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As metáforas da produção: reflexões sobre o discurso de operárias

Metaphors of production: reflections on the discourse of workers

Resumos

Este artigo investiga o discurso de um grupo de trabalhadores falando sobre o jornal interno da empresa e focaliza as metáforas produzidas para expressar os conflitos que surgem da relação entre a situação no trabalho e o modo como ela é apresentada pelo jornal. O estudo está fundamentado em teorias que tratam metáfora como um fenômeno conceptual (Lakoff, G. & Johnson, M., 1980) e língua de um ponto de vista pragmático (Mey, J. 1987). Os dados foram analisados a partir de uma perspectiva qualitativa. Nosso objetivo foi observar as metáforas utilizadas pelos informantes para verificar como essas metáforas refletem as relações que se estabelecem em situação de trabalho.

metáforas; jornal de empresa; trabalho; conflitos


This paper investigates the discourse of a group of workers talking about the house organ of their enterprise and focuses on the metaphors they produce to express the conflicts arising out of the relationship between the situation at work and the way it is presented in the house organ.The study was grounded on theories that deal with metaphor as a conceptual phenomenon (Lakoff & Johnson, 1980.) and with language from a pragmatic point of view (Mey, 1987). The data was analysed from a qualitative perspective. Our aim is to look at the metaphors the workers use and to verify how these metaphors express the relationship established in situation at work.

metaphors; house organ; work; conflicts


As Metáforas da Produção: Reflexões Sobre o Discurso de Operárias

(Metaphors of production: Reflections on the discourse of workers)

Clemira CANOLLA

(Lael/Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

ABSTRACT: This paper investigates the discourse of a group of workers talking about the house organ of their enterprise and focuses on the metaphors they produce to express the conflicts arising out of the relationship between the situation at work and the way it is presented in the house organ.The study was grounded on theories that deal with metaphor as a conceptual phenomenon (Lakoff & Johnson, 1980.) and with language from a pragmatic point of view (Mey, 1987). The data was analysed from a qualitative perspective. Our aim is to look at the metaphors the workers use and to verify how these metaphors express the relationship established in situation at work.

KEY WORDS: metaphors, house organ, work, conflicts.

RESUMO: Este artigo investiga o discurso de um grupo de trabalhadores falando sobre o jornal interno da empresa e focaliza as metáforas produzidas para expressar os conflitos que surgem da relação entre a situação no trabalho e o modo como ela é apresentada pelo jornal. O estudo está fundamentado em teorias que tratam metáfora como um fenômeno conceptual (Lakoff, G. & Johnson, M., 1980) e língua de um ponto de vista pragmático (Mey, J. 1987). Os dados foram analisados a partir de uma perspectiva qualitativa. Nosso objetivo foi observar as metáforas utilizadas pelos informantes para verificar como essas metáforas refletem as relações que se estabelecem em situação de trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: metáforas, jornal de empresa, trabalho, conflitos.

Introdução

Em 1979, o número 54 da revista Langages é dedicado à metáfora e, na apresentação, Molino et al. afirmam que

"La rétorique est à la mode, mais plus encore sans doute la métaphore [...]" (Molino et al, 1979:5)1 1 "A retórica está na moda, mas mais ainda sem dúvida a metáfora [...]"

Referindo-se a esse fenômeno como uma indústria em expansão que teve sua pedra fundamental lançada por Max Black, em 1954, esses autores reconhecem como causa dessa expansão uma tomada de consciência:

"[...] le probléme central des sciences humaines est aujourd'hui le probléme de la signification. [...]" (:5)2 2 "[...] o problema central das ciências humanas é hoje o problema da significação. [...]"

Embora o "hoje" da citação acima esteja situado há vinte anos, constatamos que o problema da significação continua em pauta e, com ele, a metáfora.

Não podemos deixar de atribuir à publicação de Metaphors we live by (Lakoff & Johnson, 1980) uma parte da responsabilidade pelo aparecimento de diversos estudos focalizando a ocorrência de metáforas em diferentes tipos de discurso.

Nosso interesse em relação à metáfora sempre privilegiou textos literários e algumas pesquisas mostram que até mesmo leitores não especializados associam metáfora à literatura (Steen,, 1994).

Entretanto, a metáfora não é propriedade exclusiva de poetas. Se observarmos textos científicos, jornalísticos, técnicos e mesmo a fala cotidiana, vamos encontrar enunciados metafóricos que nem sempre são percebidos como tais pelos interlocutores.

Neste artigo, estaremos explorando a ocorrência de metáforas num discurso não-literário. Um discurso constituído a partir de relações estabelecidas em situação de trabalho.

Os detalhes a esse respeito serão fornecidos quando focalizarmos os procedimentos metodológicos desta pesquisa, contudo, adiantamos que nossa análise tem como base um corpus oral, resultante do registro de discussões entre operárias sobre o jornal destinado à comunicação interna em uma empresa multinacional norte-americana instalada na Grande São Paulo.

Nosso objetivo é observar a ocorrência de metáforas utilizadas pelos informantes para verificar de que modo essas metáforas refletem as relações que se estabelecem em situação de trabalho.

Referencial teórico

Um dos problemas que se manifestam sempre que se pretende tratar da metáfora é sua definição enquanto fenômeno lingüístico. A maioria dos teóricos não deixa de fazer referência à retórica clássica e aí o problema já se colocava, uma vez que Aristóteles fala em metáfora tanto na Arte Retórica quanto na Arte Poética e, desse modo, o conceito de metáfora apresenta-se amplo, justificando a diversidade de enunciados de diferentes tipos que são ditos metafóricos.

"Dès ARISTOTE, la métaphore se trouve donc à la croisée de deux chemins, menant, l'un vers une philosophie de la connaissance et des opérations de l'esprit, l'autre vers l'art oratoire ou poétique, et la critique littéraire. Schématiquement, dans l'Antiquité grecque d'après ARISTOTE, les stoïciens explorent la première direction et les grammariens hellénistiques la seconde." (Molino et al, 1979:8)3 3 "A partir de Aristóteles, a metáfora encontra-se então na encruzilhada entre dois caminhos, levando, um em direção a uma filosofia do conhecimento e às operações mentais, o outro em direção à arte oratória ou poética, e à crítica literária. Esquematicamente, na Antiguidade grega segundo ARISTÓTELES, os estóicos exploram a primeira direção e os gramáticos helenistas a segunda."

Constatamos, porém, que a metáfora tem sido tratada há mais de dois milênios como um fenômeno lingüístico, sem valor cognitivo, fato esse que trouxe algumas conseqüências importantes para a pesquisa envolvendo enunciados metafóricos.

"Ela é considerada um simples ornamento, que não traz nenhuma informação nova. Ela é um desvio da linguagem usual e própria de linguagens especiais, como a poética e persuasiva, enquanto o literal é próprio da linguagem da ciência, porque não é ambíguo: é claro, distinto e preciso. Assim, na visão do racionalismo aristotélico e cartesiano, a oposição literal/metafórico é muito forte. A ciência se faz com a razão e o literal, enquanto a poesia se faz com a imaginação e a metáfora." (Zanotto, 1996:211)

A partir dos anos 70, essa concepção da metáfora que se baseia no racionalismo aristotélico e cartesiano tem sido contestada e um grande número de pesquisas empíricas vem sendo desenvolvido com o objetivo de reforçar uma nova visão desse fenômeno, destacando seu emprego não apenas na linguagem poética, mas nas mais diferentes manifestações da linguagem.

