords
orthopedic procedures; pain; neuralgia; lidocaine; massage

Introdução

A dor pós-operatória crônica, definida como permanência de dor na região da incisão cirúrgica após 3 meses do procedimento, é uma queixa frequente na prática ortopédica.11 de León-Casasola OA, Mayoral V. The topical 5% lidocaine medicated plaster in localized neuropathic pain: a reappraisal of the clinical evidence. J Pain Res 2016;9:67–79 Acredita-se que quase 50% dos pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas sejam afetados por essa síndrome. Artrodeses, artroplastias de joelho e osteossínteses para fraturas dos ossos da perna são as cirurgias commaior risco de desenvolvimento da dor pós-operatória crônica. No entanto, qualquer cirurgia ortopédica apresenta um potencial de desenvolvimento dessa patologia,22 Tornetta P 3rd, Court-Brown M, Heckman JD. Rockwood and Green’s fractures in adults. 8th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2015 cujo tratamento constitui-se em um desafio para o cirurgião, exigindo o conhecimento dos vários mecanismos de dor e das opções farmacológicas disponíveis. A maioria dos pacientes acaba não recebendo tratamento adequado, levando à manutenção do quadro, o que afeta diretamente a relação médico-paciente, gerando insatisfação, comprometendo a adesão do paciente a terapias complementares, piorando os resultados e parâmetros clínicos.

Diversas modalidades farmacológicas foram propostas como alternativa ao tratamento da dor crônica pós-operatória: antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação de serotonina, gabapentina, pregabalina ou opioides.33 Nayak S, Cunliffe M. Lidocaine 5% patch for localized chronic neuropathic pain in adolescents: report of five cases. Paediatr Anaesth 2008;18(06):554–558 Recentemente, foi desenvolvido um emplastro de lidocaína 5% que exerce efeito mecânico de barreira e ação farmacológica através da inibição de canais de sódio. Seu uso está associado a uma dessensibilização a médio e longo prazo de receptores da dor. O emplastro de lidocaína já é considerado como medicação de primeira linha em pacientes com dor neuropática ou neuralgia pós-herpética (NPH). Em pacientes com neuropatia diabética e NPH, o emplastro de lidocaína já se mostrou superior à pregabalina.33 Nayak S, Cunliffe M. Lidocaine 5% patch for localized chronic neuropathic pain in adolescents: report of five cases. Paediatr Anaesth 2008;18(06):554–55855 Hadley GR, Gayle JA, Ripoll J, et al. Post-herpetic neuralgia: a review. Curr Pain Headache Rep 2016;20(03):17

Medidas não-farmacológicas também encontram-se descritas com sucesso no tratamento da dor crônica em cicatrizes, destacando-se a massagem manual, realizada pelo próprio paciente, com movimentos circulares sobre a área da cicatriz 2 ou 3 vezes ao dia durante 10 minutos.66 Masanovic MG. [Physical therapy for scars]. Soins 2013;(772): 41–43 Em uma revisão literária recente, o efeito positivo da massagem na cicatriz cirúrgica foi obtido em 90% dos pacientes com períodos de tratamento entre 30 e 180 dias.77 ShinTM, Bordeaux JS. The role of massage in scar management: a literature review. Dermatol Surg 2012;38(03):414–423 O objetivo do presente estudo é avaliar a aplicabilidade do emplastro de lidocaína (Toperma) como método de tratamento da dor neuropática localizada nas cicatrizes de pacientes submetidos a cirurgia ortopédica, comparando comos pacientes submetidos à massagem terapêutica sobre a incisão, analisando o impacto social, através de escalas de satisfação e classificações funcionais.

