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Prenúncio de novos tempos

EDITORIAL

Prenúncio de novos tempos

Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra

Assim será a nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez, de amor

Uma prece por quem se vai

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte–

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas,

Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes,

Poema de Natal

Com este último número do ano, concluímos mais um volume da revista Psicologia: Teoria e Pesquisa com muitas conquistas e grande satisfação. O ano de 2007 foi um ano de grandes realizações para a revista: vencemos o desafio de ampliar periodicidade da revista para trimestral, lançamos um número especial, demos início – ainda que timidamente – ao processo de tramitação pela plataforma SEER (para a qual esperamos migrar definitivamente em 2008), e fomos classificados pela CAPES/Qualis como periódico Internacional A. Foi também um ano marcado pela perda de dois grandes nomes da Psicologia do Brasil e da América Latina: Alvaro Tamayo e Célia Biasoli-Alves.

No volume 23 de 2007 foram publicados cinco números – quatro correntes e um especial – contendo um total de 62 artigos, quatro resenhas, três notícias e uma entrevista (exclusividade do número especial). Contamos com uma ampla e balanceada representatividade geográfica de autores de artigos de instituições nacionais, bem como oferecemos uma variada e qualificada gama de artigos de autores internacionais oriundos de renomadas universidades estrangeiras. O número especial, lançado em novembro deste ano, foi uma homenagem a nove ilustres e laureados professores do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília – Alvaro Tamayo, Carolina Bori, Eunice Soriano de Alencar, João Claudio Todorov, Jorge Ponciano Ribeiro, Julia Brucher-Maluscke, Luiz Pasquali, Richard Bucher e Thereza Mettel – que contribuíram para o avanço da Psicologia como ciência no Brasil e participaram ativamente da criação e consolidação do programa de pós-graduação da UnB.

Os esforços dedicados ao cumprimento das metas de aumento na periodicidade da revista e de lançamento do número especial valeram à pena diante de tão valiosos produtos finais. Quero agradecer a todos aqueles que participaram desses projetos editoriais e em especial a algumas pessoas que tiveram um papel crucial – ainda que muitas vezes permanecessem no anonimato –, no abrilhantamento dos números da revista ou na garantia de funcionamento das atividades de editoração. Meu agradecimento a Augusto Carlos da Silva Machado, por seu cuidadoso trabalho de revisão de língua inglesa, ao qual se dedicou de forma voluntária, criteriosa e sistemática. Quero agradecer também aos funcionários Roberto Cirqueira, Valdelice Santos e Cibelle Araújo pela dedicação de várias horas de seu trabalho em favor da organização da revista, face às inúmeras mudanças ocorridas ao longo do último ano.

A revista agradece também o recurso financeiro proporcionado pelo CNPq e a iniciativa da CAPES de contribuir com igual quantia, o que garantiu, pela primeira vez na história recente da revista, o lançamento dos números correntes sem perder noites de sono. Oxalá que tal exemplo seja o prenúncio de novos tempos no apoio à divulgação da ciência brasileira! O CNPq também merece nossa congratulação pela iniciativa de começar a reconhecer, valorizar e pontuar – para efeitos de concessão de bolsas de fomento a pesquisadores –, o trabalho de editores científicos, conselheiros editoriais e consultores ad hoc.

O leitor pode apreciar neste número artigos de autores de âmbito nacional e internacional nos diferentes domínios da Psicologia. Assim, na esfera da Psicologia do Desenvolvimento Humano, Cesar Piccinini, Giana Frizzo, Patrícia Alvarenga, Rita Sobreira Lopes e Jonathan Tudge apresentam um artigo sobre a predominância das práticas educativas entre famílias de diferentes níveis socioeconômicos. Por sua vez, Thirza Sifuentes, Maria Auxiliadora Dessen e Maria Cláudia de Oliveira discutem o desenvolvimento humano à luz da abordagem sistêmica do desenvolvimento e da abordagem bioecológica.

Na área de Psicologia Cognitiva, o conceito de executivo central e suas origens teóricas são apresentados por Rosinda Oliveira. No que tange a abordagem ao adolescente que faz uso de drogas, Anna Virginia Williams, Elisabeth Meyer e Flavio Pechansky apresentam um jogo terapêutico que visa à prevenção da recaída e motivação para mudança. Já Regina Pinheiro e Selma Leitão investigaram em que medida a reflexão sobre a estrutura argumentativa exerceria um impacto sobre os elementos que crianças e adultos jovens incorporariam a seus textos.

Na área de aprendizagem, Keila Alves, Olivia Kato, Grauben de Assis e Carolina Maranhão apresentam um artigo no qual averiguam como o procedimento de ensino de leitura recombinativa pode subsidiar o aprendizado de pessoas com necessidades educacionais especiais. Iolanda Ribeiro e Carla da Silva, por sua vez, propõem-se a analisar a existência de diferenças nas estratégias auto-regulatórias de alunos universitários em áreas de formação distintas. José Bzuneck e Sueli Édi Guimarães avaliam um questionário revisado sobre estilos motivacionais de professores.

Na área de Análise do Comportamento, Lílian Rodrigues e Josele Abreu-Rodrigues discutem a falácia da conjunção – fenômeno que ocorre quando a conjunção de dois eventos é julgada como mais provável de ocorrer do que seus eventos constituintes. Ana Lúcia Cortegoso e Vanessa Porto relatam um procedimento para promover formulação de regras em empreendimentos solidários a partir do conceito de comportamento, como parte de capacitação para trabalho cooperativo. Cláudio de Oliveira e Anderson Pires revisitam o pensamento em Watson, alegando que o mesmo foi tratado inadequadamente por muitos intérpretes, gerando uma lacuna na interpretação histórica.

Na área da Psicanálise, Maria Thereza Coelho discute o problema da verdade, a partir da obra Hamlet e da produção teórica psicanalítica. Na área da Epistemologia, Ronie Silveira e Simone Hüning tratam do problema da diversidade epistemológica, concluindo sabiamente que é no limite entre a possibilidade e a impossibilidade do encontro e do diálogo que se pode construir o conhecimento em Psicologia.

A resenha do livro de Penfold intitulado "Mas ele diz que me ama. Graphic novel de uma relação violenta" é apresentada por Fabrício Guimarães, Eduardo da Silva e Sérgio Maciel, na qual promovem uma discussão teórica a respeito do ciclo de violência conjugal e das crenças compartilhadas que contribuem para a manutenção do relacionamento violento, a partir dos personagens do livro.

Por último, Juliana Porto noticia a lamentável perda, em 2 de setembro de 2007, de nosso querido Professor Alvaro Tamayo, que a todos deixou um importante legado intelectual na área de Psicologia Social e do Trabalho – por meio de uma extensa produção bibliográfica – e, aos que tiveram a sorte de conhecê-lo, deixou muita saudade.

Desejo aos caros leitores uma ótima leitura. Para todos nós, espero que tenhamos um Natal feliz e um Ano Novo de muitas realizações!

Maria Inês Gandolfo Conceição

Editora

  • Moraes, V. (1992). Antologia Poética São Paulo: Companhia das Letras.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Fev 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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