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Letramentos acadêmicos: repertórios de percepções de gestores de universidades públicas paranaenses e experiências prático-investigativas1 1 A referida pesquisa está relacionada com o projeto Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos, financiado por meio da Chamada CNPq Nº 09/2018, Processo: 310413 / 2018- 4, com bolsa de produtividade em pesquisa para sua coordenadora, Vera Lúcia Lopes Cristovão.

Academic literacies: repertoires of perceptions of public universities’ administrators in Paraná and practical-investigative experiences

RESUMO

Este artigo busca: a) mapear as ações de letramentos acadêmicos mais recorrentes nas instituições pesquisadas; b) analisar percepções dos gestores das instituições sobre as necessidades e demandas de letramentos acadêmicos; e c) descrever as primeiras ações do Laboratório Integrado de Letramentos Acadêmico-científicos (LILA) e relacioná-las às demandas e necessidades levantadas. Para alcançar os objetivos almejados, a metodologia englobou a quantificação de menções dos gestores, a codificação provisória e a codificação literal (in vivo) (SALDAÑA, 2009Saldaña, J. (2009). The coding manual for qualitative researchers. London/Thousand Oaks, California: Sage Publications.), com a classificação das respostas a partir de aproximações semânticas entre a codificação literal e a codificação provisória (SALDAÑA, 2009Saldaña, J. (2009). The coding manual for qualitative researchers. London/Thousand Oaks, California: Sage Publications.), bem como a análise documental, para descrição dos eventos. Como resultado, constatamos o surgimento de ações colaborativas em prol de letramentos acadêmicos (FIAD, 2011Fiad, R. S. (2011). A escrita na universidade. Revista da ABRALIN, 10(4), v. Eletrônico, n. Especial, p. 357-369.; LEA & STREET, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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; STREET, 2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
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; ZAMORA, 2016) e a necessidade de ampliação para uma rede de colaboração. Assim, nosso estudo contribui para expor até que ponto nossos movimentos têm fomentado ações de pesquisa e extensão, e estas, por sua vez, têm realimentado a pesquisa, num movimento cíclico de planejamento, implementação e avaliação previsto para as ações do LILA.

Palavras-chave:
letramentos acadêmicos; movimentos cíclicos; rede colaborativa

ABSTRACT

This article aims at: a) mapping the most recurrent actions towards academic literacies in the universities involved in a research project; b) analyzing the perceptions academic coordinators construct on demands and needs concerning academic literacies; and c) describing the initial actions performed by Integrated Laboratory of Scientific-Academic Literacies (LILA) and relate them to the requests and necessities raised. To achieve these objectives, the methodological design employed online questionnaires to raise respondents ‘perceptions and relied on quantitative and qualitative analysis. The qualitative analysis was done with the use of provisional coding and in vivo coding (SALDAÑA, 2009Saldaña, J. (2009). The coding manual for qualitative researchers. London/Thousand Oaks, California: Sage Publications.), with the classification of the questionnaire replies as regards the semantic similarities. Lastly, documentary analysis was done on the events and actions operated. As results, we have detected the start of collaborative actions towards academic literacies (FIAD, 2011Fiad, R. S. (2011). A escrita na universidade. Revista da ABRALIN, 10(4), v. Eletrônico, n. Especial, p. 357-369.; LEA & STREET, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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; STREET, 2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
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; ZAMORA, 2016) and the need to expand towards a network of collaboration. Thus, our study contributes to show to what extent our moves have fostered actions of research and extension, and, in turn, how they forge research, in a cyclical movement of planning, implementation and evaluation for the actions to be conducted at LILA.

Keywords:
academic literacies; cyclical movements; collaborative network

1. Introdução

O campo de Estudos dos Letramentos data das décadas 70/80 do século passado, emergindo no Brasil mais na década de 1990 com as pesquisas de Kleiman (1995Kleiman, A. (1995). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras.) e Soares (1998Soares, M. (1998). Letramento-um tema em três gêneros. São Paulo: Autêntica.). Muitos trabalhos (Magalhães & Cristovão, 2018Magalhães, T. G. & Cristovão, V. L. (2018). Letramento científico, gêneros textuais e ensino de línguas: uma contribuição na perspectiva do interacionismo sociodiscursivo. Raído, 12(30), 52-72. https://doi.org/10.30612/raido.v12i30.9382
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; Terra, 2013Terra, M. R. (2013). Letramento & letramentos: uma perspectiva sócio-cultural dos usos da escrita. Delta: documentação de estudos em lingüística teórica e aplicada, 29(1), 29-58. https://doi.org/10.1590/S0102-44502013000100002
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; Vóvio et al., 2010Vóvio, C. et al. (2010). Letramentos: rupturas, deslocamentos e repercussões de pesquisas em linguística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras.) já têm discorrido sobre as diferentes conceituações envolvendo o termo, havendo consenso na compreensão de que estudos de letramento consideram que práticas e eventos de letramento possibilitam a participação da(s) pessoa(s) com seu repertório de usos da escrita, da leitura, da expressão oral em esferas de atividade humana. Essa variedade de experiências justifica, portanto, a distinção de letramentos diversos. Neste trabalho, abordamos os letramentos acadêmicos6 3 Para fins de delimitação terminológica, utilizamos, neste artigo: a) letramentos acadêmicos (letras minúsculas) para o campo de estudos dos letramentos em contexto acadêmico; b) Letramentos Acadêmicos para o terceiro modelo descrito por Lea e Street (2014). que vêm sendo objeto de muitas pesquisas tanto nacionais (Fiad, 2011Fiad, R. S. (2011). A escrita na universidade. Revista da ABRALIN, 10(4), v. Eletrônico, n. Especial, p. 357-369.; Fischer, 2010Fischer, A. (2010). Sentidos situados em eventos de letramento na esfera acadêmica. Educação (UFSM), 1(2), 215-228. https://doi.org/10.5902/198464442072
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) quanto internacionais (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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; Street, 2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
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; Zamora, 2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa.).