"Mas o resultado mais importante dessas pesquisas foi a descoberta do seu valor cognitivo: ela não é mais considerada um simples ornamento lingüístico ou uma mera figura de linguagem, mas sim um processo cognitivo que tem um papel heurístico nas mudanças conceituais (mais evidentes no caso das metáforas novas)." (Zanotto, 1995:243)

Não vamos nos deter num relato minucioso das diferentes tentativas feitas para definir e classificar a metáfora, no entanto, não deixaremos de apresentar, nós também, uma definição desse fenômeno, necessidade essa que nos parece básica para permitir a análise dos dados.

Relembramos sinteticamente três teorias:

• de substituição: a metáfora é usada para substituir uma expressão literal equivalente;

• de comparação: o termo empregado metaforicamente poderia ser substituído pelo termo ao qual estaria sendo comparado com base na similaridade existente entre ambos;

• de interação: a metáfora não pode ser vista como uma simples comparação abreviada, trata-se da associação entre dois termos que entram em interação e a substituição do termo explícito pelo implícito não manteria o mesmo sentido do enunciado, pois, segundo Richards (1936, apud Henry, 1971), a modificação que o termo expresso traz para o termo implícito está mais localizada no trabalho de suas dessemelhanças do que no de suas semelhanças.

Analisando essas três teorias, Max Black (1962) chama atenção para a diversidade dos enunciados metafóricos e, embora manifeste-se favorável às proposições dos interacionistas, afirma que há certos tipos de metáforas que podem ser analisadas com base nas teorias de substituição ou de comparação, pois o processo de compreensão é finalizado sem grandes dificuldades ou conflitos.

"It would be more illuminating in some of these cases to say that the metaphor creates the similarity than to say that it formulates some similarity antecedently existing." (Black, M., 1962:37)

"And such a deviation from current uses of the word "metaphor" would leave us without a convenient label for the more trivial cases. Now it is in just such trivial cases that "substitution" and "comparison" views sometimes seem nearer the mark than "interaction" views. The point might be met by classifying metaphors as instances of substitution, comparison, or interaction. Only the last kind are of importance in philosophy." (:45)4 4 "Seria mais esclarecedor em alguns destes casos dizer que a metáfora cria a similaridade do que dizer que ela formula uma similaridade previamente existente." "[...] E um tal desvio dos usos correntes da palavra 'metáfora' deixar-nos-ia sem um rótulo conveniente para os casos mais triviais. Agora é exatamente nos casos mais triviais que as visões de 'substituição' e 'comparação' algumas vezes parecem mais próximas do alvo do que as visões de 'interação'. O ponto deveria ser classificar metáforas como instâncias de substituição, comparação, ou interação. Apenas o último tipo tem importância na filosofia."

As considerações de Max Black, bastante pertinentes para avançar na discussão do problema, apresentam-se, entretanto, fundamentadas na dicotomia literal/metafórico.

Registraram-se já alguns debates polêmicos para esclarecer as bases dessa dicotomia (cf. Vereza, 1998; Gibb, 1994; Dascal, 1987). Algumas vezes, porém, substituíram-se apenas os nomes dos dois pólos, sem levar em consideração que existe uma gradação entre eles e que o grau maior ou menor de dificuldade na compreensão da metáfora não depende do enunciado em si, mas de seu contexto de uso em situações concretas de leitura ou de comunicação.

Sem deter-se na distinção literal/metafórico, Lakoff & Johnson (1980) cunharam o termo metáfora conceptual (ou conceito metafórico) para fazer referência a conceitos que são organizados metaforicamente e cujos traços são encontrados em expressões lingüísticas da fala cotidiana que não são, em geral, percebidas como metáforas.

Segundo esses autores, o corpo é uma referência a partir da qual entramos em relação com o mundo exterior e, com base nessa relação, organizamos conceitos coerentes com a cultura na qual estamos inseridos.

A partir dessa concepção, foi desenvolvida uma terminologia para falar desses conceitos metafóricos: metáfora orientacional, metáfora ontológica, metáfora "container".

Na cultura ocidental, particularmente na norte-americana, que é a referência dos autores em questão, o conceito down, é associado a situações negativas, em contraposição ao conceito up, associado a situações positivas.

Se alguém está deprimido dizemos que é preciso fazer alguma coisa para "levantar o ânimo". Se um grupo de pessoas atingiu um objetivo com sucesso, podemos dizer que "o nível do grupo está alto". Esses são exemplos, bastante simples, do que os autores chamam de metáfora orientacional.

Essa idéia de orientação no espaço a partir do corpo vai desenvolver-se em associação com o conceito de limites.

"There are few instincts more basic than territoriality" (Lakoff & Johnson, 1980:29)5 5 "Há poucos instintos humanos mais básicos do que territorialidade."

Deriva daí outro conceito importante nessa teoria, o de metáforas ontológicas, que nos permitiriam entender elementos de um domínio abstrado em termos de substâncias ou entidades concretas. Essas substâncias ou entidades apresentam também fronteiras e podem ser vistas como "containers".

Desse modo, podemos falar de aspectos abstratos do ambiente social e cultural como se fossem substâncias ou entidades concretas, que têm limites, fronteiras. Esse tipo de estrutura conceptual metafórica permitiria uma organização mental coerente com a sócio-cultural.

"The concept is metaphorically structured, the activity is metaphorically structured, and, consequentely, the language is metaphorically structured." (:5)

"Understanding our experiences in terms of objects and substances allows us to pick out parts of our experience and treat them as discrete entities or substances of a uniform kind." (:25)6 6 "O conceito é metaforicamente estruturado; a atividade é metaforicamente estruturada e, conseqüentemente, a linguagem é metaforicamente estruturada." " Entender nossas experiências em termos de objetos e substâncias permite-nos discernir partes de nossa experiência e tratá-las como entidades distintas ou substâncias de um tipo uniforme."

A personificação é tratada por esses autores como um tipo de metáfora, pois a concepção de metáfora ontológica é empregada também para as situações em que entidades não humanas são especificadas como se fossem pessoas.

"This allows us to comprehend a wide variety of experiences with nonhuman entities in terms of human motivations, characteristics, and activities. Here are some examples:

His theory explained to me the behavior of chickens raised in factories.

[...]

Inflation is eating up our profits." (:33)7 7 " Isto nos permite compreender uma ampla variedade de experiências com entidades não humanas em termos de motivações, características e atividades humanas. Aqui estão alguns exemplos. Sua teoria explicou-me o comportamento de galinhas criadas em fábricas. [...] A inflação está comendo nossos lucros. "

Sem descartar as proposições de Lakoff & Johnson (1980), consideramos pertinente também o tratamento sugerido por Danon-Boileau (1987), que leva em consideração a dinânica de compreensão da figura.

Esse autor propõe que na metáfora (e também na metonímia) temos dois termos postos em relação. Um deles é o figurante (pertence ao enunciado) o outro, o figurado (poderia ocupar o lugar do primeiro no enunciado).

