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Análise cognitiva da preposição de do português do Brasil

Cognitive analysis on the Brazilian Portuguese preposition de

Resumos

Este artigo apresenta análise para alguns usos da preposição 'de' na língua portuguesa do Brasil, a partir dos preceitos teóricos e esquemas desenvolvidos pela Gramática Cognitiva. Adota-se a hipótese de serem as preposições marcações linguísticas, cuja evolução pode ser pelo menos parcialmente mapeável por gramaticalização. Propõe-se que a preposição em análise tem um significado inicial de valor espacial e que se manifesta, por processos derivados, em categorias semânticas nomeadas como NO (Nominal de Origem), NP (Nominal de Parte) e NI (Nominal Intrínseca). Esta pesquisa serve-se de um corpus coletado em textos da internet.

preposições; gramaticalização; gramática cognitiva; valor espacial; esquemas


This paper aims to present an analysis on some occurrences of the Brazilian Portuguese preposition 'de', considering for that some theory principles and schema proposed by the Cognition Grammar. The hypothesis I assume is the following: prepositions are linguistic marks, whose evolution might be at least partially mapped through grammaticalization. What I intend to say is that the original spatial meaning of this preposition could reach other values after some derivative process, expressing semantic categories named as NO (Nominal of Origin), NP (Nominal of Part) and NI (Intrinsic Nominal). This research has used a corpus collected from internet files.

prepositions; grammaticalization; cognitive grammar; spatial value; schemata


ARTIGOS

Análise cognitiva da preposição de do português do Brasil

Cognitive analysis on the Brazilian Portuguese preposition de

Pedro Perini-Santos

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

RESUMO

Este artigo apresenta análise para alguns usos da preposição 'de' na língua portuguesa do Brasil, a partir dos preceitos teóricos e esquemas desenvolvidos pela Gramática Cognitiva. Adota-se a hipótese de serem as preposições marcações linguísticas, cuja evolução pode ser pelo menos parcialmente mapeável por gramaticalização. Propõe-se que a preposição em análise tem um significado inicial de valor espacial e que se manifesta, por processos derivados, em categorias semânticas nomeadas como NO (Nominal de Origem), NP (Nominal de Parte) e NI (Nominal Intrínseca). Esta pesquisa serve-se de um corpus coletado em textos da internet.

Palavras-chave: preposições; gramaticalização; gramática cognitiva; valor espacial; esquemas.

ABSTRACT

This paper aims to present an analysis on some occurrences of the Brazilian Portuguese preposition 'de', considering for that some theory principles and schema proposed by the Cognition Grammar. The hypothesis I assume is the following: prepositions are linguistic marks, whose evolution might be at least partially mapped through grammaticalization. What I intend to say is that the original spatial meaning of this preposition could reach other values after some derivative process, expressing semantic categories named as NO (Nominal of Origin), NP (Nominal of Part) and NI (Intrinsic Nominal). This research has used a corpus collected from internet files.

Key-words: prepositions; grammaticalization; cognitive grammar; spatial value; schemata.

INTRODUÇÃO

Este artigo apresenta uma proposta de análise para o uso de uma preposição da língua portuguesa do Brasil (PB) a partir dos preceitos teóricos e esquemas desenvolvidos pela Gramática Cognitiva (GC). O trabalho dedica-se à análise específica da preposição de e sustenta a seguinte hipótese: de é uma preposição (i) estabelecida por gramaticalização que (ii) tem valor semântico-espacial primevo reconhecido direta ou indiretamente no uso atual (iii) em três categorias interpretativas distintas: como origem, como parte ou inerente. Os três temas aqui assinalados serão desenvolvidos neste estudo1 1 . Este artigo é resultado do Doutorado em Linguística Cognitiva desenvolvido junto à Faculdade de Letras da UFMG e ao Department of Linguitics, University of California at Davis, sob a orientação dos professores Dra. Heliana Mello e Dr. Patrick Farrell, a quem agradeço. Não obstante, a responsabilidade sobre o mesmo é exclusivamente minha. Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq e da PUC-Minas. .

1. A ESCOLHA OBJETO DE ESTUDO: PORQUE A PREPOSIÇÃO DE

Dois motivos levaram-me a estudar a preposição de. O primeiro é o fato de a preposição de ser a mais usada no português. Em relação ao conjunto das preposições do idioma, sua freqüência de uso varia de 38% a 45% entre os séculos XIV e XVIII (Diório Jr. 2003:129). A comparação dos dados Diório Jr. e o uso atual, colhido em blogs brasileiros escritos em português, indica que há pouca mudança na frequência de uso em relação aos períodos anteriores:

Tabela 1

O segundo motivo que justifica a escolha da preposição de deve-se a seu possível reconhecimento como um protótipo preposicional. De é um exemplo de item lexical que possui nitidamente as características atribuídas às preposições: (i) resulta de um processo de gramaticalização; (ii) pode exercer função de indicação espacial; e é (iii) uma unidade lexical com valor semântico fortemente dependente do contexto sintagmático no qual se encontra. Assim, a preposição de é um arquétipo de um grupo lexical em que há forte heterogeneidade. Clara indicação de tal heterogeneidade são os resultados obtidos em experimento sobre o reconhecimento de classes lexicais. Testes cognitivos demonstram que as preposições não apresentam funcionamento categorial simples e discreto como se supunha. Para Froud, "é nítido que, de acordo com todos os critérios existentes, a preposição aparenta ficar em algum lugar entre as categorias lexical e funcional". (2001:11).

