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Análise Narrativa, Construção de Sentidos e Identidade

Narrative Analysis, the Construction of Meaning and Identity

RESUMO

Subjetividade é um fenômeno amplamente debatido por perspectivas narrativistas em Psicologia. Uma questão importante nessa direção é como analisar as construções narrativas em situações de pesquisa. Neste estudo, temos o objetivo de apresentar e discutir uma proposta analítica para estudo do fenômeno da identidade, à luz de perspectivas narrativistas e da psicologia discursiva. A proposta se fundamenta em uma forma específica de análise narrativa: a análise de posicionamento. Apresentamos um estudo de caso realizado com o objetivo de investigar a construção de sentidos de identidade por pessoas que tinham realizado cirurgia bariátrica. Espera-se ampliar a discussão sobre ferramentas analíticas, vinculando-as a referenciais teórico-metodológicos específicos no chamado "turno interpretativo", e ofertar uma proposta investigativa plausível para narrativas e subjetividade em Psicologia.

Palavras-chave:
análise narrativa; significado; identidade; posicionamento; pesquisa qualitativa

ABSTRACT

Subjectivity is a phenomenon widely debated among narrativist perspectives in Psychology. One important question in this area of research pertains to the analysis of narrative constructions of an individual in research contexts. In this study, we aimed to present and discuss an analytical approach to investigate the phenomenon of identity grounded on narrativist perspectives and discursive psychology, which are based on a specific form of narrative analysis: the positioning analysis. We present a case study with the objective to investigate the construction of meaning of identity by individuals who had bariatric surgery performed. Our goal is to broaden the discussion of analytical tools and link them to specific theoretical and methodological frameworks within the "interpretive turn". We hope to show a plausible investigative approach integrating narrative and subjectivity in Psychology.

Keywords:
narrative analysis; meaning; identity; positioning; qualitative research

O recurso às perspectivas narrativistas para melhor entendimento de fenômenos diversos tem se feito notar na Psicologia mais marcadamente a partir dos anos de 1980 (Sarbin, 1986Sarbin, T. (1986). Narrative Psychology: The storied nature of human conduct. New York: Praeger.). Nas discussões sobre essas perspectivas, os desafios com os quais se deparam os pesquisadores envolvem, por exemplo, a articulação teórico-metodológica e analítica, por sua centralidade na condução de uma investigação. No presente artigo, trataremos dessa articulação e temos como objetivo apresentar uma proposta analítica: a análise de posicionamento. Discutiremos, para tanto, um estudo de caso de uma participante de codinome Ísis, que narrou sobre sua vida antes de realizar cirurgia bariátrica, seguindo uma adaptação da técnica das entrevistas narrativas desenvolvidas por F. Shütze (Jovchelovitch & Bauer, 2008Jovchelovitch, S., & Bauer, M. W. (2008). Entrevista narrativa. In M. W. Bauer & G. Gaskell (Eds.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual prático (pp. 90-113). Petrópolis: Vozes.). A proposta analítica está articulada, como veremos, às perspectivas narrativistas e à psicologia discursiva. Toma como referência os estudos desenvolvidos por (Bamberg, 1997, 2008aBamberg, M. (2008a). Selves and identity in the making: The study of microgenetic processes in interactive pratices. In U. Müller, J. Carpendale, N. Budwig, & B. Sokol (Eds.), Social life and social knowledge (pp. 205-224). Mahwah, NJ: Erlbaum. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2008bBamberg, M. (2008b). Sequencing events in time or sequencing events in story-telling? From cognition to discourse - With frogs paving the way. In J. Guo, S. Ervin-Tripp, & Nancy Budwig (Eds.), Festschrift for Dan Slobin (pp. 127-136) Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2008cBamberg, M. (2008c). Twice-told-tales: Small story analysis and the process of identity formation. In T. Sugiman, K. J. Gergen, W. Wagner, & Y. Yamada (Orgs.), Meaning in action: Construction, narratives and representation (pp. 183-204). New York: Springer. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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) e colegas (Bamberg & Georgakopoulou, 2008Bamberg, M., & Georgakopoulou, A. (2008). Small stories as a new perspective in narrative and identity analysis. Text & Talk, 28(3), 377-396. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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; Korobov & Bamberg, 2006Korobov, N., & Bamberg, M. (2006). "Strip poker! They don't show nothing!" Positioning identities in adolescent male talk about a television game show. In M. Bamberg, A. DeFina, & D. Schiffrin (Eds.), Narratives in interaction: Identities and selves (pp. 253-271). Amsterdam: John Benjamins. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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), em que as questões relativas à identidade são discutidas em termos de posições agentivas. Na análise que apresentaremos, sugerimos um conjunto de elementos discursivos que nos ajudam a especificar a análise de posicionamentos e melhor precisar as posições agentivas da narradora em relação com a pesquisadora. Espera-se contribuir para melhor entendimento do fenômeno da identidade na Psicologia, pela óptica das posições agentivas e da construção de sentidos, integrando a proposição aqui apresentada às discussões que perpassam as ciências na atualidade.