No caso da metáfora, a relação não é pré-existente à figura e, por isso, não pode ser enunciada. O autor desenvolve então o conceito de figurado-matriz:

"[...] "mot potentiel" idéal qui répondrait à l'ensemble des contraintes sémantiques et syntaxiques du contexte où s'inscrit le figurant, sans laisser rien échapper du "sens" contenu dans ce figurant lui-même" (Danon-Boileau, 1987:68).8 8 " [...] 'palavra potencial' ideal que responderia ao conjunto de restrições semânticas e sintáticas do contexto onde se inscreve o figurante, sem deixar escapar nada do 'sentido' contido nesse mesmo figurante." Aspas nos original.

O figurado-matriz é a matriz dos traços que representariam as restrições definidas pelo fragmento do enunciado que é completado pela metáfora, mas não corresponde a um figurado-palavra e não é possível reconstituir a relação. Quando existe uma relação prévia, ela foi estabilizada pelo uso e vai ser expressa por um ser como, desse modo, o enunciado metafórico só pode ser reconstruído com o recurso a uma outra figura, a comparação.

Embora a metáfora não possa ser definida como a simples abreviação de uma comparação, concordamos com Danon-Boileau quando afirma que a relação que a metáfora estabelece entre dois domínios não é pré-existente e só pode ser reconstituída (quando isso é possível) com recurso à comparação (figura de pensamento).

Partindo da concepção de Lakoff & Johnson (1980), definimos metáfora como uma figura que explora a analogia entre domínios conceptuais diferentes. Quando se faz, através de um enunciado metafórico, a associação entre esses domínios, cria-se uma tensão que gera um conceito novo. Poderíamos falar então em metáfora viva.

Entretanto, o emprego repetido desse enunciado reduz a tensão inicial e o conceito novo pode estabilizar-se de tal modo que sua ativação se faz sem que se manifeste o processo de analogia entre os domínios que foram aproximados para sua criação. Teríamos então as chamadas metáforas mortas.

Esse tipo de metáfora passa a ser um lugar comum que pode ser empregado para reforçar conceitos estabilizados e pode apresentar uma força argumentativa de reiteração, pois sua interpretação não levaria a uma reflexão sobre os conceitos postos em relação.

Já no caso das metáforas vivas, o figurante pode ativar um programa de busca, mas é um programa contínuo, já que a palavra que se busca não é encontrada.

"En d'autres termes, dans la métaphore, le figurant et le figuré-matrice définissent un "programme de recherche" du figuré adéquat. Mais ce programme demeure constamment en cours, puisque rien ne permet de stipuler de relation stable entre le figurant et un mot susceptible d'incarner le figuré." (Danon-Boileau 1987:71)9 9 "Em outros termos, na metáfora, o figurante e o figurado-matriz definem um "programa de busca" do figurado adequado. Mas esse programa permanece constantemente em curso, uma vez que nada permite estipular a relação estável entre o figurante e uma palavra susceptível de encarnar o figurado."

Isso pode levar a crer que a escolha entre a utilização de metáforas mortas ou vivas resulta em diferentes processos de compreensão. Ou seja, caso o locutor queira permitir uma reflexão a respeito do enunciado, a metáfora viva seria mais adequada; por outro lado, caso queira usar o enunciado como um argumento para reiterar um conceito, a metáfora morta funcionaria melhor.

Contudo, essa é uma visão redutora do processo de comunicação que remete à crença na transparência da linguagem, crença essa que vem sendo criticada já há alguns anos por diversos estudos (Reddy, 1979, entre outros).

Segundo Mey (1987), ainda perdura o mito do poeta e do camponês a propósito do processo de comunicação. Com base nesse mito, acredita-se que um poeta deve falar como um camponês para ser compreendido por um camponês.

"and what he is talking about is what he, the poet, decides on as suitable material for conversation. A conversation, moreover, that he defines as suitable for a peasant." (Mey, 1987:283)10 10 "E o que ele está dizendo é o que ele, o poeta, decide ser uma material desejável para uma conversação. Uma conversação, além do mais, que ele define como desejável para um camponês."

Esse mito coloca nas mãos do locutor um poder que na verdade ele nem sempre possui, pois sabemos que o processo de comunicação é complexo e que a significação é construída na interação entre os interlocutores, num dado contexto, sob condições que apresentam diversas restrições, algumas pré-existentes à situação e outras que se instauram durante a atividade.

Consideramos que uma metáfora pode ser utilizada por um grupo que partilha os mesmos conhecimentos e, nesse caso, não trazer informação nova, mas se os interlocutores apresentam assimetria em relação a conhecimentos lingüísticos, sociais ou culturais, o enunciado metafórico pode ativar a interação entre os domínios por ele aproximados e, desse modo, levar a interpretações diferentes das que foram planejadas pelo locutor. Ou seja, uma metáfora pode ser morta ou viva, dependendo da situação de interação e, portanto, nem sempre é possível ao locutor prever os efeitos que o emprego de uma metáfora pode desencadear durante o processo de comunicação.

Para nossa análise dos dados, estaremos utilizando a terminologia desenvolvida por Lakoff & Johnson, M. (1980) pois ela nos parece eficiente para lidar com conceitos estabilizados que supomos serem importantes nas atividade em situação de trabalho.

Utilizaremos também a terminologia proposta por Danon-Boileau, expandindo por nossa conta seu uso, uma vez que o autor trata apenas de enunciados metafóricos que apresentam "ruptura"11 11 Usamos o termo ruptura entre aspas por não concordarmos que a metáfora constitui uma verdadeira ruptura, desvio ou anomalia lingüística. sintático-semântica no nível da frase. Estaremos focalizando a metáfora também no nível da frase, mas nossa unidade de análise será maior, pois temos um corpus oral, constituído na interação entre as informantes e supomos que poderemos encontrar enunciados que se apresentem como metafóricos a partir de uma perspectiva pragmática, portanto, não podemos nos restringir apenas a questões sintático-semânticas.

Metodologia

A metodologia da coleta foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores envolvidos num trabalho global de análise do jornal da empresa, visando propor ao seu conselho editorial modificações que pudessem permitir um interesse maior por parte do público alvo, os operários.

O conselho editorial é constituído por funcionários que se encontram num nível hierárquico médio na empresa, cada um representando um setor. A atividade junto ao jornal é mais uma que se soma às que normalmente são a eles atribuídas. Sua função, enquanto membros do conselho, é coletar junto aos trabalhadores informações que os mesmos gostariam de ver veiculadas no jornal e, periodicamente, realizar reuniões para discussão a respeito das reportagens que serão publicadas. Há um funcionário de nível hierárquico superior a eles que os orienta a respeito de temas prioritários a serem divulgados. Quem se ocupa da redação e edição do jornal é uma jornalista contratada pela empresa.

O conselho editorial havia realizado uma enquete junto aos funcionários, solicitando uma avaliação do jornal e sugestões para possíveis mudanças. Foram realizadas entrevistas com os membros do conselho, para que os pesquisadores pudessem trazer uma contribuição mais efetiva. Tanto a enquete, quanto as entrevistas e o próprio jornal foram objeto de análise da pesquisa12 12 Este trabalho é parte do resultado da pesquisa desenvolvida através de um acordo de cooperação bilateral entre o Brasil e a França – CAPES-COFECUB – "Atividades de linguagem em situação de trabalho" coordenado pela Profª Drª Maria Cecília Pérez de Souza e Silva (vide the ESPecialist 19, nº especial. .