Este artigo busca explicitar demandas e necessidades sobre letramentos acadêmicos em cursos de graduação de três universidades públicas paranaenses7 4 Atualmente, o Instituto Federal do Paraná (IFPR) também faz parte do projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”, não sendo contemplado como campo de pesquisa na Fase 01 por sua entrada ter ocorrido posteriormente à geração dos dados. : a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), constituindo-se como um recorte do projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”. Algumas pesquisas relacionadas a este projeto já vêm sendo divulgadas (Cristovão et al., no preloCristovão, V. L. L. et al. (no prelo). Integrated Laboratory of Scientific-academic Literacies - LILA’: facing challenges in language education. Revista Letras (UFSM). [s.l.]: [s.n.].; Cristovão & Vignoli, 2020Cristovão, V. L. L. & Vignoli, J. C. S. (2020). Ações de Didatização de Gêneros em prol de Letramentos Acadêmicos: práticas e demandas. Horizontes, 38(1), 020012. https://doi.org/10.24933/horizontes.v38i1.869.
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; Tognato et al., 2021Tognato, M; I. R. et al. (2021). Demandas dos cursos de pós-graduação em relação aos Letramentos acadêmicos. Revista Signum (UEL), 24(1), 149-161. http://dx.doi.org/10.5433/2237-4876.2021v24n1p149.
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), entretanto, com o início das atividades do Laboratório Integrado de Letramentos Acadêmico-científicos (LILA)8 5 O LILA - Laboratório Integrado de Letramentos Acadêmico-científicos é um projeto colaborativo e interinstitucional, decorrente dos resultados das pesquisas empreendidas no projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”. O laboratório tem como objetivo principal conceber e ofertar ações em prol dos letramentos acadêmico-científicos para as comunidades interna e externas das instituições envolvidas. Atualmente, participam do projeto seis instituições públicas estaduais e quatro federais, em todo o estado do Paraná. , decorrente do projeto supracitado, faz-se necessário explicitar como os dados analisados têm fomentado ações de pesquisa e extensão, e estas, por sua vez, têm realimentado a pesquisa, num movimento cíclico de planejamento, implementação e avaliação previsto para as ações do LILA.

Enfatizamos que nossas pesquisas estão pautadas na concepção de ensino de escrita situada, compreendendo que estudantes ingressantes, seja em cursos de graduação ou de pós-graduação, são inseridos em um novo e complexo campo de atividade linguageira, sendo demandados a desempenhar ações, em língua portuguesa e/ou em línguas estrangeiras, até então desconhecidas para a maioria. Há muitos anos, a universidade ressente-se da falta de conhecimentos prévios de seus ingressantes, justificando as dificuldades apresentadas pelos acadêmicos com leitura e escrita no Ensino Superior a um déficit provindo da Educação Básica. Nesse sentido, Fiad (2011Fiad, R. S. (2011). A escrita na universidade. Revista da ABRALIN, 10(4), v. Eletrônico, n. Especial, p. 357-369., p.362) afirma que

Boa parte das pesquisas sobre letramento acadêmico surge a partir da observação das escritas de estudantes oriundos de diferentes classes sociais e etnias. Ao entrarem na universidade, os estudantes são requisitados a escreverem diferentes gêneros, com os quais não estão familiarizados em suas práticas de escrita em outros contextos (inclusive escolar) e são mal avaliados por seus professores. Na verdade, como apontam autores (LEA e STREET, 1998; JONES, TURNER e STREET, 1999) começam a ficar visíveis os conflitos entre o que os professores esperam das escritas e o que os alunos escrevem. Ou seja, não há correspondência entre o letramento do estudante e o letramento que lhe é exigido na universidade.

Nossa expectativa é explicitar conflitos que envolvem os letramentos acadêmicos, fazendo uma análise das percepções de gestores vinculados a cursos de graduação das instituições participantes da pesquisa, descortinando questões em âmbito institucional. Como uma possível resposta aos dados levantados e de modo a contribuir com as pesquisas já realizadas na área, elaboramos propostas de ações em prol de práticas de letramentos na universidade que estejam para além de uma perspectiva instrumental e corretiva, focalizando aspectos críticos, ideológicos e identitários do fazer científico e suas relações com a linguagem. Navarro (2018Navarro, F. (2018). Prefácio. Brasil, Hispano-América, Latino-América: por um espaço regional comum nos estudos da escrita no ensino superior. In: Pereira, R. C. M. (Org.). Escrita na universidade: panoramas e desafios na América Latina. Editora da UFPB, v. 1, p. 23-38.) advoga pela importância do reconhecimento dos elementos que constituem diferentes sistemas educativos e das características de suas comunidades discursivas para que se possa definir e apresentar proposições para letramentos acadêmicos. Nossa pesquisa vai ao encontro dessa asserção.

Os objetivos que guiam este estudo são: a) mapear as ações de letramentos acadêmicos mais recorrentes nas instituições pesquisadas relativas aos cursos de graduação; b) analisar percepções dos gestores das instituições sobre as necessidades e demandas de letramentos acadêmicos para cursos de graduação; c) descrever as primeiras ações do LILA e relacioná-las às demandas e necessidade levantadas. A partir de nossas metas, as seguintes perguntas de pesquisa foram propostas como orientadoras para o texto: a) Quais ações em prol de letramentos acadêmicos são mais mencionadas como conhecidas por gestores vinculados a cursos de graduação de três universidades paranaenses (UEL, Unespar e UTFPR)?; b) O que as demandas mais recorrentes apontam em termos de percepções sobre letramentos acadêmicos?; c) Como o LILA busca superar os desafios relacionados aos letramentos acadêmicos?