A Análise Narrativa e a Análise de Narrativas

Narramos hoje e narramos sempre. Narramos sobre um dia de trabalho, acontecimentos na família. Narramos sobre nós mesmos, o que nos é importante, pessoas com as quais lidamos. Esse falar de nós, de forma narrativa, que fazemos de maneira tão costumaz, possivelmente contribui para que sejam as narrativas a forma discursiva privilegiada para estudo da construção de sentidos da identidade (Bamberg, 2004Bamberg, M. (2004). I know it may sound mean to say this, but we couldnt really care less about her anyway: Form and Functions of "Slut Bashing" in Male Identity Constructions in 15-Year-Olds. Human Development, 249, 1-23.). Ao contarmos uma história, circunscrevemos os personagens no tempo e no espaço, abrimos a possibilidade para tratar os personagens em processo de transformação e, no enredo, colocamos os personagens em relação uns com os outros, criando um mundo social no qual os personagens entram em conflito e emergem com qualidades morais. No estudo da subjetividade e das narrativas, autobiografias e histórias de vida costumam ser ferramentas privilegiadas em situações de pesquisa, especialmente em Ciências Humanas. No entanto, a forma como essas narrativas são analisadas varia, e, de acordo Riesmann 2005Riessman, C. K. (2005). Narrative Analysis. In N. Kelly, C. Horrocks, K. Milnes, B. Roberts, & D. Robinson (Eds.), Narrative, memory & everyday life (pp 1-7). Huddersfield, England: University of Huddersfield.), podemos reconhecer ao menos duas maneiras para analisá-las.

Em uma delas, denominada análise de narrativa, toma-se essas histórias como expressão de uma realidade vivida pelo narrador em momento precedente à narração. A narrativa é igualada à própria vida. Essa forma de tratamento das narrativas se enquadra em uma perspectiva da linguagem tomada como representação, no caso de "uma" identidade contida no indivíduo, deslocada do tempo e do espaço, de um contexto sociocultural simbolicamente constituído. Para (Bamberg, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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), esse tipo de tratamento dado às narrativas caracteriza o que o autor chama por "trabalhar com" (research with) narrativas (p. 77). Nesse caso, elas são instrumentais e permitem ao pesquisador falar de um acontecimento, de uma experiência, e, sendo assim, a narrativa diz da lembrança de algo já vivido e é uma ferramenta para se saber o que houve em dada época, com alguém.

Em outra maneira de analisar essas narrativas, reconhecida como análise narrativa, continua o autor, entende-se as narrativas como foco de estudo. Quando o interesse da investigação se faz sobre a subjetividade, a narrativa é tomada como o "lugar" no qual onde as pessoas constroem sentidos, com uma dada audiência, em determinado tempo e espaço. As narrativas, nesse caso, baseiam-se nos fatos biográficos, mas vão além destes, porque, sobre as suas experiências de vida, as pessoas imaginam presente, passado e futuro e, assim, constroem histórias com sentido para si mesmas e para sua audiência. Para (Riessman, 2005Riessman, C. K. (2005). Narrative Analysis. In N. Kelly, C. Horrocks, K. Milnes, B. Roberts, & D. Robinson (Eds.), Narrative, memory & everyday life (pp 1-7). Huddersfield, England: University of Huddersfield.), esse tipo de análise tem como base a ideia da narrativa como performance e como construção interacional. Assim, entende-se que o contar uma história é uma forma de agir, que envolve e persuade sua audiência. Nessa perspectiva, sobressaem-se os estudos sobre construções de sentido de identidade, nos quais a pergunta do analista envolve o "como" os narradores querem ser conhecidos e como eles envolvem a audiência "fazendo suas identidades". Na narrativa como uma construção interacional, prevalece a ideia de que a audiência constrói conjuntamente a narrativa, historicamente e culturalmente. Nessa visão, entende-se que contar uma história é um processo de elaboração conjunta, em que aquele que conta e aquele que ouve criam sentidos colaborativamente. Para (Bamberg, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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), o pesquisador que faz esse tipo de análise "trabalha nas narrativas" (research on) (p. 77).

Análise Narrativa, Posição e Análise de Posicionamento

A noção de posicionamento tem sido importante norteadora de estudos que consideram narrativas orais para investigar como as pessoas constroem sentidos de si e dos outros, constroem suas identidades. No âmbito da análise narrativa, uma ferramenta analítica que vem sendo utilizada em estudos sobre identidade é a análise de posicionamento. Com esse tipo de análise, pode-se discutir o fenômeno da identidade como "posicionamento agentivo" do narrador na narrativa (Bamberg, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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; Moutinho, 2010Moutinho, K. (2010). A construção narrativa de sentidos de bioidentidade: Obesidade e cirurgias bariátricas (Unpublished doctor dissertation).Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.; Moutinho, Meira, & De Conti, 2013Moutinho, K., Meira, L., & De Conti, L. (2013). Desenvolvimento e construção narrativa de sentidos de identidade. In K. Moutinho, P. Villachan-Lyra, & A. Santa-Clara (Eds), Novas tendências em Psicologia do Desenvolvimento: Teoria, pesquisa e intervenção (pp. 133-158). Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco.).

A análise de posicionamento adotada neste estudo foi desenvolvida a partir de considerações de (Bamberg, 1997, 2004Bamberg, M. (2004). I know it may sound mean to say this, but we couldnt really care less about her anyway: Form and Functions of "Slut Bashing" in Male Identity Constructions in 15-Year-Olds. Human Development, 249, 1-23., 2005Bamberg, M. (2005). Encyclopedia entries on "Agency", "Master Narratives", and "Positioning". In D. Herman, M. Jahn, & M.-L. Ryan (Eds.), The Routledge encyclopedia of narrative theory. New York: Routledge. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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) e Bamberg e colegas (Bamberg & Georgakopoulou, 2008Bamberg, M., & Georgakopoulou, A. (2008). Small stories as a new perspective in narrative and identity analysis. Text & Talk, 28(3), 377-396. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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; Korobov & Bamberg, 2006Korobov, N., & Bamberg, M. (2006). "Strip poker! They don't show nothing!" Positioning identities in adolescent male talk about a television game show. In M. Bamberg, A. DeFina, & D. Schiffrin (Eds.), Narratives in interaction: Identities and selves (pp. 253-271). Amsterdam: John Benjamins. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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) sobre as noções de agentividade e de posição, que tratam, ambas, de uma agência no processo de construção de si, embora seja possível localizar na literatura diferentes abordagens para cada uma delas. Assim, o problema da "agência" é polarizado entre uma linha investigativa (a) que prioriza a influência do mundo sobre os sujeitos - como no caso dos trabalhos de Davies, Harré e van Langenhove (Davies & Harré, 1999Davies, B., & Harré, R (1999). Positioning and personhood. In R. Harré & L. van Langenhove (Eds.), Positioning Theory (pp. 32-52). Oxford: Blackwell Publishers.; van Langenhove & Harré, 1999van Langenhove, L., & Harré, R. (1999). Introducing Positioning Theory. In R. Harré & L. van Langenhove (Eds), Positioning Theory (pp. 14-31). Oxford: Blackwell Publishers.), que trazem a força dos discursos dominantes sobre o posicionamento e assim dão um status semi-agentivo ao sujeito; e (b) outra na qual o foco se dá na força dos sujeitos sobre o mundo, como nos trabalhos de Jerome (Bruner, 1991Bruner, J. (1991). The narrative construction of reality. Critical Inquiry, 17, 01-21., 1997Bruner, J. (1997). Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas.), que enfatizam o self como agente, com capacidade agentiva para contar histórias nas quais constrói o mundo (worldmaking) e a si mesmo (selfmaking).

