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The Language of Evaluation: appraisal in English

RESENHA REVIEW

Resenhado por/by: Rodrigo Esteves de Lima LopesI* * Os autores convidam os leitores a enviarem suas contribuições e críticas a esta resenha. The authors welcome contributions and suggestions, both at rll307@uol.com.br and orlandovianjr@uol.com.br ; Orlando Vian JrII

IPUC-SP/UNIFIEO

IIUniversidade Federal de São Paulo

Martin, J. R. e White, P. R. R. 2005. The Language of Evaluation: appraisal in English. London: Palgrave/Macmillan.

Nos últimos anos, o Sistema de Avaliatividade (Appraisal System) tem adquirido bastante relevância entre os estudiosos da Gramática Sistêmico-Funcional (doravante GSF), havendo um crescimento da quantidade de publicações e de pesquisas nessa área1 1 Esse crescimento tem gerado interessantes discussões na lista de e-mails de estudos sistêmicos em português. Por essa razão, convido os leitores a acompanhá-las em http://br.groups.yahoo.com/group/gsfemportugues/ , assim como de recursos on-line disponíveis2 2 Entre os diversos recursos on-line disponíveis, merecem destaque The appraisal homepage ( http://www.grammatics.com/appraisal/) e a lista de discussão sobre appraisal ( http://groups.yahoo.com/group/AppraisalAnalysis/), ambos mantidos por Peter White. . The Language of Evaluation: Appraisal in English, escrito por Jim Martin e Peter White, é uma obra de destaque nesse contexto, uma vez que é um passo deveras relevante para a construção dessa teoria. Jim Martin é professor da Universidade de Sidney e tem desenvolvido diversos trabalhos na área de GSF, principalmente no que diz respeito à teoria do gênero/registro. Por essa razão, esteve ligado a programas que visavam ao ensino de inglês nas escolas australianas para migrantes adultos (Martin, 2000b). Segundo os autores (Martin & White, 2005: xi), foi em um desses programas, do qual Martin era consultor acadêmico e White trabalhava como especialista em discurso midiático, que a idéia desse livro teve sua origem.

A partir dessa gênese, a obra de Martin e White está estruturada com base em alguns questionamentos sobre a avaliação na linguagem: de que maneira escritores e falantes instauram-se nos textos que produzem? Como são realizadas, lingüisticamente, instâncias de envolvimento, atitudes, afeto, julgamento, apreciação, aprovação, desaprovação, entusiasmo e decepção em relação aos significados que se transmitem? De que modo, ainda, escritores e falantes constroem suas identidades nos textos?

O livro é dividido em 5 capítulos, sendo 3 de base teórica e 2 que oferecem exemplos de análise e aplicação da teoria em textos autênticos. Com relação aos 3 primeiros, encontramos uma introdução, um responsável pela definição da avaliação dentro do espectro da atitude e o terceiro, em que são estudados os conceitos de engajamento e gradação. No quarto e quinto capítulos há uma análise minuciosa de textos de diferentes gêneros e registros, o que inclui textos da área jornalística e linguagem, do ensino de história, dentre outros. Por questões de espaço, nossa resenha se centrará a nos três primeiros capítulos.

O capítulo 1, Introduction, inicia-se com uma definição do escopo do Sistema de Avaliatividade, demonstrando que ele compreende atitudes positivas ou negativas que o escritor/falante possui em relação a algo. Essas atitudes podem ser expressas de forma direta ou indireta, o que, por conseguinte, têm conseqüências nas relações entre os indivíduos, justificando a inclusão desse sistema entre os significados Interpessoais (Halliday, 1973, 1985, 1994; Halliday & Matthiessen, 2004). Nesse ponto, Martin e White discutem a inclusão da Modalidade (Modalidade Epistêmica) em sua teoria, pois a importância desse sistema para a ALORAÇÃO reside no fato de ele não trazer apenas significados relativos à expressão de comprometimento, como também à forma como diferentes vozes e posições são expressas no texto (verbal ou escrito). Por fim, os autores também se mostram preocupados com o conceito de intensificação, buscando assim descrever como os falantes/escritores intensificam ou minimizam a força de suas afirmações.

