Acessibilidade / Reportar erro

Resiliência Oculta na Vida de Adolescentes com Envolvimento no Tráfico de Drogas

Resumo

Este artigo analisou os indicadores de resiliência oculta em adolescentes que tiveram envolvimento no tráfico de drogas. Participaram 551 adolescentes e jovens, entre 12-20 anos de idade (M = 16,01; DP = 1,548), de ambos os sexos, sendo 55,4% meninos. Os participantes são provenientes de instituições de três cidades localizadas no interior de São Paulo que atendem adolescentes com e sem histórico de envolvimento no tráfico de drogas. Foi utilizado o instrumento denominado Child and Youth Resilience Measure para verificação dos indicadores de resiliência nas populações. Paradoxalmente, os adolescentes com maior envolvimento no tráfico apresentaram maiores indicadores de resiliência. Questionam-se os modelos explicativos hegemônicos sobre resiliência e propõe-se que novos estudos sobre resiliência oculta sejam conduzidos.

Palavras-chave
resiliência oculta; adolescentes; tráfico de drogas

Abstract

This paper identifies hidden resilience processes among adolescents and young adults who have had involvement in drug trafficking. The participants were 551 adolescents and young people, aged 12-20 years (M = 16.01; SD = 1.548) from both genders, 55.4% of whom were boys. They were recruited from three social service institutions located in the state of São Paulo, which offer services for adolescents with and without a history of involvement in drug trafficking. To assess rates of resilience, the Child and Youth Resilience Measure was employed. Contrary to expectations, adolescents with greater involvement in drug trafficking had higher rates of resilience. This paper challenges the hegemonic conceptualization of resilience and proposes that more studies of hidden resilience need to be conducted.

Keywords
hidden resilience; adolescents; drug trafficking

As pesquisas sobre resiliência centram-se na busca pela compreensão dos mecanismos psicológicos que estão envolvidos no processo de superação de adversidades (Masten, 2014Masten, A. (2014). Ordinary magic: Resilience in development. New York: The Guilford Press. ; Rutter, 1987Rutter, M. (1987). Psychosocial resilience and protective mechanisms. American Journal of Orthopsychiatry, 57(3), 316-331. Doi: 10.1111/j.1939-0025.1987.tb03541.x
https://doi.org/10.1111/j.1939-0025.1987...
). Embora atualmente se constate uma variação significativa da definição na literatura com relação à definição de resiliência, sabe-se que os primeiros estudos a ressaltavam como algo inato, caracterizada por atributos apresentados pelas pessoas no percurso desenvolvimental de forma espontânea (Dell'Aglio, Koller, & Yunes, 2006Dell'Aglio, D. D., Koller, S. H., & Yunes, M. A. M. (Eds.). (2006). Resiliência e psicologia positiva: Interfaces do risco à proteção. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Yunes, 2003Yunes, M. A. M. (2003). Psicologia positiva e resiliência: O foco no indivíduo e na família. Psicologia em Estudo, 8,75-84. Doi: 10.1590/S1413-73722003000300010
https://doi.org/10.1590/S1413-7372200300...
; Yunes, 2007Yunes, M. A. M., Garcia, N. M., & Albuquerque, B. M. (2007). Monoparentalidade, pobreza e resiliência: Entre as crenças dos profissionais e as possibilidades da convivência familiar.Psicologia Reflexão e Crítica, 20(3), 444-453. Doi: 10.1590/S0102-79722007000300012
https://doi.org/10.1590/S0102-7972200700...
). Com o avanço das pesquisas, estudiosos da área, em especial da psicologia, reconheceram que a resiliência não deveria ser compreendida como algo a priori, como marca biológica ou como traço da personalidade. Estratégias psicológicas de enfrentamentos de risco e situações de estresse estão associadas à possibilidade de acessar recursos que assegurem saúde mental e que permitam o enfrentamento de eventos adversos (Ungar, Liebenberg, Dudding, Armstrong, & Vijver, 2013Ungar, M., Liebenberg, L., Dudding, P., Armstrong, M., & Vijver, F. J(2013). Patterns of service use, individual and contextual risk factors, and resilience among adolescents using multiple psychosocial services. Child Abuse & Neglect, 37, 150-159. Doi: 10.1016/j.chiabu.2012.05.007
https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2012.05...
).

Os recursos protetivos podem, então, estar relacionados aos aspectos subjetivos ou objetivos que nutrem nas pessoas possibilidades de superação de situações ou momentos de dificuldades. De acordo com Masten e Garmezy (1985Masten, A. S. & Garmezy, N. (1985). Risk, vulnerability and protective factors in developmental psychopathology. In B. B. Lahey & A. E. Kazdin (Eds.), Advances in clinical child psychology (pp.1-52). New York: Plenum Press.), alguns fatores são fundamentais para resiliência: características individuais; coesão familiar e ecológica; e apoio emocional e social. Os relacionamentos interpessoais, por exemplo, podem ser permeados por afetos positivos, de modo a impulsionar as pessoas no enfrentamento das adversidades (Daigneault, Hébert, & Tourigny, 2007Daigneault, D., Hébert, M. H., & Tourigny, M. (2007). Personal and interpersonal characteristics related to resilient developmental pathways of sexually abused adolescents. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, 16, 415-434. Doi: 10.1016/j.chc.2006.11.002
https://doi.org/10.1016/j.chc.2006.11.00...
; Libório & Ungar, 2013Libório, R. M. C., & Ungar, M. (2013). Resilience as protagonism: Interpersonal relationships, cultural practices, and personal agency among working adolescents in Brazil. Journal of Youth Studies, 17(5), 682-696. Doi: 10.1080/13676261.2013.834313
https://doi.org/10.1080/13676261.2013.83...
). Similarmente, o papel exercido por uma instituição pode ocupar um espaço tão significativo na vida de alguém que os vínculos criados podem posteriormente implicar o acionamento de processos de resiliência (Dell'Aglio & Koller, 2011Dell'Aglio, D. D., & Koller, S. H. (Eds.). (2011). Adolescência e juventude: Vulnerabilidade e contextos de proteção. São Paulo: Casa do Psicólogo .; Krenkel, More, & Motta, 2015Krenkel, S., More, C. L. O. O., & Motta, C. C. L. (2015). The significant social networks of women who have resided in shelters.Paidéia, 25(60), 125-133. Doi: 10.1590/1982-43272560201515
https://doi.org/10.1590/1982-43272560201...
; Pessoa, Coimbra, Murgo, Breda, & Baker-Lewton, 2018Pessoa, A. S. G., Coimbra, R. M., Murgo, C. S., Breda, A. D. V., & Baker-Lewton, A. (2018). Resilience processes of Brazilian young people: Overcoming adversity through an arts program. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 13(3), 1-17. Retrieved from http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/revista_ppp/article/view/3100/1987
http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/re...
).

Estudos sobre resiliência devem centrar-se não apenas no relato das pessoas ou na identificação de características individuais, mas investir na compreensão dos fatores contextuais e relacionais que promovem fortalecimento subjetivo e possibilitam a superação da adversidade (Edwards & Apostolov, 2007Edwards, A., & Apostolov, A. (2007). A cultural-historical interpretation of resilience: Implications for practice. Critical Social Studies, 1, 70-82. Retrieved from https://tidsskrift.dk/outlines/article/view/2087
https://tidsskrift.dk/outlines/article/v...
). Tal movimento pode revelar estratégias criativas e pouco exploradas por psicólogos e cientistas sociais.

