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Polimorfismos genéticos no gene COL1A2 eo risco de tendinopatia: Estudo de caso-controle

Resumo

Objetivo

Avaliar a influência de polimorfismos nos genes que codificam o colágeno tipo I e a suscetibilidade genética da tendinopatia.

Metodologia

Estudo caso-controle envolvendo 242 atletas brasileiros de diferentes modalidades esportivas (55 casos de tendinopatia e 187 controles). Os polimorfismos COL1A1 (rs1107946) e COL1A2 (rs412777, rs42524 e rs2621215) foram analisados pelo sistema TaqMan. As razões de chance (OR) com seus intervalos de confiança (IC) de 95% foram calculadas usando um modelo de regressão logística não-condicional.

Resultados

A média de idade foi de 24,0 ± 5,6 anos e 65,3% eram homens. Dos 55 casos de tendinopatia, 25,4% apresentaram mais de um tendão acometido, sendo os maisfrequentesopatelar(56,3%),omanguitorotador(30,9%)eodocotoveloou flexores das mãos (30,9%). A idade e o tempo de prática esportiva foram associados a uma maior chance de apresentar tendinopatia (5 e 8 vezes, respectivamente). A frequência dos alelos variantes nos controles e casos, respectivamente, foi: COL1A1 rs1107946 24,0 e 29,6%; COL1A2 rs412777 36,1 e 27,8%; rs42524 17,5 e 25,9%; e rs2621215 21,3 e 27,8%. Após ajuste pelos fatores de confundimento (idade e anos de práticas esportiva), os polimorfismos COL1A2 rs42524 e rs2621215 foram associados a um risco aumentado de tendinopatia (OR = 5,5; IC95% = 1,2-24,6 e OR = 3,9; IC95% = 1,1-13,5, respectivamente). O haplótipo COL1A2 CGT foi associado a um baixo risco para desenvolvimento da doença (OR = 0,5; IC95% = 0,3-0,9).

Conclusão

Aidade (> 25 anos), o tempo de prática esportiva (> 6 anos) e polimorfismos no gene COL1A2 aumentaram o risco de desenvolvimento da tendino-patia.

atletas; tendinopatia; colágeno tipo 1; polimorfismo genético

Abstract

Objective

To evaluate the influence of polymorphisms on genes encoding type I collagen and the genetic susceptibility of tendinopathy.

Methodology

Case-control study involving 242 Brazilian athletes from different sports modalities (55 cases of tendinopathy and 187 controls). The polymorphisms COLIAI (rs1107946) and COLIA2 (rs412777, rs42524, and rs2621215) were analyzed by theTaqMansystem. Odds ratio(OR)withtheir 95% confidence intervals (CIs) were calculated using a nonconditional logistic regression model.

Results

The mean age was 24.0 ± 5.6 years old and 65.3% were men. Of the 55 cases of tendinopathy, 25.4% had > 1 affected tendon, the most frequent being patellar (56.3%), rotator cuff (30.9%) and elbow or hand flexors (30.9%). Age and amount of time of sports practice were associated with a higher chance of presenting tendinopathy (5 and 8 times, respectively). The frequency of variant alleles in control and case patients, respectively, was: COLIAI rs1107946 24.0 and 29.6%; COLIA2 rs412777 36.1 and 27.8%; rs42524 17.5 and 25.9%; and rs2621215 21.3 and 27.8%. After adjusting for confounding factors (age and years of sports practice), COLIA2 rs42524and rs2621215 polymorphisms were associated with increased risk of tendinopathy (OR = 5.5; 95% CI = 1.2-24.6 and OR = 3.9; IC95% = 1.1-13.5, respectively). The haplotype COLIA2 CGT was associated with low risk for disease development (OR = 0.5; 95%CI = 0.3-0.9).

Conclusion

Age (≥ 25 years old), time of sports practice (≥ 6years) and polymorphisms in the COLIA2 gene increased the risk of developing tendinopathy.

athletes; tendinopathy; collagen type 1; polymorphism, genetic

Introdução

A tendinopatia é uma doença multifatorial do tendão, correspondendo a de 1 a 6% na população geral e a de 20 a 50% das lesões musculoesqueléticas em atletas.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122,22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1 Inicialmente, ocorre uma alteração fisiológica do tecido tendíneo, podendo se agravar com estresse contínuo ou falhas no processo de cicatrização, causando inflamação, dor e até degeneração tecidual.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1