2. A ANÁLISE DAS PREPOSIÇÕES JUNTO À GRAMÁTICA COGNITIVA

No escopo das análises apresentadas por vários autores que se filiam à linha cognitiva, duas delas se destacam.

(i) propõe-se um modelo de interpretação a partir de esquemas cognitivos espaciais (Armstrong 2002; Coventry 1999; Grabowisky 1999; Langacker 1992, 2000a,b; Miller & Grabowisky 2000; Talmy 2000, 2001, Weissenbron 1981), ou seja, as preposições expressam as relações entre a percepção humana e o espaço físico que está à sua volta.

(ii) infere-se o significado básico das preposições a partir de resíduos linguísticos reconhecidos em seu trajeto de estabelecimento através de gramaticalização (Abraham 2004; Aikehenvald 2003; Harisson & Ashby, 2003; Hopper & Traugott 1993; Papahagi 2002; Pottier 1997; Marchello-Nizia 2002; Rubin 2004).

As duas análises traçam percurso semelhante para o item lexical em estudo, que parte de uma entidade de estatuto físico e atinge novo estatuto de valor abstrato. Considerando essas prerrogativas, à preposição de podem ser associados os seguintes postulados:

(i) de é interpretada como um item lexical cuja função linguística primeira é espacial. As outras interpretações possíveis são derivadas dessa primeira, através de procedimentos cognitivos: processos metafóricos, metonímicos e relacionais;

(ii) de é interpretada direta ou indiretamente como 'indicação de fonte' dado que sua origem etimológica é reconhecida no item lexical indo-europeu *do, que significa 'fonte'.

São propostas distintas, mas que podem ser vistas como complementares. A primeira sugere que a preposição de deve ser interpretada de acordo com habilidades cognitivas espaciais que indicam 'fonte'; e a segunda relata que a preposição tem valor de 'fonte' porque ecoa a carga semântica da forma progenitora indo-européia *, cujo significado era 'dar, oferecer' (Romanelli 1964; Benveniste 1973; Watikins 1987; Stuart, 1987).

3. PRINCÍPIOS DA GRAMÁTICA COGNITIVA A SEREM CONSIDERADOS

Para a GC, assim como as experiências as habilidades humanas oferecem substrato para o amadurecimento da linguagem; em Langacker, por exemplo, lê-se que "a estrutura da linguagem oferece importantes indicações sobre o fenômeno mental" (Langacker 2000a: 171). A interação entre as duas faces desse conceito é reconhecida a partir da análise das relações sensoriais, corpóreas e espaciais. Kravchenko (2006) apresenta os alicerces epistêmicos da teoria cognitiva moderna da seguinte forma:

O principal postulado [GC] é que a cognição deve ser caracterizada pela corporificação (...), ou seja, há uma forte relação entre os conceitos e a lógica do corpo que deve ser tomado como 'uma estrutura conceitual originária de nossa experiência sensório-motora e de nossas estruturas neuronais que permitem isso'. (Lakoff & Johnson 1999:77 apud Kravchenko 2006:56)

Para a compreensão do postulado da corporificação, é interessante pensar na organicidade das relações entre base/parte, como explica Langacker (2000a) a partir de um exemplo corriqueiro. Não é possível pensar em 'junta-do-dedo' (junção inter-falangiana) sem o conceito de 'dedo' como entidade holística. Se dispusermos do conceito 'dedo', a noção de 'junta-do-dedo' passa a ser facilmente repertoriada. Pela mesma análise, e seguindo a mesma relação base/parte, a noção de 'dedo' é dependente da 'mão', que é dependente de 'braço', que, finalmente, depende de 'corpo'. A sequência de conceitos e respectivas expressões junta > dedo > mão > braço > corpo obedece a uma ordenação sistêmica de pertencimento base/parte, sendo que o último dessa escala constitui o domínio básico.

As propriedades do domínio-básico 'corpo' são de duas ordens. Ora é um organismo que possui partes relativas e relacionadas; ora é um organismo que se relaciona com o espaço a sua volta. Mesmo que de alguma forma a 'mão' faça parte do 'corpo', não se diz algo como a mão caiu do prédio, mas o corpo caiu do prédio. É possível assim compreender o porquê da atribuição de valor de cunho inatista feita por Langacker à organização linguístico-perceptual (2000a:172; 1987:147). Se aceitarmos a ideia de serem as preposições formas linguísticas que expressam a relação de percepção espacial, cuja organização possui relação orgânica com o ambiente, devemos admitir que os usos preposicionais são dependentes da relação base/parte que se manifesta em formas linguísticas dêiticas, anafóricas ou em expressões que diretamente relatam movimentos entre a base e a parte. A relação entre esses dois elementos pode ser descrita como 'flecha e referência' (Langacker 2005); 'ponto de partida e ponto de chegada' (Pottier 1997) ou com outro par de expressões que for adequado, como 'referente e relatado' e 'marco e trajetor'.

Testes sobre uso e compreensão das preposições in e on em inglês desenvolvidos por Garrod, Ferrier e Campbell (1999) comprovam essa interpretação. Os experimentos realizados por esses autores levaram em conta o grau de clareza espacial do uso preposicional e "demonstram que a informação sobre a relação de localização entre o referente e o relatado pode afetar a confiabilidade de quem observa o experimento na escolha das preposições" (1999:185). Há uma motivação espacial para o uso da preposição; há evidências da relação de internalidade que se estabelece entre conteúdo/continente e o uso preposicional, ou seja, quanto mais interno estiver o conteúdo dentro do continente, o que é uma noção espacial, mais próximo se está do modelo esquemático que justifica a semântica e consequente escolha da preposição inglesa in. Grabowisky (1999) e Miller & Grabowisky (2000) relatam que a forma e a posição dos objetos referenciais interferem na escolha da preposição. Em termos sumários, o que dizem é que, no reconhecimento daquilo que está 'à frente de um objeto designado pelo falante', leva-se em conta a sua posição em relação ao falante e a morfologia do objeto tido como ponto de referência.