No contexto brasileiro, as pesquisas sobre resiliência têm dado atenção especial à realidade de adolescentes e jovens em situação de exclusão social. O ponto central desses estudos se caracteriza pela busca da compreensão de como esses segmentos etários, mesmo expostos a indicadores de riscos psicossociais intensos, conseguem navegar por recursos protetivos e demonstrar indicadores de resiliência em situações tão adversas. É possível encontrar na literatura, por exemplo, pesquisas conduzidas com adolescentes vítimas de violência sexual, socioeconomicamente desfavorecidos, com baixa escolarização, em situação de dependência química, entre tantos outros (Albuquerque, Williams, & D'Affonseca, 2013Albuquerque, P. P., Williams, L. C. A., & D'Affonseca, S. M. (2013). Efeitos tardios do bullying e transtorno de estresse pós-traumatico: Uma revisão crítica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(1), 91-98. Doi: 10.1590/S0102-37722013000100011
https://doi.org/10.1590/S0102-3772201300...
; Hebert, Lavoie, & Blais, 2014Hebert, M., Lavoie, F., & Blais, M. (2014). Post-traumatic stress disorder/PTSD in adolescent victims of sexual abuse: Resilience and social support as protection factors. Ciencia & Saúde Coletiva, 19(3), 685-695. Doi: 10.1590/1413-81232014193.15972013
https://doi.org/10.1590/1413-81232014193...
; Morais, Raffaelli, & Koller, 2012Morais, N. A., Raffaelli, M., & Koller, S. H. (2012). Adolescentes em situação de vulnerabilidade social e o continuum risco-proteção. Avances en Psicologia Latinoamericana, 30(1), 118-136. Retrieved from http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-47242012000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
http://www.scielo.org.co/scielo.php?scri...
; Yunes, Garcia, & Albuquerque, 2007Yunes, M. A. M., Garcia, N. M., & Albuquerque, B. M. (2007). Monoparentalidade, pobreza e resiliência: Entre as crenças dos profissionais e as possibilidades da convivência familiar.Psicologia Reflexão e Crítica, 20(3), 444-453. Doi: 10.1590/S0102-79722007000300012
https://doi.org/10.1590/S0102-7972200700...
). Sem dúvida, trata-se de situações que têm o potencial de influenciarem negativamente a vida dos adolescentes e jovens, mas, ainda assim, constata-se que algumas dessas pessoas demonstram positividade pessoal, autoestima e indicadores de resiliência, mesmo estando sob condições tão desfavoráveis ao desenvolvimento. Esses estudos buscam descrever resiliência a partir de parâmetros normativos esperados para a adolescência (Bottrell, 2009Bottrell, D. (2009). Understanding ‘Marginal’ perspectives: Towards a social theory of resilience. Qualitative Social Work, 8(3), 321-339. Doi: 10.1177%2F1473325009337840
https://doi.org/10.1177%2F14733250093378...
; Kaplan, 1999Kaplan, H. (1999). Toward an understanding of resilience: A critical review of definitions and models. In M. Glantz & J. Johnson (Eds.), Resilience and development: Positive life adaptations (pp. 17-83). New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers.). Todavia, com certa frequência, é possível encontrar relatos que associam atividades consideradas antissociais como estratégias de empoderamento e participação social.

Tal constatação levou Ungar (2004Ungar, M. (2004). Nurturing hidden resilience in troubled youth. Toronto: University of Toronto Press. ) a desenvolver o construto hidden resilience, traduzido para o português por Libório e Ungar (2010Libório, R. M. C., & Ungar, M. (2010). Resiliência oculta: A construção social do conceito e suas implicações para práticas profissionais junto a adolescentes em situação de risco. Psicologia Reflexão e Crítica, 23(3), 476-484. Doi: 10.1590/S0102-79722010000300008
https://doi.org/10.1590/S0102-7972201000...
) como resiliência oculta. Com certa frequência, adolescentes e jovens em situação de exclusão social trazem relatos sobre fortalecimento subjetivo através do engajamento em atividades que são consideradas ilícitas ou antissociais. Morais, Neiva-Silva e Koller (2010Morais, N. A., Neiva-Silva, L., & Koller, S. H. (2010). Crianças e adolescentes em situação de rua: história, caracterização e modos de vida. In N. A. Morais, L. Neiva-Silva, & S. H. Koller. (Eds.), Endereço Desconhecido: crianças e adolescentes em situação de rua (pp. 35-62). São Paulo: Casa do Psicólogo. ) apontavam para a necessidade de adolescentes em situação de vulnerabilidade social (em situação de rua) de serem autores de suas vidas, demonstrando desde a superação de dificuldades até a execução de atos infracionais como forma de acessar recursos que assegurem saúde mental.

A partir de experiências advindas do contexto clínico, Ungar (2004Ungar, M. (2004). Nurturing hidden resilience in troubled youth. Toronto: University of Toronto Press. ) afirmou que os discursos dos adolescentes desafiam a lógica hegemônica sobre bem-estar e positividade pessoal. Constatou a presença de indicadores que evidenciam negociação de recursos protetivos nas atividades antissociais. Esses aspectos são negligenciados pelas pesquisas, que, historicamente, têm se apoiado em protótipos de saúde mental definidos arbitrariamente sobre o que indicaria trajetórias de resiliência na adolescência e juventude (Pessoa & Coimbra, 2016Pessoa, A. S. G., & Coimbra, R. M. (2016). O traficante não vai à escola: Processos de escolarização de adolescentes com envolvimento no tráfico de drogas. Revista Educação em Questão, 54(42), 190-117. Doi: 10.21680/1981-1802.2016v54n42ID10958
https://doi.org/10.21680/1981-1802.2016v...
).

Com base nos temas tratados pelas pesquisas em resiliência e na experiência com adolescentes envolvidos no tráfico de drogas e na exploração sexual (Libório, 2005Libório, R. M. C. (2005). Adolescentes em situação de prostituição: Uma análise sobre a exploração sexual na sociedade contemporânea. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(3), 413-420. Doi: 10.1590/S0102-79722005000300016
https://doi.org/10.1590/S0102-7972200500...
; Pessoa & Coimbra, 2016Pessoa, A. S. G., & Coimbra, R. M. (2016). O traficante não vai à escola: Processos de escolarização de adolescentes com envolvimento no tráfico de drogas. Revista Educação em Questão, 54(42), 190-117. Doi: 10.21680/1981-1802.2016v54n42ID10958
https://doi.org/10.21680/1981-1802.2016v...
), levanta-se como hipótese que, em contextos demarcados por exclusão social e falta de oportunidades, alguns adolescentes podem acionar processos de resiliência por intermédio de atividades ilícitas (Rafaelli, Koller, & Morais, 2007Rafaelli, M., Koller, S. H., & Morais, N. A. (2007). Assessing the development of Brazilian street youth. Vulnerable Children and Youth Studies, 2(2), 154-164. Doi: 10.1080/17450120701403128
https://doi.org/10.1080/1745012070140312...
; Raffaelli, Koller, Reppold, Kuschick, & Krum, 2000Raffaelli, M., Koller, S. H., Reppold, C. T., Kuschick, M. B., & Krum, F. M. B. (2000). Gender differences in Brazilian street youth’s family circumstances and experiences on the street. Child Abuse & Neglect, 24(11), 1431-1441. Doi: 10.1016/S0145-2134(00)00202-7
https://doi.org/10.1016/S0145-2134(00)00...
). Mesmo sabendo dos riscos diários a que estão expostos, alguns são levados a se engajar em atividades ilícitas, pois estas foram as únicas oportunidades disponíveis em seus contextos.