Além dessas definições iniciais, esse capítulo ainda traz à baila alguns conceitos importantes para a teoria proposta por Martin e White, inserindo a avaliação no contexto da GSF, ou seja, desse ponto em diante, discutem-se termos e conceitos essenciais para a compreensão da avaliação a partir da perspectiva sistêmica. Entre os elementos discutidos, estão os de Metafunção, realização/instanciação, Language Strata, sistema, estrutura, contexto (incluindo gênero e registro), de prosódia bem como uma seguida de uma visão histórica desses estudos. Todos eles importantes não apenas por facilitar a compreensão da obra para os leitores que não estão familiarizados com esses conceitos, mas também por mostrar a preocupação dos autores em discutir o lugar de sua teoria dentro do contexto mais amplo que é a lingüística hallidayana. Apesar de demonstrar que a análise da avaliação deve ser realizada não apenas pela observação de adjetivos e advérbios, mas também através de outros recursos como a utilização de processos e elementos de coesão - entre eles a repetição e a colocação -, Martin e White a definem como um recurso interpessoal situado no nível da semântica discursiva (discourse semantics). Isso faz com que esse sistema esteja articulado com outros dois sistemas: negociação e envolvimento (Martin & White, 2005: 33). No caso do primeiro, ele complementa a avaliação na medida em que é responsável pelos aspectos interativos do discurso, ao passo que o segundo é responsável pela negociação da Relação, principalmente a solidariedade (Martin & White, 2005: 33).

A essa discussão, segue-se um resumo do sistema de avaliação, no qual tem-se uma visão geral dos conceitos que serão discutidos nos dois capítulos subseqüentes. O sistema proposto pelos autores é dividido em 3 subsistemas: (1) Engagement (Engajamento), (2) Attitude (Atitude) e (3) Graduation (Gradação), sendo que cada um desses subsistemas se divide em outros gerando um complexo diagrama. O sistema sugerido pelos autores vem sendo desenvolvido já há algum tempo, sendo um refinamento de pesquisas desenvolvidas em outros estudos como Martin (2000a, 2003)3 3 A revista Text volume 23 número 2 foi inteiramente dedicada à discussão da teoria da avaliação, trazendo uma coleção de textos bastante relevante para essa área da GSF. . Com relação a Martin (2000), observa-se uma teoria ainda em desenvolvimento com grandes diferenças na forma de representação dos diagramas e mesmo na concepção da teoria, que, nesse artigo, parece estar em um estado bem inicial. Já Martin (2003) apresenta o mesmo sistema deste livro, porém Martin & White (2005) traz ampliações nas reflexões e nas exemplificações que fundamentam a teoria.

Para que se compreenda o modo como se expressam sentimentos na linguagem, são apresentados, no capítulo 2 (Attitude: ways of feeling), maneiras de se expressar Atitude, definida dentro do sistema de avaliação como o mapeamento de sentimentos e sua construção. Busca-se, assim, discutir os diversos tipos de sentimentos envolvidos quando se expressam atitude e afeto na linguagem, através de mecanismos de julgamento e apreciação tanto positiva quanto negativamente. Apesar de os autores apontarem que a realização canônica desses significados ocorra por meio da adjetivação, eles também discutem as escolhas processuais. A Atitude é subdividida em três regiões semânticas: Afeto, Julgamento e Apreciação. A primeira estaria relacionada ao registro de sentimentos positivos ou negativos que construímos em relação a algo ou alguém se nos sentimos tristes, irritados, ansiosos, interessados ou chateados. Esses significados pressupõem não apenas a modificação de participantes - em que o Afeto seria uma qualidade, como em "Menino triste" - mas também a utilização de processos - como mentais: "A queda do avião o chateou"; ou comportamental: "O menino caiu em lágrimas" - bem como a utilização de elementos adverbiais - como infelizmente. De forma a compreender como os sentimentos se manifestam, Martin e White propõem 5 questões que poderiam ser relevantes para a análise dessas emoções em inglês:

1) Os sentimentos analisados são geralmente classificados como positivos ou negativos dentro de uma determinada cultura?