Nessa direção, (Bamberg, 2004Bamberg, M. (2004). I know it may sound mean to say this, but we couldnt really care less about her anyway: Form and Functions of "Slut Bashing" in Male Identity Constructions in 15-Year-Olds. Human Development, 249, 1-23., 2005Bamberg, M. (2005). Encyclopedia entries on "Agency", "Master Narratives", and "Positioning". In D. Herman, M. Jahn, & M.-L. Ryan (Eds.), The Routledge encyclopedia of narrative theory. New York: Routledge. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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) sugere que seja estabelecida uma continuidade entre as orientações que abordam o "ser posicionado" - que compreenderiam as propostas teóricas de ênfase na direção mundo-sujeito - e o "posicionar a si mesmo", que corresponderiam às propostas nas quais predomina a direção sujeito-mundo. Bamberg desenvolve estudos sobre identidade fazendo uso do conceito de posicionamento e, por sua vez, propondo a análise de posicionamento como ferramenta analítica.

Posicionamento agentivo e análise de posicionamento

Na perspectiva defendida por Bamberg e colegas (p.ex., Bamberg 2008aBamberg, M., & Georgakopoulou, A. (2008). Small stories as a new perspective in narrative and identity analysis. Text & Talk, 28(3), 377-396. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2008bBamberg, M. (2008b). Sequencing events in time or sequencing events in story-telling? From cognition to discourse - With frogs paving the way. In J. Guo, S. Ervin-Tripp, & Nancy Budwig (Eds.), Festschrift for Dan Slobin (pp. 127-136) Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum Associates. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2008cBamberg, M. (2008c). Twice-told-tales: Small story analysis and the process of identity formation. In T. Sugiman, K. J. Gergen, W. Wagner, & Y. Yamada (Orgs.), Meaning in action: Construction, narratives and representation (pp. 183-204). New York: Springer. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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, 2012Bamberg, M. (2012). Narrative analysis. In H. Cooper (Ed.), APA handbook of research methods in psychology (pp. 77-94). Washington, DC: APA Press. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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; Bamberg & Georgakopoulou, 2008Bamberg, M., & Georgakopoulou, A. (2008). Small stories as a new perspective in narrative and identity analysis. Text & Talk, 28(3), 377-396. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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; Korobov & Bamberg, 2006Korobov, N., & Bamberg, M. (2006). "Strip poker! They don't show nothing!" Positioning identities in adolescent male talk about a television game show. In M. Bamberg, A. DeFina, & D. Schiffrin (Eds.), Narratives in interaction: Identities and selves (pp. 253-271). Amsterdam: John Benjamins. Recuperado em 26 de novembro de 2013, de http://www.clarku.edu/~mbamberg/publications.html
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) - em que se procura integrar tanto a ideia de ser posicionado, como o de posicionar a si mesmo -, a posição se dá na linguagem, a partir do uso de recursos discursivos. Nesse entendimento, caberá ao analista identificar as formas linguísticas nas quais as pessoas posicionam a si e a seus interlocutores, como, por exemplo, no uso ou na omissão de pronomes pessoais como o "eu", de verbos e de marcadores linguísticos espaço-temporais, como o "aqui", "lá", "agora", "então", "hoje", "antes". O foco deve se dar sobre as situações interacionais, de trocas simbólicas, nas quais pessoas se encontram e se relacionam (durante o intervalo entre as aulas, à saída da escola, etc). E esse posicionamento se dá na tensão entre valores, ideologias e normas socioculturais. A narrativa pessoal é o resultado de um recurso aos discursos ou narrativas sociais dominantes e também, o processo no qual essas mesmas narrativas sociais são progressivamente reconstruídas no plano das relações sociais. A posição, nesse entendimento, é defendida como uma construção de sentidos na qual o narrador assume um lugar moral (a) em relação a ele mesmo, ou seja, como ele avalia a si mesmo na narrativa - o que também chamamos por eu-eu; (b) em relação a outros personagens da narrativa e pertencentes à conversação na qual se construa a narração, eu-outro; e (c) em relação a um discurso ou narrativa dominante, cuja definição dependerá do foco da investigação, ou seja, eu-narrativa dominante. Essa narrativa variará em relação à problemática de investigação. No estudo que será apresentado a seguir, a produção discursiva em foco é aquela relativa ao culto ao corpo esbelto e aos referenciais de saúde comuns aos dias atuais.