O tráfico de drogas envolvendo adolescentes no Brasil configura-se como um problema de saúde pública e afeta, especialmente, adolescentes que residem em regiões com altos indicadores de exclusão social (Rocha, 2013Rocha, A. P. (2013). Proibicionismo e a criminalização de adolescentes pobres por tráfico de drogas.Serviço Social e Sociedade, 115, 561-580. Doi: 10.1590/S0101-66282013000300009
https://doi.org/10.1590/S0101-6628201300...
). De acordo com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), o tráfico de drogas aparece como o segundo ato infracional mais recorrente no cenário nacional, sendo que, em 2011, foram aplicadas cerca de 5863 medidas de internação e semiliberdade (26,6% do total) e, em 2012, esse número sobe para 5883 (27,0%). O caráter de clandestinidade associado à ilegalidade da venda drogas formou, no Brasil e em diversos países do mundo, um mercado lucrativo que tem incorporado também crianças e adolescentes (France, Bottrell, & Armstrong, 2012France, A., Bottrell, D., & Armstrong, D. (2012).A political ecology of youth and crime. Basingstoke: Palgrave Macmillan.). Os benefícios financeiros provenientes dessa atividade podem ser maiores que os salários obtidos em atividades laborais disponíveis para os adolescentes e jovens (Bessa, 2010Bessa, M. A. (2010). Contribuição à discussão sobre a legalização de drogas. Ciência & Saúde Coletiva, 15(3), 633-636. ). O tráfico revela a perversão de um modelo social vigente e acaba sendo atrativo para adolescentes que não conseguem encerrar ciclos de privação de direitos que se perpetuam intergeracionalmente. O dinheiro obtido por adolescentes por meio do tráfico de drogas é ilusório se comparado às fortunas dos traficantes e das facções criminosas organizadas (Picanço & Lopes, 2016Picanço, F., & Lopes, N. (2016). O tráfico de drogas em formas: Notas de pesquisa sobre o Rio de Janeiro. Análise Social, 51(218), 96-105. Retrieved from http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732016000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?scri...
). Os adolescentes fazem a linha de frente para essas organizações, que têm sido alvo de poucas investigações e responsabilização pelos problemas sociais advindos do tráfico.

As políticas de enfrentamento ao tráfico de drogas envolvendo adolescentes contemplam uma série de discursos que deslegitimam os princípios de direitos humanos. Visões retrógradas propõem estratégias mirabolantes, que vão desde a criação de territórios “invisíveis” para a comercialização e uso de entorpecentes, extermínios em massa e diminuição da maioridade penal. Essas estratégias devem ser consideradas como medidas paliativas que não focalizam as dimensões históricas que solidificam o tráfico na vida de adolescentes. Trata-se de ações de caráter higienista, sectárias e pautadas em ideais neoliberais em sua forma mais perversa (Feffermann, 2006Feffermann, M. (2006). Vidas arriscadas: Um estudo sobre jovens inscritos no tráfico de drogas. Petrópolis - Rio de Janeiro: Editora Vozes.).

A partir do reconhecimento da escassez de oportunidades para adolescentes que residem em contextos periféricos e as artimanhas que envolvem a rede do tráfico de drogas, faz-se necessário conduzir estudos que melhor caracterizem os significados que essas atividades adquirem na vida dos adolescentes. Um dos pontos centrais é analisar quais os aspectos que os adolescentes encontram no tráfico e que, posteriormente, passam a ser valorizados. Além disso, as provocativas trazidas sobre o construto resiliência oculta convocam pesquisadores a trazer subsídios empíricos que auxiliem a compreensão desses processos.

O objetivo deste artigo foi verificar a existência de processos de resiliência oculta em adolescentes que tiveram envolvimento no tráfico de drogas, bem como avaliar em que medida a participação nessas atividades podem ser associadas a elementos de positividade pessoal e resiliência oculta.

Método

Participantes

Trata-se de um estudo de natureza quantitativa, de caráter exploratório e transversal. Participaram da pesquisa 519 adolescentes e jovens, entre 12-20 anos de idade (M = 16,01; DP = 1,548), de ambos os sexos, sendo 55,4% meninos. Os participantes são provenientes de instituições de três cidades de médio porte que estão localizadas no interior do estado de São Paulo. Do total de participantes, 58 adolescentes e jovens estavam em cumprimento de medidas socioeducativas por apresentarem um histórico de envolvimento no tráfico de drogas. O grupo de comparação foi formado por 461 participantes que estavam frequentando escolas públicas de ensino fundamental e médio, bem como projetos sociais que ofertam atividades no contraturno ao período escolar. A medida socioeducativa que estavam cumprindo variava entre semiliberdade, liberdade assistida ou prestação de serviço à comunidade.

Instrumento

A pesquisa utilizou o Child and Youth Resilience Measure (CYRM). Esse instrumento foi criado a partir de uma pesquisa intercultural conduzida com 1451 adolescentes, que residiam em 14 comunidades de 11 países diferentes (Ungar, Brown, & Liebenberg, 2007Ungar, M., Brown, M., Liebenberg, L., Othaman, R., Kwong, W. M., Armstrong, M., & Gilgun, J. (2007). Unique pathways to resilience across cultures. Adolescence, 42(166), 287-310.). O questionário foi traduzido pela segunda autora deste artigo, tendo como apoio o manual de usuário do CYRM (Ungar & Liebenberg, 2008Ungar, M., & Liebenberg, L. (2008). The child and youth resilience measure CYRM - User manual. International Resilience Project: Dalhousie University, Canada.) e por intermédio da técnica de back translation (Borsa, Damásio, & Bandeira, 2012Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). Adaptação e validação de instrumento psicológico entre culturas: Algumas considerações. Paidéia, 22(53), 423-432. Doi: 10.1590/S0103-863X2012000300014
https://doi.org/10.1590/S0103-863X201200...
).

O CYRM é composto por três seções: 1) dados sociodemográficos (idade, gênero, estado civil, pertencimento étnico, renda familiar mensal, entre outros); 2) itens elaborados pelos pesquisadores, que incluam variáveis alinhadas com os objetivos da investigação, salientando elementos que sejam relevantes culturalmente à amostra estudada e aos objetivos e contexto de estudo (neste caso, tráfico de drogas envolvendo adolescentes e percepções positivas associadas a processos de fortalecimento pessoal e de resiliência oculta); 3) A última seção refere-se aos itens padronizados no instrumento original, que dão indicadores de processos de resiliência mediados por aspectos individuais, relacionais, contextuais e culturais, representando os fatores internos do instrumento.

Os itens que compuseram a Seção 2 foram construídos com base em apontamentos da literatura nacional e internacional sobre adolescência e tráfico de drogas (ver Tabela 1), bem como percepções positivas que seriam associados a processos de fortalecimento pessoal e, por conseguinte, a processos de resiliência oculta. Os respondentes poderiam assinalar, em uma escala Likert de 1 a 5 (1 = Discordo Totalmente; 2 = Discordo; 3 = Mais ou Menos; 4 = Concordo; 5 = Concordo Fortemente), o quanto concordavam com as afirmativas, como, por exemplo, “A venda de drogas pode ajudar pessoas a melhorar de condição de vida”. Apenas os adolescentes que declararam ter histórico de envolvimento no tráfico de drogas responderam a essa seção. Optou-se por formular afirmações com o verbo na terceira pessoa do plural ou no infinitivo, evitando que os participantes se sentissem desconfortáveis ou intimidados em expressar suas opiniões pessoais diretas sobre o tráfico. Levou-se em conta, sobretudo, que estavam passando por intervenções no sistema de medidas socioeducativas e poderiam identificar que suas respostas poderiam prejudicá-los, embora tenham sido esclarecidos quanto ao sigilo e confidencialidade dos dados fornecidos.

A Seção 3, também estruturada no modelo da escala Likert de 1 a 5, contém 28 itens e solicitava aos participantes que assinalassem apenas um item de acordo com seus níveis de concordância com as afirmações. A escolha por essa ferramenta se deu em virtude da sensibilidade de seus idealizadores para os aspectos contextuais que configuram resiliência em diferentes culturas e nacionalidades.