Material e métodos

Foi realizado um ensaio clínico, prospectivo e randomizado com 37 pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas entrejaneiro de 2015 e fevereiro de 2017, após aprovação pelo Comitê de Ética, sob o número CAAE 64900217000005488. Foram incluídos pacientes entre 13 e 70 anos de idade, submetidos a cirurgias ortopédicas de pé e tornozelo e que mantinham dor ou hipersensibilidade de característica neuropática no local da incisão cirúrgica após, no mínimo, 90 dias da cirurgia. Foram excluídos pacientes fora dessa faixa etária, alérgicos a lidocaína, com doença e/ou lesões de pele, alteração na consolidação óssea (retardo de consolidação ou pseudartrose), infecção localizada na topografia da incisão ou aqueles que abandonaram o seguimento ambulatorial. Os pacientes foram selecionados e avaliadosnoperíodo entre abril eagosto de 2017. Todososindivíduos foram incluídos após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e randomizados em 2 grupos: (a) aplicação do emplastro de lidocaína a 5% 700 mg, utilizado por 12 horas/dia; (b) realização da manipulação manual com compressão circular em toda a extensão da cicatriz, 2 vezes por 10 minutos. Os pacientes foram avaliados quanto à escala visual analógica (EVA) de dor, índice pessoal de satisfação (excelente = 1, bom = 2, regular = 3 ou ruim = 4) e o questionário de qualidade de vida SF-36 (Anexo 1 Appendix 1 Brazilian Version of the Quality-of-Life Questionnaire – SF-36 1- In general, would you say your health is: ExcellentVery GoodGoodFairPoor12345 2- Compared with one year ago, how would you rate your health in general now? Much betterSomewhat betterAbout the sameSomewhat worseMuch worse12345 3- The following items are about activities you might do during a typical day. Does your health now limit you in these activities? If so, how much? ActivitiesYes, it limits a lotYes, it limits a littleNo, it does not limit at alla) Vigorous activities, such as running, lifting heavy objects, participating in strenuous sports.123b) Moderate activities, such as moving a table, using vacuum cleaner, playing ball, sweeping the floor.123c) Lifting or carrying groceries123d) Climbing several flights of stairs123e) Climbing one flight of stairs123f) Bending, kneeling, or stooping123g) Walking more than a kilometer123h) Walking several blocks123i) Walking one block123j) Bathing or dressing yourself123 4- During the past 4 weeks, have you had any of the following problems with your work or other regular daily activities as a result of your physical health? YesNoa) Cut down the amount of time you spent on work or other activities?12b) Accomplished less than you would like?12c) Were limited in the kind of work or other activities.12d) Had difficulty performing the work or other activities (for example, it took extra effort)12 5- During the past 4 weeks, have you had any of the following problems with your work or other regular daily activities a result of any emotional problems (such as feeling depressed or anxious)? YesNoa) Cut down the amount of time you spent on work or other activities?12b) Accomplished less than you would like?12c) Didn’t do work or other activities as carefully as usual.12 6- During the past 4 weeks, how your physical health or emotional problems interfered with your normal social activities with family, friends, or groups? Not at allSlightlyModeratelySevereVery severely12345 7- How much bodily pain have you had during the past 4 weeks? NoneVery MildMildModerateSevereVery severe123456 8- During the past 4 weeks, how much did pain interfere with your normal work (including housework)? Not at allSlightlyModeratelySevereVery severe12345 9- These questions are about how you feel and how things have been with you during the last 4 weeks. For each question, please give the answer that comes closest to the way you have been feeling. All of the timeMost of the timeA good bit of the timeSome of the timeA little bit of the timeNone of the timea) Did you feel full of pep?123456b) Have you been a very nervous person?123456c) Have you felt so down in the dumps that nothing could cheer you up?123456d) Have you felt calm and peaceful?123456e) Did you have a lot of energy?123456f) Have you felt downhearted and blue?123456g) Did you feel worn out?123456h) Have you been a happy person?123456i) Did you feel tired?123456 10- During the past 4 weeks, how much of the time has your physical health or emotional problems interfered with your social activities (like visiting with friends, relatives, etc.)? All of the timeMost of the timeA good bit of the timeSome of the timeA little bit of the time12345 11- How true or false is each of the following statements for you? Definitely trueMostly trueI do not knowMostly falseDefinitely falsea) I seem to get sick a little easier than other people12345b) I am as healthy as anybody I know12345c) I expect my health to get worse12345d) My health is excellent12345 ) em 4 momentos: no início do tratamento e após 30, 60 e 90 dias. Não houve perda de seguimento ou abandono do tratamento. Todos os pacientes foram orientados a usar paracetamol 750 mg como medicação de resgate ou dipirona 1 g caso o paciente apresentasse atopia ao paracetamol, não sendo considerado o uso dos analgésicos como critério de exclusão da pesquisa.

