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Análise de padrões de colocações de itens lexicais como identificadores do perfil estilístico tradutório de heart of darkness1 1 . Este estudo é um recorte da tese “O perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o Espanhol: uma investigação de mudanças de tradução (shifts in Translation) baseada em padrões de itens lexicais de um corpus paralelo” (CASTRO, 2016), desenvolvida no âmbito do Laboratório Experimental de Tradução (LETRA) da FALE/UFMG.

Analysis of collocational patterns of lexical items as identifiers of the translational stylistic profile of heart of darkness

RESUMO

O objetivo deste artigo é descobrir se os quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol capturaram os marcadores de temática de incerteza apontados por Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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). A pesquisa se afilia aos Estudos da Tradução Baseados em Corpus (BAKER, 2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.; OLOHAN, 2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge.) e parte dos achados de Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) sobre preferências estilísticas do texto-fonte. A visão de estilo adotada é a de Saldanha (2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50.) e fez-se uso da metodologia de corpus para a investigação dos itens selecionados. Os resultados mostraram diferenças significativas nas escolhas individuais por padrões de colocações dos itens analisados, possibilitando a criação de um perfil estilístico individual das traduções e dos tradutores estudados.

Palavras-chave:
Estilo do tradutor; padrões de colocações; itens lexicais; perfil estilístico

ABSTRACT

This study aims to discover whether the four translators of Heart of Darkness into Spanish have captured the theme markers of vagueness and uncertainty pointed out by Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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). The research is based on Corpus-Based Translation Studies (BAKER, 2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.; OLOHAN, 2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge.) and it is motivated by Stubbs’ studies (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) on stylistic preferences of the source-text. This investigation is based on the concept of style proposed by Saldanha (2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50.) and corpus methodology was used to look at the chosen lexical items. The results showed significant differences in the individual choices of collocational patterns of the analyzed lexical items, which enabled the creation of an individual stylistic profile of the studied translations and their translators.

Keywords:
Translator Style; collocational patterns; lexical items; stylistic profile

Introdução

O objetivo deste artigo é descobrir se os quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol capturaram os marcadores de temática de incerteza apontados por Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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). Caso tais marcadores se façam presentes as diferenças entre suas formas de expressar discursivamente a incerteza serão apontadas, para que se possam explicitar quais são os traços dos estilos pessoais dos tradutores. Para tanto, serão identificados os padrões de colocações de itens lexicais com os nódulos alg* e parec* mais recorrentes nos textos traduzidos (TTs) de Heart of Darkness (HOD) para o espanhol, identificando as diferenças entre o uso desses padrões nos TTs entre si e em relação aos padrões de ocorrências das principais colocações com some*/any* e seem* no texto-fonte (TF). Os itens lexicais formados a partir destes nódulos são responsáveis pela construção do tema de incerteza no TF e nos TTs. Esta pesquisa pretende mostrar como a análise de padrões de colocações dos itens lexicais estudados podem indicar traços característicos do estilo das traduções e de seus tradutores.

A pesquisa afilia-se aos estudos do estilo da tradução baseados em corpus (BAKER, 2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.; OLOHAN, 2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge.), principalmente aqueles que investigam o estilo de tradução literária por meio de diferenças nas escolhas linguísticas entre tradutores e em comparação com o TF (Toury, 1995TOURY, G. 1995. Descriptive Translation Studies and Beyond. Amsterdam: John Benjamins .; Chesterman, 1997, 2007CHESTERMAN, A. 2007. Similarity Analysis and the Translation Profile. Amsterdam: John Benjamins: 53 - 66.; Leuven-Zwart, 1989LEUVEN-ZWART, K. M. 1989. Translation and Original Similarities and Dissimilarities I. Target. Amsterdam: John Benjamins : 151- 181., 1990LEUVEN-ZWART, K. M. 1990. Translation and Original Similarities and Dissimilarities II. Target. Amsterdam: John Benjamins : 69- 95.; Pekkanen, 2010PEKKANEN, H. 2010. The Duet between the Author and the Translator: An Analysis of Style through Shifts in Literary Translation. Tese (Doutorado). Finlândia: Universidade de Helsinki.), tendo como base, também, estudos que identificaram o estilo de TTs de HOD como Magalhães e Assis (2010MAGALHÃES, C; ASSIS, R. C. 2010. Representação de atores sociais em corpus paralelo: Heart of Darkness e suas traduções para o português. In: COHEN, Maria Antonieta; LARA, Gláucia Muniz Proença. (Org.). Linguística, tradução, discurso. Belo Horizonte: Editora UFMG: 201-220.), Magalhães, Castro e Montenegro (2013MAGALHÃES, C. M.; CASTRO, M.C.; MONTENEGRO, M.S. 2013. Estilística tradutória: um estudo de corpus paralelo de uma tradução brasileira e uma tradução portuguesa de Heart of darkness. TradTerm, v. 21:11-29.), Blauth (2015BLAUTH, T. 2015. A paisagem indizível de duas traduções brasileiras de Heart of Darkness: uma análise de estilo com base em corpus. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG: 138f.), Montenegro (2015MONTENEGRO, M.S. 2015. O perfil de quatro tradutores portugueses de Heart of Darkness: um estudo do estilo do tradutor com base em corpus. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG: 178 f.) e Castro (2016CASTRO, M. C. 2016. O perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol: uma investigação de mudanças de tradução (shifts in translation) baseada em padrões de itens lexicais de um corpus paralelo. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG: 178f.).

O estilo é entendido aqui como atributo textual e pessoal (Saldanha, 2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50.) e para a investigação dos padrões lexicais formados com alg* e parec* foram levados em conta Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005), Sinclair (1991SINCLAIR, J. 1991. Corpus, concordance, collocation. New York: Oxford University Press ., 2004SINCLAIR, J. 2004. Trust the text: Language, corpus and discourse. London: Routledge.) e Biber et al. (2004BIBER, D. et al. 2004. If you look at….: Lexical Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics. New York: Oxford University Press: 371-405.). É importante enfatizar que Stubbs (2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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, p.4) aponta a necessidade de um estudo sistemático de itens léxico-gramaticais e afirma que “Críticos literários tendem a identificar palavras de conteúdo [...] Porém, eles tendem a ignorar muitas palavras gramaticais que denotam imprecisão e incerteza”3 3 . No original “Literary critics tend to identify a few content words [...] However, they tend to ignore the many grammatical words denoting vagueness and uncertainty.” Todas as notas que trazem a indicação da língua original são de citações traduzidas pela autora deste artigo. .

Nesta pesquisa parte-se da premissa de Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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), a de que muitos críticos literários não dão a devida importância à pesquisa de palavras gramaticais como, por exemplo, o verbo seem. Esses itens podem ser pistas que revelarão algum traço ainda não percebido na obra. Até onde se sabe, não há trabalhos que investiguem itens léxico-gramaticais dessa natureza em corpus de TTs de HOD na perspectiva do estilo do tradutor e da tradução. Assim, este estudo pretende investigar os itens léxico-gramaticais que denotam incerteza nas traduções para o espanhol procurando observar se houve alterações nos TTs que possam indicar características estilísticas das traduções e dos tradutores.

As perguntas de pesquisa norteadoras deste trabalho foram:

  1. Quais TTs apresentam maior variedade nas escolhas lexicais formadas a partir de alg* e parec*?

  2. Quais são as diferenças nas escolhas individuais dos padrões de ocorrências das principais colocações e/ou agrupamentos lexicais com os nódulos alg* e parec* nos TTs em relação aos padrões de ocorrências das principais colocações com some*/any* e seem* no TF?

  3. É possível identificar traços de um perfil estilístico individual dos tradutores de HOD para o espanhol com base nas escolhas léxico-gramaticais individuais, no nível microestrutural?

Parte-se da hipótese de que a análise dos padrões de colocações dos itens lexicais possibilitará identificar traços do perfil estilístico tradutório com base nas preferências linguísticas rastreadas nas traduções estudadas, uma vez que os padrões encontrados nos resultados foram considerados proeminentes. Assim, a próxima seção apresenta os principais pressupostos teórico-metodológicos utilizados neste estudo, bem como a motivação para a escolha dos itens lexicais analisados.

Estilo do tradutor e da tradução

Com a disseminação dos Estudos da Tradução Baseados em Corpus (ETBC) no final da década de 90, observou-se no campo de estudos da tradução uma tentativa de desenvolver uma metodologia para investigação do estilo do tradutor. Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) apresenta um estudo exploratório inédito para investigar se o tradutor literário possui traços próprios e distintivos de estilo.

Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) enfatiza que existem vários estudos que buscaram desenvolver noções de estilo se baseando tanto em estudos linguísticos quanto em estudos literários para explicar as escolhas feitas na tradução e, também, com o objetivo prescritivo de criar instruções para a seleção de estratégias de tradução específicas, com base em diversas categorias estilísticas formalizadas baseadas em tipos textuais ou registros.