4. GRAMATICALIZAÇÃO: PROPOSTA PARA A ORIGEM DAS PREPOSIÇÕES

Outro ponto central a este estudo concerne à origem das preposições. Como já foi anunciado, sustento que as preposições são palavras de valor esquemático que indicam movimento no espaço físico e outras relações desse último sentido originadas. A hipótese de 'as preposições terem origem na indicação de movimento espacial ou corporal' é importante porque associa de forma produtiva a história da palavra e sua interpretação atual. O reconhecimento de argumentos históricos permite, em certa medida, desvelar o valor semântico das preposições. Esse exercício é bastante claro para ao caso da preposição back, em inglês, por exemplo, mas é vago se aplicado à preposição de em português, sendo que ambas as formas assumem tal função através de um processo da gramaticalização.

Para Hopper e Traugott (2002), gramaticalização é um processo de progressiva perda de autonomia da palavra e sua efetivação como partícula funcional. Seguindo trajetória evolutiva de várias etapas contínuas, a palavra passa de um estatuto lexical pleno para um estatuto lexical relacional. O que era um item autônomo passa a ser uma unidade linguística que exerce função de forma dependente dos apoios sintático e semântico do ambiente linguístico no qual se ancora. O exame dos termos gramaticalizados pode exigir estudos que considerem épocas bastante distantes – de é um exemplo – ou variações temporais mais recentes – como é o caso do estudo das formas reflexivas cabo-verdianas kabésa e kunpanheru; vejamos.

A língua crioula cabo-verdiana das ilhas de Santiago apresenta partículas reflexivas de semântica lexical bastante transparente. Em (a) E'da raiba di si kabésa (Ele sentiu raiva de si próprio); e em (b) Nu krê kunpanheru txeu (Nós nos amamos muito), nota-se que junto às partículas reflexivas kabésa e kunpanheru, reconhecem-se nitidamente traços de seu significado próprio.

Fenômenos em línguas que podem ser consideradas novas, tais como acontece nas ocorrências crioulas (a) e (b), permitem fazer inferências sobre processos mais antigos e menos documentados, mas que se desenvolveram, estima-se, de acordo com razão semelhante. Isso posto, é plausível supor que: "... toda e qualquer forma gramatical pode ter uma forma inicial lexical, sendo ela, portanto, resultado potencial de uma gramaticalização." (Prévost 2003:152).

A partir dessa premissa, pode-se pensar que toda e qualquer preposição, em um tempo passado mais ou menos remoto, foi uma palavra plena e autônoma. Se isso for verdade, podemos igualmente assumir que há diferentes graus de gramaticalização. Ou seja, quanto mais marcado for o grau de gramaticalização, mais dependente sintaticamente e mais frágil semanticamente se caracterizará a palavra; em conseqüência disso, mais polissêmico-funcional poderá ser o termo2 2 . Por 'polissemia-funcional', aludo a situações em que não apenas variação de significado, mas também sua efetivação de significado seja regida pelo contexto sintagmático. A polissemia de uma palavra dita plena pode ser presumida mesmo fora de contexto característica que as difere das palavras gramaticalizadas. .

5. A PRIMARIEDADE ESPACIAL PREPOSICIONAL

A proposta de as preposições terem uma semântica espacial primeva é tema de debate. Por um lado, Groussier (1999), Fagard (2002), e Goyens & De Mulder (2002) manifestam-se favoravelmente à hipótese localista. Groussier justifica suas conclusões a partir de pesquisa diacrônica realizada com a língua inglesa; Fagard baseia-se em pesquisa diacrônica de corpora de língua francesa; e Goyens & De Mulder propõem estudo comparativo.

Os argumentos favoráveis à primariedade espacial são os seguintes: (i) a maior parte das preposições tem sentido de origem; (ii) pelo menos nas línguas indo-européias, a interpretação espacial das preposições é cronologicamente anterior a outras interpretações possíveis; (iii) mesmo em algumas preposições sem valor espacial no uso atual, é possível reconhecer traços indicadores da primariedade espacial.

Por outro, há aqueles que se opõem a tal interpretação, e esposam uma ideia nomeadamente antilocalista, enfatizando a ausência de argumentos para a relação entre a leitura espacial e as demais interpretações possíveis (Paillard 2000; Pottier 1962). Argumenta-se que se se levar adiante a hipótese da primariedade espacial, vale pensar que em um determinado momento da evolução da linguagem "apenas as relações espaciais poderiam ser expressas" (cf. Groussier, 1999: 224).

Para Corballis (2003), essa hipótese não deve ser assim considerada. Corballis sustenta que a origem da linguagem tem forte relação com a passagem de formas expressivas gestuais para formas sonoras. Se considerarmos os estágios primitivos da linguagem, argumenta o autor, é possível pensar em uma situação em que, de fato, tenha havido apenas a expressividade espacial das relações com o habitat e os instrumentos de convívio. Os hominídeos serviam-se da sonorização como mecanismo comunicativo que atuava em conjunto com as sinalizações dêiticas e processuais das práticas sociais.