As análises dos efeitos dos tratamentos foram realizadas pela comparação das médias em cada grupo. Testes foram realizados por meio da construção de modelos de análise de variância (ANOVA) com medidas repetidas com grupo e momento como fatores, e/ou por meio da combinação de testes t de Student não pareados e pareados ou seus equivalentes não paramétricos, caso as suposições do modelo não estivessem satisfeitas. Os testes foram realizados com nível de significância de 5% quando realizados por meio do modelo estatístico, ou tiveram seus níveis de significância ajustados pela correção geral de Bonferroni, caso contrário. Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se os softwares estatísticos R 3.4.1 (R Foundation, Viena, Áustria) e NCSS 8.0 (Teikoku Seiyaku Co., Ltd 567 Sanbonmatsu, Higashikagawa, Kagawa – Japão Embalado por: Grünenthal GmbH Zieglerstraße 6 - Aachen - Alemanha).

O presente trabalho foi registrado no ISRCTN registry sob o ID ISRCTN59332544.

Resultados

Avaliação da dor mensurada pela escala visual analógica

Foram registradas 148 avaliações de dor por meio da EVA em 37 pacientes em 4 momentos: visita pré-tratamento (t0) e visitas após 30 (t1), 60 (t2) e 90 (t3) dias de tratamento. A partir dos resultados aferidos, foram calculadas as variações de dor em relação ao resultado basal, subtraindo-se o resultado basal do resultado aferido. Uma análise na visita t0 foi realizada para verificar se os grupos de tratamento Toperma e Massagem eram comparáveis entre si quanto à dor mensurada pela EVA. Foi realizado o teste t de Student e nenhum indício significante de que os grupos tinham médias de dor diferentes foi encontrado (p= 0,697).

Em ambos os grupos, houve uma queda da dor medida ao longo dos meses. Esta queda torna-se estatisticamente relevante já na primeira visita (p< 0,05). Os dois grupos apresentaram desempenhos estatisticamente semelhantes (►Figura 1). Um modelo de ANOVA com medidas repetidas foi utilizado para testarmos diferenças entre os grupos e ao longo do tempo. Foi possível verificar que as variações de dor média em cada visita são diferentes entre si (p< 0,001) e que não temos significância para afirmar a existência de diferença entre os grupos de tratamento (p= 0,158); contudo, parece existir uma tendência de que um grupo apresente padrão de redução de dor diferente do outro, pois tivemos um efeito de interação com valor-p limítrofe (p= 0,060) (►Figura 2).

Fig. 1
Perfis médios de dor medida pela escala visual analógica para cada grupo em cada visita t0, t1, t2 e t3.
Fig. 2
Perfis médios para a variação da dor medida pela escala visual analógica para cada grupo em cada visita t1, t2 e t3.

Não temos indícios de que os grupos de pacientes não fossem comparáveis no momento basal para nenhuma das variáveis analisadas. Esses resultados foram verificados por meio de testes t de Student e testes de Mann-Whitney, e seus valores-p foram sempre > 0,098. Para testar efeito de grupo e tempo, realizamos 3 testes comparativos da variação de desfecho nos momentos t1, t2 e t3 em separado, com nível de significância global dos 3 testes de 5%.