No entanto, Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266., p. 244) afirma que apesar de estudos interessados no estilo da tradução, tanto da perspectiva literária quanto linguística, não há muito interesse no estilo do tradutor, ou grupo de tradutores, nem tampouco a existência de um corpus de material traduzido que pertença a um período histórico específico. Por essas razões e, também, pelo fato de acreditar que não é possível a produção de qualquer extrato da língua sem que o produtor deixe alguma marca pessoal, Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) propõe estudar o estilo do tradutor com o intuito de identificar sua presença no texto.

Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266., p.245) afirma que a voz do tradutor se faz presente, explicando que esse é o trabalho que mais se aproxima de seu objetivo de investigar a marca deixada pelo tradutor no texto. Incorporando a noção de voz de Hermans (1996) Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266., p. 245) define estilo como impressão digital expressa em uma gama de caraterísticas linguísticas e não linguísticas.

Dessa maneira, Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) sugere que para investigar a marca deixada pelo tradutor do texto, seu estilo, é necessário investigar a maneira de expressão típica do tradutor, o uso específico que ele faz da língua, seu perfil individual de hábitos linguísticos comparado com outros tradutores. Enfocando a estilística forense, a autora afirma que esse estudo deve buscar padrões recorrentes dos tradutores. Acima de tudo, Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) objetiva investigar os padrões de escolhas, conscientes ou não.

Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) faz um estudo usando como base o corpus TEC e o analisa semi-automaticamente usando o programa WordSmith Tools©. Em seu estudo, a autora apresenta um corpus formado por traduções de dois tradutores literários britânicos, Peter Bush e Peter Clark. A pesquisadora afirma que é preciso explorar a possiblidade de que o tradutor literário pode apresentar uma consistência em relação à preferência por determinados itens lexicais, padrões sintáticos, padrões coesivos e na pontuação. Assim, Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) investiga alguns aspectos da padronização linguística nas traduções dos referidos tradutores, como a razão forma/item (type/token ratio), tamanho médio das sentenças, variações nos textos e a frequência e padronização em relação ao uso do verbo say.

Dentre seus principais achados, a autora observa que Bush apresenta uma razão forma/item maior que a de Clark, o que representa maior variação lexical nas traduções de Bush. Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266., p.257) observa que Peter Clark se aproxima mais do inglês “padronizado” usado no inglês traduzido.

Em relação ao número de sentenças, os dados mostraram que Peter Clark apresenta um número menor de sentenças e com menos variação lexical. Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266., p. 251) interpreta esses achados quantitativos gerais como uma tentativa de Peter Clark de mediar os textos árabes, para que eles fiquem mais simples e legíveis para o leitor inglês. Os resultados sobre a utilização do verbo say apontam uma tendência em Peter Clark em usar modificadores com esse verbo, o uso do discurso direto e uso do passado simples na narração, sendo ele o tradutor que mais utiliza este verbo na narrativa. Baker constatou que Peter Clark utilizou o tempo passado simples do verbo say mesmo onde no texto-fonte foi utilizado o presente, o que, segundo a autora, tem implicações estilísticas, uma vez que altera o nível de formalidade e informalidade da narrativa.

No entanto, Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266., p. 255) faz uma ressalva na discussão dos resultados e afirma que os padrões encontrados precisam ser comparados diretamente com o texto-fonte para analisar melhor a influência da língua-fonte e do autor sobre o estilo do tradutor. A autora reconhece as limitações de seu estudo por não apresentar essa comparação entre texto traduzido e fonte, deixando claro que seu objetivo primordial é propor e desenvolver uma nova metodologia de análise para a investigação do estilo do tradutor.

Além do trabalho de Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.), há também o de Olohan (2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge.) sobre o estilo e a ideologia dos tradutores, apresentando dois estudos de casos que exploram a metodologia de corpus para a investigação de padrões do comportamento linguístico e intervenções de tradutores específicos. Olohan (2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge., p. 147) compara o conceito de estilo proposto por Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) ao conceito proposto por Leech e Short (1981, p. 11-12) “uma combinação individual de hábitos linguísticos que, de alguma maneira, o denuncia [o autor] em tudo o que escreve”4 4 . No original “an individual combination of linguistic habits which somehow betrays [the author] in all that he writes”. , afirmando que as duas noções de estilo possuem muito em comum e que, afinal, a análise quantitativa de corpus e análise qualitativa podem dizer muito sobre o estilo dos tradutores.

Olohan (2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge.) defende que a ideologia que está implicitamente codificada pode ser descoberta por meio do estudo de padrões de associação, padrões lexicais e gramaticais, dos quais os usuários da língua podem não estar conscientes. Além disso, de acordo com a noção de ideologia de Fowler (1977), citada por Olohan (2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge.), o fato de se priorizar algumas escolhas lexicais e gramaticais em detrimento de outras existentes pode constituir-se em indícios de ideologia. Olohan (2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge., p.148) chama a atenção para o fato de que alguns estudos priorizam as escolhas gramaticais e que em estudos dessa natureza a comparação do corpus de estudo com um corpus geral pode ser importante na identificação de escolhas linguísticas ideologicamente significantes.

No primeiro estudo de caso, Olohan (2004OLOHAN, M. 2004. Introducing Corpora in Translation Studies. Londres e Nova York: Routledge., p. 153) investiga as formas contratas em duas traduções literárias dos tradutores Peter Bush e Dorothy Blair. Os resultados mostraram que Peter Bush usa mais formas contratas do que Blair e, ao comparar os resultados com corpus de consulta de textos traduzidos e de não traduzidos, ela constatou que os números de formas contratas utilizadas por Blair confirmam os resultados obtidos com o corpus de textos traduzidos, ao passo que Bush parece usar formas contratas em conformidade com os resultados obtidos com o corpus composto com textos do BNC. Ao comparar seus achados com os dados dos textos-fontes e dos autores, bem como com informações do gênero textual, a autora conclui que a variação entre Blair e Bush pode estar condicionada ao gênero literário e à estrutura narrativa dos textos traduzidos.

Relevante para este estudo é o trabalho de Saldanha (2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50., 2011bSALDANHA, G. 2011b. Emphatic Italics in English Translations: Stylistic Failure or Motivated Stylistic Resources? Meta: Translators’ Journal. vol. 56, n. 2: 424-442. Disponível em Disponível em http://id.erudit.org/iderudit/1006185ar . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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, 2011cSALDANHA, G. 2011c. Style of Translation: The Use of Foreign Words in Translations by Margaret Jull Costa and Peter Bush. In: KRUGER, A., WALLMACH, K., MUNDAY, J. (eds.). Corpus-Based Translation Studies Research and Applications. Continuum: 237 - 258.) que alerta que muitos trabalhos em estilística tradutória se baseiam em diferentes entendimentos de estilo associados a diferentes abordagens metodológicas, reconhecendo assim que há uma dificuldade em identificar um modelo teórico coerente para guiar as novas pesquisas na área. Para ela, a primeira distinção que se precisa fazer é entre estilo como atributo textual e estilo como atributo pessoal.

A autora afirma que as discussões de estilo na tradução são geralmente apresentadas a partir de uma perspectiva do texto-fonte. Saldanha (2011bSALDANHA, G. 2011b. Emphatic Italics in English Translations: Stylistic Failure or Motivated Stylistic Resources? Meta: Translators’ Journal. vol. 56, n. 2: 424-442. Disponível em Disponível em http://id.erudit.org/iderudit/1006185ar . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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, p. 237) aponta três trabalhos que abriram o caminho para o estudo do estilo sob a perspectiva do texto traduzido: Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.), Malmkjaer (2003) e Munday (2008). Malmkjaer (2003) introduz o conceito de estilística tradutória enfocando o estilo da tradução, e não do tradutor; Baker (2000BAKER, M. 2000. Towards a methodology for investigating the style of a literary translator. Target, Amsterdam, v. 12, no. 2, p. 241-266.) desenvolve uma proposta metodológica para o estudo do estilo do tradutor e Munday (2008) do estilo da tradução e do estilo do tradutor, dando ênfase às conexões entre as escolhas estilísticas no nível microcontextual, de realizações linguísticas, e no nível macrocontextual, de ideologia e produção cultural.

Para Saldanha (2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50., p.26) o conceito de estilo é muito vago e, com o objetivo de definir o estilo do tradutor, a autora afirma que a definição geral de estilo, como “um estilo X é a soma de traços linguísticos associados a textos ou amostras de textos definidos por um conjunto de parâmetros contextuais, Y” (citando LEECH 2008, p. 55) pode ser aplicada ao estilo de um texto traduzido, mas não ao estilo do tradutor. Para a pesquisadora, o estilo do tradutor não é a soma de traços linguísticos associados a textos traduzidos por um determinado tradutor. A autora utiliza o conceito de escrita autoral de Short (1996), que a define como uma forma de escrita que distingue um autor dentre outros, e o adapta para se referir ao estilo do tradutor, pois a característica principal de um estilo pessoal é a “proeminência” que é representada pelos padrões de escolhas consistentes e distintivos e um passo importante para a estilística tradutória é a identificação destes padrões.