3 Salles JI, Lopes LR, Duarte MEL, et al. Fc receptor-like 3 (-169T>C) polymorphism increases the risk of tendinopathy in volleyball athletes: a case control study. BMC Med Genet 2018;19(01):119
-44 Collins M, Raleigh SM. Genetic risk factors for musculoskeletal soft tissue injuries. Med Sport Sci 2009;54:136-149 A prevalência da doença varia entre as diferentes partes do corpo e de acordo com idade, sexo e ocupação.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1 Em atletas, os tendões afetados variam conforme a modalidade esportiva, porém acometem principalmente o tendão de Aquiles, o patelar, os tendões do manguito rotador e os tendões que têm origem no epicôndilo lateral.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122,22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1,55 Ackermann PW, Renström P. Tendinopathy in sport. Sports Health 2012;4(03):193-201 A interação entre os fatores mecânicos e biológicos está associada ao desenvolvimento das tendinopatias.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1

3 Salles JI, Lopes LR, Duarte MEL, et al. Fc receptor-like 3 (-169T>C) polymorphism increases the risk of tendinopathy in volleyball athletes: a case control study. BMC Med Genet 2018;19(01):119
-44 Collins M, Raleigh SM. Genetic risk factors for musculoskeletal soft tissue injuries. Med Sport Sci 2009;54:136-149,66 Lopes LR, de Miranda VAR, Guimarães JAM, et al. Association of TNF-α -308G > A polymorphism with susceptibility to tendinopathy in athletes: a case-control study. BMC Sports Sci Med Rehabil 2021;13(01):51

Os tendões são constituídos por uma matriz extracelular (MEC) densa com baixa celularidade, porém com alto teor de proteínas estruturais, principalmente colágeno tipo I, uma proteína com morfologia heterotrímera, composta por duas cadeias α1 e uma cadeia α2.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1,44 Collins M, Raleigh SM. Genetic risk factors for musculoskeletal soft tissue injuries. Med Sport Sci 2009;54:136-149 Esta estrutura oferece ao tecido tendinoso propriedades mecânicas únicas quanto a elasticidade e tensão, permitindo a transmissão de carga entre o músculo e o osso, promovendo movimento articular. As junções musculotendínea e osteotendínea têm características histológicas especificas.77 Buchanan CI, Marsh RL. Effects of exercise on the biomechanical, biochemical and structural properties oftendons. Comp Biochem Physiol A Mol Integr Physiol 2002;133(04):1101-1107,88 Nourissat G, Berenbaum F, Duprez D. Tendon injury: from biology to tendon repair. Nat Rev Rheumatol 2015;11(04):223-233 As cadeias a1são codificadas pelo gene COL1A1, localizado no cromossomo 17, e a cadeia α2, codificada pelo gene COL1A2, localizado no cromossomo 7.44 Collins M, Raleigh SM. Genetic risk factors for musculoskeletal soft tissue injuries. Med Sport Sci 2009;54:136-149,99 Gibbon A, Raleigh SM, Ribbans WJ, Posthumus M, Collins M, September AV. Functional COL1A1 variants are associated with the risk of acute musculoskeletal soft tissue injuries. J Orthop Res 2020;38(10):2290-2298Já foi observado que a redução na transcrição gênica de COL1A1 e COL1A2 em camundongos alterou as propriedades de força, elasticidade, tensão e cicatrização do tendão.1010 Guerquin MJ, Charvet B, Nourissat G, et al. Transcription factor EGR1 directs tendon differentiation and promotes tendon repair. J Clin Invest 2013;123(08):3564-3576

Estudos recentes têm mostrado a influência de polimorfismo de nucleotídeo único (SNP, na sigla em inglês) na suscetibilidade da tendinopatia.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1,33 Salles JI, Lopes LR, Duarte MEL, et al. Fc receptor-like 3 (-169T>C) polymorphism increases the risk of tendinopathy in volleyball athletes: a case control study. BMC Med Genet 2018;19(01):119,66 Lopes LR, de Miranda VAR, Guimarães JAM, et al. Association of TNF-α -308G > A polymorphism with susceptibility to tendinopathy in athletes: a case-control study. BMC Sports Sci Med Rehabil 2021;13(01):51,1111 Cohen C, Figueiredo EA, Belangero PS, Andreoli CV, Leal MF, Ejnisman B. Genetic Aspects in Shoulder Disorders. Rev Bras Ortop 2020;55(05):537-542 O polimorfismo genético é caracterizado pela substituição, deleção ou inserção de nucleotídeos na fita de DNA, ocorrendo em > 1% da população, podendo resultar em alteração da expressão ou da funcionalidade dos produtos gênicos, determinando características individuais, incluindo a suscetibilidade a determinadas doenças e a resposta a alguns medicamentos. As combinações possíveis de dois alelos que caracterizam um SNP podem formar três possibilidades de genótipos (heterozigoto, homo-zigoto selvagem ou variante), que podem ou não diferir em fenótipos.1212 Karki R, Pandya D, Elston RC, Ferlini C. Defining "mutation" and "polymorphism" in the era of personal genomics. BMC Med Genomics 2015;8:37 A combinação de alelos fortemente correlacionados em um mesmo cromossomo é, geralmente, herdada como uma unidade, denominados haplótipos, porque não ocorre recombinação genética entre os sítios.1313 Altshuler D, Daly MJ, Lander ES. Genetic mapping in human disease. Science 2008;322(5903):881-888