Procedimentos e Análise de Dados

A aplicação do instrumento ocorreu de forma individual ou em pequenos grupos quer variavam de três a cinco pessoas. Os participantes não tiveram dificuldades para a compreensão dos itens que compunham os instrumentos.

Após a análise dos dados sociodemográficos, o procedimento de análise adotado foi a técnica de agrupamento pelo k-médias a partir dos dados da Seção 2 do CYRM. Interessava aos pesquisadores formar um grupo cujos participantes apresentassem maior valorização do tráfico (G2) em contraposição ao G1. Assim, os procedimentos permitiram, inicialmente, a organização de dois grupos, cujas respostas eram assemelhadas entre si. O Grupo 1 (n = 24) apresentou médias de 17,792 (dp = 4,482) e o Grupo 2 (n = 34) apresentou médias de 28,735 (dp = 4,202), em uma escala que poderia variar entre 9 e 45 pontos sobre a valorização do tráfico.

A partir da formação do G2 (adolescentes que valorizavam o tráfico), foi possível a inserção de outro critério para identificar quais participantes seriam mais apropriados para constituir a amostra que interessava aos pesquisadores naquele momento, pois estava prevista a condução de um estudo qualitativo com os adolescentes com mais envolvimento no tráfico.

Com os dados organizados nesses dois grupos - G1 e G2 - consultou-se a equipe técnica das instituições que atendiam os adolescentes, formado por psicólogos, assistentes sociais e educadores, para que selecionassem, no Grupo 2, os adolescentes que expressaram em atendimentos uma relação positiva com o tráfico. Tais procedimentos foram adotados apenas com os participantes que estavam nas instituições de semiliberdade (n =27). Por hipótese, os adolescentes nessas instituições estavam em uma situação mais agravada e, por isso, poderiam ter recebido uma medida socioeducativa considerada mais rígida.

A equipe informou que os adolescentes do Grupo 2 eram os que tinham um envolvimento mais intenso com o tráfico, não apenas em termos de avaliação positiva, mas também por um histórico de reincidências nas medidas de internação. Após a discussão com as equipes, definiu-se, com base nos objetivos da pesquisa, que a constituição de um grupo de oito adolescentes poderia trazer subsídios que auxiliariam a compreensão dos fenômenos analisados (para mais detalhes, ver Pessoa, 2015Pessoa, A. S. G. (2015). Trajetórias negligenciadas: Processos de resiliência em adolescentes com histórico de envolvimento no tráfico de drogas(Doctoral Dissertation). Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, SP, Brazil. Retrieved from https://repositorio.unesp.br/handle/11449/135963
https://repositorio.unesp.br/handle/1144...
; Pessoa & Coimbra, 2016Pessoa, A. S. G., & Coimbra, R. M. (2016). Desafiando noções hegemônicas sobre resiliência e indisciplina no contexto escolar. Polêm!ca, 16(2), 59-70. Retrieved from https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/22902/16384
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index....
).

Foram formados três grupos para esta pesquisa, reorganizados da seguinte forma: Alta Valorização do Tráfico (AVT): adolescentes com envolvimento no tráfico e com altos indicadores de valorização dessa atividade (n = 8); Menor valorização do Tráfico (MVT): adolescentes com envolvimento no tráfico e com menores indicadores de valorização (n = 50); Grupo Comparação (GC): adolescentes de escolas públicas e projetos sociais sem envolvimento no tráfico (n = 461). Essa divisão permitiu que fossem realizadas análises sobre indicadores de resiliência na vida dos adolescentes dos três grupos.

Questões Éticas

O estudo seguiu as recomendações do Conselho Nacional de Saúde em relação às diretrizes estabelecidas pela Resolução n. 466/2012 (vigente à época), que estabelecia parâmetros éticos na pesquisa com seres humanos. Os adolescentes receberam informações sobre os procedimentos, bem como declararam assentimento em formulário próprio. Por se tratar de adolescentes que estavam sob cuidados do Estado, em cumprimento de medidas socioeducativas de semiliberdade, o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual Paulista (UNESP - campus de Presidente Prudente, SP), que avaliou o projeto, solicitou que os juízes da Vara da Infância e Adolescência das três comarcas fornecessem autorização formal antes do início da coleta de dados. Também foi necessária a obtenção da autorização da instituição responsável pela aplicação de medidas socioeducativas de internação do estado de São Paulo. Após os cuidados éticos terem sido levados à risca, o referido comitê emitiu parecer favorável quanto à realização da pesquisa (CAEE 26468714.0.0000.5402).

Resultados

Inicialmente são apresentados os resultados obtidos a partir de análises estatísticas descritivas e correlacionais realizadas com os itens que compuseram a Seção 2 do CYRM. Foi organizado um material que evidenciava que o grupo AVT era mais homogêneo no que referia à valorização de atividades vinculadas ao tráfico. Em seguida, foram descritos os dados comparativos em relação aos indicadores de processos de resiliência com todos os grupos que responderam à Seção 3 do CYRM, incluindo adolescentes de escolas públicas e projeto social (GC).

Tráfico de Drogas como Expressão de Positividade Pessoal e Resiliência Oculta

A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos - média e o desvio padrão - em cada item da Seção 2, bem como as diferenças encontradas entre AVT e MVT por análise discriminante. Observa-se, também, que apenas para os itens “B” e “F” as diferenças entre os grupos não são significativas (p<0,05), embora em todos os itens AVT apareça com indicadores maiores de valorização do tráfico.

Os itens que apareceram com maiores médias em AVT foram o C (M = 4,625), H (4,571) e o D (M = 4,375). Por outro lado, o item que apareceu com menor nível de concordância para o grupo foi o E (M = 3,571). Os itens que apresentaram maior diferença entre o AVT e MVT, de acordo com as médias obtidas, foram C (AVT = 4,625 e MVT = 2,680), G (AVT = 4,000 e MVT = 2,271) e A (AVT = 4,125 e MVT = 2,740).

Tabela 1
Teste de independência dos grupos G1 e G2 com base na análise discriminante para os itens da seção 2 do CYRM

Na Tabela 2, observa-se que apenas o item B não discriminou significativamente AVT e MVT (p<0,05) segundo a técnica de análise discriminante, revelando que são homogêneos entre si e existe coerência nos itens que foram propostos na Seção 2, com relação à valorização do tráfico de drogas na adolescência. A organização de dois grupos com essa técnica permitiu que fossem realizadas análises pormenorizadas sobre os indicadores de resiliência em grupos com maiores e menores indicadores de concordância com os elementos positivos ao tráfico.

Tabela 2
Teste da igualdade das médias de AVT e MVT a partir do teste de Lambda de Wilks aplicado a seção 2 do CYRM

Indicadores de resiliência em adolescentes com envolvimento no tráfico

Os dados da Seção 3, que indicam processos de resiliência, permitiram uma análise comparativa entre os três grupos. Na Tabela 3, os resultados obtidos na análise de Alfa de Cronbach sugerem confiabilidade do instrumento, tanto nos valores obtidos na população geral como na análise aplicada aos fatores (individual, relacional, comunidade e cultural) que compõem o CYRM.

Tabela 3
Médias e análise de alfa de Cronbach entre os fatores presentes na Seção 3 do CYRM

A Figura 1 mostra a média das respostas obtidas na Seção 3 do CYRM (variando de 1a 5). Embora não tenha sido encontrada diferença estatística significativa entre os grupos, AVT apresentou maiores indicadores de resiliência, seguido pelo GC e, em seguida, pelo MVT. Isso significa que os adolescentes com maior envolvimento no tráfico de drogas e com mais elementos de valorização desta atividade apresentam, de acordo com o instrumento utilizado, maiores indicadores de resiliência.