Para testar o efeito de grupo nas médias das variações de satisfação, utilizamos testes não paramétricos de Mann-Whitney e pudemos verificar diferença entre as medianas dos grupos na visita t3 (Toperma versus Massagem em t1 p = 0,667; em t2 p = 0,064; e em t3 p = 0,009). Como tivemos diferença entre grupos, testamos o efeito de tempo por meio

Fig. 3
Perfis médios para a satisfação pessoal do paciente para cada grupo em cada visita t1, t2 e t3.
do teste não paramétrico de Wilcoxon dentro de cada grupo. Para o grupo Toperma, testamos a diferença entre visitas (t1 versus t2, p = 0,001; t1 versus t3, p <0,001; t2 versus t3, p = 0,048) e concluímos que a variação de satisfação em t1 é diferente da variação de satisfação em t2 e t3; contudo, estas últimas não são diferentes entre si. Para o grupo Massagem, testamos a diferença entre visitas (t1 versus t2, p = 0,049; t1 versus t3, p = 0,027; t2 versus t3, p = 0,347) e concluímos que não há indícios de efeito de tempo para a variação de satisfação no grupo Massagem (►Figura 3).

Para testar o efeito de grupo nas médias das variações de capacidade funcional, utilizamos testes não paramétricos de Mann-Whitney e não pudemos verificar diferenças entre as medianas dos grupos nas visitas (t1 p = 0,110; t2 p = 0,269; t3 p = 0,480). Como não temos diferença entre grupos, testamos o efeito de tempo para o total da amostra. Testamos a diferença entre visitas por meio do teste não paramétrico de Wilcoxon (t1 versus t2, p < 0,001; t1 versus t3, p < 0,001; t2 versus t3, p = 0,003) e concluímos que a variação de capacidade funcional é diferente entre as visitas (►Tabela 1).

Para testar o efeito de grupo nas médias das variações de aspectos físicos, utilizamos testes não paramétricos de Mann-Whitney e pudemos verificar diferença entre as medianas dos grupos nas visitas t1 e t3 (t1 p = 0,007; t2 p = 0,066; e t3 p = 0,016). Testando em separado o efeito de tempo nos grupos por meio do teste de Wilcoxon, temos para o grupoToperma que não há diferença entre as visitas para a variação de aspectos físicos(t1 versus t2, p = 0,778; t1 versus t3, p = 0,027; t2 versus t3, p = 0,021). Para o grupo Massagem, verificamos diferenças de t1 versus demais visitas (t1 versus t2, p = 0,006; t1 versus t3, p = 0,003; t2 versus t3, p = 0,588) (►Tabela 2).

Tabela 1
Medidas resumo para os resultados de capacidade funcional em cada grupo e em cada visita t0, t1, t2 e t3 e sua variação nas visitas t1, t2 e t3
Tabela 2
Medidas resumo para os resultados de aspectos físicos em cada grupo e em cada visita t0, t1, t2 e t3 e sua variação nas visitas t1, t2 e t3

Para testar o efeito de grupo nas médias das variações de dor, utilizamos testes não paramétricos de Mann-Whitney e não pudemos verificar diferença entre as medianas dos grupos (t1 p = 0,554; t2 p = 0,734; e t3 p = 0,091). Testando as variações de dor do questionário SF-36 (t1 versus t2, p <0,001; t1 versus t3, p <0,001; t2 versus t3, p <0,001), concluímos que a variação de dor é diferente entre as visitas (► Tabela 1).

Para testar o efeito de grupo para a variação do estado geral, realizamos os testes não paramétricos de Mann-Whitney obtendo os seguintes valores-p: t1 p = 0,347; t2 p = 0,621; e t3 p = 0,666). Não tendo diferença entre grupos, confirmamos diferenças entre as visitas por meio do teste de Wilcoxon, obtendo os seguintes valores-p: t1 versus t2, p <0,001; t1 versus t3, p <0,001; t2 versus t3, p <0,001 (►Tabela 3).