Os genes COL1A1 e COL1A2 são polimórficos, podendo alterar a expressão ou função biológica do colágeno tipo 1.99 Gibbon A, Raleigh SM, Ribbans WJ, Posthumus M, Collins M, September AV. Functional COL1A1 variants are associated with the risk of acute musculoskeletal soft tissue injuries. J Orthop Res 2020;38(10):2290-2298'1111 Cohen C, Figueiredo EA, Belangero PS, Andreoli CV, Leal MF, Ejnisman B. Genetic Aspects in Shoulder Disorders. Rev Bras Ortop 2020;55(05):537-542'1414 Yoneyama T, Kasuya H, Onda H, et al. Collagen type I alpha2 (COL1A2) is the susceptible gene for intracranial aneurysms. Stroke 2004;35(02):443-448 Os SNPs COL1A1 rs1800012 (C >A) e rs1107946 (G > T), presentes na região promotora, foram associados a lesões em tecidos moles do sistema musculoesquelético em atletas sul-africanos de diversas modalidades esportivas e em uma coorte de indivíduos não atletas do Reino Unido.99 Gibbon A, Raleigh SM, Ribbans WJ, Posthumus M, Collins M, September AV. Functional COL1A1 variants are associated with the risk of acute musculoskeletal soft tissue injuries. J Orthop Res 2020;38(10):2290-2298'1515 Ficek K, Cieszczyk P, Kaczmarczyk M, et al. Gene variants within the COL1A1 gene are associated with reduced anterior cruciate ligament injury in professional soccer players. J Sci Med Sport 2013;16(05):396-400Até o momento, nenhum estudo avaliou a influência de SNPs do gene COL1AA2 na tendinopatia. Desta forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar a contribuição dos SNPs COL1A1 rs1107946 e COL1A2 rs412777, rs42524 e rs2621215 como fatores associados com a suscetibilidade genética de tendi-nopatia em atletas brasileiros.

Metodologia

Foi realizado um estudo retrospectivo observacional do tipo caso-controle com 242 atletas brasileiros, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana de um hospital terciário do Sistema Público de Saúde (número 81225817.0.0000.5273). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e auto-preencheram um questionário previamente validado por especialistas da área, disponível online em um estudo ante-rior.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122 Ao final da coleta de dados, um observador treinado verificou e confirmou com cada atleta as informações. O banco de dados foi preenchido por um pesquisador capacitado, com dupla checagem por outros dois pesquisadores diferentes, para garantir a veracidade das informações inseridas no banco de dados.

Os critérios de inclusão foram atletas federados com idade entre 18 e 45 anos e de diferentes modalidades esportivas, que foram recrutados de fevereiro de 2018 a novembro de 2019. Foram excluídos atletas com ausência de dados sobre lesão musculoesquelética e/ou que não tiveram material biológico coletado.

A Fig. 1 mostra o fluxograma dos 242 atletas incluídos no estudo, sendo 187 atletas sem histórico de lesão no sistema musculoesquelético (grupo controle) e 55 atletas que relataram tendinopatia diagnosticada clinicamente (grupo caso), confirmada com exame de imagem de ressonância magnética (MRI). Todos os diagnósticos de tendino-patia foram avaliados por dois cirurgiões ortopédicos especializados, conforme descrito em estudos anteriores, referente ao critério de seleção dos casos de tendinopatia.33 Salles JI, Lopes LR, Duarte MEL, et al. Fc receptor-like 3 (-169T>C) polymorphism increases the risk of tendinopathy in volleyball athletes: a case control study. BMC Med Genet 2018;19(01):119'66 Lopes LR, de Miranda VAR, Guimarães JAM, et al. Association of TNF-α -308G > A polymorphism with susceptibility to tendinopathy in athletes: a case-control study. BMC Sports Sci Med Rehabil 2021;13(01):51

Fig. 1
Fluxograma dos participantes incluídos no estudo.

