Acessibilidade / Reportar erro

As hipóteses de Aryon Rodrigues: validade, valor e papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica

The work of Aryon Rodrigues: An evaluation of its core hypotheses and contributions to Historical Linguistics and the study of Indigenous Languages

Resumos

Tendo como seu ponto de partida o estado da arte dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica na atualidade e ultrapassando, portanto, as fronteiras de estados nacionais, o presente artigo revisita hipóteses importantes de Aryon Rodrigues, cuja obra é uma das mais constantes – senão uma das maiores - referências nos estudos de linguística e línguas indígenas, deste lado e do outro lado do Atlântico e no contexto deste século e da segunda metade do século precedente. O artigo revisita, entre outras, hipóteses como: a das relações pré-históricas e históricas entre as línguas do tronco Tupi e aquelas da família Karib (hipótese Tupi-Karib; Rodrigues 1985a______. 1985a. Evidence for Tupi-Carib relationships. In: Harriet Klein Manelis & Louisa R Stark. South American Indian languages: retrospect and prospect. Austin: University of Texas Press. p. 371-404., 2003b______. 2003b. Evidências de relações Tupí-Karíb. In: Eleonora Albano et al. (org.) Saudades da língua. Campinas: Mercado de Letras, v. 1, p. 393-410., 2007a______. 2007a. Linguística comparativa e pré-história dos povos indígenas sul-americanos: a hipótese Tupí-Karíb e as relações genéticas entre Tupí, Karíb e Macro-Jê. In: Thays Cristófaro Silva & Heliana. Mello (orgs). Conferências do V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: FALE/UFMG, p. 165-176.); e a do relacionamento genético mais distante envolvendo Tupi, Karib e Macro-Jê (Rodrigues 1990______. 1990. Grammatical affinities among Tupí, Karíb and Macro-Jê. UnB. Ms., 2000a______. 2000a. Ge-Pano-Carib x Jê-Tupí-Karíb: sobre relaciones prehistóricas em Sudamérica. In: Luis Miranda (org.). Actas del I Congreso de Lenguas Indígenas de Sudamérica, tomo I.. Lima: Universidad Ricardo Palma. p. 95-105. e 2007______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2007. ‘Através do léxico Macro-Jê: em busca de cognatos’. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (eds.) Línguas e Culturas MacroJê. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, p. 175-179.). Ao fazê-lo, busca mostrar caminhos que permitam testar a validade destas e de outras hipóteses, colocando em cena, consequentemente, a questão de seu valor científico e a verificação de seu papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica, sobretudo. Ao mesmo tempo, o artigo lança um olhar sobre os detalhes da argumentação de Rodrigues, da utilização consistente do método que sustenta diferentes trabalhos seus e que lhe permitiu levantar determinadas hipóteses e aperfeiçoá-las, quer com relação à classificação de determinadas línguas, quer com relação a estabelecimento de determinados agrupamentos genéticos e a reconstruções linguísticas, quer ainda com respeito ao fundamento fonético e fonológico de determinadas ideias avançadas – ideias essas que, possuindo consequências para o estudo da mudança linguística, repercutem sobre a própria teoria fonológica, por se caracterizarem por um olhar mais aberto para relações menos familiares (Rodrigues, 1981______. 1981. Nasalização e fronteira de palavra em Maxakalí. Anais do V Encontro Nacional de Linguística, v.2, 305-311. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica., 1986a______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica. e 2003c______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.). De especial importância para a avaliação detalhada das contribuições de Rodrigues - em suas consequências para a fonologia histórica, por exemplo, e como aplicações paradigmáticas do método histórico comparativo - dá-se atenção ainda ao seu trabalho de classificação interna da família Tupi- Guarani (Rodrigues 1945______. 1945. Diferenças fonéticas entre o Tupi e o Guarani. Separata dos Arquivos do Museu Paranaense vol. 4: 333-354., 1958______. 1958. Classication of Tupi-Guarani. International Journal of American Linguistics 24 (3): 231-234., 1978______. 1978. A língua dos índios Xetá como dialeto Guarani. Cadernos de Estudos Linguísticos 1:7-11., 1985b______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.) e do estabelecimento de relações e de reconstrução dentro do tronco Tupi (Rodrigues 1966______. 1966. Classificação da língua dos Cinta-Larga. Revista de Antropologia 14:27-30., 1980______. 1980a. Tupi-Guarani e Munduruku: evidências lexicais e fonológicas de parentesco genético. Estudos Linguísticos. Anais dos Seminários do GEL, v.3: 194-209., 2005______. 2005. As vogais orais do Proto-Tupi. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. (ors.) Novos Estudos sobre Línguas Indígenas. Brasília: Editora da UnB, p. 35-46., 2007b______. 2007b. As consoantes do Proto-Tupi. In: Ana Suelly Arruda Câmara Cabral & Aryon Dall’Igna Rodrigues (ors.) Línguas e culturas Tupí. Campinas: Editora Curt Nimuendajú, p. 167-203.; Rodrigues, Cabral & Silva 2006______, Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. & Beatriz Carretta Côrrea da Silva. 2006. Evidências linguísticas para a reconstrução de um nominalizador de objeto **-mi em Proto-Tupi. Estudos da Lingua(gem) 4(2):21-39.; Rodrigues & Dietrich 1997______ & Wolf Dietrich. 1997. On the linguistic relationship between Mawé and Tupi-Guarani. Diachronica14:265-304.; Hanke, Swadesh & Rodrigues 1958HANKE, Wanda, MORRIS, Swadesh & Aryon Dall’Igna Rodrigues. 1958. Notas de Fonologia Mekéns. In: J. COMAS. (org.) Miscellania Paul Rivet Octagenario Dicata, vol. 2. México: UNAM, p. 187-217.) além das suas contribuições para o estabelecimento de um grupo Macro-Jê (Rodrigues 1986b______. 1986b. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola., 1992______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC., 1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press., 2000b). Deste modo, ao tratar das hipóteses de Rodrigues, sua validade, valor e papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica, o artigo busca igualmente contribuir com uma visão em detalhe dos caminhos científicos que Rodrigues percorreu, em sua prática de análise, enquanto cientista da linguagem.

linguística histórica; línguas indígenas; método comparativo; teoria linguística


The present paper proposes an evaluation of some of the most important hypotheses of Aryon Rodrigues, whose work stands to this day among the greatest references in the study of the languages and the linguistics of Native South America, in both sides of the Atlantic, besides spanning six decades of the last century and the first decades of the present one. In doing so, we take as our starting point the state of the art in the studies of historical linguistics and of the South American indigenous languages. Included within the scope of this review are hypotheses such as that of a genetic relation between the Tupí stock and the Karib family ('Tupi-Karib hypothesis'; Rodrigues 1985a______. 1985a. Evidence for Tupi-Carib relationships. In: Harriet Klein Manelis & Louisa R Stark. South American Indian languages: retrospect and prospect. Austin: University of Texas Press. p. 371-404., 2003b______. 2003b. Evidências de relações Tupí-Karíb. In: Eleonora Albano et al. (org.) Saudades da língua. Campinas: Mercado de Letras, v. 1, p. 393-410., 2007a______. 2007a. Linguística comparativa e pré-história dos povos indígenas sul-americanos: a hipótese Tupí-Karíb e as relações genéticas entre Tupí, Karíb e Macro-Jê. In: Thays Cristófaro Silva & Heliana. Mello (orgs). Conferências do V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: FALE/UFMG, p. 165-176.) and the suggestions of an even more inclusive grouping that would cluster the Macro-Jê stock as well, along with Tupí and Karíb, in a single phylum-like group. The scientific import of such hypotheses, and the consequent role they have played in the broader landscape of the studies of indigenous languages, in particular of the historical comparative investigation of these languages, are brought to fore. Our attention here is aimed at the details of the argumentation and the methodological rigor behind each of the proposals put forward by Rodrigues, whether the hypotheses in question relate to the establishment of particular genetic groupings, to the postulation of particular diachronic developments or to the phonetic and phonological underpinning of these patterns. The latter in particular are inherently fraught with consequences for the study of language change and, for this reason, provide a thoroughly original take on some of the major issues in phonological theory (Rodrigues 1981______. 1981. Nasalização e fronteira de palavra em Maxakalí. Anais do V Encontro Nacional de Linguística, v.2, 305-311. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica., 1986a______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica., 2003c______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.). Rodrigues' works on the internal classification of the Tupi-Guarani family (Rodrigues 1945______. 1945. Diferenças fonéticas entre o Tupi e o Guarani. Separata dos Arquivos do Museu Paranaense vol. 4: 333-354., 1958______. 1958. Classication of Tupi-Guarani. International Journal of American Linguistics 24 (3): 231-234., 1978______. 1978. A língua dos índios Xetá como dialeto Guarani. Cadernos de Estudos Linguísticos 1:7-11., 1985b______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.), the reconstruction of proto-Tupi (Rodrigues 1966______. 1966. Classificação da língua dos Cinta-Larga. Revista de Antropologia 14:27-30., 1980______. 1980a. Tupi-Guarani e Munduruku: evidências lexicais e fonológicas de parentesco genético. Estudos Linguísticos. Anais dos Seminários do GEL, v.3: 194-209., 2005______. 2005. As vogais orais do Proto-Tupi. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. (ors.) Novos Estudos sobre Línguas Indígenas. Brasília: Editora da UnB, p. 35-46., 2007b______. 2007b. As consoantes do Proto-Tupi. In: Ana Suelly Arruda Câmara Cabral & Aryon Dall’Igna Rodrigues (ors.) Línguas e culturas Tupí. Campinas: Editora Curt Nimuendajú, p. 167-203.; Rodrigues, Cabral & Silva 2006______, Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. & Beatriz Carretta Côrrea da Silva. 2006. Evidências linguísticas para a reconstrução de um nominalizador de objeto **-mi em Proto-Tupi. Estudos da Lingua(gem) 4(2):21-39.; Rodrigues & Dietrich 1997______ & Wolf Dietrich. 1997. On the linguistic relationship between Mawé and Tupi-Guarani. Diachronica14:265-304.; Hanke, Swadesh & Rodrigues 1958HANKE, Wanda, MORRIS, Swadesh & Aryon Dall’Igna Rodrigues. 1958. Notas de Fonologia Mekéns. In: J. COMAS. (org.) Miscellania Paul Rivet Octagenario Dicata, vol. 2. México: UNAM, p. 187-217.) and the establishment of a Macro-Jê stock (Rodrigues 1986b______. 1986b. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola., 1992______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC., 1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press., 2000b) are given special attention as witnesses to his command, and thoughtful application, of the comparative method. By way of this review of the scientific merit, place and legacy of Rodrigues' hypotheses in the fields of historical and synchronic linguistics of the indigenous languages of South America, we hope to characterize and portray, with some amount of detail and supported by a balanced and enlightened evaluation, his career as a leading language scientist.

historical linguistics; indigenous languages; comparative method; linguistic theory


Introdução

A validade, o valor e o papel das hipóteses de Aryon Rodrigues, no cenário dos estudos de línguas indígenas e da linguística histórica, constituem nosso tema maior neste artigo. A atenção colocada em seu desenvolvimento não só traz à cena a figura do linguista e seus resultados de investigação, mas também se faz necessariamente acompanhar da estatura dos argumentos do cientista e dos caminhos que esse percorreu, em sua prática de análise, e daqueles que abriu, para além de sua própria prática. Inseparável do cientista, a figura do linguista surge aqui em detalhes de análise que constituem vias de acesso para as dimensões maiores de sua obra. Tarefa árdua e difícil, dada a importância do conjunto da obra focalizada, ensaiamos aqui uma aproximação, a título de homenagem, reconhecimento e, sobretudo, de difusão de um modo de ser e de fazer linguística que ultrapassa o mundo das línguas indígenas e nos coloca, concretamente, diante da Linguística como ciência.

