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Introdução à Sociolingüística: o tratamento da variação

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES

Sebastião Carlos Leite Gonçalves

UNESP/São José do Rio Preto. Email: scarlos@lev.ibilce.unesp.br

MOLLICA, Maria Cecília; Maria L. Braga. 2003. Introdução à Sociolingüística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto. ISBN 85-7244-222-7. 200p.

Há muito a lingüística brasileira reclamava um manual teórico-prático que tratasse de forma didática questões relacionadas à Sociolingüística Variacionista. Temos agora Introdução à Sociolingüística, um compêndio que nos é oferecido por um dos mais experientes grupos de sociolingüistas do Brasil: os pesquisadores do PEUL, Programa de Estudos de Usos da Língua, sediado na Faculdade de Letras da UFRJ.

A obra, uma versão revista e ampliada de um dos fascículos da série "Cadernos Didáticos", que foi publicado pela UFRJ e que circulou entre nós nos anos de 1990, traz agora uma atualização das questões correntes da Sociolingüística Variacionista. Seus dezesseis capítulos podem ser agrupados em seis partes, que, de modo gradual, vão direcionando o leitor na apropriação de um conhecimento cumulativo e bastante consistente sobre como se constitui e se investiga um fenômeno lingüístico variável.

O capítulo 1 constitui uma fundamentação teórica necessária para a familiarização do leitor com conceitos e termos técnicos da Sociolingüística, principalmente com sua premissa básica: a heterogeneidade lingüística. Assim é que se apresentam as áreas de interesse da Sociolingüística, os conceitos de "variantes" e "variáveis", os eixos de distribuição do fenômeno variável e temas como a sistematicidade, a legitimidade e a estigmatização da variação.

Para mostrar que a variação lingüística não é um fenômeno aleatório, mas regulado por um conjunto de regras passíveis de sistematização, o capítulo 2 traz a explicitação de modelos matemáticos que embasam a dimensão quantitativa da Sociolingüística, esclarecendo o papel da ferramenta estatística no estudo de qualquer fenômeno variável nos diversos níveis da manifestação lingüística.

Os cinco capítulos que se seguem abordam a atuação dos fatores externos, variáveis não-lingüísticas portanto, sobre o fenômeno variável. Discute-se inicialmente a relevância da inclusão desse tipo de variável no estudo da variação lingüística (capítulo 3) e, com esse propósito, apresentam-se, nos capítulos 4, 5 e 6, as variáveis inerentes ao falante – sexo/gênero, faixa etária e escolaridade, respectivamente –, e no capítulo 7, possíveis variáveis ligadas ao evento de fala – grau de formalidade do contexto, tipo de interação e tipo de discurso.

Os capítulos 8, 9, 10, 11 e 12 discutem e exemplificam a atuação de variáveis que, internas à própria língua, se correlacionam com a manifestação do fenômeno em variação. O capítulo 8 é uma introdução que demonstra a importância do controle de condicionantes lingüísticas do fenômeno variável, sobretudo quando está em jogo o cumprimento do postulado básico da variação lingüística: a manutenção do significado de formas alternantes. Assim, os capítulos de 9 a 12, abordando os diferentes níveis de análise lingüística, exemplificam, respectivamente, a atuação de variáveis fonológicas, morfossintáticas, semânticas e discursivas.

Os três capítulos seguintes, de caráter eminentemente prático, abordam questões teórico-metodológicas que devem ser seriamente consideradas quando da formulação e da implementação de estudos de cunho variacionista. O capítulo 13 apresenta as etapas para a coleta de dados, o capítulo 14 exemplifica alguns sistemas de transcrição dos dados lingüísticos, e o capítulo 15 exemplifica uma análise quantitativa da variação, explicitando as etapas de levantamento, digitação e codificação de ocorrências, necessárias para o tratamento estatístico dos dados, por meio do pacote Varbrul para microcomputadores. Além disso, esse mesmo capítulo traz ainda tópicos de interpretação dos resultados fornecidos pelo pacote estatístico, necessário, sobretudo, para a manipulação de uma grande quantidade de dados, que devem ser rigorosamente analisados à luz de todos os grupos de fatores (lingüísticos e extra-lingüísticos) postulados, de modo a garantir uma análise coerente e segura.

Fechando a obra, o último capítulo aborda as relações existentes entre variação e mudança lingüística, com ênfase no estudo da mudança em tempo real de curta e de longa duração, em contraposição àqueles que levam em conta a mudança no tempo aparente, já discutida e exemplificada no capítulo 5. Importantes reflexões são oferecidas para o tratamento mais adequado da mudança quando se confrontam resultados advindos de estudos da mudança no tempo aparente e dos evidenciados no tempo real.

Na bibliografia geral, encontram-se referenciados desde obras clássicas fundantes dos estudos da variação lingüística até obras mais atuais sobre fenômenos específicos, tanto do português brasileiro quanto de várias outras línguas. Vale dizer que, dado o caráter didático desta publicação, vários de seus capítulos trazem ao final sugestões de exercícios de análise e/ou de reflexões sobre fenômenos variáveis.

Introdução à Sociolingüística é obra de referência para o entendimento das relações que perpassam língua e sociedade e assim pode ser indicada para todos aqueles que se interessam por questões de linguagem, sobretudo para professores e alunos de lingüística de diferentes níveis.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2004
  • Data do Fascículo
    2003
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