Para responder nossas questões, conceituamos brevemente letramentos acadêmicos a partir de trabalhos já disseminados em nossa próxima seção. Na sequência da exposição de nossas lentes teóricas, apresentamos o desenho metodológico da pesquisa realizada, acompanhada da mostra dos resultados e discussão sobre o repertório de percepções de gestores vinculados a cursos de graduação e sobre as experiências prático-investigativas das primeiras ações do LILA. Finalmente, manifestamos nossas reflexões finais.

2. Fundamentação teórica

Tendo em vista nossos autores de base (Fiad, 2011Fiad, R. S. (2011). A escrita na universidade. Revista da ABRALIN, 10(4), v. Eletrônico, n. Especial, p. 357-369.; Fischer, 2010Fischer, A. (2010). Sentidos situados em eventos de letramento na esfera acadêmica. Educação (UFSM), 1(2), 215-228. https://doi.org/10.5902/198464442072
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; Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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; Street, 2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
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; Zamora, 2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa.), nosso conceito-chave se ancora nos Novos Estudos do Letramento os quais enfatizam que as práticas sociais são situadas sócio-histórica e culturalmente com usos de diferentes formas de linguagem (escrita, oral, multissemiótica). Tal diversidade demanda letramentos específicos que possibilitam a participação do indivíduo na situação de comunicação social requerida ou desejada. Neste trabalho, abordamos a esfera acadêmica, por isso nosso foco em letramentos acadêmicos. Antes de expor conceitos caros para nossa discussão, apresentamos uma questão referente às diferentes possibilidades de terminologia, bem como aspectos relativos às práticas discursivas acadêmicas.

Zamora (2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa.) explica que a noção de “academic literacy surge em países anglófonos, sendo traduzido para o espanhol como “literacidad académica”, “alfabetización académica”, “lectura y escritura en la universidad” ou “cultura escrita universitaria”. Em português brasileiro, também encontramos certa flutuação terminológica, sendo “letramento acadêmico” e “escrita acadêmica” os termos mais usados. De acordo com o teórico, o letramento acadêmico surge para “compreender a especificidade das práticas discursivas que ocorrem no Ensino Superior e, em particular, as dificuldades que os alunos vivenciam com as demandas do letramento acadêmico, escrevendo na universidade”9 6 Con el fin de entender la naturaleza específica de las prácticas discursivas que tienen lugar en la educación superior, y particularmente las 20 Literacidad académica dificultades que experimentan los estudiantes con las demandas de lectura y escritura en la universidad. (Zamora, 2016, p.19). (Zamora, 2016, p.19 - tradução nossa).

Nesse sentido, o pesquisador mexicano defende que as questões de forma, como ortografia e sintaxe, não são os pontos nodais dos letramentos acadêmicos, sendo sim necessário que se trabalhe sobre elas, mas sempre subordinadas aos objetivos mais relevantes e gerais do Ensino Superior. Assim, Zamora apresenta os três aspectos centrais para o desenvolvimento de práticas discursivas acadêmicas:

  1. Escrita acadêmica: apropriação da escrita como meio fundamental para construir e comunicar o conhecimento acadêmico, de acordo com as formas e propósitos particulares das disciplinas e comunidades acadêmicas.

  2. Comportamentos letrados: desenvolver a capacidade de dar explicações ordenadas, fundamentadas, argumentos lógicos e abstrações.

  3. Pensamento crítico: desenvolver a capacidade de avaliar criticamente ideias próprias e de outros, de fazer perguntas vitais, de identificar e resolver problemas, de usar e criticar fontes, de elaborar ideias e argumentos, e de comunicar essas ideias de forma clara e efetiva.10 7 1. Escritura académica: apropiación de la escritura como medio fundamental para construir y comunicar el conocimiento académico, de acuerdo con las formas y propósitos particulares de las disciplinas y comunidades académicas. 2. Comportamientos letrados: desarrollar la capacidad de dar explicaciones ordenadas, interpretaciones fundamentadas, argumentos lógicos y análisis abstractos. 3. Pensamiento crítico: desarrollar la capacidad para evaluar críticamente las ideas propias y ajenas, de plantear preguntas vitales, de identificar y resolver problemas, de utilizar y criticar fuentes, de elaborar ideas y argumentos, y de comunicar esas ideas en forma clara y efectiva. (Zamora, 2016, p.20). (Zamora, 2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa., p.20 - tradução nossa).

Desta forma, Zamora (2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa.) ressalta que o letramento acadêmico é uma prática situada no contexto do Ensino Superior, não sendo plausível exigi-lo dos estudantes que apenas ingressaram na academia por ser tarefa dela ensinar-lhes. Tal afirmação encontra respaldo em teóricos como Street (2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
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), para quem os letramentos acadêmicos são compreendidos como práticas sociais.

Uma abordagem de letramentos acadêmicos considera as instituições nas quais as práticas acadêmicas se realizam como constituídas por, e espaços de, discurso e poder. Ela reconhece as demandas de letramento do currículo envolvendo uma variedade de práticas comunicativas, incluindo gêneros, campos e disciplinas11 8 An academic literacies approach views the institutions in which academic practices take place as constituted in, and as sites of, discourse and power. It sees the literacy demands of the curriculum as involving a variety of communicative practices, including genres, fields, and disciplines. (Street, 2010, p. 349). . (Street, 2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
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, p.349 - tradução nossa).

Com base nessa perspectiva, Lea & Street (2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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) apresentam a abordagem dos letramentos acadêmicos composta por três modelos: i) Habilidades de Estudo (HE) - resultado do desenvolvimento de habilidades individuais e cognitivas, uma vez que as teorias da aprendizagem são aquelas baseadas na transmissão de conhecimentos; ii) Socialização Acadêmica (SA) - os estudantes são introduzidos na cultura acadêmica de modo que sejam aculturados quanto aos discursos e gêneros próprios das disciplinas que frequentam; e iii) Letramentos Acadêmicos (LA) - as relações de poder, identidade e ideologia são consideradas no fazer científico. O Quadro 1 sintetiza tais elementos que foram utilizados como lentes interpretativas para nossos dados.