O DNA genômico foi obtido de amostra de mucosa oral coletada por swab estéril e isolado com kit de extração QIAmp DNA Mini Kit (Qiagen, Hilden, Alemanha), seguindo as recomendações do fabricante. As análises dos SNPs de interesse foram realizadas pela técnica de reação em cadeia da polime-rase em tempo real (qRT-PCR, na sigla em inglês), usando ensaios validados de discriminação alélica utilizando sistema TaqMan, adquiridos da empresa Thermo Fisher Scientific (Waltham, MA, EUA) conforme descrito na literatura.1616 Perini JA, Lopes LR, Guimarães JAM, et al. Influence of type I collagen polymorphisms and risk of anterior cruciate ligament rupture in athletes: a case-control study. BMC Musculoskelet Disord 2022;23(01):154 O sistema TaqMan para discriminação alélica consiste em um conjunto de iniciadores e sondas de oligonucleotídeos desenhados especificamente para cada SNP alvo. As duas sondas são marcadas com fluorescência diferente, possibilitando a identificação dos dois possíveis alelos (COL1A1 rs1107946 G > T e COL1A2 rs412777 A > C, rs42524 G > C e rs2621215 T > G) presentes na amostra do indivíduo. A intensidade de fluorescência é captada pelo equipamento, discriminando o genótipo de cada indivíduo (►Fig. 2). Para garantir o controle de qualidade da análise, para cada SNP foram utilizados dois controles positivos padronizados de cada genótipo, além de dois controles negativos, conforme descrito na literatura.66 Lopes LR, de Miranda VAR, Guimarães JAM, et al. Association of TNF-α -308G > A polymorphism with susceptibility to tendinopathy in athletes: a case-control study. BMC Sports Sci Med Rehabil 2021;13(01):51

Fig. 2
Análise dos polimorfismos pela técnica de PCR em tempo real utilizando o sistema TaqMan. Legenda: Exemplo da discriminação dos genotipos do polimorfismo COL1A2 rs42524G > C. Os círculos azuis, que apresentam alta fluorescência da sonda COL1A2 rs42524Gsão os pacientes com genotipo homozigoto selvagem (GG). Os círculos vermelhos, que apresentam alta fluorescência da sonda COL1A2 rs42524Csão os homozi-gotos variantes (CC) e os círculos verdes são os heterozigotos (GC), pois apresentam fluorescência de ambas as sondas. Os quadrados pretos são os controles negativos (água), que não devem apresentar amplificação de PCR e, consequentemente, fluorescência.

O cálculo do tamanho amostral foi realizado no programa Epi Info 7, na versão 7.1.3. (http://wwwn.cdc.gov/epiinfo/ html/downloads.htm) para detecção de diferenças entre os grupos (caso e controle), assumindo uma proporção entre casos e controles de 1:3 e razão de chance (OR, na sigla em inglês) de 2,5 com um poder de 0,8 e 5% de erro tipo I.

A distribuição normal das variáveis contínuas na população estudada foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. As comparações de variáveis contínuas entre casos de tendinopatia e grupos de controle foram realizadas usando o teste t de Student e apresentadas como média ± desvio padrão (DP). As variáveis categóricas, assim como as frequências de distribuição dos genótipos e alelos entre os dois grupos foram expressas em porcentagem e determinadas pelo teste Qui-Quadrado (χ2) ou teste Exato de Fisher, quando aplicável.

As frequências dos alelos e genótipos dos SNPs de COL1A1 e COL1A2 foram determinadas por contagem direta dos alelos, e em seguida foi calculado o equilíbrio de Hardy-Weinberg (HWE, na sigla em inglês). Os padrões de haplótipos e os coeficientes de desequilíbrio de ligação (D' é o grau de desequilíbrio no módulo e R2 é o grau de correlação) foram inferidos usando o programa Haploview, conforme descrito na literatura.1616 Perini JA, Lopes LR, Guimarães JAM, et al. Influence of type I collagen polymorphisms and risk of anterior cruciate ligament rupture in athletes: a case-control study. BMC Musculoskelet Disord 2022;23(01):154'1717 Perini JA, Cardoso JV, Berardo PT, et al. Role of vascular endothelial growth factor polymorphisms (-2578C>A, -460 T>C, -1154G>A, +405G>Cand +936C>T) in endometriosis: a case-control study with Brazilians. BMC Womens Health 2014;14:117 O desequilíbrio de ligação descreve as combinações de alelos que ocorrem em uma amostra devido a formação de haplótipos, calculados a partir da frequência dos alelos individuais.1313 Altshuler D, Daly MJ, Lander ES. Genetic mapping in human disease. Science 2008;322(5903):881-888 A análise combinada dos alelos (haplótipos) possivelmente é clinicamente mais relevante do que a análise individual de cada SNP isolado.1717 Perini JA, Cardoso JV, Berardo PT, et al. Role of vascular endothelial growth factor polymorphisms (-2578C>A, -460 T>C, -1154G>A, +405G>Cand +936C>T) in endometriosis: a case-control study with Brazilians. BMC Womens Health 2014;14:117

A magnitude da associação entre a presença dos polimorfismos e a tendinopatia foi estimada por OR, com os seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95%, usando um modelo de regressão logística binário. A construção do modelo final foi baseada no grau de significância estatística na análise univariada e na importância biológica das variáveis estudadas, atribuindo um nível de significância de entrada menor que 0,25 (p < 0,25) e permanecendo com nível de saída de 0,05 (p < 0,05). Todas as análises estatísticas foram efetuadas utilizando o programa IBM SPSS Statistics for Windows versão 20.0 (IBM Corp., Armonk, NY, USA).