Para testar o efeito de grupo para a variação da vitalidade, realizamos os testes não paramétricos de Mann-Whitney, obtendo os seguintes valores-p: t1 p = 0,173; t2 p = 0,652; e t3 p > 0,999). Não tendo diferença entre grupos, confirmamos diferenças entre as visitas por meio do teste de Wilcoxon, obtendo os seguintes valores-p: t1 versus t2, p <0,001; t1 versus t3, p <0,001; t2 versus t3, p <0,001 (►Tabela 4).

Para testar o efeito de grupo para a variação de aspectos sociais, realizamos os testes não paramétricos de Mann-Whitney, obtendo os seguintes valores-p: Toperma versus Massagem em t1 p = 0,371; em t2 p = 0,411; e em t3 p = 0,318. Não havendo diferença entre os grupos, confirmamos diferenças entre as visitas por meio do teste de Wilcoxon, obtendo os seguintes valores-p: t1 versus t2, p = 0,003; t1 versus t3, p = 0,060; t2 versus t3, p = 0,047 (►Tabela 5)

Para testar o efeito de grupo para a variação de aspectos emocionais, realizamos os testes não paramétricos de Mann-Whitney obtendo os seguintes valores-p: t1 p = 0,091; t2 p = 0,057; e t3 p = 0,018). Não havendo diferença entre grupos, confirmamos diferenças entre as visitas por meio do teste de Wilcoxon, obtendo os seguintes valores-p: t1 versus t2, p = 0,033; t1 versus t3, p = 0,001; t2 versus t3, p = 0,252.

Tabela 3
Medidas resumo para os resultados de estado geral de saúde em cada grupo e em cada visita t0, t1, t2 e t3 e sua variação nas visitas t1, t2 e t3

Para testar o efeito de grupo para a variação de saúde mental, realizamos os testes não paramétricos de Mann-Whitney obtendo os seguintes p-valores: t1 p = 0,250; t2 p= 0,763 e t3 p = 0,740). Não tendo diferença entre grupos, confirmamos diferenças entre as visitas por meio de teste de Wilcoxon, obtendo os seguintes p-valores: t1 versus t2, p < 0,001; t1 versus t3, p < 0,001; t2 versus t3, p = 0,018. Assim, temos que a variação da avaliação de saúde mental em t1 é estatisticamente diferente da avaliação nas demais visitas (►Tabela 6).

Discussão

A dor neuropática crônica pós-operatória é um desafio para os cirurgiões ortopédicos, atingindo até 50% dos pacientes.22 Tornetta P 3rd, Court-Brown M, Heckman JD. Rockwood and Green’s fractures in adults. 8th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2015 O arsenal terapêutico é extenso, porém com resultados pouco animadores. Novas modalidades terapêuticas, como o adesivo de lidocaína 5%, foram testadas para dores neuropáticas, como aNPH.33 Nayak S, Cunliffe M. Lidocaine 5% patch for localized chronic neuropathic pain in adolescents: report of five cases. Paediatr Anaesth 2008;18(06):554–55855 Hadley GR, Gayle JA, Ripoll J, et al. Post-herpetic neuralgia: a review. Curr Pain Headache Rep 2016;20(03):17 O adesivo de lidocaína 5% tem uma dupla via de ação, provendo um efeito mecânico de barreira e através da inativação dos canais de sódio. Em comparação com as demais drogas utilizadas no tratamento da dor neuropática, apresenta como principal vantagem a ausência de efeitos sistêmicos, tendo sido relatadas somente reações cutâneas locaisoudor no sítio da aplicação. A massagem terapêutica já se encontra descrita em diversos estudos como método utilizado em cicatrizes pós-operatórias, com resultados variáveis.66 Masanovic MG. [Physical therapy for scars]. Soins 2013;(772): 41–43,77 ShinTM, Bordeaux JS. The role of massage in scar management: a literature review. Dermatol Surg 2012;38(03):414–423

Analisamos e comparamos em dois grupos randomizados o efeito dessas duas modalidades terapêuticas em pacientes submetidos a cirurgia de pé e tornozelo que mantinham dor na região da cicatriz cirúrgica após um tempo mínimo de 3 meses. Os pacientes foram analisados em relação à dor, medida pela EVA, ao grau de satisfação pessoal e aos componentes do questionário SF-36.