Desse modo, Saldanha (2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50., p. 30) apresenta sua concepção de estilo do tradutor como:

Uma ‘forma de traduzir’ que: é reconhecida em uma série de traduções feitas pelo mesmo tradutor, distingue o trabalho do tradutor do trabalho de outros, constitui um padrão de escolha coerente, é ‘motivada’, no sentido de que tem funções ou uma função visível, e não pode ser explicada puramente com referência ao estilo do autor ou do texto-fonte, ou como resultado de restrições linguísticas5 5 . No original “A ‘way of translating’ which is felt to be recognizable across a range of translations by the same translator, distinguishes the translator’s work from that of others, constitutes a coherent pattern of choice, is ‘motivated’, in the sense that it has a discernible function or functions, and cannot be explained purely with reference to the author or source-text style, or as the result of linguistic constraints.” (SALDANHA, 2011SALDANHA, G. 2011. Translator Style: methodological considerations. Manchester: St. Jerome Publishing, The Translator. Volume 17, Número 1: 25-50., p.30).

A busca por padrões de colocações de itens lexicais

Este estudo tem como principal motivação e fundamentação os resultados apontados em Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) sobre o estilo de HOD. Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) investiga como são desenvolvidos os temas principais na obra por meio do rastreamento de itens léxico-gramaticais. O autor destaca o uso frequente de formas flexionadas de seem* e de palavras gramaticais como something, somebody, sometimes, somewhere, somehow e some para o desenvolvimento do tema de incerteza.

Para o autor, a recorrência de padrões de palavras e itens lexicais está relacionada com a proeminência motivada (Halliday, 1971). Baseado nos pressupostos de Sinclair (1991SINCLAIR, J. 1991. Corpus, concordance, collocation. New York: Oxford University Press ., 2004SINCLAIR, J. 2004. Trust the text: Language, corpus and discourse. London: Routledge.), Stubbs estuda os padrões linguísticos de fraseologia em HOD e a sua relação com os padrões da língua. Ele investiga as palavras mais recorrentes e analisa a fraseologia com duas palavras sequenciais, destacando os padrões léxico-gramaticais. O autor identifica como padrão mais frequente seemed to e compara os dados encontrados com um corpus de consulta, o BNC, descobrindo que o padrão seemed to é mais frequente em HOD que no corpus de textos ficcionais e escritos, caracterizando-se como padrão proeminente.

Stubbs (2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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, p.14) sugere que a recorrência dos padrões fraseológicos encontrados contribui para a sensação de que o texto é muito repetitivo e que transmite a ideia dos temas principais do texto, tanto geográficos como psicológicos, concluindo que os dados quantitativos do corpus produzem novos olhares sobre o texto. O autor se baseia no conceito de item lexical de Sinclair (1991SINCLAIR, J. 1991. Corpus, concordance, collocation. New York: Oxford University Press ., 2004SINCLAIR, J. 2004. Trust the text: Language, corpus and discourse. London: Routledge.), como unidade mínima de sentido, em que uma palavra deve ser interpretada levando-se em consideração as relações que desenvolve com outras.

Sinclair (2004SINCLAIR, J. 2004. Trust the text: Language, corpus and discourse. London: Routledge.) defende o item lexical como unidade de sentido mínima e propõe que a análise seja feita em torno a esse item para verificar se há um padrão emergente. Para isso, ele conceitua os elementos que compõem seu modelo de análise e os divide em elementos obrigatórios e opcionais, sendo o núcleo (core), o coração do item lexical, um elemento obrigatório, e a colocação (collocation), frequente coocorrência de palavras que não têm um profundo efeito nos significados individuais das palavras, mas que apresenta um efeito sutil no significado total, um elemento opcional.

Este estudo também considerou alguns pressupostos de Biber et al. (2004BIBER, D. et al. 2004. If you look at….: Lexical Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics. New York: Oxford University Press: 371-405.), que apresenta os pacotes lexicais (lexical bundles), sequências de palavras mais frequentes em um registro, como um um construto linguístico único. Biber et al. (2004BIBER, D. et al. 2004. If you look at….: Lexical Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics. New York: Oxford University Press: 371-405., p.371) explica que “os pacotes lexicais geralmente não são estruturas gramaticais completas ou idiomáticas, mas funcionam como blocos básicos construtores do discurso”6 6 . No original “Lexical bundles are usually not complete gramatical structures nor are they idiomatic, but they function as basic building blocks of discourse.” . Os autores identificam padrões de uso de agrupamentos lexicais por meio da construção de sua estrutura gramatical, os quais são classificados de acordo com sua função discursiva seguindo uma taxonomia funcional indutiva, isto é, os padrões são agrupados de acordo com a similaridade de suas funções discursivas, formando três agrupamentos principais, a saber: 1) expressões de opinião, 2) organizadores do discurso e 3) expressões referenciais. Neste trabalho, utilizou-se estes rótulos propostos por Biber et al. (2004BIBER, D. et al. 2004. If you look at….: Lexical Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics. New York: Oxford University Press: 371-405.) para descrever as funções discursivas das colocações encontradas neste estudo.

Considerando o propósito desta pesquisa, procurou-se identificar, então, traços do estilo individual de quatro tradutores e das traduções de HOD para o espanhol por meio da investigação da recorrência de padrões de colocações de itens lexicais formados a partir dos nódulos alg* e parec*, cujos equivalentes são apontados no TF (some*/any* e seem*) como proeminentes em Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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). Neste estudo, priorizou-se a análise do elemento obrigatório de Sinclair (2004SINCLAIR, J. 2004. Trust the text: Language, corpus and discourse. London: Routledge.), o núcleo, e o elemento opcional, a colocação.

Corpus e Metodologia

O corpus de estudo é paralelo e composto pelo TF, Heart of Darkness, de Conrad (1902), e de quatro traduções do romance para o espanhol. Ele faz parte do Corpus de Estilo da Tradução - ESTRA (Magalhães, 2014MAGALHÃES, C. M. 2014. ESTRA: Um corpus para o estudo do estilo da tradução. Florianópolis: Cadernos de Tradução, nº 34: 248 - 271.). Heart of Darkness é considerada uma obra importante da literatura inglesa. Antes de sua publicação, em 1902, foi publicada como uma série de três episódios (1899) na Blackwood Magazine. É uma obra amplamente traduzida em várias línguas com, inclusive, muitas traduções em uma mesma língua, algumas vezes publicadas por editoras diferentes em um mesmo ano.

A história é, em sua quase totalidade, narrada em primeira pessoa pelo personagem Marlow, um inglês que obteve trabalho em uma companhia comercial como capitão de um barco a vapor para subir um rio africano (embora Conrad não identifique o rio). Sua tarefa é transportar marfim e encontrar Kurtz, um famoso comerciante de marfim. Marlow conta sua aventura a um grupo de amigos a bordo de um navio ancorado no Tâmisa. O romance possui dois narradores; o primeiro é um dos tripulantes do navio que introduz o personagem Marlow. Depois que Marlow é apresentado por esse narrador sem nome, ele conduz a maior parte da narrativa relatando sua viagem e como conheceu o Sr. Kurtz.

Stubbs (2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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, p.2) divide a obra em 7 etapas narrativas e temas principais, que foram aqui traduzidos:

  • 1. O livro começa com um narrador, não nomeado, em um barco no Tâmisa;

  • 2. Marlow se torna o narrador e fala sobre o Tâmisa no período romano;

  • 3. Marlow relata sua visita a uma cidade europeia;

  • 4. Marlow conta a história que ocorre na maior parte do livro: ele viaja em um rio na África, em busca de um comerciante de marfim chamado Kurtz. Ele o encontra, mas Kurtz morre na viagem de volta, rio abaixo;

  • 5. Marlow relata sua visita à noiva de Kurtz, quando já de volta à cidade europeia;

  • 6 e 7. O livro termina com um parágrafo, do narrador inicial não nomeado, de volta no Tâmisa. A viagem de barco de Marlow se transforma em obsessão com Kurtz, um comerciante que se tornou um ladrão de marfim, roubando dos habitantes da região. Aparentemente, Kurtz ficou louco e era tratado como um “Deus” pela população nativa, ele tinha uma amante africana e parecia estar implicado em canibalismo.

De acordo com Stubbs (2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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, p.2) “os lugares na obra nunca são nomeados”7 7 . No Original “Major places in the book are never named.” . Stubbs (2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) também afirma que existe uma forte tendência para repetidos contrastes, especialmente de palavras formadas pelos lemas light* e dark*, que remetem a um dos temas desenvolvidos na obra de Conrad. Além disso, em sua abordagem dos temas principais do romance, Stubbs (2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) aponta a alta frequência de palavras com sentido vago e de incerteza. Esse tema, conforme já mencionado, é investigado na presente pesquisa, do ponto de vista dos estudos de estilo da tradução baseados em corpus e, em parte, guiados pelo corpus.