Figura 1
Indicadores de resiliência a partir das Médias obtidas na seção 3 do CYRM

A Figura 2 apresenta as diferenças encontradas nos grupos a partir dos fatores do instrumento. Procedeu-se, portanto, com agrupamento dos itens que se encontram dispersos no CYRM. Mais uma vez, o G1 apresentou indicadores maiores em todos os fatores, sendo o fator Relacionamento o que apresentou maior diferença. Todavia, também não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre os fatores.

Figura 2
Indicadores de resiliência apresentados por fatores

Em um test t para comparação das médias e o teste D de Cohen para a definição do tamanho do efeito (ver Tabela 4), apenas o fator “Relacionamentos” apresentou diferença estatisticamente significativa (p< 0,05) entre as médias de AVT e MVT, sendo que pela estatística d-valor o tamanho do efeito obtido para essa diferença é classificado como “Grande”. Quando aplicadas as mesmas análises comparativas entre AVT versus GC e MVT versus GC não foi encontrada diferença estatisticamente significativa, tendo como referência p< 0,05.

Tabela 4
Análise comparativa dos indicadores de resiliência entre os grupos a partir do testt e do teste D de Cohen

Discussão

O uso de escalas na pesquisa sobre resiliência tem sido bastante questionado por estudiosos (Reppold, Mayer, Almeida, & Hutz, 2012Reppold, C. T., Mayer, J. C., Almeida, L. S., & Hutz, C. S. (2012). Avaliação da resiliência: Controvérsia em torno do uso das escalas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(2), 248-255. Doi: 10.1590/S0102-79722012000200006
https://doi.org/10.1590/S0102-7972201200...
). O ponto controverso reside na indagação se a resiliência pode ser mensurada, como ocorre com outros processos psicológicos básicos. Parte do material científico disponível para averiguação de possíveis indicadores de resiliência em pessoas e grupos enfatiza aspectos centrados nos indivíduos e nas características de personalidade (Amar, Utria, Llanos, González, & Romero, 2014Amar, J. J., Utria, L. M., Llanos, R. A., González, M. M., & Romero, F. A. C. (2014). Construcción de la escala de Factores Personales de Resiliencia (FPR-1) em mujeres víctimas del desplazamiento forzado em Colombia. Universitas Psychologica, 13(3), 853-864. Doi: 10.11144/Javeriana.UPSY13-3.cefp
https://doi.org/10.11144/Javeriana.UPSY1...
; Cardoso, 2013Cardoso, T. (2013). Construção e validação de uma escala dos atributos pessoais da resiliência (Master Thesis). Universidade Metodista, São Paulo, SP, Brazil. Retrieved from http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1330/1/TabataCardoso.pdf
http://tede.metodista.br/jspui/bitstream...
).

Para além de uma discussão polarizada entre as desvantagens e potencialidades no uso de instrumentos quantitativos no estudo da resiliência, argumenta-se que tais procedimentos, incluindo o uso de escalas, questionários ou de qualquer outra técnica, deve estar embasado em modelos epistêmicos claros, que demarquem a compreensão de seus proponentes e evidenciem as bases conceituais que sustentam as pesquisas propostas.

Entre os aspectos avaliados sobre a valorização do tráfico de drogas, destacou-se o respeito que os adolescentes verbalizaram que passaram a ter em suas comunidades após iniciarem atividades ilícitas. O ocultamento das aspirações de adolescentes e jovens que são provenientes de camadas populares, bem como o sentimento de invisibilidade social que incorporam, pode implicar no engajamento em atividades não convencionais como forma de obtenção de status e poder (Feffermann, 2006Feffermann, M. (2006). Vidas arriscadas: Um estudo sobre jovens inscritos no tráfico de drogas. Petrópolis - Rio de Janeiro: Editora Vozes.; Ungar 2004Ungar, M. (2004). Nurturing hidden resilience in troubled youth. Toronto: University of Toronto Press. ).

Associado a este aspecto, a possibilidade de rompimento com a condição de pobreza também foi destacada pelos participantes como um dos motivos que levam adolescentes a se envolverem no tráfico de drogas. Em territórios marcados por indicadores de exclusão social e precariedade de recursos, as atividades ilícitas podem representar a única possibilidade de superação de condições de escassez das famílias (Silva, 2015Silva, T. R. (2015). “Pratas, ‘Lacoste’, Grana e Novinhas”: Um estudo sobre a construção social da adolescência através do ato infracional (Master Thesis). Universidade Estadual Paulista, Franca, SP, Brazil. Retrieved from https://repositorio.unesp.br/handle/11449/138560
https://repositorio.unesp.br/handle/1144...
; Vianna& Neves, 2011Vianna, P. C., & Neves, C. E. A. B. (2011). Dispositivos de repressão e varejo do tráfico de drogas: Reflexões acerca do racismo de estado. Estudos de Psicologia, 16(1), 31-38. Retrieved from http://www.scielo.br/pdf/epsic/v16n1/a05v16n1.pdf
http://www.scielo.br/pdf/epsic/v16n1/a05...
).

Destacou-se, ainda, a percepção que os participantes demonstraram em relação ao papel da mídia. Afirmaram que os meios de comunicação apresentam uma visão equivocada sobre as pessoas que vendem droga. A imagem veiculada pela grande mídia sobre adolescentes de camada populares, em especial de adolescentes com envolvimento em atos infracionais, é permeada por estereotipias e práticas discursivas que minimizam a importância da garantia de direitos dessa população (Castro & Guareschi, 2007Castro, A. L. S., & Guareschi, P. A. (2007). Adolescentes autores de atos infracionais: Processos de exclusão e formas de subjetivação. Revista Psicologia Política, 7(13), 37-49. Retrieved from http://www.fafich.ufmg.br/rpp/seer/ojs/viewarticle.php?id=28&layout=html
http://www.fafich.ufmg.br/rpp/seer/ojs/v...
). Os conteúdos espetacularizados e sensacionalistas divulgados pelos meios de comunicação, que simplesmente desconsideram o contexto social que insere o adolescente no tráfico, podem produzir a sensação de injustiça social nas camadas desfavorecidas socioeconomicamente.

No estudo realizado por Pessoa (2015Pessoa, A. S. G. (2015). Trajetórias negligenciadas: Processos de resiliência em adolescentes com histórico de envolvimento no tráfico de drogas(Doctoral Dissertation). Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, SP, Brazil. Retrieved from https://repositorio.unesp.br/handle/11449/135963
https://repositorio.unesp.br/handle/1144...
) com adolescentes com envolvimento no tráfico, constatou-se, ainda, a ineficiência de serviços públicos ofertados a essa população nas diferentes políticas sociais que os atendem. O esvaziamento de sentidos em relação a esses serviços promove um distanciamento dos adolescentes, empurrando-os a outros espaços permeados por reconhecimento de suas potencialidades. Em alguns casos, são apenas atividades que fogem de parâmetros normativos que suprem a ausência de intervenções eficazes do Estado (Pessoa, Coimbra, Noltemeyer, & Bottrell, 2017Pessoa, A. S. G., Coimbra, R. M., Noltemeyer, A., & Bottrell, D. (2017). The applicability of hidden resilience in the lives of adolescents involved in drug trafficking. In D. D. Dell’Aglio & S. H. Koller (Eds.), Vulnerable Children and Youth in Brazil: Innovative Approaches from the Psychology of Social Development (pp. 247-260). New York: Springer International Publishing.).