Tabela 4
Medidas resumo para os resultados de vitalidade em cada grupo e em cada visita t0, t1, t2 e t3 e sua variação nas visita t1, t2 e t3
Tabela 5
Medidas resumo para os resultados de aspectos sociais em cada grupo e em cada visita t0, t1, t2 e t3 e sua variação nas visitas t1, t2 e t3
Tabela 6
Medidas resumo para os resultados de saúde mental em cada grupo e em cada visita t0, t1, t2 e t3 e sua variação nas visitas t1, t2 e t3

Os dois grupos apresentaram um padrão de melhora da dor ao longo dos 3 meses de tratamento, apresentando resultado equivalente em 90 dias. Porém, o grupo que utilizou o emplastro apresentou um padrão de redução da dor maior com o passar do tempo. A análise da curva de variação (►Figura 2) sugere que, com um maior tempo de aplicação, o emplastro se torne superior à massagem terapêutica. Os resultados para esta em 90 dias são compatíveis com outros resultados encontrados na literatura. Para o grupo que utilizou o emplastro, não há estudos comparáveis.

Em relação aos parâmetros do questionário SF-36, nenhum deles demonstrou diferença estaticamente relevante entre os grupos, os quais apresentaram melhora similar em relação à dor. Em relação à capacidade funcional, aos aspectos físicos, à vitalidade, aos aspectos emocionais, aos aspectos sociais, ao estado geral de saúde e saúde mental, não houve evidências significativas para afirmar que qualquer uma das duas modalidades interferisse positivamente ou negativamente, e não houve diferença entre os grupos.

A grande vantagem do emplastro está no grau de satisfação pessoal do paciente, que apresentou um padrão de melhora maior com o uso do emplastro, com relevância estatística. Acredita-se que esse efeito se dê por conta da facilidade de aplicação e ao efeito psicológico de uma terapia medicamentosa em comparação com os de uma terapia não-medicamentosa. Ao analisarmos a variação de satisfação pessoal do paciente (►Figura 3), identificamos uma tendência a resultados melhores do emplastro com o passar do tempo.

O fator satisfação, avaliado por uma escala simples, é um importante padrão de avaliação, pois, muitas vezes, apesar do resultado cirúrgico excelente, os pacientes consideram o procedimento um insucesso devido à manutenção da dor neuropática. Nosso estudo demonstra que, com a aplicação do emplastro, os pacientes tendem a se tornar mais satisfeitos com o resultado cirúrgico, o que favorece a relação médicopaciente. Apesar do custo do emplastro, ele apresenta como benefícios a fácil adesão e uma necessidade de menor grau de compreensão para cumprir o tratamento, uma vez que a massagem necessita ser bem compreendida e executada.

Apesar de se tratar de um ensaio clínico randomizado, o presente trabalho avaliou um pequeno número de pacientes (n = 37), por um acompanhamento de 90 dias. Os resultados sugerem que os tratamentos se diferenciariam com um acompanhamento maior, com melhores resultados para o uso do emplastro. Devido a essas limitações, torna-se difícil transpor esses resultados para uma população geral. Novos estudos com maior tempo de avaliação são necessários para confirmar a aplicabilidade do emplastro como método de tratamento para dor neuropática relacionada a cicatrizes cirúrgicas, assim como para verificar se esses efeitos são permanentes ou temporários.

Conclusão

A análise do estudo comprova que o emplastro de lidocaína e dessensibilização manual com massagem são dois métodos de tratamento que se mostraram eficazes na redução da dor dos pacientes analisados, apresentando resultado semelhante. O emplastro de lidocaína ainda está associado à melhora do grau de satisfação dos pacientes com o resultado cirúrgico. Novos estudos são necessários para avaliar a aplicabilidade desses métodos, assim como para verificar a durabilidade dos efeitos analgésicos.

