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Resenha: Psicologia e fenomenologia: reflexões e perspectivas

Book review: Psychology and phenomenology: reflections and perspectives

Resenha: Psicologia e fenomenologia: reflexões e perspectivas

Book review: Psychology and phenomenology: reflections and perspectives

Manuela Bogéa Perez1 1 Endereço: SQS 210 Bloco J apto 408. 70273-100 Brasília, DF, Brasil. E-mail: manucha_@hotmail.com

Instituto de Gestalt-Terapia de Brasília

O livro organizado por Maria Alves de Toledo Bruns e Adriano Furtado Holanda reúne textos com estudos empíricos e teóricos que apresentam diferentes enfoques sobre a fenomenologia e suas aplicações à pesquisa em psicologia. A obra aponta para o pensar fenomenológico como um caminho para a criatividade e a redefinição de nossas relações com o mundo, expressando uma tentativa de encontrar – no movimento fenomenológico – recursos que alicercem o estudo rigoroso da experiência humana.

Congregando trabalhos e fenomenólogos de natureza diversificada, o referido trabalho busca reafirmar a fenomenologia como uma abordagem que viabiliza a compreensão do humano. Esta diversidade cuidadosamente arranjada pelos organizadores faz-se um valioso indicativo da fecundidade do campo fenomenológico, através de artigos que abrangem desde o terreno eidético até o hermenêutico (Husserl e ­Heidegger), perpassando a semiótica e a análise do discurso, bem como o personalismo e o pensamento sócio-crítico, sem esquecer importantes contribuições da psicologia (Carl Rogers) e da filosofia (Martin Buber).

Além da variedade quanto aos enfoques teóricos utilizados pelos autores, os artigos diferenciam-se também quanto ao tipo de trabalho realizado. Os sete artigos que compõem o livro apresentam-se segundo três formas distintas e complementares, quais sejam: trabalhos eminentemente teóricos – com destaque para uma discussão sobre os fundamentos da pesquisa fenomenológica e da constituição da Fenomenologia enquanto filosofia e método - outros predominantemente empíricos – onde se apresentam relatos de pesquisa – e ainda artigos que se propõem a fazer a interlocução e a transição entre o teórico e o empírico. Assim, Bruns e Holanda proporcionam aos leitores a rara oportunidade de amalgamar estes três momentos sem perder a perspectiva de valorização da pluralidade inerente aos campos da fenomenologia e da psicologia.

Os dois primeiros artigos, Pesquisa fenomenológica em psicologia e Franz Clemens Brentano e a psicologia, de autoria de Mauro Martins Amatuzzi e Josemar de Campos Maciel, respectivamente, se inserem numa perspectiva mais teórica. Enquanto o primeiro se constitui num convite à reflexão sobre até que ponto uma pesquisa pode ser radicalmente fenomenológica, e o que seria uma pesquisa realmente empírica; o segundo apresenta as contribuições de um dos pais da fenomenologia, mais especificamente no que tange aos horizontes da questão do rigor na teoria e pesquisa psicológicas sem o abandono de sua dimensão humana.

Já a aplicação empírica da fenomenologia pode ser observada nos relatos de pesquisa apresentados por Vera Alves, em Psicoterapia conjugal: pesquisa fenomenológica, e Christian Kristensen, Renato Flores e William Gomes em Revelar ou não revelar: uma abordagem fenomenológica do abuso sexual em meninos. O primeiro alia a abordagem psicológica de Carl Rogers à aplicação da "Versão de Sentido", metodologia fenomenológica criada por Mauro Amatuzzi, com o intuito de se observar a aplicação clínica a casais; ao passo que o segundo faz uma leitura de entrevistas utilizando o método fenomenológico para discutir aspectos da sociedade, família e saúde pública, de acordo com a tradição descritiva da fenomenologia aplicada.

A proposta de interlocução "teórico-empírico" é encontrada nos artigos de Adriano Holanda (Pesquisa fenomenológica e psicologia eidética: elementos para um entendimento metodológico), Maria Bruns (A redução fenomenológica em Husserl e a possibilidade de superar impasses da dicotomia subjetividade-objetividade) e Maria Bruns e Ellika Trindade (Metodologia fenomenológica: a contribuição da ontologia – hermenêutica de Martin Heidegger). O primeiro pensa uma fundamentação eidética da pesquisa empírica na expectativa de uma legitimação da pesquisa das vivências; o segundo retoma a questão da redução fenomenológica e rediscute a intencionalidade como via de acesso à realidade percebida pela consciência humana e à superação da dicotomia sujeito-objeto; o último destaca a hermenêutica ou analítica existencial heideggeriana para a investigação do sujeito, reafirmando a idéia fenomenológica de que todo dado humano é único e a metodologia para tratá-lo também deve sê-lo.

O que todos estes textos têm em comum é a capacidade de instigar o leitor à reflexão e ao questionamento, promovendo o espaço para uma leitura construtiva que faz o entrelaçamento entre psicologia e fenomenologia de maneira simples, sem ser superficial, e fluida, sem perder o rigor. Assim, Psicologia e fenomenologia: reflexões e perspectivas realiza a difícil tarefa de colocar-se tanto a serviço daqueles que desejam entrar no mundo da fenomenologia quanto dos que já estão nele e o reconhecem como um terreno de atualização constante, onde o conhecimento é co-construído e sempre renovado.

Referência

Bruns, M.A.T. & Holanda, A.F. (Orgs.).(2003). Psicologia e fenomenologia: reflexões e perspectivas. Campinas: Editora Alínea.

Recebido em 08.11.2003

Aceito em 22.11.2003

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    Endereço: SQS 210 Bloco J apto 408. 70273-100 Brasília, DF, Brasil. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Fev 2004
    • Data do Fascículo
      Dez 2003
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