A precariedade econômica das famílias pode encorajá-los a buscar estratégias para a obtenção de recursos financeiros. Pela impossibilidade de acesso ao mercado de trabalho ou pelo baixo prestígio social das atividades que executam, sobram poucas oportunidades de geração efetiva de lucro para sustento das famílias (Silva, 2015Silva, T. R. (2015). “Pratas, ‘Lacoste’, Grana e Novinhas”: Um estudo sobre a construção social da adolescência através do ato infracional (Master Thesis). Universidade Estadual Paulista, Franca, SP, Brazil. Retrieved from https://repositorio.unesp.br/handle/11449/138560
https://repositorio.unesp.br/handle/1144...
). Soma-se a esses elementos o desejo de consumo imposto pela mídia, que, em alguns casos, só pode ser suprido com o envolvimento dos adolescentes em atividades que colocam suas vidas em risco, mas são altamente lucrativas, como o tráfico de drogas e a exploração sexual (Davidson & Taylor, 2007Davidson, J., & Taylor, J. S. (2007). Infância, turismo sexual e violência: Retórica e realidade. In M. L. P. Leal, M. F. P. L. Leal, R. M. C. Libório (Eds.), Tráfico de pessoas e Violência Sexual (pp. 119-136). Brasília: Universidade de Brasília.; Shook, Vaughn, & Salas-Wright, 2013Shook, J. J., Vaughn, M. G., & Salas-Wright, C. P. (2013). Exploring the variation in drug selling among adolescents in the United States. Journal of Criminal Justice, 41(6), 365-374. Doi: 10.1016/j.jcrimjus.2013.07.008
https://doi.org/10.1016/j.jcrimjus.2013....
).

Tendo como parâmetro a pesquisa realizada por Theron e Malindi (2010Theron, L. C., & Malindi, M. J. (2010). Resilient street youth: A qualitative South African study. Journal of Youth Studies, 13(6), 717-736. Doi: 10.1080/13676261003801796
https://doi.org/10.1080/1367626100380179...
) que utilizou o mesmo instrumento deste estudo no contexto da África do Sul, destaca-se que todos os grupos no contexto brasileiro apresentaram maiores indicadores de resiliência, se comparados à população recrutada na pesquisa conduzida no continente africano (AVT = 4,16; MVT = 3,88; GC = 3,92; África do Sul = 3,45). Porém, tanto na África do Sul quanto no Brasil, os grupos que estão mais expostos a indicadores de vulnerabilidade, no caso, adolescentes na condição de rua e envolvidos no tráfico de drogas, demonstraram maiores scores nos resultados obtidos através da Seção 3 do CYRM (Adolescentes em situação de rua na África do Sul = 3,98; MVT = 4,16).

Rutter (2007Rutter, M. (2007). Resilience, competence and coping. Child Abuse and Neglect,31, 205-209. Doi: 10.1016/j.chiabu.2007.02.001
https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2007.02...
) explicou que a exposição a diferentes formas de risco pode implicar resultados inesperados, como, por exemplo, provocar um efeito catalisador no sujeito em direção a processos de fortalecimento ou na busca da superação dessa condição. Silva e Graner-Araújo (2011Silva, N. P., Graner-Araújo, R. C. (2011). O adolescente, tráfico de drogas e função paterna. Revista Psicologia Política, 11(21), 141-158. Retrieved from http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2011000100011
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?scr...
), ao entrevistarem adolescentes com envolvimento no tráfico de drogas, encontraram vários aspectos objetivos que se configuram como centrais na constituição das identidades juvenis, estabelecidas a partir do engajamento nas atividades ilícitas, especialmente o reconhecimento social, o senso de pertencimento e a possibilidade de participar ativamente como consumidores de produtos manufaturados.

Com isso, entende-se que as ideias apresentadas por Ungar (2004Ungar, M. (2004). Nurturing hidden resilience in troubled youth. Toronto: University of Toronto Press. ) sobre a resiliência oculta devem ser retomadas, pois podem dar parâmetros que ainda não são levados em consideração na elaboração de intervenções com populações vulnerabilizadas. A proposição de ações construídas de maneira verticalizada pode negligenciar histórias particulares que expressam trajetórias de fortalecimento por mecanismos não convencionais. Os comportamentos nomeados como problemáticos podem significar empoderamento, uma vez que os dados apontam que o tráfico de drogas pode ser mais efetivo na vida dos adolescentes que os serviços oferecidos nas mais diversas instituições que eles acessam.

Isso não implica a aceitação do tráfico como uma forma possível de desenvolvimento, sobretudo porque se sabe dos riscos que essa atividade carrega cotidianamente. Porém, em concordância com Libório e Ungar (2010Libório, R. M. C., & Ungar, M. (2010). Resiliência oculta: A construção social do conceito e suas implicações para práticas profissionais junto a adolescentes em situação de risco. Psicologia Reflexão e Crítica, 23(3), 476-484. Doi: 10.1590/S0102-79722010000300008
https://doi.org/10.1590/S0102-7972201000...
), aponta-se para a necessidade de investigar quais atividades e práticas culturais podem substituir os sentidos pessoais e os significados culturais que foram construídos através do tráfico. O que deve ser priorizado é a subjetividade dos adolescentes que, por serem submetidos rotineiramente a práticas discriminatórias e processos de exclusão, são obrigados a buscar estratégias alternativas que promovam participação social. Certamente esses adolescentes escolheriam construções subjetivas mais socialmente aceitáveis se seus talentos fossem valorizados e o acesso a recursos de saúde adequadamente disponibilizados (Ungar, 2004Ungar, M. (2004). Nurturing hidden resilience in troubled youth. Toronto: University of Toronto Press. ).

A participação de adolescentes em atividades ligadas ao tráfico tem sua gênese em questões de ordem estrutural (Vargas & Chaves, 2011Vargas, A. C., & Chaves, X. C. (2011). El rostro de laviolencia social y estructural: La delincuencia y la pobreza como expresiones distintas de una vulnerabilidad común. Revista Ciencias Sociales, 133(34), 113-124. Retrieved from https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/sociales/article/view/3863
https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/soc...
). Todavia, os achados desta investigação são provocativos e trazem novas questões para a área de estudos em resiliência. Embora não haja diferenças estatísticas significantes entre os grupos, os dados apontam que o grupo que apresentava maior envolvimento no tráfico também apresentou, paradoxalmente, maiores indicadores de resiliência. Como essa atividade é considerada pela literatura um indicador de risco potente para o desenvolvimento de adolescentes, os dados apontam controvérsias que merecem investigadas por parte dos estudiosos dessa temática.

Considerações Finais

A pesquisa reitera os argumentos sobre resiliência oculta e ressalta a necessidade de investimentos por parte dos pesquisadores nessa temática. O presente estudo abordou a realidade de adolescentes que estavam em cumprimento de medida socioeducativa. As intervenções realizadas pelos profissionais que os atendem podem ter alterado as representações positivas que tinham sido construídas em relação ao tráfico. Entende-se que resiliência oculta é um conceito que deve ser submetido a grupos que não receberam nenhum tipo de intervenção, como, por exemplo, adolescentes em conflito com a lei, em situação de exploração sexual ou que apresentem comportamentos considerados inadequados em espaços sociais (como escolas, ruas e projetos sociais), entre outros.

Outra recomendação é com relação à seleção de instrumentos e técnicas para a coleta de dados em estudos desse porte. Embora os dados apresentados tenham trazido contribuições para o debate, recomenda-se o uso de procedimentos mais interativos em detrimento de métodos convencionais (questionários, entrevistas semiestruturadas e inventários). A pesquisa participativa, a produção de imagens e textos, o trabalho em grupo, as técnicas provenientes dos métodos visuais, entre tantas outras possibilidades, certamente se configuram como estratégias que dialogam de forma mais efetiva com as culturas juvenis e, por isso, podem trazer informações ainda obscuras na compreensão da resiliência oculta.