Quadro 1
Características dos modelos de letramentos acadêmicos

Esses três modelos no âmbito dos Novos Estudos do Letramento têm sido muito produtivos para as pesquisas na área, enfocando o Ensino Superior tanto no nível da graduação quanto da pós-graduação. Um exemplo é a investigação de Bezerra e Lêdo (2018Bezerra, B. G. & Ledo, A. C. O. (2018). Gêneros acadêmicos e processos de letramento no ensino superior. In: R. C. M. Pereira (Org.). Escrita na universidade: panoramas e desafios na América Latina. 1ed. João Pessoa: Editora da UFPB, v. 1, p. 173-205., p.183) na qual, após a apresentação das abordagens, os pesquisadores esclarecem que “de fato, a abordagem dos letramentos acadêmicos, longe de rejeitar a validade das habilidades de estudo e da socialização acadêmica como tais, procura incorporá-las em uma concepção mais abrangente, centrada na noção de escrita como prática social complexa”. Os autores também se preocupam em explicitar o lugar dos gêneros (textuais ou discursivos) para a perspectiva dos letramentos acadêmicos, elucidando que, no modelo de HE, as características formais e estruturais do gênero são enfocadas. No modelo da SA, as variações nas culturas disciplinares são abordadas, ao passo que para LA, gêneros são práticas sociais e “[...]a relação entre práticas culturais e gêneros deve ser identificada e ressaltada no processo de letramento” (Bezerra & Lêdo, 2018Bezerra, B. G. & Ledo, A. C. O. (2018). Gêneros acadêmicos e processos de letramento no ensino superior. In: R. C. M. Pereira (Org.). Escrita na universidade: panoramas e desafios na América Latina. 1ed. João Pessoa: Editora da UFPB, v. 1, p. 173-205., p. 185). A aproximação teórica feita pelos autores mostra-se muito relevante, uma vez que articula duas importantes tradições analíticas voltadas ao ensino de línguas no Ensino Superior.

Explicitadas as bases teóricas sobre as quais propusemos nossas análises, passamos à descrição dos procedimentos metodológicos para geração e análise dos dados utilizados na investigação.

3. Desenho metodológico

Conforme apontamos anteriormente, em nossa introdução, este artigo objetiva descrever e analisar dados gerados durante as primeiras fases de um projeto de pesquisa maior, do qual participamos como pesquisadoras. Assim, como forma de auxiliar a compreensão do percurso metodológico empreendido, apresentamos, inicialmente, as linhas gerais do projeto mais amplo para, na sequência, tratarmos das especificidades da etapa que focalizamos.

O projeto de pesquisa “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos” tem duração prevista de três anos (2019 a 2022) e, conforme artigo publicado por Cristovão e Vignoli (2020Cristovão, V. L. L. & Vignoli, J. C. S. (2020). Ações de Didatização de Gêneros em prol de Letramentos Acadêmicos: práticas e demandas. Horizontes, 38(1), 020012. https://doi.org/10.24933/horizontes.v38i1.869.
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), objetiva promover o mapeamento de práticas e demandas em prol de letramentos acadêmicos, bem como a posterior implementação de ações a partir do LILA em instituições de Ensino Superior do estado do Paraná. Sua proposta metodológica, organizada em fases, pode ser observada na Figura 1.

Figura 1
Fases de execução e respectivos instrumentos de pesquisa do projeto Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmico

Neste trabalho, tratamos dos dados gerados por meio da aplicação de questionários12 9 O convite aos participantes incluiu o envio do projeto de pesquisa e de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com o qual os participantes consentiram ao preencherem o formulário. O projeto de pesquisa, assim como os instrumentos de geração de dados e o TCLE foram aprovados pelo Comitê de Ética (CAAE 09695319.4.1001.5231). a gestores vinculados a cursos de graduação das três universidades envolvidas no ano de 2019. Outras pesquisas13 10 Cristovão et al., no prelo; Cristovão & Vignoli, 2020; Tognato et al., 2021. (concluídas ou em andamento) elegeram os demais recortes: a) questionários enviados a gestores de cursos de pós-graduação e aos estudantes de graduação; b) análise de ementas de disciplinas, completando o quadro do mapeamento inicial relativo à primeira fase do projeto. A seleção dos participantes foi feita a partir de suas relações com o ensino de graduação, ou seja, coordenadores de curso e ocupantes de instâncias da gestão como diretores de centros, pró-reitores de graduação e ensino, chefes de divisão de graduação, entre outras nomenclaturas, a depender da organização das universidades investigadas. A escolha pelo foco nesses participantes se deu pela compreensão de que são os gestores de instâncias superiores das IES os responsáveis pela proposição e implementação de políticas institucionais nas universidades, traduzidas em documentos que regulamentam diretrizes e metas, como o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), por exemplo. Assim, partindo da defesa de que é preciso investir institucionalmente em ações de promoção de letramentos acadêmicos, optamos por prescrutar aqueles que fazem gestão universitária. Enfatizamos que a importância da voz do Coordenador de Colegiado de Curso vem da representatividade do cargo, sendo possível, a partir de sua voz, conhecer as ações e demandas de seu colegiado composto por docentes e discentes.