Na primeira seção, aborda-se o percurso analítico de Rodrigues, assim como sua conduta intelectual e científica, seus movimentos no processo de configuração e entendimento dos chamados troncos Tupí e Macro-Jê. Na segunda seção, estão em jogo as hipóteses de vínculo entre agrupamentos linguísticos mais distantes. Diferenciando entre validade e valor, a terceira seção mostra como a alteração na validade de algumas hipóteses de Rodrigues não comprometeu o seu valor, que ainda se mantém. E a quarta seção, dedicada ao olhar de Rodrigues sobre questões de ordem fonológica e gramatical, situa as suas contribuições em face das teorias linguísticas. Nas considerações finais, focalizamos, sobretudo, a estatura das ideias e a figura do cientista da linguagem que emerge a partir das aproximações efetuadas, nas seções anteriores, de um conjunto representativo de sua obra.

1. Tupí e Macro-Jê: as 'pedras de toque' da linguística histórica de Aryon Rodrigues

As principais contribuições de Rodrigues para a linguística histórica dos povos indígenas brasileiros e sul-americanos encontram-se, sem dúvida, nos seus trabalhos sobre os troncos Tupí e Macro-Jê (são, por sinal, de autoria de Rodrigues os capítulos sobre estes dois grupos na obra de referência, publicada em 1999, editada por Robert Dixon e Alexandra Aikhenvald sobre as línguas amazônicas).1 1 O uso do rótulo 'tronco' (Inglês: stock) se dá, em especial nos trabalhos de Rodrigues sobre as línguas Tupí, de forma explicitamente justificada. O autor adota a escala sugerida por Morris Swadesh para descrever distintos graus de distanciamento dentro de agrupamentos genéticos. O termo 'tronco' é reservado para a inclusão de línguas que apresentam entre 12 e 28% de cognatos compartilhados, dentro uma lista previamente estabelecida de itens lexicais. Ver, por exemplo, Rodrigues (1955). O rótulo 'tronco' também é aplicado explicitamente ao grupo Macro-Jê (cf. por exemplo Rodrigues 1992), porém em um uso mais informal, uma vez que computações lexico-estatísticas do tipo de Swadesh não existem para esse agrupamento. No caso Macro-Jê, a noção de 'tronco' corresponderia simplesmente ao nível de inclusão filogenética imediatamente acima do de 'família', isto é, acima de cada uma das famílias agrupadas sob essa hipótese de parentesco, como a família Jê, a família Boróro, e assim por diante. Em uma série de trabalhos e apresentações, inicialmente fruto de esforços individuais, mas também, muitas vezes, como resultado de cooperação com outros investigadores, Rodrigues apresenta não só reconstruções comparativas e internas de estados anteriores desses agrupamentos - reconstruções essas que têm como objetivo o de explicar os padrões de similaridade atestados entre as 'línguas-filhas' -, mas também discute a classificação interna dessas unidades genéticas, apresenta evidências para a inclusão de línguas cuja filiação era até então incerta e propõe hipóteses sobre desenvolvimentos morfofonológicos particulares.

Alguns temas ou características podem ser vistos como recorrentes no trabalho de Rodrigues e não necessitam de menção, ao serem discutidas propostas e hipóteses particulares.

Notamos, em primeiro lugar, o que poderíamos rotular de exemplos de conduta intelectual e científica. Há, na obra de Rodrigues, atenção escrupulosa e honesta ao esforço de seus predecessores. Nos seus trabalhos sobre o parentesco genético entre as línguas Tupí e também nas suas contribuições em direção a concretização da hipótese de um vínculo Macro-Jê, Rodrigues tomou seriamente as propostas de pioneiros como Curt Nimuendajú, J. Alden Mason, Cestmir Loukotka, Farani Mansur Guérios, Paul Rivet, Irvine Davis, entre outros, acerca da existência de vínculos genéticos entre línguas da família Jê e outras línguas, e as aprofundou com a apresentação de mais etimologias (conjuntos de cognatos) em potencial, com a proposta de correspondências fonológicas regulares que pudessem validar as etimologias sugeridas e com a discussão comparativa de padrões morfossintáticos que funcionam como evidência persuasiva de parentesco (ver, por exemplo, Rodrigues (1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press.: 165-166) e, especialmente, Rodrigues (2002)______. 2002. Para o estudo comparativo das Línguas Jê. In: Ludoviko dos Santos & Ismael Pontes (eds.) Línguas Jês: estudos vários. Londrina: Editora da UEL, p. 115-124., para uma recensão crítica breve das propostas embrionárias e pioneiras sobre vínculos entre a família Jê e os demais membros do tronco).

Em segundo, podemos apontar a continuidade entre o trabalho 'de sua própria pena' e os estudos desenvolvidos sob a sua orientação. Como exemplo, podemos citar os estudos de Rodrigues sobre o desenvolvimento morfofonológico do Boróro (1993)______. 1993. ‘Uma hipótese sobre a flexão de pessoa em Boróro’. Anais da 45ª Reunião Anual da SBPC, vol. 2, p.509. e a comparação sistemática entre essa língua e o Umutína, seu parente mais próximo (2007c______. 2007c. O parentesco genético das línguas Umutína e Boróro. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (eds.) Línguas e culturas Macro-Jê. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, p. 9-18.) e que serviram de base para a investigação histórico-comparativa de Camargos (2013)CAMARGOS, Lidiane S. 2013. Consolidando uma proposta de família linguística Boróro: contribuição aos estudos histórico-comparativos do tronco Macro-Jê’. Tese de Doutorado. Brasilía, Universidade de Brasília., a última tese de Doutorado orientada por Rodrigues. Os que são talvez os exemplos mais notórios da influência de Rodrigues como orientador são, sem dúvida, os estudos comparativos de Lemle (1971)LEMLE, Miriam. 1971. Internal classification of Tupí-Guaraní. In: David Bendor-Samuel (ed.) Tupi Studies I. Norman (Oklahoma, EUA): Summer Institute of Linguistics. e Jensen (1989)JENSEN, Cheryl. 1989. O Desenvolvimento Histórico da Língua Wayampí. Editora da UNICAMP. sobre a família Tupí-Guaraní, estudos esses que, como admitem as próprias autoras, devem muito à sua orientação.

Em terceiro, e de cabal importância metodológica e teórica para a linguística, observamos na obra de Rodrigues uma busca recorrente pela aplicação do que é, sem dúvida, o fundamento principal da investigação em linguística histórica: o método histórico-comparativo. Como veremos, mesmo quando aberto a caminhos 'alternativos', como a produção de subgrupos baseados em escores léxico-estatísticos produzidos na ausência de correspondências regulares, como é o caso do seu estudo clássico sobre as "línguas impuras" da família Tupí-Guaraní, Rodrigues reconhece que a validação última de qualquer proposta de filiação genética ou subagrupamento depende, em última instância, de uma aplicação regrada do método.

1.1. O tronco Tupí e a família Tupí-Guaraní

Em duas das suas primeiras contribuições para a linguística histórica Tupí, Rodrigues (1944)RODRIGUES, Aryon. Dall’Igna. 1944. ‘Um aspecto da evolução fonética na Família Tupí-Guaraní’. Revista FilológicaVII(29):74-77. e (1945)______. 1945. Diferenças fonéticas entre o Tupi e o Guarani. Separata dos Arquivos do Museu Paranaense vol. 4: 333-354. considera as principais isoglossas fonológicas indicadoras da distinção entre o que então se reconhecia como o 'ramo Tupí' e o 'ramo Guaraní' da família Tupí-Guaraní. De especial importância é o estabelecimento do Guaraní como um ramo relativamente mais inovador, por ter sofrido a mudança de spara h e por ter perdido as consoantes em final de palavra. Outras mudanças consideradas incluem a palatalização de s precedendo i em Tupi e a nasalização de j, que aparece como ɲ em Guarani.

Os trabalhos posteriores de Rodrigues consistem em demonstrar que os dois ramos não são nada mais do que subgrupos de uma família Tupí-Guaraní e de um tronco Tupí, unidades genéticas mais amplas. O locus classicus para o estabelecimento de uma proposta sólida, baseada sobre argumentos linguísticos, da existência de um grupo Tupí de línguas aparentadas é Rodrigues (1955)______. 1955. ‘As “línguas impuras” da família Tupí-Guaraní’. Anais do Congresso Internacional de Americanistas 31: 1055-1071.. Utilizando-se de avaliações baseadas em contagens léxico-estatísticas de cognatos entre pares de línguas, Rodrigues estabelece a existência de uma família Tupí-Guaraní e a distingue de línguas, incluídas no chamado 'tronco Tupí', com as quais as línguas pertencentes à primeira família teriam um parentesco mais distanciado. Nessa classificação inicial, tanto o Mawé quanto o Mundurukú e o Kuruaya aparecem como membros da família Tupí-Guaraní, classificação essa que se repete posteriormente em Rodrigues (1958)______. 1958. Classication of Tupi-Guarani. International Journal of American Linguistics 24 (3): 231-234. e (1964______. 1964. A classificação do tronco linguístico Tupi’. Revista de Antropologia 12(1-2):99-104.)2 2 Em Rodrigues (1958), no entanto, o autor já levanta dúvidas quanto à classificação do Mundurukú como membro da família Tupí-Guaraní (ver nota 15, p. 234). , mas que é revista em Rodrigues (1980a)______. 1980a. Tupi-Guarani e Munduruku: evidências lexicais e fonológicas de parentesco genético. Estudos Linguísticos. Anais dos Seminários do GEL, v.3: 194-209. e (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53., estudos nos quais essas línguas já aparecem como membros do tronco Tupi externos à família Tupi-Guarani. Em Rodrigues e Dietrich (1997)______ & Wolf Dietrich. 1997. On the linguistic relationship between Mawé and Tupi-Guarani. Diachronica14:265-304., as relações entre a família Tupí-Guaraní e o Mawé são objeto de escrutínio detalhado.