Mostrou-se intrigante o fato de os adolescentes que apresentaram o envolvimento mais intenso com o tráfico demonstrarem maiores indicadores de resiliência. A partir do raciocínio convencional dos estudos na área, a exposição a indicadores de risco social estaria associada à vulnerabilidade e não a processos de fortalecimento subjetivo. A pesquisa sugere a necessidade da retomada de alguns paradigmas para compreender, de forma mais assertiva, quais são as trajetórias percorridas por adolescentes para a construção de seus processos de resiliência diante de situações de precariedade ou mesmo quando estão vinculados a atividades consideradas ameaçadoras ou antissociais.

References

  • Albuquerque, P. P., Williams, L. C. A., & D'Affonseca, S. M. (2013). Efeitos tardios do bullying e transtorno de estresse pós-traumatico: Uma revisão crítica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29(1), 91-98. Doi: 10.1590/S0102-37722013000100011
    » https://doi.org/10.1590/S0102-37722013000100011
  • Amar, J. J., Utria, L. M., Llanos, R. A., González, M. M., & Romero, F. A. C. (2014). Construcción de la escala de Factores Personales de Resiliencia (FPR-1) em mujeres víctimas del desplazamiento forzado em Colombia. Universitas Psychologica, 13(3), 853-864. Doi: 10.11144/Javeriana.UPSY13-3.cefp
    » https://doi.org/10.11144/Javeriana.UPSY13-3.cefp
  • Bessa, M. A. (2010). Contribuição à discussão sobre a legalização de drogas. Ciência & Saúde Coletiva, 15(3), 633-636.
  • Borsa, J. C., Damásio, B. F., & Bandeira, D. R. (2012). Adaptação e validação de instrumento psicológico entre culturas: Algumas considerações. Paidéia, 22(53), 423-432. Doi: 10.1590/S0103-863X2012000300014
    » https://doi.org/10.1590/S0103-863X2012000300014
  • Bottrell, D. (2009). Understanding ‘Marginal’ perspectives: Towards a social theory of resilience. Qualitative Social Work, 8(3), 321-339. Doi: 10.1177%2F1473325009337840
    » https://doi.org/10.1177%2F1473325009337840
  • Castro, A. L. S., & Guareschi, P. A. (2007). Adolescentes autores de atos infracionais: Processos de exclusão e formas de subjetivação. Revista Psicologia Política, 7(13), 37-49. Retrieved from http://www.fafich.ufmg.br/rpp/seer/ojs/viewarticle.php?id=28&layout=html
    » http://www.fafich.ufmg.br/rpp/seer/ojs/viewarticle.php?id=28&layout=html
  • Daigneault, D., Hébert, M. H., & Tourigny, M. (2007). Personal and interpersonal characteristics related to resilient developmental pathways of sexually abused adolescents. Child and Adolescent Psychiatric Clinics of North America, 16, 415-434. Doi: 10.1016/j.chc.2006.11.002
    » https://doi.org/10.1016/j.chc.2006.11.002
  • Cardoso, T. (2013). Construção e validação de uma escala dos atributos pessoais da resiliência (Master Thesis). Universidade Metodista, São Paulo, SP, Brazil. Retrieved from http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1330/1/TabataCardoso.pdf
    » http://tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1330/1/TabataCardoso.pdf
  • Dell'Aglio, D. D., Koller, S. H., & Yunes, M. A. M. (Eds.). (2006). Resiliência e psicologia positiva: Interfaces do risco à proteção São Paulo: Casa do Psicólogo.
  • Dell'Aglio, D. D., & Koller, S. H. (Eds.). (2011). Adolescência e juventude: Vulnerabilidade e contextos de proteção São Paulo: Casa do Psicólogo .
  • Davidson, J., & Taylor, J. S. (2007). Infância, turismo sexual e violência: Retórica e realidade. In M. L. P. Leal, M. F. P. L. Leal, R. M. C. Libório (Eds.), Tráfico de pessoas e Violência Sexual (pp. 119-136). Brasília: Universidade de Brasília.
  • Edwards, A., & Apostolov, A. (2007). A cultural-historical interpretation of resilience: Implications for practice. Critical Social Studies, 1, 70-82. Retrieved from https://tidsskrift.dk/outlines/article/view/2087
    » https://tidsskrift.dk/outlines/article/view/2087
  • Feffermann, M. (2006). Vidas arriscadas: Um estudo sobre jovens inscritos no tráfico de drogas Petrópolis - Rio de Janeiro: Editora Vozes.
  • France, A., Bottrell, D., & Armstrong, D. (2012).A political ecology of youth and crime Basingstoke: Palgrave Macmillan.
  • Hebert, M., Lavoie, F., & Blais, M. (2014). Post-traumatic stress disorder/PTSD in adolescent victims of sexual abuse: Resilience and social support as protection factors. Ciencia & Saúde Coletiva, 19(3), 685-695. Doi: 10.1590/1413-81232014193.15972013
    » https://doi.org/10.1590/1413-81232014193.15972013
  • Kaplan, H. (1999). Toward an understanding of resilience: A critical review of definitions and models. In M. Glantz & J. Johnson (Eds.), Resilience and development: Positive life adaptations (pp. 17-83). New York: Kluwer Academic/Plenum Publishers.
  • Krenkel, S., More, C. L. O. O., & Motta, C. C. L. (2015). The significant social networks of women who have resided in shelters.Paidéia, 25(60), 125-133. Doi: 10.1590/1982-43272560201515
    » https://doi.org/10.1590/1982-43272560201515
  • Libório, R. M. C. (2005). Adolescentes em situação de prostituição: Uma análise sobre a exploração sexual na sociedade contemporânea. Psicologia: Reflexão e Crítica, 18(3), 413-420. Doi: 10.1590/S0102-79722005000300016
    » https://doi.org/10.1590/S0102-79722005000300016
  • Libório, R. M. C., Castro, B. M., & Coelho, A. E. (2006). Desafios metodológicos para a pesquisa em resiliência: Conceitos e reflexões críticas. In D. D. Dell’Aglio, S. H., D. D. Koller, & M. A. M. Yunes (Eds.), Resiliência e psicologia positiva: Interfaces do risco à proteção (pp. 89-115). São Paulo: Casa do Psicólogo .
  • Libório, R. M. C., & Ungar, M. (2010). Resiliência oculta: A construção social do conceito e suas implicações para práticas profissionais junto a adolescentes em situação de risco. Psicologia Reflexão e Crítica, 23(3), 476-484. Doi: 10.1590/S0102-79722010000300008
    » https://doi.org/10.1590/S0102-79722010000300008
  • Libório, R. M. C., & Ungar, M. (2013). Resilience as protagonism: Interpersonal relationships, cultural practices, and personal agency among working adolescents in Brazil. Journal of Youth Studies, 17(5), 682-696. Doi: 10.1080/13676261.2013.834313
    » https://doi.org/10.1080/13676261.2013.834313
  • Masten, A. (2014). Ordinary magic: Resilience in development New York: The Guilford Press.
  • Masten, A. S. & Garmezy, N. (1985). Risk, vulnerability and protective factors in developmental psychopathology. In B. B. Lahey & A. E. Kazdin (Eds.), Advances in clinical child psychology (pp.1-52). New York: Plenum Press.
  • Morais, N. A., Neiva-Silva, L., & Koller, S. H. (2010). Crianças e adolescentes em situação de rua: história, caracterização e modos de vida. In N. A. Morais, L. Neiva-Silva, & S. H. Koller. (Eds.), Endereço Desconhecido: crianças e adolescentes em situação de rua (pp. 35-62). São Paulo: Casa do Psicólogo.
  • Morais, N. A., Raffaelli, M., & Koller, S. H. (2012). Adolescentes em situação de vulnerabilidade social e o continuum risco-proteção. Avances en Psicologia Latinoamericana, 30(1), 118-136. Retrieved from http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-47242012000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
    » http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-47242012000100010&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
  • Pessoa, A. S. G. (2015). Trajetórias negligenciadas: Processos de resiliência em adolescentes com histórico de envolvimento no tráfico de drogas(Doctoral Dissertation). Universidade Estadual Paulista, Presidente Prudente, SP, Brazil. Retrieved from https://repositorio.unesp.br/handle/11449/135963
