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Editorial

EDITORIAL

Enfrentando os moinhos de vento...

¡Si mi "fue" tornase a "es",

sin esperar más "será"

o viniese el tiempo ya,

de lo que será después...!

Miguel de Cervantes Saavedra,

Don Quijote de la Mancha

Lanço-me na quixotesca tarefa de levar adiante um dos "ofícios impossíveis", de acordo com as palavras de minha querida colega Tereza Cristina de Araújo em seu último editorial: o ofício de ser editor. Ela foi muito feliz ao elencar os principais objetivos de um periódico científico que – guardado o devido exagero – mais bem me pareceram os "Doze Trabalhos de Hércules". Moinhos de vento ou leões, encontramos pela frente toda sorte de infortúnios e aventuras que, só quem já foi editor conhece...

Aceitar tal desafio é, para mim, uma grande honra. Assumo a função de editora desta revista com o compromisso de dar prosseguimento à tarefa tão bem conduzida até hoje por meus colegas, reafirmando a responsabilidade e o zelo pela publicação científica de qualidade na área de Psicologia. A tarefa é menos árdua e mais exeqüível graças à indispensável atuação dos membros da nova diretoria e do apoio técnico de nossos bolsistas, que comigo assumiram a nova gestão; ao incansável trabalho de nossos conselheiros e de nossos prestimosos pareceristas ad hoc. Menção especial merece ser feita à diretoria anterior, que tratou de garantir uma transição suave após o irretocável trabalho de sua gestão. Não poderia deixar de agradecer o apoio financeiro do CNPq, o indispensável suporte institucional da Universidade de Brasília e a confiança que os autores têm depositado em nós, por meio da submissão de seus produtos científicos.

Os rumos da editoração científica no Brasil espelham o ritmo galopante impingido pela "Era digital" na qual a informação produzida há poucos instantes, caduca minutos depois. Nessa esteira, não podemos perder o "trem da história" (neste caso, o "trem bala") e adentrar a nova Era, por meio da incorporação de suas tecnologias, tornou-se um imperativo. No último evento da Associação Brasileira de Editores Científicos – ABEC, o tema central foi "A ética na publicação científica" e contou com painéis sobre ética, revisão por pares e acesso livre ou aberto, além de palestras sobre periódicos eletrônicos, indicadores de comunicação científica e ética na divulgação científica, bem como apresentações sobre os sistemas de gerenciamento eletrônico de revistas da SciELO e do IBICT (SEER). Dentre as principais reflexões produzidas naquele encontro, sobressai o destaque à premência do acesso eqüitativo à informação científica em países em desenvolvimento, com vistas a alimentar os processos de inovação e promover a inclusão. O caminho que se esboça diante dos editores científicos é o do open access. Os impactos de deliberações dessa natureza, bem como as declarações e manifestos internacionais que têm surgido nesse âmbito (Declaração de Budapest, 2002; Declaração de Bethesda, 2003; Declaração de Berlin, 2003 e Declaração de Salvador, 2005) ainda não foram avaliados, mas, já são sentidos pelo editores de revistas brasileiras de psicologia, que passaram a receber o qualificativo de "artesanais" – sem menosprezar o apreço pela arte do ofício – aqueles que ainda não adotaram a tramitação 100% eletrônica. Mas, quem se atreve a confiar cegamente nas garantias de existência "eterna" no espaço virtual? Ainda que temerosos quanto a falta de garantias para o futuro, a resistência a mudanças como essas têm os dias contados.

Este terceiro número de 2005 nos brinda com trabalhos de diversos autores, em sua maioria nacionais, das áreas plurais da psicologia. Assim, no campo da saúde, Patricia de Medeiros, Anita Bernardes e Neuza Guareschi discutem o conceito de saúde e suas implicações nas práticas psicológicas. Karina Carrascoza, Áderson Costa Junior, Glaucia Ambrosano e Antônio de Moraes estudam as justificativas maternas para o prolongamento da amamentação após o primeiro ano de vida do bebê. Eliane Seidl, Walnicéia Rossi, Ana Karenine de Meneses e Everson Meireles analisam as estratégias de enfrentamento de crianças e adolescentes que vivem com HIV/aids e suas famílias.

No campo da psicologia escolar e educacional, Cilene Chakur aborda teoricamente as contribuições da pesquisa psicogenética para a educação escolar. Ruth de Souza e Grauben de Assis investigam a emergência de relações numéricas em crianças surdas. Miriam Raposo e Diva Maciel pesquisam as interações professor-professor na construção de projetos pedagógicos na escola. Maria Aparecida Gomes e Evely Boruchovitch analisam o desempenho no jogo, estratégias de aprendizagem e compreensão na leitura de alunos da rede pública de ensino. Para o estudo do desenvolvimento vocacional, Marco Antônio Teixeira e William Gomes avaliaram a contribuição de variáveis que contribuem na decisão de carreira entre estudantes em fim de curso universitário.

Na área de análise experimental do comportamento, Marcus Carvalho Neto, Thrissy Maestri, Gracy Tobias, Thalita Ribeiro, Eduarda Coutinho, Mariana Miccione, Rita. Oliveira, Fabiane Ferreira e Danielle de Farias descrevem o uso de um equipamento que emite um jato de ar quente o qual pode ser um estímulo alternativo a ser usado em estudos sobre contingências aversivas.

No âmbito da psicologia jurídica, Luísa Habigzang e Sílvia Koller apresentam o mapeamento de fatores de risco para abuso sexual contra crianças no âmbito intrafamiliar identificados nos processos jurídicos.

Em relação às questões de estereótipos de gênero, Fernando Cardoso, Maura Felipe e Claus Hedegaard avaliaram um grupo de estudantes previamente indicados por professores de Educação Física como divergentes em termos de identidade de gênero.

Em ensaio teórico, Maria Critina Kupfer e Rinaldo Voltolini apresentam um debate em torno dos impasses teóricos e das possibilidades do uso de indicadores clínicos em pesquisas de orientação psicanalítica.

Ana Maria Nicolaci-da-Costa faz uma revisão da extensa literatura transdisciplinar sobre os novos espaços contemporâneos criados pelas tecnologias da informação e da telecomunicação – tais como a Internet e a telefonia celular – e avalia os efeitos sobre os que neles vivem.

O livro "Tábula Rasa: A Negação Contemporânea da Natureza Humana" é resenhado por Lílian Nassif que instiga a curiosidade do leitor e provoca reflexões acerca das implicações das novas descobertas da ciência sobre a biologia da mente.

Compõem também este terceiro e último número deste ano, a lista de pareceristas ad hoc 2005 e índice dos autores e assuntos publicados ao longo do volume 21.

Desejo a você, caro leitor, que nosso esforço hercúleo e quixotesco ensejem uma ótima leitura e frutíferas reflexões!

Para finalizar, quero desejar a todos nós um Feliz Natal e muita Paz, Harmonia, Amor e Sonhos para 2006!

Maria Inês Gandolfo Conceição

Editora

Referência

Cervantes, M. de (1977). Don Quijote de la Mancha. Madrid: J. Pérez del Hoyo Editor. (Trabalho original publicado em 1615).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2006
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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