O questionário utilizado para geração de dados foi composto por seis questões, sendo cinco de múltipla escolha e uma discursiva, além de um campo para inserção de comentários e sugestões em geral, caso o participante desejasse. Ao todo, foram enviados 255 convites, por e-mail, no período compreendido entre agosto e outubro de 2019, sendo a solicitação reiterada por três vezes com o intuito de aumentar a representatividade das instituições. No total, obtivemos 58 participantes nos três campos de estudos. Apontamos, nesse sentido, a dificuldade em conseguir engajamento de respondentes no preenchimento dos questionários enviados por e-mail, fato que nos faz repensar os meios de geração de dados em pesquisas futuras, tendo em vista os baixos números de respostas que obtivemos. Utilizamos siglas alfanuméricas para designação dos participantes, sendo as 06 respostas da UEL nominadas de R1 a R6; as 36 respostas da Unespar, de R07 a R42; e as 16 respostas da UTFPR, de R43 a R58. A relação entre a quantidade de convites e o número de respondentes pode ser verificada no Gráfico 1.

Gráfico 1
Relação entre convites e respostas efetivas nas três universidades pesquisadas

Finalizada a etapa de apresentação dos procedimentos para geração e coleta de dados, passamos à exposição de nosso percurso metodológico para as análises. Primeiro, é preciso considerar que esta é uma pesquisa de método misto, uma vez que utilizamos bases quantitativas para realização de nosso mapeamento de ações e demandas como também qualitativas para interpretação dos dados e proposição de ações em prol dos letramentos acadêmicos no LILA. Sobre o questionário utilizado, as questões de 01 a 05, objetivas, tematizavam sobre o conhecimento pelos participantes de ações em prol de letramentos acadêmicos em língua portuguesa e em línguas estrangeiras em cursos de graduação. Já a questão de número 06, discursiva, objetivava explicitar as demandas de gestores e coordenadores para os cursos de graduação das três universidades pesquisadas. Na Figura 2, reproduzimos as questões constantes no questionário de pesquisa.

Figura 2
Questionário enviado aos participantes para mapeamento de ações e demandas em prol de letramentos acadêmicos em cursos de graduação

Pelas diferentes naturezas dos dados, as respostas oriundas de questões objetivas (de múltipla escolha) foram analisadas em termos de recorrências por números de menções, ou seja, um levantamento quantitativo a partir das opções mais selecionadas pelos respondentes. Já o procedimento para análise da questão discursiva foi o da codificação provisória e da codificação literal (in vivo), propostas feitas por Sãldanha (2009) para pesquisa qualitativas, sendo as etapas analíticas assim descritas:

  • 1ª etapa: elaboração de um código provisório (Sãldanha, 2009, p. 120), com base na revisão da literatura sobre os modelos de letramentos acadêmicos (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
    https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419....
    ), para proposição de um rol de critérios de categorias. Apresentamos, no Quadro 1 (da seção de fundamentação teórica), as categorias (modelos) e seus critérios para a codificação provisória utilizada nas análises.

  • 2ª etapa: análise das demandas e expectativas por meio do procedimento analítico da codificação literal (in vivo) (Sãldanha, 2009Saldaña, J. (2009). The coding manual for qualitative researchers. London/Thousand Oaks, California: Sage Publications., p.74). Reproduzimos o Quadro 2 de modo a ilustrar o procedimento, com a seleção de trechos da própria resposta como sumarizadores do conteúdo.

  • 3ª etapa: categorização das respostas, a partir das duas codificações anteriores, em termos dos modelos de letramentos acadêmicos, das demandas e expectativas com aproximações semânticas entre a codificação literal e a codificação provisória. Por se tratar do movimento analítico de fato, o quadro desta etapa será reproduzido na íntegra em nossa próxima seção.

Quadro 2
Exemplo do procedimento codificação literal

Para a análise das experiências prático-investigativas do LILA, a metodologia usada para a descrição foi, em uma primeira etapa, a coleta de informações com: a) consulta aos projetos desenvolvidos pelo laboratório; b) coleta de informações referentes a objetivos, público-alvo, período de realização, forma de interação, divulgação e descrição; c) organização das informações em quadros expositivos. Em um segundo momento, para as pesquisas em andamento, foi organizado um quadro específico evidenciando as instituições envolvidas, o nível e a quantidade de pesquisas. A descrição das ações revela as soluções iniciais encaminhadas pelo LILA para superar os desafios resultantes do mapeamento realizado na primeira fase do projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”. Como forma de síntese de nossos procedimentos metodológicos, apresentamos o Quadro 3:

Quadro 3
Procedimentos metodológicos

Após a explicação de nossos processos metodológicos, passamos à apresentação das análises, tomando as perguntas de pesquisa como parâmetro para organização do texto.

4. Análises e resultados

Nesta seção, retomamos os conceitos teóricos anteriormente discutidos para procedermos à análise das respostas dadas pelos participantes da pesquisa. Como forma de organização da apresentação, utilizamos as perguntas apresentadas na introdução, sendo elas, nesta ordem: a) Quais ações em prol de letramentos acadêmicos são mais mencionadas como conhecidas por gestores vinculados a cursos de graduação de três universidades paranaenses (UEL, Unespar e UTFPR)?; b) O que as demandas mais recorrentes apontam em termos de percepções sobre letramentos acadêmicos?; c) Como o LILA busca superar os desafios relacionados aos letramentos acadêmicos?

Repertórios de percepções de gestores vinculados a cursos de graduação sobre letramentos acadêmicos

Como forma de responder à nossa primeira questão, apresentamos análise quantitativa das ações conhecidas em prol de letramentos acadêmicos: 53% dos respondentes indicaram conhecer alguma ação para língua portuguesa, especialmente compreendidas como disciplinas na graduação, sendo 54% no primeiro ano e 18% nos demais anos dos cursos. Sobre línguas estrangeiras, 59% dos participantes apontaram ciência sobre alguma prática, com 25% em disciplinas no primeiro ano das graduações, 17% em disciplinas em outros anos dos cursos e 23% em programas articulados que incluem uma ou mais iniciativas. O Gráfico 2 apresenta o total de menções em relação às línguas portuguesa e estrangeiras.