Contribuição dos Autores

Cada autor contribuiu individual e significantemente para o desenvolvimento deste artigo. Macedo R. R. (0000-0002-2563-2085)*, Santos J. P. G. (0000-0002-1086-9872)*, Lobato E. S. (0000-0002-7181-6133)* e Mendes Júnior J. P. (0000-0003-1514-5029)* foram os principais colaboradores para a elaboração do manuscrito. Santos J. P. G. (0000-0002-1086-9872)*, Lobato E. S. (0000-0002-7181-6133)* e Mendes Júnior J. P. (0000-0003-1514-5029)* seguiram os pacientes e reuniram dados clínicos. Santos J. P. G. (0000-0002-1086-9872)*, Lobato E. S. (0000-0002-7181-6133)* e Mendes Júnior J. P. (0000-0003-15145029)* avaliaram os dados da análise estatística. Macedo R. R. (0000-0002-2563-2085)*, Santos J. P. G. (0000-00021086-9872)*, Lobato E. S. (0000-0002-7181-6133)* e Mendes Júnior J. P. (0000-0003-1514-5029)* conduziram a pesquisa bibliográfica. Ikemoto R. Y. (0000-0001-7718-1186)* e Rodrigues L. M. R. (0000-0001-6891-5395)* revisaram o manuscrito e contribuíram para o conceito intelectual do estudo. *ORCID (Open Researcher and Contributor ID).

Anexo 1 Versão Brasileira do Questionário de Qualidade de Vida -SF-36

  1. 1-

    Em geral, você diria que sua saúde é:

    ExcelenteMuito BoaBoaRuimMuito Ruim12345

  2. 2-

    Comparada há um ano atrás, como você classificaria sua saúde em geral, agora?

    Muito MelhorUm Pouco MelhorQuase a MesmaUm Pouco PiorMuito Pior12345

  3. 3-

    Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente durante um dia comum. Devido à sua saúde, você teria dificuldade para fazer estas atividades? Neste caso, quando?

    AtividadesSim, dificulta muitoSim, dificulta um poucoNão, não dificulta de modo alguma) Atividades rigorosas, que exigem muito esforço, tais como correr, levantar objetos pesados, participar em esportes árduos.123b) Atividades moderadas, tais como mover uma mesa, passar aspirador de pó, jogar bola, varrer a casa.123c) Levantar ou carregar mantimentos123d) Subir vários lances de escada123e) Subir um lance de escada123f) Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se123g) Andar mais de 1 quilômetro123h) Andar vários quarteirões123i) Andar um quarteirão123j) Tomar banho ou vestir-se123

  4. 4-

    Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou com alguma atividade regular, como consequência de sua saúde física?

    SimNãoa) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a outras atividades?12b) Realizou menos tarefas do que você gostaria?12c) Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou a outras atividades.12d) Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. ex. necessitou de um esforço extra).12

  5. 5-

    Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas com seu trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de algum problema emocional (como se sentir deprimido ou ansioso)?

    SimNãoa) Você diminui a quantidade de tempo que se dedicava ao seu trabalho ou a outras atividades?12b) Realizou menos tarefas do que você gostaria?12c) Não realizou ou fez qualquer das atividades com tanto cuidado como geralmente faz.12

  6. 6-

    Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física ou problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em relação à família, amigos ou em grupo?

    De forma nenhumaLigeiramenteModeradamenteBastanteExtremamente12345

  7. 7-

    Quanta dor no corpo você teve durante as últimas 4 semanas?

    NenhumaMuito leveLeveModeradaGraveMuito grave123456

  8. 8-

    Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu com seu trabalho normal (incluindo o trabalho dentro de casa)?

    De maneira algumaUm poucoModeradamenteBastanteExtremamente12345

  9. 9-

    Estas questões são sobre como você se sente e como tudo tem acontecido com você durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, por favor dê uma resposta que mais se aproxime da maneira como você se sente, em relação às últimas 4 semanas.

