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Concepções parentais sobre emoções e o desenvolvimento emocional de crianças* * Apoio: FAPERJ; CNPq

Resumo

Foram analisadas concepções de mães e pais sobre alegria, tristeza, raiva, medo, orgulho e vergonha, bem como suas crenças quanto à importância da manifestação dessas emoções por crianças, além da articulação com perfis de autonomia, relação e autonomia-relacionada. Participaram 60 duplas mãe-pai de filhos com até três anos de idade. Aplicado o questionário sobre concepções parentais de emoções, a alegria foi considerada pela maioria dos participantes como manifestada por crianças na idade de seus filhos e importante (com motivação de caráter individual), mas a raiva, o orgulho e a vergonha foram mais consideradas para crianças maiores. Não houve divergência nas concepções e crenças entre mães e pais. O modelo de self autônomo-relacionado correlacionou-se positivamente com a importância que mães e pais atribuíram a todas as emoções estudadas.

Palavras-chave
emoções; desenvolvimento emocional; bebês; crenças (não religiosas); autonomia

Abstract

Mothers’ and fathers’ conceptualizations of joy, sadness, anger, fear, pride and shame were assessed. Their beliefs regarding the importance of children’s manifestation of those emotions and the connection with the profiles of autonomy, relatedness and related-autonomy were also assessed. Sixty mother- father dyads with children up to three years old participated in the study. Questionnaires of parents’ conceptualizations of emotions were used. Most participants considered joy an important emotion to be manifested by children of their kids’ age (with an individual character motivation). However, anger, pride and shame were associated with older children. Mothers’ and fathers’ conceptualizations and beliefs were not divergent. The autonomous-related self model correlated positively with the importance mothers and parents attributed to all studied emotions.

Keywords
emotions; emotional development; babies; beliefs (non-religious); autonomy

Estudos com o propósito de investigar concepções parentais podem ter sua relevância alicerçada em uma visão em que o desenvolvimento humano é entendido como um processo decorrente de uma indissociável imbricação da biologia com a cultura (Cole, 1998Cole, M. (1998). Cultural psychology: A once and future discipline. The Belknap Press of Harvard University Press.; Keller, 2007Keller, H. (2007). Cultures of infancy. Lawrence Erlbaum Associates.; Seidl-de-Moura & Mendes, 2012Seidl-de-Moura, M. L., & Mendes, D. M. L. F. (2012). Human development: The role of biology and culture. In M. L. Seidl-de-Moura (Ed.), Human development: Different perspectives (pp. 3-19). InTech. https://www.intechopen.com/books/human-development-different-perspectives/human-development-the-role-of-biology-and-culture
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). Assim, o desenvolvimento do indivíduo ao longo do ciclo vital é oriundo de características que vêm de uma história filogenética e cultural, sendo modelado pelo contexto sociocultural em que vive. Nesse quadro conceitual, se inserem as questões ligadas à parentalidade, incluindo crenças, valores, metas de socialização e práticas de cuidado parentais.

A maneira como mães, pais e demais cuidadores compreendem a dinâmica do desenvolvimento da criança e o significado que atribuem aos seus comportamentos são compartilhados pelo grupo social a que pertencem, mas também moldados com base em peculiaridades individuais. Tais concepções variam no tempo histórico e de acordo com as especificidades da cultura, estando organizadas em categorias mais amplas que compõem modelos ou sistemas culturais de crenças parentais. São traduzidas em práticas de criação de filhos, com impacto no desenvolvimento infantil. Desse modo, pode-se pensar que as “ideias que caracterizam as culturas de modo geral e possuem função ampla na organização do desenvolvimento humano e nas relações sociais” (Harkness et al., 2000Harkness, S., Charles S. M. , van Tijen, N. (2000). Individualism and the "Western Mind" reconsidered: American and Dutch parents' ethnotheories of the child. New Directions for Child and Adolescent Development, 87, 23-39. https://doi.org/10.1002/cd.23220008704
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, p. 23), ou as etnoteorias parentais (Harkness & Super, 1996Harkness, S., Super C. M. (1996). Introduction. In S. Harkness, C. M. Super (Eds.), Parents' cultural belief systems: Their origins, expressions and consequences (pp. 1-23). Guilford Press. ), atuam como filtros fazendo a intermediação do modelo cultural com o desenvolvimento infantil (Keller, 2007Keller, H. (2007). Cultures of infancy. Lawrence Erlbaum Associates., 2016Keller, H. (2016). Psychological autonomy and hierarchical relatedness as organizers of developmental pathways. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 371: 20150070, 1-9. https://doi.org/10.1098/rstb.2015.0070
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).

Com relação ao desenvolvimento emocional (Denham, 1998Denham, S. A. (1998). Emotion development in young children. The Guilford Press.), em particular, é cabível seguir a mesma lógica de pensamento, ou seja, concepções e crenças parentais acerca do desenvolvimento emocional de crianças são mediadoras e traduzem ideias e valores da cultura, refletindo-se em práticas de criação e cuidado, e impactando o desenvolvimento dos filhos. Isso implica que a experiência emocional e o conhecimento acerca das emoções são constituídos no contexto sociocultural em que a criança se desenvolve.

Enquanto a cultura fornece orientações sobre tendências de como criar os filhos e padrões gerais de decodificação e exibição emocional influentes em cada contexto e época (Chan, 2011Chan, S. M. (2011). Mothers’ construal of self and emotion socialisation goals. Early Education & Development, 181(5), 613-624. https://doi.org/10.1080/03004431003671820
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; Keller & Otto, 2009Keller, H., Otto, H. (2009). The cultural socialization of emotion regulation during infancy. Journal of Cross-Cultural Psychology,40(6), 996-1011. https://doi.org/10.1177%2F0022022109348576
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), os pais, como agentes primários nos processos de socialização, ensinam às crianças, por exemplo, como expressar emoções e percebe-las nas outras pessoas. As atribuições de significados, atitudes e crenças dos pais sobre as emoções dos filhos têm sido objeto de interesse e investigação de pesquisadores e teóricos que estudam os processos de socialização voltados para emoções (Castro et al., 2015Castro, V. L., Halberstadt, A. G., Lozada, F. T., &. Craig, A. B. (2015). Parents’ emotion-related beliefs, behaviours, and skills predict children’s recognition of emotion. Infant and Child Development, 24, 1-22. https://doi.org/10.1002/icd.1868
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; Dunsmore et al., 2009Dunsmore, J. C., Her, P., Halberstadt, A. G., & Perez-Rivera, M. B. (2009). Parents´ beliefs about emotions and children´s recognition of parents´ emotions. Journal of Nonverbal Behavior, 33(2), 121-140. https://doi.org/10.1007/s10919-008-0066-6
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). Dunsmore e Halberstadt (1997Dunsmore, J. C., & Halberstadt, A. G. (1997). How does family emotional expressiveness affect children’s schemas? In K. C. Barrett (Ed.), The communication of emotion: Current research from diverse perspectives (pp. 45-68). Jossey-Bass.) propuseram que as crenças dos pais sobre emoções e seu comportamento expressivo emocional atuam de modo integrado para ajudar as crianças a criarem seus próprios autoesquemas e esquemas do mundo sobre emoções.