É importante ressaltar que a noção de tempo em Corballis opera com uma linha cronológica que remonta à especiação do Homo sapiens há cerca de 170.000 anos. O sobressalto com a possibilidade de haver línguas em que apenas as relações preposicionais espaciais são apontadas deve ser reconsiderado dentro de tal extensão temporal. Assim, aceitar a gramaticalização como um fenômeno recorrente à linguagem desde seus passos iniciais implica em discussões que ultrapassam o domínio de uma descrição estritamente baseada em mecanismos cognitivos atuais. Associando-se a uma proposta histórica de tal dimensão, assume-se também que as categorias léxico-funcionais são contínuas e que os argumentos diacrônicos são necessários à explicação das configurações sintáticas e semânticas.

6. O CORPUS DA PESQUISA: DE ONDE VEM E COMO FOI ORGANIZADO

O corpus da pesquisa é formado por dados colhidos em textos da internet; mais especificamente textos de blogs brasileiros. A coleta de dados foi feita de acordo com um procedimento simples e sem o mapeamento sobre os informantes. Não foram levadas em conta a organização e a análise de variações sociais como idade, gênero, origem geográfica e escolaridade. É possível haver influência de fatores como esses na escolha e na freqüência de seu uso preposicional, notadamente no que concerne a avaliação do padrão normativo, mas esses aspectos não são objeto desta pesquisa. (cf. Gomes 1998, 1999).

Optou-se por categorias sintagmáticas e semânticas abrangentes. São propostos dois grandes grupos sintáticos: um nominal e outro grupo verbal. Aplicada a essa primeira organização, será traçada uma categorização cognitiva, considerando o valor semântico esquemático espacial, especificamente 'valor de direção-origem', da preposição de. O sentido de origem é seu valor espacial primário, sendo que deriva desse a interpretação de quantificação. Para os casos em que 'origem' ou 'quantificação' não se aplicam, propõe-se a interpretação by default, ou seja, a preposição de exerce a estrita função de marcação intrínseca da relação entre dois termos. São essas as três categorias de interpretação cognitiva que proponho:

(i) valor de direção de origem;

(ii) valor de quantificação e

(iii) valor intrínseco ou interpretação by default.

Essa última categoria não deve ser vista como uma adequação teórica adaptativa, mas como, de fato, uma manifestação preposicional distinta das duas categorias anteriores.

6.1. Metodologia para a coleta e categorização dos dados

Os dados que compõem o corpus de análise foram colhidos na internet entre dezembro de 2003 e janeiro de 2004. Os 20 blogs brasileiros captados através de um procurador foram gravados e transcritos em um único documento. Através de ferramenta de busca, foram contadas todas as preposições de presentes no corpus. A quantidade de dados iniciais é extensa: cerca 1730 ocorrências da preposição na forma de, mais 500 e 520 nas formas da(s) e do(s), totalizando 2750 ocorrências da preposição com ou sem artigos agregados. Neste mesmo corpus, foram registradas as ocorrências das preposições em e com, a serem usadas em análises comparativas.

Selecionaram-se as primeiras 1000 ocorrências preposicionais encontradas no corpus da pesquisa para análise, distribuídas da seguinte forma: 792 casos da preposição de; em apareceu 117 vezes, e com, 91 vezes. A outra parte dos dados foi reservada para testes e ensaios de contagem e de categorização.

Em um momento seguinte de contagem manual e análise dos dados, foram eliminados e corrigidos alguns erros de reconhecimento de pelo programa de computador. Na passagem de um formato blog para o modelo textual de uso no WORD, ocorrem diferenças na paginação, na separação silábica e algumas outras imperfeições de configuração que ocultam e ou criam dados falsos. O número de erros dessa natureza foi bastante restrito (inferior a 1%) e as correções foram feitas. Com os devidos ajustes, o total de preposições analisadas alcançou as 1008 ocorrências; como aparece organizado na Tabela 2; a seguir:

Tabela 2

6.2. Distribuição Sintagmática

As ocorrências de uso da preposição de foram inicialmente distribuídas em dois ambientes sintagmáticos genéricos: um primeiro de valência nominal e um segundo de valência verbal. Ostensivamente realizados ou não, os complementos nominais acompanhados da preposição de ou dos verbos que aprecem sucedidos pelo SP em análise compõem dois modelos distintos. O primeiro grupo tem forma genérica SN[...(de) S_[...]] e engloba as ocorrências entre duas partes nominais N1 e N2; ele será nomeado como modelo NOMINAL-NOMINAL. No segundo modelo genérico, SN[...(de) S_[...]], as relações ocorrem entre esquemas verbais e complementos nominais pós-preposição de; esse será nomeado como modelo VERBO-NOMINAL. Os processamentos nominal e verbal constituem os grandes processos linguístico-cognitivos. Através de pares distintos como 'sujeito/predicado'; 'referência/movimento'; 'tema/comentário'; 'função/argumento'; 'entidade/processo', SN/SV, sentenças associam mecanismos cognitivos nominais e verbais.

Como mecanismo cognitivo, tendemos a reconhecer a instância nominal em objetos discretos e a eles associar movimentos sensorialmente perceptíveis, expressos pela instância verbal. Em outros termos, a delimitação de referência, e eventual qualificação, e a esquematização de movimentos, e eventual modalização, são os procedimentos cognitivos basilares a partir dos quais outros procedimentos nominais e verbais mais abstratos podem ser aludidos e compreendidos. Esse é o motivo pela opção por duas grandes categorias analíticas de manifestação sintagmática, categorias essas que serão distribuídas em manifestações sintagmáticas internas. Tudo se passa como se houvesse uma organização cognitiva geral – referências e movimentos – que servisse de ponto de partida para que, através de procedimentos analógicos, metafóricos e híbridos, outras formas de interação e expressão entre linguagem e as percepções sensoriais amadurecessem. Os exemplos seguintes oriundos do corpus ilustram a categoria nominal-nominal:

(1) SN [Eduardo Campos, SN[o tipo de SN[cara]]] q alguns...

