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O estatuto variável de construções com e sem Alçamento: uma abordagem sociofuncionalista

The variable status of constructions with and without Raising: a socio-functionalist approach

RESUMO

Constituintes argumentais de oração encaixada podem assumir comportamento típico de Sujeito ou de Objeto em uma predicação matriz, fenômeno conhecido como Alçamento. Sob perspectiva sociofuncionalista, discutimos o estatuto variável de construções com e sem Alçamento, sob a hipótese de que tais construções podem ser concebidas como variantes de mesma variável sintática. Independentemente de ajustes morfossintáticos prototípicos do Alçamento, analisamos dados de uma variedade falada do português brasileiro envolvendo casos de Alçamento a Sujeito. Na consideração de variáveis linguísticas e sociais, os resultados apontam, no condicionamento da regra variável: (i) maior produtividade de Alçamento de Sujeito a Sujeito do que de Objeto a Sujeito; (ii) maior relevância de variáveis semântico-pragmáticas; (iii) irrelevância de variáveis sociais. A conclusão é a de que um tratamento satisfatório do fenômeno sob perspectiva sociofuncionalista requer mesmo que critérios morfossintáticos sejam abrandados, em favor da inclusão de critérios discursivo-pragmáticos.

Palavras-chave:
Alçamento; Variação sintática; Sociofuncionalismo; Português brasileiro

ABSTRACT

Argument constituent of embedded clause can take typical behavior of Subject or Object in a matrix predication, phenomenon named as Raising. Under socio-functionalist approach, we discuss the variable status of constructions with and without raising, assuming the hypothesis that such constructions can be considered as variants of the same syntactic variable. Regardless of prototypical morphosyntactic adjustments of raising, we analyzed data from a spoken Brazilian Portuguese variety involving Raising to Subject constructions. Considering both linguistic and social variables, the results indicate, in the conditioning of variable rule: (i) Subject to Subject Raising is more productive than Object to Subject Raising; (ii) semantic-pragmatic variables are more relevant; (iii) social variables are irrelevant. The conclusion is that a satisfactory treatment of the phenomenon under socio-functionalist perspective it requires that morphosyntactic criteria are mitigated in favor of the inclusion of discursive-pragmatic criteria.

Key-words:
Raising; Syntactic variation; Socio-functionalism; Brazilian Portuguese

Introdução

Em certos complexos oracionais, constituinte argumental de predicado subordinado pode ocorrer no domínio da própria oração subordinada ou no domínio da oração matriz, na qual passa a se comportar como Sujeito ou Objeto. Esse fenômeno é comumente referido na literatura linguística como Alçamento (POSTAL, 1974POSTAL, P. M. 1974. On Raising. One rule of English grammar and its theoretical implications. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.; LANGACKER, 1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.; NOONAN, 2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]; SERDOL’BOSKAYA, 2009SERDOL’BOLSKAYA, N. 2009. Toward the typology of raising: a functional approach. In: EPPS, P.; ARKHIPOV, A. (eds.). New challenges in typology: transcending the borders and refining the distinctions. Berlin/New York: Mouton De Gruyter. p. 269-294.; GARCIA VELASCO, 2013GARCIA VELASCO, D. 2013. Raising in functional discourse grammar. In: MACKENZIE, J.L.; OLBERTZ, H. (eds.). Casebook in Functional Discourse Grammar. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. p. 249-275., dentre outros) ou, por vezes, como Construções de Tópico Marcado (GIVÓN, 2001GIVON, T. 2001. Syntax: an introduction. v.2. Philadelphia: John Benjamins.). Interessa-nos aqui o fenômeno de Alçamento, que, de uma perspectiva sociofuncionalista, não deve ser entendido como envolvendo qualquer tipo de regra de movimento de constituinte.

Em (1) e (2), exemplificamos dois tipos de Alçamento focalizados neste artigo, propiciados por predicados matrizes de natureza epistêmica e avaliativa, considerados prototípicos desse tipo de construção, por serem os únicos tipos ocorrentes no córpus.1 1 . Nas ocorrências exemplificativas, destacamos o predicado de Alçamento em negrito, o constituinte alçado ou alvo do Alçamento, em sublinhado, e a oração encaixada, entre colchetes. Sempre que pertinente, indicamos paráfrases da contraparte com ou sem Alçamento entre parênteses. Ao final das ocorrências, identificamos entre colchetes, respectivamente: o tipo de amostra (AC, Amostra Censo, ou AI, Amostra de Interação), o número do inquérito e a linha de onde o dado foi extraído.

  • (1) Alçamento de Sujeito a Sujeito (ASS) com predicados matrizes epistêmico e avaliativo

  • a. o cara num parece [tê(r) setenta anos de idade]

  • (= não parece [que o cara tem setenta anos])

  • [AI-005; L.178]

  • b. as torres parece [que elas vão alcançá(r) o céu de tão grande...]

  • (= parece [que as torres vão alcançar o céu])

  • [AC-084; L. 66]

  • c. essa receita é muito fácil ... eu aprendi c’a avó do meu marido... e:: eu sô(u) assim muito difícil [pa aprendê(r) a fazê(r) as coisas]

  • (= é difícil [eu aprender a fazer as coisas])

  • [AC-036; L.268]

  • d. por mais dificuldade que você tenha na sua vida se você tivé(r) Deus na sua vida... não que eles vão sê(r) fácil [de sê(r) superado] mas você vai conseguí(r) superá(r) com mais facilidade

  • (= não vai ser fácil [eles serem superados])

  • [AC-092; L. 228]

  • (2) Alçamento de Objeto a Sujeito (AOS) com predicado matriz avaliativo

  • a. eu dobro toalha tam(b)ém ... toalha é compliCAdo pa caramba [pa dobrá(r)]

  • (= é complicado [(para) dobrar toalha])

  • [AC-016; L. 360]

  • b. Doc.: a sua mãe me falô(u) que cê sabe fazê(r) um bolo de chocolate muito bom:: eu gostaria que você me explicasse como que é esse bolo de chocolate

  • Inf.: ah ele é assim ele é fácil [de fazê(r)] né?

  • (= é fácil [(de) fazer ele (= o bolo)])

  • [AC-048; L.306]

  • c. ele saiu:: [da prisão] graças a Deus... o serviço é difícil [arranjá(r)] mas conseguiu um servicinho lá

  • (= é difícil [(de) arranjar serviço])

  • [AC-071; L. 136]

Construções com Alçamento, como as mostradas em (1) e (2), encontram correspondência com uma contraparte sem Alçamento, envolvendo os mesmos tipos de predicados matrizes, como indicam as respectivas paráfrases, e como atestam as ocorrências em (3).

  • (3) Construções sem Alçamento com predicados matrizes epistêmico e avaliativo

  • a. eu lembro dessa história assim mais marcante foi essa que:: meu pai... de tão ruim que era... parece [que a coisa ruim tava sempre assim assobian(d)o... e... assim... comichan(d)o na nos ouvido dele pa ele fazê(r) uma... peraltice piOR uma arte piOR]... sabe?

  • (= a coisa ruim [parece que tava sempre...])

  • [AC-110; L. 154]

  • b. eu num tinha pretensão nenhuma no começo [...] hoje não... já se passaram três anos [...] tá super bem tranquilo [...] chega todo mundo fala que é crise d’um ano um ano e meio ... que é:: muito difícil [você chegá(r) nessa parte] onde tá conhecen(d)o realmente a pessoa

  • (= você é muito difícil [(de) chegar nessa parte] / essa parte é muito difícil [(de) você chegar])

  • [AC-047; L. 124]

Relativamente às construções sem Alçamento, estamos considerando, neste artigo, apenas aquelas que potencialmente podem favorecer o Alçamento de constituintes argumentais, o que significa dizer que não estão contempladas nas análises: (i) construções encaixadas cujos predicados restringem o Alçamento de constituintes (como em (4a)); (ii) construções encaixadas cujos predicados não apresentam constituintes argumentais expressos, embora eles possam ser recuperados no contexto linguístico mais amplo (como em (4b)); (iii) construções com oração encaixada topicalizada (como em (4c)); (iv) construções com constituintes não-argumentais que ocorrem à esquerda da oração matriz (como em (4d)).