Mendes e Cavalcante (2014Mendes, D. M. L. F., & Cavalcante, L. I. C. (2014). Modelos de self e expressão emocional em bebês: Concepções de mães e outras cuidadoras. Psico, 45(1), 120-129. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/13768/0
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) discutem a importância de se examinar as crenças parentais e expectativas sobre as emoções nos filhos, o que pode prover um caminho importante para a compreensão das práticas de socialização que influenciam o desenvolvimento emocional da criança. Contudo, nas buscas executadas ao se realizar essa investigação acerca das concepções parentais sobre emoções e o desenvolvimento emocional de crianças, não foram identificadas na literatura científica pesquisas brasileiras a respeito.

Diferenças entre mães e pais têm sido relatadas em estudos recentes que examinaram como estes se comportam e reagem a manifestações emocionais de seus filhos (Brown et al., 2015Brown, G. L., Craig, A. B., & Halberstadt, A. G. (2015). Parent gender differences in emotion socialization behaviors vary by ethnicity and child gender. Parenting: Science and Practice, 15, 135-157. https://doi.org/10.1080/15295192.2015.1053312
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), como diferem no uso da linguagem em conversas sobre emoções (Aznar & Tenenbaum, 2013Aznar, A., Tenenbaum, H. R. (2013). Spanish parents' emotion talk and their children's understanding of emotion. Frontiers in Psychology, 4, 1-11. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2013.00670
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) e nas crenças que mantém sobre diferentes aspectos da socialização da emoção da criança (Lozada et al., 2016Lozada, F. T., Halberstadt, A. G., Craig, A. B., Dennis, P. A., & Dunsmore, J. C. (2016). Parents’ beliefs about children’s emotions and parents’ emotion-related conversations with their children. Journal of Child and Family Studies, 25, 1525-1538. https://doi.org/10.1007/s10826-015-0325-1
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). Assim sendo, as diferenças entre crenças maternas e paternas merecem ser examinadas, já que mães e pais podem ter diferentes formas de encarar o desenvolvimento emocional da criança, bem como variações no que é esperado dela nesse âmbito. No entanto, como já apontado, há uma lacuna na literatura nacional que se explicita também nesse aspecto, da contrastação entre ideias de mães e pais sobre expressões emocionais dos filhos.

Na medida em que os pais atuam como agentes de socialização, promovendo o desenvolvimento emocional dos filhos, parece necessário investigar-se, além de suas crenças a respeito, o modo como concebem cada uma das emoções que fazem parte das experiências emocionais deles mesmos e de crianças. Embora consideradas como fenômenos psicológicos dos mais importantes em nossa vida mental para a qualidade e significado de nossa existência, pode não ser muito fácil traduzir em ideias organizadas e verbalizar-se o que se entende por cada uma delas. Como admite Izard (2009Izard, C. E. (2009). Emotion theory and research: Highlights, unanswered questions, and emerging issues. Annual Review of Psychology, 60, 1-25. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.60.110707.163539
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), mesmo os adultos têm grande dificuldade em articular uma definição precisa de seus sentimentos e emoções. Ainda assim, é importante conhecer o modo como mães e pais concebem diferentes emoções para que tais noções sirvam como balizadores no exame do que pensam e querem quanto ao desenvolvimento emocional dos filhos. Não se identificaram estudos nacionais ou internacionais com esse interesse que pudessem ser usados na discussão dessa investigação.

Com base na concepção de desenvolvimento aderente ao que propõe o Modelo Ecocultural de Desenvolvimento (Keller & Kӓrtner, 2013Keller, H., & Kӓrtner, J. (2013). Development. The cultural solution of universal developmental tasks. In M. Gelfand, C. Y. Chiu, & Y. Y. Hong (Eds.), Advances in culture and psychology (volume 3, pp. 63-116). Oxford University Press.), justifica-se ainda a importância de estudar crenças parentais em suas implicações para o desenvolvimento emocional articuladas a uma concepção de self. Nessa perspectiva, Mendes et al. (2016Mendes, D. M. L. F., Pessôa, L. F., & Cavalcante, L. I. C. (2016). Metas parentais de socialização da emoção e modelos de self: Uma articulação conceitual. Estudos e Pesquisas em Psicologia, 16(2), 450-468. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712013000200010
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) argumentam a relevância de se investigar crenças parentais e expectativas de desenvolvimento emocional na criança considerando também a tendência de mães e pais à valorização da autonomia ou da interdependência (relação) na criança, ou de um equilíbrio na valorização dessas duas necessidades humanas (Kagiçitbasi, 2007Kağitçibaşi, Ç. (2007). Family, self, and human development across cultures: Theory and applications. Lawrence Erlbaum Associates.) e apontam a falta de estudos com essa preocupação.

Tendências parentais para maior valorização da autonomia, da interdependência, ou de ambas, se repercutem no modo como mães e pais pensam e agem acerca das emoções das crianças. Keller e Kӓrtner (2013Keller, H., & Kӓrtner, J. (2013). Development. The cultural solution of universal developmental tasks. In M. Gelfand, C. Y. Chiu, & Y. Y. Hong (Eds.), Advances in culture and psychology (volume 3, pp. 63-116). Oxford University Press.) e Kagiçitbasi (2007Kağitçibaşi, Ç. (2007). Family, self, and human development across cultures: Theory and applications. Lawrence Erlbaum Associates.) indicam como os modelos culturais levam ao desenvolvimento de diferentes modelos de self com dinâmicas próprias na valorização da autonomia (self como único e distinto; prioridade nas metas pessoais; característica de sociedades urbanas pós-industriais com alto nível de escolaridade) e da interdependência ou relação (self como fundamentalmente conectado aos demais membros do grupo; focalização em papéis sociais; relação e proximidade interpessoal; característica de ambientes rurais baseados em economia de subsistência), o que se reflete nas concepções e práticas dos adultos da cultura e, portanto, de mães e pais.

Desse modo, pode ser constatado, por exemplo, que mães em determinados contextos socioculturais consideram importante crianças pequenas sorrirem e atribuem tal importância à necessidade de expressarem suas emoções (considerada uma tendência de valorização de autonomia, centrada no indivíduo) e não tanto à conveniência ou relevância de serem simpáticos e amáveis com as outras pessoas (considerada uma tendência à valorização da relação, mais voltada para o grupo), como relatam Mendes e Cavalcante (2014Mendes, D. M. L. F., & Cavalcante, L. I. C. (2014). Modelos de self e expressão emocional em bebês: Concepções de mães e outras cuidadoras. Psico, 45(1), 120-129. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/13768/0
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) em estudo realizado com mães, avós e babás no Rio de Janeiro. É nesse sentido, que se justifica a relevância de investigações com a preocupação de examinar se, de acordo com as concepções de mães e pais, a importância de certas emoções serem manifestadas por crianças pequenas recai sobre motivação mais centrada no eu ou no outro.

