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Inconsciente e linguagem comum na teoria freudiana

Unconscious and common language in freudian theory

Resumos

Este ensaio procura explorar a relação entre a linguagem comum e a noção freudiana de inconsciente. Procura, sobretudo, estabelecer pontos em comum entre as semânticas do inconsciente e das práticas lingüísticas socialmente organizadas, para, por fim, apontar para o lugar de sua provável ruptura.

Freud; inconsciente; linguagem comum


The present paper aims to explore the connection between common language and Freud's notion of unconscious. It is specially concerned in establishing common points between unconscious' semantics and socially organized language-practices, pointing finally to the place of their possible break-down.

Freud; unconscious; common language


ARTIGOS

Inconsciente e linguagem comum na teoria freudiana* * Este trabalho é uma versão modificada de parte da tese de doutorado do autor, Introdução ao Pensamento de Merleau-Ponty: Contrapontos com Freud e Wittgenstein. Campinas, UNICAMP, 1998, inédita.

Unconscious and common language in freudian theory

Reinaldo Furlan1 1 Endereço: Av. Bandeirantes, 3900. CEP: 14040-901 Ribeirão Preto ¾ SP. E-mail: reinaldo@ffclrp.usp.br

Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto

RESUMO

Este ensaio procura explorar a relação entre a linguagem comum e a noção freudiana de inconsciente. Procura, sobretudo, estabelecer pontos em comum entre as semânticas do inconsciente e das práticas lingüísticas socialmente organizadas, para, por fim, apontar para o lugar de sua provável ruptura.

Palavras-chave: Freud; inconsciente; linguagem comum.

ABSTRACT

The present paper aims to explore the connection between common language and Freud's notion of unconscious. It is specially concerned in establishing common points between unconscious' semantics and socially organized language-practices, pointing finally to the place of their possible break-down.

Key words: Freud; unconscious; common language.

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Full text available only in PDF format.

Recebido em 23.09.1999

Primeira decisão editorial em 25.11.1999

Versão final em 25.01.2000

Aceito em 01.03.2000

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  • *
    Este trabalho é uma versão modificada de parte da tese de doutorado do autor,
    Introdução ao Pensamento de Merleau-Ponty: Contrapontos com Freud e Wittgenstein. Campinas, UNICAMP, 1998, inédita.
  • 1
    Endereço: Av. Bandeirantes, 3900. CEP: 14040-901 Ribeirão Preto ¾ SP. E-mail:
  • homo natura

    2 Wittgenstein dedicou parte de suas reflexões ao caráter sedutor da teoria freudiana. Compare a diferença de atração: sonho como realização de desejos e sonho como memórias de fatos ocorridos: "Nós não sentimos que memórias pedem por uma interpretação do mesmo modo como sentimos a respeito dos sonhos" (1966/1982, p. 5), ou ainda, "os sonhos parecem pedir ao sonhador uma interpretação, parecem ter algo enigmático" (p. 4). Granier (1981), em contrapartida, assume positivamente o caráter mitológico da teoria: "Que procura Freud, em última instância? Nada mais - segundo suas próprias declarações - que pensar 'o '. Através desta alusão expressa à
    natura, a reflexão freudiana mostra que ela ultrapassou largamente o quadro da experiência clínica e da investigação sócio-cultural onde suas 'hipóteses convencionais' são compatíveis com as normas da ciência. Freud (1981) está, aliás, bem consciente disso, já que ele não recua diante desta confissão capital: 'a teoria das pulsões é, por assim dizer, nossa mitologia, as pulsões são essências míticas, formidáveis em sua indeterminação. Nós não podemos perdê-las um só instante de vista, em nosso trabalho, e nós não somos, entretanto, jamais seguros de apercebê-las com acuidade'. O mito não é de modo algum um agregado de fantasias; muito pelo contrário, Freud lhe restitui, aqui, sua potência primeira de
    desvelamento, face a uma realidade que se furta ao saber objetivo da ciência, requer o
    simbolismo do
    pensamento (...) Ligada assim à pulsionalidade
    do id como natureza, a
    mitologia designa, portanto, aos olhos de Freud, o
    discurso sobre as origens, o discurso do originário. E o
    id pulsional é então, precisamente, o originário, mesmo: isso do qual procede o conjunto da vida psíquica, com todas as suas ramificações (...)". Granier aproxima o projeto de investigação freudiana e sua noção de id, da filosofia de Nietzsche e sua noção de "caos" (pp. 100-101).
  • 3
    "Se a história sexual de um homem oferece a chave de sua vida, é porque na sexualidade do homem projeta-se sua maneira de ser a respeito do mundo, a respeito do tempo e a respeito dos outros homens" (Merleau-Ponty, 1945/1994, p. 219)
  • 4
    Freud (1916-1917/1989) afasta a possibilidade de interpretação dos sonhos apenas através dos símbolos, independente das associações de idéias produzidas na análise pelo sonhador sobre o próprio sonho: "(...) Exponho-o porque pode mostrar-lhes quão inacessível à compreensão é, em geral, um sonho antes que o sonhador nos tenha dado suas referências sobre ele. No fundo, suspeito, vocês consideram que a interpretação de sonhos por substituição do significado simbólico é o ideal, e gostariam de deixar de lado a técnica de associação; proponho-me afastá-los desse erro pernicioso" (v. 15, p. 170).
  • Projeto

    5 No , as excitações provenientes do mundo exterior que atravessam
    Phi (neurônios perceptivos) não estão em contato direto com os neurônios da consciência (w), porque passam antes pelo sistema
    Psi (neurônios da memória), o que significa que a memória desempenha um importante papel na percepção - esse mesmo modelo encontramos no capítulo VII d
    'A Interpretação dos Sonhos (Freud, 1900/1989). Na carta 39 a Fliess (1887-1902/1981), entretanto, o sistema ômega (composto de neurônios
    w) é colocado entre
    Phi e
    Psi, o que aparentemente retira parte da importância da memória no sentido da percepção.
  • 6
    Usamos livremente os termos da primeira e segunda tópicas freudianas, conforme a sua pertinência para a questão em discussão, marcando suas diferenças, quando necessário; embora os termos da segunda tópica tenham dado maior coerência à teoria - o caso mais explícito parece ser o das operações inconscientes no ego -, eles não são necessariamente excludentes dos termos da primeira tópica. Ver essa discussão em Monzani (1989).
  • 7
    A não ser no caso de angústia, que representa um caso limite de energia não ligada a nenhuma representação [o outro seria, segundo Monzani, (1989), o momento preliminar de formação da pulsão, "esse 'conceito limite' que aponta para o momento mesmo onde os processos energéticos orgânicos transformam-se em processos energéticos psíquicos" _ p. 94], em geral, a energia psíquica não se encontra absolutamente livre, uma vez que a representação do objeto é um dos elementos da pulsão, que indica a direção para a sua satisfação.
  • 8
    Nesse ponto, a observação de Wittgenstein (1966/192), de que o trabalho de interpretação do sonho se compara ao preenchimento dos espaços vazios de uma tela que pintamos, não parece correta.
  • 9
    "Isso quer dizer provavelmente que 'au début', na gênese do inconsciente, havia um fenômeno de comunicação que em seguida se fechou sobre si mesmo, a comunicação tornando-se então 'circulação'" (Laplanche, 181, p. 124).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Jan 2013
    • Data do Fascículo
      Ago 1999

    Histórico

    • Aceito
      01 Mar 2000
    • Revisado
      25 Jan 2000
    • Recebido
      23 Set 1999
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