2) Esses sentimentos são realizados em conjunto com manifestações paralingüísticas ou extralingüísticas ou elas são apenas o resultado de um sentimento vivido internamente?

3) Esses sentimentos são deflagrados por algum fator externo ou são parte de uma "clima geral" que perpassa o contexto?

4) Esses sentimentos possuem uma gradação?

5) Esses sentimentos envolvem intenção (ao invés de reação)?

A partir dessas questões, os autores iniciam uma ampla discussão sobre o Afeto, oferecendo diversos exemplos. No caso de (1), sugerem a necessidade de diferenciação entre sentimentos culturalmente motivados e aqueles que se são fruto apenas de uma sentimento particular aplicável apenas a uma situação específica. A questão (2) estaria relacionada à distinção gramatical entre os tipos de processos Comportamentais e Mentais que, segundo eles, seriam mais comumente utilizados na expressão do Afeto. Em (3) entra em cena a questão da agentividade dos participantes, procurando-se observar até que ponto o Emotioner (termo utilizado para definir a entidade que sofre uma determinada emoção) é responsável por uma determinada relação afetiva ou se ela fora "causada" por uma entidade externa. Já a questão (4) está relacionada à gradação do Afeto e, finalmente, (5) envolve a dicotomia intenção x reação. De uma maneira geral, para a instanciação de significados relacionados ao afeto, teríamos processos Mentais relacionados a sentimentos, envolvendo sempre um participante consciente (por exemplo, Eu estou feliz / Fico feliz que vocês tenham vindo).

No Julgamento, o foco de análise vai para as atitudes e comportamentos que as pessoas têm perante algo. Esse sistema é subdividido em duas categorias: Julgamentos de Estima e Julgamentos de Sanção Social. No caso de Estima, teríamos significados relacionados à "normalidade" (quão freqüente algo é), "capacidade" (quão capaz se é) e "tenacidade" (quão resoluto algo é), ao passo que os de Sanção Social estariam relacionados à "veracidade"(se algo/alguém é confiável) e propriedade (quão ético alguém é). Significados desse tipo são importantes para a criação de redes sociais. No caso da Estima, indica-se que ela costuma ser uma área muito relacionada à linguagem oral, exemplos seriam a fofoca, piadas e histórias de diversos tipos. Já a Sanção Social estaria mais relacionada, de acordo com Martin e White, à linguagem escrita, tais como editais, leis, regras e decretos, algo diretamente relacionado a visão cívica e religiosa. Em ambos os casos, são possíveis identificar julgamentos tanto positivos como negativos. Em termos de estruturas, a instanciação do Julgamento dar-se-ia através de processos Relacionais Atributivos que atribuíssem alguma forma de avaliação a um comportamento (por exemplo: Isso foi infantil).

O conceito de apreciação está relacionado à avaliação que fazemos no campo estético, incluindo pessoas, coisas e atitudes. Dessa forma, ele seria responsável por descrever nossas "reações" em relação a algo (isso nos agrada?), a "composição" das coisas (estamos tratando de algo simples ou complexo?) e o seu "valor" (algo inovador? autêntico? anacrônico?). Para os autores, cada um desses tipos de significado estaria relacionado a um diferente tipo de processo mental, sendo que a Reação estaria relacionada à afeição, a Composição é relacionada à percepção do objeto e o Valor a seu significado, fazendo com que esses sistemas instanciem significados Interpessoais, Textuais e Ideacionais, respectivamente. Por fim, no caso da Apreciação, a instanciação ocorreria por meio de um processo Mental denotando atitude (por exemplo, Eu a acho bonita).

Os autores apresentam, no terceiro capítulo (Engagement and gaduation: alignment, solidarity and the construed reader), a forma como produtores de texto posicionam-se perante seus leitores. Eles se baseiam, principalmente, na perspectiva dialógica de Bakhtin/Voloshínov, apresentando os conceitos de diglossia e heteroglossia, bem como estratégias lexicais disponíveis na língua para que se realizem tais significados. Esse capítulo, assim, apresenta o desenvolvimento da teoria em duas frentes: (1) Engagement (Engajamento) e (2) Graduation (Gradação). O primeiro estaria relacionado à forma pela qual falantes/escritores assumem alguma postura em relação às pessoas a quem se dirigem, ao passo que o segundo é um sistema que, se aplicado ao demais, permite a amplificação ou mitigação de uma determinada avaliação.