O corpus de estudo é composto pelo original, Heart of Darkness, de Conrad e de quatro traduções do romance para o espanhol, totalizando 193.442 palavras. Todos os quatro TTs abordados neste estudo apresentam a mesma tradução do título: “El corazón de las tinieblas”. Os nomes dos quatro tradutores dos textos em espanhol, bem como as informações sobre as editoras, ano e local de publicação, estão dispostos no Quadro 1, organizados por ordem cronológica:

Quadro 1
Corpus de Estudo

Das quatro traduções, duas são traduções da Espanha, que foram publicadas no mesmo ano de 2007, sendo as outras duas da Argentina também publicadas no mesmo ano, em 2010. A Figura 1, a seguir, apresenta as capas destas publicações:

Figura 1
Capa das traduções por ordem cronológica de publicação

O estudo foi quantitativo e qualitativo, sendo parcialmente baseado e parcialmente guiado pelo corpus, considerando que não é possível uma divisão estanque entre estas duas formas de análise. Desse modo, procedeu-se à investigação dos padrões com os nódulos de busca alg* e some*/any*, parec* e seem* e à identificação de mudanças observadas comparando-se as ocorrências desses padrões nos TTs e TF. Foram utilizadas as ferramentas do programa WordSmith Tools© 6.0, especificamente a lista de palavras (word list), incluindo a aba lista de consistência detalhada (detailed consistency list) (cf. CASTRO, 2018CASTRO, M. C. 2018. O uso da lista de Consistência Detalhada (Detailed Consistency List) do Wordsmith Tools© 6.0 para a investigação do perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol. Texto Livre Linguagem e Tecnologia, Belo Horizonte, v.11, n. 1, p.1-23.) e o concordanciador (concord), incluindo as abas patterns e collocates.

Foram considerados apenas os quatro primeiros padrões mais frequentes de agrupamentos de palavras em torno dos nódulos (alg*, parec*, some*/any* e seem*), os que se formaram a partir da primeira posição à direita (R1) e à esquerda (L1) do nódulo. Foram observadas, primariamente, formações de colocações com duas palavras, tomadas a partir da posição de R1 e da posição de L1, dependendo das colocações mais frequentes mostradas pela ferramenta. Porém, também foram considerados padrões de agrupamentos/colocações que se sobrepuseram formando agrupamentos maiores, de três palavras (L1 + nódulo + R1), sendo este o limite máximo de extensão do nódulo considerado nesta análise.

Os padrões de colocações encontrados na análise foram comparados com dados de um corpus de consulta, para identificar padrões usuais ou não usuais. Para a análise das traduções utilizou-se o Corpus del Español8 8 . Disponível em http://www.corpusdelespanol.org/x.asp. Acesso em 17/04/2016. e para o TF utilizou-se o BYU-BNC9 9 . Disponível em http://corpus.byu.edu/bnc/. Acesso em 17/04/2016. (British National Corpus), ambos com 100 milhões de palavras. Utilizaram-se o corpus geral e o corpus específico de ficção para a comparação das colocações. O tamanho do corpus de ficção do Corpus del Español é de 4.769.873 palavras e do corpus de ficção do BYU-BNC é de 15.909.312 palavras.

Para uma melhor apreciação dos resultados do corpus em análise em comparação com os corpora de consulta, foi feito o cálculo da frequência normalizada para cada mil palavras (Stubbs, 2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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), ou seja, os números de frequência absoluta são divididos pelo número total de palavras do texto e multiplicados por 1.000. Assim, tem-se uma comparação mais equilibrada, pois os números de frequência absoluta não podem ser devidamente comparados se os textos analisados forem proporcionalmente muito diferentes. Depois, foi feito o cálculo percentual entre os padrões para a melhor visualização da utilização dos padrões em cada tradução.

A partir desses dados, foi possível fazer uma comparação do estilo dos TTs entre si e em relação ao TF. Exemplos de uso dos principais padrões de colocações com os nódulos estudados foram retirados das linhas de concordância para analisar o cotexto, ampliando o horizonte da análise ao redor do nódulo, para a verificação da estrutura léxico-gramatical mais recorrente utilizada em cada padrão, bem como a função discursiva realizada por esses padrões. As funções discursivas foram descritas e identificadas com base em Biber et al. (1999, 2004BIBER, D. et al. 2004. If you look at….: Lexical Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics. New York: Oxford University Press: 371-405.). A seção seguinte mostra e discute os resultados.

Padrões de colocações de itens lexicais com alg*

A Tabela 1 mostra os padrões de colocações de itens lexicais com alg* em HOD_Folch.

Tabela 1
Frequência absoluta e normalizada de colocações com alg* em HOD_Folch

O padrão algo que é o mais recorrente em HOD_Folch, com 42,46% de ocorrências. Este padrão é também o mais recorrente no corpus de ficção, com 51,72%. No entanto, o segundo padrão mais recorrente no TT, alguna clase, com 21,92% das ocorrências, não possui expressividade nos corpora de consulta, tendo em vista os valores de frequência normalizada e percentuais (0,00). Os padrões de colocações alguna vez e algo así ocorrem com a mesma frequência em HOD_Folch (0,13) e o mesmo percentual de ocorrências, 17,81%. No corpus geral alguna vez ocorre o dobro de vezes do padrão algo así. No de ficção, alguna vez possui 0,10 de frequência normalizada e algo así 0,04.

O padrão algo que é o padrão mais usual no corpus de ficção, com frequência normalizada 0,15, portanto, a única que se aproxima das frequências normalizadas apresentadas pelos padrões de colocações em HOD_Folch. Embora a frequência normalizada de algo que em HOD_Folch seja 0,31, um número maior do que no corpus de ficção, pode-se dizer que este é um padrão também recorrente no corpus de consulta.

O padrão alguna vez, com 0,10 de frequência normalizada no corpus de ficção é o segundo padrão mais usual neste corpus. Com isso, conclui-se que os padrões algo que e alguna vez são usuais no corpus de ficção, mas não são comuns no corpus geral. O padrão alguna clase é o segundo mais recorrente em HOD_Folch e não possui números expressivos de ocorrências nos corpora de consulta, sendo um padrão de preferência deste tradutor. Algo así, o quarto padrão mais frequente em HOD_Folch, não possui expressividade no corpus de consulta geral, tampouco no de ficção, com 0,01 e 0,04 de frequência normalizada respectivamente. Então, pode-se inferir que este também pode ser apontado como padrão de colocação de preferência deste tradutor.

Os resultados mostraram que Folch possui preferência por padrões cuja estrutura se forma a partir do nódulo + R1. Em relação à estrutura gramatical destes padrões observou-se o uso de pronome quantificador indefinido + pronome relativo; pronome quantificador indefinido + substantivo (para os segundo e terceiro padrões) e pronome quantificador indefinido + advérbio (cf. Nueva Gramática de La Lengua Española, Real Academia Española, 2010REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. 2010. Nueva Gramática de La Lengua Española - Manual. Associación de Academias de La lengua Española. Espanha: Espasa Libros, S.L.U.).

Seguindo a classificação de Biber et al (1999, 2004BIBER, D. et al. 2004. If you look at….: Lexical Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics. New York: Oxford University Press: 371-405.), em relação às funções discursivas dos agrupamentos lexicais, esses quatro padrões possuem função discursiva referencial, isto é, são agrupamentos lexicais referenciais indicadores de imprecisão. No Quadro 2 observam-se alguns exemplos do uso dessas colocações, extraídos da tradução de Folch em comparação com o TF.

Quadro 2
Exemplos de padrões de colocações com alg* de HOD_Folch

No exemplo 1 o pronome relativo que foi obrigatoriamente adicionado pelo tradutor e no exemplo 2 a colocação algo que não é equivalente óbvio de outra no TF. Nos exemplos 3 e 4, para traduzir expressões como something like it e anything like it, Folch utiliza a colocação algo así, mantendo o clima de incerteza do TF. É importante ressaltar que o tradutor tinha a opção de tradução por algo como, usada pelos outros tradutores. A Tabela 2 mostra os padrões com alg* mais recorrentes em HOD_Herrero.

Tabela 2
Frequência absoluta e normalizada de colocações com alg* em HOD_Herrero

Na Tabela 2, os dois primeiros padrões de colocações escolhidos por Herrero não são os mesmos de Folch, o que corrobora a hipótese de que haverá mudanças nos TTs em relação às preferências de colocações com itens lexicais escolhidos para a construção do tema de incerteza. HOD_Folch apresentou os quatro primeiros padrões de colocações mais frequentes formados pelo posicionamento de itens em R1. Em HOD_Herrero observa-se que os dois primeiros padrões de colocações mais frequentes foram formados a partir do posicionamento de itens em L1, à esquerda do nódulo, e os dois últimos foram formados a partir do posicionamento de itens em R1, sendo algo que o único padrão em comum com Folch.

