BOOKNOTES/NOTAS SOBRE LIVROS
DComputational Psycholinguistics. An Interdisciplinary Approach to the Study of Language por Matthew W. CROCKER, 1996 Dordrecht, Kluwer Academic Press. páginas: xii + 246. Preços-Hardback: US$108,00 ISBN: 0-7923-3802-2. Paperback: US$56,00 ISBN: 0-7923-3806-5.
A inscrição da linguagem entre as faculdades psicológicas faz parte, desde muito, do projeto epistemológico de Chomksy para a Lingüística. Essa idéia foi explorada por Jerry Fodor na sua proposta de modularidade da mente, na qual os módulos lingüísticos são objeto privilegiado. Por fim, tem crescido o emprego do computador como ferramenta de investigação da linguagem natural e lugar de simulação da arquitetura da mente, a despeito do conflito permanente de pontos de vista que cerca esse emprego. Em Computational Psycholinguistics de Matthew Crocker, essas idéias se consubstanciam no projeto de desenvolvimento de uma teoria da performance, numa abordagem que estabelece um novo patamar, mais sofisticado e mais específico, para essa corrente dos estudos lingüístico - cognitivos.
O leitor brasileiro corre o risco de ser confundido pelo título do livro. O que se pratica no Brasil sob o rótulo de `psicolingüística' raramente está associado aos estudos cognitivos - ao contrário, muito freqüentemente quer se distanciar deles. A proposta de Crocker não está voltada à aquisição da linguagem ou ao estudo de processos de construção de conceitos ou símbolos. Ela não envolve" sujeitos", nem faz referência às relações desses sujeitos com o "mundo exterior". Ao contrário, diz respeito essencialmente à arquitetura da mente e às operações lingüísticas que se realizam sob essa arquitetura.
O projeto de Crocker é reconstruir por caminhos lógicos (mais do que empíricos) o que ele chama de HSPM, acrônimo em inglês de `mecanismo humano de processamento de sentenças', um dispositivo mental voltado para a interpretação e compreensão de sentenças. A centralidade da sintaxe no desenho do HSPM assinala a filiação chomskiana do projeto, que, além da Lingüística, assume a discussão nos termos da Psicologia Cognitiva e da Lingüística Computacional.
No debate sobre arquitetura da mente que acontece no âmbito da Psicolingüística cognitiva, Crocker assume a posição modularista, para a qual existe um processador lingüístico específico, e rejeita a posição interacionista, para a qual o processamento lingüístico é indistingüível de outros processos não - lingüísticos em meio aos quais ele acontece. (Vale observar que interacionista aqui nada tem a ver com interação sujeito - ambiente ou entre sujeitos, mas com interação entre funções mentais.) É um ponto de vista assumidamente contra a corrente, já que nesse momento prevalecem as abordagens conexionistas, que procuram fazer uma emulação computacional do cérebro e incorporar diretamente o comportamento interativo das redes neurais aos modelos de processamento lingüístico.
Crocker põe em dúvida a própria economia funcional a que os modelos conexionistas afirmam antender. Para ele, uma rede generalizada e sem limites, com acesso concomitante a todo tipo de informação, não poderia ser tão econômica - e portanto tão eficiente - quanto uma estrutura modular que restringe o tipo de informação processado em cada instância ou módulo. Crocker faz uma concessão ao interacionismo ao reconhecer a natureza incremental do processamento lingüístico. Porém, ao contrário dos conexionistas, ele incorpora a incrementalidade à modularidade ao invés de postulá-la como propriedade diluidora da especificidade dos processos mentais.
Embora não descuide do aspecto de economia funcional - e, portanto, eficiência computacional - da arquitetura da mente, Crocker centra sua crítica ao interacionismo na sua falta de fundamentação lingüística e na ausência de um modelo teórico lingüístico em que se baseie.
A filiação chomskiana de Crocker é uma posição rara entre lingüistas que optam por abordagens computacionais, até porque Chomsky recusa a validade do emprego de experimentos computacionais como instrumento de avaliação de hipóteses teóricas. As objeções de Chomksy são razoáveis: as razões pelas quais uma determinada implementação computacional funciona ou falha não tem necessariamente nenhuma correspondência com a pertinência da hipótese lingüística proposta. Crocker considera que essas objeções seriam pertinentes para o problema da competência lingüística, mas não para o da performance lingüística. Uma teoria da competência descreve o que acontece (isto é, que operações integram o conhecimento lingüístico), mas não como acontece (isto é, como são os processos que executam essas operações), o que seria o papel de uma teoria da performance. Crocker chama a atenção para o fato de que há necessariamente um aspecto procedural implicado na operação com o conhecimento lingüístico. Cabe explicitar este aspecto, até porque, para uma determinada descrição desse conhecimento (como a de Chomsky, por exemplo), existem inúmeros percursos procedimentais possíveis. O sentido de se fazer uma implementação computacional é avaliar a pertinência das hipóteses sobre estes percursos.