No caso do Engajamento, Martin e White oferecem um sistema que permite analisar as diferentes possibilidades de auto-posicionamento nos textos. Ou seja, os recursos que o escritor/falante tem disponíveis para marcar sua posição na interação, encarada de forma atitudinal e não apenas como um evento declarativo ou enunciativo, bem como seus efeitos retóricos. Apoiados em Bakhtin, os autores assumem uma postura dialógica, a partir da qual qualquer texto possui uma relação com todos os textos produzidos anteriormente em uma mesma esfera, estando ele, portanto, sempre ideologicamente posicionado. Isso faz com que sua preocupação principal seja o papel que esses significados têm na negociação dos relacionamentos de alinhamento ou desalinhamento, definidos como instâncias em que os participantes da interação expressam suas crenças e pressupostos. Em conseqüência, o estudo dessa dialogia não estaria relacionado apenas à maneira como esses significados são expressos, da forma como os produtores de um texto se filiam (ou não) a esse contexto, mas também na forma como outros são convidados a endossar um ponto de vista. Logo, eles estão interessados em desenvolver um sistema que dê conta de estudar a forma como o produtor do texto torna claras suas expectativas em relação ao leitor. A partir desses conceitos-base, o sistema de Engajamento é descrito em termos de duas posturas possivelmente assumidas pelo produtor em um texto: a Monoglossia (Monogloss) - definida como a instância do discurso na qual não há o reconhecimento das alternativas dialógicas - e a Heteroglossia (Heterogloss) - por conseguinte, caracterizada pelo discurso em que essas alternativas se fazem claras - que é o foco do principal do restante da discussão.

A partir dessas definições, a heteroglossia é explorada de forma a se construir um complexo sistema que busca dar conta de diferentes funções. A primeira subdivisão desenvolvida é em termos da forma como o escritor/falante alinha-se em relação às diferentes vozes presentes em seu texto. Se por um lado esse alinhamento é positivo, temos uma expansãodialógica (dialogic expansion), ao passo que se, por outro lado há o desafio, a restrição ou a crítica em relação ao escopo dessa vozes, temos uma relação de contração dialógica (dialogic contraction). Em outras palavras, a primeira estaria relacionada à abertura do espaço dialógico para posições outras, ao passo que na segunda, essa possibilidade estaria fechada.

No caso da expansão dialógica, os significados podem ser realizados através de dois subsistemas, o de Entretenimento (Entretain) e o de Atribuição (Atribute). O entretenimento definir-se-ia por fraseados em que a voz do autor é apenas uma entre as tantas outras, possibilitando que essas vozes sejam reconhecidas em seu discurso. É nesse tipo de significados que a modalidade tem seu papel mais importante, uma vez que, segundo a teoria, é ela quem permite a instanciação desse tipo de significado. Isso faz com que o co-texto e o contexto tenham um papel bastante importante nessa análise, uma vez que a interpretação de estruturas modais são bastante dependentes das variáveis de registro (Halliday, 1994; Halliday & Matthiessen, 2004) e da colocação (Halliday & Hasan, 1976; Sinclair, 1991).

Já a atribuição é subdividida em mais dois subsistemas, o de Conhecimento (Acknowledgement) e o de Distanciamento (Distance). O Conhecimento estaria relacionado a contextos em que a voz do autor interage com vozes ou posições externas, não obstante percebe-se a inexistência de indicadores que sinalizem qual a postura assumida pela voz do autor em relação a uma dada proposição. Isso não significa que o autor não possua a marcação de sua (des)filiação em algum outro momento de seu texto, mas sim que isso não se apresenta naquele momento em específico. Já a Distância envolve fraseados nos quais podemos perceber um explícito distanciamento da voz autoral em relação ao discurso externo trazido para o seu texto. Da mesma forma que o Conhecimento, significados de Distanciamento são heteroglóssicos, na medida em que a voz do autor está evitando abertamente tomar responsabilidade ou partido (seja ele positivo ou negativo) em relação a uma diferente voz trazida para o seu texto.