Resultados

Dos 55 casos de tendinopatia, 31 (56,3%) relataram a doença no tendão patelar, 17 (30,9%) nos tendões do manguito rotador, 17 (30,9%) no cotovelo ou flexores das mãos, 4 (7,3%) no tendão de Aquiles e 1 (1,8%) no tendão do glúteo médio do quadril (►Fig. 3). Além disso, 14 (25,4%) atletas relataram mais de um tendão afetado pela doença.

Fig. 3
Distribuição dos locais acometidos pela doença. Legenda: Dos atletas que relataram mais de um local da tendinopatia, 7,3% (n = 4) tiveram nos tendões manguito rotador e cotovelo/mão, 7,3% (n = 4) no patelar e no manguito rotador, 3,6% (n = 2) no de Aquiles e manguito rotador, 1,8% (n = 1) no de Aquiles e cotovelo/mão, 1,8% (n = 1) no patelar, manguito rotador e cotovelo/mão e 1,8% (n = 1) no patelar, manguito rotador e de Aquiles.

A média de idade dos 242 atletas foi de 24,0 ± 5,6 anos (18 a 45 anos), o peso corporal foi 74,7 ± 16,3 Kg (48 a 128 Kg), a estatura foi 1,7 ± 0,1 m (1,51 a 2,05 m), o índice de massa corporal (IMC) foi 24,7 ± 3,5 Kg/m22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1 (17,5 a 41,8), os anos de prática no esporte foram 9,5 ± 6,1 (1 a 34) e as horas por semana de treinamento foram13,0 ± 7,7 (1 a 42). As variáveis demográficas, clínicas, esportivas e de treinamento dos casos de tendinopatia e dos controles estão na Tabela I.As variáveis foram avaliadas para identificar os possíveis fatores de confundimento na análise de associação entre os SNPs e a tendinopatia. Após aplicação do modelo de regressão logística não-condicionado, apenas idade e anos de prática permaneceram associados ao risco da tendinopatia na população estudada (►Tabela 1).

Tabela 1
Análise epidemiológica e clínica dos indivíduos incluídos no estudo (n = 242)

A taxa de sucesso da análise genética foi de 98,8% para o SNP COL1A1 (rs1107946), de 99,2% para COL1A2 rs42524, e de 97,9% para rs412777 e rs2621215. Todas as distribuições genotípicas dos SNPs estavam em HWE, indicando que as frequências dos alelos permaneceram inalteradas ao longo das gerações. As frequências do menor alelo variante dos SNPs estudados estão na Fig. 4, na qual não houve diferença significativa da distribuição entre os grupos casos de tendino-patia e controles. Após ajuste pelos fatores de confundimento (idade, modalidade esportiva e anos de prática esportiva), os genótipos variantes COL1A2 rs42524 CC e COL1A2 rs2621215 GG foram associados ao aumento do risco (~ 5,5 e 4 vezes, respectivamente) de tendinopatia (►Tabela 2).

Fig. 4
Distribuição da freqüência alélica dos polimorfismos de COL1A1 e COL1A2 na população estudada (n = 242). Legenda: Não houve diferença significativa entre os grupos na análise univariada.

Tabela 2
Análise de associação dos polimorfismos de COL7A7 e COL1A2 com o desenvolvimento da tendinopatia

Oito haplótipos dos SNPs COL1A2 (rs412777, rs42524, rs2621215) foram inferidos e a frequência do haplótipo selvagem COL1A2 AGT foi de 48,4 e 50,9% nos controles e casos de tendinopatia, respectivamente (►Fig. 5). Após o ajuste para variáveis de confundimento, o haplótipo variante COLIAA2 CGT foi associado negativamente com a tendinopatia (OR = 0,48; IC95% = 0,25-0,93).

Fig. 5
Distribuição da freqüência haplotípica dos polimorfismos de COL1A2 na população estudada (n = 242). Legenda: Oito haplótipos de COL1A2, envolvendo os polimorfismos rs412777, rs42524, rs2621215, foram encontrados na população estudada. Houve diferença significativa na distribuição de frequência dos haplótipos AGT e CGT.