A fase inicial do desenvolvimento têm sido foco de muitos estudos nas últimas décadas e, segundo Keller (2007Keller, H. (2007). Cultures of infancy. Lawrence Erlbaum Associates.), há boas razões para tal. Com relação, em particular, ao desenvolvimento emocional, evidências têm indicado que nos primeiros três anos de vida a criança desenvolve mecanismos emocionais que permitem a ela experimentar e expressar um vasto conjunto de emoções presente no adulto. Partindo-se das chamadas emoções básicas (Ekman, 2016Ekman, P. (2016). What scientists who study emotion agree about. Perspectives on Psychological Science, 11(1) 31-34. https://doi.org/10.1177/1745691615596992.
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; Izard, 2007Izard, C. E. (2007). Basic emotions, natural kinds, emotion schemas, and a new paradigm. Perspectives on Psychological Science, 2, 260-280. https://doi.org/10.1111/j.1745-6916.2007.00044.x
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), como a alegria, tristeza, medo e raiva, e alcançando-se as designadas como avaliativas ou autoconscientes, como a vergonha e o orgulho, há um caminho a seguir na ontogênese. As primeiras são definidas por Izard (2009Izard, C. E. (2009). Emotion theory and research: Highlights, unanswered questions, and emerging issues. Annual Review of Psychology, 60, 1-25. https://doi.org/10.1146/annurev.psych.60.110707.163539
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) como processos gerados por sistemas cerebrais evolutivamente antigos, que organizam e motivam respostas rápidas que são cruciais para enfrentar os desafios imediatos à sobrevivência ou ao bem-estar. Estão presentes, com essa característica, ao nascimento e só com o desenvolvimento passam a constituir o que designa por esquemas de emoção. Já as outras, para o autor, não são inatas e pressupõem uma construção com base em sentimentos emocionais aliados a capacidades cognitivas, formando esquemas de emoção mais elaborados.

Lewis (2010Lewis, M. (2010). The emergence of human emotions. In M. Lewis, J. M. Haviland-Jones & L. F. Barrett (Eds.) Handbook of emotions (pp. 304-319). The Guilford Publications.) propõe um modelo do desenvolvimento emocional nos três primeiros anos de vida. Esse período foi escolhido por representar o principal salto de desenvolvimento da maioria das emoções que os adultos apresentam. De acordo com esse modelo, ao longo dos primeiros anos de vida é esperada tal transformação que, logo depois de nascidas, e até o final do terceiro ano de vida, as crianças passam a exibir uma ampla gama de emoções.

Logo no início da vida, os bebês já expressam certas emoções básicas como alegria, tristeza e raiva (Cole & Moore, 2015Cole, P. M. & Moore, G. A. (2015). About face! Infant facial expression of emotion. Emotion Review, 7(2), 116-120. https://doi.org/10.1177/1754073914554786
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; Izard et al., 1995Izard, C. E., Fantauzzo, C. A., Castle, J. M., Haynes, O. M., Rayias, M. F., & Putnam, P. H. (1995). The ontogeny and significance of infants´ facial expressions in the first 9 months of life. Developmental Psychology, 31, 997-1013. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/0012-1649.31.6.997
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), até que em algum momento entre os dois e três anos de idade ocorre um dos marcos cognitivos responsável pela capacidade da criança de avaliar seu comportamento em relação a um padrão (externo, como em uma sanção ou elogio dos pais, ou interno). Essa capacidade dá origem a um outro conjunto de emoções que têm sido chamadas por alguns autores, como Lewis (2010Lewis, M. (2010). The emergence of human emotions. In M. Lewis, J. M. Haviland-Jones & L. F. Barrett (Eds.) Handbook of emotions (pp. 304-319). The Guilford Publications.), de emoções avaliativas de autoconsciência; elas incluem orgulho, vergonha e culpa, entre outras. Segundo o autor e resultados de estudos relatados, por volta dos três anos de idade, está presente em uma criança quase toda a variedade de emoções adultas.

Neste curto período, as mudanças observadas no conjunto de emoções e em suas formas de exibição são tais que passam de algumas emoções e respectivas manifestações, para muitas e altamente diferenciadas. Isso não significa, contudo, que novas emoções não surjam, ou que as já manifestas não sejam mais elaboradas após esse momento do desenvolvimento. Avaliar se mães e pais de crianças nesse período de desenvolvimento, com até três anos, se dão conta dos avanços de expressão emocional dos filhos e qual a importância que atribuem a isso, ajuda a compor o quadro compreensivo de aspectos da parentalidade que impactam o desenvolvimento emocional da criança. Também com relação a essas preocupações não foram encontrados estudos empíricos.

Tomando como referencial esse conjunto de princípios e evidências, e lacunas na literatura, esse estudo teve como objetivo investigar, em contexto brasileiro urbano, no Rio de Janeiro, concepções de mães e pais a respeito da alegria, tristeza, raiva, medo, orgulho e vergonha, bem como suas crenças a respeito de aspectos da manifestação dessas emoções por crianças de até três anos de idade. Assim, em termos de objetivos específicos, buscou-se: (1) explorar as concepções de mães e pais sobre cada uma das emoções estudadas e contrastar as de mães e pais; (2) investigar se mães e pais consideram que crianças na idade de seus filhos sentem e manifestam as emoções investigadas, testando se há diferenças entre mães e pais e entre os diferentes grupos etários dos filhos; (3) investigar o grau de importância atribuído à manifestação das emoções e o porquê da importância, contrastando mães e pais e grupos etários dos filhos; e (4) analisar a relação entre o grau de importância atribuído à expressão das emoções e a tendência à valorização de autonomia e interdependência.

Método

Participantes

A amostra do estudo foi composta por 60 duplas mãe-pai de filhos com até três anos de idade, sendo 20 deles bebês de até seis meses de idade, 20 bebês entre 12 e 18 meses, e 20 bebês entre 30 e 36 meses de idade. Como critérios de inclusão, além da idade da criança dentro de uma das faixas estabelecidas, foi requerido que os pais vivessem em união estável, residindo na mesma casa. Eram todos residentes na cidade do Rio de Janeiro. A média de idade das mães foi de 31,7 anos (DP=5,46) e dos pais foi de 34,6 anos (DP=5,3). Quanto ao nível de escolaridade, 7% das mães (n= 4) tinham até o Ensino Fundamental (EF) completo, 22% até o Ensino Médio (EM) completo (n= 13) e 72% até o Ensino Superior (ES) completo ou Pós-graduação (n= 43). Dos pais, 7% tinham até o EF completo (n= 4), 25% até o EM completo (n= 15), e 68% até o ES completo ou Pós-graduação (n= 41).