(2) SV[chega para SN[o advogado mais caro da SN[ cidade]]

Na categoria geral VERBO-NOMINAL, encontram-se casos como:

(3) e SV[terminou de SC[ver SN[o jornal]]]

(4) S[O pintinho SV[saiu do SN[ovo]]] e disse:

Dada a categorização geral que engloba as formas de ocorrência em dois modelos genéricos, chega-se aos seguintes dados:

Tabela 3

Neste trabalho, considero os valores semânticos que assumem a preposição de nos contextos nominais das 651 ocorrências reconhecidas. A interpretação desses valores segue o princípio apresentado na exposição teórica inicial sobre o valor espacial primevo da preposição e seu deslizamento para sentidos metafóricos e figurativos. De forma clara ou opaca, direta ou indiretamente, de manifesta alguma relação espacial. São 3 categorias propostas para a análise da ocorrência da preposição de dentro do ambiente nominal: Valor Nominal de Origem (NO); Valor Nominal de Parte (NP) e Valor Nominal Intrínseco (NI).

Por valor Nominal de Origem, notado em NO, compreendo as ocorrências da preposição de que indicam que o primeiro elemento N1 tem origem no segundo elemento N2. A interpretação de Valor Nominal de Parte (NP) justifica a presença da preposição entre um item lexical de quantificação, como dúzias, parte, frente e milhares e o SN que o segue. Por valor Nominal Intrínseco (NI), compreendo situação em que a relação entre os dois elementos relacionados pelo uso preposicional tenha sua relação não especificada. Como se observa na tabela abaixo, a soma dos casos de NO e NP representa 39% dos dados:

Tabela 4

A interpretação NI é sugerida e explicada por Langacker (1992) e por Benveniste (1974). Os exemplos (5-7) ilustram respectivamente cada uma das categorias de ocorrência, que serão analisadas nas seções seguintes:

(5) ... (automóvel) alugado do padre... (NO)

(6) ... o início de uma nova peste. (NP)

(7) ... filho do jardineiro... (NI)

Analisaremos a seguir cada uma das interpretações propostas.

7. AS CATEGORIAS DE ANÁLISE

7.1. Valor Nominal de Origem (NO)

Valor Nominal de Origem (NO) representa 19% dos exemplos nominais computados: foram 100 casos sobre um total de 536 casos. As ocorrências dessa categoria têm em comum a possibilidade de o segundo elemento ser nominal, N2, compreendido como a fonte ao que se faz menção antes, N1. Ou seja, através do uso da preposição de, perfila-se uma relação de direção sendo que N1 tem origem em N2, como aparece em:

(8) Houve um profeta da Palestina

Em (8), o reconhecimento de valor NO parece-me igualmente clara. O "profeta" tem origem na "Palestina"; o que, em uma ilustração esquemática, pode ser visualizado como:

Figura 1


Na Figura 1, X é a entidade que tem origem indicada pela seta no retângulo interno. O modelo sumaria a relação entre N1 e N2 com valor de direcional de origem estabelecida por de. De um ponto de vista de especificação semântica, pode-se dizer que o 'profeta' é identificado por sua origem pátria. A interpretação pode ser também feita para ocorrência como

(9) a menina mais bonita da FATEC.

O outro exemplo a ser listado como NO permite novamente uma interpretação próxima às já elencadas, mas de caráter mais sutil. Em (10) o [automóvel] alugado do padre, a origem do automóvel está no 'padre'. O carro pertence ao 'padre'; é ele, portanto, a origem do '[automóvel] alugado'. O evento verbal ALUGAR perfila uma relação de origem e destino da entidade alugada. A substituição da preposição de pela preposição para em (10') [o automóvel] alugado para o padre delinearia outra direcionalidade para o evento. No lugar de se ter a origem do 'automóvel no padre', desloca-se 'o automóvel' na direção 'do padre'. A ocorrência da preposição de no exemplo (10) estabelece, portanto, uma fotografia de onde vem a entidade alugada. O uso da preposição em análise aponta a direção de origem; o uso da preposição para mapearia a direção oposta de destino. Nos dois casos de uso preposicional, ocorre a delimitação de relações espaciais. A hipótese central de haver valor espacial para as ocorrências preposicionais tem argumento favorável na análise comparativa entre para e de. No exemplo (11) a habilidade especial do herói da história, o valor de NO está presente, mas é operado em uma relação de rede. Como aparece na Figura 2, N1 tenha origem em N2 que tenha origem em N3, e assim por diante.