  • (4) Construções sem Alçamento excluídas da análise

  • a. Predicados encaixados que restringem o Alçamento

  • o amido ele sedimenta no fundo... da vasilha... ele fica todo sedimentado... então parece (nossa)... parece [que tem algo duro no fundo]

  • (*Algo duro no fundo [parece que tem])

  • [AC-115; L. 344]

  • b. Sujeito e/ou Objetos nulos na encaixada

  • um comprô(u) chácara num qué(r) í(r) mais... que é o pai da E.... o o(u)tro tam(b)ém porque a mulher num qué(r) í(r)... tão querendo vendê(r) o rancho agora ... o final tam(b)ém/ sendo meio triste (inint.) chato porque... parece [que Ø tão querendo vendê(r) Ø]... mas num é fácil [Ø vendê(r) Ø não]

  • [AC-132; L. 297]

  • c. Oração encaixada topicalizada

  • [você julgá(r) os o(u)tros] é fácil né?... mas quan(d)o acontece na tua família... aí as coisa muda

  • (= é fácil [você julgar os outros])

  • [AC-072; L.638]

  • d. Constituinte não-argumental à esquerda da matriz

  • tanto é que o fundo da casa parece [que começa o morro]

  • (= parece [que o morro começa no fundo da casa])

  • [AC-115; L. 249]

São duas as motivações principais que nos levam a investigar esses tipos de construções: (i) a primeira motivação parte de um projeto maior sobre complementação oracional, em que vimos descrevendo o comportamento sintático, semântico e pragmático de orações subjetivas na história do português (GONÇALVES, 2015GONÇALVES, S.C.L. 2015. Orações completivas em posição argumental de Sujeito e o Alçamento a Sujeito sob perspectiva funcional. In: HORA, D.; PEDROSA, J.; Lucena, R. (Orgs.). ALFAL 50 anos: contribuições para os estudos linguísticos e filológicos. João Pessoa: Ideia. p. 367-417., 2012_______. 2012. Orações subjetivas e mudança de padrões na história do português. In: SOUZA, E.R.F. (org.). Funcionalismo linguístico: análise e descrição. São Paulo: Contexto, v. 2. p. 93-118., 2011_______. 2011. Orações subjetivas: variância e invariância de padrões na fala e na escrita. Revista da ABRALIN, v. 10. p. 87-111. ); por se tratar de construções impessoais, matrizes de orações subjetivas é o tipo de construção que mais propicia a ocorrência de Alçamento de constituintes a Sujeito (cf. (1) e (2)); (ii) a segunda motivação deve-se ao fato de, no âmbito da linguística brasileira, construções com e sem Alçamento sempre terem constituído temática de investigação privilegiada mais de formalistas (FERREIRA, 2000FERREIRA, M.B. 2000. Argumentos nulos em português brasileiro. 113f. Dissertação (Mestrado em Linguística) - Unicamp, Campinas.; KATO; MIOTO, 2000KATO, M.A.; MIOTO, C. 2000. A inexistência de sujeitos oracionais. Laços, Rio de Janeiro. p. 61-90.; MARTINS; NUNES, 2005MARTINS, A.M.; NUNES, J. 2005. Raising Issues in Brazilian and European Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, v. 4.2. p. 53-77.; DUARTE, 2007DUARTE, M.E. 2007. Sobre outros frutos de “um projeto herético”: o sujeito expletivo e as construções de alçamento. In: CASTILHO, A.T. et al. (orgs.) Descrição, história e aquisição do português brasileiro: estudos dedicados a Mary Aizawa Kato. São Paulo: Fapesp, Campinas: Pontes. p. 35-47.; HENRIQUES, 2008HENRIQUES, F.P. 2008. Construções com verbos de alçamento: um estudo diacrônico. 112f. Dissertação (Mestrado em Letras Vernáculas - Língua Portuguesa). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro., 2013_______. 2013. Construções com verbo de alçamento que selecionam um complemento oracional: uma análise comparativa do PB e PE. 155f. Tese (Doutorado em Letras Vernáculas - Língua Portuguesa). Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. ; dentre outros) do que de funcionalistas (GÖRSKI, 2008GÖRSKI, E. 2008. Reflexos da topicalização sobre o estatuto gramatical da oração. In: VOTRE, S.; RONCARATI, C. (orgs.) Anthony Julius Naro e a linguística no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras. p. 169-184.; MITTMANN, 2006MITTMANN, M.M. 2006. Construções de alçamento a sujeito: variação e gramaticalização. 108f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.). Diante disso, nosso objetivo mais amplo tem sido o de oferecer uma explicação de construções de Alçamento do português brasileiro (PB), sob perspectiva sociofuncionalista.

Neste artigo, nosso propósito, então, é colocar em discussão se ao fenômeno de Alçamento poderia ser dispensado tratamento variável, considerando certa indecisão entre tipologistas e funcionalistas acerca das propriedades definitórias do próprio fenômeno. Partindo da premissa de que construções com e sem Alçamento são opcionais e não afetam o valor de verdade das proposições nelas contidas (LANGACKER, 1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.; NOONAN, 2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]), hipotetizamos que essas construções podem ser concebidas como variantes de uma mesma variável sintática, nos termos labovianos (LABOV, 1978LABOV, W. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? A response to Beatriz Lavandera. In: Working papers in Sociolinguistics. Austin: Southwest Educacional Development Laboratory.; LAVANDERA, 1978LAVANDERA, B. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? Language in society, v. 7. p. 171-182., 1984_______. 1984. Variación e significado. Buenos Aires: Hachette. ), motivadas mais fortemente por fatores morfossintáticos e semântico-pragmáticos do que por fatores sociais (BENTIVOGLIO, 1987BENTIVOGLIO, P. 1987. A variação nos estudos sintáticos. Estudos Linguísticos, n. 15. p. 7-29.).

Nossa investigação empírica toma por base amostras de fala do Banco de Dados Iboruna, um banco de dados de médio porte (disponível em http://www.iboruna.ibilce.unesp.br), com pouco mais de um milhão de palavras e que registra uma variedade do português falado no interior paulista, documentada em 152 entrevistas sociolinguísticas (Amostra Censo (AC) de parte da região noroeste do estado de SP) e em 11 coletas de diálogos gravados secretamente (Amostra de Interação (AI) dialógica), consentidos posteriormente pelos interlocutores (GONÇALVES, 2007_______. 2007. Banco de dados Iboruna: amostras eletrônicas do português falado no interior paulista. Disponível em <http://www.iboruna.ibilce.unesp.br>.
http://www.iboruna.ibilce.unesp.br...
). Todos as ocorrências levantadas foram submetidas aos mesmos critérios sociolinguísticos de análise, por recurso ao programa Goldvarb, específico para o tratamento estatístico de fenômenos variáveis.

O restante deste artigo estrutura-se em três seções principais: na seção (1.), apresentamos uma caracterização geral do fenômeno de Alçamento, partindo de trabalhos de orientação funcional-tipológica; na seção (2.), diante do modo como o fenômeno se manifesta no PB, situamos melhor nosso problema teórico-metodológico; na seção (3.), apresentamos e discutimos os resultados alcançados; e, por fim, concluímos o artigo, com os resultados mais relevantes e com perspectivas de continuidade da investigação do tema.

1. Alçamento sob perspectiva funcional-tipológica

Em decorrência de nossa opção teórica de tratar o Alçamento no PB na interface entre variação e funcionalismo (cf. GÖRSKI; TAVARES, 2013GÖRSKI, E.; TAVARES, M.A. 2013. Reflexões teórico-metodológicas a respeito de uma interface sociofuncionalista. Revista do Gelne, Natal, v. 15, n.1/2. p. 75-97.), partimos de dois importantes trabalhos tipológicos, identificados com uma orientação funcionalista: o trabalho de Noonan (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]), sobre complementação oracional envolvendo 47 línguas diferentes, e o trabalho de Serdol’boskaya (2009), específico sobre a manifestação de Alçamento em 27 línguas não aparentadas geneticamente. Ao partir desses trabalhos, pretendemos verificar em que medida critérios de base tipológica para a caracterização do fenômeno são necessários e suficientes para a identificação e a descrição de dois tipos de Alçamento no PB, envolvendo orações subjetivas somente: ASS, como mostrado em (1), e AOS, como mostrado em (2).

Em seu trabalho sobre complementação oracional, Noonan (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]) trata de predicados que tomam orações por complemento (PTC) e apresenta um quadro tipológico da complementação oracional, a partir do qual descreve o Alçamento e oferece uma definição de caráter restrito para a identificação do fenômeno, como mostramos em (5).

  • (5) Definição de Alçamento (NOONAN, 2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985], p.79, grifos acrescidos)2 2 . Cf. original: “there is another method whereby arguments may be removed from their predications resulting in a non-s-like complement type. This method involves the placement of an argument notionally part of the complement proposition (typically the subject) in a slot having a grammatical relation (eg subject or direct object) to the CTP [complement-taking predicates]. This movement of an argument from a lower to a higher sentence is called raising.”