Instrumentos

Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: (a) Questionário de dados sociodemográficos com informações sobre idade do respondente e de seu filho ou filha, escolaridade, estado civil, profissão e atividade atual, e sexo da criança; (b) Escalas de Autonomia, Relação e Autonomia-Relacionada de Kağitçibaşi (2007Kağitçibaşi, Ç. (2007). Family, self, and human development across cultures: Theory and applications. Lawrence Erlbaum Associates.) em sua versão traduzida para o português e validada por Seidl-de-Moura et al. (2013Seidl-de-Moura, M. L., Ziviani, C., Fioravanti-Bastos, A. C., & Carvalho, R. V. C. (2013). Adaptação brasileira das escalas de self autônomo, relacionado e autônomo-relacionado de Ç. Kağitçibaşi. Avaliação Psicológica, 12, 193-201.); e (c) Questionário Concepções parentais sobre a expressão emocional em crianças, desenvolvido para aplicação no atual estudo, baseado nos modelos teóricos em questão e nos objetivos de investigação do mesmo.

As escalas de Autonomia, Relação e Autonomia-Relacionada têm como objetivo avaliar as características de indivíduos conforme suas concepções de duas dimensões específicas: agência e distância interpessoal. Partindo destas dimensões, empiricamente, três tendências de desenvolvimento do self são avaliadas: de autonomia, de relação e de autonomia-relacionada. Exemplos dos itens que compõem as três escalas são: item 13 (autonomia) - “Não gosto de interferência de nenhuma pessoa em minha vida, ainda que seja uma pessoa próxima a mim”; item 15 (relação) - (item invertido) “Não compartilho minhas questões pessoais com ninguém, mesmo que sejam pessoas muito próximas”; item 24 (autonomia-relacionada) - “Uma pessoa pode sentir-se tanto autônoma quanto ligada àqueles que lhe são íntimos”.

O questionário Concepções parentais sobre a expressão emocional em crianças é composto de questões gerais, envolvendo subitens com opções de resposta abertas e fechadas. No item 1, “Como você descreveria cada uma das emoções a seguir?”, o participante é solicitado a descrever, por escrito, seis emoções: alegria, tristeza, raiva, medo, orgulho e vergonha. Em seguida, é apresentado o seguinte enunciado: “Agora pense em crianças na idade de seu filho(a), mas não especificamente nele(a), e assinale os quadros abaixo de acordo com o que considera para cada emoção”. No item 2, o participante deve indicar em que medida concorda (em uma escala tipo Likert de 1-nem um pouco a 5-completamente) que crianças nessa idade sentem e manifestam as seis emoções previamente descritas.

O item 3 dispõe da mesma estrutura Likert, mas, os participantes devem pontuar o quanto acham importante para a vida das crianças que estas possam expressar as seis emoções em questão, justificando por escrito as pontuações que atribuiu a cada uma delas. Todas as respostas referentes às perguntas abertas foram submetidas à análise de conteúdo temático- categorial, descrita no item a seguir.

Procedimentos de Coleta e Análise de Dados

O grupo de participantes desse estudo foi constituído a partir do contato com pessoas que se enquadravam nos critérios de inclusão e que foram identificadas através do emprego da técnica snowball (durante oito meses), com indicações feitas por integrantes do grupo de pesquisas de que fazem parte as autoras e participantes de outros estudos realizados. Após contato inicial, em que eram apresentados os objetivos do estudo e outros pontos principais que constam do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foi agendado encontro em local, data e horário da preferência dos participantes para que o referido termo fosse assinado e os instrumentos aplicados. O local mais prevalente foi a residência dos participantes. A aplicação foi realizada por membros da equipe, estudantes de Psicologia, treinados para esse fim. O preenchimento dos instrumentos foi feito pelo próprio participante.

Quanto aos procedimentos éticos, deve ser mencionado que esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Protocolo 010.3.2010).

O tratamento escolhido para os dados obtidos por meio das questões abertas do questionário Concepções parentais sobre a expressão emocional em crianças foi a análise de conteúdo temático-categorial (Oliveira, 2008), seguindo a identificação de unidades temáticas e de categorias nas unidades de registro, definidas a posteriori, a partir da leitura do texto.

Nas respostas referentes à descrição das emoções (concepções), foram identificadas as seguintes categorias que emergiram dos dados: (a) Estado físico ou psicológico com foco no eu (EFPeu) - concepção que remete a alguma relação com o corpo e suas reações neurofisiológicas, ou com reações psíquicas, subjetivas (internas e singulares), com foco em si mesmo. Ex.: sensação de bem-estar pessoal; contentamento; leveza; sentir-se bem e calma; (b) Estado psicológico ou motivação com projeção para o outro (EPMoutro) - concepção que remete a elementos motivacionais e de estímulo pessoal voltados para o outro e para as relações interpessoais, familiares, ou para a vida em grupo, em sociedade. Ex.: estar junto com a família; estar com as pessoas queridas; ver meu filho bem; estar bem com as pessoas, com o mundo; (c) Manifestação comportamental (ManCorp) - noção que envolve expressões comportamentais e ações/reações motoras diversas. Ex.: quando brinco; sorrir; expressar coisas boas; (d) Atribuição de causalidade/origem a si ou ao ambiente (AtrCausa) - noção que envolve situações ou elementos do contexto social ou ambiente, ou atuação pessoal nele, como causadores ou origem da emoção. Ex.: hoje na Quinta da Boa Vista; nascimento; uma vida confortável; meu trabalho; (e) Não classificável nas categorias definidas (NaoClass) - a resposta não se aplica a nenhuma das definições de categoria estabelecidas. Ex.: tudo; expandir; inexplicável; e (f) Não sabe/não informou (NSabeNI) - não soube dizer ou não quis responder.

Com relação às justificativas da importância atribuída à manifestação das emoções, as categorias registradas foram: (a) Motivação de caráter pessoal/individual - justificativa relacionada à necessidade individual de expressão das emoções e sentimentos, e de favorecer o desenvolvimento da criança em diferentes domínios. Ex.: para elas serem felizes e se sentirem bem; todo sentimento deve ser expressado; para que possam se desenvolver completamente; forma personalidade; (b) Motivação com foco na conexão interpessoal - justificativa envolvendo a importância das relações interpessoais, das trocas afetivas, da interação com o outro, ou o papel do outro na expressão ou regulação emocional. Ex.: para os pais saberem o que faz o seu filho feliz; importante no relacionamento com as pessoas da família; para se socializar; interagir com os outros; (c) Motivação de caráter genérico (vida, religião) - razão que envolve motivos de natureza geral relacionados à vida, a convicções religiosas, ideológicas, e a crenças parentais voltadas para estes aspectos. Ex.: alegria traz coisas boas; por ser positivo; porque há alegria na vida; porque criança tem que ser feliz; (d) Não classificável nas categorias definidas - a resposta não se aplica a nenhuma das definições de categoria estabelecidas. Ex.: sinal de cuidados; atenção e carinho; e (e) Não sabe/não informou - não soube dizer ou não quis responder.