Nesse caso, X2, 'a habilidade especial' tem origem em X1, 'o herói', que tem origem em 'a história'. Nos termos da GC, um mesmo sintagma pode desempenhar a função de Trajetor em relação a um Marco; e, em outra situação, opera como o Marco em relação a outro Trajetor em um outro sintagma. Nota-se que o esquema montado para este exemplo é harmônico com o esquema geral de valor espacial de origem. As perfilações cognitivas operam em rede e podem empregar outras preposições. Para o exemplo hipotético (c) A menina está na luz do sol, pode-se propor o seguinte esquema de interpretação:

Figura 3


(c) A menina está na luz do sol

A 'luz' tem origem no 'sol', por isso de; e a presença de 'a menina' no espaço é indicado por em (na). Assim, reconhecem-se a origem da 'luz', dada a direção que traça a preposição de; e o espaço no qual se encontra 'a menina', dada a ocorrência de em, que tem valor de localização. No esquema, o espaço, representado pelo retângulo cinza, é definido por essa 'luz'. Por esse motivo, as setas aparecem em direção contrária àquelas que aparecem no esquema icônico. À preposição em, por sua vez, cabe a função de locar a menina nesse espaço.

Temos uma situação de operação em rede de SNs e preposições, criando, com isso, um cenário espacial complexo. A ocorrência (12) eu queria fazer aqui perto de casa mesmo tem situação semelhante para a interpretação da delimitação do venha a ser a proximidade. Em (12), "casa" dá origem a um espaço que a tem como referência de proximidade; essa relação é perfilada por de; em um esquema ilustrativo:

Figura 4


(12) ... aqui perto de casa mesmo

Na Figura 4, o círculo define a origem da proximidade; o retângulo indica a área de proximidade, e x localiza onde se encontra a personagem ("a menina") na representação esquemática.

7.2. Valor Nominal de Parte (NP)

A interpretação da preposição de como marcação esquemática de parte, portanto, de seleção quantificativa em um conjunto é exemplificada nos casos (13-14),

(13) Eles estão no topo de uma colina...

(14) Sim, tipo 50% do tempo...

e representa cerca de 20% dos casos locados dentro do rol das subcategorias nominais, com 108 casos contados. Por valor Nominal de Parte (NP), compreende-se uma parcela de um conjunto. Supõe-se assim que se ocorre de após o quantificador, estabelecendo uma relação partitiva, sendo que o universo originário da parte aparece após a preposição. De maneira precisa ou vaga, o SN anterior à preposição de seleciona uma determinada parcela do conjunto apontado pela referência do SN pós-preposição3 3 . Sobre o tema, ver Perini-Santos (2007b) .

A interpretação NP pode ser amplamente exemplificada pelas ocorrências colhidas no corpus como aparece em (15) em alguma parte do corpo, (16) centro de Porto Alegre, (17) dia 8 de dezembro e (18) os últimos da fila. 'Alguma parte', 'centro', '8', 'últimos' são partes de conjuntos maiores. Ou seja, 'alguma parte' refere-se a uma determinada parte do conjunto 'corpo'; 8 de dezembro é um e nomeadamente o 8º dia dos 31 dias que compõe o conjunto dezembro. O mesmo raciocínio vale para 'centro' e para 'os últimos'. Existe uma cidade, 'Porto Alegre'; seu centro é parte dela; existe uma fila; 'os últimos [colocados]' são parte dela. É, portanto, condição para sua interpretação como NP o reconhecimento de um subconjunto, cujo conjunto-fonte é posposto à preposição. Esquematicamente, podemos compreender essa interpretação da seguinte forma:

Figura 5

Neste modelo (Figura 5), x é parte do conjunto a. O círculo tracejado foi retirado do conjunto maior; a seta representa o papel esquemático NP atribuído à preposição de.


Figura 6


(17) ... dia 8 de dezembro

Em (17), '8' quantifica o número de dias selecionados no mês de dezembro, sendo que 'dezembro' é um conjunto, mês, com 31 dias.

7.3. O Valor Nominal Intrínseco (NI)

Foram 328 as ocorrências interpretadas como NI, o que equivale a 61% dos casos da forma de em ambientes nominais. O valor para interpretação da preposição de é justificado pela sobrepujança semântica que rege a relação entre dois elementos N que ladeiam a preposição. Benveniste (1974) e Langacker (1987) explicam o que venha a ser NI. O primeiro dedica-se ao tema em exposição sobre a substituição dos casos latinos pela crescente incidência preposicional, notadamente a substituição do genitivo e do dativo por de. Para esse autor, relata Hersunld,

Um predicado tal como FILHO é um bom exemplo de substantivo transitivo, ou relacional, porque ele pede necessariamente um argumento suplementar: FILHO (x) ('x tal que x seja filho) deve ser obrigatoriamente extendido para a forma FILHO (x,y) ('x tal que x seja filho de y); em Benveniste (1974), filho équivale a filho-de." (Hersunld,1980: 82-83)

A relação filho/pai é inerente aos dois elementos. Não se é pai sem filho; tampouco, filho sem pai. A nomenclatura de parentesco determina que 'pai' só é possível se houver um 'filho'; e vice-versa: toda vez que se fala de filho, presume-se a existência da expressão pai, sua contrapartida hierárquica no sistema de parentesco das línguas neolatinas. Retomando o exemplo de Benveniste, o reconhecimento de conceitos inerentes que embasam a relação conceptual pai/filho se encaixa no quadro teórico das relações entre 'domínios' (Langacker 1987). Basicamente, o que a GC propõe é que os significados das unidades linguísticas constroem-se em relações conceptuais nas quais existem um domínio-base e conceitos esquemáticos a ele associados. Da mesma forma como o conceito matemático de 'raio' é compreendido dentro do domínio 'circunferência', a relação conceitual 'filho/ pai' pertence ao domínio-base 'família'. O apagamento da preposição de em papel by default é possível porque sua ocorrência não engendra variação de interpretação. A operação cognitiva de reconhecimento de qual é a relação entre N1 e N2 dentro de um determinado domínio-base de um caso como esse permanece inalterada4 4 . Gross é de opinião contrária. Para ele, "a preposição que precede o substantivo (como em 'chemin de fer' [trilho de ferro]) constitui um elemento sobre o qual não se faz pertintente a busca por um sentido intrínseco" (1981:39). .