É importante registrar que Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53. constitui um texto de consolidação de quase quatro décadas de investigação das línguas Tupí-Guaraní e, pode-se sugerir, constitui a base para todas as propostas posteriores acerca da classificação das línguas deste grupo. Assim, como resultado de sua investigação, estão as isoglossas fonológicas e lexicais que separam as línguas Tupi-Guarani das demais línguas do tronco Tupi, além da proposta de conjuntos de inovações compartilhadas que identificam cada um dos oito subgrupos propostos pelo autor para a família em questão. Na primeira categoria encontramos, por exemplo, a mudança do glide *w do proto-Tupí para *j no proto-Tupí Guaraní, além de formas lexicais como mokõj 'dois' e -epjak 'ver', ou deriváveis a partir dessas. Na segunda categoria, os diferentes subgrupos são distinguidos por desenvolvimentos como os reflexos das africadas *ts e *tf do proto-Tupí-Guaraní, assim como os de *pj e *pw, nas diversas línguas da família. Trabalhos histórico-comparativos posteriores que abordam a composição da família Tupí-Guaraní, ou a diacronia de subgrupos ou línguas particulares, e que tomam Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53. como ponto de partida incluem Jensen (1989)JENSEN, Cheryl. 1989. O Desenvolvimento Histórico da Língua Wayampí. Editora da UNICAMP., (1999)______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press., Schleicher (1998)SCHLEICHER, Charles O. 1998. Comparative and internal reconstruction of Proto-Tupi-Guarani’. Tese de Doutorado, University of Wisconsin., Mello (2000)MELLO, Antonio Augusto Souza. 2000. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guarani: aspectos fonológicos e lexicais. Tese de Doutorado, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC., além de Rodrigues e Cabral (2002)______. 2002. Para o estudo comparativo das Línguas Jê. In: Ludoviko dos Santos & Ismael Pontes (eds.) Línguas Jês: estudos vários. Londrina: Editora da UEL, p. 115-124..

Notamos previamente que línguas como o Mawé, o Mundurukú, o Kuruáya e o Awetí, antes consideradas membros da família Tupí-Guaraní foram, gradativamente, retiradas por Rodrigues desta família e alocadas como membros independentes do tronco Tupí (no caso do Mundurukú e do Kuruáya, estes formam uma única família). Em Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53., o autor observa que avanços na descrição dessas línguas revelaram grandes diferenças em relação àquelas incluídas sem controvérsia na família Tupí-Guaraní, ao ponto de justificar a exclusão das mesmas. Rodrigues lança, ainda, a hipótese de que, entre todas as línguas do tronco Tupí, o Mawé e o Awetí seriam as mais próximas à família Tupí-Guaraní, lançando então as bases do que seria, posteriormente, um tema amplamente explorado, a saber, o da existência de um agrupamento intermediário que incluiria essas línguas em um subgrupo Mawé-Awetí-Tupí-Guaraní interno ao tronco Tupí (cf. e.g. Rodrigues & Dietrich 1997______ & Wolf Dietrich. 1997. On the linguistic relationship between Mawé and Tupi-Guarani. Diachronica14:265-304.; Rodrigues & Cabral 2012______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2012. Tupían. In: Lyle Campbell & Verónica Grondona (eds.) The Indigenous languages of South America. De Gruyter Mouton. p. 495-574. e Corrêa da Silva 2010CÔRREA DA SILVA, Beatriz. 2010. Mawé/Awetí/Tupí-Guaraní: Relações linguísticas e implicações históricas. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília.).

Indicamos anteriormente que as contribuições de Rodrigues incluíram não só a elucidação rigorosa de vínculos genéticos já suspeitados, mas também a demonstração de parentesco linguístico em casos menos óbvios. Em um breve artigo de 1978, Rodrigues apresenta argumentos irrefutáveis em favor da inclusão do Xetá - língua falada por um reduzido grupo de caçadores-coletores contatado no início do século XX na Serra de Dourados, no Paraná - como membro da família Tupí-Guaraní. A partir de uma análise etimológica exemplar e cuidadosa, que leva em consideração um conjunto de mudanças sonoras e isoglossas lexicais, o autor demonstra que, longe de ser uma 'língua mista com influência Guarani', o Xetá é, em realidade, uma variedade dialetal do Guarani. Formas aparentemente aberrantes, sem clara etimologia Tupi-Guarani, são explicadas como desenvolvimentos fonológicos regulares ou como substituições lexicais relativamente simples.

Naquela que foi a última publicação de Rodrigues, Rodrigues e Cabral (2012)______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2012. Tupían. In: Lyle Campbell & Verónica Grondona (eds.) The Indigenous languages of South America. De Gruyter Mouton. p. 495-574., encontra-se reunido o resultado agregado dos esforços de Rodrigues e de seus colaboradores mais próximos na reconstrução da fonologia, do léxico e da morfologia do proto-Tupí. Foco de especial atenção nesse trabalho é a reconstrução de aspectos diversos da morfologia e da gramática da proto-língua, tal como sistemas de alinhamento, morfemas derivacionais e classes fechadas de formativos, como a dos demonstrativos. Em uma forma que, mais uma vez, torna explicito o manejo e conhecimento ímpares do método histórico-comparativo por parte de Rodrigues, as reconstruções e desenvolvimentos postulados são justificados com base na identificação de correspondências fonológicas regulares envolvendo os conjuntos relevantes de morfemas cognatos, correspondências essas que, por sua vez, subjazem à postulação do inventário particular de proto-segmentos reconstruídos (cf. também Rodrigues 2005______. 2005. As vogais orais do Proto-Tupi. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. (ors.) Novos Estudos sobre Línguas Indígenas. Brasília: Editora da UnB, p. 35-46. e 2007b______. 2007b. As consoantes do Proto-Tupi. In: Ana Suelly Arruda Câmara Cabral & Aryon Dall’Igna Rodrigues (ors.) Línguas e culturas Tupí. Campinas: Editora Curt Nimuendajú, p. 167-203. para trabalhos dedicados exclusivamente à reconstrução cuidadosa do inventário segmental da proto-língua).

1.2. Macro-Jê

Quando comparado ao tronco Tupí, o chamado tronco Macro-Jê apresenta-se com um caráter muito mais hipotético, por postular uma relação de ancestralidade comum para um conjunto de línguas e famílias linguísticas mais diversas e distintas entre si. O trabalho de Rodrigues com o tronco linguístico Macro-Jê logrou caracterizar como uma 'hipótese promissora de parentesco genético de longa distância' (cf. Campbell 2012CAMPBELL, Lyle & Verónica Grondona (eds.). 2012. The Indigenous Languages of South America: a comprehensive guide. Berlin: Mouton de Gruyter.: 135) o que era até então uma proposta relativamente vaga de ancestralidade comum entre línguas bastante diversas. Além da família Jê, que funciona como espécie de pivô do grupo, as outras famílias arroladas por Rodrigues como membros putativos do tronco Macro-Jê seriam as famílias Krenák, Maxakalí, Boróro, Kamakã, Purí, Yatê, Guató, Karajá, Rikbatsá, Karirí e Ofayé.

As propostas iniciais de Rodrigues acerca da existência de um tronco linguístico Macro-Jê apareceram já na primeira edição, de 1970, do livro Índios do Brasil, de Júlio César Melatti. Segundo o próprio autor, a concepção de então devia muito ao trabalho de Cestmir Loukotka (cf. Rodrigues 2002______. 2002. Para o estudo comparativo das Línguas Jê. In: Ludoviko dos Santos & Ismael Pontes (eds.) Línguas Jês: estudos vários. Londrina: Editora da UEL, p. 115-124.). Um tratamento mais sistemático das evidências, importando, portanto, em argumentos mais sólidos em favor da existência desse agrupamento, haveria de esperar ainda cerca de uma década. Antes do aparecimento das maiores contribuições de Rodrigues, Davis (1968)DAVIS, Irvine. 1968. ‘Some Macro-Jê relationships’. International Journal of American Linguistics 34: 42-47. já havia apontado evidências, na forma de correspondências fonológicas regulares, para a existência de parentesco das línguas Maxakalí e Karajá com a família Jê. Gudschinsky (1971)GUDSCHINSKY, Sarah. 1971. ‘Ofaié-Xavante, a Jê Language’. In: Sarah Gudschinsky (ed.) Estudos sobre línguas e culturas indígenas. Brasília: Summer Institute of Linguistics: 1-16. e Boswood (1973)BOSWOOD, Joan. 1973. ‘Evidências para a inclusão do Arikpatsá no filo Macro-Jê’. Série Linguística I: 67-78. Anápolis: Summer Institute of Linguistics.apresentam, respectivamente, evidências a favor da inclusão das línguas Ofayé e Rikbaktsá no conjunto Macro-Jê. Para o Boróro, a contribuição de Mansur Guérios, a quem Rodrigues (2002)______. 2002. Para o estudo comparativo das Línguas Jê. In: Ludoviko dos Santos & Ismael Pontes (eds.) Línguas Jês: estudos vários. Londrina: Editora da UEL, p. 115-124. considera como pioneiro da linguística histórico-comparativa no Brasil, já apontava, em uma publicação de 1939, as similaridades entre essa língua e as línguas Jês Setentrionais.

No seu livro Línguas Indígenas Brasileiras, de 1986, Rodrigues propõe etimologias, conjuntos de aparentes cognatos que demonstrariam o vínculo entre as línguas Jê e as demais línguas ou famílias incluídas na proposta do agrupamento Macro-Jê. Além disso, o autor oferece algumas observações iniciais na direção do estabelecimento de correspondências fonológicas regulares, o que permitiria estabelecer com segurança o caráter cognato das formas lexicais apresentadas.

Evidências adicionais e mais fortes, por refletirem um mecanismo morfossintático elaborado, com envolvimento de morfemas formalmente similares, são apresentadas em Rodrigues (1992)______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC., em uma comunicação na 44ª Reunião Anual da SBPC. Neste trabalho, o foco está na comparação da expressão da posse em nomes alienáveis nas famílias Jê, Boróro, Maxakalí e Karirí. Em todas essas línguas, que em outros aspectos podem se mostrar bastante dissimilares, um mecanismo semelhante é empregado: as marcas de pessoa e número, além dos prefixos relacionais, não se prendem diretamente aos nomes possuídos, mas, antes, aparecem afixadas ou cliticizadas (nas línguas que apresentam clíticos pessoais) a um morfema que tem a forma õ nas línguas Jê Setentrional (Panará, Kayapó e no grupo Timbira), o em Boróro e õ ~ jõŋ em Maxakalí. Ribeiro (2002)RIBEIRO, Eduardo Rivail. 2002. ‘O marcador de posse alienável em Karirí: um morfema Macro-Jê revisitado. LIAMES 2: 29-46. retoma as propostas de Rodrigues e apresenta maiores evidências em favor da presença deste morfema de posse alienável no Karirí.3 3 Observamos que Rodrigues é o único a argumentar explicitamente em favor da inclusão da família Karirí no tronco Macro-Jê (cf. Ribeiro 2006: 665).

