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Relações Entre Suporte Parental e Reconhecimento de Expressões Faciais Emocionais em Pré-Adolescentes

Relationships Between Parental Support and Recognition of Emotional Facial Expressions in Pre-Adolescents

Resumo

Este estudo analisou a relação entre suporte parental e habilidade de reconhecer expressões faciais emocionais em pré-adolescentes através de uma revisão integrativa de pesquisas empíricas dos últimos dez anos. Foram encontradas 12 publicações, as quais utilizaram principalmente tarefas computadorizadas para avaliar o reconhecimento de expressões faciais, sendo a maioria estudos transversais. Houve uma associação de práticas parentais positivas com uma melhor habilidade de reconhecimento de expressões faciais dos filhos, assim como aspectos negativos da parentalidade estiveram associados a um pior reconhecimento de expressões faciais e a um favorecimento do reconhecimento de expressões negativas, sendo que alguns resultados foram contraditórios. Discute-se a importância desta habilidade para o desenvolvimento infanto-juvenil e destacam-se lacunas metodológicas e sugestões para avançar os estudos na área.

Palavras-chave:
suporte parental; expressões faciais emocionais; pré-adolescentes; revisão integrativa

Abstract

This study analyzed the relationship between parental support and the ability to recognize emotional facial expressions in pre-adolescents through an integrative review of empirical research in the last ten years. Twelve publications were found, which mainly used computerized tasks to evaluate the recognition of facial expressions, most of which were cross-sectional studies. There was an association of positive parental practices with better ability to recognize children's facial expressions, as well as negative aspects of parenting were associated with worse recognition of facial expressions and favoring the recognition of negative expressions, with some of these results presenting contradictions. It discusses the importance of this ability for the development of youth, highlights methodological gaps and suggestions to advance studies in the area.

Keywords:
parental support; emotional facial expression; pre-adolescence; integrative review

A capacidade de reconhecer e lidar com as próprias emoções e com as emoções dos outros é importante para uma melhor adaptação ao meio e às situações, bem como para o convívio em sociedade (Mocaiber et al., 2010Mocaiber, I., Pereira, M. G., Erthal, F. S., Machado-Pinheiro, W., David, I. A., Cagy, M., Volchan, E., & Oliveira, L. (2010). Fact or fiction? An event-related potential study of implicit emotion regulation. Neuroscience Letters, 476(2), 84-88. doi: 10.1016/j.neulet.2010.04.008
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). Na pré-adolescência, fase compreendida dos 10 aos 14 anos de acordo com a OMS, a capacidade de lidar com as emoções, de saber reconhecê-las e regulá-las é crucial e está relacionada ao bem-estar psicológico e emocional (Duarte, 2014Duarte, M. S. L. (2014). A influência da perceção da vinculação aos pais no uso de estratégias de regulação emocional em adolescentes [Dissertação de mestrado, Universidade de Coimbra]. Repositório científico da UC. https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/25684?locale=pt
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).

As expressões faciais são um importante veículo para a percepção e para o reconhecimento de emoções (Aguiar, 2016Aguiar, J. S. R. (2016). Como crianças reconhecem emoções em faces: o uso da variação da intensidade emocional [Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília]. Repositório Institucional UnB. http://repositorio.unb.br/handle/10482/20036
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; Sousa, 2016Sousa, R. A. (2016). Desempenho de crianças em escalas de comportamento agressivo e emoção [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal da Paraíba]. https://shre.ink/c3OV
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). Estudos sobre o reconhecimento de expressões faciais em crianças e adultos indicam que há sete emoções consideradas básicas: alegria, raiva, medo, nojo, tristeza, surpresa e aversão. As emoções básicas são assim denominadas pois podem ser reconhecidas por qualquer pessoa, independente de cultura, classe econômica ou região em que vive. Também existem as emoções denominadas complexas, que são aquelas derivadas das básicas, mas que possuem características específicas conforme a cultura (culpa e vergonha, por exemplo) (Ekman & Cordaro, 2011Ekman, P., & Cordaro, D. (2011). What is meant by calling emotions basic. Emotion Review, 3, 364-370. doi: 10.1177/1754073911410740
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).

Do ponto de vista do desenvolvimento humano, sabe-se que as crianças aprimoram sua capacidade de interpretar e reagir às expressões faciais de emoções à medida que vão crescendo ( Aguiar, 2016Aguiar, J. S. R. (2016). Como crianças reconhecem emoções em faces: o uso da variação da intensidade emocional [Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília]. Repositório Institucional UnB. http://repositorio.unb.br/handle/10482/20036
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; Sousa, 2016Sousa, R. A. (2016). Desempenho de crianças em escalas de comportamento agressivo e emoção [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal da Paraíba]. https://shre.ink/c3OV
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). É na pré-adolescência que os indivíduos começam a compreender as emoções e reconhecê-las de forma semelhante aos adultos, pois seu desenvolvimento cognitivo está mais maduro (Dias & Minervino, 2013Dias, E. B., & Minervino, C. (2013). Competência emocional em crianças portadoras de transtorno do déficit de atenção/hiperatividade e outras patologias. Psicologia em Pediatria, 49(6), 240-244.). A habilidade de reconhecimento das expressões faciais emocionais é crucial na infância e na pré-adolescência, pois nessas fases a experiência da emoção contribui para os processos de aprendizagem e é um meio de preparação para a conduta e para lidar com as situações futuras (Magalhães, 2013Magalhães, F. (2013). O código de Ekman: O cérebro, a face, a emoção. Edições Universidade Fernando Pessoa. ; Penton-Voak et al., 2013Penton-Voak, I. S., Thomas, J., Gage, S., McMurran, M., McDonald, S., & Munafò, M. (2013). Increasing recognition of happiness in ambiguous facial expressions reduces anger and aggressive behavior. Psychological Science, 24(5), 688-697. doi: 10.1177/0956797612459657
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).

Se, por um lado, a capacidade de reconhecimento de emoções favorece a adaptação ao meio, por outro, aspectos contextuais presentes no desenvolvimento da criança podem influenciar a expressão desta habilidade, tal como o contexto familiar (Duarte, 2014Duarte, M. S. L. (2014). A influência da perceção da vinculação aos pais no uso de estratégias de regulação emocional em adolescentes [Dissertação de mestrado, Universidade de Coimbra]. Repositório científico da UC. https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/25684?locale=pt
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). Dependendo da qualidade do convívio familiar e das práticas parentais, estes podem se constituir como um espaço de proteção para a criança e para o seu desenvolvimento, ou como um ambiente de riscos (Andrade et al., 2014Andrade, N. C., Abreu, N., Menezes, I., Mello, C. B., Duran, V. R., & Moreira, N. A. (2014). Adaptação transcultural do Teste de Conhecimento Emocional: Avaliação neuropsicológica das emoções. Psico-USF, 19(2), 297-306. doi: 10.1590/1413-82712014019002001
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).

O suporte parental, também denominado apoio dos pais ou responsividade, se refere ao auxílio que estes destinam aos seus filhos em diferentes aspectos de sua vida (escolar e emocional, por exemplo) (Andrada et al., 2008Andrada, E. G. C., Rezena, B. S., Carvalho, G. B., & Benetti, I. C. (2008). Fatores de risco e proteção para a prontidão escolar. Psicologia: Ciência e Profissão, 28(3), 536-547. doi: 10.1590/S1414-98932008000300008
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). Este suporte pode se dar por meio de um ambiente familiar acolhedor, estimulador e com poucos conflitos (Andrada et al., 2008Andrada, E. G. C., Rezena, B. S., Carvalho, G. B., & Benetti, I. C. (2008). Fatores de risco e proteção para a prontidão escolar. Psicologia: Ciência e Profissão, 28(3), 536-547. doi: 10.1590/S1414-98932008000300008
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). Pesquisas apontam que o modo como os pais lidam com as emoções de suas crianças e o modo como fornecem o suporte parental pode estar relacionado a maneira com que os filhos reconhecem expressões faciais e lidam com as suas emoções (Aguiar, 2016Aguiar, J. S. R. (2016). Como crianças reconhecem emoções em faces: o uso da variação da intensidade emocional [Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília]. Repositório Institucional UnB. http://repositorio.unb.br/handle/10482/20036
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; Sousa, 2016Sousa, R. A. (2016). Desempenho de crianças em escalas de comportamento agressivo e emoção [Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal da Paraíba]. https://shre.ink/c3OV
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). Conforme a criança cresce, as estratégias educativas dos pais vão sendo modificadas. Geralmente, uma parentalidade adequada encoraja a autonomia e exerce de forma equilibrada o suporte parental e a disciplina (Simões et al., 2011Simões, S., Farate, C., & Pocinho, M. (2011). Estilos educativos parentais e comportamentos de vinculação das crianças em idade escolar. Interações, 20, 75-99.).