Os significados de contração dialógica também se subdividem em dois subsitemas: Discordância (Disclaim) e Proclamação (Proclaim). O primeiro está relacionado a situações em que uma dada proposição ou voz é diretamente negada pelo produtor do texto, ao passo que no segundo a posição do escritor/falante é realizada de forma indireta, restringido-se o escopo de possibilidades dialógicas de uma proposição. Entre os significados de Discordância, encontramos dois subsistemas: Negação (Deny) e Contra-argumentação (Counter). A Negação, para os autores, seria um recurso para introduzir uma opinião positiva, não obstante, diversa daquele expressa anteriormente, logo, a rejeição da idéia dar-se-ia através do seu Conhecimento para posterior negação. Já a Contra-argumentação estaria relacionada a fraseados que denotam concessão em relação a uma dada idéia, ao passo que o sistema de Proclamação se divide em uma série de outros subsistemas:

1) os de Concorrência (Concur), envolvendo fraseados nos quais o autor mostra estar em concordância com alguma proposição a ser projetada;

2) os de Endossamento (Endorsement), que mostram a concordância da voz do autor com vozes externas, as quais são caracterizadas como válidas e corretas;

3) e por fim, os de Pronunciamento (Pronounce), cobrindo fraseados que envolvem ênfase ou intervenção/interpolação explícita.

O segundo grande tema discutido nesse capítulo é o Sistema de Gradação, cuja função é servir como forma de intensificação ou mitigação dos significados instanciados nos demais sistemas. Ao utilizar a gradação, assumimos um sistema que opera em categorias que implicam uma avaliação escalar, envolvendo questões de tamanho, força, vigor proximidade e assim por diante. A gradação se realiza em dois eixos: um relacionado à intensidade ou quantidade (Força) e um outro que opera de acordo com questões de prototipicidade e precisão (Foco).

O Foco é aplicado principalmente a categorias que, quando encaradas a partir de uma perspectiva Experiencial, não são perfeitamente escalares. Segundo os autores, essas seriam categorias do tipo "é-ou-não-é" que operam em taxonomias nas quais a participação é definida graças a uma categoria específica. Exemplos seriam as classificações em que a participação em uma dada categoria é algo difuso, por exemplo em "É mais ou menos um samba" ou "Parece um tipo de rock". Isso é possível porque do ponto de vista da experiência, samba e rock são estilos musicais definidos, com características que fazem parte das expectativas daqueles que os ouvem. Em relação ao Foco, pode-se observar variações de acordo com dois critérios: precisão (sharpening) e abrandamento (softening). O primeiro se manifestaria em situações em que a participação em uma categoria taxonômica é reforçada, por exemplo em "Ela é muito bonita", ao passo que na segunda, ela é mitigada como em "Ela é meio legal".

A Força, por seu turno, cobre significados para os quais podemos aplicar algum grau de força em termos de quantidade da avaliação. Aqui a instanciação pode ocorrer por meio de diversas estratégias, entre elas a quantificação, por exemplo em "Ela tem vários dotes" em "Uma dívida enorme" ou em "Chegou há pouco tempo", e a Intensificação, por exemplo em "Ele é o mais ladrão" ou em "Ele observou atentamente".

No quarto capítulo da obra (Evaluative key: taking a stance), os autores mudam de perspectiva. Enquanto que nos três primeiros capítulos são apresentados recursos para posicionamento intersubjetivo e avaliação, além de como estes operam na língua inglesa, nesse capítulo são apresentados os padrões mais prováveis e geralmente preferidos no uso de recursos avaliativos em textos. Para que, por fim, verifiquemos como toda a teoria pode ser aplicada a textos, os autores apresentam a seus leitores, no capítulo 5 (Enacting appraisal: text analysis), os recursos de avaliação em ação e como estes se apresentam em textos, bem como maneiras para que sejam analisados.