Nas entrevistas com o conselho editorial e no jornal, observamos um discurso que se referia à empresa como um grupo harmonioso em torno do qual todos deveriam estar unidos. Por outro lado, a análise mostrou que o jornal não parecia ser dirigido apenas aos trabalhadores da empresa, mas também a outros possíveis leitores, como as autoridades políticas e as empresas concorrentes, por exemplo.

Após reuniões com o conselho editorial, definiu-se a necessidade de fazer uma pesquisa mais concreta a respeito da receptividade do jornal junto ao grupo de trabalhadores mais numeroso dentro da empresa que é constituído por operários de "chão de fábrica"13 13 Temos na expressão "chão de fábrica" uma metáfora que aparece com freqüência nas entrevistas com os membros do conselho editorial para fazer referência aos operários, entretanto, ela não aprece no discurso dos operários. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de os operário rejeitarem de certa forma as expressões calcadas no inglês e esse parece ser o caso de "chão de fábrica" do inglês shopfloor. , esses eram, segundo o conselho, o público que o jornal deveria atingir. Essa última etapa da pesquisa é a que estaremos detalhando aqui.

Informantes

Segundo o planejamento feito pelos pesquisadores, os operários deveriam ser convidados para participar de reuniões em que se discutiria o jornal. Formariam três grupos, cada um representativo de um turno de trabalho. Estiveram presentes em cada grupo sempre duas pesquisadoras, identificadas como E1 e E2.

Neste artigo, estaremos focalizando especificamente um desses grupos, pois participamos pessoalmente da coleta e, comparando esses dados com os que foram obtidos nos dois outros grupos, verificamos que o discurso dessas informantes apresenta um número consideravelmente maior de metáforas.

Essa coleta envolveu quatro operárias do terceiro turno, que são identificadas nos dados como A, B, C e D. As trabalhadoras têm dez, vinte e dois, dezessete e dez anos de empresa respectivamente. Esse turno funciona das l5 às 22 horas.

A empresa esclareceu que todos os funcionários têm nível de escolaridade equivalente ao segundo grau, mas não forneceu mais detalhes, embora o grupo de pesquisadores tenha solicitado. Algumas informações a respeito de salário e condições de trabalho, por exemplo, foram ventiladas durante a discussão, entretanto, são informações muito esparsas que não permitem uma caracterização mais minuciosa das informantes. Sabemos que essas dificuldades poderiam ter sido contornadas com a utilização de métodos etnográficos e não descartamos a importância desses métodos, entretanto, nesta pesquisa em particular, não foi possível utilizá-los devido à falta de suporte financeiro para um retorno ao campo.

No momento da realização da coleta, percebemos que o convite para participar da discussão não havia sido feito como solicitado pelos pesquisadores. As trabalhadoras não sabiam exatamente do que se tratava e algumas foram avisadas apenas poucos momentos antes da atividade. Registros dessa situação foram gravados e as informantes declararam que há, normalmente, dificuldade em liberá-las em horário de trabalho. Isso provocou a princípio algum constrangimento, entretanto, o problema foi superado.

Material

Exemplares ou cópias de exemplares do jornal, que se apresenta como "Informativo dos funcionários da (XXX)"14 14 Convencionamos esse símbolo para substituir o nome da empresa ou a sigla que a identificaria. . O jornal é mensal, a qualidade do papel é boa, do tipo que se usa em revistas e, após as modificações que foram feitas em virtude da enquete realizada pelo conselho editorial, apresenta-se colorido na capa, contracapa e nas páginas centrais.

Num total de 12 páginas, os textos e fotos são distribuídos nas seguintes seções: Editorial, Homenagem (funcionários que completam no mês 10, 15 e 20 anos de empresa), Acontece, Qualidade & Tecnologia, Na Empresa, Especial (ocupa as duas páginas centrais), (XXX) em dia, Mercado, Perfil (uma página com foto e perfil de funcionários), Cultura & Lazer (uma página com textos curtos e informações diversas) e Esportes (última página). O Editorial é assinado pelo Diretor Presidente da empresa e as seções cujos temas não especificamos tratam de projetos e empreendimentos, de festas promovidas para os funcionários e de campanhas assistencias em que a colaboração dos trabalhadores foi solicitada.

Tarefa

As informantes foram recebidas em salas que, na empresa, são utilizadas para reuniões e treinamento. Os gravadores foram acionados logo que o grupo se reuniu, houve uma apresentação das pesquisadoras e das operárias e, em seguida, a tarefa foi explicada.

Essa tarefa era discutir o jornal, pensando na possibilidade de criar um concorrente que visasse atingir os colegas das informantes. Elas deveriam pensar portanto não apenas em suas próprias opiniões, mas também em sugestões que eventualmente já tivessem ouvido de seus colegas que não estavam presentes. As pesquisadoras solicitaram que uma das informantes ficasse encarregada de coordenar a discussão, fazendo anotações e solicitando a participação das demais, uma vez que elas ficariam sozinhas durante a tarefa.

A elas foi garantido sigilo, principalmente no que se refere à audição das fitas e à identificação de seus nomes. Tinham também à sua disposição papel e material para escrever, caso resolvessem pôr em prática algo referente à disposição gráfica ou apresentação do jornal. Após a fase de apresentação, as pesquisadoras retiraram-se e as informantes tiveram de 30 a 50 minutos para a discussão. Em seguida, as pesquisadoras voltaram e fizeram um retrospecto da discussão, sugerindo pontos do jornal que poderiam não ter sido focalizados pelas informantes, tais como: manchetes, tamanho de letra, tamanho de texto, etc.

Análise dos dados

Fizemos uma primeira leitura dos dados e observamos que se registravam metáforas para caracterizar aspectos da situação de trabalho que não são apresentados pelo jornal e que não foram abordados nas entrevistas com o conselho editorial.

No jornal, reiteram-se elementos lingüísticos para construir uma imagem que incentiva a união para atingir o sucesso dos projetos da empresa. Um dos recursos utilizados para esse fim é o emprego da sigla (XXX) como figurante de metáforas ontológicas, como mostram os exemplos abaixo:

• (XXX) é vencedora do Open Tênis.

• (XXX) define projeto para concorrer ao Customer Driven Quality Award (CDQA).

• Entreposto Industrial conclui nova estratégia da (XXX) para logística de materiais.

• (XXX) faz a alegria das crianças (e dos adultos).

Nas entrevistas com o conselho editorial, destacamos as seguintes metáforas:

• chão de fábrica, figurante que caracteriza os operários;

• família ou segunda casa, figurante que caracteriza o conjunto da empresa.

As informantes, entretanto, usam diferentes expressões metafóricas, com o emprego de vários figurantes para construir a oposição entre o conjunto dos operários que se encontram no mesmo nível hierárquico que elas e o grupo de funcionários que aparece no jornal. Utilizam também algumas metáforas para falar do trabalho e da comunicação interna na empresa, inclusive do jornal.

Após um levantamento detalhado das expressões metafóricas encontradas, organizamos nossa análise em quatro tópicos: 1) os operários, 2) outros funcionários, 3) o trabalho e 4) a comunicação. Em cada tópico, agruparemos os figurantes e acrescentaremos nossos comentários ilustrados por exemplos que aparecem no discurso das informantes.