No entanto, a despeito das evidências sobre a importância do suporte parental para o desenvolvimento socioemocional dos filhos, observou-se uma carência de estudos que tenham analisado essa relação considerando especificamente o desfecho de reconhecimento de expressões faciais emocionais, especialmente na literatura brasileira, cujo foco de revisões concentra-se na compreensão emocional e na regulação das emoções. Assim, este estudo buscou realizar uma revisão de literatura para identificar as evidências referentes à relação entre suporte parental e reconhecimento de expressões faciais em pré-adolescentes. Além de analisar os dados da relação entre essas variáveis (categoria “efeitos”), esta revisão também buscou identificar e discutir os delineamentos utilizados (categoria “delineamentos”), bem como as definições e formas de operacionalizar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais (categoria “instrumentos”), a fim de fornecer subsídios teóricos e metodológicos para a produção científica nessa área.

Método

Foi realizada uma revisão integrativa de publicações nacionais e internacionais sobre a relação entre suporte parental e a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais em pré-adolescentes. A busca foi realizada nas bases de dados Pubmed, Redalyc, Google Acadêmico, BVS-Psi e Portal de Periódicos CAPES entre os meses de maio a junho de 2018. Foram utilizados os seguintes descritores e suas combinações em inglês, português e espanhol: pais OU família OU “suporte parental” OU parentalidade OU “estilos parentais” E crianças OU pré-adolescentes E “expressões faciais” OU “reconhecimento de expressões faciais”.

Foram encontradas 20 publicações cujos títulos apresentavam pelo menos um dos descritores. Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos textos foram: publicações indexadas nas referidas bases de dados no perído de 2008 a 2018; nos idiomas português, inglês e espanhol. Também foram incluídos textos completos que abordassem a temática com participantes próximos à pré-adolescência (segunda infância - 3 a 6 anos e adolescência), uma vez que poucos estudos abordaram exclusivamente a pré-adolescência. As publicações poderiam ser artigos científicos, dissertações ou teses completas, retratando obrigatoriamente pesquisas empíricas. Seguindo estes procedimentos, dos 20 textos triados, foram selecionados 16 artigos e 2 dissertações. Na leitura dos textos completos foram excluídos desta revisão 6 artigos de revisões integrativas.

Os resultados serão apresentados em três categorias: delineamento, a fim de identificar as metodologias utilizadas na investigação da relação entre suporte parental e reconhecimento de expressões faciais emocionais; instrumentos, a fim de caracterizar e especificar as distintas maneiras de operacionalizar a variável reconhecimento de expressões faciais emocionais; e efeitos, para apresentar as evidências propriamente ditas no tocante à relação entre suporte parental e reconhecimento de expressões faciais emocionais.

Resultados

A amostra final desta revisão constituiu-se de 12 publicações, sendo 11 internacionais e uma nacional. Os principais resultados serão apresentados a seguir.

Delineamento

Aqui serão descritos os desenhos metodológicos utilizados para averiguar a relação entre suporte parental e a habilidade de reconhecimento de expressões faciais. Dos artigos selecionados, oito são de metodologia transversal e quatro longitudinal (identificados na Tabela 1). Nos estudos transversais, dois utilizaram o delineamento quasi-experimental com grupos pareados: crianças vítimas de abuso e grupo controle (Pollak et al., 2009*Pollak, S. D., Messner, M., Kistler, D. J., & Cohn, J. F. (2009). Development of perceptual expertise in emotion recognition. Cognition, 110(2), 242-247. doi: 10.1016/j.cognition.2008.10.010
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) e crianças com alto risco de depressão na família e crianças com baixo risco (Lopez-Duran et al., 2013*Lopez-Duran, N. L., Kuhlman, K. R., George, C., & Kovacs, M. (2013). Facial emotion expression recognition by children at familial risk for depression: High risk boys are oversensitive to sadness. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 54(5), 565-574. doi: 10.1111/jcpp.12005
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). Os outros estudos transversais utilizaram o delineamento correlacional e os artigos longitudinais usaram um delineamento de coorte prospectiva (identificados na Tabela 1).

Tabela 1.
Síntese dos dados principais dos estudos selecionados na revisão integrativa

A delimitação da faixa etária foi bastante diferenciada: quatro estudos optaram por investigar exclusivamente a pré-adolescência (dos 10 aos 14 anos) e sete optaram por estudar exclusivamente a infância (3 a 9 anos), conforme identificados na Tabela 1. Apenas um artigo teve como amostra participantes de três etapas do desenvolvimento humano (infância, pré-adolescência e adolescência) (Steele et al., 2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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).

Instrumentos

Aqui serão descritas as formas pelas quais a habilidade de reconhecimento de expressões faciais foi avaliada. Considerando tanto os estudos transversais como os longitudinais, a maioria (6 publicações, ver Tabela 1) utilizou tarefas computadorizadas para avaliar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais. Os outros estudos (5 publicações, ver Tabela 1) usaram testes ou inventários envolvendo material impresso, personagens e histórias. Apenas o artigo de Castro et al. (2015*Castro, V. L., Halberstadt, A. G., Lozada, F. T., & Craig, A. B. (2015). Parents’ emotion-related beliefs, behaviors, and skills predict children’s recognition of emotion. Infant and Child Development, 24(1), 1-22. doi: 10.1002/icd.1868
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) utilizou uma situação real de interação entre pais e filhos para avaliar o reconhecimento das expressões faciais.

O artigo de De Los Reyes et al. (2013*De Los Reyes, A., Lerner, M. D., Thomas, S. A., Daruwala, S., & Goepel, K. (2013). Discrepancies between parent and adolescent beliefs about daily life topics and performance on an emotion recognition task. Journal of Abnormal Child Psychology, 41(6), 971-982. doi: 10.1007/s10802-013-9733-0
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) usou a tarefa computadorizada Mind in the Eyes Task (RMET) para avaliar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais. No RMET, são apresentadas 36 imagens da região dos olhos das faces de homens e mulheres durante 500ms. Depois de brevemente ver a fotografia, os participantes devem escolher quais arranjos de 4 palavras melhor descrevem o que a pessoa da foto estava sentindo ou pensando. Cada grupo de 4 palavras contém apenas uma alternativa correta. O total de pontos poderia variar de 0 a 36. Os resultados foram avaliados a partir do número de identificações de alternativas corretas.

O estudo de Lopez-Duran et al. (2013*Lopez-Duran, N. L., Kuhlman, K. R., George, C., & Kovacs, M. (2013). Facial emotion expression recognition by children at familial risk for depression: High risk boys are oversensitive to sadness. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 54(5), 565-574. doi: 10.1111/jcpp.12005
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) utilizou uma tarefa computadorizada com 22 imagens de expressões faciais variando morficamente de 100% neutras até 100% tristeza e de 100% neutras até 100% raiva. Das 22 imagens, 11 eram masculinas e 11 femininas. As intensidades das modificações variavam 10% a cada imagem até atingir 100%. Em todas as variações, as crianças deveriam escolher entre duas opções: 1) se a imagem apresentava a emoção (tristeza ou raiva) e 2) se não apresentava emoção (neutro). As imagens eram apresentadas aleatoriamente em blocos por condição (ex: todas as imagens modificadas morficamente para raiva, todas as imagens modificadas por tristeza). O tempo de exibição das imagens não foi especificado pelos autores na publicação. Os resultados foram avaliados a partir de um cálculo da probabilidade de acerto da imagem pela criança de acordo com a intensidade da imagem em questão e o número de acertos da criança.