  • Existe um outro processo por meio do qual argumentos podem ser removidos de suas predicações, resultando uma estrutura de complementação de tipo não sentencial [non-s-like]. Esse processo envolve a colocação de um argumento, que é nocionalmente parte da proposição complemento (tipicamente o Sujeito), em uma posição na qual passa a ter relação gramatical (por exemplo, de Sujeito ou de Objeto direto) com o PTC [predicado que requer complemento]. Esse movimento de argumento de uma sentença de nível mais baixo para uma de nível mais alto é chamado Alçamento.

Essa definição, restrita mais a aspectos morfossintáticos, fornece critérios relevantes, porém não sem problemas, para a identificação do fenômeno, dada a necessidade de sua adequação a um conjunto amplo de línguas. Esses critérios são explicitados em (6).

  • (6) Critérios para uma abordagem restrita do Alçamento (NOONAN, 2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985])

  • a. ocorre em casos de complementação sentencial;

  • b. o argumento alçado é nocionalmente (i.e., semanticamente) parte de uma oração encaixada;

  • c. o Alçamento afeta tipicamente (mas não necessariamente) o Sujeito da oração encaixada, que, ao ser alçado, desenvolve relações gramaticais com o predicado matriz, i.e., torna-se seu Sujeito ou seu Objeto;

  • d. após o Alçamento, a oração encaixada perde sua finitude, tornando-se uma “não sentença”, i.e., dessentencializando-se, nos termos de Lehmann (1988LEHMANN, C. 1988. Towards a typology of clause linkage. In: HAIMAN, J.; THOMPSON, S. (eds.). Clause combining in grammar and discourse. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. p. 275-330.).

As implicações que derivam dessa caracterização estrita de Alçamento são as mostradas em (7).

  • (7) Implicações decorrentes da definição de Alçamento de Noonan (2007 NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985])

  • a. o Alçamento é uma discrepância entre semântica e sintaxe;

  • b. o Alçamento envolve reconhecer uma construção variante sem Alçamento;

  • c. o Alçamento leva às seguintes adaptações morfossintáticas:

  • i. na oração matriz, desencadeamento de Caso e Concordância entre o predicado e o argumento alçado;

  • ii. dessentencialização da oração encaixada pela perda de suafinitude.

A partir da relação entre a posição de Sujeito e a de Objeto do constituinte no interior da oração encaixada e a posição que, decorrente do Alçamento, ele passa a assumir na oração matriz, Noonan (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]) identifica, nas línguas em geral, a tipologia mostrada e exemplificada em (8).3 3 . Como apontam Garcia-Velasco (2013) e Serdol’boskaya (2009), nem todos os tipos de Alçamento são produtivos, de igual maneira, numa mesma língua, como é o caso de AOO, inexistente em Inglês, por exemplo. Segundo os autores, os tipos mais produtivos inter e intralinguisticamente são ASS e AOS.

  • (8) Tipologia de Alçamento (NOONAN, 2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985], p. 81-82)

  • a. Alçamento de Sujeito a Sujeito (ASS)

  • Inglês:

  • i. It seems [that Boris dislikes vodka]

  • Parece [que Boris tem aversão à vodca]’

  • ii. Boris seems [to dislike vodka]

  • ‘Boris parece [ter aversão à vodca]’

  • b. Alçamento a Objeto a Sujeito (AOS)

  • Inglês:

  • i. It´s tough [for Norm to beat Herb]

  • É difícil [(para) Norm vencer Herb]’

  • ii. Herb is tough [for Norm to beat]

  • ‘Herb é difícil [(para/de) Norm vencer’]

  • c. Alçamento de Sujeito a Objeto (ASO)

  • Inglês:

  • i. Irv believes [Harriet is a secret agent]

  • ‘Irv acredita que Harriet é um agente secreto’

  • ii. Irv believes Harriet [to be a secret agent]

  • Lit:‘Irv acredita Harriet [ser um agente secreto]’

  • d. Alçamento de Objeto a Objeto (AOO)

  • Irlandês:

  • i. Is ionadh liom é [a fheiceáil Sheáin anseo]

  • COP surpresa com.me lo COMP ver.NZN John.GEN aqui

  • Lit: ‘Surpreende-me ele [com a visão de John aqui]’

  • ii. Isionadh liom Seán [a fheiceáil anseo]

  • COP surpresa com.me John COMP ver.NZN aqui

  • Lit: ‘Surpreende-me John [com a visão (dele) aqui]’

  • ‘Supreende-me ver John aqui’

Vemos exemplificado, em (8a), o ASS: o SN Boris, Sujeito do predicado encaixado to dislike em (8a.i), é alçado a Sujeito do predicado matriz to seem em (8a.ii). Em (8b), caso de AOS, o SN Herb, Objeto direto do predicado encaixado to beat, em (8b.i), ocorre como Sujeito do predicado matriz to be tough, em (8b.ii). Em (8c), caso de ASO, o SN Harriet que, em (8c.i), ocorre em posição argumental de Sujeito da oração encaixada no predicado believes, é reanalisado, em (8c.ii), como Objeto do predicado matriz believes. Em (8d), o Alçamento é da posição de Objeto da oração encaixada (nominalizada) a Objeto da oração matriz (AOO), um dos tipos menos produtivos translinguisticamente; nesse exemplo do irlandês, as motivações para o Alçamento ocorrem de modo gradual: em (8d.i), o apagamento do Sujeito da oração encaixada, correferente ao da oração matriz, e a forma de acusativo é (representada pela forma lo, na glosa para o PB), e não a de nominativo (ele), são motivações para o Alçamento de Sheáin (da nominalização encaixada) a Objeto do predicado matriz ionadh (surpresa). Segundo Noonan (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]), nesse caso em que há apagamento de Sujeito correferente na oração encaixada e nela há um termo nominalizado, o Alçamento é obrigatório em irlandês. Em todos esses exemplos, a redução da oração complemento (ou na forma infinitiva ou na forma nominalizada) é decorrência essencial do Alçamento, segundo o autor.

Apesar de esse trabalho tipológico de Noonam (2007 [1985]) ter forte apelo funcionalista na descrição geral da subordinação, ele não destaca propriedades relevantes de ordem pragmática e/ou semântica no tocante ao Alçamento, aspecto que, num outro extremo, é enfatizado por Serdol’boskaya (2009), para quem o Alçamento não pode ser concebido como fenômeno puramente morfossintático.

Como crítica ao trabalho de Noonan e de autores gerativistas, Serdol’boskaya (2009) advoga por uma redefinição de Alçamento, tendo em vista que propriedades morfossintáticas, segundo ela, não são critérios fortes o suficiente para um viés tipológico do fenômeno, como mostram seus argumentos sintetizados em (9).

  • (9) Por uma visão mais ampla de Alçamento (SERDOL’BOSKAYA, 2009)

  • a. tipologicamente, o Alçamento não pode ser concebido como fenômeno puramente morfossintático, uma vez que:

  • i. ajustes de Caso e Concordância não ocorrem em todas as línguas; em algumas línguas o constituinte alçado preserva traços de Caso (e de Concordância) do predicado encaixado (ou mesmo que receba Caso do predicado matriz, o constituinte não necessariamente assume a função sintática específica do Caso); a marca de Caso, mais pragmática do que sintática, tem por função, por exemplo, sinalizar definitude, animacidade e topicalidade;

  • ii. especialmente no caso de Alçamento a Objeto, o constituinte não é parte da matriz, mas estaria na periferia esquerda da oração encaixada;

  • iii. redução da encaixada é sensível ao tipo de predicado encaixado (monoargumental ou com significado específico (aspectual, modal, de percepção e de volição));

  • iv. restrição a contextos de orações completivas não é essencial, porque outros tipos oracionais (como as adverbais) também são sensíveis às mesmas motivações semânticas e pragmáticas do Alçamento em orações substantivas.

  • → Línguas com todas as propriedades morfossintáticas de Alçamento, como as elencadas acima, “são muito mais raras do que aquelas que não as exibem” (p. 273).4 4 . Cf. original: “[it should be concluded that] languages in which raising exhibits all of the properties (i-iv) are much rarer than those in which it does not.”

  • b. fatores semântico-pragmáticos determinantes do Alçamento ligam-se ao tipo semântico de predicado matriz, à definitude, à topicalidade e à animacidade do constituinte alçado.