    Todo o tempoA maior parte do tempoUma boa parte do tempoAlguma parte do tempoUma pequena parte do tempoNuncaa) Quanto tempo você tem se sentindo cheio de vigor, de vontade, de força?123456b) Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa muito nervosa?123456c) Quanto tempo você tem se sentido tão deprimido que nada pode animá-lo?123456d) Quanto tempo você tem se sentido calmo ou tranqüilo?123456e) Quanto tempo você tem se sentido com muita energia?123456f) Quanto tempo você tem se sentido desanimado ou abatido?123456g) Quanto tempo você tem se sentido esgotado?123456h) Quanto tempo você tem se sentido uma pessoa feliz?123456i) Quanto tempo você tem se sentido cansado?123456

  10. 10-

    Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou problemas emocionais interferiram com as suas atividades sociais (como visitar amigos, parentes, etc)?

    Todo o tempoA maior parte do tempoAlguma parte do tempoUma pequena parte do tempoNenhuma parte do tempo12345

  11. 11-

    O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?

    Definitivamente verdadeiroA maioria das vezes verdadeiroNão seiA maioria das vezes falsoDefinitivamente falsoa) Eu costumo obedecer um pouco mais facilmente que as outras pessoas12345b) Eu sou tão saudável quanto qualquer pessoa que eu conheço12345c) Eu acho quea minha saúde vai piorar12345d) Minha saúde é excelente12345

CÁLCULO DOS ESCORES DO QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA
Fase 1:
Ponderação dos dados
Domínio:
  • • Capacidade funcional

  • • Limitação por aspectos físicos

  • • Dor

  • • Estado geral de saúde

  • • Vitalidade

  • • Aspectos sociais

  • • Aspectos emocionais

  • • Saúde mental

    Para isso você deverá aplicar a seguinte fórmula para o cálculo de cada domínio:

    Domínio:

    Na fórmula, os valores de limite inferior e variação (Score Range) são fixos e estão estipulados na tabela abaixo.

    Na formula, os valores de limite inferior e variação (Score Range) são fixos e estão estipulados na tabela abaixo.

Domínio Pontuação das questões correspondidas Limite inferior Variação Capacidade funcional 03 10 20 Limitação por aspectos físicos 04 4 4 Dor 07 + 08 2 10 Estado geral de saúde 01 +11 5 20 Vitalidade 09 (somente os itens a + e + g + i) 4 20 Aspectos sociais 06 +10 2 8 Limitação por aspectos emocionais 05 3 3 Saúde mental 09 (somente os itens b + c + d + f + h) 5 25
  • 1
    de León-Casasola OA, Mayoral V. The topical 5% lidocaine medicated plaster in localized neuropathic pain: a reappraisal of the clinical evidence. J Pain Res 2016;9:67–79
  • 2
    Tornetta P 3rd, Court-Brown M, Heckman JD. Rockwood and Green’s fractures in adults. 8th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer Health; 2015
  • 3
    Nayak S, Cunliffe M. Lidocaine 5% patch for localized chronic neuropathic pain in adolescents: report of five cases. Paediatr Anaesth 2008;18(06):554–558
  • 4
    Liedgens H, Obradovic M, Nuijten M. Health economic evidence of 5% lidocaine medicated plaster in post-herpetic neuralgia. Clinicoecon Outcomes Res 2013;5(01):597–609
  • 5
    Hadley GR, Gayle JA, Ripoll J, et al. Post-herpetic neuralgia: a review. Curr Pain Headache Rep 2016;20(03):17
  • 6
    Masanovic MG. [Physical therapy for scars]. Soins 2013;(772): 41–43
  • 7
    ShinTM, Bordeaux JS. The role of massage in scar management: a literature review. Dermatol Surg 2012;38(03):414–423

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    Nov-Dec 2021

Histórico

  • Recebido
    05 Out 2020
  • Aceito
    08 Mar 2021
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