Gráfico 2
Ações mencionadas em prol de letramentos acadêmicos nas línguas portuguesa e estrangeiras.

Com relação aos dados, observamos que aproximadamente metade dos respondentes afirmou conhecer ações em língua portuguesa e em língua estrangeira (53% e 59%, respectivamente), fato que demonstra ainda uma grande lacuna nas universidades pesquisadas, já que o desconhecimento de tais práticas revela a pouca importância atribuída pelos campos de pesquisa aos letramentos acadêmicos em cursos de graduação. Com relação à natureza das ações, os dados indicam certa diferença entre as línguas. Em língua portuguesa, percebemos uma predominância de concentração de cursos/disciplinas para estudantes tanto no primeiro ano quanto nos demais anos dos cursos. Em línguas estrangeiras, a presença de cursos/disciplinas também corresponde à maior parcela das menções, mas chama atenção números significativos dos itens programas articulados, centros de escrita/laboratórios e outro. Pelos dados, parece-nos possível inferir que a perspectiva que rege as ações, predominantemente alocadas na parte inicial dos cursos de graduação, está relacionada ao discurso do déficit da Educação Básica, sendo preciso, portanto, instrumentalizar os ingressantes no Ensino Superior.

Após apresentarmos o mapeamento das ações mais conhecidas, passamos à discussão de nossa segunda pergunta de pesquisa, compreendendo a análise das demandas apresentadas por gestores das instituições que constituíram nosso campo de pesquisa. Para fins de organização, separamos as menções em termos dos modelos de letramentos acadêmicos (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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) predominantes, elaborando os quadros analíticos que se seguem. Há casos de respondentes que aparecem em dois quadros de categorização, já que, em suas respostas, apareceram demandas de ações relativas ao modelo de Habilidades de Estudos e ao modelo de Socialização Acadêmica. Há também três respostas (R19, R26 e R36) que foram desconsideradas, pois os participantes não fizeram sugestões. O Quadro 4 apresenta as menções relacionadas ao modelo de Habilidades de Estudos.

Quadro 4
Menções relativas ao modelo de Habilidades de Estudo

Como é possível observar pelo Quadro 4, as menções relativas ao modelo de Habilidades de Estudos são as mais recorrentes, ocorrendo em 36 das respostas. Demandas como “escrita e interpretação de textos”, “gramática”, “escrita formal” apontam para uma percepção de escrita homogênea e descontextualizada, uma vez que demonstram uma compreensão generalista e não situada para os atos de ler e escrever. Nos termos de Lea & Street (2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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), para a maioria dos gestores de graduação participantes da pesquisa, a relevância é dada aos aspectos formais da língua a partir da crença de que a mera instrumentalização (com cursos de “nivelamento”, por exemplo) “corrigiria” os problemas apresentados por estudantes ao ingressarem na universidade.

Nesse sentido, fica latente na percepção dos respondentes que as dificuldades apresentadas no Ensino Superior são provenientes de deficiências escolares oriundas da Educação Básica, em uma reiteração de um discurso do déficit de conhecimentos prévios. O acadêmico, nesta concepção, é alguém que chega à universidade incompleto, carente de conhecimentos que deveriam ter sido providos na etapa anterior de escolarização. Assim, na percepção dos gestores participantes da pesquisa, à universidade caberia “consertar” (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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; Fiad, 2010) os estudantes com dificuldades, fornecendo uma espécie de reforço das aulas de língua portuguesa ou línguas estrangeiras que foram ministradas na escola.

Na sequência, é apresentado o segundo conjunto de dados relacionado ao modelo de Socialização Acadêmica.

Quadro 5
Menções relativas ao modelo de Socialização Acadêmica

Em 18 respostas, encontramos menções ao modelo de Socialização Acadêmica, especialmente a partir de um reconhecimento de especificidades dos atos de ler e escrever na universidade. Desse modo, demandas como “práticas de leitura e escrita acadêmica”, “produção textual científica”, “escrita acadêmica”, “textos científicos” indicam uma compreensão de língua em suas especificidades para o contexto acadêmico, ressaltando o entendimento de que as práticas sociais de escrita e de leitura no Ensino Superior são diversas daquelas desenvolvidas na Educação Básica. Outro ponto é a citação de gêneros acadêmicos, como artigos, resumos, fichamentos, demonstrando a necessidade do ensino desses gêneros por meio da mediação de professores universitários. Entretanto, apesar do reconhecimento das singularidades dos usos de linguagem na academia, a orientação está pautada em um processo de aculturaçao (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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), ou seja, em uma inculcação acrítica dessas práticas. Além disso, as respostas parecem revelar uma compreensão homogênea de ciência e de fazer ciência, sem tocar nas particularidades que escrita e leitura apresentam nas diferentes culturas disciplinares.

No Quadro 6, apresentamos as menções que consideramos relacionadas ao modelo de Letramentos Acadêmicos.

Quadro 6
Menções relativas ao modelo de Letramentos Acadêmicos

Por fim, com quatro menções, encontramos respostas que sugerem demandas relativas ao modelo de Letramentos Acadêmicos. Expressões como “pensamento crítico”, “crítica, analítica de textos científicos” sinalizam adesão a uma percepção crítica de ciência, extrapolando os níveis de mera inserção em práticas acadêmicas, sem questioná-las. Importante ressaltar que os modelos aqui descritos não são excludentes, mas interligados (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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), uma vez que, para promover discussões sobre identidade, poder e ideologia, é preciso conhecer as práticas científicas e os meios linguísticos para escrever e ler neste campo. Os modelos se complexificam à medida que partem de uma visão utilitarista e descontextualizada e caminham para uma compreensão ideológica e situada de linguagem.