Já a publicação de Pollak et al. (2009*Pollak, S. D., Messner, M., Kistler, D. J., & Cohn, J. F. (2009). Development of perceptual expertise in emotion recognition. Cognition, 110(2), 242-247. doi: 10.1016/j.cognition.2008.10.010
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) realizou uma tarefa computadorizada com imagens provenientes do Cohn-Kanade Facial Expression Database para mensurar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais. As imagens eram expressões 100 % neutras modificadas morficamente até expressões de 100% alegria, tristeza, raiva, medo ou surpresa. Dessa forma, formavam um total de 200 imagens (10 para cada transformação mórfica de alegria, tristeza, raiva, medo ou surpresa). As imagens eram de diferentes etnias em ambos os sexos, sendo cada uma apresentada por 3 segundos. As crianças deveriam identificar a emoção e a intensidade corretamente. Os resultados foram avaliados pelo número de identificações corretas e pelo tempo de reação.

A publicação de Oldehinkel et al. (2015*Oldehinkel, A. J., Hartman, C. A., Van Oort, F. V. A., & Nederhof, E. (2015). Emotion recognition specialization and context-dependent risk of anxiety and depression in adolescents. Brain and Behavior, 5(2), e00299. doi :10.1002/brb3.299
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) utilizou o Amsterdam Neuropsychological Task Program (ANT) para avaliar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais. O ANT é uma tarefa computadorizada dividida em 6 partes, cada uma com 20 imagens. Durante a tarefa, são apresentas duas figuras na tela relacionadas a uma das emoções em foco (raiva, alegria, tristeza, medo, nojo e surpresa) e o participante deve apertar “sim” se a imagem apresenta a emoção descrita e “não” caso ache o contrário. O tempo de exibição das imagens não foi especificado pelos autores. Os resultados eram avaliados pela média do tempo de resposta das imagens identificadas corretamente.

O estudo de Dunn et al. (2018*Dunn, E. C., Crawford, K. M., Soare, T. W., Button, K. S., Raffeld, M. R., Smith, A. D. A. C., Penton-Voak, I. S., & Munafò, M. R. (2018). Exposure to childhood adversity and deficits in emotion recognition: results from a large, population-based sample. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(8), 845-854. doi: 10.1111/jcpp.12881
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) utilizou o subteste computadorizado de faces do Diagnostic Assessment of Non-Verbal Accuracy (DANVA). O subteste é uma tarefa computadorizada composta por 24 imagens coloridas de meninos e meninas em idade escolar expressando as emoções alegria, tristeza, raiva e medo. Foram apresentadas 12 imagens na intensidade alta e 12 em intensidade baixa. Cada imagem era exibida por 2 segundos e logo após o participante deveria identificar a emoção expressada na imagem. Os resultados foram avaliados a partir de um escore total de erros na identificação das emoções e do número de erros por emoção.

A publicação de Chora (2016*Chora, M. L. M. (2016). A compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar e o papel do envolvimento paterno em atividades de cuidados e socialização [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/12693
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) utilizou o Teste de Compreensão das Emoções (TEC) em uma versão computadorizada. São exibidas figuras de faces expressivas e situações de contação de história em que a criança deve atribuir uma face correta para a história contada. A cada situação apresentada à criança, pede-se que ela escolha entre 4 faces. As faces apresentam as expressões: feliz, zangado, triste, neutro e assustado, sendo que 4 entre as 5 faces são apresentadas dependendo da situação e do componente a ser investigado. A cada história, a criança observa uma figura ilustrativa em que o personagem não possui expressão, seu rosto está em branco, sem olhos, nariz ou boca. Ao fim da história e depois de feita a pergunta, a criança observa quatro faces, para que ela escolha a que considera mais adequada. As personagens das histórias podem ser meninos ou meninas, variando de acordo com o sexo dos participantes (para meninas a personagem é feminina, para os meninos, é masculina). Não é informado pela autora o tempo de exibição das faces. Os resultados são avaliados pelo número de acertos para diferentes fases do desenvolvimento emocional. Para a presente revisão, foi apenas considerada a fase externa, a qual compreende dos 5 anos aos os 7 anos, sendo considerada a fase do surgimento da habilidade de reconhecimento de expressões faciais e de atribuição de causas a essas expressões.

Dentre os que não utilizaram tarefa computadorizada, o estudo de Vasconcelos (2013*Vasconcelos, T. S. F. (2013). A influência das relações de apego entre pais e filhos na compreensão das emoções pelos filhos [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. Repositório UFPE. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10444
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) e de Sá (2017*Sá, V. (2017). Estilos parentais e compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório Iscte. http://hdl.handle.net/10071/15436
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) também utilizou o TEC, porém em sua versão tradicional. Esta versão é composta por cartões com situações (menino sendo perseguido por um monstro, menino olhando para sua tartaruga morta no aquário, por exemplo) e cartões com personagens expressando alegria, raiva, tristeza, expressão neutra e medo. Nos cartões com situações, os personagens estão sem o rosto, e a criança deve escolher o cartão com a expressão que corresponde ao que o personagem está sentindo no cartão da situação (ex: se o menino está sendo perseguido por um monstro, ele está com medo).

O artigo de Sullivan et al. (2010*Sullivan, M. W., Carmody, D. P., & Lewis, M. (2010). How neglect and punitiveness influence emotion knowledge. Child Psychiatry and Human Development, 41(3), 285-298. doi: 10.1007/s10578-009-0168-3
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) utilizou uma tarefa de reconhecimento das expressões faciais elaborada pelos pesquisadores a partir de fotografias impressas provenientes do Emotion Facial Action Coding System (EMFACS). A tarefa era realizada com as crianças por meio do auxílio de um examinador capacitado pelos autores, que coordenava a exibição das imagens e as opções de respostas. As crianças deveriam nomear as emoções expressas por uma menina e um menino em 6 fotos diferentes expressando alegria, tristeza, raiva, surpresa e desgosto. O tempo para a resposta das crianças é indeterminado. Logo após esta etapa, o examinador lia 10 histórias para as crianças, com ilustrações dos mesmos personagens da etapa anterior, sem a face. As crianças deveriam, então, escolher, com base nas imagens da etapa anterior, a face que melhor representava como os personagens estavam se sentindo nas histórias. Logo após, os examinadores pediam para as crianças indicarem se a personagem expressou mais alguma emoção durante a história, além da escolhida. Se elas dissessem que sim, ele pedia para ela apontar a face nas opções restantes.

O estudo de Berzenski & Yates (2017*Berzenski, S. R., & Yates, T. M. (2017). The differential influences of parenting and child narrative coherence on the development of emotion recognition. Developmental Psychology, 53(10), 1912-1923. doi: 10.1037/dev0000395
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) utilizou o Kusché Emotion Inventory (KEI) para mensurar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais. O KEI contém 40 subtestes de reconhecimento e identificação de emoções, sendo que para esse estudo foram reduzidas para 30 subtestes. Cada subteste acessa 15 emoções básicas e complexas usando dois itens cada (surpresa, raiva, vergonha, confusão, descontentamento, excitação, frustração, alegria, amor, tristeza, orgulho, medo, cansaço e preocupação). Os participantes recebiam 4 desenhos de personagens expressando as emoções acima citadas, dispostos em linha reta. Eles eram orientados a identificar a emoção solicitada, apontando a personagem escolhida. (ex: qual destes meninos está triste? Aponte a expressão de tristeza). O tempo para respostas era indeterminado. Para cada identificação correta eram atribuídos dois pontos; um ponto para expressão nomeada incorretamente mas de mesma classificação (ex: a criança respondeu “triste” para uma expressão de “raiva”, sendo os dois de classificação negativa); e nenhum ponto para os demais erros.