Em Rodrigues (1999)______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press., o conjunto de cognatos lexicais e de correspondências fonológicas segmentais Macro-Jê é expandido, além de ser apresentado simultaneamente com a avaliação de similaridades tipológicas, morfológicas e gramaticais que sustentariam o que, nas palavras do próprio autor, seria "um conjunto de hipóteses sobre uma possível origem comum remota para as línguas envolvidas" (Rodrigues 1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press.: 198). Esse conjunto de etimologias lexicais, acrescido de mais itens, aparece no que é o último trabalho de Rodrigues a lidar exclusivamente com o status do tronco Macro-Jê enquanto unidade genética, realizado em parceria com Ana Suelly Cabral e publicado em 2007.

Em um trabalho publicado em 2000 no Boletim da ABRALIN, Rodrigues oferece um tratamento detalhado dos sistemas de 'marcação relacional', em termos dos quais os núcleos sintáticos flexionáveis - verbos, nomes e posposições - recebem prefixos que indicam a contiguidade ou descontinuidade sintática de um possuidor ou complemento, ou a natureza genérica e humana do mesmo. Como já discutido, porém de forma mais breve em Rodrigues (1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press.: 180-182), este sistema morfossintático constitui uma das mais claras evidências de parentesco entre as línguas envolvidas; embora o mecanismo em questão não esteja presente em todas as famílias incluídas no tronco Macro-Jê.

Como já aludido, a composição precisa do tronco linguístico Macro-Jê sempre foi tratada por Rodrigues como uma 'hipótese de trabalho', em virtude não só da grande heterogeneidade das famílias linguísticas agrupadas (e, pode-se dizer, do grande fundo temporal implicado pela hipótese de ascendência comum), como também pelo estado incipiente da documentação e descrição de muitas das línguas em questão. Não é de surpreender, por essa razão, que a unidade formada pelas famílias linguísticas que podemos apontar como plausivelmente relacionadas com a família Jê venha a mudar. Pode-se tomar como exemplos os casos do Chiquitano e da família Jabutí. Rodrigues (1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press.: 166) exclui explicitamente o Chiquitano (língua isolada falada no sudoeste da Bolívia) como membro possível do tronco Macro-Jê.4 4 A exclusão explícita do Chiquitano da proposta de Rodrigues deve-se ao fato de que outros investigadores, como Greenberg (1987) o incluírem no conjunto de línguas geneticamente relacionadas com a família Jê. Trabalhos recentes têm, entretanto, sugerido a inclusão do Chiquitano (cf. e.g. Adelaar 2008ADELAAR, Willem. 2008. ‘Relações Externas do Macro-Jê: O Caso do Chiquitano. In: Stella Telles & Aldir S. de Paula (eds.) Topicalizando Macro-Jê. Recife: NECTAR, p. 9-28.) e a exclusão do Guató (Ribeiro & van der Voort 2010RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.: 547-548). Em relação à família Jabuti, Ribeiro & van der Voort (2010)RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.apresentam argumentos persuasivos5 5 Ver seção 3. em favor da inclusão da família Jabutí nesse tronco, considerando correspondências fonológicas regulares entre cognatos reconstruídos para o Proto-Jabutí e para o Proto-Jê.

2. Macro-Jê, Tupí e além

Ao lado do trabalho interno a cada um dos grupos propostos e mencionados na seção anterior, Rodrigues também lançou hipóteses mais abrangentes e, por isso, mais polêmicas, de relacionamento genético ou, no mínimo, de contato e difusão pré-histórica. Iniciando-se com uma comunicação apresentada no encontro anual da American Anthropological Society em 1978, Rodrigues aponta similaridades e correspondências entre os troncos Macro-Jê e Tupí e a família Carib (ou Karib), afinidades que podem, segundo o autor, sugerir um vínculo de tipo genético, além de inúmeros casos particulares de difusão ou empréstimo.

Em sua publicação de 1985, Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53. enumera as correspondências fonológicas e lexicais encontradas entre um conjunto de línguas Tupí (Tupinambá, Tuparí e Mundurukú) e de línguas Carib (Wawai, Taurepang, Hyxkariána e Bakairí) em duas listas separadas: a primeira delas envolve elementos do chamado vocabulário básico (incluindo termos de parentesco e marcadores gramaticais, entre outras classes) e que funcionam como indicadores mais seguros de parentesco genético (por oposição à similaridade produzida por contato), e uma segunda lista de vocabulário cultural (incluindo nomes de artefatos e termos de flora e fauna), mais obviamente associada com a difusão. A segunda lista - aquela que segundo Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53. é indicadora de relações de contato - inclui exclusivamente línguas Carib setentrionais (isto é, exclui o Bakairí).6 6 Rodrigues (1985b) também nota que muitos dos itens na segunda lista, aqueles que indicam relações de contato, aparecem também em línguas Arawak setentrionais. Como indicações claras de difusão entre línguas Tupí e Carib, o autor indica ainda os casos claros e bem compreendidos de difusão, como aqueles empréstimos encontrados em diferentes línguas Carib setentrionais e que têm origem no Nheengatú, os termos de origem no Nheengatú ou em Wayampí encontrados no Wayána, assim como desta língua no Wayampí (Rodrigues 1985b: 391-392). Rodrigues exercita a cautela usual, mediada pela avaliação da qualidade das evidências disponíveis, e observa que a suposição de que os membros da primeira lista poderiam ser indicação de um vínculo de tipo genético entre Carib e Tupí poderia ser fortalecida caso viesse a ser maior o conhecimento sobre a proto-língua da família Carib. Por essa razão, não é sempre claro que um item lexical encontrado em uma língua Carib, e que apareça na lista de possíveis cognatos com o tronco Tupí, possa ser visto como reflexo de um étimo proto-Carib (cf. Rodrigues 1985b______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.: 393-394).

Rodrigues (2009______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC. [1992]) retoma a proposta de relações entre Tupí, Carib e Macro-Jê, adicionando agora evidências do Mawé, para o conjunto de dados representativos do tronco Tupí, e do Arara, para as línguas Carib. O foco deste estudo não está em comparações lexicais e na identificação de correspondências fonológicas, mas em uma comparação detalhada de um sistema fechado de marcação morfossintática e que indica a contiguidade ou não-contiguidade entre um núcleo sintático e seu determinante, isto é, o mesmo sistema de morfemas relacionais utilizado em Rodrigues (2000)______. 2000. Flexão relacional no tronco Macro-Jê. Boletim da ABRALIN 25: 219-231. para argumentar em favor da unidade do tronco Macro-Jê.

Rodrigues (2007a)______. 2007a. Linguística comparativa e pré-história dos povos indígenas sul-americanos: a hipótese Tupí-Karíb e as relações genéticas entre Tupí, Karíb e Macro-Jê. In: Thays Cristófaro Silva & Heliana. Mello (orgs). Conferências do V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: FALE/UFMG, p. 165-176. contém uma exposição sumária e concisa dos argumentos apresentados pelo autor nas suas publicações anteriores a respeito do possível relacionamento genético entre Tupí, Carib e Macro-Jê. O autor devota ainda algum espaço a considerar a repercussão de Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53. entre linguistas especialistas em línguas da família Carib, reação essa que foi eminentemente favorável à hipótese de parentesco.

3. Validade e valor das hipóteses

Como indicado na seção anterior, Rodrigues dedicou décadas de investigação às línguas Tupí-Guaraní. Trata-se de um longo período de tempo em que o seu rigor como pesquisador, combinado ao aporte de novos dados – muitos deles propiciados por descrições de línguas que não haviam sido anteriormente estudadas -, lhe permitiu refinar e mudar suas próprias hipóteses. Nesse sentido, tal como exposto na seção 1, a classificação interna da família Tupí-Guaraní presente em seus primeiros trabalhos não coincide com a de trabalhos mais recentes. O Mawé e o Awetí foram, por exemplo, retirados do interior da família Tupí-Guaraní pelo próprio Rodrigues, o mesmo tendo se dado com o Mundurukú e o Kuruaya.

No que diz respeito às propostas de Rodrigues relativas aos vínculos de longa distância entre Tupí e Caríb, e entre esses agrupamentos e o tronco Macro-Jê, essas contaram com algum apoio da parte de especialistas em algumas das famílias ou unidades genéticas envolvidas. Outras avaliações são, contudo, mais reticentes, incluindo a afirmação de que, dado o atual estado do conhecimento sobre as línguas sul-americanas, nenhum tipo de pronunciamento, seja favorável ou contrário a essas hipóteses, é possível (cf. Gildea 2012GILDEA, Spike. 2012. Linguistic studies in the Cariban family. In: Lyle Campbell e Verónica Grondona. The Indigenous Languages of South America. Berlin: Mouton de Gruyter, p. 441-494.: 447). Ribeiro (2009_____. 2009. Tapuya connections: language contact in Eastern Brazil. LIAMES 9: 61-76.: 67) nota que algumas similaridades entre línguas Tupí e Macro-Jê podem ser indicativas de uma relação remota de parentesco, mas que, no ponto em que a pesquisa se encontra, a hipótese de que tais similaridades se devam, em realidade, a empréstimos entre uma ou mais proto-línguas não pode ser descartada. De fato, a existência de dúvidas quanto à constituição e o status do tronco Macro-Jê é em si algo que sugere maior cautela na avaliação de propostas de vínculo entre esse agrupamento, relativamente hipotético, e quaisquer outros troncos ou famílias (ver, por exemplo, Ribeiro 2006RIBEIRO, Eduardo Rivail. 2006. Macro-Jê. In: Keith Brown e Sarah Ogilvie (eds.) Concise encyclopedia of languages of the world. Elsevier. p. 665-669.: 666 sobre essa qualificação). De forma mais detalhada, algumas das correspondências propostas por Rodrigues como substanciando um vínculo entre Tupí e Macro-Jê têm sido agora vistas como similaridades fortuitas, como, por exemplo, a correspondência entre proto-Tupí-Guaraní *p e Kaingáng ɸ (cf. Ribeiro & van der Voort 2010RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.: 556, nota 37).7 7 Note-se ainda que algumas das similaridades apontadas por Rodrigues (1985b: 394395; 2009 [1992]: 141) têm um claro perfil tipológico e são, portanto, evidência menos persuasiva de parentesco.

Na literatura publicada podemos encontrar, também, revisões propostas quanto ao conjunto de cognatos postulados no trabalho de Rodrigues sobre o chamado tronco Macro-Jê. Ribeiro (2009_____. 2009. Tapuya connections: language contact in Eastern Brazil. LIAMES 9: 61-76.: 62), por exemplo, aponta que o termo para 'milho' não pode aparecer, como o faz em Rodrigues (1999)______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press. e Rodrigues e Cabral (2007)______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2007. ‘Através do léxico Macro-Jê: em busca de cognatos’. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (eds.) Línguas e Culturas MacroJê. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, p. 175-179., entre os cognatos que sustentam a postulação do tronco Macro-Jê, uma vez que se trata de um empréstimo Arawak.