O trabalho de identificação das categorias e codificação do texto original foi realizado manualmente pelos pesquisadores em processador de texto Microsoft Word e, posteriormente, as categorias identificadas foram registradas em um banco de dados gerado no Statistical Package for Social Sciences versão 20 (IBM-SPSS) e analisadas em procedimentos estatísticos descritivos e testes de associação entre grupos. Especificamente, para a análise de frequência de evocação das categorias nas descrições das emoções e nas justificativas para a importância atribuída às emoções, foram calculadas frequências relativas; e para a análise das categorias preponderantes, foram realizados testes qui-quadrado de homogeneidade. Em seguida, para a comparação das frequências de evocação das categorias entre mães e pais e entre os diferentes grupos etários, foram realizados teste qui-quadrado de associação.

A comparação entre mães e pais e entre os três grupos etários das crianças (até seis meses de idade, entre 18 e 20 meses e entre 30 e 36 meses de idade) quanto à concordância sobre a manifestação das emoções e a importância atribuída (escala tipo Likert), foi realizada através de testes Mann-Whitney (teste t não paramétrico) e Kruskal-Wallis (ANOVA não paramétrica), a fim de respeitar os pressupostos estatísticos, dada a não normalidade das variáveis dependentes.

Por fim, testes de correlação de Spearman foram realizados para a análise da relação entre a importância atribuída à manifestação das emoções e os escores de autonomia, relação e autonomia-relacionada. Todas as análises foram realizadas com o software estatístico SPSS for Windows, versão 20.0.

Resultados

Categorias Evocadas na Descrição das Emoções

Na análise da amostra como um todo, considerando pais e mães conjuntamente, a categoria Estado físico ou psicológico com foco no eu foi a que apresentou maior frequência de evocação nas respostas de mães e pais nas concepções sobre alegria (42,5%), tristeza (44,2%), raiva (42,5%) e medo (40%). Para as emoções orgulho e vergonha, as falas das mães e pais se concentraram na evocação de categorias não definidas, correspondendo a 38,3% e 39,2% dos casos, respectivamente (Tabela 1). Para testar se essa prevalência, em cada emoção, tinha significância estatística, foi utilizado o teste qui-quadrado de aderência. O resultado indicou que houve preponderância de uma ou mais categorias em detrimento de outras para todas as emoções: alegria (χ²5= 73,60; p<0,05), tristeza (χ²5= 87,20; p<0,05), raiva (χ²5= 84,10; p<0,05), medo (χ²5= 103,30; p<0,05), orgulho (χ²5= 73,60; p<0,05) e vergonha (χ²5= 60,30; p<0,05).

Tabela 1.
Frequência de evocação de diferentes categorias nas descrições de mães e pais sobre as emoções Alegria, Tristeza, Raiva, Medo, Orgulho e Vergonha (N= 120)

Analisando possíveis diferenças entre as respostas de pais e mães, não foram encontradas diferenças significativas na evocação das categorias em suas concepções sobre a alegria (x²5= 4,68; p > 0,05), tristeza (x²5= 6,42; p > 0,05), raiva (x²5= 7,15; p > 0,05), medo (x²5= 2,24; p > 0,05), orgulho (x²5= 2,23; p > 0,05) e vergonha (x²5= 5,17; p > 0,05). Pelo resultado do teste, entende-se que a fala de mães e pais sobre suas concepções das seis emoções listadas não difere, de forma estatisticamente significativa, quanto à evocação das categorias.

Concordância sobre as Crianças Sentirem e Manifestarem as Emoções

Nas respostas de mães e pais, referentes ao quanto concordam que crianças na idade de seus filhos sentem e manifestam diferentes emoções, os dados da escala Likert (de 1 a 5) foram dicotomizados para expressar concordância ou discordância. Valores 1, 2 e 3 (nem um pouco, um pouco e mais ou menos), por não expressarem total concordância, foram classificados como ‘não concordam’; e os valores 4 e 5 (concordo muito e completamente) foram classificados como ‘concordam’. Os resultados indicaram que, apenas ao se referirem à emoção alegria, a maioria dos participantes (94,20%) expressou concordância quanto à manifestação em crianças na idade de seus filhos. Para as demais emoções, a maioria dos participantes expressou discordância (Tabela 2).

Tabela 2.
Frequência de respostas em concordância ou discordância sobre crianças na idade de seus filhos sentirem e manifestarem as emoções Alegria, Tristeza, Raiva, Medo, Orgulho e Vergonha (N= 120)

Comparando-se as respostas de mães vs pais, desta vez sem a dicotomização dos dados, o teste U de Mann Whitney não indicou diferenças significativas no quanto concordam que as crianças na idade de seus filhos sentem e manifestam alegria (U= 1.564,50; p>0,05), tristeza (U= 1.992,00; p>0,05), raiva (U= 1.866,00; p>0,05), medo (U= 1.658,50; p>0,05), orgulho (U= 1.955,50; p>0,05) e vergonha (U= 1.687,50; p>0,05).

Com relação aos diferentes grupos etários das crianças (até seis meses de idade, entre 12 e 18 meses e entre 30 e 36 de idade), o teste Kruskal Wallis (Anova não paramétrica) indicou que, em comparação com mães e pais de crianças de zero a seis meses e de 12 a 18 meses, as mães e pais de crianças entre 30 e 36 meses concordaram com maior intensidade que as crianças na idade de seus filhos sentem e manifestam as emoções de raiva (χ²2= 8,10; p < 0,05), orgulho (χ²2= 24,72; p < 0,05) e vergonha (χ²2= 30,63; p < 0,05).

Importância Atribuída à Expressão das Emoções

O teste Friedman (One-Way ANOVA não paramétrica) indicou que a expressão da alegria foi significativamente mais valorizada do que as outras emoções (χ²5= 182,22; p<0,05), e este resultado se manteve quando analisadas separadamente as pontuações de valorização de expressão das emoções nas mães e pais de crianças de zero a seis meses (χ²5= 87,84; p<0,05), 12 a 18 meses (χ²5= 53,67; p<0,05) e 30 a 36 meses (χ²5= 52,62; p<0,05). Na comparação dessa noção das mães e pais de crianças de diferentes grupos etários, o teste Kruskal Wallis indicou que mães e pais de crianças entre 30 e 36 meses valorizam mais intensamente as emoções orgulho (χ²2= 13,02; p<0,05) e vergonha (χ²2= 6,55; p<0,05) que mães e pais de crianças em outras faixas etárias.

Não foram encontradas diferenças significativas na comparação de mães vs pais quanto à valorização da expressão da alegria (U= 1.652,50; p>0,05), tristeza (U= 1.628,00; p>0,05), raiva (U= 1.735,50; p>0,05), medo (U= 1.439,50; p>0,05), orgulho (U= 1.608,50; p>0,05) e vergonha (U= 1.586,50; p>0,05).

Categorias Evocadas na Justificativa da Importância Atribuída à Expressão das Emoções

Quando solicitados a justificar a importância atribuída à expressão das diferentes emoções, mães e pais evocaram com maior frequência respostas ligadas à Motivação de caráter pessoal/individual nas respostas sobre tristeza, raiva e medo. Nas respostas sobre alegria, a categoria identificada em maior proporção foi Motivação de caráter genérico, e ao justificarem a valorização atribuída à expressão de orgulho e vergonha, as respostas preponderantes foram do tipo Não sabe/Não informou (Tabela 3).

