Acessibilidade / Reportar erro

Tradução e adaptação cultural à língua portuguesa do Long Head Biceps Score* * Trabalho desenvolvido no Serviço de Cirurgia de Ombro do Hospital Ortopédico BH (Belo Horizonte, Minas Gerais), em conjunto com o Departamento de Ortopedia e Traumatología da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Abstract

Objective

To translate and culturally adapt the Long Head of Biceps Tendon (LHB) score into Brazilian Portuguese.

Methods

The process involved translations by professionals fluent in the target language, followed by independent back translations. Next, a committee compared the original and translated versions, pretested the final version, and concluded it.

Results

We translated and adapted the questionnaire according to the proposed methodology. In the first version in Portuguese (VP1) there was divergence regarding the translation of twelve terms. Compared to the original version, the back translation of VP1 presented eight diverging terms. A committee prepared a second version in Portuguese (VP2) and applied it to a pretest group consisting of 30 participants. Finally, we conceived the third version in Portuguese, called LHB-pt.

Conclusion

The translation and cultural adaptation into Brazilian Portuguese of the LBH score was successfully accomplished.

LHB score; tenodesis; tenotomy; long head biceps tendon

Introdução

As lesões do tendão da cabeça longa do bíceps representam uma importante causa de dor no ombro,11 Mijic D, Kurowicki J, Berglund D, et al. Effect of biceps tenodesis on speed of recovery after arthroscopic rotator cuff repair. JSES Int 2020;4(02):341-346 que ocorre na face anterior e pode se irradiar ao longo de seu trajeto pelo braço.22 Gill HS, El Rassi G, Bahk MS, Castillo RC, McFarland EG. Physical examination for partial tears of the biceps tendon. Am J Sports Med 2007;35(08):1334-1340Os sintomas geralmente são provenientes de instabilidade, inflamação, ou trauma local.33 Sethi N, Wright R, Yamaguchi K. Disorders of the long head of the biceps tendon. J Shoulder Elbow Surg 1999;8(06):644-654 A incidência da dor oscila entre 36% e 83%, e aumenta de acordo com a gravidade da lesão do manguito rotador que pode estar associada.44 Desai SS, Mata HK. Long Head of Biceps Tendon Pathology and Results of Tenotomy in Full-Thickness Reparable Rotator Cuff Tear. Arthroscopy 2017;33(11):1971-1976'55 Werner BC, Brockmeier SF, Gwathmey FW. Trends in long head biceps tenodesis. Am J Sports Med 2015;43(03):570-578

Para auxiliar no diagnóstico, diversos testes clínicos foram descritos. O teste de Speed,66 Crenshaw AH, Kilgore WE. Surgical treatment of bicipital tenosynovitis. J Bone Joint Surg Am 1966;48(08):1496-1502 amplamente aceito e difundido no meio acadêmico, apresenta alta sensibilidade (90%) e baixa especificidade (13,8%).77 Bennett WF. Specificity of the Speed's test: arthroscopic technique for evaluating the biceps tendon at the level of the bicipital groove. Arthroscopy 1998;14(08):789-796

Quando o tendão da cabeça longa do bíceps sofre ruptura completa de suas fibras, uma deformidade estética conhecida como sinal de Popeye pode ser observada. Trata-se do aumento de volume na região distal do braço, na face anterior, causado pela migração do seu ventre muscular. Em uma revisão sistemática88 Slenker NR, Lawson K, Ciccotti MG, Dodson CC, Cohen SB. Biceps tenotomy versus tenodesis: clinical outcomes. Arthroscopy 2012; 28(04):576-582 envolvendo 699 tenotomias, constatou-se que essa deformidade pode ser observada em 43% dos casos. Na literatura nacional,99 Godinho GG, Mesquita FA, França FdeO, Freitas JM. "ROCAMBOLELIKE" biceps tenodesis: technique and results. Rev Bras Ortop 2015;46(06):691-696

