Acessibilidade / Reportar erro

The Cambridge encyclopedia of the language sciences

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES

Francisco Gomes de Matos

(Professor Emérito, Universidade Federal de Pernambuco), E-mail: fcgm@hotlink.com.br

HOGAN, Patrick C. (Ed.) 2011. The Cambridge Encyclopedia of the Language Sciences. New York, Cambridge University Press. xxii + 1021 p.

Resenhar este volume enciclopédico é um imenso desafio intelec tual, principalmente por tratar-se de uma obra com intenção abrangente, ambiciosa: mapear as ciências da linguagem, em uma época em que se desenvolvem áreas emergentes da Linguística e de ciências afins que partilham um interesse pela linguagem em suas múltiplas manifestações. Para o resenhador desincumbir-se da tarefa, optei por uma resenha centrada em 10 categorias: 1. Título, organizador, consultores, autores, 2. Objetivos, ciência da linguagem, organização, 3. Ensaios introdutórios, 4.Extensão e abrangência das entradas, tipos de Linguística explicitados, 5.Lacunas, 6. Entradas referentes à Linguística Aplicada, 7. Inglês acadêmico:benefícios conceituais-terminológicos, 8. Inglês acadêmico: benefícios fraseológicos, 9.Referências, fontes on line, 10. Conclusão.

1. Título, organizador, consultores, autores

O título segue a tradição da editora Cambridge, ao identificar o volume como uma Cambridge Encyclopedia of... Os volumes anteriores, ambos de autoria de David Crystal, centraram-se em Language e The English Language. Desta vez, entretanto, temos multiautoria, com participação internacional.

O organizador, Patrick Colm Hogan, é Professor titular no Departamento de Inglês e no Programa de Ciência Cognitiva da Universidade de Connecticut. No planejamento, Hogan contou com a colaboração de dois grupos de consultores: Editorial Advisory Board (6 membros) e Consulting Editorial Board (14 membros). A obra tem dois tipos de colaboração autoral: 7 capítulos introdutórios (um dos quais pelo organizador) e 482 entradas (extensão variável: um parágrafo a cinco páginas). Uma consulta à lista de autores mostra que suas instituições provém de muitos países, dentre os quais Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Espanha, Escócia, Estados Unidos (maioria dos autores), Finlândia, França, Grécia, Hungria, Inglaterra, Irlanda, Itália, Líbano, Suécia. Destaque-se a versatilidade do organizador: além do Prefácio e de um ensaio introdutório, escreveu 17 entradas.

2. Objetivos, Ciência da linguagem, Organização

Esta enciclopédia é destinada a leitores que possam interessar-se por algum aspecto da ciência da linguagem e queiram aprender mais sobre um vasto conjunto de idéias, resultados de pesquisas, práticas e perspectivas constitutivas de um campo em acelerada expansão que ocupa um lugar central no estudo da mente e da sociedade humanas (p.i).

Em seu Prefácio, Hogan caracteriza uma ciência da linguagem como a aplicação de princípios gerais do método científico ao estudo de fenômenos linguístico em quaisquer níveis, por exemplo, da neurolinguística, linguística cognitiva, filosofia da linguagem, pragmática, análise do discurso, sociolinguística. (p.xix)

CELS contém uma informação editorial sobre o volume, brevíssima biografia do organizador, 3 depoimentos laudatórios de linguistas (um dos quais Noam Chomsky), lista dos consultores, Dedicatória (ao sanscritista B.N.Pandit, genro do organizador), lista das 482 entradas, Nota sobre Referências e tratamento alfabético das entradas, Prefácio, Agradecimentos, 10 belas ilustrações coloridas (diagramas/fotos) de natureza neurolinguísticas, 7 ensaios introdutórios, Entradas, Lista de autores.

3. Ensaios introdutórios

Para Hogan, os sete ensaios introdutórios propiciam uma iniciação aos tópicos principais da ciência da linguagem. Eis os títulos respectivos, em inglês: 1.Language structure in its human context: new directions for the language sciences in the Twenty-first century, 2.The psychology of linguistic form, 3.The structure of meaning, 4.Social practices of speech and writing, 5. Explaining language: Neuroscience, Genetics, and Evolution, 6. Acquisition of language, 7. Elaborating speech and writing: verbal art.

4. Extensão e abrangência das entradas e Tipos de Linguística explicitados

As entradas variam, em extensão, de um parágrafo a cinco páginas. Um variadíssimo universo conceitual podemos encontrar em CELS. Eis alguns exemplos dessa diversidade impressionante: Art (Languages of ), Blindness and language, Connectionism and grammar, Digital media, Emotion words, Film and language, Gender and language, Hippocampus, Intertextuality, Literacy, Mental space, Neuroimaging, Origins of language, Politics of language, Religion and language, Sign languages, Theory of Mind and Language acquisition,Verbal humor,Word order.