Tabela 3.
Frequência de evocação de diferentes categorias nas justificativas da importância atribuída a expressão das emoções Alegria, Tristeza, Raiva, Medo, Orgulho e Vergonha

O teste qui-quadrado de associação não indicou diferenças significativas entre mães e pais na indicação das categorias preponderantes a respeito do porque acham importante para a vida das crianças na idade de seus filhos que possam manifestar alegria (χ²4= 8,17; p>0,05), tristeza (χ²4= 2,19; p>0,05), raiva (χ²4= 7,65; p>0,05), medo (χ²4= 2,10; p>0,05), orgulho (χ²4= 6,83; p >0,05) e vergonha (χ²4= 2,76; p>0,05).

Não foi possível realizar comparações entre mães e pais de crianças de diferentes grupos etários devido ao número elevado de células com valor esperado inferior a cinco, violando os pressupostos estatísticos para o teste qui-quadrado.

Relação entre a Importância Atribuída à Expressão das Emoções e os Escores de Autonomia, Relação e Autonomia-Relacionada

Os resultados indicaram correlação negativa entre os escores de autonomia e a importância atribuída à expressão da tristeza (ρ= -0,23; p<0,05) e do medo (ρ= -0,33; p<0,05). Correlações positivas foram encontradas entre os escores de relação de pais e mães e a importância que atribuíram às emoções alegria (ρ= 0,27; p<0,05), tristeza (ρ= 0,24; p<0,05), raiva (ρ= 0,19; p<0,05) e medo (ρ= 0,30; p<0,05). Quanto aos escores de autonomia-relacionada, se correlacionaram positivamente com a importância que mães e pais atribuíram a todas as emoções estudadas, apresentando significância estatística na análise bivariada com as pontuações para alegria (ρ= 0,25; p<0,05), tristeza (ρ= 0,46; p<0,05), raiva (ρ= 0,36; p<0,05), medo (ρ= 0,40; p<0,05), orgulho (ρ= 0,20; p<0,05) e vergonha (ρ= 0,35; p<0,05).

Analisando separadamente mães e pais de crianças de diferentes grupos etários, no grupo de 0-6 meses, os resultados acima não mantiveram significância estatística, exceto a associação entre os escores de autonomia e a importância atribuída ao medo (ρ= -0,33; p<0,05). Na análise de mães e pais de crianças entre 12-18 meses, os escores de autonomia mantiveram a associação negativa com a importância atribuída à tristeza (ρ= -0,56; p<0,05) e ao medo (ρ= -0,59; p<0,05) e, além disso, associaram-se também com a importância atribuída à raiva (ρ= -0,46; p<0,05) e à vergonha (ρ= -0,32; p<0,05). Os escores de relação, por sua vez, demonstraram correlação positiva com a importância que mães e pais atribuíram à expressão alegria (ρ= 0,35; p<0,05), tristeza (ρ= 0,32; p<0,05), raiva (ρ= 0,43; p<0,05), medo (ρ= 0,50; p<0,05) e vergonha (ρ= 0,33; p<0,05). Por fim, os escores de autonomia-relacionada de mães e pais desta faixa etária se associaram positivamente à importância que atribuíram à expressão da tristeza (ρ= 0,68; p<0,05), raiva (ρ= 0,61; p<0,05), medo (ρ= 0,66; p<0,05) e vergonha (ρ= 0,61; p<0,05).

Entre mães e pais de crianças entre 30 e 36 meses, os escores de autonomia e interdependência não demonstraram associação estatisticamente significativamente com nenhuma das seis emoções estudadas. Apenas os escores de autonomia-relacionada mantiveram o padrão de associação encontrado nos demais grupos etários, correlacionando-se positivamente com a importância atribuída à tristeza (ρ= 0,51; p<0,05), raiva (ρ= 0,44; p<0,05), medo (ρ= 0,48; p<0,05) e vergonha (ρ= 0,53; p<0,05).

Analisando separadamente as respostas das mães, os escores de autonomia se mantiveram negativamente associados somente com a importância atribuída à tristeza (ρ= -0,27; p<0,05) e ao medo (ρ= -0,29; p<0,05), semelhante aos resultados encontrados na amostra geral. Quanto aos escores de relação, estes se mostraram positivamente associados à importância que as mães atribuíram à alegria (ρ= 0,30; p<0,05), tristeza (ρ= 0,36; p<0,05) e medo (ρ= 0,44; p<0,05).

Os escores de autonomia-relacionada das mães se associaram positivamente com a importância atribuída à expressão de todas as emoções, resultado também em consonância com o da amostra geral, com correlações significativas para a importância da expressão da alegria (ρ= 0,32; p<0,05), tristeza (ρ= 0,54; p<0,05), raiva (ρ= 0,53; p<0,05), medo (ρ= 0,56; p<0,05), orgulho (ρ= 0,41; p<0,05) e vergonha (ρ= 0,53; p<0,05). No geral, os escores de autonomia, relação e autonomia-relacionada dos pais não se associaram com a importância que estes atribuíram a muitas das emoções. Foram encontrados resultados significativos apenas entre seus escores de autonomia e a importância atribuída à expressão da raiva (ρ= -0,25; p<0,05) e do medo (ρ= -0,37; p<0,05).

Discussão

Ao iniciar essa seção, cabe ressaltar que a carência de estudos abordando as questões tratadas nessa investigação se por um lado, indica lacunas na literatura que dificultam a discussão dos resultados alcançados, por outro, sublinha a relevância das contribuições que podem representar esses achados.

Categorias Evocadas na Descrição das Emoções

A categoria Estado físico ou psicológico com foco no eu foi a que apresentou maior frequência de evocação nas respostas de mães e pais quanto a concepções sobre as emoções básicas investigadas (alegria, tristeza, raiva e medo), enquanto para o orgulho e a vergonha, as falas das mães e pais se concentraram em evocações que não se adequaram em nenhuma das categorias definidas. Embora não existam referências que permitam corroborar esses resultados, pode-se pensar que talvez para as emoções básicas, presentes nos indivíduos desde muito cedo (ou mesmo desde que nascem), e as mais consideradas “com foco no eu”, se tenha mais facilidade de elaborar conteúdos a elas associados, mas não tanto para as emoções avaliativas de autoconsciência, como o orgulho e a vergonha. É possível que sejam consideradas como de caráter mais complexo e mais dependentes de circunstâncias situacionais de modo a dificultar uma definição ou descrição unívoca e objetiva.