10 Almeida A, Gobbi LF, de Almeida NC, Agostini AP, Garcia AF. Prevalence of popeye deformity after long head biceps tenotomy and tenodesis. Acta Ortop Bras 2019;27(05):265-268

11 Ikemoto RY, Pileggi PE, Murachovsky J, et al. Tenotomy with or without tenodesis of the long head of the biceps using repair of the rotator cuff. Rev Bras Ortop 2015;47(06):736-740
-1212 Checchia SL, Doneux Santos P, Miyazaki AN, et al. Biceps brachii arthroscopic tenotomy for rotator cuff irreparable injuries. Rev Bras Ortop 2003;38(09):513-521 sua presença oscila entre 8,3% e 59,1%. A identificação desse sinal pode ser influenciada por diversos fatores, como idade, nível de experiência do avaliador, e obesidade (especialmente quando o paciente apresenta índice de massa corporal [IMC] > 30 kg/m22 Gill HS, El Rassi G, Bahk MS, Castillo RC, McFarland EG. Physical examination for partial tears of the biceps tendon. Am J Sports Med 2007;35(08):1334-1340).99 Godinho GG, Mesquita FA, França FdeO, Freitas JM. "ROCAMBOLELIKE" biceps tenodesis: technique and results. Rev Bras Ortop 2015;46(06):691-696,1010 Almeida A, Gobbi LF, de Almeida NC, Agostini AP, Garcia AF. Prevalence of popeye deformity after long head biceps tenotomy and tenodesis. Acta Ortop Bras 2019;27(05):265-268,1313 Walch G, Edwards TB, Boulahia A, Nové-Josserand L, Neyton L, Szabo I. Arthroscopic tenotomy of the long head of the biceps in the treatment of rotator cuff tears: clinical and radiographic results of 307 cases. J Shoulder Elbow Surg 2005;14(03):238-246 Sua avaliação representa um importante desfecho em estudos que avaliam o tratamento das lesões do bíceps.

A função do bíceps braquial está relacionada à supinação do antebraço, à flexão do cotovelo, e tem uma pequena contribuição na flexão do ombro.1414 Landin D, Thompson M, Jackson MR. Actions of the Biceps Brachii at the Shoulder: A Review. J Clin Med Res 2017;9(08): 667-670 Autores de estudos eletroneuromiográficos1515 Chalmers PN, Cip J, Trombley R, et al. Glenohumeral Function of the Long Head of the Biceps Muscle: An Electromyographic Analysis. Orthop J Sports Med 2014;2(02):2325967114523902 observaram que o ventre muscular da cabeça longa contribui para a estabilização dinâmica da articulação glenoumeral, especialmente durante a flexão e a abdução. Em um estudo retrospectivo1616 The B, Brutty M, Wang A, Campbell PT, Halliday MJ, Ackland TR. Long-term functional results and isokinetic strength evaluation after arthroscopic tenotomy of the long head of biceps tendon. Int J Shoulder Surg 2014;8(03):76-80. de avaliação isoci-nética envolvendo pacientes tenotomizados, com segui-mento de 7 anos, constatou-se uma perda de 7% da força máxima de flexão e de 9,1% da força máxima de supinação do antebraço. Uma maior perda de força de supinação, decorrente da ruptura completa do tendão, já foi observada por outros autores.1717 Mariani EM, Cofield RH, Askew LJ, Li GP, Chao EY. Rupture of the tendon of the long head of the biceps brachii. Surgical versus nonsurgical treatment. Clin Orthop Relat Res 1988;(228): 233-239 Essas alterações também foram registradas na literatura nacional; entretanto, não foi constatada associação entre maior perda de força em pacientes com sinal de Popeye mais evidente.1818 Almeida A, Valin MR, de Almeida NC, Roveda G, Agostini AP. Análise comparativa da força muscular entre pacientes tenoto-mizados artroscopicamente da cabeça longa do bíceps com relação à deformidade estética. Rev Bras Ortop 2012;47(05): 593-597