Crocker é muito cuidadoso no estabelecimento de princípios que um programa de computador deve incorporar para se tornar legitimamente reconhecível com instância empírica da linguagem natural. Ele batiza sua abordagem computacional de Principle-Based Parsing, isto é "fatiamento fundamentado em princípios", em oposição a abordagens lingüístico-computacionais ad hoc, nas quais a primazia dos critérios de eficiência se impõe em detrimento da fidelidade a um modelo de análise lingüística. Os princípios a que Crocker se refere, não por acaso, correspondem aos da Teoria dos Princípios e Parâmetros (P&P) de Chomsky. Uma teoria da performance deve demonstrar como acontece que a linguagem seja fatiável e adqüirível, nos termos da Gramática Universal. Os termos em que Crocker propõe o desenvolvimento dessa teoria da performance estabelecem um patamar mais sofisticado e mais específico para a investigação da realidade das operações lingüísticas.
O livro presume que o leitor esteja razoavelmente familiarizado com a sintaxe chomskiana (mais especificamente com a GB, isto é, a Teoria da Regência e Ligação). Embora o livro não presuma conhecimentos de computação, algumas noções básicas de Prolog são úteis para a compreensão dos módulos propostos.
Matt Crocker iniciou seu trabalho na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, onde nasceu. Atualmente ele é membro do Centro de Ciência Cognitiva da Universidade de Edimburgo na Grã-Bretanha, uma instituição voltada para a investigação interdisciplinar de temas cognitivos - a linguagem natural inclusive e principalmente.
O livro de Crocker representa um momento maduro das ciências cognitivas, da gramática gerativa, das abordagens computacionais e da colaboração entre essas áreas. A proposta de constituição de uma Psico-lingüística Computacional permite uma genuína interdisciplinaridade, superando a artificialidade e o desconhecimento que ainda marca a relação entre elas.
Por/By Bruno Dallari
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Pedagogia da Positividade.
Comunicação Construtiva em Português por Francisco GOMES DE MATOS, 1996. páginas: 127. Recife, Editora da Universidade Federal de Pernambucom R$ 16,00
Este livro destina-se a todos aqueles que compartilham com o Professor Gomes de Matos, conhecido nas universidades brasileiras e no exterior pelo seu trabalho pioneiro na área de Lingüística Aplicada no nosso país, o princípio de que Comunicar bem em Português, é comunicar-se para o bem.
Os artigos que compõem o livro, escritos entre 1992 e 1995, apresentam uma proposta" humanizadora" e refletem seu interesse pelos "direitos lingüísticos". As várias questões discutidas pelo autor estão distribuídas em três partes; a primeira parte - Pedagogia da Positividade e Uso da Língua Portuguesa - resulta de "palestras e seminários para professores de português em várias cidades, principalmente no Recife". Nos 10 títulos que compõem esta secção, a positividade se faz presente; entre eles estão: Ler positivamente, Escrever positivamente, Interagir positivamente, Usar uma gramática positivamente.
O prof. Gomes de Matos nos informa na Introdução, que os ensaios que compreendem as outras partes - Comunicação Humanizadora (8) e Outras Percepções e Ações Positivas (11) - têm várias origens: são resultado de "interações com pessoas da família, colegas da UFPE e profissionais de outras áreas do saber e saber-fazer". Dentre as questões abordadas nestas partes destacam-se: Alfabetizar positivamente, Aprender Línguas positivamente (Parte II), Ver a cultura brasileira positivamente, Uma atitude positiva em face do mundo (Parte III). Na Conclusão - Como usar a língua portuguesa construtivamente - o autor mantém o enfoque adotado durante todo o livro e deixa sua mensagem: tudo o que pode ser pensado construtivamente pode ser comunicado positivamente
Por/by Maria Aparecida Caltabiano-Magalhães
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Dez 1998 -
Data do Fascículo
Fev 1997