Como se pode depreender, os autores desenvolvem um complexo sistema que tem por objetivo sistematizar um fenômeno ainda pouco estudado na GSF. No que diz respeito às conseqüências e aplicações desse sistema ao nosso idioma, resta a nós, produtores e analistas de textos em língua portuguesa, a reflexão sobre a aplicabilidade de tais modelos ao nosso idioma, observando-se, principalmente, dois fatores: o primeiro, ligado ao aspecto sócio-antropológico do português brasileiro e as diversas maneiras que temos para posicionarmo-nos perante o que falamos, levando em consideração a cordialidade, o jeitinho e outros aspectos afetivos, bem diferenciados e refletidos na linguagem e que não estão presentes na língua inglesa. O segundo aspecto está relacionado à própria estrutura de ambas as línguas, principalmente para aspectos que não existem na língua inglesa, como, por exemplo, o caso da afixação com diferentes sufixos aumentativos (grande, grandão, grandalhão) e diminutivos (pequeno, pequenino, pequetitico, pequeninho), ou casos típicos como os hiperbolizantes qualitativos, possíveis, em nossa língua, inclusive para advérbios (pertíssimo) e substantivos (mulheríssima), ou, ainda na linguagem afetiva, os sufixos diminutivos que podem ser tanto positivos, carinhosos (bonitinho) quanto negativos, pejorativos (povinho), superlativos sintéticos, sendo permitido, ainda, a repetição do mesmo afixo (pequenininho, pequetitico), também impossíveis na língua inglesa pela afixação, ou, ainda, a questão da posição do adjetivo que, em inglês só é possível antes do substantivo, ao passo que em português pode antepor-se ou pospor-se (homem grande, grande homem) com impactos significativos na constituição dos significados. Outra questão a ser considerada está no campo terminológico, uma vez que a teoria sistêmica está em constante desenvolvimento e diferentes autores estudam diferentes fenômenos sob diferentes perspectivas e, para o fenômeno de avaliação, surgem palavras como appraisal, assessment, evaluation, dentre outras, o que também requer cuidados metatéoricos em relação à terminologia a ser adotada.

Aparte disso, a obra é mais do que bem-vinda, uma vez que fornece valiosos subsídios para os estudiosos em gramática sistêmico-funcional em um campo vastíssimo e cheio de meandros e nuances que, com certeza, trarão perspectivas de estudos profícuos para os trabalhos em língua portuguesa. Todavia, vale ressaltar que essa obra não é de leitura simples, exigindo algum conhecimento do leitor no que tange a alguns conceitos básicos sobre GSF.

Recebido em novembro de 2006

Aprovado em janeiro de 2007

E-mails: rll307@uol.com.br; orlandovianjr@uol.com.br

  • Halliday, M. A. K. 1973. Explorations in the Functions of Language London: Edward Arnold.
  • _____. 1985. An introduction to Functional Grammar (1ª ed.). London: Edward Arnold.
  • _____. 1994. An Introduction to Functional Grammar (2ª ed.). London: Edward Arnold.
  • Halliday, M. A. K., & Hasan, R. 1976. Cohesion in English London: Longman.
  • Halliday, M. A. K., & Matthiessen, C. M. I. M. 2004. An Introduction to Functional Grammar (3ª ed.). London: Edward Arnold.
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  • Martin, J. R., & White, P. R. R. 2005. The Language of Evaluation: appraisal in English London: Palgrave/Macmillan.
  • Sinclair, J. 1991. Corpus, Concordance, Colocation Oxford: Oxford University Press.
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    Os autores convidam os leitores a enviarem suas contribuições e críticas a esta resenha. The authors welcome contributions and suggestions, both at
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    Esse crescimento tem gerado interessantes discussões na lista de e-mails de estudos sistêmicos em português. Por essa razão, convido os leitores a acompanhá-las em
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    Entre os diversos recursos on-line disponíveis, merecem destaque The appraisal homepage (
    http://www.grammatics.com/appraisal/) e a lista de discussão sobre appraisal (
    http://groups.yahoo.com/group/AppraisalAnalysis/), ambos mantidos por Peter White.
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    Text volume 23 número 2 foi inteiramente dedicada à discussão da teoria da avaliação, trazendo uma coleção de textos bastante relevante para essa área da GSF.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Fev 2008
    • Data do Fascículo
      2007
    Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
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