Tendo em vista uma ampla variedade de desfechos associados a essa estrutura, foi desenvolvido o Long Head Biceps escore,1919 Kerschbaum M, Arndt L, Bartsch M, Chen J, Gerhardt C, Scheibel M. Using the LHB score for assessment of LHB pathologies and LHB surgery: a prospective study. Arch Orthop Trauma Surg 2016;136 (04):469-475, um questionário funcional, específico, aplicável por um examinador, com análise comparativa dos ombros. É constituído de três grandes campos que recebem pontuações distintas, sendo o primeiro relacionado à detecção de sinais e sintomas, o segundo, à identificação do sinal de Popeye, e o terceiro, à avaliação da força de flexão do cotovelo.

O objetivo do presente estudo é descrever o processo de tradução e adaptação cultural do LHB score para o português do Brasil.

Materiais e Métodos

O presente estudo foi submetido e aprovado pelo comitê de ética de nossa instituição. A intenção de tradução foi comunicada aos criadores do escore, que a aceitaram.

Tradução e adaptação cultural

As traduções para o português e a adaptação cultural do LHB score foram realizadas de acordo com a diretriz proposta por Guillemin.2020 Guillemin F. Cross-cultural adaptation and validation of health status measures. Scand J Rheumatol 1995;24(02):61-63 O processo contemplou cinco passos: 1) Traduções feitas por tradutores que dominam a língua-alvo; 2) retrotraduções, feitas de forma independente; 3) criação de um comitê para comparar o original e a tradução; 4) realização de um pré-teste com a versão final para verificar a equivalência com o original; e 5) adaptação dos pesos das pontuações para o contexto cultural.

A tradução foi feita por dois tradutores, de língua materna portuguesa e com domínio do inglês. As duas versões produzidas foram confrontadas pelos pesquisadores para gerar a primeira versão em português (VP1). Os termos patient name, date of examination e date of birth foram excluídos da tradução, uma vez que não fazem parte do escore.

Gerada a VP1, iniciou-se a retrotradução. Após a escolha dos termos da VP1, foi elaborada pelos pesquisadores a forma traduzida do "LHB score" seguindo os mesmos padrões gráficos e de imagem do escore original. Então, a VP1 foi avaliada por uma terceira tradutora, também cegada para o estudo, de língua materna inglesa e fluente em português, que fez a retrotradução.

Tanto os tradutores que realizaram a VP1 quanto a tradutora da segunda etapa desconheciam a finalidade do estudo.

O terceiro passo foi a organização de um comitê, formado por três tradutores, três pesquisadores e três médicos ortopedistas com especialização em cirurgia do ombro, que realizou uma análise comparativa entre a versão original, a VP1, e a retrotradução. A partir dessa análise, por consenso, foi definida a terminologia a ser empregada na segunda versão em português (VP2). O comitê avaliou a equivalência semântica (significado das palavras), idiomática (expressões idiomáticas e coloquialismos), e conceitual (validade do conceito) por meio da experiência prática.

Finalizadas as três primeiras etapas, foi iniciada a fase de pré-teste. Neste momento, o pesquisador principal recrutou 30 participantes. Foram incluídos pacientes brasileiros, dos gêneros masculino e feminino, com idades entre 18 e 80 anos, com diagnóstico de ruptura parcial ou subtotal do tendão da cabeça longa do bíceps, lesões do lábio superior de anterior para posterior (superior labrum anterior to posterior, SLAP, em inglês), e instabilidade do tendão bicipital associada a lesão da polia ou lesão do manguito rotador, submetidos ao tratamento cirúrgico artroscópico, com seguimento mínimo de 1 ano. Foram excluídos pacientes diagnosticados com tendinite calcárea, artrose glenoumeral ou lesão neurológica associada. Os critérios de não exclusão foram: pacientes com surdez, afasia ou qualquer déficit cognitivo que limitasse diretamente a compreensão do teste.