Tipos de Linguística explicitados nas entradas: Biolinguistics, Cognitive Linguistics, Corpus Linguistics, Forensic Linguistics, Functional Linguistics, Historical Linguistics, Integrational Linguistics, Psycholinguistics, Quantitative Linguistics, Sociolinguistics, Textlinguistics.

5. Lacunas

Causou surpresa a este resenhador a ausência de uma entrada sobre Linguística Aplicada, área em vigoroso desenvolvimento, reconhecida internacionalmente por sua relevância. Ao perceber tal lacuna, escrevi ao organizador, que prontamente esclareceu: "I didn't include some very general categories, such as theoretical linguistics and applied linguistics, opting instead for entries on particular sorts of applications" (email de Patrick Hogan, July 3, 2012). Aponto duas outras omissões: Terminology (Science of terms) e Ecolinguistics. Pela abrangência conceitual-terminológica de CELS, uma entrada referente à Terminologia faria justiça ao trabalho notável dos terminológos, alguns dos quais engajados no desenvolvimento da terminologia das ciências da linguagem. Igualmente indispensável a inclusão de um verbete para a área da Ecolinguística, que poderia ter sido objeto de uma entrada do tipo Environment and Language.

6. Entradas referentes à Linguística Aplicada.

Apesar da não-inclusão da Linguística Aplicada, CELS oferece entradas a este campo referentes: Bilingual education, Bilingualism and Multilingualism, Colonialism and language, Creativity in language use, Culture and language, Extinction of languages, Language-learning environment, Language policy, Reading, Register, Second language acquisition, Teaching language, Teaching reading, Teaching writing.

7. Inglês acadêmico: Benefícios conceituais-terminológicos

Pela importância crescente da área de Inglês Acadêmico, este volume tem muito a oferecer a quem esteja empenhado em conhecer tendências nos usos daquela variedade de inglês. Aponto um benefício conceitual-terminológicos que este volume oferece: a ocorrência dos termos-chave mechanism e process. Encontrei vários usos de mechanism, onde esperaria encontrar process. Exemplos: "...mechanism for social bonding" (352), "...linguistic mechanisms" (622), "...voice refer to the mechanism for...." (909). Outro benefício, a desafiar leitores com motivação terminológica: identificar ocorrências de compostos do tipo communicative+noun (communicative act, communicative action, communicative competence, communicative inequality). Será que encontramos communicative peace (cunhado em 1993 por este resenhador )? Não. E Peace Linguistics? Também não, apesar de já dicionarizado por David Crystal em Penguin Dictionary of Language (1999).

8. Inglês acadêmico: benefícios fraseológicos.

Além de prover o(a) leitor(a) com um universo conceitual-terminológico, CELS oferece amostras atuais da fraseologia do Academic English usado por linguistas das mais diversas orientações.

Para usuários não-nativos de inglês acadêmico, CELS é uma mina a explorar - com paciência e perseverança. Assim, ao comparar alguns parágrafos finais em entradas, percebi estas variantes frasais: "In conclusion,..." (359), "In sum,.."378), "Thus, in sum,..." (438). Muitas opções fraseológicas encontramos nas entradas, para iniciar um assunto, para enaltecer o pensamento de um autor consultado (cf. a adverbialização famously na frase "as Putnam famously put it..." (270), para justificar a número ainda reduzido de pesquisas em uma área, etc. Quem sabe, com os avanços da Linguística de Corpus, teremos, breve, dicionários fraseológicos para orientação de usuários de várias línguas?

9. Referências e fontes on line

Publicado em 2011, CELS oferece um universo de referências. Assim, cada entrada apresenta as fontes usadas pelos autores. Um estudo minucioso dessas fontes revelaria, por exemplo, que revistas da área de ciências da linguagem estão mencionadas, quantas vezes, etc. Mostraria, também, a ocorrência de fontes online. Um exemplo desta:

http://www.languageatinternet.de/articles/761 (p.260)

Por estar publicada em inglês, a bibliografia do livro está nessa língua, com raríssimas exceções.

10. Conclusão

Esta enciclopédia constitui um marco na história da Linguística e das ciências que se ocupam da linguagem – se quisermos ressaltar a primazia da Linguística, antepondo seu nome ao das áreas que compõem esse complexo científico. Aliás, na entrada sobre Verbal Humor, de Paul Simpson, deparei-me com a locução "linguistics and the language sciences" (p.899). Quer optemos por ciência da linguagem ou ciências da linguagem, a verdade é que os estudos científicos da linguagem continuarão a desenvolver-se e, esperamos, a atrair novas vocações, graça a extraordinárias contribuições editoriais como esta. Felicitamos o organizador, os consultores, os autores e desejamos proveitosa leitura aos usuários desta enciclopédia.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Fev 2013
  • Data do Fascículo
    2012
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: delta@pucsp.br