Como forma de síntese desta seção analítica, a partir das interpretações de dados relativos ao mapeamento de ações e demandas de gestores de cursos de graduação de três universidades paranaenses, vislumbramos um cenário pautado essencialmente pelo modelo de Habilidades de Estudo, a partir de uma concepção superficial de ensino de línguas. Como pudemos verificar, a maioria das ações conhecidas ocorrem nas primeiras séries dos cursos de graduação, em uma resposta ao discurso do déficit e da consequente necessidade de “consertar” o problema logo no ingresso do estudante. Com relação às demandas, também notamos grande predomínio de menções a práticas generalistas de ensino de línguas, com o enfoque em aspectos formais e normativos. Nossos achados demonstram, a partir da percepção daqueles que planejam as políticas institucionais (os gestores), a necessidade de se repensar na universidade concepções sobre letramentos acadêmicos, uma vez que a ausência da compreensão social, ideológica e identitária dos usos de linguagem leva, muitas vezes, à exclusão daqueles que não se enquadram em seus moldes tão restritos. Como possível resposta às necessidades trazidas à luz na etapa de mapeamento, o LILA foi planejado com vistas à implementação de ações que tomem as práticas de letramentos acadêmicos como cerne, como pode ser compreendido na próxima seção de nosso texto.

Experiências prático-investigativas sobre as primeiras ações do LILA em prol do desenvolvimento de letramentos acadêmicos

Como apresentado na metodologia, o projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”, em sua segunda fase14 11 Os dados referentes às discussões e sugestões dos gestores estão em processo de análise por pesquisadores do LILA e serão divulgados futuramente. , previa a apresentação e discussão da proposta de laboratório, oriunda do mapeamento de ações e demandas (primeira fase), com os gestores participantes da pesquisa em reuniões conduzidas por membros do LILA. Nesses encontros, os gestores tiveram a oportunidade de conhecer e discutir os resultados de análise dos dados gerados nos questionários, bem como sugerir alterações no projeto LILA para que ficasse mais adequado ao contexto das universidades. Nesse sentido, o LILA foi concebido para atender às demandas e necessidades apontadas nas pesquisas (primeira e segunda fases) a partir de uma atuação coletiva e colaborativa de pesquisadores no planejamento, implementação e avaliação das ações, em um movimento processual cíclico (Cristovão et al., no preloCristovão, V. L. L. et al. (no prelo). Integrated Laboratory of Scientific-academic Literacies - LILA’: facing challenges in language education. Revista Letras (UFSM). [s.l.]: [s.n.].).

As demandas e necessidades levantadas levaram à definição de ações principais para 2020 em termos de formação (oficina, minicurso, workshop): a) para docentes e gestores das universidades envolvidas sobre letramentos acadêmico-científicos; b) para estudantes da graduação com foco na leitura. Com o intuito de facilitar a divulgação e realização das ações, criamos o canal LILA no YouTube, o site do LILA e nosso e-mail, também incluímos uma página do LILA no Facebook e Instagram15 12 Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC0P9CAJg3yy3TiibLzznY0g/videos, site do LILA <https://sites.google.com/view/lilaparana/in%C3%ADcio?authuser=0, e-mail: lila.parana.2021@gmail.com, Facebook <https://www.facebook.com/lilaparana/> e Instagram <https://www.instagram.com/lilaletramentos/>. .

Mesmo com tão pouco tempo de existência, pudemos observar avanços do LILA no que diz respeito à formação continuada de docentes de forma virtual e à formalização de uma rede colaborativa, como passamos a descrever a seguir, por meio das atividades realizadas e das pesquisas em andamento.16 13 As primeiras ações LILA tiveram que levar em conta as dificuldades impostas pela pandemia de Covid 19: o fechamento das instituições, o atraso na implementação de ações inicialmente planejadas para serem presenciais, o adiamento do edital de Iniciação Científica (IC) de forma voluntária para novembro de 2020, na UEL. Essas questões afetaram negativamente as oficinas para estudantes que foram reagendadas para 2021.

É possível observar no Quadro 7 a organização da apresentação dos laboratórios em pares, um com trajetória mais longa e outro com atividades mais recentes, esta formatação colabora para o objetivo de compartilhamento de experiências variadas. O público-alvo amplo e a possibilidade de acessar o evento, também, de forma assíncrona, colocam em curso a publicização das experiências específicas de cada contexto e atuam como fonte de inspiração recíproca entre os palestrantes ou entre eles e o público. As visualizações, após as rodas de conversa, superaram significativamente o número de participantes do evento síncrono. A II ROCA, com a participação do LLAC-USP na organização, aconteceu de fevereiro a março de 2021. De um evento nacional, passamos à descrição de um evento local que envolveu cursos de Ciências Biológicas.

Quadro 7
Síntese das informações relativas ao evento I ROCA / LILA

O Quadro 8 descreve a oficina Promoção dos Letramentos Acadêmicos em Cursos de Biologia17 14 Esse evento integra uma pesquisa de pós-doutorado da autora Marlene Aparecida Ferrarini-Bigareli, sob supervisão da Profa. Dra. Vera Lúcia Lopes Cristovão, e está em análise para futura divulgação de seus resultados. . A interação se deu de forma síncrona virtual, todavia, no plano do curso, percebem-se também interações em duplas, orientações pessoais e atividades suplementares, todas compartilhadas nos encontros coletivos. Essa multiplicidade de formas de interação buscou possibilitar que a carga horária total do evento fosse compatível com os objetivos estabelecidos que, como pode ser observado no quadro, são amplos.

Quadro 8
Síntese das informações relativas à oficina para professores de cursos de Biologia

Devido às impressões positivas dos participantes, há a possibilidade da implementação de uma segunda versão do evento, ampliando a participação a docentes de Ciências Biológicas de outras instituições pertencentes ao LILA, já que da primeira versão participaram apenas docentes da UEL e do IFPR. Análises iniciais apontam que essa iniciativa tem potencial para fomentar ações conjuntas com outras áreas disciplinares. A participação de vários docentes do IFPR nesta oficina (como colaboradores) estimulou a criação de um grupo de estudos, o qual passamos a descrever a seguir.