1) os operários

• Figurantes: linha, linha de produção, produção, povão, que pega na massa, que pega no tijolo, fábrica, população da fábrica, população e montadoras

Nos exemplos abaixo, linha aparece no singular ou no plural para caracterizar os grupos que trabalham em diferentes atividades de produção de equipamentos.

D. explica como foi convidada para participar da discussão:

(1) D. foi meu chefe que me convidou ontem ... né? que ele falou que tinha que pegar uma menina da linha... aí ele foi e me pegou

Observamos, através desse exemplo, que na verdade não houve um convite para participação na atvidade, mas uma imposição, uma vez que o chefe da informante pegou uma menina da linha porque tinha de ir alguém.

C. começa a relatar a sugestão que uma colega sua havia feito para dar idéias para o jornal

(2) C. então... nesse caso aí a menina da linha sugeriu como é que a gente faz para ter mais acesso

A. sugere que o jornal traga matérias específicas sobre cada setor

(3) A. (divulgar áreas ... né?) algumas linhas... por exemplo se for um

semanal... olha cada semana eles podem divulgar duas áreas

Já no exemplo seguinte, D. parece estar usando linha como figurante para caracterizar todos os funcionários que trabalham nas mesmas condições que ela.

(4) D. eu acho que eles deveriam prestar mais atenção na gente também ... porque a gente tem muita coisa também boa ... ((risos)) só tem que trabalha na linha tem muita coisa que eles podem... eles... perdem muito em não prestar atenção na gente.

Nos exemplos (2), (3) e (4), observamos que essa metáfora passa a ser utilizada quando as informantes comentam e lamentam o fato de não se verem representadas no jornal, não apenas enquanto indivíduos, mas enquanto grupo menos privilegiado. Começam, desse modo, a construir uma divisão entre os funcionários privilegiados pelo jornal e os operários que trabalham na área de produção.

A produção aparece como figurante para o conjunto dos operários, a não ser quando vem composta com o figurante linha. Temos aí uma metáfora ontológica para produção, entidade abstrata que é concretizada e, às vezes, personificada.

(5) A. eles estão esquecendo um pouco a produção nesse jornal em si eu não sei... mas eu sempre achei que eles... alguma... alguma... uma coisa ou outra eles divulgam a produção é mais o pessoal mais da ( ) dos mensalistas.

Essa é uma das metáforas mais empregadas pelas informantes e, após o retorno das pesquisadoras, é retomada ainda várias vezes a fim de justificar a necessidade de divulgar certas informações no jornal, pois os operários não têm tempo para ler o que é veiculado pelos quadros de avisos, conforme vemos no recorte abaixo:

(6) A. porque geralmente que nem nós temos meia hora de janta nem todo mundo/ tem muita gente aí que tem tempo pra ficar até duas horas se precisar lendo o quadro... mas a produção em si ela não tem tempo

D. praticamente cem por cento né da produção

A. pra parar lá e ficar anotando quanto custa aquilo ali

O exemplo (6) mostra claramente que o figurante produção está caracterizando as pessoas que não têm tempo para ler os quadros de aviso e anotar informações. A produção, entidade abstrata, torna-se concreta, e recebe as mesmas características atribuídas àqueles que produzem e que são vistos como iguais pelas informantes, colocados em oposição a funcionários privilegiados: "tem muita gente aí que tem tempo pra ficar até duas horas se precisar lendo o quadro".

Também os figurantes que pega na massa, população da fábrica, fábrica, povão, e montadoras aparecem na construção dessa oposição a um grupo menor que entra no discurso das informantes através do pronome eles, indeterminado.

Essa oposição não é feita com base apenas nas metáforas, outros recursos lingüísticos, que não vamos focalizar especificamente, também são utilizados pelas informantes com esse objetivo e, desso modo, vão se juntando argumentos para justificar a necessidade de dar mais destaque e oferecer mais espaço aos operários no jornal.

Referindo-se à seção Perfil que apresenta fotos e informações a respeito de funcionários da empresa, as informantes fazem o seguinte comentário:

(7) A. o perfil ultimamente eles estão pegando muita gente só na lá de dentro né?

B. é eu acho que tem que partir mais pro povão

Mais uma vez, as operárias não se vêem no jornal e identificam-se ao povão para revelar suas críticas ao fato de apenas funcionários "lá de dentro" serem os privilegiados.

A informante D. sugere a publicação de receitas culinárias como assunto interessante que o jornal poderia trazer. B. concorda, usando como argumento que a maioria dos operários é constituída por mulheres e diz:

(8) B. a população da fábrica é mais mulher né você sabe que a gente mulher gosta muito de ( )

Essa metáfora vai aparecer novamente quando as informantes discutem a necessidade de informações sobre turismo serem veiculadas pelo jornal e, mais uma vez, coloca-se a situação de isolamento em que a população da fábrica se encontra.

(9) A. você sabe aí eles tem aí no setor de área de vendas de::: vendas de passagem aí... eles têm pacotes poderia anunciar pacotes né pacotes ( )

D. isso... cadê? ninguém sabe de pacotes

B. a fábrica não sabe a população da fábrica não sabe são poucas pessoas que sabem ... a própria população não sabe.

O figurante população da fábrica é trabalhado novamente pela mesma informante, que utiliza o figurante fábrica numa metáfora ontológica, depois reformula para população da fábrica e, em seguida, apenas população. Podemos perceber que os três figurantes são utilizados para caracterizar um mesmo figurado, ou seja, os operários que trabalham num ritmo intenso e não têm acesso à informação sobre pacotes turísticos que a empresa oferece aos funcionários. Dessa forma, as informantes justificam a necessidade de inclusão de notícias desse tipo no jornal, que pode ser levado para casa, onde os operários e sua família poderiam ler e, talvez, aproveitar alguma boa promoção.

Mesmo quando falam a respeito de reportagens institucionais que o jornal veicula, divulgando projetos da empresa, as informantes destacam a ausência de referências aos operários e, para isso, usam o figurante que pega na massa.

(10) A. é aquilo que eu falei aqueles que mexem com a (pequena) ( ) é da como se fala ((tosse)) trabalha no caso aí faz... bola a idéia tem a idéia

D. agora os outros que trabalham em cima que pega na massa

Após o retorno das pesquisadoras, no retrospecto, essa metáfora reaparece para explicar o figurante a produção, empregado por A., que justifica a necessidade de eliminar algumas matérias que não são tão importantes, ou que se repetem em vários exemplares do jornal.

(11) A. mas tem muitas coisas que pode ser eliminado e colocado mais um pouco sobre a produção

E1. hum hum

A. sobre ali o pessoal mesmo que pega na massa

A afirmação de que o jornal não focaliza os operários vai ser retomada ainda algumas vezes após o retorno das pesquisadoras e, para esclarecer seu ponto de vista, a informante A. utiliza uma outra metáfora que é, na verdade, uma variação do figurante que pega na massa.

(12) A. você inventou só que é eu que vou colocar na prática eu que vou pegar na massa

E2. hum hum

A. entendeu? então

C. (então vai aparecer quem só você) (eu não vou aparecer)

A. é tipo é tipo assim você faz o prédio mas eu que fui o engenheiro vai aparecer eu... não vai aparecer você que pegou no tijolo entendeu?