Os pacientes selecionados receberam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que foi preenchido antes do pré-teste. Após a assinatura do termo, o pesquisador principal realizou a leitura em voz alta da VP2. Se algum dos termos não fosse compreendido pelo participante, o pesquisador poderia explicar com suas próprias palavras o significado. Após a explicação do pesquisador, o participante poderia então sugerir uma nova palavra que, em sua opinião, apresentava uma definição mais clara no contexto da língua portuguesa brasileira. Os itens que obtiveram 15% ou mais de não compreensão foram refor-muladosutilizandoasdefinições propostas pelos participantes como base para a elaboração da versão em português 3 (VP3).

Resultados

Os termos apresentados pelos tradutores A e B, bem como a VP1, podem ser vistos na Tabela 1. Nesta primeira etapa do processo, foram observadas doze divergências.

Tabela 1
Divergências entre tradutores e especialistas na elaboração da primeira versão em português (VP1)

Os resultados do processo de retrotradução são demonstrados na Tabela 2. Nesta etapa, foram observadas oito divergências de tradução com relação à versão original. Nesta mesma tabela, estão também descritos os termos escolhidos pelo comitê para a VP2.

Tabela 2
Resumo das divergências entre tradutores e especialistas na elaboração da segunda versão em português (VP2)

A Tabela 3 apresenta a análise descritiva do grupo submetido ao pré-teste. A maior parte da amostra era composta por mulheres com o lado direito acometido e média de idade de 62,3 anos. O seguimento pós-cirúrgico mínimo foi de um ano, e o máximo, de seis anos.

Tabela 3
Características da amostra submetida ao pré-teste

Terminada essa etapa, chegou-se à versão final da tradução do LHB para o português do Brasil, denominada LHB-pt (►Fig.1).

Fig. 1
LHB-pt.

Discussão

O principal benefício deste trabalho é oferecer para uso público o LHB-pt. Essa é uma ferramenta prática e promissora em estudos que envolvam o tendão da cabeça longa do bíceps.

Diversos autores2121 Zhang Q, Zhou J, Ge H, Cheng B. Tenotomy or tenodesis for long head biceps lesions in shoulders with reparable rotator cuff tears: a prospective randomised trial. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2015;23(02):464-469

22 Hsu AR, Ghodadra NS, Provencher MT, Lewis PB, Bach BR. Biceps tenotomy versus tenodesis: a review of clinical outcomes and biomechanical results. J Shoulder Elbow Surg 2011;20(02): 326-332

23 Koh KH, Ahn JH, Kim SM, Yoo JC. Treatment of biceps tendon lesions in the setting of rotator cuff tears: prospective cohort study of tenotomy versus tenodesis. Am J Sports Med 2010;38 (08):1584-1590
-2424 Ahmed AF, Toubasi A, Mahmoud S, Ahmed GO, Al Ateeq Al Dosari M, Zikria BA. Long head of biceps tenotomy versus tenodesis: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Shoulder Elbow 2021;13(06):583-591 já demonstraram que Escores gerais de avaliação da função do ombro, como Constant-Murley, não são úteis no seguimento de pacientes com doenças do tendão da cabeça longa do bíceps. Por meio dessas questionários, tampouco foi possível detectar diferenças entre os procedimentos de tenotomia e tenodese do tendão bicipital.2121 Zhang Q, Zhou J, Ge H, Cheng B. Tenotomy or tenodesis for long head biceps lesions in shoulders with reparable rotator cuff tears: a prospective randomised trial. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2015;23(02):464-469

22 Hsu AR, Ghodadra NS, Provencher MT, Lewis PB, Bach BR. Biceps tenotomy versus tenodesis: a review of clinical outcomes and biomechanical results. J Shoulder Elbow Surg 2011;20(02): 326-332

23 Koh KH, Ahn JH, Kim SM, Yoo JC. Treatment of biceps tendon lesions in the setting of rotator cuff tears: prospective cohort study of tenotomy versus tenodesis. Am J Sports Med 2010;38 (08):1584-1590
-2424 Ahmed AF, Toubasi A, Mahmoud S, Ahmed GO, Al Ateeq Al Dosari M, Zikria BA. Long head of biceps tenotomy versus tenodesis: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Shoulder Elbow 2021;13(06):583-591 Ao realizar avaliação funcional comparativa de pacientes submetidos a diferentes técnicas de tenodese do tendão bicipital utilizando o LHB score, Schiebel et al.2525 Scheibel M, Schröder RJ, Chen J, Bartsch M. Arthroscopic soft tissue tenodesis versus bony fixation anchor tenodesis of the long head of the biceps tendon. Am J Sports Med 2011;39(05):1046-1052 foram capazes de observar diferenças entre os grupos.