Assim, à preposição de, pode outorgar-se a função de evidenciar a ocorrência da relação entre os dois elementos nominais sem especificação de seu valor semântico. O peso semântico de uma preposição deve ser avaliado levando-se em conta a carga informacional e a natureza da relação que há entre os elementos que a ladeiam: 'pai/filho' e 'dúzia/ovos', por exemplo, relacionam-se cognitivamente de formas distintas: o primeiro como NI e o segundo como NP. A operação cognitiva da preposição de em cada um desses dois últimos casos será diferente. Mesmo que se trate de outros idiomas e de outros tempos, parece-nos possível validar para o PB o que ocorreu com o francês arcaico e com as línguas crioulas alídicas estudadas por Migge (2003)5 5 . Exemplos em francês arcaico (cf. Hersunld 1980): Le fiz le roi (O filho o rei); li serf Dieu (o servo Deus); (cf. Harrison & Ashby 2003): Jonas /…/, ki fu el ventre la balaine. (Jonas /.../ que foi a barriga da baleia); El cil est fil roi Tibaut l'Escavon. (O cílio é filho rei Tibaut, o Escavon); La teste Brun (A cabeça Bruno) e em línguas crioulas alídicas (cf. Migge 2003): Den put milk coffee (Eles colocaram leite café). .

A ausência da preposição é aceita porque não afeta a relação de predicação por ela introduzida. O mesmo acontece fenômeno acontece no PB e no crioulo cabo-verdiano. A linguista Dulce Duarte relatou (em conversa pessoal) observações que faz sobre algumas semelhanças no uso preposicional entre as duas línguas. Dentre outros aspectos partilhados, como a substituição do verbo haver pela forma ter, chamam a atenção de Duarte a ausência da preposição a junto ao verbo assistir; a substituição dessa mesma preposição pelas formas sintéticas no(a), como em 'ir na (à <) casa de João' e em 'falar no (ao <) telefone', e a ausência da preposição de em usos oracionais, como (d) N sisti un programa na televizaun. (Eu assisti [a] um programa na televisão); (e) Ana bai na caza di Djon (Ana foi na casa do João) e (f) Kel li e un filmi k'in gosta txeu. (Esse é um filme [de] que gosto muito).

Para a compreensão da expressão langackeriana 'valor inerente', podemos, portanto, fazer uso de argumentos empíricos, haja vista que esses clareiam o que venha a ser uma relação inerente à definição da expressão relação inerente. Compreende-se que a relação entre dois termos nominais intermediada por de é inerente, se for interpretada, by default, de acordo com o aporte semântico dos termos N1 e N2. No lugar de se pensar em um comando de exclusividade sintática, pode-se pensar em um uso pre-posicional no qual N1 e N2 estabelecem-se como termos relacionados, cuja transparência semântica não é reconhecível sincronicamente.

8. PROPOSTA DE MODELO PROTOTÍPICO GERAL

A preposição de tem como valor prototípico a marcação espacial de origem, isto é, em sua acepção prototípica, de exerce valor semântico que lhe era outorgado pela palavra plena de origem. Esse valor histórico é reconhecido no modelo geral que esquematicamente tem o seguinte formato:

Figura 7


sendo que, entre os elementos do esquema, ocorre a seta indicativa da direção de origem marcada pela preposição de entre a forma (a) e a forma (b); sendo (a) ≠ (b). A segunda forma, o quadrado, representa de onde vem o círculo, forma (a). A partir deste modelo prototípico, estabelecem-se as interpretações derivadas: NO, NP e NI.

A interpretação de valor NO é a mais próxima do modelo genérico. O valor nominal de origem é ilustrado por casos como (19) Risada maligna de alguém e (20) caía uma lágrima do rosto. Nesses casos, é nítido a aporte informacional da preposição ao verbo. É da parte (b) que tem origem o elemento em (a), esquematicamente,

Figura 8


O segundo modelo interpretativo derivado de um modelo geral refere-se ao valor Nominal de Parte (NP). A partir do lugar de origem institui-se um conjunto de uma quantidade x. Ou seja, o elemento (a) do esquema é composto por elementos cuja origem é o todo, representado em (b). Esta forma de interpretação pode ser exemplificada por (21) foram 5 tubos de sangue e por (22) dois litros de leite atravessaram a rua. Em forma de esquema, tem-se a seguinte apresentação:

Figura 9


Esses dois modelos iniciais de interpretação se distinguem. A partir de (a), constituem-se grupos com uma determinada quantidade. Na interpretação de NP, refere-se a unidades que vêm de um ponto de origem (b). A interpretação NP é mais opaca do que NO.

A terceira interpretação é a que mais se distancia do modelo prototípico. O valor Nominal Inerente (NI) refere-se a um uso preposicional a tal ponto gramaticalizado que pode ser reconhecido como forma de construção gramatical que apenas evidencia a relação inerente entre dois itens nominais. O valor semântico que se atribui a de, entre N1 e N2, é estimulado pelo aporte semântico dos SNs dentro do contexto de sua ocorrência, e não pela preposição ela mesma; como em (23) Dias deliciosos de praia e (24) Mansão da Barbie.