Discussão

A tendinopatia é um distúrbio do sistema musculoesquelé-tico muito comum no esporte, com prevalência de 10-50%, variando o tendão afetado conforme a modalidade esportiva do atleta.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122,22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1 O tendão patelar está entre os mais vulneráveis e freqüentes a sofrer lesões por uso excessivo nos membros inferiores.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122,1818 Florit D, Pedret C, Casals M, Malliaras P, Sugimoto D, Rodas G. Incidence of Tendinopathy in Team Sports in a Multidisciplinary Sports Club Over 8 Seasons. J Sports Sci Med 2019;18(04):780-788 No presente estudo, ~ 60% dos atletas relataram a doença no tendão patelar, sendo mais frequente nos esportes de rugby, futebol e futebol americano. O aumento da tensão e carga mecânica durante a flexão do joelho gera alterações celulares, com degeneração da fibrila de colágeno que diminui as propriedades estruturais do tecido.1919 Aicale R, Oliviero A, Maffulli N. Management of Achilles and patellar tendinopathy: what we know, what we can do. J Foot Ankle Res 2020;13(01):59 As tendinopatias do manguito rotador e do cotovelo ou flexores das mãos foram mais frequentes (~ 62%) dos membros superiores, principalmente nos esportes de remo, ginástica artística, natação, esportes de luta e polo aquático. O ombro é muito utilizado em esportes que exigem maior demanda e força dos membros superiores, como movimentos de arremesso no esporte de polo aquático e em exercícios de ataque e defesa exigidos em esportes de luta.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122,2020 Hams AH, Evans K, Adams R, Waddington G, Witchalls J. Shoulder internal and external rotation strength and prediction of subsequent injury in water-polo players. Scand J Med Sci Sports 2019; 29(09):1414-1420

A idade e o tempo de prática esportiva foram associados com o risco da presença da tendinopatia, de acordo com outros estudos da literatura.11 Goes RA, Lopes LR, Cossich VRA, et al. Musculoskeletal injuries in athletes from five modalities: a cross-sectional study. BMC Mus-culoskelet Disord 2020;21(01):122,22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1 O avanço da idade pode provocar o envelhecimento do tendão, causando uma alteração na vascu-larização tendínea e, consequentemente, formar uma estrutura menos rígida e vulnerável a sofrer estresse tecidual.2121 Li HY, Hua YH. Achilles Tendinopathy: Current Concepts about the Basic Science and Clinical Treatments. BioMed Res Int 2016; 2016:6492597 O presente estudo observou que atletas mais velhos, > 25 anos, e com tempo de prática esportiva > 10 anos foram fortemente associados a tendinopatia em atletas brasileiros (~ 5e 11 vezes, respectivamente), o que corrobora com estudo anterior que observou um risco de 8 vezes associados a tendinopatia no tendão patelar, manguito rotador e Aquiles em atletas de voleibol brasileiros com idade > 24 anos e com 15 anos ou mais de prática esportiva.33 Salles JI, Lopes LR, Duarte MEL, et al. Fc receptor-like 3 (-169T>C) polymorphism increases the risk of tendinopathy in volleyball athletes: a case control study. BMC Med Genet 2018;19(01):119 Ainda, foi observada a prevalência da doença em 17% de atletas adultos comparada com 5,6% em adolescentes.2222 Cassel M, Baur H, Hirschmüller A, Carlsohn A, Fröhlich K, Mayer F. Prevalence of Achilles and patellar tendinopathy and their association to intratendinous changes in adolescent athletes. Scand J Med Sci Sports 2015;25(03):e310-e318 Além disso, a intensa exposição ao volume e frequência de treinamentos pode ocasionar lesões recorrentes no tendão, com uma incidência de 0,12 lesões/1.000 horas de tempo de treinos ou competições.2323 Hägglund M, Zwerver J, Ekstrand J. Epidemiology of patellar tendinopathy in elite male soccer players. Am J Sports Med 2011;39(09):1906-1911 Diferentes modelos de treinamento, como por exemplo, carga de salto e movimentos repetitivos, podem aumentar o risco de desenvolvimento de lesão tendínea.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1

Variações genéticas vêm sendo apresentadas como fatores de risco intrínsecos associados com o desenvolvimento da tendinopatia.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1,44 Collins M, Raleigh SM. Genetic risk factors for musculoskeletal soft tissue injuries. Med Sport Sci 2009;54:136-149,1111 Cohen C, Figueiredo EA, Belangero PS, Andreoli CV, Leal MF, Ejnisman B. Genetic Aspects in Shoulder Disorders. Rev Bras Ortop 2020;55(05):537-542,2424 Assunção JH, Tenrreiro BF, Gracitelli MEC, Malavolta EA, Ferreira Neto AA. Family predisposition for rotator cuff tear and other tendinopa-thies - a case-control study. Rev Bras Ortop 2020;55(04):470-475 A interação gene-ambiente de alguns fatores de risco modificáveis, principalmente em atletas, relacionados a intensidade e volume de treinamentos ou competições, e não modificáveis, como o perfil genético do atleta, podem resultar em um efeito sinérgico na manifestação da lesão no tendão.2525 Andarawis-Puri N, Flatow EL, Soslowsky LJ. Tendon basic science: Development, repair, regeneration, and healing. J Orthop Res 2015;33(06):780-784 Um estudo de revisão sistemática envolvendo 17 estudos sobre a influência de genes ligados à estrutura do colágeno e homeostase do tendão observou a relevância da contribuição de polimorfismos nos genes que codificam o colágeno com a suscetibilidade à tendinopatia de Aquiles.2626 Kozlovskaia M, Vlahovich N, Ashton KJ, Hughes DC. Biomedical risk factors of achilles tendinopathy in physically active people: a systematic review. Sports Med Open 2017;3(01):20 Pacientes com instabilidade do ombro, por exemplo, apresentam menor expressão do COL5A1.2727 Belangero PS, Leal MF, de Castro Pochini A, Andreoli CV, Ejnisman B, Cohen M. Profile of collagen gene expression in the glenohum-eral capsule of patients with traumatic anterior instability of the shoulder. Rev Bras Ortop 2014;49(06):642-646