Embora não se preocupe em oferecer uma definição precisa para Alçamento, Serdol’boskaya defende que o conceito deve ser estendido para abarcar qualquer fenômeno envolvendo constituintes argumentais e não argumentais que ocorram fora de sua posição canônica por alguma razão semântica e/ou pragmática (por exemplo, à direita ou à esquerda da matriz de orações encaixadas ou de qualquer outra relação adverbial).

Sob uma perspectiva cognitivista, Langacker (1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.) argumenta que, mais do que funções semânticas e sintáticas, em termos cognitivo-funcionais, é a saliência cognitiva de uma cena ou de um de seus participantes que explicaria construções com e sem Alçamento, e não a simples natureza “gramatical lógica” envolvendo um predicado e seus argumentos, como parece estar pressuposto na definição de Noonan (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]), apresentada em (5). Sobre a importância da saliência cognitiva na estruturação de uma sentença, transcrevemos em (10) palavras do próprio autor.

  • (10) Alçamento e saliência cognitiva (LANGACKER, 1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62., p. 24)5 5 . Cf. original: “Cognitive grammar claims that the notion of underlying structure in the generative sense is erroneous, and that the subject and object relations are first and foremost matters of prominence, not of any specific conceptual content (logical or otherwise). A subject is characterized as a clause-level trajector, i.e., the primary figure within the profiled relationship, and an object as a clause-level landmark (secondary figure). [….] Trajector and landmark status are better thought of as spotlights of focal prominence that can be directed at various entities within a scene. Certain elements […] have intrinsic cognitive salience and tend to attract the stronger spotlight. These tendencies can, however, be overridden, particularly by discourse considerations. [In case of Subject to Subject Raising, such as in Don is likely to leave] Indeed, that participant will usually resemble a prototypical subject more closely than does a process or a proposition.”

  • A Gramática Cognitiva assume como equivocada a noção de estrutura subjacente no sentido gerativo, e que as relações de Sujeito e de Objeto são primeiramente uma questão de proeminência, não de qualquer conteúdo conceptual específico (lógico ou não). Um Sujeito é caracterizado como um trajector [trajector] de nível oracional, i.e., a figura principal na relação emoldurada, e um Objeto, como um ponto de referência [landmark] de nível oracional (figura secundária). [...] O estatuto de trajector e de ponto de referência, pensado como projeção de proeminência focal, pode se direcionar a qualquer entidade de uma cena. Certos constituintes [...] com saliência cognitiva intrínseca tendem a atrair mais fortemente para si essa projeção. Essa tendência, entretanto, pode se anular, particularmente por razões discursivas. [No caso de Alçamento de Sujeito a Sujeito, como em Don is likely to leave] De fato, esse participante se assemelhará a um Sujeito prototípico mais do que um processo ou uma proposição.

Sob essa perspectiva de Langacker (1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.), construções com ou sem Alçamento dependem especificamente do modo como o falante escolhe estruturar sua conceptualização de uma cena para fins expressivos. Se nenhum participante é particularmente saliente, a localização abstrata da cena é a escolhida, e essa configuração corresponde à variante sem Alçamento. Se qualquer participante da cena descrita na oração completiva ocorre como Sujeito da oração principal é por causa de sua saliência, e a esta escolha corresponde a variante com Alçamento.

A saliência cognitiva de que trata Langacker (1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.) pode aqui ser considerada na base dos fatores semântico-pragmáticos Definitude, Topicalidade, Animacidade e Status informacional, os quais determinam a acessibilidade de referentes discursivos, possível de ser apreciada sob duas perspectivas diferentes: a de Givón (2001) e a da Gramática Textual-interativa (JUBRAN, 2006JUBRAN, C.C.A.S. 2006. Tópico discursivo. In: JUBRAN, C.C.A.S.; KOCH, I.G. (orgs.). Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp. p. 89-132.).

Givón (2001) postula que Topicalidade de referentes não é propriedade apreensível no nível sentencial, mas no nível do discurso. Isso significa que uma expressão referencial é Tópico não porque ocorre como Sujeito ou Objeto na sentença, mas porque é Tópico ao longo do discurso multiproposicional (ou seja, em um trecho do discurso), propriedade apreensível em termos de acessibilidade referencial (recuperação anafórica do referente) e de importância temática (persistência catafórica do referente). Contudo, segundo o autor, a posição de Sujeito (Tópico primário) ou de Objeto (Tópico secundário) assumida por um referente guarda relação com o uso pragmático da ordenação das palavras no discurso. Assim, uma das motivações para a ordenação de constituintes argumentais é o grau de Topicalidade de seus referentes. Para Givón (2001, p.272), o Alçamento está relacionado com a presença de predicado matriz de atividade mental, que seleciona uma proposição encaixada. No interior do argumento proposicional, uma expressão referencial (normalmente o Sujeito), dada sua importância tópica, é alçada de sua posição argumental original para a de argumento Tópico (Sujeito ou Objeto) da oração principal.

De modo semelhante a essa proposta de Givón (2001), Tópico discursivo, no âmbito da Gramática Textual-interativa (JUBRAN; KOCH, 2006JUBRAN, C.C.A.S.; KOCH, I.G. (orgs.). 2006. Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp. p. 89-132.), é definido pelas propriedades de centração e organicidade (JUBRAN, 2006). Centração consiste na construção de um grupo de enunciados formulados pelos interlocutores a respeito de um conjunto de referentes concernentes entre si e relevantes em determinado ponto do texto; dessa propriedade se extraem os traços de concernência, relevância e pontualização tópica. Organicidade diz respeito às relações sequenciais e hierárquicas que se estabelecem entre esses grupos de enunciados concernentes entre si. Interessa-nos dessa definição de Tópico discursivo o traço de relevância do referente, constitutivo da propriedade de centração.

A partir dos trabalhos de Givón (2001) e de Jubran (2006JUBRAN, C.C.A.S.; KOCH, I.G. (orgs.). 2006. Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp. p. 89-132.), encontram-se resumidas, em (11), propriedades da Topicalidade de referentes nominais consideradas neste trabalho.

  • (11) Propriedades de Topicalidade de referentes relevantes para o Alçamento

  • a. Givón (2001)

  • i. Topicalidade é apreensível ao longo do discurso multiproposicional; não no nível da sentença;

  • ii.Acessibilidade referencial (recuperação anafórica) do referente;

  • iii.Importância temática (persistência catafórica) do re­ferente;

  • iv. Presença de predicado matriz de atividade mental, que seleciona uma proposição encaixada: um referente, dada sua importância tópica, é alçado de sua posição argumental original para a de argumento (Sujeito ou Objeto) Tópico da oração principal.

  • b. Gramática Textual-interativa (JUBRAN, 2006JUBRAN, C.C.A.S.; KOCH, I.G. (orgs.). 2006. Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp. p. 89-132.)

  • • Propriedades de Tópico discursivo: centração e organicidade.

  • Centração: grupo de enunciados formados por conjunto de referentes concernentes entre si e relevantes em determinado ponto do texto.

  • Traços relevantes: concernência, relevância e pontualização tópica.

  • ii.Organicidade: relações sequenciais e hierárquicas entre esses grupos de enunciados concernentes entre si.

2. Situando o problema em uma perspectiva variacionista

Afirmações como a de Noonan (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]), de que construção com Alçamento “pode ser opcional (sem efeito aparente sobre o valor de verdade [da proposição])” (p. 182),6 6 . Cf. original: “[...] Raising may be optional (without apparent effect on the truth value)” a de Langacker (1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.), de que o Alçamento tem motivação apenas pragmática, mas não sintática, e ainda a de Garcia Velasco (2013), de que é requisito para o Alçamento o reconhecimento de uma contraparte sem Alçamento, nos instigam a hipotetizar que construções com e sem Alçamento podem ser concebidas como variantes de uma mesma variável sintática, nos termos labovianos (LABOV, 1978LABOV, W. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? A response to Beatriz Lavandera. In: Working papers in Sociolinguistics. Austin: Southwest Educacional Development Laboratory.; LAVANDERA, 1978LAVANDERA, B. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? Language in society, v. 7. p. 171-182., 1984; BENTIVOGLIO, 1987BENTIVOGLIO, P. 1987. A variação nos estudos sintáticos. Estudos Linguísticos, n. 15. p. 7-29.).7 7 . Por questão de espaço, remetemos o leitor ao interessante debate sociolinguístico entre Labov (1978) e Lavandeira (1978, 1984) sobre a consideração de fenômenos variáveis para além do nível fonológico.