    » https://repositorio.unesp.br/handle/11449/135963
  • Pessoa, A. S. G., & Coimbra, R. M. (2016). Desafiando noções hegemônicas sobre resiliência e indisciplina no contexto escolar. Polêm!ca, 16(2), 59-70. Retrieved from https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/22902/16384
    » https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/22902/16384
  • Pessoa, A. S. G., & Coimbra, R. M. (2016). O traficante não vai à escola: Processos de escolarização de adolescentes com envolvimento no tráfico de drogas. Revista Educação em Questão, 54(42), 190-117. Doi: 10.21680/1981-1802.2016v54n42ID10958
    » https://doi.org/10.21680/1981-1802.2016v54n42ID10958
  • Pessoa, A. S. G., Coimbra, R. M., Noltemeyer, A., & Bottrell, D. (2017). The applicability of hidden resilience in the lives of adolescents involved in drug trafficking. In D. D. Dell’Aglio & S. H. Koller (Eds.), Vulnerable Children and Youth in Brazil: Innovative Approaches from the Psychology of Social Development (pp. 247-260). New York: Springer International Publishing.
  • Pessoa, A. S. G., Coimbra, R. M., Murgo, C. S., Breda, A. D. V., & Baker-Lewton, A. (2018). Resilience processes of Brazilian young people: Overcoming adversity through an arts program. Pesquisas e Práticas Psicossociais, 13(3), 1-17. Retrieved from http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/revista_ppp/article/view/3100/1987
    » http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/revista_ppp/article/view/3100/1987
  • Picanço, F., & Lopes, N. (2016). O tráfico de drogas em formas: Notas de pesquisa sobre o Rio de Janeiro. Análise Social, 51(218), 96-105. Retrieved from http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732016000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
    » http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732016000100004&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
  • Raffaelli, M., Koller, S. H., Reppold, C. T., Kuschick, M. B., & Krum, F. M. B. (2000). Gender differences in Brazilian street youth’s family circumstances and experiences on the street. Child Abuse & Neglect, 24(11), 1431-1441. Doi: 10.1016/S0145-2134(00)00202-7
    » https://doi.org/10.1016/S0145-2134(00)00202-7
  • Rafaelli, M., Koller, S. H., & Morais, N. A. (2007). Assessing the development of Brazilian street youth. Vulnerable Children and Youth Studies, 2(2), 154-164. Doi: 10.1080/17450120701403128
    » https://doi.org/10.1080/17450120701403128
  • Reppold, C. T., Mayer, J. C., Almeida, L. S., & Hutz, C. S. (2012). Avaliação da resiliência: Controvérsia em torno do uso das escalas. Psicologia: Reflexão e Crítica, 25(2), 248-255. Doi: 10.1590/S0102-79722012000200006
    » https://doi.org/10.1590/S0102-79722012000200006
  • Rocha, A. P. (2013). Proibicionismo e a criminalização de adolescentes pobres por tráfico de drogas.Serviço Social e Sociedade, 115, 561-580. Doi: 10.1590/S0101-66282013000300009
    » https://doi.org/10.1590/S0101-66282013000300009
  • Rutter, M. (1987). Psychosocial resilience and protective mechanisms. American Journal of Orthopsychiatry, 57(3), 316-331. Doi: 10.1111/j.1939-0025.1987.tb03541.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1939-0025.1987.tb03541.x
  • Rutter, M. (2007). Resilience, competence and coping. Child Abuse and Neglect,31, 205-209. Doi: 10.1016/j.chiabu.2007.02.001
    » https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2007.02.001
  • Shook, J. J., Vaughn, M. G., & Salas-Wright, C. P. (2013). Exploring the variation in drug selling among adolescents in the United States. Journal of Criminal Justice, 41(6), 365-374. Doi: 10.1016/j.jcrimjus.2013.07.008
    » https://doi.org/10.1016/j.jcrimjus.2013.07.008
  • Silva, N. P., Graner-Araújo, R. C. (2011). O adolescente, tráfico de drogas e função paterna. Revista Psicologia Política, 11(21), 141-158. Retrieved from http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2011000100011
    » http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2011000100011
  • Silva, T. R. (2015). “Pratas, ‘Lacoste’, Grana e Novinhas”: Um estudo sobre a construção social da adolescência através do ato infracional (Master Thesis). Universidade Estadual Paulista, Franca, SP, Brazil. Retrieved from https://repositorio.unesp.br/handle/11449/138560
    » https://repositorio.unesp.br/handle/11449/138560
  • Theron, L. C., & Malindi, M. J. (2010). Resilient street youth: A qualitative South African study. Journal of Youth Studies, 13(6), 717-736. Doi: 10.1080/13676261003801796
    » https://doi.org/10.1080/13676261003801796
  • Ungar, M. (2004). Nurturing hidden resilience in troubled youth Toronto: University of Toronto Press.
  • Ungar, M., Brown, M., Liebenberg, L., Othaman, R., Kwong, W. M., Armstrong, M., & Gilgun, J. (2007). Unique pathways to resilience across cultures. Adolescence, 42(166), 287-310.
  • Ungar, M., & Liebenberg, L. (2008). The child and youth resilience measure CYRM - User manual International Resilience Project: Dalhousie University, Canada.
  • Ungar, M. (2011). The social ecology of resilience: Addressing contextual and cultural ambiguity of a nascent construct. American Journal of Orthopsychiatry, 81(1), 1-17. Doi: 10.1111/j.1939-0025.2010.01067.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1939-0025.2010.01067.x
  • Ungar, M., Liebenberg, L., Dudding, P., Armstrong, M., & Vijver, F. J(2013). Patterns of service use, individual and contextual risk factors, and resilience among adolescents using multiple psychosocial services. Child Abuse & Neglect, 37, 150-159. Doi: 10.1016/j.chiabu.2012.05.007
    » https://doi.org/10.1016/j.chiabu.2012.05.007
  • Vargas, A. C., & Chaves, X. C. (2011). El rostro de laviolencia social y estructural: La delincuencia y la pobreza como expresiones distintas de una vulnerabilidad común. Revista Ciencias Sociales, 133(34), 113-124. Retrieved from https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/sociales/article/view/3863
    » https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/sociales/article/view/3863
  • Vianna, P. C., & Neves, C. E. A. B. (2011). Dispositivos de repressão e varejo do tráfico de drogas: Reflexões acerca do racismo de estado. Estudos de Psicologia, 16(1), 31-38. Retrieved from http://www.scielo.br/pdf/epsic/v16n1/a05v16n1.pdf
    » http://www.scielo.br/pdf/epsic/v16n1/a05v16n1.pdf
  • Yunes, M. A. M. (2003). Psicologia positiva e resiliência: O foco no indivíduo e na família. Psicologia em Estudo, 8,75-84. Doi: 10.1590/S1413-73722003000300010
    » https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000300010
  • Yunes, M. A. M., Garcia, N. M., & Albuquerque, B. M. (2007). Monoparentalidade, pobreza e resiliência: Entre as crenças dos profissionais e as possibilidades da convivência familiar.Psicologia Reflexão e Crítica, 20(3), 444-453. Doi: 10.1590/S0102-79722007000300012
    » https://doi.org/10.1590/S0102-79722007000300012

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Abr 2019
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    17 Abr 2017
  • Aceito
    09 Ago 2017
Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, 70910-900 - Brasília - DF - Brazil, Tel./Fax: (061) 274-6455 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revistaptp@gmail.com