Exatamente nessa direção e para então ilustrar esse processo analítico da "análise de posicionamento", traremos um estudo de caso decorrente de investigação voltada a entender a construção de sentidos de identidade por pessoas que realizaram cirurgia bariátrica - cirurgia destinada à redução de peso (Moutinho, 2010Moutinho, K. (2010). A construção narrativa de sentidos de bioidentidade: Obesidade e cirurgias bariátricas (Unpublished doctor dissertation).Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.; Moutinho, Meira & De Conti, 2013Moutinho, K., Meira, L., & De Conti, L. (2013). Desenvolvimento e construção narrativa de sentidos de identidade. In K. Moutinho, P. Villachan-Lyra, & A. Santa-Clara (Eds), Novas tendências em Psicologia do Desenvolvimento: Teoria, pesquisa e intervenção (pp. 133-158). Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco.). O interesse pelo trabalho com esse público surgiu a partir de outro tipo de discussão, proporcionada especialmente a partir dos textos de Francisco (Ortega, 2003Ortega, F. (2003). Práticas de ascese corporal e constituição de bioidentidades. Cadernos Saúde Coletiva, 11(1), 59-77., 2005Ortega, F. (2005). Da ascese à bio-ascese ou do corpo submetido à submissão ao corpo. In M. Rago, L. B. L. Orlandi, & A. Veiga-Neto (Eds.), Imagens de Foulcault e Deleuze: Ressonâncias nietzchianas (pp. 139-173). Rio de Janeiro: DP & A., 2008Ortega, F. (2008). O corpo incerto: Corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond.) sobre bioidentidade, a qual desenvolveremos a seguir.

Para (Ortega, 2003Ortega, F. (2003). Práticas de ascese corporal e constituição de bioidentidades. Cadernos Saúde Coletiva, 11(1), 59-77., 2005Ortega, F. (2005). Da ascese à bio-ascese ou do corpo submetido à submissão ao corpo. In M. Rago, L. B. L. Orlandi, & A. Veiga-Neto (Eds.), Imagens de Foulcault e Deleuze: Ressonâncias nietzchianas (pp. 139-173). Rio de Janeiro: DP & A., 2008Ortega, F. (2008). O corpo incerto: Corporeidade, tecnologias médicas e cultura contemporânea. Rio de Janeiro: Garamond.), a bioidentidade constitui uma forma particular de entendimento da subjetividade, do self, da identidade nos dias atuais e especialmente no ocidente. Está calcada na identificação de uma intensa preocupação do homem com o cuidado de si, voltando-se ao corpo e à manutenção de padrões médicos e estéticos. Nessa perspectiva, as pessoas continuamente agiriam com reflexividade (taxação contínua de nós mesmos), autonomia (responsabilidade por garantir nossa saúde) e vontade (impulso para cumprir as orientações médicas e manutenção dos ideais de saúde e beleza). A bioidentidade, da forma como se entende no estudo aqui realizado, é uma proposição filosófica explicativa de uma organização social atual, por nós admitida como discurso veiculado em nossa sociedade em jornais, revistas, televisão, internet, academias de ginástica, reuniões familiares, grupos de autoajuda, etc. Esse discurso constitui e é constituído por ações de controle alimentar, atividades físicas, compra de produtos de beleza, utilização de serviços estéticos, busca da boa forma, alimentação seletiva, formação e/ou participação em grupos de interesse, como as redes sociais tematizadas pela síndrome do pânico, hipertensão, obesidade, entre outros.

Dessa forma, a análise de posicionamento que se segue, cabe lembrar, é feita com o propósito de falarmos sobre a construção de sentidos de identidade, que se faz de forma narrativa, em uma dada situação. Ou seja, falaremos não sobre "a" identidade da narradora, mas sobre os sentidos construídos sobre si, em um dado tempo e espaço, durante uma situação de pesquisa e na narração. Para tanto, vamos utilizar a noção de posição como uma ferramenta teórica que nos viabiliza a interpretação sobre estes sentidos que as pessoas constroem de si mesmas. Consideraremos ainda a análise de posicionamento como o instrumento analítico que nos permite dizer dessas posições. Assim, voltamos ao ponto que nos colocamos a esclarecer neste texto: como realizar uma análise narrativa voltada ao entendimento do fenômeno da construção de sentidos de identidade?

Diante disso, e para adiantarmos o trabalho analítico, é necessário apresentarmos um conjunto de elementos narrativos considerados necessários à proposição, pelo analista, da posição admitida para o narrador. Antes vimos sobre nossa concepção sobre posicionamento agentivo, seguidamente sobre nossas categorias analíticas - eu-eu, eu-outro, eu-discurso dominante. Agora queremos destacar os indicadores analíticos, ou seja, o que procuraremos acompanhar, ao longo das narrativas, para estabelecermos uma interpretação a ser considerada coerente teórica e metodologicamente, como também plausível, aos olhos do leitor. Neste estudo, elegemos alguns indicadores que nos parecem coordenados à compreensão que temos sobre narrativas, já aqui apresentada e mais especificamente conceituada com uma produção discursiva constituída por "personagens e um enredo que evolua ao longo do tempo" (Brockmeier & Harré, 2003Brockmeier, J., & Harré, R. (2003). Narrativa: Problemas e promessas de um paradigma alternativo. Psicologia: Reflexão e Crítica, 16(3), 525-535., p. 526). Nesses termos, criamos como indicadores o que chamamos de elementos narrativos, que foram eleitos neste estudo para realizarmos a análise de posicionamento: personagem, atividade, recursos explicativos, qualificadores e contexto. Cada um desses elementos narrativos foi, por sua vez, conceituado e definido em termos dos marcadores discursivos, ou seja, como cada um pode ser localizado na narrativa em análise.