Os tendões lesionados possuem maior expressão de colágeno dos tipos I e III.99 Gibbon A, Raleigh SM, Ribbans WJ, Posthumus M, Collins M, September AV. Functional COL1A1 variants are associated with the risk of acute musculoskeletal soft tissue injuries. J Orthop Res 2020;38(10):2290-2298,1515 Ficek K, Cieszczyk P, Kaczmarczyk M, et al. Gene variants within the COL1A1 gene are associated with reduced anterior cruciate ligament injury in professional soccer players. J Sci Med Sport 2013;16(05):396-400 Considerando o colágeno tipo I, o polimorfismo COL1A1 rs1107946 G > Testá relacionado com diferenças na atividade transcricional do gene, no qual o alelo G apresenta maior eficiência de transcrição quando comparado ao alelo T.2828 García-Giralt N, Enjuanes A, Bustamante M, et al. In vitro functional assay of alleles and haplotypes of two COL1A1-promoter SNPs. Bone 2005;36(05):902-908 Ficek et al.1515 Ficek K, Cieszczyk P, Kaczmarczyk M, et al. Gene variants within the COL1A1 gene are associated with reduced anterior cruciate ligament injury in professional soccer players. J Sci Med Sport 2013;16(05):396-400 observaram que o haplótipo COL1A1 GT (rs1107946-rs1800012) está associado a um menor risco de ruptura do ligamento cruzado anterior em um grupo de jogadores profissionais de futebol, porém não encontraram associação com tendinopatia, conforme observado no presente estudo em que o SNP COL1A1 rs1107946 não foi associado a risco de tendinopatia. Até o momento, não há relato de estudos que avaliaram a influência do gene COL1A2 na etiología da tendinopatia, tornando o presente estudo pioneiro na descrição da associação de risco dos genótipos variantes COL1A2 rs42524 CC e rs2621215 GG com a suscetibilidade da doença. Recentemente, Perini e colaboradores observaram que os genótipos variantes COL1A2 rs42524 CC e COL1A2 rs2621215 GG apresentaram uma chance de ~ 5 vezes para a ruptura sem contato do ligamento cruzado anterior.1616 Perini JA, Lopes LR, Guimarães JAM, et al. Influence of type I collagen polymorphisms and risk of anterior cruciate ligament rupture in athletes: a case-control study. BMC Musculoskelet Disord 2022;23(01):154 A substituição do aminoácido alanina por prolina (Ala > Pro) do SNP COL1A2 rs42524 G > C promove alteração na estabilidade da tripla hélice do colágeno.1414 Yoneyama T, Kasuya H, Onda H, et al. Collagen type I alpha2 (COL1A2) is the susceptible gene for intracranial aneurysms. Stroke 2004;35(02):443-448 OSNP COL1A2 rs2621215 T> G pode interagir com outros polimorfismos funcionais e afetar a remoção dos íntrons deste gene causando danos na estrutura do colá-geno.2929 Meng Q, Hao Q, Zhao C. The association between collagen gene polymorphisms and intracranial aneurysms: a meta-analysis. Neurosurg Rev 2019;42(02):243-253 Assim, a presença dos alelos variantes COL1A2 rs42524 C e rs2621215 G pode produzir um colágeno menos flexível, tornando-o mais vulnerável ao estresse tecidual.

O haplótipo COL1A2 CGT, formado apenas pelo alelo variante do SNP rs412777C, sendo os outros dois selvagens (rs42524G e rs2621215T) apresentou um fator de proteção para o desenvolvimento da tendinopatia. A troca do nucle-otídeo adenina por citosina no éxon 25 não promove a troca do aminoácido prolina na posição 392 da cadeia a2do colágeno tipo 1. Os mecanismos pelos quais os diferentes polimorfismos do gene COLIAA2 afetam sua expressão e/ou função ainda não são totalmente conhecidos. Contudo, o SNP rs412777 pode estar em desequilíbrio de ligação com uma mutação funcional, pode influenciar na expressão do gene e interferir no mecanismo de remoção dos íntrons e união dos éxons, fundamentais para a formação da proteína.3030 Suuriniemi M, Mahonen A, Kovanen V, Alén M, Cheng S. Relation of PvuII site polymorphism in the COL1A2 gene to the risk of fractures in prepubertal Finnish girls. Physiol Genomics 2003;14 (03):217-224