Como adiantado também ao final da seção 1.2., um foco de atenção recente na investigação histórico-comparativa é o de se especificar em maior detalhe os 'limites' da hipótese Macro-Jê, o que pode, em princípio, levar a modificações do conjunto de línguas e famílias tomadas como componentes desse vasto agrupamento. Com base em reconstruções originais das proto-línguas tanto da família Jabutí (que inclui as línguas Arikapú e Djeromitxí) quanto da família Jê, Ribeiro e van der Voort (2010)RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.apresentam correspondências entre as formas das duas proto-línguas, o que indicaria a existência de uma ancestralidade comum para as duas famílias e, portanto, forneceria argumentos para a inclusão da família Jabutí no tronco Macro-Jê. A partir da comparação lexical, os autores identificam correspondências fonológicas regulares entre o proto-Jabutí e o proto-Jê (Ribeiro e van der Voort 2010RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.: 557562). Os inventários segmentais das duas línguas são também semelhantes (pgs. 561-562). Os autores notam ainda os prefixos pessoais virtualmente idênticos presentes nas duas famílias, que compartilham inclusive um padrão de homofonia entre os prefixos de primeira e terceira pessoa no proto-Jabutí e em diversas línguas Jê, reforçando a hipótese de parentesco. Outro conjunto de evidências gramaticais é fornecido pela existência de alternâncias encontradas na consoante inicial de várias formas em Djeromitxí. Ribeiro e van der Voort (2010RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.: 565-566) argumentam que tais alternâncias, reconstruíveis para o proto-Jabutí, podem indicar a existência de um mecanismo morfológico similar ao dos prefixos relacionais reconstruídos para o proto-Jê e para outras famílias que constituem o tronco Macro-Jê. Vale lembrar, como discutido em diversos pontos da seção 2, que a existência de um sistema morfossintático similar ao dos relacionais das línguas Jê setentrionais (sistema suficientemente complexo e integrado para indicar parentesco, ao invés de difusão) foi utilizado, pelo próprio Rodrigues, em diversos momentos como evidência em favor de hipóteses de parentesco genético, tanto no caso do tronco Macro-Jê, quanto em propostas mais amplas como Tupí-Carib e mesmo Tupí-Carib-Macro-Jê.

É de se notar que, se a validade de uma determinada hipótese em ciência nem sempre se mantém em face de novos dados e alterações em um determinado horizonte de conhecimento, nada há de estranho no fato de que Rodrigues tenha, ao longo do tempo, modificado algumas de suas próprias hipóteses. Quanto às revisões e avaliações reticentes de determinados aspectos de propostas de Rodrigues (como é o caso dos cognatos concernentes ao chamado Macro-Jê e dos vínculos de longa distância), boa parte delas ainda tem em Rodrigues sua grande referência. Assim é que Ribeiro e van der Voort (2010)RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.lançam mão de um mesmo procedimento metodológico de Rodrigues (qual seja, identificação de mecanismo morfológico complexo similar) como evidência de parentes genético a apoiar a inserção da família Jabutí no tronco Macro-Jê. Portanto, considerando-se a diferença entre validade e valor, podemos dizer, de um lado, que, se nem sempre algumas das hipóteses de Rodrigues se mantiveram (ou se mantêm), sua validade não perdurou. De outro lado, como no horizonte do conhecimento construído sobre agrupamentos genéticos de línguas indígenas faladas no Brasil ainda estão, como grande referência, hipóteses e procedimentos metodológicos sustentados e disseminados por Rodrigues, o valor de suas hipóteses ainda perdura, porque são essas hipóteses que se encontram permanentemente sob teste.

4. O olhar sobre as grandes questões fonológicas e gramaticais. Das contribuições teóricas de Rodrigues e dos desafios às teorias

Se na seção anterior focalizamos a validade e o valor das hipóteses de Rodrigues, nesta dedicamo-nos ao seu olhar. Para além da linguística histórica, o que Rodrigues enxergou teoricamente e a que lugares levou o seu olhar? A resposta a essa pergunta pode ser dada, considerando-se alguns dentre os trabalhos de Rodrigues no âmbito da fonologia e da morfologia/sintaxe.

Em 'Abertura e ressonância', trabalho apresentado publicamente em 1980 (Rodrigues (1980b)______. 1980b. Abertura e ressonância. Trabalho apresentado no XX GEL, Araraquara. Ms. Arquivado no Centro de Documentação de Línguas Indígenas – CELIN, Museu Nacional/UFRJ. Número de localização: 71202683.), Rodrigues transitou pela teoria dos traços em fonologia – tal como essa se encontrava desenvolvida à época – e, tendo como objeto de interesse as alturas fonológicas (e também aquelas foneticamente materializadoras) de sistemas vocálicos, colocou uma questão teórica importante. Embora alguns sistemas vocálicos sejam especialmente ricos em termos da materialização fonética do parâmetro altura, Rodrigues constata não haver encontrado, "na literatura fonológica nenhuma situação, na qual fosse necessário descrever mais de quatro graus fonológicos (e não fonéticos) de altura". A essa constatação contrapõem-se, porém, fatos de determinadas línguas indígenas apontados por Rodrigues. Faladas no Brasil e então recentemente estudadas, tais línguas são: o Nadëb (família Makú), que possui, em seu sistema vocálico, quatro graus de altura para as vogais centrais; o Kaingáng (família Jê), que revela um sistema vocálico em que a ressonância é mais relevante do que a altura da língua. O dialeto do Paraná do Kaingáng é particularmente interessante a respeito, apresentando três situações morfológicas que se caracterizam por levar à conversão das vogais orais médias em suas correspondentes baixas e destas na vogal nasalizada baixa. Descritas e exemplificadas as três situações em causa8 8 As situações a que se refere Rodrigues são as seguintes, no dialeto do Paraná do Kaingáng:: (a) derivação da forma dependente do nome; (b) derivação da forma causativa do verbo; (c) derivação do tema verbal 2 (terminologia empregada por Rodrigues e que possui correspondente no trabalho de Wisemann (1971:270)). , Rodrigues demonstra que a formalização de todo o processo por meio de duas regras de abaixamento é insatisfatória, uma vez que essas surgem como independentes, muito embora o processo morfológico envolvido seja único; e, além disso, a nasalização propiciada pela segunda das regras se dá de maneira aparentemente imotivada. Para superar os problemas derivados do próprio formalismo consubstanciado nessas duas regras, Rodrigues tenta um outro caminho, derivando as alterações vocálicas do dialeto em causa do Kaingáng por meio do recurso à compacidade: "tanto a ampliação da caixa de ressonância oral quanto a adição da ressonância nasal contribuem, do ponto de vista acústico, para a maior compacidade das vogais". Assim, de acordo com Rodrigues (1980b)______. 1980b. Abertura e ressonância. Trabalho apresentado no XX GEL, Araraquara. Ms. Arquivado no Centro de Documentação de Línguas Indígenas – CELIN, Museu Nacional/UFRJ. Número de localização: 71202683., a propriedade 'compacto' (e não o parâmetro da altura) parece apta à descrição do Kaingáng, podendo-se dar conta de todo o processo desencadeado nas três situações morfológicas apontadas por meio da formalização de uma única regra, desde que essa leve em conta a propriedade da compacidade. Em formulação alternativa, Rodrigues mostra que basta aumentar de um grau a compacidade vocálica, desse aumento participando as vogais orais com coeficiente de compacidade superior a 1 (ou seja, a nova formulação atinge corretamente as vogais médias e baixas e exclui, também de modo correto, as vogais altas, já que essas são fonologicamente caracterizáveis como possuidoras de grau de compacidade igual a 1). Submetendo sua hipótese do aumento do grau de compacidade a teste, Rodrigues a leva para uma língua geneticamente diversa do Kaingáng. A atenção recai sobre o Tapirapé9 9 Rodrigues (1980b) focaliza o Tapirapé a partir da descrição de Leite (1977). , língua da família Tupí-Guaraní, que apresenta também uma situação de nasalização aparentemente espontânea. Muito embora o processo de nasalização aparentemente espontâneo ocorrido em Tapirapé situe-se no plano diacrônico e atinja apenas as vogais posteriores (e não possa ser caracterizado como morfofonêmico, como no caso do Kaingáng), a formulação de Rodrigues pela via do aumento de um grau de compacidade dá conta igualmente dos fatos do Tapirapé com alterações minimamente necessárias na formalização da regra. Assim, ao enxergar uma questão teórica e tentar deslindar um problema de análise relativamente a alturas vocálicas em línguas indígenas – e, por extensão, em línguas naturais -, Rodrigues percebe que processos aparentemente desconectados (abaixamento vocálico e nasalização espontânea), com escopo mais amplo ou reduzido, presentes com algumas diferenças em línguas geneticamente distantes ou não relacionadas, constituem faces de uma mesma propriedade (compacidade) , passível de expressão por meio de uma formulação simples e direta10 10 Registre-se que Rodrigues não abandonou a hipótese vinculada à propriedade da compacidade, tendo-a levado para trabalho publicado em 2003 (Rodrigues (2003c)). .

Mais importante do que saber se a formalização proposta por Rodrigues, para o fenômeno em causa, ainda poderia ser mantida nos dias de hoje (quando as propostas no âmbito das teorias fonológicas experimentaram modificações substantivas) é notar o alcance da proposta embutida na formulação que Rodrigues apresentou e que basicamente relaciona fenômenos que outros olhos, igualmente investigativos de línguas específicas, ainda não haviam enxergado.

A percepção de que havia, apesar das aparências, outros fenômenos passíveis de relação continuou a guiar o olhar de Rodrigues. E foi assim que, persistentemente, considerou as relações entre silêncio, pausa, nasalização e laringalidade.