O padrão de algún é o mais recorrente em HOD_Herrero, com 37,17 % de ocorrências. Comparando a frequência dos padrões mais frequentes em HOD_Herrero, de algún (0,42), de alguna (0,29), algo de (0,21) e algo que (0,21), com a frequência destes padrões nos corpora de consulta verificou-se que os três primeiros padrões de Herrero não são recorrentes nos corpora de consulta, o que indica que são padrões de preferência desta tradutora. Porém, o padrão algo que, também observado em Folch, é recorrente no corpus de ficção apresentando 0,15 de frequência normalizada, o maior valor entre os valores dos corpora de consulta.

Quanto à estrutura gramatical destes padrões, tem-se o uso de preposição + pronome quantificador indefinido para os dois primeiros padrões; pronome quantificador indefinido + preposição para o terceiro e pronome quantificador indefinido + pronome relativo para o último. Observa-se um padrão de preferência pelo uso da preposição de tanto no posicionamento à esquerda como à direita do nódulo.

Ampliando um pouco o horizonte de análise, considerando os posicionamentos L1 + nódulo + R1, viu-se que das 16 ocorrências da colocação de algún, 4 são ocorrências da expressão lexical de algún modo, para traduzir somehow ou some way do TF, o que faz com que a estrutura gramatical preposição + pronome quantificador indefinido seja parte de uma locução adverbial nestas frases. As outras 12 ocorrências de de algún são seguidas por um substantivo, mantendo a função de pronome indefinido da forma algún. Ampliou-se também o horizonte para as linhas com a colocação de alguna e viu-se que ocorreram 4 frases em que se formou a locução adverbial de alguna manera para traduzir somehow do TF. As colocações com itens lexicais com alg* em HOD_Herrero também funcionaram como pacotes referenciais de imprecisão e, principalmente os três primeiros padrões, marcaram preferências lexicais dessa tradutora. O Quadro 3 ilustra essas preferências com exemplos destas colocações.

Quadro 3
Exemplos de padrões de colocações com alg* de HOD_Herrero

No exemplo 1 a tradutora opta por uma colocação com uma palavra formada com alg* para traduzir in a sense do TF, reforçando assim o recurso de reiteração desses itens lexicais no TT. No exemplo 2 observa-se que a preposição de, aparentemente de uma colocação com algún, na realidade faz parte do pacote lexical a través de, equivalente óbvio do advérbio through do TF. Nos exemplos 3 e 4 a colocação algo de é provavelmente uma escolha individual dessa tradutora, uma vez que no exemplo 3 ela poderia ter seguido a estrutura do TF usando um adjetivo imediatamente após o pronome indefinido, e no exemplo 4 ela fez um acréscimo da colocação fazendo referência ao que foi dito antes. Na realidade o uso da preposição de na formação de colocações com alg* parece ser uma marca de Herrero, pois está presente em três dos quatro principais padrões. A Tabela 3 mostra os padrões de colocações em HOD_Gieschen.

Tabela 3
Frequência absoluta e normalizada de colocações com alg* em HOD_Gieschen

HOD_Gieschen apresenta os três primeiros padrões de colocações iguais a três padrões apresentados em HOD_Herrero, sendo algo que comum também em Folch. Apenas en algún é diferente em relação à Herrero, e também não aparece em Folch. Os dois primeiros padrões em HOD_Gieschen são também os dois primeiros em HOD_Herrero, com pouca diferença na frequência. A maioria dos padrões encontrados em HOD_Gieschen não tem recorrência significativa nos corpora de consulta, visto que a diferença nos valores de frequência destes padrões é nítida na Tabela 3, com ressalva para o padrão algo que que, como visto nas análises dos tradutores anteriores, é um padrão comum no corpus de ficção.

Gieschen apresenta preferência pelo posicionamento de L1 + nódulo em três padrões e, apenas no terceiro, pelo posicionamento nódulo + R1. Para os três padrões apresenta estrutura gramatical de preposição + pronome quantificador indefinido; para o terceiro padrão opta por pronome quantificador indefinido + pronome relativo. O uso da preposição de também é uma marca observada na formação de colocações com alg* em HOD_Gieschen.

Os padrões mais frequentes em HOD_Gieschen funcionam como agrupamentos lexicais referenciais de imprecisão, exceto pelo último, que até este ponto da análise só aparece neste TT. Este agrupamento é um adjunto referencial de lugar, embora o uso do pronome indefinido em si constrói a ideia de imprecisão do TF. O Quadro 4 traz exemplos de Gieschen.

Quadro 4
Exemplos de padrões de colocações com alg* de HOD_Gieschen

Nos exemplos 1 e 2 observou-se a inclusão da preposição de no TT em relação ao TF e, também, uma mudança na escolha de verbos, de was para tratar-se no exemplo 1, o que provocou uma mudança de estrutura na frase. No exemplo 3 a tradutora opta pela colocação algo que para um extrato do TF que não continha nenhum item lexical com some*/any*. No exemplo 4, no TF o pronome some tinha a função de determinante do substantivo Inferno e no TT algún faz referência a tenebroso círculo, mostrando uma mudança em relação à posição do uso do pronome indefinido em relação ao TF. A Tabela 4 a seguir traz os padrões de HOD_Ingberg.

Tabela 4
Frequência absoluta e normalizada de colocações com alg* em HOD_Ingberg

Em HOD_Ingberg o padrão mais frequente foi alguna vez (0,30), que também é frequente em HOD_Folch. Dois padrões frequentes em Ingberg, de algún e de alguna, também foram apontados em HOD_Herrero e HOD_Gieschen. O padrão algo que aparece como frequente em todas as traduções.

Apenas o primeiro padrão, alguna vez, aparece com mais expressividade no corpus de ficção, com 0,10 de frequência normalizada, mas, se compararmos sua referência com aquela em HOD_Ingberg (0,30), vê-se que este padrão ocorre três vezes mais no texto de Ingberg, indicando assim sua preferência. Os padrões que mais ocorrem em HOD_Ingberg são mais recorrentes neste texto do que nos corpora de consulta.

Os segundo e terceiro padrões em HOD_Ingberg apresentam estrutura gramatical preposição + pronome quantificador indefinido, com o uso preferencial da preposição de. O primeiro padrão é constituído por pronome quantificador indefinido + substantivo e o último pronome quantificador indefinido + pronome relativo. Esses padrões funcionam como colocações referenciais de imprecisão. O Quadro 5 mostra exemplos dessas colocações.

Quadro 5
Exemplos de padrões de colocações com alg* em HOD_Ingberg

No exemplo 1 incluiu-se a colocação algo que em uma oração em que não ocorriam palavras formadas com some* ou any* no TF. O mesmo acontece no exemplo 2, em ambos os casos algo que está fazendo referência ao que foi dito antes na oração, marcando assim sua função referencial. No exemplo 3 o tradutor optou pela preposição de para a tradução de in do TF, e no exemplo 4 houve a inclusão da preposição de fazendo com que o complemento verbal (objeto direto) se transforme em complemento nominal preposicionado, uma vez que no TF trata-se de um verbo (cause) que no TT transformou-se em substantivo, causa.

Comparando os resultados dos padrões de colocações das quatro traduções analisadas observou-se que HOD_Herrero e HOD_Gieschen apresentaram algumas escolhas de padrões e números de frequência normalizada mais próximos entre si. HOD_Folch e HOD_Ingberg apresentaram dois padrões que são comuns no corpus de ficção, alguna vez e algo que. No entanto, de uma forma geral, todos os padrões de colocações dos quatro TTs foram mais recorrentes nas traduções que nos corpora de consulta.

Em HOD_Folch verificaram-se dois padrões distintos, alguna clase e algo así. Herrero apresenta o padrão algo de, que não aparece em nenhum outro TT, e Gieschen possui um padrão individual, en algún. Enquanto Folch segue sendo o tradutor que mais apresenta variedade nos padrões de colocações de itens lexicais com alg*, Ingberg não apresenta nenhuma escolha individual diferente dos demais tradutores.

Todavia, é necessária a comparação destes padrões com os padrões de colocações de itens lexicais com some*/any* do TF, para que se considerar os primeiros como preferências individuais dos tradutores. Apresentam-se as Tabelas 5 e 6 com os padrões de colocações de itens lexicais com some* e any*, respectivamente, em HOD_Conrad.

Tabela 5
Frequência absoluta e normalizada de colocações com some* em HOD_Conrad

Na Tabela 5 todos os padrões apresentaram número de frequência normalizada maior no TF do que nos corpora de consulta. Esses dados confirmam a hipótese de Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
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) de que Conrad escolheu palavras/itens lexicais e utilizou o recurso de reiteração para enfatizar o clima de mistério e dúvida na obra. Os primeiros padrões de colocações de itens lexicais com some* seguem o posicionamento L1 + nódulo, com estrutura gramatical preposição + pronome indefinido.