A prevalência de evocações para emoções básicas associadas à categoria Estado físico ou psicológico com foco no eu pode ser entendida a partir de uma atribuição de significados a essas emoções que se traduzem em estados vividos pelo indivíduo como algo inerente à sua experiência psicológica íntima (em seu campo interno subjetivo) e a transformações ou impactos sentidos no seu corpo, e não como uma vivência compartilhada. Como Izard (2007Izard, C. E. (2007). Basic emotions, natural kinds, emotion schemas, and a new paradigm. Perspectives on Psychological Science, 2, 260-280. https://doi.org/10.1111/j.1745-6916.2007.00044.x
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) e Ekman (2016Ekman, P. (2016). What scientists who study emotion agree about. Perspectives on Psychological Science, 11(1) 31-34. https://doi.org/10.1177/1745691615596992.
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) explicitam, emoções básicas envolvem atividade corporal interna e a capacidade de comportamento expressivo que derivam de sistemas neurobiológicos evolutivamente adaptados e emergem no início da ontogenia. A mencionada prevalência se deu tanto para mães, quanto para pais. Tal resultado pode ser visto como uma consonância entre mães e pais do contexto investigado com relação ao objeto em questão, mas também cabe ponderar a possibilidade de ser decorrência de um perfil de mães e pais que se dispuseram a participar desse tipo de estudo, e refletir e falar a respeito de emoções e do que pensam delas.

Concordância sobre as Crianças Sentirem e Manifestarem as Emoções

A maioria dos participantes expressou concordância quanto à manifestação da alegria em crianças na idade de seus filhos, enquanto, para as demais emoções, a maioria dos expressou discordância. Talvez se deva pensar em um traço cultural em que o desejo de que crianças se sintam alegres é forte. Como Keller (2007Keller, H. (2007). Cultures of infancy. Lawrence Erlbaum Associates., 2016Keller, H. (2016). Psychological autonomy and hierarchical relatedness as organizers of developmental pathways. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 371: 20150070, 1-9. https://doi.org/10.1098/rstb.2015.0070
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) discute, mães de sociedades urbanas ocidentais parecem incentivar a manifestação de emoções positivas como a alegria. Já para emoções consideradas como negativas e, em certa medida, culturalmente indesejáveis para crianças muito pequenas, como a raiva, orgulho e vergonha, verificou-se que apenas mães e pais de crianças maiores (entre 30 a 36 meses) concordaram com maior intensidade que as crianças na idade de seus filhos sentem e manifestam tais emoções. Este resultado vai ao encontro do que Lewis (2010Lewis, M. (2010). The emergence of human emotions. In M. Lewis, J. M. Haviland-Jones & L. F. Barrett (Eds.) Handbook of emotions (pp. 304-319). The Guilford Publications.) afirma quanto ao momento do desenvolvimento em que emoções como orgulho e vergonha emergem e são expressas pelas crianças, sugerindo sensibilidade dos pais para esses avanços no desenvolvimento emocional infantil.

Quanto a não haver diferenças significativas na medida em que mães e pais concordam que as crianças na idade de seus filhos sentem e manifestam alegria, tristeza, raiva, medo, orgulho e vergonha, pode-se considerar a mesma argumentação feita para resultado análogo referente às concepções das emoções. Não foram encontradas evidências, na literatura nacional ou internacional, com as quais se possa confrontar esses resultados.

Importância Atribuída à Expressão das Emoções

Com base no que se verificou para a manifestação da alegria, pode-se pensar que a expressão da alegria seja mais valorizada do que as outras emoções, por mães e pais de crianças de todas as idades investigadas (incluindo bebês de até seis meses de vida), em função de etnoteorias parentais que privilegiam a presença e manifestação pelas crianças de emoções positivas. Não apenas as mães e pais acham que crianças desde que nascem manifestam a alegria como valorizam sua manifestação mais do que a de outras emoções. Esse achado converge com o que Keller (2016Keller, H. (2016). Psychological autonomy and hierarchical relatedness as organizers of developmental pathways. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 371: 20150070, 1-9. https://doi.org/10.1098/rstb.2015.0070
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) argumenta em relação a famílias de nível de escolaridade médio/alto que vivem em ambiente urbano.

Na comparação de grupos etários, somente foi significativa a maior valorização da manifestação do orgulho e da vergonha por pais das crianças mais velhas, o que parece aderente ao que a literatura traz sobre o desenvolvimento dessas emoções em crianças (Lewis, 2010Lewis, M. (2010). The emergence of human emotions. In M. Lewis, J. M. Haviland-Jones & L. F. Barrett (Eds.) Handbook of emotions (pp. 304-319). The Guilford Publications.). Do mesmo modo que nas comparações anteriores entre mães e pais, não foram encontradas diferenças significativas quanto à valorização da expressão de todas as emoções investigadas, o que remete à argumentação feita anteriormente. Também sobre isto, não foram encontradas na literatura evidências que possam ser confrontadas com esses resultados.

Categorias Evocadas na Justificativa da Importância Atribuída à Expressão das Emoções

A categoria Motivação de caráter pessoal/individual foi a mais evocada por mães e pais nas respostas ligadas à importância de a criança manifestar tristeza, raiva e medo, enquanto a Motivação de caráter genérico foi a mais frequente nas respostas sobre alegria. Já ao justificarem a valorização atribuída à manifestação de orgulho e vergonha, as respostas recaíram sobre a categoria Não sabe/Não informou. Essa configuração nas respostas pode indicar que para a alegria, a considerada mais importante de ser manifestada, as razões para tal importância são de variadas naturezas. Estão contempladas desde razões ligadas a uma visão de vida desejável a questões religiosas, que se refletem em crenças parentais segundo as quais, tomando por exemplo algumas respostas, “a alegria traz coisas boas” e “a criança tem que ser feliz”.

Para tristeza, raiva e medo, as outras emoções básicas, pode-se recorrer novamente à noção de serem emoções associadas a estados vividos como algo inerente à experiência psicológica íntima das pessoas. Chama atenção os baixos percentuais para a categoria Motivação com foco na conexão interpessoal em que seria privilegiada a ligação com o outro e o grupo social/familiar, o que parece não constar das prioridades desses pais.

Uma vez mais, não foram identificadas diferenças estatisticamente significativas entre as justificativas de mães e pais quanto à importância atribuída à expressão pelas crianças das emoções estudadas. Também nesse aspecto mães e pais parecem convergir em suas crenças.

Relação entre a Importância Atribuída à Expressão das Emoções e os Escores de Autonomia, Relação e Autonomia-Relacionada

A verificação de relações entre a importância atribuída pelos pais à manifestação emocional de crianças e os escores indicativos do quanto valorizavam a autonomia, relação, ou autonomia-relacionada, revela um quadro para o qual explicações adicionais precisam ser buscadas. Assim é que, os escores de autonomia-relacionada, que sinalizam equilíbrio na valorização dessas duas dimensões, apresentaram associação significativa com a importância atribuída pelos pais à expressão de todas as emoções estudadas. Isso sugere um perfil de pais que preza tanto a autonomia, quanto a relação, e considera importante que crianças expressem as diferentes emoções, mesmo aquelas consideradas geradoras de possível desarmonia no grupo. Uma maior exploração desse resultado parece importante, ampliando e diversificando-se mais a amostra e incluindo outras variáveis na busca de um modelo explicativo.