Explicando cada um deles, comecemos pelo personagem, que é fundamental ser especificado, porque a análise de posicionamento inclui o que chamamos por eu-eu e eu-outro, o que nos exige um reconhecimento dos agentes na narrativa, sejam eles seres humanos ou animais, como estamos costumeiramente habituados a ver, mas também aqueles abstratos e que são fundamentais na narrativa. Como veremos, a obesidade pode ser tratada como personagem, na medida em que ela age, tem responsabilidades sobre outros personagens e pode inclusive ser adjetivada, ou seja, qualificada na narrativa. Ela assume, assim, um status diferenciado e importante na narração. Já atividade, qualificador e recursos explicativos, juntos, contribuem para que entendamos como o personagem se reporta a si mesmo pelas ações que faz, no caso da atividade, pelas maneiras que adjetiva a si mesmo e aos outros, ou seja, que qualidades atribui aos personagens e como justifica, explica, suas ações, qualidades, acontecimentos, o que mais facilmente nos coloca em condições de interpretar mais especialmente sua posição em relação ao discurso dominante. Com o indicador contexto, por sua vez, o analista pode circunscrever as posições em um dado período, mas entendendo ele como contemplando uma combinação entre tempo cronológico, lugar frequentado e redes sociais com as quais o falante se relaciona predominantemente. Em estudo realizado por (Moutinho, 2010Moutinho, K. (2010). A construção narrativa de sentidos de bioidentidade: Obesidade e cirurgias bariátricas (Unpublished doctor dissertation).Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.) e (Moutinho et al., 2013Moutinho, K., Meira, L., & De Conti, L. (2013). Desenvolvimento e construção narrativa de sentidos de identidade. In K. Moutinho, P. Villachan-Lyra, & A. Santa-Clara (Eds), Novas tendências em Psicologia do Desenvolvimento: Teoria, pesquisa e intervenção (pp. 133-158). Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco.), essa categoria era identificada como espaço-tempo e o termo contexto hoje é entendido como pertinente. Essa reflexão sobre espaço-tempo tomou como consideração as discussões promovidas, por exemplo, por (Harré e Gillett, 1999Harré, R., & Gillet, G. (1999). A mente discursiva: Os avanços na Ciência Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas.).

Cada um desses indicadores, então, precisa ser reconhecido na narrativa pelo analista, entendido em sua concepção e nos marcadores discursivos utilizados pelo narrador. Elemento narrativo, concepção e marcadores discursivos são explicitações analíticas voltadas a proporcionar ao investigador um terreno de solidez para que sua interpretação avance coerente e compreensível. Vejamos então a Tabela 1 a seguir.

Tabela 1
Indicadores analíticos usados para análise de posicionamento em narrativas.

Estudo de caso: Ísis, cirurgia bariátrica e a construção de sentidos de si

A participante de codinome Ísis, na ocasião da investigação, era casada, tinha 30 anos, era mãe de dois filhos - uma menina com dez anos e um menino com seis. Tinha nível médio concluído e era vendedora autônoma. Residia e era natural de cidade do interior de Pernambuco. Fez a cirurgia em 2008, onze meses antes de participar do estudo, quando tinha 116 kg e IMC = 45,54 kg/m2. O IMC refere-se ao Índice de Massa Corporal e é medido através da equação IMC = peso (kg)/estatura2 (m2). De acordo com a Resolução 1.942/2010 do Conselho Federal de Medicina - CFM, de 12 de fevereiro de 2010, a cirurgia bariátrica é indicada àqueles que tenham IMC maior que 40 kg/m2 ou que tenham IMC maior ou igual a 35 kg/m2 e apresentem comorbidades que ameacem a vida - ou seja, doenças agravadas pela obesidade e que melhoram quando esta é tratada, tais como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, doença coronariana e a apneia do sono. Na ocasião da entrevista, Ísis tinha peso de 77,8 kg e IMC = 30,03 kg/m2, ou seja, tinha perdido 38,2 kg de seu peso anterior à cirurgia e não tinha registro de comorbidade. Os encontros com Ísis foram realizados no próprio hospital, onde foi feita a investigação, o Hospital dos Servidores do Estado - HSE, em Recife. O hospital dispunha do Programa da Obesidade, que reunia mensalmente candidatos à cirurgia e cirurgiados para discussão sobre obesidade e cirurgia bariátrica. Nessa circunstância, a pesquisadora foi apresentada e pôde realizar o primeiro contato com os participantes em potencial da investigação. Como método para registro dos dados, foi utilizada a Entrevista Narrativa, tomando como referência os trabalhos conduzidos no Brasil por Lira, (Catrib e Nations, 2003Lira, G. V., Catrib, A. M. F., & Nation, M. K. (2003). A narrativa em pesquisa em pesquisa social em saúde: Perspectiva e método. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, 16(1/2), 59-66.) e (Germano e Serpa, 2008Germano, I., & Serpa, F.A. (2008). Narrativas autobiográficas de jovens em conflito com a lei. Arquivos Brasileiros de Psicologia, 60(3), 9-22.), que fazem aplicação da técnica em investigações empíricas na área de saúde, bem como por (Jovchelovitch e Bauer, 2008Jovchelovitch, S., & Bauer, M. W. (2008). Entrevista narrativa. In M. W. Bauer & G. Gaskell (Eds.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual prático (pp. 90-113). Petrópolis: Vozes.), que apresentam a técnica em um manual prático. A entrevista foi realizada em sala destinada a encontro psicoterápico, na presença exclusiva da pesquisadora e da entrevistada, e seguiu quatro etapas: (a) na primeira delas, quando se iniciava o registro em áudio, era feita a apresentação da investigação e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Tendo este sido assinado, seguia-se à apresentação de questionário de identificação, que incluía informações sobre peso, comorbidades e IMC antes e depois da cirurgia; (b) em seguida, foi solicitado à participante que contasse a história da sua vida, voltando no tempo o quanto quisesse e indo ao futuro também o quanto quisesse, mas assinalando-se que era importante que falasse sobre como era sua vida nos dias de hoje. Esta é considerada a Narração Central e foi sobre ela que se fez a análise que será aqui apresentada. Nas etapas seguintes, a pesquisadora (c) pediu esclarecimentos sobre pontos relativos à história e depois, desligando o gravador, (d) perguntou se tinha interesse por falar algo que ainda não tinha sido abordado. A entrevista narrativa foi transcrita tomando como referência o sistema de codificação sugerido por (Marcuschi, 2008Marcuschi, L. (2008). Análise da conversação. São Paulo: Ática.).