A preocupação com silêncio, pausa e nasalização é divulgada inicialmente em 1981, em um trabalho sobre o Maxakalí (família Maxakalí, tronco Macro-Jê), e prossegue em uma nova apresentação pública, desta feita em 1986 (cf. Rodrigues (1981______. 1981. Nasalização e fronteira de palavra em Maxakalí. Anais do V Encontro Nacional de Linguística, v.2, 305-311. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.:305-311; 1986a______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.: 153-158)). Sem desistir de sensibilizar aqueles que atuam mais propriamente no âmbito das teorias em fonologia, Rodrigues acopla, em 2003, ao que é a sua preocupação com nasalidade e silêncio, o tema da nasalidade e laringalidade, desenvolvendo- o, a partir de uma associação notada por Matisoff (1975)MATISOFF, James. 1975. Rhinoglottophilia: the mysterious connection between nasality and glottality. In: Charles Ferguson, Larry M. Hyman & John Ohala. (eds.), Nasálfest: Papers from a Symposium on Nasals and Nasalization, 265-87. Stanford, California: Stanford University Language Universals Project., com base em dados de diferentes línguas indígenas faladas no Brasil11 11 "Além da associação entre nasalidade e silêncio, cuja compreensão como produto de mecanismo articulatório é bastante fácil, várias linguas indigenas brasileiras apresentam uma outra associação mais dificil de compreender - a associação entre nasalidade e laringalidade. Já faz bastantes anos que James Matisoff chamou a atencão para casos dessa associação em linguas das famílias Tai e Khmer do sudeste da Asia (Matisoff, 1975), nas quais as vogais finais de palavra precedidas por um dos dois glides glotais adquirem nasalidade. Essa "misteriosa conexão entre nasalidade e glotalidade", como a designou Matisoff, é encontrada aqui sob formas mais variadas" (Rodrigues (2003c: 18)). As línguas focalizadas por Rodrigues (2003c), relativamente à associação entre nasalidade e laringalidade, são o Baré (família Aruak), o Pirahã (família Mura), o Mawé ou Sateré (família Mawé), o Tuparí (família Tuparí, tronco Tupí), cujos dados proveem de diferentes trabalhos de descrição linguística que passam então a ser acessíveis. . A persistência de Rodrigues na compreensão da associação dos temas em questão se faz, porém, acompanhar de duas constatações, relativas, de um lado, à pouca ou quase nenhuma atenção destinada, em obras de importantes foneticistas e fonólogos, a uma associação que lhe parece tão clara (nasalidade e silêncio)12 12 Cf. Rodrigues (2003c: 13, nota 2). e, de outro lado, à pouca divulgação que receberam os seus trabalhos de 1981 e 1986 sobre essa mesma associação:

"Há anos apresentei num congresso de linguistas, no Rio de Janeiro, um ensaio sobre "silêncio, pausa e nasalização", o qual foi publicado nas respectivas atas (Rodrigues, 1986______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.) e, que eu saiba, não teve nenhuma repercussão (independentemente do mérito do que então escrevi, que pode ter sido muito pouco, a matéria estava em Português e o volume das atas foi tão pouco e ma1 distribuído, que eu mesmo não tive acesso a nenhum exemplar e só disponho de uma fotocópia da minha contribuição feita por um colega). Entretanto, o assunto continua parecendo-me interessante e não tenho conhecimento de que haja sido devidamente considerado na literatura fonológica" (Rodrigues (2003______. 2003a. Aspectos da história das línguas indígenas da Amazônia. In: Maria do Socorro Simões. Sob o signo do Xingu. Belém: IFNOPAP/UFPA, p. 37-51.:12))

Por considerar o assunto teoricamente relevante, Rodrigues recolocou-o, com as devidas atualizações, durante um encontro internacional13 13 O encontro em questão foi o II Seminário Internacional de Fonologia, ocorrido no período de 01 a 10 de abril de 2002, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Da apresentação aí realizada por Rodrigues resultou o seu artigo publicado em 2003 e aqui já referido. , frente a uma plateia integrada por fonólogos de alto nível. Sua meta maior era "mostrar aos estudiosos da fonologia", reunidos nesse encontro, "que as numerosas línguas indígenas sul-americanas e brasileiras constituem um amplo e diversificado campo de pesquisas, com fenômenos ainda pouco conhecidos". Ao lado dos seus esforços para sensibilizar teóricos sobre fenômenos que não estiveram na base empírica que serviu à constituição das próprias teorias em fonologia, de modo particular, e em Linguística, de modo geral, Rodrigues também manteve uma incansável atividade como professor e pesquisador que tentava sensibilizar alunos e colegas para fenômenos que, apresentados por línguas indígenas, estavam (e estão) no âmbito do que é pouco conhecido e teoricamente relevante. Sua ação, nesse campo, apresentou grandes efeitos. Assim, se é possível acompanhar citações de trabalhos seus por parte de outros autores, também é possível encontrar, em arquivos existentes no país, as provas dessa atividade incansável. À guisa de exemplo, trazemos para o espaço deste artigo um handout encontrado em arquivo14 14 O handout em questão foi localizado, sob o número 71202665, no Centro de Documentação de Línguas Indígenas – CELIN, no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. . De autoria de Rodrigues, sem data, com o título de "Silêncio, pausa e nasalização" e vínculo explicitamente declarado com o Departamento de Linguística da UNICAMP, nele se encontram reunidos dados de diferentes línguas, com fortes evidências relativas à associação entre nasalidade e silêncio, no tocante a determinadas línguas aí presentes. Exibindo a face de um tema caro autor, o handout em questão não traz qualquer marca que o vincule a uma apresentação em congresso ou outro tipo de evento maior. Provavelmente, foi utilizado para uma apresentação em grupos menores, o que não exclui seminários ou mesmo aulas ministradas em uma instituição. Se podemos apenas conjecturar sobre possíveis efeitos estimuladores de um handout de Rodrigues em grupos menores, é possível, porém, capturar, através de publicações específicas, os efeitos concretos dos esforços do autor na sensibilização de outros pesquisadores (entre os quais alunos, ex-alunos e colegas) na direção de temas que objetivava ver teoricamente relacionados. Um exemplo a respeito está no artigo de Sândalo & Abaurre (2010)SANDALO, Filomena & Maria Bernadete Abaurre. Orality spreading. LIAMES 10: 7-19.15 15 Em seu artigo, as autoras baseiam-se principalmente nos dados do Pirahã (família Mura) e consideram que, em línguas como o Pirahã, a posição neutra é aquela do véu palatino abaixado (contrariando, assim, Chomsky & Halle (1968), cuja proposta leva a crer que a elevação do véu palatino seja uma posição universalmente neutra). As autoras também propõem que as línguas podem ser tipologicamente distinguidas pelo número de obstruintes em seu inventário – o que apresenta repercussões sobre o tipo de processos de espalhamento que experimentam: línguas com um pequeno número de obstruintes em seu inventário fonológico têm como posição neutra aquela do véu palatino abaixado e experimentariam espalhamento da oralidade; já línguas com muitas obstruintes exigem que o veú palatino seja levantado muitas vezes, de modo que o menos custoso é considerar que a posição neutra seja a do véu palatino levantado; essas últimas línguas exibiriam espalhamento da nasalidade. , voltado para a discussão da oralidade e da nasalidade em algumas línguas indígenas brasileiras e com claros objetivos teóricos. Nesse se lê:

"Rodrigues (1986______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica., 2003______. 2003a. Aspectos da história das línguas indígenas da Amazônia. In: Maria do Socorro Simões. Sob o signo do Xingu. Belém: IFNOPAP/UFPA, p. 37-51.) discusses nasality and orality in several Brazilian Indian languages. The author notes that nasality is very common in South American languages after silence or pause... The phenomenon described above occurs in Pirahã as well as in Cayapa, Iranxe, Siriono, Maxacali, and Karaja in South America (Rodrigues 1986______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.)...One could, therefore, following Rodrigues'insight, explain the phenomenon of nasalization in the context of silence by assuming that lowered is the unmarked position of the velum in some languages. Given this assumption, one could say that, in the context of silence, there is a delay or anticipation in changing the position of the velum". (Sandalo & Abaurre: 2010SANDALO, Filomena & Maria Bernadete Abaurre. Orality spreading. LIAMES 10: 7-19.: 14).

Ainda no âmbito das teorias fonológicas, é importante registrar que Rodrigues, nos mais diversos espaços, ao chamar a atenção sobre fenômenos ainda pouco conhecidos e exibidos por línguas indígenas, foi muito além de brandir uma coleção de curiosidades e de colocá-las à disposição de possíveis pesquisadores interessados. Inúmeras vezes, deu ele próprio o caminho para o tratamento de fenômenos, indicando seu caminho de análise e considerando-os sob o ponto de vista de um aporte teórico, como é possível verificar em Rodrigues (1984______. 1984. “Contribuição das línguas brasileiras para a fonética e a fonologia. In: Donald F. Solá (org.) Language in the Americas. Ithaca: Latin American Center of Cornell University. p. 263-267., 2001______. 2001. Biodiversidade e diversidade linguística na Amazônia. In: Maria do Socorro Simões (org.) Cultura e diversidade: entre o rio e a floresta. Belém: Universidade Federal do Pará, p. 269-278.). Nesses trabalhos, os casos trazidos por Rodrigues – e que importam em alofonias inesperadas, complexidade fonológica e relação entre nasalidade e segmentos sem obstrução oral – incidem diretamente sobre as teorias fonológicas, desafiando-as.

Os desafios colocados às teorias pelos fatos que Rodrigues focaliza não se restringem à fonologia. No quadro dos estudos em morfologia e sintaxe, fazem parte, por exemplo, de seu percurso: a) investigações sobre o sistema de marcas de pessoa do Tupinambá (Rodrigues (1990b)______. 1990b. You and I = neither you nor I: the personal system of Tupinambá. In: Doris L. Payne (ed.) Amazonian linguistics: studies in lowland South American languages. Austin: University of Texas Press, p. 393-405., que manifesta uma situação ainda não relatada para qualquer outra língua e que deveria, segundo ele, ser verificada em outras línguas das terras baixas da América do Sul, particularmente – mas não exclusivamente – em línguas Tupi, para a descoberta de casos análogos; b) a construção de orações negativas por meio da supressão das marcas de tempo e aspecto no verbo (e de que constituem exemplos determinadas línguas indígenas, como o Karitiana (família Arikém)); c) a incorporação recursiva de posposições no sintagma verbal (como ocorre em Panará (família Jê, tronco Macro-Jê) e em Nadëb (família Maku)); d) a incorporação de nomes no sintagma verbal (exemplificada, entre outras, pela mesma língua Nadëb já mencionada); e) a referência alternada (switch reference) que, exibida por mais de uma língua indígena, consiste em assinalar argumentos com referentes idênticos ou distintos. Esta lista poderia ser aumentada, mas, ao invés de fazê-la crescer linearmente, vamos encerrá-la chamando a atenção para o fato de que Rodrigues também se interessou pelos fenômenos de interface. Uma de suas preocupações a esse respeito está em um caso de interface fonologia-morfologia, focalizado quando constatou que, em Mbyá (dialeto da língua Guaraní), há a necessidade de se "especificar a configuração total da palavra e não apenas um de seus limites" (Rodrigues (1980c)______. 1980c. Regras fonológicas condicionadas pela configuração da palavra em Mbiá. Ms.). Para qualquer linguista que direcione suas pesquisas para a esfera dos fenômenos gramaticais e/ou para fenômenos de interface, não é difícil constatar que o elenco de questões levantadas por Rodrigues está longe de ser trivial e possui importantes consequências teóricas.