Por incluir em seus tópicos desfechos considerados importantes por diversos autores,88 Slenker NR, Lawson K, Ciccotti MG, Dodson CC, Cohen SB. Biceps tenotomy versus tenodesis: clinical outcomes. Arthroscopy 2012; 28(04):576-582

9 Godinho GG, Mesquita FA, França FdeO, Freitas JM. "ROCAMBOLELIKE" biceps tenodesis: technique and results. Rev Bras Ortop 2015;46(06):691-696
-1010 Almeida A, Gobbi LF, de Almeida NC, Agostini AP, Garcia AF. Prevalence of popeye deformity after long head biceps tenotomy and tenodesis. Acta Ortop Bras 2019;27(05):265-268,2121 Zhang Q, Zhou J, Ge H, Cheng B. Tenotomy or tenodesis for long head biceps lesions in shoulders with reparable rotator cuff tears: a prospective randomised trial. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2015;23(02):464-469

22 Hsu AR, Ghodadra NS, Provencher MT, Lewis PB, Bach BR. Biceps tenotomy versus tenodesis: a review of clinical outcomes and biomechanical results. J Shoulder Elbow Surg 2011;20(02): 326-332

23 Koh KH, Ahn JH, Kim SM, Yoo JC. Treatment of biceps tendon lesions in the setting of rotator cuff tears: prospective cohort study of tenotomy versus tenodesis. Am J Sports Med 2010;38 (08):1584-1590
-2424 Ahmed AF, Toubasi A, Mahmoud S, Ahmed GO, Al Ateeq Al Dosari M, Zikria BA. Long head of biceps tenotomy versus tenodesis: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Shoulder Elbow 2021;13(06):583-591,2626 Galasso O, Gasparini G, De Benedetto M, Familiari F, Castricini R. Tenotomy versus tenodesis in the treatment of the long head of biceps brachii tendon lesions. BMC Musculoskelet Disord 2012; 13:205

27 Frost A, Zafar MS, Maffulli N. Tenotomy versus tenodesis in the management of pathologic lesions of the tendon of the long head of the biceps brachii. Am J Sports Med 2009;37(04):828-833
-2828 Shank JR, Singleton SB, Braun S, et al. A comparison of forearm supination and elbow flexion strength in patients with long head of the biceps tenotomy or tenodesis. Arthroscopy 2011;27(01): 9-16 oLHB torna-se mais específico para este tipo de avaliação. Entretanto, sua precisão é limitada, tendo em vista que pode haver sobreposição com os sintomas apresentados pela lesão do manguito rotador. Sendo assim, já foi demonstrado1919 Kerschbaum M, Arndt L, Bartsch M, Chen J, Gerhardt C, Scheibel M. Using the LHB score for assessment of LHB pathologies and LHB surgery: a prospective study. Arch Orthop Trauma Surg 2016;136 (04):469-475, que o LHB score não é útil no rastreio de lesões antes da cirurgia.

Em um estudo2929 Najafov E, Özal Ş, Kaptan AY, et al. Validity and Reliability of the Turkish Version of LHB Score. J Sport Rehabil 2020;30(01):30-36 sobre a tradução e adaptação cultural do LHB para o turco, foram observadas a sua reprodutibilidade, validade e confiabilidade. Os autores2929 Najafov E, Özal Ş, Kaptan AY, et al. Validity and Reliability of the Turkish Version of LHB Score. J Sport Rehabil 2020;30(01):30-36 concluíram que o questionário é reprodutível (coeficiente interclasse 0,940; p < 0,001), válido (alfa de Cronbach = 0,640) e confiável, pois se manteve estável ao longo do processo de testagem e retestagem. Apesar de não termos avaliado as propriedades do teste em nosso trabalho, acreditamos que os resultados podem ser extrapolados para o LHB-pt.