No esquema que delineia essa fraca relação derivada do modelo genérico, a formas (a) e (b) aparecem com a mesma forma ilustrativa, (a) = (b). A hierarquia meronímica, presente em NO e em NP, em NI, não mais é reconhecida:

Figura 10


A comparação entre os modelos propostos revela um aspecto interessante: há uma perda progressiva e concatenada de especificidade dos componentes do esquema, conservando-se, porém, a sua organização. Passa-se de uma composição de 3 elementos concomitantes e distintos: o círculo, o quadrado e a seta, para uma composição de dois elementos distintos:

Figura 11


Ocorre um progressivo esvaziamento do valor prototípico geral, de NO para NI. Neste processo, o esquema torna-se menos individualizado no que concerne às funções dos seus integrantes, mas mantém-se a construção que põe em relação dois elementos nominais através de um item preposicional. A meu ver, isso é um indicativo satisfatório do valor tipológico da construção [N1de N2] da língua portuguesa.

COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS

Os resultados desta pesquisa podem ser organizados da seguinte forma: buscou-se (i) moldar um esquema para a análise preposicional (ii) que considere a preposição de como oriunda de processo de gramaticalização, (iii) cujo valor semântico original teria origem na noção espacial de deslocamento.

Na interpretação da função da preposição de em ambientes sintagmáticos nominais, vimos que 19% dos exemplos podem ser interpretados como casos de NO; e 20% como casos de NP. Ou seja, do total dos exemplos nominais do corpus, para 39% das ocorrências, mostra-se possível a interpretação espacial direta ou derivada. É razoável pensar que a hipótese central e as categorias analíticas desenvolvidas foram comprovadas.

No que diz respeito à gramaticalização, não foram apresentados dados que a documentem de fato a evolução de uma possível forma inicial plena para a atual convenção linguística atribuída à forma de. A impossibilidade e a ausência de documentação histórica são grandes desafios para a pesquisa linguística diacrônica. No entanto, o uso de recursos comparativos com línguas novas como os crioulos e as línguas sinalizadas, de analogias a casos preposicionais com graus de gramaticalização menos marcados e de argumentos advindos da GC permite concluir que é mais plausível pensar-se em processos evolutivos lentos que tenham por ponto de partida formas nominais plenas, do que se pensar em evoluções abruptas e mudanças para categorias pré-existentes. Endosso, portanto, a conclusão à qual chega Desagulier após a análise de casos de mudanças linguísticas no inglês. Para o autor, é meritório de destaque o fato da abordagem "cognitivo-funcional ter apontado que em toda categoria gramatical (morfossintática ou semântica) há uma gradação; o que não é mais do que a prova de sua evolutividade (évolutivité)." (2005: 469).

Os diferentes graus de evolução das preposições fazem com que ocorram diferenças nos comportamentos sintáticos e semânticos dessas palavras. É possível, porém, reconhecer-lhes algum valor de 'grupo' (notem que é diferente de 'classe'). As preposições são palavras cujo processo de configuração deu-se em detrimento de sua autonomia semântica e sintática, tornando-se, assim, dependentes dos contextos sintagmáticos nos quais se apóiam e ou atuam como partículas predicativas argumentais.

A comprovação da interpretação básica espacial e da origem gramaticalizada para a preposição de traça um quadro empírico condizente com os fundamentos da GC e suas conseqüências metodológicas. Mesmo o reconhecimento de casos duvidosos, de empréstimos ou de acidentes não conflita com o que é feito na GC que, no lugar de regras e leis de aplicação categorial, propõe tendências, interpretações e processos.

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Recebido em: abril de 2008

Versão reformulada, recebida e aprovada em: março de 2011

E-mail: pedroperini@hotmail.com

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  • WEISSENBORN, Jürgen. 1981. L'Acquisition des prépositions spatiales: problèmes cognitifs et linguistiques. Linguistische Arbeiten 110: 251-285.
  • 1
    . Este artigo é resultado do Doutorado em Linguística Cognitiva desenvolvido junto à Faculdade de Letras da UFMG e ao Department of Linguitics, University of California at Davis, sob a orientação dos professores Dra. Heliana Mello e Dr. Patrick Farrell, a quem agradeço. Não obstante, a responsabilidade sobre o mesmo é exclusivamente minha. Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq e da PUC-Minas.
  • 2
    . Por 'polissemia-funcional', aludo a situações em que não apenas variação de significado, mas também sua efetivação de significado seja regida pelo contexto sintagmático. A polissemia de uma palavra dita plena pode ser presumida mesmo fora de contexto característica que as difere das palavras gramaticalizadas.
  • 3
    . Sobre o tema, ver Perini-Santos (2007b)
  • 4
    . Gross é de opinião contrária. Para ele, "a preposição que precede o substantivo (como em 'chemin de fer' [trilho de ferro]) constitui um elemento sobre o qual não se faz pertintente a busca por um sentido intrínseco" (1981:39).
  • 5
    . Exemplos em francês arcaico (cf. Hersunld 1980):
    Le fiz le roi (O filho o rei); li serf Dieu (o servo Deus); (cf. Harrison & Ashby 2003):
    Jonas /…/, ki fu el ventre la balaine. (Jonas /.../ que foi a barriga da baleia);
    El cil est fil roi Tibaut l'Escavon. (O cílio é filho rei Tibaut, o Escavon);
    La teste Brun (A cabeça Bruno) e em línguas crioulas alídicas (cf. Migge 2003):
    Den put milk coffee (Eles colocaram leite café).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Set 2011
    • Data do Fascículo
      2011

    Histórico

    • Recebido
      Abr 2008
    • Aceito
      Mar 2011
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