Admitidas as contribuições teóricas de Rodrigues e os desafios que ele próprio apontou para as teorias em Linguística, voltemos à questão com que abrimos esta seção. Para além da linguística histórica, o que Rodrigues enxergou teoricamente e a que lugares levou o seu olhar? Como resposta, podemos dizer que Rodrigues enxergou as lacunas deixadas por teorias que se configuraram ao largo de línguas muito pouco conhecidas e que, em benefício das próprias teorias, mereciam ser consideradas, rigorosamente examinadas. Alinhado com os movimentos das próprias teorias em Linguística (embora às vezes se declare como alguém sem ocasião para acompanhar assiduamente desenvolvimentos teóricos; cf. Rodrigues (2003c______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.:12)), Rodrigues enxerga, nos trabalhos que começam a chegar às suas mãos como descrições linguísticas então recentes, problemas que interessam às teorias linguísticas e, imbuído da persistência de quem busca uma solução motivada e enraizada em propriedades menos aparentes, mas mais explicativas e unificadoras, encontra soluções e inspira novos trabalhos que, não o tendo necessariamente como autor, têm na sua investigação como cientista o grande elemento propulsor.

Considerações finais

A aproximação aqui ensaiada de uma parte representativa da obra de Rodrigues nos deixa em melhores condições para falar da estatura das suas ideias e contribuições, da mesma forma como dá maior visibilidade à figura do cientista que emerge de sua própria obra. Do que vimos, surge um cientista da linguagem escrupulosamente atento e honesto no reconhecimento do esforço de seus predecessores. Também se materializa a visão de que esse estabeleceu uma continuidade entre seu próprio trabalho e os estudos desenvolvidos sob sua orientação. E de que, por longas décadas, buscou recorrentemente a aplicação rigorosa do método histórico-comparativo - fundamento principal em linguística histórica. A busca pelo aperfeiçoamento constante de hipóteses foi, talvez, a sua maior meta. Colocou, retomou e consolidou pontos de análise ao longo de um grande período de tempo. Como resultado de sua investigação, determinou as isoglossas fonológicas e lexicais que separam as línguas da família Tupí-Guaraní das demais línguas do tronco Tupí, além de propor conjuntos de inovações compartilhadas identificadoras de subgrupos igualmente propostos por ele para a família em questão. Elucidou rigorosamente vínculos genéticos já suspeitados, além de demonstrar parentesco linguístico em casos menos óbvios. Juntou seus esforços ao de alunos e colaboradores mais próximos, na grande tarefa de reconstruir a fonologia, o léxico e a morfologia do Proto-Tupí. Logrou caracterizar o chamado tronco Macro-Jê como uma 'hipótese promissora de parentesco genético de longa distância', fazendo com que essa hipótese promissora substituísse uma proposta relativamente vaga de ancestralidade comum entre línguas bastante diversas. Apresentou evidências em favor de um mecanismo morfossintático elaborado, com envolvimento de morfemas formalmente similares, como prova de relacionamento genético. Construiu argumentos na busca de relacionamentos genéticos de longa distância. Reviu algumas de suas próprias hipóteses, assim como as teve revistas e avaliadas por outros pesquisadores. Se nem todas mantiveram sua validade, conservaram, porém seu valor, já que são suas as hipóteses permanentemente sob teste. E enxergou as lacunas deixadas por teorias que se configuraram ao largo de línguas muito pouco conhecidas. Trabalhou persistentemente pela consideração e exame rigoroso dessas línguas em benefício do conhecimento científico. Buscou soluções motivadas e enraizadas em propriedades menos aparentes, mas mais explicativas e unificadoras. Teceu relações entre fenômenos aparentemente desconectados, propôs soluções e inspirou novos trabalhos e novos pesquisadores.

Esse é o perfil do cientista Aryon Dall'Igna Rodrigues revelado por uma boa parte de sua obra. Dado o tempo e o espaço disponível para uma tarefa que, desde o início, considerávamos árdua, lamentamos apenas não tê-la podido abordar por completo. Mas, do que foi possível trazer para o espaço deste artigo, resulta a imagem de uma obra cuja estatura se destaca no cenário da linguística histórica e dos estudos linguísticos que tomam as línguas indígenas como seu objeto de interesse.

  • 1
    O uso do rótulo 'tronco' (Inglês: stock) se dá, em especial nos trabalhos de Rodrigues sobre as línguas Tupí, de forma explicitamente justificada. O autor adota a escala sugerida por Morris Swadesh para descrever distintos graus de distanciamento dentro de agrupamentos genéticos. O termo 'tronco' é reservado para a inclusão de línguas que apresentam entre 12 e 28% de cognatos compartilhados, dentro uma lista previamente estabelecida de itens lexicais. Ver, por exemplo, Rodrigues (1955)______. 1955. ‘As “línguas impuras” da família Tupí-Guaraní’. Anais do Congresso Internacional de Americanistas 31: 1055-1071.. O rótulo 'tronco' também é aplicado explicitamente ao grupo Macro-Jê (cf. por exemplo Rodrigues 1992______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC.), porém em um uso mais informal, uma vez que computações lexico-estatísticas do tipo de Swadesh não existem para esse agrupamento. No caso Macro-Jê, a noção de 'tronco' corresponderia simplesmente ao nível de inclusão filogenética imediatamente acima do de 'família', isto é, acima de cada uma das famílias agrupadas sob essa hipótese de parentesco, como a família Jê, a família Boróro, e assim por diante.
  • 2
    Em Rodrigues (1958)______. 1958. Classication of Tupi-Guarani. International Journal of American Linguistics 24 (3): 231-234., no entanto, o autor já levanta dúvidas quanto à classificação do Mundurukú como membro da família Tupí-Guaraní (ver nota 15, p. 234).
  • 3
    Observamos que Rodrigues é o único a argumentar explicitamente em favor da inclusão da família Karirí no tronco Macro-Jê (cf. Ribeiro 2006RIBEIRO, Eduardo Rivail. 2006. Macro-Jê. In: Keith Brown e Sarah Ogilvie (eds.) Concise encyclopedia of languages of the world. Elsevier. p. 665-669.: 665).
  • 4
    A exclusão explícita do Chiquitano da proposta de Rodrigues deve-se ao fato de que outros investigadores, como Greenberg (1987)GREENBERG, Joseph. 1987. Language in the Americas. Stanford University Press. o incluírem no conjunto de línguas geneticamente relacionadas com a família Jê.
  • 5
    Ver seção 3.
  • 6
    Rodrigues (1985b)______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53. também nota que muitos dos itens na segunda lista, aqueles que indicam relações de contato, aparecem também em línguas Arawak setentrionais. Como indicações claras de difusão entre línguas Tupí e Carib, o autor indica ainda os casos claros e bem compreendidos de difusão, como aqueles empréstimos encontrados em diferentes línguas Carib setentrionais e que têm origem no Nheengatú, os termos de origem no Nheengatú ou em Wayampí encontrados no Wayána, assim como desta língua no Wayampí (Rodrigues 1985b______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.: 391-392).
  • 7
    Note-se ainda que algumas das similaridades apontadas por Rodrigues (1985b______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.: 394395; 2009______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC. [1992]: 141) têm um claro perfil tipológico e são, portanto, evidência menos persuasiva de parentesco.
  • 8
    As situações a que se refere Rodrigues são as seguintes, no dialeto do Paraná do Kaingáng:: (a) derivação da forma dependente do nome; (b) derivação da forma causativa do verbo; (c) derivação do tema verbal 2 (terminologia empregada por Rodrigues e que possui correspondente no trabalho de Wisemann (1971WIESEMANN, Ursula. 1971. Dicionário kaingáng-português, portuguêskaingáng. Rio de Janeiro: Summer Institute of Linguistics.:270)).
  • 9
    Rodrigues (1980b)______. 1980b. Abertura e ressonância. Trabalho apresentado no XX GEL, Araraquara. Ms. Arquivado no Centro de Documentação de Línguas Indígenas – CELIN, Museu Nacional/UFRJ. Número de localização: 71202683. focaliza o Tapirapé a partir da descrição de Leite (1977).
  • 10
    Registre-se que Rodrigues não abandonou a hipótese vinculada à propriedade da compacidade, tendo-a levado para trabalho publicado em 2003 (Rodrigues (2003c)______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.).
  • 11
    "Além da associação entre nasalidade e silêncio, cuja compreensão como produto de mecanismo articulatório é bastante fácil, várias linguas indigenas brasileiras apresentam uma outra associação mais dificil de compreender - a associação entre nasalidade e laringalidade. Já faz bastantes anos que James Matisoff chamou a atencão para casos dessa associação em linguas das famílias Tai e Khmer do sudeste da Asia (Matisoff, 1975MATISOFF, James. 1975. Rhinoglottophilia: the mysterious connection between nasality and glottality. In: Charles Ferguson, Larry M. Hyman & John Ohala. (eds.), Nasálfest: Papers from a Symposium on Nasals and Nasalization, 265-87. Stanford, California: Stanford University Language Universals Project.), nas quais as vogais finais de palavra precedidas por um dos dois glides glotais adquirem nasalidade. Essa "misteriosa conexão entre nasalidade e glotalidade", como a designou Matisoff, é encontrada aqui sob formas mais variadas" (Rodrigues (2003c______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.: 18)). As línguas focalizadas por Rodrigues (2003c)______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24., relativamente à associação entre nasalidade e laringalidade, são o Baré (família Aruak), o Pirahã (família Mura), o Mawé ou Sateré (família Mawé), o Tuparí (família Tuparí, tronco Tupí), cujos dados proveem de diferentes trabalhos de descrição linguística que passam então a ser acessíveis.
  • 12
    Cf. Rodrigues (2003c______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.: 13, nota 2).
  • 13
    O encontro em questão foi o II Seminário Internacional de Fonologia, ocorrido no período de 01 a 10 de abril de 2002, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Da apresentação aí realizada por Rodrigues resultou o seu artigo publicado em 2003 e aqui já referido.
  • 14
    O handout em questão foi localizado, sob o número 71202665, no Centro de Documentação de Línguas Indígenas – CELIN, no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
  • 15
    Em seu artigo, as autoras baseiam-se principalmente nos dados do Pirahã (família Mura) e consideram que, em línguas como o Pirahã, a posição neutra é aquela do véu palatino abaixado (contrariando, assim, Chomsky & Halle (1968)CHOMSKY, Noam & Morris Halle. 1968. The sound pattern of English. New York: Harper & Row., cuja proposta leva a crer que a elevação do véu palatino seja uma posição universalmente neutra). As autoras também propõem que as línguas podem ser tipologicamente distinguidas pelo número de obstruintes em seu inventário – o que apresenta repercussões sobre o tipo de processos de espalhamento que experimentam: línguas com um pequeno número de obstruintes em seu inventário fonológico têm como posição neutra aquela do véu palatino abaixado e experimentariam espalhamento da oralidade; já línguas com muitas obstruintes exigem que o veú palatino seja levantado muitas vezes, de modo que o menos custoso é considerar que a posição neutra seja a do véu palatino levantado; essas últimas línguas exibiriam espalhamento da nasalidade.