O padrão de colocação que mais ocorre no TF é of some (0,44), os outros mais recorrentes são to some, at some e in some. O padrão in some apresentou frequência normalizada 0,12 no corpus de consulta geral, sendo o único padrão a se destacar no corpus de uso geral, mesmo assim não ultrapassa o valor normalizado do TF.

Ao compararmos os achados do TF com os dos TTs veremos que o primeiro padrão of some tem como equivalentes óbvios os padrões de algún e de alguna, ambos presentes nos TTs de Herrero, Gieschen e Ingberg, afastando a hipótese de que são usos preferenciais e individuais destes tradutores. Os padrões at some e in some do TF foram observados em Gieschen por meio do padrão en algún. No entanto, esta foi a única tradutora a utilizá-lo.

É necessário visualizar os padrões de colocações de itens lexicais com any* para se ter certeza de quais padrões são equivalentes óbvios de padrões do TF e quais são usos individuais do tradutor. A Tabela 6 apresenta a frequência de colocações de itens lexicais com any* em HOD_Conrad.

Tabela 6
Frequência absoluta e normalizada de colocações com any* em HOD_Conrad

Comparando-se as colocações de itens lexicais com some* com as colocações de itens lexicais com any*, verifica-se que Conrad utilizou mais colocações de itens com some*. O primeiro padrão com any* mais utilizado por Conrad é of any, (0,13), que se somado à frequência normalizada de of some tem-se 0,57, isto é, um número correspondente aproximado se somarmos as frequências normalizadas do padrão de algún e de alguna nos TTs que apresentam esse padrão. O padrão de colocação of any também possui uma frequência normalizada aproximada com a de Conrad no corpus geral, 0,10, o que permite inferir que de todos os padrões escolhidos por Conrad este é o único comum no corpus geral. Conrad apresentou preferência por padrões com a formação a partir do posicionamento de L1 + nódulo, e apenas um padrão, any kind, com formação de nódulo + R1.

É interessante observar que estes são pacotes referenciais de imprecisão, bem como os padrões de colocações de itens lexicais com some*, mostrados na Tabela 5. O último padrão visto em Conrad é Had any, com baixa frequência (0,08), se comparado aos outros padrões de itens lexicais com some* e any* examinados. Pode-se dizer que o autor preferiu usar padrões de colocações de itens lexicais com some* ao invés de padrões com any* para reforçar o tema de incerteza. No caso deste último padrão, a estrutura gramatical é diferente de todas aquelas observadas nos demais padrões, ou seja, ela é composta de verbo + pronome indefinido.

Comparando-se os padrões de colocações de HOD_Conrad com os padrões dos TTs analisados, observou-se que HOD_Folch foi a tradução que apresentou padrões mais diferenciados em relação ao TF e aos TTs entre si. Além disso, Folch foi também o tradutor que se diferenciou na escolha por padrões com formação a partir do posicionamento nódulo + R1, diferente dos padrões do TF e da maioria dos padrões dos outros TTs.

Verificou-se o uso de algo que em todos os TTs, cujo equivalente óbvio não aparece como padrão mais recorrente no TF. Este resultado permite inferir que pode se tratar de uma escolha obrigatória no espanhol, uma vez que no inglês o uso do that é opcional. As traduções de Herrero, Gieschen e Ingberg apresentaram escolhas por padrões de colocações que são equivalentes óbvios de padrões em HOD_Conrad, como de algún e de alguna, traduções para of some e of any, os padrões mais frequentes em HOD_Conrad.

De uma forma geral, as traduções de Herrero, Gieschen e Ingberg parecem apresentar equivalentes óbvios no espanhol para as escolhas de Conrad. Por sua vez, HOD_Folch opta por escolhas diferentes daquelas de Conrad e dos demais TTs. Tem-se um padrão em comum entre Folch e Ingberg, alguna vez, sendo o padrão mais recorrente em HOD_Ingberg (0,30) e o terceiro mais recorrente em HOD_Folch (0,13). Na próxima seção apresentam-se os resultados relativos à frequência das colocações com parec* nos TTs e com seem* no TF.

Padrões de colocações de itens lexicais com parec*

A Tabela 7 mostra os padrões de colocações de itens com parec* mais recorrentes em HOD_Folch.

Tabela 7
Frequência absoluta e normalizada de colocações com parec* em HOD_Folch

Na Tabela 7 os padrões de colocações que parecía, al parecer e me pareció em HOD_Folch possuem frequência superior aos corpora de consulta. Pode-se inferir que esses padrões não são usuais nos corpora de consulta. No entanto, também é possível notar que eles são mais comuns no corpus de ficção do que no corpus total.

O padrão me parece apresenta frequência normalizada bem elevada no corpus ficcional, maior do que aquela do TT de Folch. Me parece é o terceiro padrão mais recorrente em HOD_Folch, porém o mais recorrente no corpus de ficção, com a frequência normalizada de 0,43, sendo 0,19 em HOD_Folch. Com isso, conclui-se que este é o único padrão de colocação com parec* com frequência maior no corpus de consulta em relação ao texto analisado.

Os padrões de mais frequência em HOD_Folch são que parecía (0,29) e al parecer (0,26). No corpus de ficção observa-se que o padrão que mais ocorre é que parecía (0,07). Todavia, a frequência deste padrão não se aproxima de me parece, o que é relevante já que na tradução que parecía é o padrão mais recorrente, o que ressalta a escolha na tradução, visto que é uma colocação menos usual nos corpora de consulta. O segundo padrão mais recorrente em HOD_Folch é al parecer, sendo o padrão que menos ocorre no corpus de ficção. Pesquisou-se novamente o corpus de consulta para checar em quais dos corpora existentes o padrão al parecer aparecia mais e verificou-se que se trata de um padrão usual em textos jornalísticos.

Os quatro primeiros padrões de colocações de Folch seguem o posicionamento de L1 + nódulo. A estrutura gramatical observada nos padrões de colocações de itens com parec* é pronome relativo + verbo, pronome pessoal + verbo (em dois padrões) e advérbio.

Segundo Biber et al (1999: 439) seem é um verbo cópula que tanto exerce a função referencial de caracterizar ou identificar o sujeito, quando acompanhado de frase nominal, como a função referencial de descrever um atributo do sujeito, quando seguido por uma frase preposicionada. Segundo os autores, quando combinado com complementos adjetivais seem marca opiniões pessoais com graus de surpresa e imprecisão.

Para apontarmos as funções discursivas dos quatro primeiros padrões de colocações de itens lexicais com parec* em HOD_Folch é necessário analisarmos o contexto do nódulo, ou seja, o complemento do verbo, seu predicativo do sujeito, pois ora poderá se tratar de uma colocação com função referencial de caracterização, identificação ou descrição, ora poderá se tratar de uma opinião epistêmica pessoal. Em ambos os casos, pode indicar graus de surpresa ou imprecisão. O Quadro 6 apresenta exemplos de colocações em HOD_Folch.

Quadro 6
Exemplos de padrões de colocações com parec* em HOD_Folch

No exemplo 1 a colocação que parecía é acompanhada por uma frase nominal, un páramo dejado de la mano de Dios, o que confirma a função referencial de caracterização do sujeito, em que constrói a imprecisão com a escolha de parecía, no TF reforçada pela combinação de looked like com wilderness. No exemplo 2 vê-se a inclusão da colocação al parecer para a tradução de uma frase do TF onde não havia elementos de mistério e incerteza. O tradutor optou por uma frase adverbial modalizadora, cujo núcleo é um item lexical com o nódulo parec*. Vale ressaltar que a escolha por esse padrão é mais frequente em textos jornalísticos no corpus geral de consulta.

No exemplo 3 o tradutor escolhe me parece, que denota imprecisão, como equivalente de it is, uma afirmativa categórica simples com a função de caracterização. No exemplo 4 observa-se que a expressão me parece desempenha a função de opinião epistêmica pessoal, característica também observada nos outros três tradutores para a tradução de verbos de atitude pessoal como think e believe, por exemplo.

Pode-se inferir que Folch pode ter também uma preferência por padrões de colocações de textos jornalísticos, como al parecer, mas que também utiliza expressões de alta frequência em textos ficcionais, uma vez que é um tradutor profissional principalmente de textos ficcionais. Para uma afirmação mais concreta para esse resultado, faz-se necessária uma investigação do estilo desse tradutor, tanto por meio da comparação das escolhas de Borja Folch e dos outros tradutores de HOD como comparando textos autorais e traduções feitas por ele. Devido às delimitações do escopo desta pesquisa, verificou-se se esta é ou não uma tendência de Folch por meio da comparação das escolhas entre os tradutores estudados. A Tabela 8 traz os padrões de colocações em HOD_Herrero.

Tabela 8
Frequência absoluta e normalizada de colocações com parec* em HOD_Herrero

De uma forma geral, todas as ocorrências dos padrões verificados são maiores em HOD_Herrero do que no Corpus del Español. O primeiro padrão encontrado foi o mesmo encontrado em HOD_Folch, que parecía (0,37).