O estudo de Steele et al. (2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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) utilizou um teste de reconhecimento de expressões faciais elaborado pelos autores. O teste consistia em 9 desenhos de expressões faciais, que se distinguiam entre si pela variação do movimento das sobrancelhas/olhos e os músculos da boca. Dos 9 desenhos, 6 expressavam as seguintes emoções: medo, raiva, tristeza, surpresa, nojo e alegria. O restante representava emoções complexas e com expressões misturadas (malvadeza e desapontamento), além de uma expressão neutra. As crianças de 6 anos deveriam descrever as expressões com uma ou duas palavras. Elas eram gravadas e analisadas posteriormente. As de 11 anos deveriam escrever uma palavra ou fazer uma frase para descrever a expressão facial apresentada. Estas também eram analisadas posteriormente. As respostas das crianças foram analisadas e codificadas por juízes treinados, que deveriam atingir um consenso de no mínimo 90% no julgamento das respostas.

Por fim, o artigo de Castro et al. (2015*Castro, V. L., Halberstadt, A. G., Lozada, F. T., & Craig, A. B. (2015). Parents’ emotion-related beliefs, behaviors, and skills predict children’s recognition of emotion. Infant and Child Development, 24(1), 1-22. doi: 10.1002/icd.1868
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) optou pelo uso da gravação de discussões entre os pais e os filhos participantes do estudo para avaliar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais e a socialização das emoções. As discussões promoviam a resolução de problemas sobre assuntos considerados de difícil acordo entre eles (hora de dormir, relação com os irmãos, tarefas da escola, por exemplo). Assistentes da pesquisa selecionavam trechos de 10 segundos de vídeo nos quais as crianças ou os pais expressavam alguma emoção. O trecho era exibido para a pessoa que expressou a emoção e esta deveria dizer o que estava sentindo no vídeo e identificar essa emoção em uma tabela com seis emoções: alegria, curiosidade/surpresa/interesse, ansioso, raiva e tristeza. A outra pessoa da díade pai-filho deveria ver o vídeo e identificar a emoção expressa pelo seu parceiro.

Efeitos

Nesta seção serão apresentados os resultados sobre a relação entre variáveis de parentalidade e o reconhecimento de expressões faciais emocionais. No estudo de De Los Reyes et al. (2013*De Los Reyes, A., Lerner, M. D., Thomas, S. A., Daruwala, S., & Goepel, K. (2013). Discrepancies between parent and adolescent beliefs about daily life topics and performance on an emotion recognition task. Journal of Abnormal Child Psychology, 41(6), 971-982. doi: 10.1007/s10802-013-9733-0
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), a avaliação de 50 adolescentes e seus respectivos pais evidenciou que pais e filhos não diferiram no seu desempenho de reconhecimento de expressões faciais emocionais na tarefa computadorizada Mind in the Eyes Task. No entanto, os autores encontraram uma correlação negativa do desempenho de ambos pais e filhos no reconhecimento de faces emocionais com a discordância das percepções deles sobre tópicos de suas vidas diárias. Quanto mais os pais e filhos discordavam sobre questões da sua convivência cotidiana, pior era a capacidade de ambos de reconhecer emoções faciais corretamente. Os autores discutem que o reconhecimento de emoções pode ser um importante mediador da relação entre as situações sociais e a manifestação adequada da emoção para cada situação.

Já no estudo de Lopez-Duran et al. (2013*Lopez-Duran, N. L., Kuhlman, K. R., George, C., & Kovacs, M. (2013). Facial emotion expression recognition by children at familial risk for depression: High risk boys are oversensitive to sadness. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 54(5), 565-574. doi: 10.1111/jcpp.12005
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), o objetivo foi avaliar a sensibilidade para perceber faces tristes em 104 jovens de famílias com ou sem depressão. Apenas meninos de famílias com depressão apresentaram uma maior sensibilidade para perceber faces tristes, comparados aos meninos de famílias sem depressão. Este resultado sugere que esta facilitação na percepção de emoções faciais de tristeza poderia contribuir para o posterior viés atencional para situações tristes, o qual é tipicamente observado em adultos deprimidos. Sullivan et al. (2010*Sullivan, M. W., Carmody, D. P., & Lewis, M. (2010). How neglect and punitiveness influence emotion knowledge. Child Psychiatry and Human Development, 41(3), 285-298. doi: 10.1007/s10578-009-0168-3
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) também demonstraram que características parentais podem ter relação com o desempenho de filhos no reconhecimento de emoções faciais. Em particular, essa pesquisa explorou se os estilos parentais negativos (punitivo e negligente) influenciariam em déficits de reconhecimento emocional de 42 crianças. Os resultados apontaram que os estilos parentais negligente e punitivo explicaram uma variância significativa do pior reconhecimento de faces emocionais, mas que a solução que melhor explicou a variância foi a combinação do estilo negligente e o QI da criança. Os autores sugerem que um menor QI em crianças pode resultar de um menor QI em pais, o que também poderia influenciar que estes pais tenham menos recursos sociais e menor conjunto de habilidades parentais, explicando porque usam estratégias parentais mais desfavoráveis para o desenvolvimento emocional infantil.

Por outro lado, no estudo de Berzenski e Yates (2017*Berzenski, S. R., & Yates, T. M. (2017). The differential influences of parenting and child narrative coherence on the development of emotion recognition. Developmental Psychology, 53(10), 1912-1923. doi: 10.1037/dev0000395
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), em que 250 díades de criança-cuidadores foram pesquisadas, a avaliação de um bom suporte parental quando as crianças tinham 4 anos foi um preditor significativo da capacidade das crianças reconhecerem emoções quando estas tinham 8 anos. Essa pesquisa também observou que em um contexto em que os pais tinham que auxiliar e orientar as crianças na execução de uma tarefa (quando estas tinham 6 anos), uma melhor qualidade das instruções e orientações dos pais durante a realização da atividade predisse um melhor reconhecimento de emoções das crianças quando estas tinham 8 anos. Portanto, os autores sugerem que há maior socialização das emoções em um contexto em que há suporte parental e essa socialização possivelmente facilita a compreensão da criança sobre emoções. Berzenski & Yates (2017*Berzenski, S. R., & Yates, T. M. (2017). The differential influences of parenting and child narrative coherence on the development of emotion recognition. Developmental Psychology, 53(10), 1912-1923. doi: 10.1037/dev0000395
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) também demonstraram que crianças que tinham melhor narrativa aos 4 e 6 anos tiveram melhor reconhecimento de emoções aos 8 anos, corroborando a possível influência do QI neste processo, tal como demonstrado por Sullivan et al. (2010*Sullivan, M. W., Carmody, D. P., & Lewis, M. (2010). How neglect and punitiveness influence emotion knowledge. Child Psychiatry and Human Development, 41(3), 285-298. doi: 10.1007/s10578-009-0168-3
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). A importância da socialização das emoções entre pais e filhos também foi demonstrada por Castro et al. (2015*Castro, V. L., Halberstadt, A. G., Lozada, F. T., & Craig, A. B. (2015). Parents’ emotion-related beliefs, behaviors, and skills predict children’s recognition of emotion. Infant and Child Development, 24(1), 1-22. doi: 10.1002/icd.1868
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) em uma investigação com 69 casais e seus filhos. Neste estudo, os dados apontaram que quanto mais os pais se envolveram no comportamento de nomeação das emoções durante uma situação de interação com os filhos, mais eles também se dedicaram ao ensino delas. Além disso, o comportamento de socialização dos pais (por meio da nomeação de emoções) e a sua habilidade de reconhecimento de emoções apresentaram correlação positiva e significativa com a habilidade de reconhecimento de emoções das crianças.