O problema que persiste, entretanto, diz respeito às posições divergentes no interior de uma mesma abordagem, a funcionalista, no que se refere a conceitos e critérios para delimitação do fenômeno de Alçamento. Podemos, em princípio, abrigar as posições teóricas sobre o tema em duas categorias principais: uma com visão mais estrita do fenômeno (NOONAN (2007NOONAN, M. 2007[1985]. Complementation. In: SHOOPEN, T. (ed.) Language typology and syntactic description: complex constructions. Cambridge: Cambridge University Press. p. 43-140. [1985]), e outra mais ampla (SERDOL’BOSKAYA, 2009), que incluiria os casos descritos por Noonam e muitos outros que não necessariamente envolvem orações subordinadas e Alçamento de constituintes argumentais. Assumir uma ou outra posição acerca de uma definição de Alçamento nos levaria a duas situações extremas: (i) restringir muito o objeto de análise, tendo de considerar o fenômeno como motivado apenas por propriedades morfossintáticas; (ii) ampliar muito o objeto, tendo de incluir casos que não necessariamente se identificam com Alçamento. As consequências em torno dessas duas posições extremadas são as mostradas em (12).

  • (12) Consequências na adoção de uma visão restrita e de uma visão ampla de Alçamento

  • a. adotar, por um lado, a concepção mais estrita de Noonam (2007 [1985]) nos levaria a ter de excluir de nossas análises casos de Alçamento com oração encaixada finita (ou ao menos considerá-los como exemplos marginais) e/ou casos de constituinte alçado sem relação de concordância com o predicado matriz (como o mostrado em (1b));

  • b. por outro lado, a concepção mais ampla nos faria ter de considerar como Alçamento casos de constituintes não-argumentais que concorrem à posição de Sujeito (à esquerda do predicado matriz) (como o mostrado em (4d)) e, como variantes sem Alçamento, casos de predicados encaixados que não favorecem Alçamento (como o mostrado em (4a)).

Frente a essas posições extremadas, como forma de circunscrever melhor nosso objeto, guiamo-nos pelo entendimento de que o fenômeno que analisamos exige mesmo que sua identificação se paute por critérios morfossintáticos, o que de forma alguma significa ignorar que variáveis semântico-pragmáticas não possam atuar como seu leitmotiv. Assim, para a identificação do fenômeno durante a tarefa de recolha dos dados no córpus de análise, adotamos os critérios mostrados em (13).

  • (13) Critérios para identificação de construções com e sem Alçamento (posição intermediária) 8 8 . Esses critérios assumem parcialmente a noção mais geral de Hiperalçamento, reconhecida no quadro da Gramática Gerativa, em que tanto o predicado matriz quanto o predicado encaixado apresentam flexão (DUARTE, 2007; FERREIRA, 2000), e também consideram casos reconhecidos na literatura como copy raising (Alçamento com cópia), casos em que a oração encaixada retém traços de tempo, modo e concordância no predicado encaixado e/ou expressão de Sujeito ou de Objeto por meio de pronome cópia (DUBINSKY et al., 2006, p. 136; DEPREZ, 1992, p. 192).

  • a. presença de subordinação sentencial, onde esteja clara a relação de predicação entre um predicado matriz impessoal e uma oração encaixada, o que inclui somente casos de orações subjetivas;

  • b. existência de relação temática entre constituintes argumentais e predicado encaixado, quer esses constituintes ocorram no domínio da oração encaixada quer no domínio da oração matriz, permitindo, assim, identificar, respectivamente, construções com e sem Alçamento.

Sob esses dois critérios, ajustes morfossintáticos na variante com Alçamento, seja no âmbito da oração matriz (Caso e Concordância) seja no da encaixada (redução à forma infinitiva), passam a ser questão secundária para o tratamento variável do fenômeno. Com base na hipótese que estamos investigando, esses dois critérios, ao lado de outros de natureza discursivo-pragmática, são controlados como variáveis independentes, como se observa no quadro 1, a seguir. Essas variáveis procuram dar conta de uma posição que coloca o Alçamento como um fenômeno gradual, envolvendo casos tanto prototípicos quanto marginais.

Quadro 1 -
Variáveis de análise de construções com e sem alçamento

Como se observa, no quadro 1, os contextos variáveis incluem os critérios considerados essenciais na identificação de construções com Alçamento (Concordância e Formato da oração encaixada) e vários outros que privilegiam, além do nível morfossintático, também os níveis semântico e pragmático. Mesmo diante da premissa de que variáveis externas não são atuantes em fenômenos variáveis de nível sintático (LABOV, 1978LABOV, W. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? A response to Beatriz Lavandera. In: Working papers in Sociolinguistics. Austin: Southwest Educacional Development Laboratory.; LAVANDERA 1978LAVANDERA, B. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? Language in society, v. 7. p. 171-182., 1984), procedemos ao controle de variáveis sociais clássicas com o objetivo de não renunciarmos a elas antes mesmo de prová-las irrelevantes (BENTIVOGLIO, 1987BENTIVOGLIO, P. 1987. A variação nos estudos sintáticos. Estudos Linguísticos, n. 15. p. 7-29.).

Por fim, é importante dizer que, do conjunto de variáveis linguísticas independentes, nem todas foram consideradas conjuntamente na submissão dos dados ao pacote estatístico Goldvarb, dada a sobreposição de informações entre algumas delas. Em razão disso e das questões teórico-metodológicas que levantamos anteriormente, privilegiamos, neste artigo, os resultados apenas das variáveis que submetemos à rodada estatística dos dados, aquelas que aparecem em destaque no quadro 1, identificadas como (1), (3), (4) e (12) a (19).

3. Resultados

Levantamos no córpus de análise 145 ocorrências de construções com e sem Alçamento, restritas a casos de orações subjetivas encaixadas em construções matrizes de valor epistêmico e avaliativo, todas constituindo construções impessoais que podem favorecer o Alçamento do constituinte argumental do predicado encaixado. Na tabela 1, a seguir, apresentamos esse resultado mais geral.

Tabela 1 -
Resultado geral da frequência (%) de construções com e sem Alçamento

Predicados matrizes avaliativos e epistêmico foram os únicos tipos semânticos ocorrentes no córpus. Do total de construções levantadas, predicados matrizes epistêmicos ocorrem com frequência mais acentuada (61%) do que predicados avaliativos (39%), distribuição que se encontra refletida na frequência dos dois tipos de Alçamento. A variante com Alçamento ocorre em cerca de 1/3 das construções (47/145 = 32,5%), sendo mais frequente o ASS (38/145 = 26,2 %), propiciado mais por predicados epistêmicos, do que por avaliativos (9/145 = 6,2%).

A forte correlação entre predicados epistêmicos e ASS deve-se ao fato de esse tipo de predicado, o predicado parecer, não propiciar AOS, ao passo que predicados avaliativos dividem-se entre os dois tipos de Alçamento (AOS e ASS). Esse resultado geral é indicativo da relevância do significado do predicado matriz para o reconhecimento de diferentes tipos de Alçamento, conforme apontam também as análises de Serdol’boskaya (2009).

Na rodada multivariada dos dados, confirmando a atuação nula de variáveis sociais sobre fenômenos variáveis de nível sintático (LABOV, 1978LABOV, W. 1978. Where does the sociolinguistic variable stop? A response to Beatriz Lavandera. In: Working papers in Sociolinguistics. Austin: Southwest Educacional Development Laboratory.; LANVADERA, 1978; BENTIVOGLIO, 1987BENTIVOGLIO, P. 1987. A variação nos estudos sintáticos. Estudos Linguísticos, n. 15. p. 7-29.), o programa Goldvarb selecionou como relevantes apenas duas variáveis linguísticas, uma de natureza morfossintática, Tipo de conexão entre oração matriz e encaixada, e outra de natureza discursivo-pragmática, Status informacional do constituinte alçado/alvo do Alçamento,9 9 . Para avaliação do status informacional do constituinte alçado/alvo do Alçamento, seguimos a taxonomia de Prince (1981, 1992). conforme ordem de relevância mostrada no quadro 2, a seguir.

Quadro 2 -
Variáveis selecionadas na análise multivariada

Esse resultado já é um primeiro indicativo para a confirmação da hipótese de que o fenômeno variável do Alçamento de constituintes argumentais não pode ser explicado somente à luz de critérios morfossintáticos. Na tabela 2, a seguir, apresentamos os resultados, em frequência (%) e peso relativo (P.R.), para os fatores que compõem cada uma das variáveis selecionadas, apresentadas no quadro 2.