Após a análise da VP1 e da retrotradução pelo comitê de especialistas, algumas modificações foram realizadas. O termo dor/cãibra foi alterado para dor/desconforto muscular. Isso ocorreu pois o comitê identificou que cãibra, no contexto sociocultural brasileiro, é utilizado para definir uma sensação de desconforto muscular muito intenso. Como o objetivo do escore é identificar a intensidade do desconforto muscular apresentado por um indivíduo, não seria correto utilizar um termo que culturalmente já define o desconforto como intenso. No entanto, ao realizar o pré-teste, 14 pacientes (46%) sugeriram substituir o termo desconforto muscular por cãibra. Dessa forma, os pesquisadores optaram pelo termo cãibra na última versão.

O termo grave foi modificado por intensa, que está mais associado à mensuração da dor e ao desconforto muscular, ao passo que grave pode dar a subtender ao paciente a piora de sua doença de forma subjetiva, sem avaliação quantitativa.

Otermo sensibilidade no sulco bicipital foi alterado para dolorimento no sulco bicipital, pois o termo sensibilidade, no contexto brasileiro, está mais relacionado à capacidade sensitiva, seja ela tátil, de temperatura ou dolorosa. Segundo o comitê, o objetivo do escore não é identificar a capacidade sensitiva do sulco bicipital, mas identificar a sensação de dolorimento à palpação local. Sendo assim, optou-se pelo termo dolorimento.

Algumas modificações foram sugeridas para a adaptação ao contexto sintático do português brasileiro. Portanto, em esforço foi alterado para ao esforço. Da mesma forma, percepção do paciente em relação à deformidade e percepção do examinador em relação à deformidade foram modificados, respectivamente, por percepção da deformidade pelo paciente e percepção da deformidade pelo examinador.

O termo estética também foi alterado, pois aspecto estético representa uma forma mais didática de o paciente compreender que, neste quesito, o objetivo é avaliar as características físicas do local examinado. Para avaliar o grau de deformidade percebido pelo paciente, o comitê optou por utilizar os termos nenhuma, discreta, moderada e grave. Entre estes termos, apenas discreta não constava da VP1, e foi o escolhido para a VP2, pois o comitê considerou que uma possível mudança de aspecto estético seria classificada de modo melhor com o termo discreta quando comparada com leve.

Vale ressaltar que a primeira pergunta do questionário se refere à dor na cabeça longa do bíceps. Muitos avaliadores, ao aplicarem o teste, podem ficar em dúvida sobre como realizar essa mensuração. Scheibel et al.2525 Scheibel M, Schröder RJ, Chen J, Bartsch M. Arthroscopic soft tissue tenodesis versus bony fixation anchor tenodesis of the long head of the biceps tendon. Am J Sports Med 2011;39(05):1046-1052 afirmam que esse parâmetro deve ser avaliado como uma percepção de dor espontânea na face anterior do ombro. Não houve modificação nessa metodologia ao realizarmos a tradução e adaptação do escore. É importante esclarecer também que, segundo os criadores do LHB,1919 Kerschbaum M, Arndt L, Bartsch M, Chen J, Gerhardt C, Scheibel M. Using the LHB score for assessment of LHB pathologies and LHB surgery: a prospective study. Arch Orthop Trauma Surg 2016;136 (04):469-475, a mensuração da força de flexão do cotovelo deve ser realizada com auxílio de um dinamômetro e repetida três vezes. A média da força de flexão do membro a ser avaliado é comparada com a do membro contralateral saudável. O resultado percentual é graduado entre 0 e 20 pontos. A pontuação de 20 é obtida quando valores acima de 91% são alcançados; 16 pontos, quando a força estiver compreendida entre 90% e 81%; 12 pontos, quando os valores estiverem entre 80% e 71%; 8 pontos, entre 70% e 61%; 4 pontos, entre 60% e 51%; e 0 quando a força estiver abaixo de 50%.

