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Por uma lingüística aplicada indisciplinar

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES

Por/by: Francisco Gomes de Matos

Letras/CAC/UFPE e Associação Brasil América, Recife

MOITA LOPES, L. P. (org) 2006. Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial. ISBN 85-88456-49-4. 279p.

Esta coletânea sobre a multi(ou mega?)facetada, às vezes misteriosa e ainda pouco mediadora (na resolução de problemas/conflitos comunicativos, por exemplo) Lingüística Aplicada, resulta de debates em eventos dos quais o organizador participou, de 2001-2004, no Brasil e no exterior. Chama atenção, no título, o uso do prefixo in-, que provocadoramente, amplia um paradigma conceitual conhecido: multi /pluri-, inter- e trans. Na contracapa, vê-se também antidisciplinar e lê-se a explicação de que "Neste livro, defende-se a idéia de que todo conhecimento é político e vem de algum lugar" e de que "novos modos de teorizar e fazer lingüística aplicada" pressupõem pesquisar politicamente e buscar alternativas para a vida sócio-comunicativa dos usuários de línguas. Aos lingüistas que estudam a identidade/identificação da LA (exerço o direito de usar essa abreviatura) poderá interessar a lista de adjetivos usados em títulos de capítulos: Lingüística Aplicada híbrida, ideológica, mestiça, sócio-histórica, transgressiva. Para este resenhador, que trabalha em favor de uma LA à Paz, faz falta o adjetivo humanizadora, pois lingüistas aplicados politicamente engajados desempenham o papel de humanizadores (estão imbuídos de princípios e valores como direitos humanos, justiça e paz, dignidade e os aplicam em suas ações para o bem da Sociedade).

Após Agradecimentos a colegas e a alunos de 10 universidades, o organizador (atuante na UFRJ) apresenta o volume, expondo suas crenças, sustentando a necessidade de repensar outros modos de pensar e fazer LA e propiciando uma ante-visão das idéias dos autores dos 11 capítulos. Essa quase-resenha antecipadora serve de embasamento para leitores e, ao mesmo tempo, propicia uma amostra da competência cognitiva resumidora. Dos 12 autores, 6 são brasileiros e 6, do exterior. Os títulos dos capítulos dão uma idéia da diversidade temática: LA como espaço de desaprendizagem: redescrições em curso; Uma LA transgressiva; LA e vida contemporânea: problematização dos construtos que têm orientado a pesquisa; Continuidade e mudança nas visões de sociedade em LA; LA na era da globalização; Repensar o papel da LA; A questão da língua legítima na sociedade democrática: um desafio para a LA contemporânea: LA na África: desconstruindo a noção de língua; A teoria quer em LA: enigmas sobre "sair do armário" em salas de aula globalizadas; Um olhar metateórico e metametodológico em pesquisa em LA: implicações éticas e políticas; Fazer LA em perspectiva sócio-histórica: privação sofrida e leveza de pensamento. Que vozes de lingüistas aplicados brasileiros são ouvidas? Branca Fabrício (UFRJ), Marilda Cavalcanti (UNICAMP), Inês Signorini (UNICAMP), Roxane Rojo (UNICAMP) e Luiz Paulo da Moita Lopes (UFRJ). A esse grupo, acrescente-se o indiano-brasileiro Kanavillil Rajagopalan (UNICAMP). Vozes do exterior: Alastair Pennycook (Universidade de Tecnologia, Sidney), Kumaravadivelu (Universidade de San Jose, California), Bem Rampton (Universidade de Londres), Cynthia Nelson (Universidade de Tecnologia, Sidney), Sinfree Makoni (Universidade Estadual de Pensilvânia) e Ulrike Meinhof Universidade de Southhampton).

Os capítulos variam, em extensão, de 18 a 32 páginas. As Referências (até 2004), estão em português, inglês, francês e espanhol. Louve-se o senso de partilha comunicativa do organizador por sua tradução de cinco textos escritos originalmente em inglês e por ter dedicado este instigante volume a uma das pioneiras da LA no Brasil: Maria Antonieta Alba Celani.

Outra contribuição positiva do organizador: em seu capítulo LA e vida contemporânea: faz da Conclusão um espaço para reflexão sobre A LA como lugar de ensaio da esperança.(104-105). Assim, Moita Lopes se revela humanizador, como os demais autores deste denso, mas dignificante volume que atesta, por um lado, a revitalização da LA e, por outro, seu imenso, sempre aberto potencial aplicativo, o mais próximo possível do que Rajagopalan identifica como uma "lingüística relevante para a vida na terra" (158-159). Em suma, que este livro duplamente – oso (auspicioso e audacioso) torne-se leitura indispensável aos que ajudam a reconstruir os caminhos fascinantes da LA aqui e alhures, com senso crítico sobre meios de dignificar pesquisas sobre a vida lingüística das pessoas e das comunidades a quem servimos, através de uma LA que também se pode chamar de futurista, pelo desafio que enfrenta, ao pretender antecipar e provocar mudanças e encontrar soluções para um mundo de problemas comunicativas que planetariamente partilhamos.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2007
  • Data do Fascículo
    2007
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