Além da importância do estilo e suporte parental, outro estudo identificou a relevância das experiências sociais precoces da criança para a capacidade de reconhecer faces emocionais. Pollak et al. (2009*Pollak, S. D., Messner, M., Kistler, D. J., & Cohn, J. F. (2009). Development of perceptual expertise in emotion recognition. Cognition, 110(2), 242-247. doi: 10.1016/j.cognition.2008.10.010
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) investigaram 95 crianças e verificaram que aquelas que passaram por experiências de hostilidade afetiva (disciplina física dura, excesso de proibições e agressões, por exemplo), quando comparadas a crianças que não tiveram tais experiências, apresentaram um reconhecimento mais rápido e acurado de faces de raiva na condição da tarefa em que a transformação de uma face neutra para uma face expressando raiva estava apenas começando, ou seja, quando as pistas da emoção de raiva propriamente dita ainda estavam pouco disponíveis. O efeito foi específico para a emoção de raiva. Além disso, a velocidade do reconhecimento da raiva apresentou correlação positiva com os traços de raiva e hostilidade que os pais da criança relataram ter. Portanto, a exposição da criança a situações envolvendo a emoção de raiva pode facilitar o reconhecimento desta emoção posteriormente, de modo que o jovem passa a apresentar uma maior atenção aos mínimos sinais da emoção de raiva. Por um lado, esta aprendizagem pode sensibilizar a criança para certos tipos de informação emocional, podendo ser adaptativo em contextos abusivos. Por outro lado, esta hipersensibilidade pode ser desadaptativa em situações de interações interpessoais saudáveis.

Outro estudo também avaliou o efeito das experiências afetivas entre pais e filhos na habilidade de reconhecimento das emoções, mas neste caso, a fundamentação era baseada nos construtos de rejeição parental (hostilidade, punição, culpa) ou calor emocional (atenção aos filhos, elogio de comportamentos adequados, amor incondicional, apoio e afeto) (Oldehinkel et al., 2015*Oldehinkel, A. J., Hartman, C. A., Van Oort, F. V. A., & Nederhof, E. (2015). Emotion recognition specialization and context-dependent risk of anxiety and depression in adolescents. Brain and Behavior, 5(2), e00299. doi :10.1002/brb3.299
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). Entre os 1539 adolescentes pesquisados, aqueles que avaliaram a parentalidade atribuindo maiores escores de calor emocional apresentaram uma melhor habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais. Além disso, quanto pior o relato dos adolescentes em relação a sua percepção de calor emocional dos pais, maior era o tempo que levavam para conseguir reconhecer as emoções.

Contudo, as evidências da influência da relação pais-filhos na capacidade dos filhos de reconhecer expressões faciais emocionais parecem não ser consensuais. Ao contrário do efeito da narrativa encontrada por Berzenski & Yates (2017*Berzenski, S. R., & Yates, T. M. (2017). The differential influences of parenting and child narrative coherence on the development of emotion recognition. Developmental Psychology, 53(10), 1912-1923. doi: 10.1037/dev0000395
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), Steele et al. (2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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) não encontraram relação entre as habilidades verbais de pais e filhos e a capacidade dos filhos de reconhecer emoções quando estes tinham 6 e 11 anos de idade em uma amostra de 112 participantes. No entanto, corroborando os estudos que encontraram uma associação entre a boa qualidade da relação de pais e filhos e a capacidade da criança de reconhecer emoções (Berzenski & Yates, 2017; Castro et al., 2015*Castro, V. L., Halberstadt, A. G., Lozada, F. T., & Craig, A. B. (2015). Parents’ emotion-related beliefs, behaviors, and skills predict children’s recognition of emotion. Infant and Child Development, 24(1), 1-22. doi: 10.1002/icd.1868
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; Oldehinkel et al., 2015*Oldehinkel, A. J., Hartman, C. A., Van Oort, F. V. A., & Nederhof, E. (2015). Emotion recognition specialization and context-dependent risk of anxiety and depression in adolescents. Brain and Behavior, 5(2), e00299. doi :10.1002/brb3.299
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; Vasconcelos, 2013*Vasconcelos, T. S. F. (2013). A influência das relações de apego entre pais e filhos na compreensão das emoções pelos filhos [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. Repositório UFPE. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10444
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), o estudo de Steele et al. (2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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) demonstrou que uma história de apego seguro entre a mãe e a criança se correlacionou de forma positiva e significativa com a acurácia do reconhecimento das emoções quando os filhos tinham 6 e 11 anos. Este achado não foi significativo quando o apego entre pai e filho foi considerado.

A falta de resultado significativo para o efeito do vínculo paterno (Steele et al., 2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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) vai ao encontro do estudo de Chora (2016*Chora, M. L. M. (2016). A compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar e o papel do envolvimento paterno em atividades de cuidados e socialização [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/12693
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), em que a variável envolvimento paterno não apresentou associação significativa com a capacidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais dos filhos em uma amostra de 98 crianças. Outros dois estudos que utilizaram a mesma tarefa de Chora (2016*Chora, M. L. M. (2016). A compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar e o papel do envolvimento paterno em atividades de cuidados e socialização [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/12693
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) para avaliar o reconhecimento de expressões faciais emocionais de crianças também não encontraram relação significativa entre o estilo de apego tanto de pais como de mães, e a capacidade de reconhecimento de expressões em 32 crianças (Sá, 2017*Sá, V. (2017). Estilos parentais e compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório Iscte. http://hdl.handle.net/10071/15436
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; Vasconcelos, 2013*Vasconcelos, T. S. F. (2013). A influência das relações de apego entre pais e filhos na compreensão das emoções pelos filhos [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. Repositório UFPE. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10444
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). Uma importante característica destes estudos que utilizaram o Teste de Reconhecimento Emocional (TEC) é que em todos houve um efeito de teto no desempenho da condição de reconhecimento de expressões faciais emocionais (taxa de 95% de acertos). Portanto, nestes estudos, o instrumento pode não ter sido sensível para detectar uma variabilidade necessária para a observação de diferenças.

Ainda com relação às inconsistências dos achados, o estudo de coorte com 6506 crianças de 8 anos (Dunn et al., 2018*Dunn, E. C., Crawford, K. M., Soare, T. W., Button, K. S., Raffeld, M. R., Smith, A. D. A. C., Penton-Voak, I. S., & Munafò, M. R. (2018). Exposure to childhood adversity and deficits in emotion recognition: results from a large, population-based sample. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(8), 845-854. doi: 10.1111/jcpp.12881
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) não encontrou uma associação significativa entre experiências adversas durante a infância (como abuso físico e emocional, abuso sexual, instabilidade familiar) e reconhecimento de emoções faciais. A associação não foi significativa mesmo quando foram considerados: os eventos adversos isoladamente; um escore total para analisar os eventos conjuntamente; a extratificação por sexo; ou ainda as características da adversidade, tal como tempo, duração, recenticidade ou severidade (Dunn et al., 2018*Dunn, E. C., Crawford, K. M., Soare, T. W., Button, K. S., Raffeld, M. R., Smith, A. D. A. C., Penton-Voak, I. S., & Munafò, M. R. (2018). Exposure to childhood adversity and deficits in emotion recognition: results from a large, population-based sample. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(8), 845-854. doi: 10.1111/jcpp.12881
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).

Discussão

Este trabalho teve como objetivo revisar as evidências acerca da relação entre suporte parental e reconhecimento de expressões faciais em pré-adolescentes e idades próximas (segunda infância e adolescência). Tendo em vista a escassez de estudos que avaliam o reconhecimento de expressões faciais emocionais em crianças e pré-adolescentes, especialmente no Brasil, optou-se por organizar e apresentar os dados considerando tanto os resultados propriamente ditos (categoria “efeitos”), como também os delineamentos utilizados (categoria “delineamentos”), e as formas de operacionalizar o reconhecimento de expressões faciais emocionais (categoria “instrumentos”).