Parecía que é o segundo padrão mais proeminente em HOD_Herrero com frequência de 0,21, muito maior do que os corpora de consulta analisados. Os dois últimos padrões observados em HOD_Herrero são que parecían e no parecía, com a mesma frequência normalizada, 0,13. Observa-se que estes dois padrões não possuem expressividade no corpus geral (0,00), e baixa expressividade no corpus de ficção, com 0,03 e 0,02 respectivamente.

Herrero apresentou três padrões que seguiram o posicionamento de L1 + nódulo, assim como Folch, e um padrão de colocação com o posicionamento contrário, nódulo + R1. Herrero usou a estrutura gramatical pronome relativo + verbo em dois padrões e verbo + pronome relativo em um, e no último padrão apresentou a estrutura advérbio de negação + verbo, diferenciando-se assim de Folch em suas escolhas. A tradutora apresenta em três padrões a combinação com pronome relativo que. Herrero também teve comportamento similar em relação ao uso da preposição de nos três primeiros padrões de colocações de itens lexicais com alg*, o que confirma sua baixa variedade lexical em relação a Folch, por exemplo.

Em relação à função discursiva, sabe-se que estes padrões desempenham, em sua maioria, funções referenciais de caracterização, descrição e identificação do sujeito, por se tratarem de usos com verbo cópula, mas que também desempenham opiniões epistêmicas pessoais, dependendo dos complementos verbais. Todas essas funções denotam imprecisão e surpresa. No Quadro 7 são apresentados alguns exemplos de colocações em HOD_Herrero.

Quadro 7
Exemplos de padrões de colocações com parec* em HOD_Herrero

Nos exemplos 1 e 4 que parecía e no parecía desempenham uma função referencial de descrição do sujeito, com expressão de opinião imprecisa, uma vez que são seguidas por complementos adjetivais. Os exemplos 2 e 3, seguidos de orações adjetivais ou nominais, respectivamente, caracterizam e identificam o sujeito, também com certo grau de imprecisão.

Pode-se inferir que Herrero apresenta preferências por padrões pouco usuais nos corpora de consulta analisados, que podem ter sido escolhidos deliberadamente. É também relevante apontar que, embora o primeiro padrão mais recorrente seja o mesmo encontrado em HOD_Folch, essa tradução apresentou outros padrões recorrentes que não apareceram no primeiro TT investigado, parecía que, que parecían e no parecía, dois deles (exemplos 1 e 3) como escolha de equivalentes menos óbvios para as to be e You fancied. A Tabela 9 apresenta os padrões de HOD_Gieschen.

Tabela 9
Frequência absoluta e normalizada de colocações com parec* em HOD_Gieschen

Na Tabela 9 os padrões mais frequentes em HOD_Gieschen foram que parecía (0,39), me pareció (0,28), parecía que (0,23) e no parecía (0,21). A frequência normalizada de todos estes padrões é maior na tradução de Gieschen que nos corpora de consulta, sendo que no corpus de consulta geral estes padrões têm baixa ou quase nenhuma representatividade.

Gieschen apresenta dois padrões iguais aos de Folch, que parecía e me pareció, e três iguais aos de Herrero, que parecía, parecía que e no parecía. Sendo assim, esta tradutora não apresentou, entre os quatro primeiros padrões mais frequentes, nenhum padrão diferente dos TTs analisados.

Os padrões de Gieschen seguem, em sua maioria, o posicionamento de L1 + nódulo, um deles apenas com posicionamento diferente, nódulo + R1. As estruturas gramaticais observadas foram pronome relativo + verbo e verbo + pronome relativo, pronome pessoal + verbo e advérbio de negação + verbo e, assim como Herrero, Gieschen também apresenta predominância no uso do pronome relativo que tanto na posição de L1 como R1. Esses padrões assumem a função referencial com graus de imprecisão e, também, de expressão de atitudes pessoais. O Quadro 8 apresenta exemplos de colocações em HOD_Gieschen.

Quadro 8
Exemplos de padrões de colocações com parec* em HOD_Gieschen

No exemplo 1 a tradutora optou pela expressão que parecía para a tradução de which I saw do TF, preferindo repetir uma forma flexionada de parec* para um excerto do texto em que não havia padrão com uma forma flexionada de seem*. No exemplo 2 o uso da expressão parecía que muda a estrutura da frase do TF e no exemplo 3 vê-se que a tradutora manteve o uso da colocação parecía que (pretérito imperfecto de parecer), ainda que o verbo do TF, appears, esteja no Simple Present.

Os padrões mostrados nos exemplos 1, 2 e 3 são colocações referenciais que descrevem, identificam e caracterizaram o sujeito, mantendo graus de imprecisão. Porém, no exemplo 4 me pareció foi usado para traduzir I thought, representando uma atitude pessoal, isto é, uma opinião epistêmica pessoal. Estes exemplos marcam algumas preferências desta tradutora. A Tabela 10 apresenta os padrões de colocações em HOD_Ingberg.

Tabela 10
Frequência absoluta e normalizada de colocações com parec* em HOD_Ingberg

Na Tabela 10 o padrão mais recorrente é me pareció (0,41). A frequência desta colocação nos corpora de consulta geral e de ficção é de 0,01 e de 0,04, respectivamente. Desse modo, infere-se que se trata de um padrão de preferência em HOD_Ingberg. Além disso, nenhum TT apresentou número igual ou maior em relação à frequência normalizada do primeiro padrão, o que reforça a hipótese de que Pablo Ingberg tem preferência por esse padrão.

HOD_Ingberg apresenta que parecía, como segundo mais recorrente, com 0,31 de frequência normalizada, seguido de al parecer (0,20). Assim como acontece em HOD_Folch, HOD_Ingberg apresenta uma preferência pelo padrão al parecer que, conforme já visto, trata-se de um padrão usual em corpus de textos jornalísticos. É importante ressaltar que em HOD_Ingberg todos os padrões encontrados tiveram maior frequência normalizada em relação aos corpora de consulta.

Os quatro padrões de colocações de Ingberg são formados a partir do posicionamento de L1 + nódulo, assim como em HOD_Folch. As estruturas gramaticais observadas foram pronome pessoal + verbo, pronome relativo + verbo, advérbio/advérbio de negação + verbo. Em relação às funções discursivas observam-se as mesmas já mencionadas nos padrões dos tradutores anteriores, isto é, trata-se de colocações que descrevem, caracterizam e identificam o sujeito e, alguns, de opiniões epistêmicas pessoais. O Quadro 9 traz os exemplos das colocações de Ingberg.

Quadro 9
Exemplos de padrões de colocações com parec* em HOD_Ingberg

No primeiro exemplo observa-se que a colocação que parecía funciona como uma colocação referencial de descrição, bem como o exemplo 3 em que o grupo adverbial também funciona como colocação referencial usada para a tradução de It appeared. No exemplo 3 observa-se uma atitude pessoal em relação à descrição, o que envolve uma opinião. No exemplo 4 vê-se um complemento adjetival para o verbo cópula o que marca sua característica referencial.

Comparando os resultados dos quatro TTs entre si, verificou-se que HOD_Folch, HOD_Herrero e HOD_Gieschen apresentam como padrão mais recorrente que parecía, sendo o segundo mais recorrente em HOD_Ingberg. Observou-se que o padrão al parecer, que só aparece nos TTs de Folch e Ingberg, possui uma frequência maior nestes TTs, 0,26 e 0,20, respectivamente. Ao analisarmos esse padrão no Corpus del Español, verificou-se que se trata de um padrão mais recorrente no corpus jornalístico do que no corpus ficcional, o que pode indicar uma tendência desses tradutores para o uso de padrões de colocações mais típicos de textos jornalísticos na tradução de textos ficcionais.

HOD_Herrero tem parecía que como segundo padrão mais recorrente e HOD_Gieschen o apresenta como o terceiro. O padrão me pareció ocorre com frequência alta nos textos de Pablo Ingberg, Amália Gieschen e Borja Folch, sendo o primeiro mais recorrente em HOD_Ingberg (0,41), o segundo em HOD_Gieschen (0,28) e o quarto em HOD_Folch (0,16).

Enquanto se observa uma predominância por padrões no pretérito (perfeito e imperfeito) nos TTs de uma forma geral, tem-se me parece como o terceiro padrão de colocação mais recorrente em HOD_Folch, com frequência de 0,18. Este resultado deve ser ressaltado, pois a preferência por este padrão em HOD_Folch pode ser um indicativo de escolhas diferenciadas, se considerarmos que esta é a tradução que possui a maior variação lexical e o menor número de frequência de itens lexicais com parec* (cf. CASTRO, 2016CASTRO, M. C. 2016. O perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol: uma investigação de mudanças de tradução (shifts in translation) baseada em padrões de itens lexicais de um corpus paralelo. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG: 178f., 2018CASTRO, M. C. 2018. O uso da lista de Consistência Detalhada (Detailed Consistency List) do Wordsmith Tools© 6.0 para a investigação do perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol. Texto Livre Linguagem e Tecnologia, Belo Horizonte, v.11, n. 1, p.1-23.).