Acreditamos que o caráter objetivo das respostas associado a perguntas diretas facilite o uso na prática clínica. Apesar da grande diversidade de regionalismos e vícios de linguagem encontrados em nosso país, o questionário é de fácil compreensão e grande aplicabilidade em estudos de avaliação do tendão da cabeça longa do bíceps.

Como limitações, podemos citar que não foram avaliadas a reprodutibilidade e confiabilidade do teste. Acreditamos que essas propriedades poderão ser identificadas em publicações futuras.

Conclusão

A tradução e adaptação cultural do LHB, a partir das quais foi gerada a versão LHB-pt, foram realizadas com sucesso.

References

  • 1
    Mijic D, Kurowicki J, Berglund D, et al. Effect of biceps tenodesis on speed of recovery after arthroscopic rotator cuff repair. JSES Int 2020;4(02):341-346
  • 2
    Gill HS, El Rassi G, Bahk MS, Castillo RC, McFarland EG. Physical examination for partial tears of the biceps tendon. Am J Sports Med 2007;35(08):1334-1340
  • 3
    Sethi N, Wright R, Yamaguchi K. Disorders of the long head of the biceps tendon. J Shoulder Elbow Surg 1999;8(06):644-654
  • 4
    Desai SS, Mata HK. Long Head of Biceps Tendon Pathology and Results of Tenotomy in Full-Thickness Reparable Rotator Cuff Tear. Arthroscopy 2017;33(11):1971-1976
  • 5
    Werner BC, Brockmeier SF, Gwathmey FW. Trends in long head biceps tenodesis. Am J Sports Med 2015;43(03):570-578
  • 6
    Crenshaw AH, Kilgore WE. Surgical treatment of bicipital tenosynovitis. J Bone Joint Surg Am 1966;48(08):1496-1502
  • 7
    Bennett WF. Specificity of the Speed's test: arthroscopic technique for evaluating the biceps tendon at the level of the bicipital groove. Arthroscopy 1998;14(08):789-796
  • 8
    Slenker NR, Lawson K, Ciccotti MG, Dodson CC, Cohen SB. Biceps tenotomy versus tenodesis: clinical outcomes. Arthroscopy 2012; 28(04):576-582
  • 9
    Godinho GG, Mesquita FA, França FdeO, Freitas JM. "ROCAMBOLELIKE" biceps tenodesis: technique and results. Rev Bras Ortop 2015;46(06):691-696
  • 10
    Almeida A, Gobbi LF, de Almeida NC, Agostini AP, Garcia AF. Prevalence of popeye deformity after long head biceps tenotomy and tenodesis. Acta Ortop Bras 2019;27(05):265-268
  • 11
    Ikemoto RY, Pileggi PE, Murachovsky J, et al. Tenotomy with or without tenodesis of the long head of the biceps using repair of the rotator cuff. Rev Bras Ortop 2015;47(06):736-740
  • 12
    Checchia SL, Doneux Santos P, Miyazaki AN, et al. Biceps brachii arthroscopic tenotomy for rotator cuff irreparable injuries. Rev Bras Ortop 2003;38(09):513-521
  • 13
    Walch G, Edwards TB, Boulahia A, Nové-Josserand L, Neyton L, Szabo I. Arthroscopic tenotomy of the long head of the biceps in the treatment of rotator cuff tears: clinical and radiographic results of 307 cases. J Shoulder Elbow Surg 2005;14(03):238-246
  • 14
    Landin D, Thompson M, Jackson MR. Actions of the Biceps Brachii at the Shoulder: A Review. J Clin Med Res 2017;9(08): 667-670
  • 15
    Chalmers PN, Cip J, Trombley R, et al. Glenohumeral Function of the Long Head of the Biceps Muscle: An Electromyographic Analysis. Orthop J Sports Med 2014;2(02):2325967114523902
  • 16
    The B, Brutty M, Wang A, Campbell PT, Halliday MJ, Ackland TR. Long-term functional results and isokinetic strength evaluation after arthroscopic tenotomy of the long head of biceps tendon. Int J Shoulder Surg 2014;8(03):76-80.