Tabela 2 -
Resultados de frequência (%) e peso relativo (P.R.) de variáveis relevantes para o Alçamento

Considerando os resultados expostos na tabela 2, observemos, por ora, apenas que o tipo de conexão é fator morfossintático que atua fortemente em construções com Alçamento, que requerem sempre algum tipo de conector explícito (para, com PR .66, de, com PR .83, e que, com PR .51), determinante do formato da oração encaixada (finita ou infinitiva), restrição que é menor para construções sem Alçamento, altamente favorecida pelo encaixamento da oração infinitiva à matriz por meio de conectivo zero (com PR .70).

Essa restrição tem relação direta com o tipo de Alçamento (ASS e AOS) instanciado, o qual, por sua vez, guarda relação estreita com tipo semântico específico de predicado matriz. Predicados matrizes avaliativos (fácil, difícil, complicado), que instanciam tanto ASS quanto AOS, encaixam categoricamente orações infinitivas por meio ou de conectivo zero (como mostrado em (1d), (2c)) ou de preposições (para, de) (como mostrado em (1c), (1d), (2a) (2b)), ao passo que predicados epistêmicos, que instanciam somente ASS, encaixam orações tanto infinitivas, por meio de conectivo zero (como mostrado em (1a)), quanto orações finitas, por meio do complementizador que (como mostrado em (1b)).

O resultado para a segunda variável selecionada mostra que status informacional constitui variável cujos fatores favorecem, ainda que sutilmente, o Alçamento de constituintes argumentais de predicado encaixado ou sua manutenção nos limites da predicação encaixada. Somente constituintes argumentais portadores de informação discursivamente dada ou inferível são candidatos potenciais ao Alçamento. Quando são portadores de informação dada, a probabilidade de serem alçados é pouco maior (PR de .53) do que quando são apenas inferíveis (PR de .40), contexto discursivo que tende a mantê-los no interior da oração encaixada (PR de .60). Como veremos mais adiante, o resultado para essa variável mantém correlação estreita com outras variáveis de natureza semântico-pragmática, como Referencialidade, Animacidade e Relevância tópica do constituinte alçado/alvo de Alçamento, o que explica a não seleção dessas variáveis na rodada multivariada dos dados

Apesar desse resultado probabilístico inicial, o número total de ocorrências requer certa cautela na interpretação dos resultados finais. Assim, exploraremos na sequência, e com mais detalhe, resultados da rodada unidimensional dos dados, com o objetivo de estabelecer um cotejo entre variáveis morfossintáticas e discursivo-pragmáticas, em razão do problema teórico apresentado anteriormente.

Investigando primeiramente propriedades morfossintáticas de variantes com Alçamento, iniciemos pela verificação do desencadeamento de concordância verbal (CV) nos limites da oração matriz, a partir dos resultados expostos na tabela 3.

Tabela 3 -
Resultados da aplicação da regra de Concordância verbal (CV) na oração matriz com Alçamento

Os dados na tabela 3 sugerem, à primeira vista, alto índice de [+ CV] com o constituinte alçado na oração matriz, que chega a ultrapassar 90% dos casos. Entretanto, casos de [+ CV não-marcada] referem-se todos a constituinte alçado cuja forma de terceira pessoa do singular (3PS) não exige qualquer ajuste morfossintático no domínio da oração matriz, que, por si, é uma construção impessoal. Incluem-se, dentre esses casos, SNs plenos singulares (como em (1a) e (2a)), pronomes de 3PS (como em (2b)), pronomes de segunda pessoa singular (2PS, (você)) e de primeira pessoal plural (1PP, (a gente)) e pronomes de primeira pessoa singular (1PS) com forma verbal indistinta de 3PS (eu parecia). Mesmo diante de casos em que o constituinte alçado apresenta traço forte o suficiente para desencadear [+ CV marcada] na oração matriz, essa propriedade do Alçamento nem sempre se verifica, uma vez que a CV no PB é regra variável. É o que se verifica entre os seis casos de [CV marcada], que se dividem igualmente entre [+ CV marcada] e [- CV marcada] (6,4%). Interessante destacar que, dentre os três casos de [+ CV marcada], dois se referem a pronome de 1PS (como em (14a,b)) e um a 3PP (como em (14c)). Casos de [- CV marcada] referem-se todos a SN plural (como em (15a,b)) ou pronome de 3PP (como em (15c)).

  • (14) Casos de [+ CV marcada] na oração matriz

  • a. e:: eu (u) assim muito difícil [pa aprendê(r) a fazê(r) as coisas]

  • [AC-036; L. 268]

  • b. tenho só vinte e sete anos mas tem hora que:: eu pareço [que tenho cinquenta]

  • [AC-026, L. 58]

  • c. por mais dificuldade que você tenha na sua vida ... se você tivé(r) Deus na sua vida... não que eles vão sê(r) fácil [de sê(r) superado] mas você vai conseguí(r) superá(r) com mais facilidade...

  • [AC-092; L 228]

  • (15) Casos de [- CV marcada] na oração matriz

  • a. as torres parece [que elas vão alcançá(r) o céu de tão grande]

  • [AC-084; L. 66]

  • b. de manhã... os professor pô éh: parece [que prePAra tudo] né? acho que eles dá/ acho que eles se dedica mais no:: período de maNHÃ... de TARde do que nos período da noite...

  • [AC-015, L. 825]

  • c. os pais::… eles parece [que tem... uma barre(i)ra com a gente que é incrível]

  • [AC-086; L. 524]

Os raros casos de [+ CV marcada], em (14), seriam os que, de fato, validariam o comportamento dos constituintes alçados como Sujeito gramatical. No entanto, os resultados gerais de frequência para a variável Relação de CV na oração matriz com Alçamento são mais consistentes com uma interpretação do constituinte alçado como caso de Tópico marcado e não de Sujeito gramatical, ainda que Tópico e Sujeito não sejam funções excludentes. Aliás, construções com Alçamento, de modo geral, poderiam revelar um dos modos como, no PB, Tópicos podem se gramaticalizar em Sujeitos, como sugerido por Givón (1976_______. 1976. Topic, pronoun and grammatical agreement. In: Li, C. (ed.) Subject and topic. New York: Academic Press. ) para outras línguas. Em outras palavras, uma interpretação funcionalista desses resultados propiciaria a seguinte proposição: (i) quanto mais marcada a relação de CV nos domínios da oração matriz ([+ CV marcada]), mais se destaca a função gramatical de Sujeito do constituinte alçado; (ii) quanto menos marcada a relação CV nos domínios da oração matriz ([- CV marcada] e [+ CV não-marcada]), mais se destaca a função pragmática de Tópico do constituinte alçado. Coerentes com tal proposição, os resultados expostos na tabela 3 confirmariam, então, que os casos de Alçamento analisados encontram sua motivação primeira em fator de natureza mais pragmática do que morfossintática. Desse modo, na variedade do PB em análise, o ajuste de CV nos domínios da oração matriz parece mesmo não ser critério forte o suficiente para o reconhecimento do Alçamento, até mesmo porque oração matriz de construções sem Alçamento apresenta como regra categórica forma verbal já em 3PS.

Explorando, agora, o formato da oração encaixada em contextos com e sem Alçamento, observemos os resultados da tabela 4.

Tabela 4 -
Resultados para a variável Formato da oração encaixada em construções com e sem Alçamento

Do total de construções, embora orações finitas sejam mais frequentes do que infinitivas (60,7% e 39,3% respectivamente), a frequência de 38,6% de infinitivas deve-se, sobretudo, ao fato de predicados matrizes avaliativos se combinarem categoricamente com predicados encaixados infinitivos, independentemente de ocorrer ou não Alçamento, o que significa dizer que não se registram casos de predicados avaliativos com oração finita. Dentre os 31 casos de Alçamento com predicados epistêmicos, somente um ocorre com oração infinitiva, como mostra a ocorrência em (1a), repetida, por conveniência, em (16).

  • (16) ASS com oração encaixada infinitiva

  • a. o cara num parece [tê(r) setenta anos de idade]

  • (= o cara ter setenta anos de idade)

  • [AI-005; L.178]

Relativamente aos casos de Alçamento, observa-se uma distribuição complementar entre predicados avaliativos e epistêmicos quanto ao formato da oração encaixada: enquanto predicados avaliativos só ocorrem com orações infinitivas (16/16), tanto no ASS (7/16) quanto no AOS (9/16), predicados epistêmicos associam-se fortemente com orações finitas no ASS (30/31). Esse resultado é mais um indício de que a semântica do predicado matriz restringe o formato da oração encaixada e, portanto, esta é também uma evidencia de que, no PB falado, a redução da oração encaixada não é propriedade que restringe o Alçamento, uma vez que: (i) predicados avaliativos só ocorrem com encaixadas infinitivas; (ii) predicados epistêmicos associam-se fortemente com encaixadas finitas.