Finalmente, com base nos resultados encontrados, foi sugerido um mecanismo de hipótese da interação geneambiente entre a idade do atleta, o tempo de prática no esporte e a contribuição dos SNPs COLIA2 (rs412777, rs42524, rs2621215) no desenvolvimento da tendinopatia. Fatores como o envelhecimento e estresse mecânico podem contribuir para o aumento da demanda ou distribuição irregular da carga tênsil, causando alterações teciduais.22 Millar NL, Silbernagel KG, Thorborg K, et al. Tendinopathy. Nat Rev Dis Primers 2021;7(01):1 As fibras do colágeno do tipo 1 apresentam diferenças entre os indivíduos, devido à presença de polimorfismos nos genes (COL1A1 e COL1A2), que codificam a proteína.99 Gibbon A, Raleigh SM, Ribbans WJ, Posthumus M, Collins M, September AV. Functional COL1A1 variants are associated with the risk of acute musculoskeletal soft tissue injuries. J Orthop Res 2020;38(10):2290-2298,1414 Yoneyama T, Kasuya H, Onda H, et al. Collagen type I alpha2 (COL1A2) is the susceptible gene for intracranial aneurysms. Stroke 2004;35(02):443-448,1515 Ficek K, Cieszczyk P, Kaczmarczyk M, et al. Gene variants within the COL1A1 gene are associated with reduced anterior cruciate ligament injury in professional soccer players. J Sci Med Sport 2013;16(05):396-400 Os SNPs de COL1A2 podem influenciar na expressão do gene, aumentando a rigidez e diminuindo a elasticidade tecidual.1414 Yoneyama T, Kasuya H, Onda H, et al. Collagen type I alpha2 (COL1A2) is the susceptible gene for intracranial aneurysms. Stroke 2004;35(02):443-448,3030 Suuriniemi M, Mahonen A, Kovanen V, Alén M, Cheng S. Relation of PvuII site polymorphism in the COL1A2 gene to the risk of fractures in prepubertal Finnish girls. Physiol Genomics 2003;14 (03):217-224

Desta forma, sugerimos que a interação gene-ambiente (SNPs de COLIAA2 somado ao envelhecimento e a alta exposição aos treinamentos) pode contribuir sinergicamente para o desenvolvimento da tendinopatia em atletas (►Fig. 6).

Fig. 6
Hipótese de mecanismo do desenvolvimento da tendinopatia na presença de fatores intrínsecos (idade e polimorfismos de COL1A1 e COL1A2) e extrínsecos (anos de treinamento esportivo).

Este é um estudo pioneiro e inovador que pode contribuir com o avanço biotecnológico e clínico na medicina personalizada; contudo, o tamanho da amostra do grupo de casos de tendinopatia foi a principal limitação do estudo, não permitindo a análise estratificada da doença em tendões com diferentes atividades biomecânicas. Além disso, o presente estudo não diferenciou tendinopatias instrasubstanciais daquelas insercionais ou que ocorrem na junção miotendí-nea, o que deve ser motivo de investigação em futuros estudos analíticos por se tratarem de doenças de espectro clínico diverso. Porém, temos ciência de que mesmo com diferenças nos locais anatômicos, todos os tendões são compostos por colágeno do tipo 1. Também temos uma variedade de modalidades esportivas, que diferem quanto ao tipo de treinamento, demandas biomecânicas e, consequentemente, aos tendões afetados pela doença. Contudo, as possíveis variáveis de confundimento foram inseridas no modelo de regressão logística para avaliar a real influência dos SNPs no desenvolvimento da tendinopatia. Desta forma, os resultados do presente estudo podem contribuir como base de dados para estudo futuros, com o intuito de construir um banco de dados com diferentes populações para que seja possível identificar os fatores de risco modificáveiseosnão modificáveis associados ao desenvolvimento da tendinopa-tia. Programas individualizados de prevenção de lesão utilizando informações genéticas podem contribuir para promoção da saúde e bem-estar dos indivíduos, além de serem ferramentas diagnósticas úteis na prática clínica do ortopedista.

Conclusão

Atletas > 25 anos, com > 6 anos de prática esportiva, com genotipos COL1A2 rs42524 CC e rs2621215 GG apresentam maior risco de desenvolver tendinopatia, enquanto o hapló-tipo variante COL1A2 CGT apresentou um efeito protetor no desenvolvimento da doença.

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  • Trabalho multicêntrico desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ-ZO), na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (INTO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
  • Suporte Financeiro
    Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    May-Jun 2023

Histórico

  • Recebido
    19 Jan 2022
  • Aceito
    12 Set 2022
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Al. Lorena, 427 14º andar, 01424-000 São Paulo - SP - Brasil, Tel.: 55 11 2137-5400 - São Paulo - SP - Brazil
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