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Fonologia e Variação: recortes do Português Brasileiro

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES

Por/by: Aglael Gama Rossi

LIAACC/LAEL/PUC-SP gamarossi@uol.com.br

BISOL, Leda & Cláudia BRESCANCINI (orgs.) Fonologia e Variação. Recortes do Português Brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002, ISBN 85-7430-300-3, 312 páginas.

O livro Fonologia e Variação: Recortes do Português Brasileiro, organizado por Leda Bisol e Cláudia Brescancini, editado pela EDIPUCRS, em 2002, apresenta uma coletânea de trabalhos do grupo de pesquisa em fonologia do Projeto VARSUL, um banco de dados constituído pelos: Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Lingüística, Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade Federal do Paraná e Faculdade de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Os trabalhos são de orientação laboviana e focam processos de variação do português falado no sul do Brasil, muitos dos quais são também observados em outras comunidades lingüísticas do país.

A exemplo de outra publicação organizada por Leda Bisol (Introdução a Estudos de Fonologia do Português Brasileiro, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001, 3ª. edição), destina-se a alunos de graduação em Letras e, por isso, é muito bem-vinda. O caráter didático do livro exprime-se em sua organização e na inter-relação entre os diversos trabalhos nele apresentados, tanto no que diz respeito a seus temas, quanto à metodologia empregada. No melhor sentido da Sociolingüística laboviana, o aluno de graduação pode, ao longo do livro, depreender as regras de uma gramática do uso da língua.

Assim, na Introdução, feita por Cláudia Regina Brescancini, é explicada passo a passo a análise estatística que subjaz ao estudo sociolingüístico de cunho quantitativo, por meio da utilização do Programa VARBRUL 2S. O didatismo aqui é ressaltado na clareza e detalhamento da redação, assim como no fato de a autora tomar como exemplos aspectos da metodologia dos trabalhos que serão apresentados na seqüência, e, da mesma forma, de estes virem, posteriormente, a reproduzir a análise estatística por ela explicitada.

Os capítulos referem-se à variação nos sistemas vocálico e consonantal, e na sílaba, sendo apresentadas análises diacrônicas e/ou sincrônicas. Assim, a síncope da postônica não-final de proparoxítonas é analisada tanto numa perspectiva diacrônica, em A síncope e seus efeitos em latim e em português arcaico, de Laura Rosane Quednau (UFRGS), que descreve o fenômeno da redução da penúltima sílaba de proparoxítonos na passagem do latim clássico ao vulgar e, finalmente, ao português arcaico, como numa perspectiva sincrônica, em A síncope em proparoxítonas: uma regra variável, de Marisa Porto do Amaral (FURG). Nesse estudo, a questão é saber se há síncope ou não das postônicas não-finais nas proparoxítonas produzidas no falar da população da cidade rio-grandense de São José do Norte, sendo que são verificadas as influências de variáveis independentes lingüísticas e extralingüísticas. De novo, uma diferença metodológica separa o estudo de Amaral e outro também sincrônico, de Maria José Blaskovski Vieira (IMEC/Ritter dos Reis), em As vogais médias postônicas: uma análise variacionista, uma vez que as amostras aqui advêm de um banco de dados (VARSUL) e não diretamente de uma dada comunidade lingüística. Dentro do caráter didático do livro, a autora explica a hipótese por detrás de cada variável lingüística e extralingüística selecionada, o que obviamente contribui para o entendimento da metodologia empregada nos estudos variacionistas, pelo aluno de graduação. Na mesma linha segue o estudo de Luiz Carlos Schwindt (UNILASALLE), em A regra variável de harmonização vocálica no RS, que trata da harmonização vocálica (elevação) das pretônicas por influência de uma vogal alta em sílaba subseqüente. Fechando a parte dos estudos que dizem respeito à variação no sistema vocálico, encontra-se o trabalho de Elisa Battisti (UCS), A redução dos ditongos nasais átonos, que contém ambas: uma análise diacrônica e uma análise sincrônica do fenômeno.

No que se refere aos fenômenos de variação que atingem a sílaba, são examinados, à luz da análise laboviana quantitativa, (1) a epêntese, para verificar se se trata ou não de um fenômeno de variação livre (Gisela Collischonn (UFRGS), em A epêntese vocálica no português do sul do Brasil) e (2) a degeminação e elisão (Leda Bisol (PUCRS), em A degeminação e a elisão no VARSUL), para averiguar se são de fato processos que não se aplicam à sílaba portadora de acento principal da frase.

Por fim, em A vibrante pós-vocálica em Porto Alegre, Valéria N. Oliveira Monaretto (UFRGS) investiga se está em curso uma mudança na produção do r de final de sílaba, na fala porto-alegrense, por meio de amostras de três períodos diferentes, recorrendo para tanto aos dados do NURC (1970) e do VARSUL (1989 e 1999, numa amostra ampliada). Já em Variação e mudança do segmento lateral na coda silábica, Maria Tasca (PUCRS) mostra que, no português falado na região do extremo sul do país, são encontrados, sincronicamente, quatro estágios de mudança da lateral /l/. Seu trabalho, a exemplo de outros no livro, apresenta uma ótima resenha histórica da transformação do /l/ de lateral alveolar para velar e semivogal posterior /w/ e também dos conceitos de variação e mudança nas línguas. Uma vez que se destina ao aluno de graduação (podendo ser igualmente utilizado em cursos introdutórios de pós-graduação), o livro tem a qualidade de apresentar Mattoso Câmara, invariavelmente tomado como ponto de partida para os fenômenos estudados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Set 2004
  • Data do Fascículo
    2003
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