Passemos agora à verificação da atuação das variáveis semântico-pragmáticas, cujos resultados seguem expostos na tabela 5. Os resultados dessas variáveis são apresentados conjuntamente, porque elas estão, de alguma forma, relacionadas entre si.

Tabela 5 -
Resultados para as variáveis Referencialidade, Animacidade, Relevância tópica e Status informacional do constituinte alçado/alvo de Alçamento

Como mostram os resultados da tabela 5, quando se consideram conjuntamente variantes com e sem Alçamento, são mais frequentes nos dados constituintes argumentais de referência [+específica, + definida] (52,9%), com traço [+ humano] (63,4%), de maior relevância tópica (87,8%) e portador de informação dada (74,8%). Tomemos, a título de ilustração, um trecho de discurso em (17), para mostrar essas propriedades aplicadas a um caso de ASS (indicação entre colchetes). Nesse trecho, durante o desenvolvimento do tópico discursivo “o fim de seu casamento” (indicação em sublinhado), a pessoa da própria informante (indicação em negrito e sublinhado), de referência [+ humana], [+específica, + definida], assume papel de maior relevância tópica no discursivo multiproposicional, por constituir informação dada, no contexto de interação instaurado pelo documentador. Relevantes ainda para o caso de Alçamento em análise são os momentos de digressão da informante (indicação com setas) em que ela avalia estados-de-coisas e proposições, momentos propícios para ocorrência de predicações avaliativas e epistêmicas.

  • (17) Tópico discursivo: “o fim do casamento da informante”

  • → Referente alçado: [+ específico; + definido], [+ humano], [+ relevância tópica], [informação dada]

  • Doc.: tem mais alguma… história que você passô(u) e você gostaria de contá(r)?

  • Inf.: história? ah essa é triste… o fim do meu casamento… ((risos))

  • esse foi triste

  • porque::… éh embora a gente/ eu casei já gostando apaixonada por ele… no intuito de… Ø querê(r) tê(r) o filho em si… éh:: só que eu fui do tipo assim ... depois que eu coloquei na cabeça que a gente tinha que casá::(r) ... minha mãe colocô(u) todo mundo… então eu achei que o casamento ia sê(r) pra sempre devido a experiência de vida que ele tinha…

  • → é minha cabecinha vazia ...

  • (eu só de imaginá(r)) as coisa que ele tinha… no decorrer da vida dele né? que era BEM mais velho do que eu… foi ao/ tudo ao contrário… embora eu envelheci junto com ele… Ø tenho só vinte e sete anos

  • → mas tem hora que:: [eu pareço [que tenho cinquenta]]

  • por causa que eu tive que amadurecê(r) junto com ele ...

  • → TEM hora que isso é bom… mas tem ma/ na maioria das vezes é ruim

  • porque tem hora que tem que:: levá(r) as coisas assim na brincade::(i)ra…

  • → aí já vem a parte da ignorância d’uma pessoa mais velha… né?

  • então:: éh:: sem contá(r) tam(b)ém uma carga de:: de problemas emocionais né? aca/ acarretado no decorrer da história porque por eu tê(r) sido/ tido uma:: uma:: vamo(s) colocá(r) assim… ter sido FRUStrada… entendeu?… uma coisa que eu espeRAva que era… o príncipe encantado… ele só num se tornô(u)... mas HOje

  • ele pode sê(r) o príncipe

  • porque é o pai da minha filha... mas fora isso

  • é:: o verdade(i)ro sapo…

  • então ((risos))

  • → Essa é uma história triste pra mim

  • que é uma coisa que eu vô(u) carregá(r) o resto da vida…

  • [AC-026, L. 58]

Independentemente de favorecer ou não o Alçamento, os resultados da tabela 5 sugerem haver uma relação com a própria atuação discursivo-pragmática dos predicados matrizes que compõem construções com e sem Alçamento. Em outras palavras, predicados avaliativos e epistêmicos atuam nos julgamentos e avaliações de proposições e de estados-de-coisas em que tomam parte referentes de maior saliência cognitiva no discurso multiproposicional (LANGACKER, 1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.), como, por exemplo, participantes do discurso (falante e ouvinte) ou participantes relevantes no desenvolvimento do tópico discursivo, como mostra o trecho em (17).

Considerando, agora, os resultados somente para variantes com Alçamento, AOS e ASS comportam-se de modo diferente em relação aos traços semânticos Referencialidade e Animacidade dos constituintes alçados. Enquanto no AOS predominam constituintes de referência indefinida não especificada (23,5% para [- definida, - específica]), no ASS predominam os de referência definida, sejam eles de referencialidade específica ou não (30,8% para [+ específica, + definida] e 36,6% para [-específica, + definida]). Sobre Animacidade, referentes com o traço tanto [+ humano] quanto [- animado] participam mais fortemente de construções de ASS do que de AOS, ao passo que referentes com o traço [-humano, + animado] são indiferentes ao tipo de Alçamento. Como sujeitos de referência [+ humana] tendem também a ter referência [+ específica, + definida] no discurso, esse resultado se explica pela hierarquia semântica de acessibilidade à posição de Sujeito, segundo a qual referentes [+ humano], se ocorrem numa sentença, tendem a ocupar a posição de Sujeito, ao passo que a função de Objeto é mais propícia para referentes [- humano] (SILVERSTEIN, 1976SILVERSTEIN, M. 1976. Hierarchy of features and ergativity. In: DIXON, R. M. W (ed.). Grammatical Categories in Australian Languages. Canberra: Australian Institute of Aboriginal Studies. p. 112-171.; SNIDER; ZAENEN, 2006SNIDER, N.; ZAENEN, A. 2006. Animacy and syntactic structure: fronted NPs in English. In: KAPLAN, R.M.; DALRYMPLE, M.; HOLLOWAY, T. (eds.) Intelligent Linguistic architectures: variations on themes. Stanford: CLSI Publications. p. 323-338.). Assim, esse resultado espelha, de algum modo, a sa­liência cognitiva de que trata Langacker (1995LANGACKER, R. 1995. Raising and transparency. Language, v. 71, n. 1. p. 1-62.), na explicação de variantes com Alçamento (cf. (10) acima), e também Givón (2001), segundo o qual referentes codificados na posição de Sujeito e de Objeto, Tópico primário e Tópico secundário, respectivamente, têm relação direta com a ordenação que esses constituintes assumem no discurso.

Por fim, os resultados para as variáveis discursivas Relevância tópica e Status informacional confirmam a importância da saliência cognitiva dos constituintes que motivam construções com Alçamento. Como se observa, referente discursivamente [+ relevante] no desenvolvimento de um tópico discursivo e que constitui informação dada ou inferível favorece tanto o ASS quanto o AOS. Das 47 construções com Alçamento, o constituinte alçado não apresenta relevância no desenvolvimento do tópico discursivo em apenas quatro ocorrências de ASS. Referentes portadores de informação nova restringem o Alçamento de constituintes e só ocorrem com a variante sem Alçamento (cf. nota explicativa abaixo da tabela 2).

Conclusão

Tentamos mostrar, neste trabalho, a viabilidade de um tratamento satisfatório do Alçamento de constituintes argumentais sob uma perspectiva sociofuncionalista, procurando conjugar postulados funcionalistas e variacionistas. Para tanto, critérios clássicos de ajuste morfossintático que definem o reconhecimento do fenômeno precisaram ser alargados em certa medida, para dar conta de variantes com e sem Alçamento na variedade de fala investigada. Atestamos assim, a viabilidade dessa opção, tendo em vista os seguintes resultados sumarizados em (18).

  • (18) Resultados relevantes para o tratamento variável de construções com e sem Alçamento

  • a. no córpus investigado, variantes sem Alçamento de construções com AOS nunca apresentam oração encaixada finita, e, portanto, a variante com Alçamento não requer esse ajuste morfossintático, já que esse tipo de Alçamento (AOS) é específico de casos de predicados matrizes avaliativos de estado-de-coisas;

  • b. variantes com Alçamento de predicados matrizes epistêmicos raramente ocorrem com oração encaixada na forma infinitiva, e ASS com esse tipo de predicado não requer redução da oração encaixada;

  • c. ajuste de concordância do argumento alçado com a matriz pode ser propriedade suficiente, mas não necessária para ASS e AOS, uma vez que a concordância verbal, no PB, é fenômeno variável e também pelo fato de constituintes argumentais sob a forma de 3PS, maioria dos casos analisados, não exigirem qualquer ajuste de concordância nos limites da oração matriz, que, por sua natureza, é uma construção impessoal;

  • d. quando comparados resultados da atuação de variáveis morfossintáticas aos da de variáveis semântico-pragmáticas na explicação do fenômeno em análise, de fato, construções com Alçamento encontram sua principal motivação mais em propriedades semântico-pragmáticas do que em propriedades morfossintáticas.