Pegar na massa é uma expressão do domínio conceptual do trabalho em construção de prédios que ouvimos com freqüência para fazer referência às pessoas que trabalham na prática, na execução de tarefas. A informante vai buscar no mesmo domínio outro figurante, pegar no tijolo, para reiterar a mesma crítica ao jornal que privilegia apenas os que trabalham com os projetos, deixando de lado os operários que os executam.

Reforçando o mesmo argumento, a informante A. utiliza o figurante montadoras para caracterizar o grupo que não aparece no jornal, mais uma vez identificado também através do figurante povão.

(13) A. é então eu acho que eles deveriam divulgar mais a área de produção... mais o povão né? como se diz assim divulgar mais ... tem gente ali que/ tem montadoras que têm idéias excelentes.

Essa metáfora aparece apenas uma vez, entretanto, pareceu-nos importante destacá-la porque a imprensa em geral utiliza o figurante montadoras para caracterizar as empresas multinacionais que produzem veículos. No entanto, no discurso da informante, a montadora é figurante que remete ao figurado operária. São operárias que trabalham como montadoras de rádios que têm idéias excelentes e seus nomes não aparecem no jornal da empresa. Interessante observar também que nesse enunciado a informante afirma que "montadoras têm idéias excelentes", ou seja, a contribuição das operárias não se limita apenas à execução dos projetos, pois, na hora da aplicação prática, elas contribuem também com idéias.

As metáforas são utilizadas com freqüência para caracterizar os operários, entretanto, os outros funcionários são indicados de forma mais vaga, caracterizados apenas por três metáforas. São elas que vamos focalizar no próximo tópico.

2) outros funcionários

• Figurantes: grande, escolhidos, bonitinhos.

As informantes usam o pronome "eles" ou expressões como "o pessoal lá de dentro", "da área administrativa", entre outras, para identificar os funcionários que aparecem no jornal. Reconhecem mesmo a necessidade que o jornal teria de focalizar esses funcionários, mas reafirmam a importância delas próprias dentro do conjunto e a diferença entre os que aparecem no jornal e o povão.

No exemplo (14), D. justifica a necessidade de um jornal semanal, argumentando que isso daria mais espaço para todos.

(14) D. mas é por isso que eu digo que seria o certo seria um jornal semanal... você teria muito mais chances e oportunidades... eles com um jornal por mês... você esperar trinta dias trinta e um dias pra esperar um jornal vai sair o quê vai sair o básico daqui de dentro... eles não vão deixar de colocar uma coisa assim que sirva pro pessoal grande pra colocar pro povão

Observamos nesse exemplo a informante afirmar que eles, os que fazem o jornal, não eliminariam reportagens que servem ao pessoal grande para abrir espaço para assuntos de interesse dela e de seus colegas. Desse modo, revela ter consciência a respeito da menor importância que a empresa atribui aos operários e isso é reforçado pelo figurante que ela escolhe para caracterizar os privilegiados pelo jornal. Eles são grandes e são mais importantes, mesmo não sendo a maioria.

Outros dois figurantes empregados para caracterizar os funcionários privilegiados e marcar a oposição em relação aos operários podem ser observados na seqüência abaixo:

(15) A. não nunca saiu nada é só mesmo ali falando sobre a fábrica sobre alGUNS funcionários

D. e olhe lá só os escolhidos né lá de dentro

A. é aquilo que eu falei aqueles que mexem com a (pequena) ( ) é da como se fala ((tosse)) trabalha no caso aí faz... bola a idéia tem a idéia

D. agora os outros que trabalham em cima que pega na massa oh como isso aqui mesmo oh veja bem isso aqui isso aqui eles põem avisos escreve um monte (traga) põem um monte de caixa traz isso ajuda o fulana ajuda o ciclano você traz você se mata de casa você traz para ajudar aquele que está necessitado sai o seu nome aqui?

C. não sai mesmo é uma vergonha

D. não sai seu nome não sai nada só os bonitinhos daqui de dentro né então foram lá levar ... quer dizer a gente traz as coisas a gente encaixota a gente põe lá dentro todo mundo na hora de pedir

Nesse trecho da discussão, a informante D. refere-se a uma reportagem do jornal focalizando uma campanha de coleta de donativos enviados a entidades assistenciais da região onde a indústria está instalada. Notamos aí que a oposição é marcada pelos figurantes escolhidos/bonitinhos, de um lado, e que pega na massa, de outro. No último turno do exemplo a informante identifica-se ao figurante que pega na massa, empregando a expressão "a gente" como sujeito dos verbos das ações em que os operários se envolveram para atender à convocação da campanha e fica clara sua crítica à reportagem que mostra nas fotos apenas os que foram levar os donativos.

Destacamos, entretanto, que a empresa não é o figurado dos figurantes escolhidos e bonitinhos e também não é designada pelo pronome eles. A empresa aparece explicitamente através do substantivo empresa mesmo, ou através do nome próprio (XXX). A sigla (XXX), no feminino, pela qual os membros do conselho editorial e o jornal referem-se à empresa aparece poucas vezes nas intervenções das informantes. Entretanto, no exemplo (16), utilizando a linguagem do jornal, a informante A. vai expressar o que ela gostaria de ter lido nessa reportagem como reconhecimento pelo empenho dos operários na campanha.

(16)B. e nem precisa sair o nome né

D. não nem precisa mas pelo menos

A. eu agradeço a a a (XXX) agradece todas as áreas tal tal tal

A metáfora ontológica que o jornal emprega habitualmente vai ser utilizada pela informante, contudo, se ela incorpora a metáfora ao seu discurso, faz isso de modo crítico, tentando mostrar a divisão entre a empresa e os funcionários ((XXX)/as áreas), divisão essa que o jornal tenta atenuar através dessa mesma metáfora, conforme mostramos no início de nossa análise.

3) o trabalho

• Figurantes: ferramenta, engatinhando, mesão

Diferentes projetos que a empresa está utilizando ou implantando vêm designados no jornal por siglas derivadas de expressões em inglês. As informantes declararam que inventam "apelidos" para esses projetos, pois têm dificuldade em memorizar as siglas. Infelizmente, nenhum desses "apelidos" foi explicitado na coleta, mas a informante A. emprega o figurante ferramenta como um termo genérico que vale para qualquer dessas siglas, como vemos no exemplo (17).

(17) A. agora ... eles estão estudando também... as reuniões os quadros de comunicação (+++) porque é o tal negócio... eu não sei... pode até ser que eu esteja errada... mas... eles... tudo bem... tá certo... esse pessoal... vamos supor... vamos vamos falar esse pessoal aqui... não não sei nem que se trata isso aqui (eu não li ainda) mas vamos supor... esse pessoal aqui... eles eram... eles eles...trabalham lá dentro... eles trabalham vamos supor com uma nova ferramenta que vai surgir... va-vamos colocar o SDWT... por exemplo... o pessoal lá dentro está trabalhando sobre isso... nós estamos tendo reuniões... nós estamos tendo treinamento... tudo isso... mas quem elabora somos nós

C. é na prática...

A. na prática somos nós... eles passam pela teoria deles e nós praticamos... certo? mas só quem sai no jornal são eles....