Com relação aos pais que priorizaram a autonomia, foi encontrada correlação negativa com a importância à manifestação de tristeza e medo, enquanto os que valorizaram mais a relação, consideraram relevante a expressão de todas as emoções básicas, mas não do orgulho e da vergonha. Ao que parece, quanto mais autônomos, menos os pais acharam relevante a criança mostrar que está triste ou com medo, o que pode fazer sentido por denotar maior necessidade de apoio e maior dependência do outro. Por outro lado, pais mais relacionais, pensaram ser importante a criança manifestar as emoções básicas, mas não as que envolvem avaliação de adequação a padrões, geralmente oriundos do contexto sociocultural e familiar. Causa estranheza não valorizarem, por exemplo, a vergonha, que poderia ser considerada uma emoção mais relacional, e voltada para o outro.

Trazendo para a discussão o que Keller e Otto (2009Keller, H., Otto, H. (2009). The cultural socialization of emotion regulation during infancy. Journal of Cross-Cultural Psychology,40(6), 996-1011. https://doi.org/10.1177%2F0022022109348576
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) relataram, tem-se que em grupos sociais tradicionais que priorizam a relação, as estratégias de socialização usadas por mães, visam, desde o início da vida do bebê, o controle emocional, com a supressão da expressão de emoções negativas, como o choro, que pode estar ligado a medo, mal-estar e tristeza. Já em famílias de classe média, de contexto urbano ocidental, há valorização de tendências para uma maior autonomia, incluindo comportamentos que promovam autoexpressão e manifestação da emoção, especialmente as positivas, sendo destacada a estimulação de sorrisos nos bebês. Também para Chan (2011Chan, S. M. (2011). Mothers’ construal of self and emotion socialisation goals. Early Education & Development, 181(5), 613-624. https://doi.org/10.1080/03004431003671820
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) e Keller (2016Keller, H. (2016). Psychological autonomy and hierarchical relatedness as organizers of developmental pathways. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 371: 20150070, 1-9. https://doi.org/10.1098/rstb.2015.0070
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), quem tem uma concepção de self mais autônomo valoriza a expressão de emoções, especialmente as voltadas para o eu, como alegria e orgulho.

No estudo aqui apresentado, as evidências encontradas não convergem plenamente com o que as autoras afirmam. Viu-se que quanto mais relacionais as mães, maior a importância conferida à expressão de algumas emoções consideradas negativas, como tristeza e medo, mas não a raiva, o que parece fazer sentido frente a ideias de que essa emoção rompe com a harmonia do grupo (Keller & Otto, 2009Keller, H., Otto, H. (2009). The cultural socialization of emotion regulation during infancy. Journal of Cross-Cultural Psychology,40(6), 996-1011. https://doi.org/10.1177%2F0022022109348576
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). Por outro lado, a manifestação da alegria não foi marcada como importante, nem por mães, nem por pais mais autônomos, o que contrasta com a literatura. A propósito, apenas os pais mais autônomos indicaram importância à expressão de alguma emoção (medo e raiva), e os demais (mais relacionais e autônomo-relacionais) não consideraram de maior importância a criança expressar qualquer emoção. Para as mães que valorizaram equilibradamente autonomia e relação, foi assinalada importância de manifestação a todas as emoções. Tais resultados indicaram haver diferenças quanto ao gênero dos pais no que concerne à atribuição de importância a expressões emocionais levando-se em conta modelos de self, o que contrasta com outros achados que mostraram certa equivalência em concepções de mães e pais.

Considerações Finais

Esse estudo teve como propósito investigar concepções de mães e pais a respeito da alegria, tristeza, raiva, medo, orgulho e vergonha, bem como suas crenças a respeito de aspectos da manifestação dessas emoções por crianças de até três anos de idade, em contexto brasileiro urbano, no Rio de Janeiro. Das articulações previstas para serem analisadas, encontravam-se as que cruzavam resultados de crenças parentais sobre emoções com modelos de self priorizados pelos participantes. Atribui-se a esse trabalho, de certo modo, um caráter exploratório, na medida em que possibilita a identificação de questões que mais necessitam de atenção e investigação detalhada e a formulação hipóteses com mais precisão.

Muito poucos foram os estudos identificados na literatura que permitissem uma discussão confrontando resultados, e destes, nenhum brasileiro. Portanto, não foram encontradas evidências de população brasileira, de qualquer dos diversos contextos socioculturais do país, que permitissem cotejar os achados. Neste sentido, uma contribuição já se afigura como admissível.

De um modo geral, os resultados indicaram que mães e pais de crianças pequenas conseguiram explicitar uma definição para cada uma das emoções, daquelas presentes nos seres humanos desde que nascem, mas não para emoções que requerem algum tempo para se constituírem e implicam um desenvolvimento cognitivo mais aprimorado, como o orgulho e a vergonha. Em relação a essas concepções e demais noções que tinham quanto à expressão de emoções por crianças pequenas, mães e pais pareciam convergir de modo a não haver diferenças quanto ao gênero, em suas expectativas e entendimentos do que foi questionado.

Tal convergência de concepções e crenças não se manteve quando outra gama de variáveis foi introduzida nas análises. Quando considerados diferentes modelos de self, com maior tendência para autonomia, relação ou ambos, diferenças quanto ao gênero foram encontradas, o que denota que uma aparente concordância entre mães e pais no que respeita à forma como concebem as emoções e as expressões emocionais nas crianças precisa ser tomada com cautela. A alegria, por exemplo, para a quase totalidade dos participantes é manifestada por crianças de zero a 36 meses e foi significativamente a de manifestação mais valorizada. No entanto, ao serem analisados esses aspectos considerando-se os modelos de self, o que se viu foi que as mães quanto mais autônomo-relacionais ou mais relacionais mais valorizavam a manifestação da alegria, mas essa correlação não se apresentou para mães mais autônomas. Mães que valorizaram equilibradamente autonomia e relação, valorizaram a expressão de todas as emoções, enquanto os pais, quanto mais autônomos, relacionais ou autônomo-relacionais, menos valorizaram a alegria.

A necessidade de novas investigações que configurem avanços no que se buscou com esse estudo parece inconteste. Particularmente, chama a atenção a importância de investigações que examinem variáveis socioeconômicas, como escolaridade e ocupação dos pais, e tipo de organização familiar, com amostras suficientemente heterogêneas para os testes comparativos a serem realizados, o que consituiu uma limitação desse estudo. Deve ser ressaltada ainda a relevância do exame e discussão de questões metodológicas. Opções de método, quanto a técnicas de avaliação e instrumentos utilizados, em particular para modelos de self, podem gerar disparidades de resultados para as quais sejam atribuídas explicações de outra natureza. Há um caminho promissor de pesquisas a ser percorrido, em contextos brasileiros, para uma maior compreensão das crenças parentais relacionadas ao desenvolvimento emocional infantil, e espera-se ter contribuído com alguns passos iniciais.

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    Apoio: FAPERJ; CNPq

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2017
  • Revisado
    23 Mar 2019
  • Aceito
    20 Abr 2019
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