Se julgados muito amplos os critérios aqui adotados para a identificação do fenômeno variável, os resultados permitem ao menos duas soluções para contornar esse “problema”: (i) ou os casos investigados são incompatíveis com fenômeno de Alçamento, tratando-se todos de simples casos de Topicalização, o que implica dizer que, na variedade investigada, não ocorre Alçamento, ou ele é pouco relevante em termos de produtividade e frequência; ou ainda, (ii) a definição clássica de Alçamento, de base funcional-tipológica, de fato, não tem apelo tipológico e precisaria mesmo ser revista e ampliada, de modo a contemplar os casos aqui considerados.

De qualquer modo, esses resultados nos instigam a continuar na mesma direção de investigação aqui apresentada, procurando avançar nos pontos indicados em (19).

  • (19) Perspectivas para uma investigação sociofuncionalista

  • a. consideração de outros corpora para inclusão de novos tipos semânticos de predicados matrizes propícios ao Alçamento a Sujeito;

  • b. investigação do fenômeno na modalidade escrita, sob a hipótese de que os ajustes morfossintáticos clássicos previstos para o Alçamento sejam mais frequentes nessa modalidade;

  • c. incursão sobre a reanálise sintática envolvendo construções com Alçamento, à luz da gramaticalização de orações (LEHMANN, 1988LEHMANN, C. 1988. Towards a typology of clause linkage. In: HAIMAN, J.; THOMPSON, S. (eds.). Clause combining in grammar and discourse. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins. p. 275-330.; HOPPER; TRAUGOTT, 2003HOOPER, E.C.; TRAUGOTT, E.C. 2003. Grammaticalization. 2.ed. Cambridge: Cambridge University Press.) e da prototipia de padrões construcionais transitivos SVO (TAYLOR, 2003TAYLOR, J.R. 2003. Linguistic categorization. 3.ed. Oxford: Oxford University Press.), sob hipótese de que, por processo analógico, os tipos de orações subjetivas aqui considerados passariam a assumir estatuto de orações completivas nominais ou de orações objetivas, com base nos contextos abaixo exemplificados, hipótese, aliás, já sugerida por Görski (2008GÖRSKI, E. 2008. Reflexos da topicalização sobre o estatuto gramatical da oração. In: VOTRE, S.; RONCARATI, C. (orgs.) Anthony Julius Naro e a linguística no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras. p. 169-184.) e Kato; Mioto (2000KATO, M.A.; MIOTO, C. 2000. A inexistência de sujeitos oracionais. Laços, Rio de Janeiro. p. 61-90.):

  • (i) oração subjetiva > oração completiva nominal (GÖRSKI, 2008GÖRSKI, E. 2008. Reflexos da topicalização sobre o estatuto gramatical da oração. In: VOTRE, S.; RONCARATI, C. (orgs.) Anthony Julius Naro e a linguística no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras. p. 169-184.; MITTMANN, 2006MITTMANN, M.M. 2006. Construções de alçamento a sujeito: variação e gramaticalização. 108f. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.)

  • complicado]MATRIZ [pa/de dobrar toalha] SUBJETIVA

  • toalha é [[complicado]MATRIZ [pa/de dobrar] COMPLETIVA NOMINAL ]

  • [[nome/adjetivo]MATRIZ [preposição SV] COMPLETIVA NOMINAL ]

  • (ii) oração subjetiva > oração objetiva (KATO; MIOTO, 2000KATO, M.A.; MIOTO, C. 2000. A inexistência de sujeitos oracionais. Laços, Rio de Janeiro. p. 61-90.)

  • [parece]MATRIZ [que a coisa ruim tava sempre assim

  • assobiando]SUBJETIVA

  • [a coisa ruim parece]MATRIZ [que estava sempre assobiando]OBJETIVA

  • [S V ]MATRIZ [Oração]OBJETIVA

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  • TAYLOR, J.R. 2003. Linguistic categorization. 3.ed. Oxford: Oxford University Press.
  • 1
    . Nas ocorrências exemplificativas, destacamos o predicado de Alçamento em negrito, o constituinte alçado ou alvo do Alçamento, em sublinhado, e a oração encaixada, entre colchetes. Sempre que pertinente, indicamos paráfrases da contraparte com ou sem Alçamento entre parênteses. Ao final das ocorrências, identificamos entre colchetes, respectivamente: o tipo de amostra (AC, Amostra Censo, ou AI, Amostra de Interação), o número do inquérito e a linha de onde o dado foi extraído.
  • 2
    . Cf. original: “there is another method whereby arguments may be removed from their predications resulting in a non-s-like complement type. This method involves the placement of an argument notionally part of the complement proposition (typically the subject) in a slot having a grammatical relation (eg subject or direct object) to the CTP [complement-taking predicates]. This movement of an argument from a lower to a higher sentence is called raising.”
  • 3
    . Como apontam Garcia-Velasco (2013) e Serdol’boskaya (2009), nem todos os tipos de Alçamento são produtivos, de igual maneira, numa mesma língua, como é o caso de AOO, inexistente em Inglês, por exemplo. Segundo os autores, os tipos mais produtivos inter e intralinguisticamente são ASS e AOS.
  • 4
    . Cf. original: “[it should be concluded that] languages in which raising exhibits all of the properties (i-iv) are much rarer than those in which it does not.”
  • 5
    . Cf. original: “Cognitive grammar claims that the notion of underlying structure in the generative sense is erroneous, and that the subject and object relations are first and foremost matters of prominence, not of any specific conceptual content (logical or otherwise). A subject is characterized as a clause-level trajector, i.e., the primary figure within the profiled relationship, and an object as a clause-level landmark (secondary figure). [….] Trajector and landmark status are better thought of as spotlights of focal prominence that can be directed at various entities within a scene. Certain elements […] have intrinsic cognitive salience and tend to attract the stronger spotlight. These tendencies can, however, be overridden, particularly by discourse considerations. [In case of Subject to Subject Raising, such as in Don is likely to leave] Indeed, that participant will usually resemble a prototypical subject more closely than does a process or a proposition.”
  • 6
    . Cf. original: “[...] Raising may be optional (without apparent effect on the truth value)”
  • 7
    . Por questão de espaço, remetemos o leitor ao interessante debate sociolinguístico entre Labov (1978) e Lavandeira (1978, 1984) sobre a consideração de fenômenos variáveis para além do nível fonológico.
  • 8
    . Esses critérios assumem parcialmente a noção mais geral de Hiperalçamento, reconhecida no quadro da Gramática Gerativa, em que tanto o predicado matriz quanto o predicado encaixado apresentam flexão (DUARTE, 2007; FERREIRA, 2000), e também consideram casos reconhecidos na literatura como copy raising (Alçamento com cópia), casos em que a oração encaixada retém traços de tempo, modo e concordância no predicado encaixado e/ou expressão de Sujeito ou de Objeto por meio de pronome cópia (DUBINSKY et al., 2006DUBINSKY, S. W.; DAVIES, W. D.; KEITH, B. 2006. Control and Raising. In: Encyclopedia of Language & Linguistics. Oxford: Elsevier. p. 131-139., p. 136; DEPREZ, 1992DEPREZ, V. 1992. Raising constructions in Haitian Creole. Natural Language & Linguistic Theory, n. 10. p. 191-231., p. 192).
  • 9
    . Para avaliação do status informacional do constituinte alçado/alvo do Alçamento, seguimos a taxonomia de Prince (1981PRINCE, H. 1981. Toward a taxonomy of given-new information. In: COLE, P. (ed.) Radical pragmatics. New York: Academic Press. p. 233-255., 1992_______. 1992. The ZPG letter: subjects, definiteness, and information-status. In: MANN, W.; THOMPSON, S. (eds.) Discourse description: diverse linguistic analyses of a fund-raising text. Amsterdam/Philadelphia. p. 295-325. ).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    22 Jan 2016
  • Aceito
    14 Dez 2016
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