Para exemplificar a análise de posicionamento (eu-eu, eu-outros, eu-discurso dominante) como análise narrativa e que nos permitirá fundamentar uma construção de sentidos de identidade pela narradora, vejamos a Tabela 2, na qual é feita a apresentação dos indicadores analíticos referentes ao fragmento apresentado previamente. Essa tabela diz respeito ao exemplo que se segue abaixo, um fragmento de narrativa produzido por Ísis, sobre a "Perda de Oportunidades", referindo-se ao contexto Antes da Cirurgia Bariátrica.

Hoje eu me sinto em uma dádiva. Porque, eu sei que, assim, ah, não é você ter o corpinho bonito que é tudo, não é? Felicidade não é só isso, né? Mas, assim, a gente sabe que a gordura ela atrapalha muito na vida da gente. E eu já perdi muitas oportunidades na vida por conta da obesidade, entendeu? Eu fiz um curso, eu sei que não é, assim, desestimando, querendo ser melhor do que ninguém, mas eu sei que eu me saí bem. Fui pruma entrevista de emprego e, assim, passei por todas as etapas e, no fim, a pessoa que ia escolher só faltou dizer na minha frente, assim, na minha, na minha lata, como diz a história, que eu não iria ficar por conta da aparência. Entendeu? Mas aí colocou uma pessoa que, se fosse mais nova de que eu era assim, tipo, uns dois anos antes, no máximo, mas que tinha o corpo muito bonitinho, um rosto muito bonitinho, e ele não ia deixar de dar a vaga a uma pessoa com uma aparência bem satisfatória do que a minha, que tinha cento e dezesseis quilos, entendeu? Então, assim, são coisas que falam bem mais alto, assim, na autoestima da gente de que só um corpo bonito, né? Porque, assim, você fica sem noção porque às vezes eu não tinha prazer de ir pra lugar nenhum. Porque eu já achava que quando eu chegasse num lugar todo mundo ia me olhar. E, realmente, acontecia. Tem lugares que, pra mim, era um terror ir. Eu já não queria mais sair com meu marido pra canto nenhum, porque eu tinha vergonha de sair com ele.

Tabela 2
Indicadores Personagem, Atividade, Recursos Explicativos e Qualificador para a narrativa contada por Ísis, sobre Perda de Oportunidades, no contexto Antes da Cirurgia Bariátrica.

Ísis em Relação a Ela Mesma - Eu-Eu

Nessa história, Ísis marca uma diferença espaço-temporal por uma qualificação bem específica, que parece caracterizar o antes e o depois da cirurgia. Ao se apresentar como em dádiva nos dias de hoje, momento em que foi feita a entrevista, destaca também o início de uma história sobre o antes da cirurgia bariátrica, na qual apresenta a si mesma usando um conjunto de qualificadores negativos, de depreciação dela mesma. Ísis é a que, mesmo preparada, perde oportunidades e, já ao fim de um processo seletivo, passa pelo constrangimento de quase ouvir de um profissional que não consegue a vaga "por conta da aparência", sugerindo um contorno corporal inadequado. Ainda em sua história, ao se apresentar como alguém que é prejudicada, atrapalhada, discriminada, Ísis sugere também não ter controle sobre sua vida, quando explica as ações da obesidade sobre ela mesma. Ela se prepara para o mercado de trabalho, toma conta de sua formação: "Eu fiz um curso, eu sei que não é, assim, desestimando, querendo ser melhor do que ninguém, mas eu sei que eu me saí bem". No entanto, seu protagonismo logo é interpelado pela força da obesidade, que parece aplacar seus esforços: "a gordura ela atrapalha muito na vida da gente". É um personagem de sua história que interfere na vida das pessoas com um papel de agente, com responsabilidade de modificar a vida das pessoas e de gerar causalidade. Ísis, assim, coloca-se como passiva, como vítima das ações da obesidade: "E eu já perdi muitas oportunidades na vida por conta da obesidade, entendeu?".

Ísis em Relação a Outros Personagens - Eu-Outro

Se em relação a ela mesma, Ísis é aquela que vive o desconforto e o descontrole, os demais personagens assumem o protagonismo por serem agentes causadores, seja do desconforto por ela sentido, seja do descontrole do qual é vítima. A "pessoa que ia escolher", por exemplo, é quem a constrange, quem a coloca na situação desconfortável de lidar com a inadequação de seu contorno corporal, quando legitima, deixa claro, "na lata", um processo de seleção que considera a competência técnica, "passei por todas as etapas", mas se define também em função da aparência: "e no fim, a pessoa que ia escolher só faltou dizer na minha frente, assim, na minha, na minha lata, como diz a história, que eu não iria ficar por conta da aparência". A "outra pessoa" também candidata no processo seletivo, marca para Ísis a referência de "aparência satisfatória": "uma pessoa que, se fosse mais nova de que eu era assim, tipo, uns dois anos antes, no máximo, mas que tinha o corpo muito bonitinho, um rosto muito bonitinho". Ísis constrói uma história em que os personagens parecem ser usados como instrumentos que legitimam o desconforto e o descontrole vividos por ela, em função da obesidade. É o que ela parece já anunciar ao trazer a pesquisadora para participar da história - "mas, assim, a gente sabe que a gordura ela atrapalha muito na vida da gente" - e, ao tratar do "nós", do "a gente", ela põe um ponto de certeza, inequívoco sobre a obesidade, que ratifica seu protagonismo, ao mesmo tempo em que qualifica como passiva, refém e, ao longo da história, uma mulher também em desconforto.