De forma geral, no que tange aos achados sobre a relação entre suporte parental e habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais, alguns artigos evidenciaram uma associação entre práticas parentais positivas, tais como socialização das emoções, suporte parental, calor emocional e apego seguro, com uma melhor habilidade de reconhecimento de expressões faciais dos filhos (Berzenski & Yates, 2017*Berzenski, S. R., & Yates, T. M. (2017). The differential influences of parenting and child narrative coherence on the development of emotion recognition. Developmental Psychology, 53(10), 1912-1923. doi: 10.1037/dev0000395
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; Castro et al., 2015*Castro, V. L., Halberstadt, A. G., Lozada, F. T., & Craig, A. B. (2015). Parents’ emotion-related beliefs, behaviors, and skills predict children’s recognition of emotion. Infant and Child Development, 24(1), 1-22. doi: 10.1002/icd.1868
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; De Los Reyes et al., 2013*De Los Reyes, A., Lerner, M. D., Thomas, S. A., Daruwala, S., & Goepel, K. (2013). Discrepancies between parent and adolescent beliefs about daily life topics and performance on an emotion recognition task. Journal of Abnormal Child Psychology, 41(6), 971-982. doi: 10.1007/s10802-013-9733-0
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; Oldehinkel et al., 2015*Oldehinkel, A. J., Hartman, C. A., Van Oort, F. V. A., & Nederhof, E. (2015). Emotion recognition specialization and context-dependent risk of anxiety and depression in adolescents. Brain and Behavior, 5(2), e00299. doi :10.1002/brb3.299
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; Steele et al., 2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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). Conhecer as práticas e os estilos parentais que favorecem o aprimoramento de habilidades socioemocionais das crianças é relevante, já que a falta dessas habilidades pode acarretar prejuízos para o desenvolvimento infantil. Por exemplo, crianças e jovens com déficits de reconhecimento de emoções faciais tendem a ter desvantagens sociais, tais como menores níveis de competência social, maior propensão à rejeição dos pares, pior desempenho acadêmico, bem como sintomas de depressão e baixa autoeficácia (Izard, 2002Izard, C. E. (2002). Translating emotion theory and research into preventive interventions. Psychological Bulletin, 128(5), 796-824. doi: 10.1037//0033-2909.128.5.796
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; McClure, 2000McClure, E. B. (2000). A meta-analytic review of sex differences in facial expression processing and their development in infants, children, and adolescents. Psychological Bulletin, 126(3), 424-453. doi: doi.org/10.1037/0033-2909.126.3.424
https://doi.org/doi.org/10.1037/0033-290...
; Trentacosta & Fine, 2010Trentacosta, C. J., & Fine, S. E. (2010). Emotion knowledge, social competence, and behavior problems in childhood and adolescence: a meta-analytic review. Social Development, 19(1), 1-29. doi: 10.1111/j.1467-9507.2009.00543.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-9507.2009...
). Por outro lado, um melhor reconhecimento de expressões emocionais possibilita a aquisição de um maior repertório de estratégias de regulação emocional (Southam-Gerow & Kendall, 2002Southam-Gerow, M. A., & Kendall, P. C. (2002). Emotion regulation and understanding: implications for child psychopathology and therapy. Clinical Psychology Review, 22(2), 189-222. doi: 10.1016/S0272-7358(01)00087-3
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) e aumentam a probabilidade da presença de empatia e compaixão em crianças e adolescentes (Pozzoli et al., 2017Pozzoli, T., Gini, G., & Altoè, G. (2017). Associations between facial emotion recognition and young adolescents’ behaviors in bullying. PLOS ONE, 12(11), e0188062. doi: 10.1371/journal.pone.0188062
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; Sampaio et al., 2009Sampaio, L. R., Camino, C. P. dos S., & Roazzi, A. (2009). Revisão de aspectos conceituais, teóricos e metodológicos da empatia. Psicologia: Ciência e Profissão, 29(2), 212-227. doi: 10.1590/S1414-98932009000200002.
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).

A importância das práticas parentais pode ser interpretada à luz do modelo construtivista social, o qual propõe que as interações sociais são cruciais para o desenvolvimento de habilidades de processamento não verbal, tal como o reconhecimento de expressões emocionais (McClure, 2000McClure, E. B. (2000). A meta-analytic review of sex differences in facial expression processing and their development in infants, children, and adolescents. Psychological Bulletin, 126(3), 424-453. doi: doi.org/10.1037/0033-2909.126.3.424
https://doi.org/doi.org/10.1037/0033-290...
). Baseando-se no fato de que há um refinamento do reconhecimento das emoções faciais ao longo da infância e da adolescência, este modelo preconiza que a experiência precoce desempenha importante papel na aquisição dessa habilidade, especialmente por meio da socialização das emoções, sendo os pais os principais envolvidos no processo. Pesquisas sugerem que os pais facilitam este desenvolvimento por meio de recursos como modelagem e exposição, permitindo que a criança observe expressões emocionais, participe de situações emocionais, imite expressões faciais e gestos, e ainda consiga contrastar a expressão de uma situação com a sua própria emoção (Halberstadt et al., 2001Halberstadt, A. G., Denham, S. A., & Dunsmore, J. C. (2001). Affective social competence. Social Development, 10(1), 79-119. doi: 10.1111/1467-9507.00150
https://doi.org/10.1111/1467-9507.00150...
).

No entanto, os dados revisados sugerem que pode haver diferença na influência de pais e mães. Uma das publicações encontrou um efeito específico do papel materno para a habilidade de reconhecimento de expressões faciais: filhos que relataram apego seguro com as mães tiveram um melhor desempenho no julgamento de emoções, cujo resultado não apareceu quando considerou-se o apego com o pai (Steele et al., 2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
https://doi.org/10.1080/1461673080246140...
). Além disso, outro estudo que buscou avaliar especificamente o efeito da relação paterna sobre o reconhecimento das expressões faciais dos filhos não encontrou resultado significativo (Chora, 2016*Chora, M. L. M. (2016). A compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar e o papel do envolvimento paterno em atividades de cuidados e socialização [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório do Iscte. http://hdl.handle.net/10071/12693
http://hdl.handle.net/10071/12693...
). Algumas hipóteses podem auxiliar na explicação desses resultados. Sabe-se que quanto maior o grau de expressividade emocional de um membro da família, maior será sua influência no processo de aquisição de habilidades não verbais dos filhos (para uma revisão ver Halberstadt et al., 2001Halberstadt, A. G., Denham, S. A., & Dunsmore, J. C. (2001). Affective social competence. Social Development, 10(1), 79-119. doi: 10.1111/1467-9507.00150
https://doi.org/10.1111/1467-9507.00150...
). Portanto, é possível que as mães sejam mais expressivas e por isso a sua influência parece maior no que tange ao reconhecimento de expressões faciais dos filhos. Além disso, o fato de que culturalmente as mães tendem a passar mais tempo com os filhos, comparado aos pais, também pode ajudar a explicar esse resultado, especialmente considerando o modelo da socialização das emoções, em que os processos de interação são considerados cruciais para a habilidade de reconhecimento dos filhos.