  • 17
    Mariani EM, Cofield RH, Askew LJ, Li GP, Chao EY. Rupture of the tendon of the long head of the biceps brachii. Surgical versus nonsurgical treatment. Clin Orthop Relat Res 1988;(228): 233-239
  • 18
    Almeida A, Valin MR, de Almeida NC, Roveda G, Agostini AP. Análise comparativa da força muscular entre pacientes tenoto-mizados artroscopicamente da cabeça longa do bíceps com relação à deformidade estética. Rev Bras Ortop 2012;47(05): 593-597
  • 19
    Kerschbaum M, Arndt L, Bartsch M, Chen J, Gerhardt C, Scheibel M. Using the LHB score for assessment of LHB pathologies and LHB surgery: a prospective study. Arch Orthop Trauma Surg 2016;136 (04):469-475,
  • 20
    Guillemin F. Cross-cultural adaptation and validation of health status measures. Scand J Rheumatol 1995;24(02):61-63
  • 21
    Zhang Q, Zhou J, Ge H, Cheng B. Tenotomy or tenodesis for long head biceps lesions in shoulders with reparable rotator cuff tears: a prospective randomised trial. Knee Surg Sports Traumatol Arthrosc 2015;23(02):464-469
  • 22
    Hsu AR, Ghodadra NS, Provencher MT, Lewis PB, Bach BR. Biceps tenotomy versus tenodesis: a review of clinical outcomes and biomechanical results. J Shoulder Elbow Surg 2011;20(02): 326-332
  • 23
    Koh KH, Ahn JH, Kim SM, Yoo JC. Treatment of biceps tendon lesions in the setting of rotator cuff tears: prospective cohort study of tenotomy versus tenodesis. Am J Sports Med 2010;38 (08):1584-1590
  • 24
    Ahmed AF, Toubasi A, Mahmoud S, Ahmed GO, Al Ateeq Al Dosari M, Zikria BA. Long head of biceps tenotomy versus tenodesis: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Shoulder Elbow 2021;13(06):583-591
  • 25
    Scheibel M, Schröder RJ, Chen J, Bartsch M. Arthroscopic soft tissue tenodesis versus bony fixation anchor tenodesis of the long head of the biceps tendon. Am J Sports Med 2011;39(05):1046-1052
  • 26
    Galasso O, Gasparini G, De Benedetto M, Familiari F, Castricini R. Tenotomy versus tenodesis in the treatment of the long head of biceps brachii tendon lesions. BMC Musculoskelet Disord 2012; 13:205
  • 27
    Frost A, Zafar MS, Maffulli N. Tenotomy versus tenodesis in the management of pathologic lesions of the tendon of the long head of the biceps brachii. Am J Sports Med 2009;37(04):828-833
  • 28
    Shank JR, Singleton SB, Braun S, et al. A comparison of forearm supination and elbow flexion strength in patients with long head of the biceps tenotomy or tenodesis. Arthroscopy 2011;27(01): 9-16
  • 29
    Najafov E, Özal Ş, Kaptan AY, et al. Validity and Reliability of the Turkish Version of LHB Score. J Sport Rehabil 2020;30(01):30-36
  • *
    Trabalho desenvolvido no Serviço de Cirurgia de Ombro do Hospital Ortopédico BH (Belo Horizonte, Minas Gerais), em conjunto com o Departamento de Ortopedia e Traumatología da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil.
  • Suporte Financeiro
    Os autores declaram que não receberam apoio financeiro de fontes públicas, comerciais, ou sem fins lucrativos.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2023

Histórico

  • Recebido
    6 Jan 2022
  • Aceito
    28 Abr 2022
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rbo@sbot.org.br