Ísis em Relação ao Discurso Social

Tal como antes dissemos, o discurso dominante aqui adotado considera a noção de bioidentidade. Não se pode falar em um discurso dominante que seja construído por esse autor, mas em um conjunto de atitudes, comportamentos e discursos reconhecidos na academia e tomados por nós como construções discursivas dominantes que nos ajudam a entender experiências de subjetividade nos dias de hoje. É esse discurso que foi tomado neste estudo, pelo analista, pelo pesquisador, para nortear as comparações com a narrativa construída pelo participante. O discurso da bioidentidade é calcado na ideia de que, na atualidade, as pessoas estão envolvidas em um contínuo cuidar de si que se baseia na valorização de referenciais médicos, higiênicos e estéticos, sendo estes especificamente norteados pela valorização ao corpo esbelto e pela aversão à gordura - o que Paula (Sibilia, 2004Sibilia, P. (2004). O pavor da carne: Riscos da pureza e do sacrifício no corpo-imagem contemporâneo. Famecos, 25(4), 68-84.) chama de lipofobia.

O comportamento das pessoas hoje incluiria o que (Ortega, 2005Ortega, F. (2005). Da ascese à bio-ascese ou do corpo submetido à submissão ao corpo. In M. Rago, L. B. L. Orlandi, & A. Veiga-Neto (Eds.), Imagens de Foulcault e Deleuze: Ressonâncias nietzchianas (pp. 139-173). Rio de Janeiro: DP & A.) chama por reflexividade, autonomia e vontade, aqui tomados como eixos organizadores do discurso social dominante a respeito da bioidentidade. No caso da reflexividade, tem-se o entendimento de que as pessoas possuem uma rotina de avaliação sobre si mesmas, o que se representaria discursivamente na reflexão sobre seu corpo, sobre suas taxas, em um comportamento de autoperitagem. O que Ortega chama de "reflexividade", caracteriza-se pela avaliação que fazemos de nós mesmos em termos de nossas calorias, taxas de glicose, colesterol, o que, por sua vez, nos diz de um comportamento de selecionar os alimentos adequados e que supostamente garantirão a perfeição de nosso corpo. A cada refeição, controlamos nossa alimentação, analisamos a quantidade de glicose, de colesterol, de carboidratos que devemos ingerir. Neste estudo, propomos que o narrador toma a reflexividade como eixo organizador em sua história quando ele fala de "quaisquer atos realizados por um personagem, dirigidos a objetos, e que estejam relacionados à vigilância pessoal pelo respeito a referenciais médicos, estéticos e/ou de saúde presentes nos recursos explicativos associados a uma ação e/ou ao objeto da ação" (Moutinho, 2010Moutinho, K. (2010). A construção narrativa de sentidos de bioidentidade: Obesidade e cirurgias bariátricas (Unpublished doctor dissertation).Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil., p. 107).

Em relação à narrativa de Ísis, notemos que, no contexto anterior à operação, não é a autoperitagem voltada aos referenciais médicos que parece caracterizar a reflexão que faz de si. Não são a dieta, os exercícios físicos ou quaisquer outras atividades voltadas à manutenção de um corpo saudável e esbelto que ela, aos 116 quilos, conta em sua história. Antes da cirurgia, Ísis parece interessada em destacar o papel causador da obesidade, que é assim colocada como uma personagem em sua história. Sobre a causalidade, ela narra não somente a perda de oportunidades, como já ressaltado, mas também seu impacto no contorno corporal, na forma que adquire um obeso. Pela comparação à outra candidata, que ela qualifica pelo uso de referências positivas, "tinha o corpo muito bonitinho, um rosto muito bonitinho", "com aparência bem satisfatória do que a minha", Ísis se coloca em um lugar de disparidade, certificando a inadequação de si mesma, em termos de seu corpo, rosto e aparência. E essa forma, que decorre do progressivo aumento de peso, não tem aceitação social, particularmente, como destacou, no mercado de trabalho. Ísis assim ratifica um discurso médico e estético por duas vias: a rejeição de si mesma quando com 116 quilos e o entendimento dos critérios de seleção no mercado de trabalho, ao falar da atividade esperada pelo profissional que pretere alguém que, mesmo preparado, não possui a aparência satisfatória: "ele não ia deixar de dar a vaga".

Já a "autonomia" trata da responsabilidade de cada um por tentar garantir sua própria saúde. As escolhas feitas pelas pessoas devem estar comprometidas com o afastamento de riscos e com a busca por construir hábitos saudáveis. Assim, as pessoas tentam garantir uma excelência em suas performances, mostrando a propriedade com que cuidam de si. Àquele que negligencia o discurso científico, as orientações médicas, passando a exercer comportamentos de "risco", sobram a repugnância e a marginalidade, além de sua própria culpa (Castro, 2007Castro, A. L. (2007). Culto ao corpo e sociedade: Mídia, estilos de vida e cultura de consumo (2ª ed.). São Paulo: Fapesp.). Para obesos e idosos, por exemplo, surgem discursos estigmatizantes e excludentes, e eles passam a ser tratados como "desviantes". Entendemos que a narrativa pode ser analisada em termos da autonomia dos personagens pela indicação de atividades realizadas nas quais o narrador assume a responsabilidade por suas ações e as toma em relação a orientações médicas, estéticas e/ou de saúde. No contexto que antecede a cirurgia, Ísis não menciona orientações médicas e de saúde, também não as segue, não as toma como referência. Ela se afilia ao discurso da bioidentidade em termos da autonomia pela busca de trabalho, por tentar ser obesa e viver a vida como todo mundo, estudando, trabalhando, mas então ser tomada pela impossibilidade de fazer valer seu preparo, sua formação. Daí então o destaque para a perda de oportunidades e para a vergonha ao sair com o marido.