Do mesmo modo que os aspectos positivos dos comportamentos dos cuidadores parecem contribuir para o reconhecimento de expressões emocionais nos filhos, alguns estudos encontraram que aspectos negativos da parentalidade, tais como transtorno mental de um dos pais, estilo parental negligente e experiências de hostilidade parental estiveram associados a um pior nível de reconhecimento de expressões faciais emocionais nas crianças e pré-adolescentes, ou a um favorecimento do reconhecimento de expressões emocionais negativas, tais como tristeza e raiva (Lopez-Duran et al., 2013*Lopez-Duran, N. L., Kuhlman, K. R., George, C., & Kovacs, M. (2013). Facial emotion expression recognition by children at familial risk for depression: High risk boys are oversensitive to sadness. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 54(5), 565-574. doi: 10.1111/jcpp.12005
https://doi.org/10.1111/jcpp.12005...
; Pollak et al., 2009*Pollak, S. D., Messner, M., Kistler, D. J., & Cohn, J. F. (2009). Development of perceptual expertise in emotion recognition. Cognition, 110(2), 242-247. doi: 10.1016/j.cognition.2008.10.010
https://doi.org/10.1016/j.cognition.2008...
; Sullivan et al., 2010*Sullivan, M. W., Carmody, D. P., & Lewis, M. (2010). How neglect and punitiveness influence emotion knowledge. Child Psychiatry and Human Development, 41(3), 285-298. doi: 10.1007/s10578-009-0168-3
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). Sabe-se que pais com transtornos mentais ou com práticas parentais negativas tendem a ser menos responsivos às demandas de seus filhos e a apresentar um menor grau de interação com eles, envolvendo-se em menor número de atividades conjuntas (Mateus, 2016Mateus, T. I. S. (2016). Relação entre os estilos e práticas parentais e saúde mental: Um estudo com a população geral [Dissertação de mestrado, Universidade do Algarve]. Repositório da Universidade do Algarve. http://hdl.handle.net/10400.1/9929
http://hdl.handle.net/10400.1/9929...
; Ruzzi-Pereira & Santos, 2012Ruzzi-Pereira, A., & Santos, J. L. F. (2012).Doença mental materna, estilos parentais e suporte social: Estudo das concepções de mães e adolescentes no interior de São Paulo. Journal of Human Growth and Development, 22(1), 73. doi: 10.7322/jhgd.20053
https://doi.org/10.7322/jhgd.20053...
). Portanto, com base no modelo construtivista social (McClure, 2000McClure, E. B. (2000). A meta-analytic review of sex differences in facial expression processing and their development in infants, children, and adolescents. Psychological Bulletin, 126(3), 424-453. doi: doi.org/10.1037/0033-2909.126.3.424
https://doi.org/doi.org/10.1037/0033-290...
), pode-se hipotetizar que essas características parentais prejudicam a socialização das emoções, acarretando um prejuízo no desenvolvimento desta habilidade nos filhos. Essa aprendizagem poderia configurar uma das explicações para o fenômeno conhecido como viés de atenção para estímulos negativos (Bishop, 2007Bishop, S. J. (2007). Neurocognitive mechanisms of anxiety: An integrative account. Trends in Cognitive Sciences, 11(7), 307-316. doi: 10.1016/j.tics.2007.05.008
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), em que há uma maior propensão em detectar os estímulos negativos, a despeito da situação.

Ainda vale destacar que alguns resultados foram contraditórios. Por exemplo, os estudos de Sá (2017*Sá, V. (2017). Estilos parentais e compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório Iscte. http://hdl.handle.net/10071/15436
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) e Vasconcelos (2013*Vasconcelos, T. S. F. (2013). A influência das relações de apego entre pais e filhos na compreensão das emoções pelos filhos [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. Repositório UFPE. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10444
https://repositorio.ufpe.br/handle/12345...
) não encontraram relação entre um maior nível de reconhecimento de emoções das crianças e os tipos de apego e os estilos parentais. No entanto, nesses dois estudos houve um efeito de teto na tarefa de reconhecimento, em que as crianças acertaram 95% das emoções. Além disso, o teste utilizado foi o único em que foram utilizadas situações hipotéticas, sem a apresentação de faces de emoções. É possível, portanto, que esse teste não tenha tido sensibilidade para discriminar diferentes níveis da habilidade de reconhecimento. Ademais, considerando que Sá (2017*Sá, V. (2017). Estilos parentais e compreensão emocional de crianças em idade pré-escolar [Dissertação de mestrado, Instituto Universitário de Lisboa]. Repositório Iscte. http://hdl.handle.net/10071/15436
http://hdl.handle.net/10071/15436...
) e Vasconcelos (2013*Vasconcelos, T. S. F. (2013). A influência das relações de apego entre pais e filhos na compreensão das emoções pelos filhos [Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Pernambuco]. Repositório UFPE. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/10444
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) avaliaram amostras menores que as demais investigações (41 e 32, respectivamente), a sua amostragem pode não ter tido poder para detectar um efeito significativo.

Já o estudo de Dunn et al. (2018*Dunn, E. C., Crawford, K. M., Soare, T. W., Button, K. S., Raffeld, M. R., Smith, A. D. A. C., Penton-Voak, I. S., & Munafò, M. R. (2018). Exposure to childhood adversity and deficits in emotion recognition: results from a large, population-based sample. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(8), 845-854. doi: 10.1111/jcpp.12881
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) encontrou resultados que contrariam outros achados sobre a influência de aspectos negativos da parentalidade e de experiências socioemocionais precoces negativas (Oldehinkel et al., 2015*Oldehinkel, A. J., Hartman, C. A., Van Oort, F. V. A., & Nederhof, E. (2015). Emotion recognition specialization and context-dependent risk of anxiety and depression in adolescents. Brain and Behavior, 5(2), e00299. doi :10.1002/brb3.299
https://doi.org/10.1002/brb3.299...
; Pollak et al., 2009*Pollak, S. D., Messner, M., Kistler, D. J., & Cohn, J. F. (2009). Development of perceptual expertise in emotion recognition. Cognition, 110(2), 242-247. doi: 10.1016/j.cognition.2008.10.010
https://doi.org/10.1016/j.cognition.2008...
). Em particular, Dunn et al. (2018*Dunn, E. C., Crawford, K. M., Soare, T. W., Button, K. S., Raffeld, M. R., Smith, A. D. A. C., Penton-Voak, I. S., & Munafò, M. R. (2018). Exposure to childhood adversity and deficits in emotion recognition: results from a large, population-based sample. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(8), 845-854. doi: 10.1111/jcpp.12881
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) não observaram relações significativas entre as adversidades sofridas por crianças desde o nascimento até os oito anos (entre elas abuso e negligência) e a habilidade de reconhecimento de expressões faciais quando elas tinham oito anos e meio. Vale destacar que esta pesquisa envolveu diversos aspectos metodológicos considerados superiores aos demais estudos: foi um delineamento de base populacional, envolvendo mais de 6.000 crianças, o que permite maior generalização dos dados; os autores mensuraram diversas situações adversas, favorecendo a avaliação da experiência mais ampla de adversidades; houve análise de como o desenvolvimento temporal e a intensidade das adversidades afetariam o reconhecimento das emoções faciais; e ainda foi utilizada uma análise longitudinal. Esses resultados estão em conformidade com outro estudo de base populacional (Germine et al., 2015Germine, L., Dunn, E. C., McLaughlin, K. A., & Smoller, J. W. (2015). Childhood adversity is associated with adult theory of mind and social affiliation, but not face processing. PLoS ONE, 10(6). doi: 10.1371/journal.pone.0129612
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) que havia utilizado um delineamento transversal. No entanto, Dunn et al.(2018*Dunn, E. C., Crawford, K. M., Soare, T. W., Button, K. S., Raffeld, M. R., Smith, A. D. A. C., Penton-Voak, I. S., & Munafò, M. R. (2018). Exposure to childhood adversity and deficits in emotion recognition: results from a large, population-based sample. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 59(8), 845-854. doi: 10.1111/jcpp.12881
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) destacam que é importante considerar que mesmo com uma amostra populacional, esta pode não ter abrangido uma variabilidade suficiente de experiências adversas que permitisse detectar os efeitos.

Por fim, também houve inconsistência em achados envolvendo variáveis intelectuais. No estudo de Steele et al. (2008*Steele, H., Steele, M., & Croft, C. (2008). Early attachment predicts emotion recognition at 6 and 11 years old. Attachment & Human Development, 10(4), 379-393. doi: 10.1080/14616730802461409
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), as capacidades verbais das crianças não influenciaram a sua habilidade de reconhecer corretamente as emoções faciais, ao passo que em outros dois estudos o QI (Sullivan et al., 2010*Sullivan, M. W., Carmody, D. P., & Lewis, M. (2010). How neglect and punitiveness influence emotion knowledge. Child Psychiatry and Human Development, 41(3), 285-298. doi: 10.1007/s10578-009-0168-3
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) e a narrativa (Berzenski & Yates, 2017*Berzenski, S. R., & Yates, T. M. (2017). The differential influences of parenting and child narrative coherence on the development of emotion recognition. Developmental Psychology, 53(10), 1912-1923. doi: 10.1037/dev0000395
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) foram preditores significativos da habilidade das crianças de reconhecer emoções expressadas pela face. Outros estudos também encontraram relação positiva e significativa entre competência linguística e reconhecimento de expressões faciais emocionais (Beck et al., 2012Beck, L., Kumschick, I. R., Eid, M., & Klann-Delius, G. (2012). Relationship between language competence and emotional competence in middle childhood. Emotion, 12(3), 503-514. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/a0026320
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) e melhor desempenho de funções executivas e discriminação de faces emocionais (Petroni et al., 2011Petroni, A., Canales-Johnson, A., Urquina, H., Guex, R., Hurtado, E., Blenkmann, A., von Ellenrieder, N., Manes, F., Sigman, M., & Ibañez, A. (2011). The cortical processing of facial emotional expression is associated with social cognition skills and executive functioning: a preliminary study. Neuroscience Letters, 505(1), 41-46. doi: 10.1016/j.neulet.2011.09.062
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).