Os resultados indicam que alguns padrões podem ser equivalentes mais óbvios e próximos de padrões do texto-fonte e outros podem ser escolhas por equivalentes menos óbvios que, por sua vez, podem definir estratégias de tradução usadas pelos tradutores. A Tabela 11 apresenta os padrões de colocações com seem* em HOD_Conrad.

Tabela 11
Frequência absoluta e normalizada de colocações com seem* em HOD_Conrad

O padrão mais recorrente em HOD_Conrad é seemed to, considerando a posição de R1. Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24.) aponta seemed to como o padrão mais recorrente em toda a obra de Conrad. Ao contrastar os achados de HOD com o corpus do BYU-BNC o pesquisador afirma que este padrão não é usual na língua em geral, tratando-se, portanto, de uso específico na obra de Conrad para a construção do tópico de incerteza.

Seemed to possui frequência normalizada de 1,19 em HOD, 0,11 no corpus de consulta geral e 0,38 no corpus de ficção. Ao compararmos estas frequências, verifica-se a diferença nitidamente, apesar de ser o padrão mais recorrente, entre os padrões de HOD_Conrad, nos corpora consultados, tendo em vista que a frequência no texto de Conrad é mais representativa, confirmando os resultados de Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24.) de que este é um padrão de escolha.

O segundo padrão é it seemed com o colocado na posição de L1 e frequência normalizada de 0,36 na obra, 0,04 no corpus geral e 0,15 no de ficção. Deve-se ressaltar que este padrão ocorre praticamente o dobro de vezes na obra de Conrad em relação ao corpus de ficção e pode-se dizer que não possui expressividade no corpus geral. Se considerarmos que parecía como equivalente mais óbvio em espanhol para that seemed, veremos que este é o primeiro padrão recorrente de colocação nos três primeiros TTs, o segundo em HOD_Ingberg, e that seemed o terceiro mais recorrente em HOD_Conrad, com frequência normalizada de 0,23 no TF, ou seja, um número menor em relação à que parecía nos TTs.

É importante observar que de 46 ocorrências do padrão seemed to e 14 de it seemed, 11 ocorrências são “it seemed to”; e de 09 ocorrências de that seemed 08 são “that seemed to”, ampliando o horizonte de análise e considerando a formação de um agrupamento lexical formado por três palavras a partir dos posicionamentos L1 + nódulo + R1, isto é, considerando a sobreposição dos colocados. É também relevante notar que isto não ocorreu para os padrões de colocações dos TTs.

O quarto padrão em HOD_Conrad foi not seem (0,15). Este padrão poderia ter como equivalente o padrão no parecía em HOD_Herrero, HOD_Gieschen e HOD_Ingberg, uma vez que pode fazer parte do agrupamento lexical did not seem. Para essa confirmação expandiu-se a análise das linhas de concordância até o posicionamento de L2 para verificar quantas dessas ocorrências de not seem correspondem ao uso do pretérito nos TTs e verificou-se que todas as ocorrências de no parecía são equivalentes mais óbvios de did not seem no TF, instâncias de orações negativas com o verbo no Simple Past, confirmando a ocorrência de seu equivalente no parecía nos TTs.

Concluindo, verificou-se que a colocação que mais ocorreu nos TTs, que parecía, é o equivalente mais óbvio de that seemed do TF, bem como que parecían (forma no plural) em HOD_Herrero. Ainda, me pareció pode ser um equivalente de it seemed to, considerando o pacote lexical com três palavras. O padrão (did) not seem do TF tem como equivalente no parecía nos TTs de Herrero, Gieschen e Ingberg.

Os padrões com parec* dos TTs que são equivalentes menos óbvios dos padrões mais recorrentes do TF foram al parecer, em HOD_Folch e HOD_Ingberg e me parece em HOD_Folch. Vale ressaltar que os quatro primeiros padrões mais recorrentes de cada tradução não foram os mesmos. Em suma, os resultados encontrados mostraram que ocorreram diferenças nas escolhas da tradução de formas flexionadas de seem* para o espanhol e que os tradutores apresentaram preferências diversas entre si. Viu-se que Folch foi o tradutor que apresentou escolhas mais diferenciadas em relação ao TF. Assim, a próxima seção apresenta uma versão do perfil estilístico individual dos tradutores.

Perfil estilístico individual dos tradutores

O Quadro 10 apresenta uma versão do perfil estilístico dos tradutores, construído com os resultados referentes aos padrões de colocações analisados neste estudo.

Quadro 10
Perfil estilístico individual dos tradutores

As escolhas relativas aos padrões de colocações com os nódulos analisados indicam preferências diversificadas para traduzir o mesmo item lexical ou padrões de colocações desse item, isto é, preferências estilísticas diferentes de cada tradutor. Estes resultados direcionam o estudo para a investigação dessas diferenças, isto é, as mudanças na tradução observadas na tradução destes itens.

Considerações Finais

Os resultados da análise dos padrões de colocações mostraram que Folch é o tradutor que mais utilizou padrões de colocações comuns em corpus de textos de ficção e de textos jornalísticos. Ingberg também apresentou alguns padrões de colocações comuns em textos ficcionais e jornalísticos, porém Ingberg apresentou mais escolhas por padrões de colocações que são equivalentes mais óbvios daqueles do TF. Folch e Herrero foram os tradutores que apresentaram escolhas por padrões mais diferentes daqueles encontrados no TF, sendo Folch o tradutor com maior recorrência de padrões diferentes. Estes resultados mostraram que Folch e Herrero foram os tradutores com maior número de escolhas lexicais diferentes do TF, ao passo que Gieschen e Ingberg apresentaram escolhas lexicais mais próximas do TF. Além disso, foi possível constatar que os tradutores realizaram escolhas divergentes para traduzir os mesmos padrões do TF.

Os resultados obtidos relativos aos padrões de colocações mostraram que, de uma forma geral, os padrões apresentados tanto nos TTs como no TF podem indicar preferências dos tradutores e do autor, pois a comparação com os corpora de consulta permitiu verificar que, na maioria dos casos, os padrões apontados foram utilizados com mais ênfase nos TTs e no TF do que nos corpora de consulta. Os resultados confirmaram a hipótese de Stubbs (2003STUBBS, M. 2003. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Conrad, Concordance, Collocation: Heart of Darkness or light at the end of the tunnel? Language and Literature. Trier, Alemanha: Universidade de Birmingham: 5-24., 2005STUBBS, M. 2005. Conrad in the computer: examples of quantitative stylistic methods. Language and Literature. Volume 14. Número 5. Disponível em: Disponível em: http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstract/14/1/5 . Acesso em 15 de agosto de 2018.
http://lal.sagepub.com/cgi/content/abstr...
) de que esses padrões foram escolhidos para o desenvolvimento de um dos principais tópicos de Heart of Darkness, a incerteza, e de que é possível identificar traços de estilo por meio da investigação de itens léxico-gramaticais.

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  • 1
    . Este estudo é um recorte da tese “O perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o Espanhol: uma investigação de mudanças de tradução (shifts in Translation) baseada em padrões de itens lexicais de um corpus paralelo” (CASTRO, 2016CASTRO, M. C. 2016. O perfil estilístico de quatro tradutores de Heart of Darkness para o espanhol: uma investigação de mudanças de tradução (shifts in translation) baseada em padrões de itens lexicais de um corpus paralelo. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos). Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG: 178f.), desenvolvida no âmbito do Laboratório Experimental de Tradução (LETRA) da FALE/UFMG.
  • 3
    . No original “Literary critics tend to identify a few content words [...] However, they tend to ignore the many grammatical words denoting vagueness and uncertainty.” Todas as notas que trazem a indicação da língua original são de citações traduzidas pela autora deste artigo.
  • 4
    . No original “an individual combination of linguistic habits which somehow betrays [the author] in all that he writes”.
  • 5
    . No original “A ‘way of translating’ which is felt to be recognizable across a range of translations by the same translator, distinguishes the translator’s work from that of others, constitutes a coherent pattern of choice, is ‘motivated’, in the sense that it has a discernible function or functions, and cannot be explained purely with reference to the author or source-text style, or as the result of linguistic constraints.”
  • 6
    . No original “Lexical bundles are usually not complete gramatical structures nor are they idiomatic, but they function as basic building blocks of discourse.”
  • 7
    . No Original “Major places in the book are never named.”
  • 8
    . Disponível em http://www.corpusdelespanol.org/x.asp. Acesso em 17/04/2016.
  • 9
    . Disponível em http://corpus.byu.edu/bnc/. Acesso em 17/04/2016.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    12 Ago 2018
  • Aceito
    28 Abr 2019
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