No que se refere à "vontade", ela é discutida como um elemento essencial para o respeito aos padrões médicos, higiênicos e estéticos apresentados à sociedade. O sucesso ou o fracasso no culto ao corpo e a busca pelo ideal de saúde são inequivocamente atrelados ao exercício da vontade. Uma mulher na pós-menopausa, que se autogoverna, toma as medicações adequadas, realiza atividades físicas e não depende de seus pares para garantir a manutenção de uma saúde perfeita é considerada uma mulher com "força de vontade" (Moutinho, 2010Moutinho, K. (2010). A construção narrativa de sentidos de bioidentidade: Obesidade e cirurgias bariátricas (Unpublished doctor dissertation).Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil.). Já os fracassados na manutenção da saúde, irresponsáveis quanto à autoperitagem e inábeis para o uso de sua autonomia, são tidos como de vontade fraca. "Só é feio quem quer e só envelhece quem não se cuida" é um entendimento comum aos dias atuais (Goldenberg & Ramos, 2007Goldenberg, M., & Ramos, M. S. (2007). Apresentação. In M. Goldenberg (Ed.), Nu e vestido: Dez antropólogos revelam a cultura do corpo carioca (pp. 7-17). Rio de Janeiro: Editora Record., p. 9). Neste estudo, a análise narrativa quanto à vontade foi feita pelo reconhecimento na narrativa do uso direto da palavra, como, por exemplo, quando o narrador diz: "eu tinha vontade de" e também por outras referências a atividades relacionadas ao impulso, ao desejo, ao querer, ao ter interesse em relação a um dado objeto. Ísis aborda esse impulso para marcar que tipo de falta de vontade tinha. Como obesa, ela diz de um empenho profissional, seguido de frustações, mas também diz de uma falta de interesse pelo contato com outras pessoas ou uma falta de vontade de estabelecer uma convivência social. Ela nos diz: "Eu já não queria mais sair com meu marido pra canto nenhum". Ao construir essa narrativa que trata de sua experiência com os outros, Ísis usa qualificadores negativos, referindo-se ao terror, à vergonha, à falta de prazer, à impossibilidade de não ser notada. Ela elenca, por um conjunto de recursos explicativos, o que justificaria essa falta de querer, de vontade de sair, atribuindo, inclusive, elementos no discurso que fortalecem sua convicção: "Porque eu já achava que quando eu chegasse num lugar todo mundo ia me olhar. E, realmente, acontecia"; "Porque às vezes eu não tinha prazer de ir pra lugar nenhum"; "porque eu tinha vergonha de sair com ele". Nos recursos explicativos que usa, Ísis se afilia ao discurso social da bioidentidade pela construção de uma narrativa em que se apresenta como tendo uma "vontade fraca": não para seguir padrões médicos, mas para a convivência social. É dessa vontade, mais especificamente, dessa falta de vontade que Ísis trata quando fala de um contexto anterior à cirurgia.

Em linhas gerais, podemos dizer que Ísis parece se posicionar, antes da cirurgia, como em desconforto e em descontrole. Ela atribui a si mesma qualificações de depreciação, como atrapalhada, com aparência insatisfatória, prejudicada, afetada em sua autoestima. Além disso, atribui a um agente específico, no caso a obesidade, a responsabilidade pelo acontecimento importante da narrativa contada e pelo qual ela passou: a perda de uma oportunidade de trabalho. A inadequabilidade de seu contorno corporal, tão prejudicial em sua vida, marca também um discurso de reflexividade, autonomia e vontade, em uma mulher ciente de seus 116 quilos, sem vontade para uma vida social e que, mesmo responsável por buscar trabalho, deparou-se com a impossibilidade de exercê-lo, parecendo perder o controle de sua vida.

Considerações Finais

O universo de trabalho com narrativas é bastante vasto e extrapola a Psicologia. Além de uma diversidade de concepções, temos também variados métodos e recursos analíticos. Nossa tentativa, ao trazer a análise de posicionamento e a noção teórica de posição, foi de (a) apresentá-las como caminho para a análise narrativa, alternativa que se diferencia comparativamente às análises de narrativas; e (b) no campo de estudos sobre o fenômeno da identidade, poder trabalhar com narrativas como lugar de construção de sentidos de si, o que, em nosso ponto de vista, coloca-se como uma contribuição singular para as perspectivas narrativistas e para a psicologia discursiva. Essa forma de análise representa uma coerência teórico-metodológica imprescindível ao trabalho de pesquisa. Buscarmos uma subjetividade que se concretizava exclusivamente no produto/conteúdo de uma narração colocar-nos-ia em sintonia com a ideia de uma subjetividade real, aprisionada no passado e revelada exclusivamente pela narração. Acreditamos que forma analítica que trazemos neste estudo possibilita trabalhar com narrativas não apenas pelo seu conteúdo, pensando-se no que foi dito, mas também no como, ou seja, considerando um lidar com pronomes, adjetivos, verbos que dizem de um posicionar-se variável, múltiplo, no tempo não linear que caracteriza a narrativa, a construção de sentidos que fazemos em nossas vidas. Acreditamos, assim, estarmos mais próximos de uma perspectiva de identidade que contempla a sua dinamicidade, dando atualidade a uma temática tradicional em Psicologia.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    01 Ago 2014
  • Aceito
    03 Maio 2015
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