C. é então é isso que você tem que

A. é errado você não concorda comigo?

C. claro...

A. então eu acho que é que nem a SPTM... puxa vida... quantas pessoas eu mesmo cheguei a levar até pasta SPTM pra casa... a gente trabalha em cima... né? do SPTM tudo pra compreender melhor... se tornar a nível do grupo... é conscientizar todo mundo no que está fazendo tal... é uma ferramenta que vem lá de dentro certo? mas quem está trabalhando somos nós...

Trata-se de mais uma metáfora utilizada para criticar os artigos do jornal que privilegiam apenas o pessoal lá de dentro sem dar o mesmo destaque aos operários que usam a ferramenta.

Embora esse figurante apareça apenas nas intervenções da informante A., parece-nos que o figurado é claro para o grupo, pois não se manifestam mal entendidos a esse respeito durante a discussão.

Registramos também uma metáfora que reflete as dificuldades encontradas pelas informantes no processo de assimilação dessas novas ferramentas desenvolvidas pela empresa.

(18) A. [...] parabenizando o pessoal ou incentivando até mesmo incentivando eu não vou dizer parabenizando porque agora está todo mundo começando agora... então ninguém... está todo mundo engatinhando ainda... mas incentivando o pessoal mas não só divulgando SÓ quem deu a idéia literalmente quem-quem-quem trabalha com ela [...]

O figurante engatinhando revela a interação entre o domínio conceptual do ciclo vital e o de uma nova relação de trabalho que está sendo implantada na empresa e que visa à qualidade total. Trata-se de um plano de ação que deve envolver todo o conjunto da empresa e que vem sendo divulgado também através de reuniões e outros meios de comunicação interna.

Essa metáfora atribui características da criança aos operários que se defrontam com um novo desafio no trabalho. Uma criança que engatinha precisa de incentivo para desenvolver suas capacidades e andar. Aproximando-se metaforicamente da criança, as informantes justificam a necessidade de serem incentivadas pelo jornal que, como já vimos, privilegia apenas um grupo dentro da empresa.

Outra metáfora empregada para falar do trabalho é formulada com base no figurante mesão. Trata-se da situação de trabalhadores que foram afastados por problemas de saúde e, ao retornarem, são integrados em uma atividade especial, conforme nos explicou a informante D.

(19) D. hoje estou fazendo trinta e seis... bom... trabalho há dez anos e... eu trabalho no mesão

E1. mesão?

D. é... no mesão

E1. que que é o mesão?

D. o mesão é para quem tem problema de braço... eu me afastei há dois anos... fiquei dois anos afastada... voltei agora e estou no mesão

E1. anh... é outro tipo de atividade que você faz... então?

D. é... mas é uma atividade que é pra linha... só que é uma atividade... eu trabalho na linha do GEN três né? mas eu trabalho no mesão... é o serviço pra a linha... só que é serviço mais leve e serviço onde a gente pode:: eh pode ficar mais livre... entendeu? quer dizer... você não tem que ficar ali... você não tem que se prender ali... então... quer dizer... você tem mais espaço... você tem mais tempo.

Não vimos o local de trabalho e não sabemos exatamente como é a atividade, mas trabalhar no mesão é uma metáfora que traz, de forma sintética um figurado que nós, enquanto pesquisadoras de fora da empresa, não tivemos condição de construir. Para nós ficou o enigma, explicado de modo sucinto pela informante. Entretanto, para elas esse figurado parece muito claro. Eis aí uma metáfora que é ao mesmo tempo viva e morta, dependendo do grau de participação dos interlocutores na situação.

4) a comunicação

• Figurantes: carreta, linguagem do povo

A metáfora com o figurante carreta aparece no momento em que as informantes discutem a necessidade de excluir alguns artigos do jornal, para acrescentar as informações consideradas importantes para o povão. Há um momento de hesitação, pois seria necessário tirar informações importantes para a empresa enquanto instituição. Essa metáfora é usada como argumento pela informante que justifica a necessidade de fazer um jornal semanal, pois caso contrário, o jornal ficaria tão grande que não seria possível carregá-lo.

(20) D. isso de fatos quer dizer num-num semanal que tivesse porque num desse aqui iria precisar de uma carreta

Temos acima o único exemplo de metáfora que reflete a dificuldade que as informantes percebem para fazer o jornal e divulgar tudo que seria de interesse dos operários sem excluir o que interessa à empresa. Entretanto, essa dificuldade já havia se manifestado através de intervenções que não continham metáforas. Na verdade, elas sabem que seria difícil eliminar as matérias que são para o pessoal grande e veicular o que é de interesse do povão.

Para atender os interesses do povão, seria preciso mudar também a linguagem do jornal, como vemos no exemplo abaixo.

(21) A. mudaria as letras e resumia o assunto...

B. ( ) por muito faz muito

A. falar mais a linguagem do povo

Falar a linguagem do povo é uma metáfora de uso freqüente. Entretanto, se refletirmos a respeito do figurado que se constrói com base no figurante povão, podemos supor que a informante esteja se referindo a uma linguagem mais acessível a seus colegas e, ela mesma explica em seguida, são as expressões em inglês que dificultam a compreensão dos textos.

Questionada pelas pesquisadoras, ela e as demais componentes do grupo vão falar em termos de palavras mais simples, textos mais resumidos que facilitariam a leitura para a população da fábrica

Conclusões

Acreditamos que a análise da ocorrência de metáforas no discurso das operárias permitiu mostrar alguns conflitos presentes nas relações de trabalho. Um deles é o que se manifesta através das metáforas referentes ao trabalho. As relações dos operários com as ferramentas estão mudando e essas mudanças trazem um certo desequilíbrio, pois é preciso adaptar-se.

As dificuldades de adaptação mostram-se no discurso das informantes que dizem estar engatinhando e, através dessa metáfora, revelam sua insegurança a esse respeito.

Julgamos importante assinalar também a divisão que se manifesta entre o grupo ao qual pertencem as informantes (povão, produção, etc) e os funcionários privilegiados pelo jornal (escolhidos, bonitinhos). Um sintoma disso é que nossas informantes não se reconhecem como as "do chão de fábrica" e, por isso, não se auto-denominam através dessa metáfora.

Ao revelarem suas críticas, as operárias marcam suas manifestações através de enunciados metafóricos que contribuem para construir uma oposição entre os excluídos, de um lado, e os privilegiados, de outro. Desse modo, denunciam uma situação de desigualdade inerente à própria estrutura da empresa que, como todo sistema organizacional complexo, apresenta conflitos oriundos de suas relações com os indivíduos e com a sociedade.

O jornal tenta atenuar esses conflitos apresentando a empresa como um conjunto harmonioso, que vence desafios e supera dificuldades. Entretanto, nossos dados mostram que essa imagem de harmonia não corresponde à realidade enfrentada pelas operárias.

Isso nos leva a concluir que o jornal caracteriza-se como órgão de comunicação da empresa, mas não pode ser visto ao mesmo tempo como informativo dos funcionários.

Acreditamos, desse modo, ter mostrado que a metáfora é um recurso lingüístico de que se utilizam as informantes para lidar com conflitos presentes no ambiente de trabalho. Destacamos também que os enunciados metafóricos permitem elaborar conceitos abstratos e auxiliam a construir de forma mais clara o significado de oposições reais a respeito das quais nem sempre as informantes têm oportunidade de falar.