Sugere-se que habilidades intelectuais, tais como linguagem e QI, podem influenciar a capacidade de reconhecimento das emoções, uma vez que as crianças passam por um desenvolvimento gradual na aquisição do conhecimento sobre emoções (Trentacosta & Fine, 2010Trentacosta, C. J., & Fine, S. E. (2010). Emotion knowledge, social competence, and behavior problems in childhood and adolescence: a meta-analytic review. Social Development, 19(1), 1-29. doi: 10.1111/j.1467-9507.2009.00543.x
https://doi.org/10.1111/j.1467-9507.2009...
). Assim, à medida que a criança vai amadurecendo, há uma sofisticação de seus métodos de compreensão da experiência emocional, em grande parte baseada na linguagem. Desse modo, a narrativa pode auxiliar nesse processo, sendo que o QI é um importante coadjuvante para este processo linguístico (Engelhardt et al., 2013Engelhardt, P. E., Nigg, J. T., & Ferreira, F. (2013). Is the fluency of language outputs related to individual differences in intelligence and executive function? Acta Psychologica, 144(2), 424-432. doi: 10.1016/j.actpsy.2013.08.002
https://doi.org/10.1016/j.actpsy.2013.08...
). Essa relação entre QI e narrativa também ajudaria a explicar o fato de que pais com menor QI possivelmente usem uma menor variedade de técnicas narrativas e de processos linguísticos para a socialização das emoções, o que poderia influenciar tanto o baixo QI dos filhos, como sua pior capacidade de reconhecer emoções.

Em relação aos métodos, grande parte das publicações selecionadas nesta revisão fez uso de tarefas computadorizadas para estudar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais. As tarefas computadorizadas para a análise da habilidade de reconhecimento de expressões faciais estão entre as mais indicadas, seguidas pela análise de vídeos e fotos (Izard & Read, 1982Izard, C. E., & Read, P. B. (1982). Measuring emotions in infants and children. University Press.; Magalhães, 2013Magalhães, F. (2013). O código de Ekman: O cérebro, a face, a emoção. Edições Universidade Fernando Pessoa. ; Meiselman, 2016Meiselman, H. L. (2016). Emotion measurement. Woodhead Publishing. ). Além disso, o maior segmento das pesquisas sobre conhecimento emocional envolve o estudo sobre emoções discretas expressas em canais típicos, tal como faces, vocalizações, gestos ou contextos sociais (Izard, 2001Izard, C. E. (2001). Emotional intelligence or adaptive emotions? Emotion, 1(3), 249-257. doi: 10.1037/1528-3542.1.3.249
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).

No entanto, muitos estudos revisados não mencionam o controle de características importantes da tarefa, tais como a distribuição das faces conforme sexo, ou a sua caracterização cultural ou racial. Sabe-se que existem possíveis efeitos de viés no processamento de faces com relação ao próprio sexo e à própria raça ou cultura (McClure, 2000McClure, E. B. (2000). A meta-analytic review of sex differences in facial expression processing and their development in infants, children, and adolescents. Psychological Bulletin, 126(3), 424-453. doi: doi.org/10.1037/0033-2909.126.3.424
https://doi.org/doi.org/10.1037/0033-290...
; Tuminello & Davidson, 2011Tuminello, E. R., & Davidson, D. (2011). What the face and body reveal:In-group emotion effects and stereotyping of emotion in african american and european american children. Journal of Experimental Child Psychology, 110(2), 258-274. doi: 10.1016/j.jecp.2011.02.016
https://doi.org/10.1016/j.jecp.2011.02.0...
). Além disso, alguns estudos não mencionam a realização de um treino prévio ao início do teste propriamente dito, ou o tempo de exposição da imagem. Por fim, deve-se destacar que algumas tarefas podem não ter conseguido capturar diferenças mais sutis do reconhecimento de emoções faciais, já que não utilizaram variação de intensidade, ou se limitaram a apenas imagens estáticas. Ainda diferentes resultados podem ter sido encontrados devido à utilização de diferentes estímulos na mesma tarefa ou até mesmo pelo uso de diferentes tarefas para acessar a habilidade de reconhecimento de expressões faciais emocionais.

No que diz respeito aos delineamentos, observa-se uma predominância de estudos transversais, com amostras pequenas, sendo que poucos investigaram a faixa etária exclusiva da pré-adolescência. Considerando que a habilidade de reconhecimento de expressões emocionais faciais se desenvolve até a vida adulta, parece importante que sejam realizados mais estudos longitudinais e que também sejam investigadas as competências socioemocionais em diferentes fases do desenvolvimento infanto-juvenil. Além disso, não foram encontrados estudos que avaliassem diferentes configurações familiares, tais como famílias monoparentais devido a divórcio ou falecimento, por exemplo, e famílias homossexuais. O estudo dessas diferentes configurações pode auxiliar na identificação dos aspectos nucleares que subjazem a relação entre suporte parental e reconhecimento de expressões faciais, ajudando a corroborar a hipótese de que esses aspectos estão mais diretamente relacionados à qualidade do vínculo afetivo do que a um estilo de configuração familiar em particular. Por fim, é notável a falta de estudos com amostras brasileiras ou sul americanas.

Considerações finais

Esta revisão sugere que variáveis relacionadas ao suporte parental podem influenciar a capacidade dos filhos de reconhecer expressões faciais emocionais. No entanto, salienta-se que existem inconsistências nos resultados, de modo que essa é uma área que carece de mais investigações. Em termos metodológicos, há populações e subgrupos que precisam ser mais investigados, como a fase da pré-adolescência, bem como crianças e jovens de culturas e configurações familiares diversificadas, incluindo as brasileiras. No caso de populações brasileiras, em que existe uma grande diversidade de perfis sociodemográficos, tais como diferentes níveis de exposição a adversidades, de escolaridade e de QI; o papel moderador dessas variáveis pode ser especialmente relevante para ampliar o entendimento das variáveis que interferem na relação entre suporte parental e competência emocional. Além disso, é importante que a programação experimental das tarefas leve em consideração a distribuição do sexo, a cultura e raça, e a idade das faces. Também é crucial que as especificidades experimentais sejam detalhadas, como a realização de treino, número de faces para cada emoção, tempo de exposição das faces e possíveis intensidades das emoções, para que os resultados possam ser ponderados e contrastados do ponto de vista metodológico.

Atualmente, o treinamento de habilidades de reconhecimento de emoções configura como um dos objetivos centrais de programas socioemocionais voltados a crianças e jovens, bem como de intervenções psicoterapêuticas para esta população (Izard, 2002Izard, C. E. (2002). Translating emotion theory and research into preventive interventions. Psychological Bulletin, 128(5), 796-824. doi: 10.1037//0033-2909.128.5.796
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). Esta revisão apoia a importância destas intervenções psicológicas e aponta para a necessidade de que o treinamento de pais compreenda um dos focos destes programas e psicoterapias, e/ou que sejam desenvolvidos treinamentos especificamente voltados aos pais, levando em consideração as suas especificidades culturais.

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    Referências usadas na revisão de literatura

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    29 Out 2018
  • Aceito
    14 Mar 2022
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