Referências bibliográficas

  • ADELAAR, Willem. 2008. ‘Relações Externas do Macro-Jê: O Caso do Chiquitano. In: Stella Telles & Aldir S. de Paula (eds.) Topicalizando Macro-Jê Recife: NECTAR, p. 9-28.
  • BOSWOOD, Joan. 1973. ‘Evidências para a inclusão do Arikpatsá no filo Macro-Jê’. Série Linguística I: 67-78. Anápolis: Summer Institute of Linguistics.
  • CAMARGOS, Lidiane S. 2013. Consolidando uma proposta de família linguística Boróro: contribuição aos estudos histórico-comparativos do tronco Macro-Jê’. Tese de Doutorado. Brasilía, Universidade de Brasília.
  • CAMPBELL, Lyle & Verónica Grondona (eds.). 2012. The Indigenous Languages of South America: a comprehensive guide Berlin: Mouton de Gruyter.
  • CHOMSKY, Noam & Morris Halle. 1968. The sound pattern of English New York: Harper & Row.
  • CÔRREA DA SILVA, Beatriz. 2010. Mawé/Awetí/Tupí-Guaraní: Relações linguísticas e implicações históricas. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília.
  • DAVIS, Irvine. 1968. ‘Some Macro-Jê relationships’. International Journal of American Linguistics 34: 42-47.
  • GILDEA, Spike. 2012. Linguistic studies in the Cariban family. In: Lyle Campbell e Verónica Grondona. The Indigenous Languages of South America Berlin: Mouton de Gruyter, p. 441-494.
  • GREENBERG, Joseph. 1987. Language in the Americas Stanford University Press.
  • GUDSCHINSKY, Sarah. 1971. ‘Ofaié-Xavante, a Jê Language’. In: Sarah Gudschinsky (ed.) Estudos sobre línguas e culturas indígenas Brasília: Summer Institute of Linguistics: 1-16.
  • GUÉRIOS, F. M. 1939. ‘O nexo linguístico Boróro-Merrime-Kayapó (Contribuição para a unidade genética das línguas americanas)’. Revista do Círculo de Estudos Bandeirantes 2: 61-74.
  • HANKE, Wanda, MORRIS, Swadesh & Aryon Dall’Igna Rodrigues. 1958. Notas de Fonologia Mekéns. In: J. COMAS. (org.) Miscellania Paul Rivet Octagenario Dicata, vol. 2. México: UNAM, p. 187-217.
  • JENSEN, Cheryl. 1989. O Desenvolvimento Histórico da Língua Wayampí Editora da UNICAMP.
  • ______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages Cambridge University Press.
  • LEITE, Yonne de Freitas. Aspectos da fonologia e morfofonologia Tapirapé. Linguística VIII. Rio de Janeiro, Museu Nacional.
  • LEMLE, Miriam. 1971. Internal classification of Tupí-Guaraní. In: David Bendor-Samuel (ed.) Tupi Studies I Norman (Oklahoma, EUA): Summer Institute of Linguistics.
  • MATISOFF, James. 1975. Rhinoglottophilia: the mysterious connection between nasality and glottality. In: Charles Ferguson, Larry M. Hyman & John Ohala. (eds.), Nasálfest: Papers from a Symposium on Nasals and Nasalization, 265-87. Stanford, California: Stanford University Language Universals Project.
  • MELLO, Antonio Augusto Souza. 2000. Estudo histórico da família linguística Tupi-Guarani: aspectos fonológicos e lexicais. Tese de Doutorado, Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
  • RIBEIRO, Eduardo Rivail. 2002. ‘O marcador de posse alienável em Karirí: um morfema Macro-Jê revisitado. LIAMES 2: 29-46.
  • RIBEIRO, Eduardo Rivail. 2006. Macro-Jê. In: Keith Brown e Sarah Ogilvie (eds.) Concise encyclopedia of languages of the world Elsevier. p. 665-669.
  • _____. 2009. Tapuya connections: language contact in Eastern Brazil. LIAMES 9: 61-76.
  • RIBEIRO, Eduardo e Hein van der Voort. 2010. Nimuendajú was right: the inclusion of the Jabutí Language Family in the Macro-Jê Stock. International Journal of American Linguistics76(4):517-570.
  • RODRIGUES, Aryon. Dall’Igna. 1944. ‘Um aspecto da evolução fonética na Família Tupí-Guaraní’. Revista FilológicaVII(29):74-77.
  • ______. 1945. Diferenças fonéticas entre o Tupi e o Guarani. Separata dos Arquivos do Museu Paranaense vol. 4: 333-354.
  • ______. 1955. ‘As “línguas impuras” da família Tupí-Guaraní’. Anais do Congresso Internacional de Americanistas 31: 1055-1071.
  • ______. 1958. Classication of Tupi-Guarani. International Journal of American Linguistics 24 (3): 231-234.
  • ______. 1964. A classificação do tronco linguístico Tupi’. Revista de Antropologia 12(1-2):99-104.
  • ______. 1966. Classificação da língua dos Cinta-Larga. Revista de Antropologia 14:27-30.
  • ______. 1978. A língua dos índios Xetá como dialeto Guarani. Cadernos de Estudos Linguísticos 1:7-11.
  • ______. 1980a. Tupi-Guarani e Munduruku: evidências lexicais e fonológicas de parentesco genético. Estudos Linguísticos. Anais dos Seminários do GEL, v.3: 194-209.
  • ______. 1980b. Abertura e ressonância. Trabalho apresentado no XX GEL, Araraquara. Ms. Arquivado no Centro de Documentação de Línguas Indígenas – CELIN, Museu Nacional/UFRJ. Número de localização: 71202683.
  • ______. 1980c. Regras fonológicas condicionadas pela configuração da palavra em Mbiá. Ms.
  • ______. 1981. Nasalização e fronteira de palavra em Maxakalí. Anais do V Encontro Nacional de Linguística, v.2, 305-311. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.
  • ______. 1984. “Contribuição das línguas brasileiras para a fonética e a fonologia. In: Donald F. Solá (org.) Language in the Americas Ithaca: Latin American Center of Cornell University. p. 263-267.
  • ______. 1985a. Evidence for Tupi-Carib relationships. In: Harriet Klein Manelis & Louisa R Stark. South American Indian languages: retrospect and prospect Austin: University of Texas Press. p. 371-404.
  • ______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.
  • ______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.
  • ______. 1986b. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas São Paulo: Loyola.
  • ______. 1990. Grammatical affinities among Tupí, Karíb and Macro-Jê. UnB. Ms.
  • ______. 1990b. You and I = neither you nor I: the personal system of Tupinambá. In: Doris L. Payne (ed.) Amazonian linguistics: studies in lowland South American languages Austin: University of Texas Press, p. 393-405.
  • ______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC
  • ______. 1993. ‘Uma hipótese sobre a flexão de pessoa em Boróro’. Anais da 45ª Reunião Anual da SBPC, vol. 2, p.509.
  • ______. 1999a. Tupí. In: Robert M. W. Dixon & Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages Cambridge University Press. p. 107-124.
  • ______. 1999b. Macro-Jê. In: Robert M. W. Dixon & Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages Cambridge University Press. p.164-206.
  • ______. 2000a. Ge-Pano-Carib x Jê-Tupí-Karíb: sobre relaciones prehistóricas em Sudamérica. In: Luis Miranda (org.). Actas del I Congreso de Lenguas Indígenas de Sudamérica, tomo I.. Lima: Universidad Ricardo Palma. p. 95-105.
  • ______. 2000. Flexão relacional no tronco Macro-Jê. Boletim da ABRALIN 25: 219-231.
  • ______. 2001. Biodiversidade e diversidade linguística na Amazônia. In: Maria do Socorro Simões (org.) Cultura e diversidade: entre o rio e a floresta Belém: Universidade Federal do Pará, p. 269-278.
  • ______. 2002. Para o estudo comparativo das Línguas Jê. In: Ludoviko dos Santos & Ismael Pontes (eds.) Línguas Jês: estudos vários Londrina: Editora da UEL, p. 115-124.
  • ______. 2003a. Aspectos da história das línguas indígenas da Amazônia. In: Maria do Socorro Simões. Sob o signo do Xingu Belém: IFNOPAP/UFPA, p. 37-51.
  • ______. 2003b. Evidências de relações Tupí-Karíb. In: Eleonora Albano et al. (org.) Saudades da língua Campinas: Mercado de Letras, v. 1, p. 393-410.
  • ______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.
  • ______. 2005. As vogais orais do Proto-Tupi. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. (ors.) Novos Estudos sobre Línguas Indígenas Brasília: Editora da UnB, p. 35-46.
  • ______. 2007a. Linguística comparativa e pré-história dos povos indígenas sul-americanos: a hipótese Tupí-Karíb e as relações genéticas entre Tupí, Karíb e Macro-Jê. In: Thays Cristófaro Silva & Heliana. Mello (orgs). Conferências do V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística Belo Horizonte: FALE/UFMG, p. 165-176.
  • ______. 2007b. As consoantes do Proto-Tupi. In: Ana Suelly Arruda Câmara Cabral & Aryon Dall’Igna Rodrigues (ors.) Línguas e culturas Tupí Campinas: Editora Curt Nimuendajú, p. 167-203.
  • ______. 2007c. O parentesco genético das línguas Umutína e Boróro. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (eds.) Línguas e culturas Macro-Jê Brasília: Editora da Universidade de Brasília, p. 9-18.
  • ______ & Wolf Dietrich. 1997. On the linguistic relationship between Mawé and Tupi-Guarani. Diachronica14:265-304.
  • ______. 2009. ‘A case of affinity among Tupí, Karíb and Macro-Jê’. Revista Brasileira de Linguística Antropológica1(1):139-167. [Trabalho originalmente redigido por ocasião do encontro de 1992 da Universidade do Colorado dedicado a Joseph Greenberg].
  • ______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2002. ‘Revendo a classificação interna da família linguística Tupí-Guaraní’. In: Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. & Aryon Dall’Igna Rodrigues (eds.) Línguas Indígenas Brasileiras: Fonologia, Gramática e História I. Belém: UFPA, p. 327-337.
  • ______, Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. & Beatriz Carretta Côrrea da Silva. 2006. Evidências linguísticas para a reconstrução de um nominalizador de objeto **-mi em Proto-Tupi. Estudos da Lingua(gem) 4(2):21-39.
  • ______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2007. ‘Através do léxico Macro-Jê: em busca de cognatos’. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (eds.) Línguas e Culturas MacroJê Brasília: Editora da Universidade de Brasília, p. 175-179.
  • ______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2012. Tupían. In: Lyle Campbell & Verónica Grondona (eds.) The Indigenous languages of South America De Gruyter Mouton. p. 495-574.
  • SANDALO, Filomena & Maria Bernadete Abaurre. Orality spreading. LIAMES 10: 7-19.
  • SCHLEICHER, Charles O. 1998. Comparative and internal reconstruction of Proto-Tupi-Guarani’. Tese de Doutorado, University of Wisconsin.
  • WIESEMANN, Ursula. 1971. Dicionário kaingáng-português, portuguêskaingáng. Rio de Janeiro: Summer Institute of Linguistics.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2014

Histórico

  • Recebido
    Jul 2014
  • Aceito
    Ago 2014
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: delta@pucsp.br