Considerações finais

Finalizando, parece-nos importante considerar alguns aspectos referentes ao conjunto dessa pesquisa.

Percebemos que, comparando as três coletas realizadas com o povão, duas delas apresentam características semelhantes, enquanto a terceira se diferencia um pouco mais.

As duas coletas realizadas com operários que trabalham durante o dia oferecem traços que nos permitiriam desenhar o mesmo tipo de posicionamente com relação ao trabalho, à empresa e ao jornal. Entre as duas coletas, escolhemos uma para nossa análise por termos privilegiado as metáforas como fenômeno lingüístico a partir do qual estaríamos verificando as relações já mencionadas.

Parece-nos que a atividade desenvolvida pelos trabalhadores do período noturno não tem as mesmas características que a do pessoal do diurno, desse modo, é possível que esses informantes vivam relações diferentes, talvez porque suas posições na hierarquia da empresa não sejam as mesmas.

Embora os dois grupos do diurno tenham mostrado mais semelhanças, ficamos com a interrogação a respeito do que teria causado a ocorrência de metáforas com maior freqüência numa das coletas do que na outra (pelo menos no que se refere aos conceitos que elas expressam, pois não nos detivemos na verificação de metáforas que manifestassem relações de outro tipo).

Lamentavelmente, tanto a questão a respeito da diferença entre o noturno e o diurno quanto à ocorrência de mais metáforas numa das coletas do que na outra não pode ser verificada com base no material de que dispomos para nossa análise e não podemos coletar mais dados uma vez que a empresa decidiu não prosseguir com o trabalho a respeito do jornal.

Aliás, esse tipo de pesquisa envolvendo empresa e universidade abre perspectivas curiosas, principalmente no que se refere às atividades de linguagem, uma vez que a própria relação entre as duas instituições (empresa/universidade) se faz através de uma série de marchas e contra-marchas que, sem dúvida, reuniriam um material de boa qualidade para a análise de conflitos institucionais.

Acreditamos que a empresa manifestou uma necessidade, a de que o jornal fosse lido pelos operários, entretanto, parece-nos que o problema não se colocava no jornal, mas no conteúdo veiculado por ele. Ou seja, talvez a empresa tivesse interesse em fazer com que os operários, através do jornal, tivessem mais informações a respeito das novas ferramentas que estão sendo desenvolvidas para o avanço em direção a uma nova realidade econômica. Entretanto, nem tudo pode ser informado pelo jornal, uma vez que o ele sai da empresa e pode ser lido pelas concorrentes.

Essa é apenas uma suposição que nem mesmo podemos configurar como hipótese devido à falta de dados concretos que nos permitam esclarecer sobre que bases ela teria sido formulada.

Acreditamos que maiores contribuições podem ser oferecidas pela pesquisa sobre as palavras no trabalho e consideramos que as dificuldades encontradas no percurso são elementos constitutivos do processo que devem ser levados em consideração, mesmo que seja apenas para apontar novos caminhos a percorrer ou novas maneiras de percorrê-los, usando aqui a metáfora da viagem, tão recorrente que acaba resvalando para o lugar comum.

(Recebido em agosto de 1999; Aceito em outubro de 1999)

  • BLACK, M. (1962) Models and Metaphors Studies in Language and Philosophy, Ithaca, NY, Cornnell University Press
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  • _____. (1995) Metáfora, cognição e ensino de leitura, D.E.L.T.A.,11, 2, (241-254)
  • 1
    "A retórica está na moda, mas mais ainda sem dúvida a metáfora [...]"
  • 2
    "[...] o problema central das ciências humanas é hoje o problema da significação. [...]"
  • 3
    "A partir de Aristóteles, a metáfora encontra-se então na encruzilhada entre dois caminhos, levando, um em direção a uma filosofia do conhecimento e às operações mentais, o outro em direção à arte oratória ou poética, e à crítica literária. Esquematicamente, na Antiguidade grega segundo ARISTÓTELES, os estóicos exploram a primeira direção e os gramáticos helenistas a segunda."
  • 4
    "Seria mais esclarecedor em alguns destes casos dizer que a metáfora cria a similaridade do que dizer que ela formula uma similaridade previamente existente."
    "[...] E um tal desvio dos usos correntes da palavra 'metáfora' deixar-nos-ia sem um rótulo conveniente para os casos mais triviais. Agora é exatamente nos casos mais triviais que as visões de 'substituição' e 'comparação' algumas vezes parecem mais próximas do alvo do que as visões de 'interação'. O ponto deveria ser classificar metáforas como instâncias de substituição, comparação, ou interação. Apenas o último tipo tem importância na filosofia."
  • 5
    "Há poucos instintos humanos mais básicos do que territorialidade."
  • 6
    "O conceito é metaforicamente estruturado; a atividade é metaforicamente estruturada e, conseqüentemente, a linguagem é metaforicamente estruturada."
    " Entender nossas experiências em termos de objetos e substâncias permite-nos discernir partes de nossa experiência e tratá-las como entidades distintas ou substâncias de um tipo uniforme."
  • 7
    " Isto nos permite compreender uma ampla variedade de experiências com entidades não humanas em termos de motivações, características e atividades humanas. Aqui estão alguns exemplos.
    Sua
    teoria explicou-me o comportamento de galinhas criadas em fábricas.
    [...]
    A
    inflação está comendo nossos lucros. "
  • 8
    " [...] 'palavra potencial' ideal que responderia ao conjunto de restrições semânticas e sintáticas do contexto onde se inscreve o figurante, sem deixar escapar nada do 'sentido' contido nesse mesmo figurante." Aspas nos original.
  • 9
    "Em outros termos, na metáfora, o figurante e o figurado-matriz definem um "programa de busca" do figurado adequado. Mas esse programa permanece constantemente em curso, uma vez que nada permite estipular a relação estável entre o figurante e uma palavra susceptível de encarnar o figurado."
  • 10
    "E o que ele está dizendo é o que ele, o poeta, decide ser uma material desejável para uma conversação. Uma conversação, além do mais, que ele define como desejável para um camponês."
  • 11
    Usamos o termo ruptura entre aspas por não concordarmos que a metáfora constitui uma verdadeira ruptura, desvio ou anomalia lingüística.
  • 12
    Este trabalho é parte do resultado da pesquisa desenvolvida através de um acordo de cooperação bilateral entre o Brasil e a França – CAPES-COFECUB – "Atividades de linguagem em situação de trabalho" coordenado pela Profª Drª Maria Cecília Pérez de Souza e Silva (vide
    the ESPecialist
    19, nº especial.
  • 13
    Temos na expressão "chão de fábrica" uma metáfora que aparece com freqüência nas entrevistas com os membros do conselho editorial para fazer referência aos operários, entretanto, ela não aprece no discurso dos operários. Talvez isso possa ser explicado pelo fato de os operário rejeitarem de certa forma as expressões calcadas no inglês e esse parece ser o caso de "chão de fábrica" do inglês
    shopfloor.
  • 14
    Convencionamos esse símbolo para substituir o nome da empresa ou a sigla que a identificaria.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Out 2000
    • Data do Fascículo
      2000

    Histórico

    • Recebido
      Ago 1999
    • Aceito
      Out 1999
    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
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