Esta ação foi direcionada a um grupo de docentes de línguas do IFPR que demonstrou interesse em integrar as ações propostas pelo LILA. Assim, como pode ser observado no Quadro 09, os objetivos se voltam à necessidade de reflexão conjunta sobre os fundamentos dos letramentos acadêmicos e sobre os tipos de ações que seriam mais adequadas à instituição.

Quadro 9
Síntese das informações relativas ao grupo de estudos com docentes do IFPR

Como resultado das discussões realizadas em 2020, o grupo realizou um evento/convite a outros docentes da instituição que aconteceu em fevereiro de 2021. O projeto foi apresentado a professores do IFPR com a extensão do convite aos docentes para a participação do LILA. Atualmente o laboratório conta com atuação de docentes de sete campi do IFPR. Tendo em vista nossa proposta coletiva e colaborativa, o estatuto interinstitucional se deu pela tramitação da proposta do projeto LILA em diferentes IES paranaenses. No Quadro 10, apresentamos algumas ações desenvolvidas para que tal rede pudesse se constituir.

Quadro 10
Síntese das informações relativas à expansão da rede LILA

Como comprovado pelos objetivos no Quadro 10, essa ação almeja o fortalecimento da rede LILA no Paraná e acontece de forma contínua desde o início de 2020, com o intuito de implantar o laboratório em todas as instituições públicas do estado, fortalecendo uma rede de ações conjuntas, trocas de experiências e pesquisas colaborativas. Com a integração ao projeto, o novo participante é inserido nas reuniões mensais do grupo de modo a planejar, implementar e avaliar novas ações LILA.

Em várias das instituições participantes, o LILA encontra-se em fase de implantação, já que a adesão foi acontecendo gradualmente ao longo de 2020. Apesar dessas diferentes fases, a rede conta com encontros regulares, com formação de grupos de trabalho para desenvolvimento de ações de interesse coletivo, como também reuniões locais para viabilização de ações para demandas específicas. Há muito a ser feito e a rede colaborativa mostra potencial para aumentar a possibilidade de realização de ações em prol dos letramentos acadêmico-científicos.

Por sua natureza calcada no tripé Ensino - Pesquisa - Extensão, além das atividades relativas a eventos e cursos, o LILA também é espaço para pesquisa em todos os níveis formativos, desde a Iniciação Científica até estágios de Pós-doutoramento. Passamos à exposição da quantidade de pesquisas concluídas e em andamento realizadas no âmbito do projeto Ações de didatizações de gênero em prol de letramentos acadêmicos e relacionadas às ações do LILA, por meio do Quadro 11.

Quadro 11
Quantitativo de pesquisas

O Quadro 11 expõe as pesquisas realizadas ou em andamento na rede LILA. De modo geral, as pesquisas se concentram em: planejar atividades para o LILA, analisar atividades realizadas, ou ainda, aprofundar estudos de algum aspecto específico relacionado aos letramentos acadêmicos. Os temas englobam divulgação científica para educação básica; caracterização de gêneros nas diferentes culturas disciplinares; construção de rubricas18 15 Escala de critérios apropriados à avaliação de cada gênero de texto e que podem ajudar a aproximar as expectativas de docentes e discentes em relação a tarefas de produção e compreensão escrita. ; e percepções sobre letramentos acadêmicos dos diferentes membros das comunidades universitárias.

Para sintetizar, as primeiras ações realizadas revelam preocupação com a necessidade de (des)construção de percepções de docentes sobre os letramentos acadêmicos e com a formação de uma rede colaborativa. Para o primeiro ponto, as atividades buscaram sensibilizar os participantes de modo a levá-los a reflexões acerca de aspectos ideológicos e compreensão situada de linguagem na observação das relações de poder e identidade (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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) intrínsecas ao ensino de leitura e escrita na academia, como na oficina para docentes de Ciências Biológicas. Para a segunda preocupação, três iniciativas contribuíram para o fortalecimento da rede: i) evento ROCA, com relatos de experiência que evocaram um sentimento de pertencimento a uma comunidade discursiva; ii) grupo de estudos LILA - IFPR, com a identificação de objetivos e demandas comuns; iii) reuniões do LILA geral, com planejamento de ações coletivas e colaborativas. A premência dessas primeiras ações é corroborada pelos resultados das análises das percepções dos gestores que revelam a pequena quantidade de menções atribuídas ao modelo de Letramentos Acadêmicos e a predominância de apontamentos para os modelos de Habilidades de Estudo ou de Socialização Acadêmica, como explicitado na seção anterior (Lea & Street, 2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
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).

Ainda com relação a ROCA, é importante ressaltar que, dos relatos sobre avanços e percalços pelos quais passou ou passa cada laboratório em suas trajetórias, emergem empatia e inspiração nos palestrantes, mediadores e público que participam ativamente nas discussões propiciadas nas rodas de conversa. Essa tônica do evento vem provocando reflexões sobre ações em nível nacional, pelo contato entre laboratórios localizados em várias instituições brasileiras. Há o fortalecimento de uma comunidade discursiva com o ato de compartilhar demandas comuns de diversas universidades em prol de letramentos acadêmicos, fomentando o engajamento nessa rede. Esse movimento parece engendrar transformações de forma inédita em nosso país.

Considerações finais

Cotidianamente, as considerações a respeito das dificuldades apresentadas por ingressantes no Ensino Superior com as práticas de letramentos deles requeridas são reiteradas. De um lado, professores e gestores argumentam sobre as implicações que possíveis lacunas da Educação Básica geram na academia. De outro, estudantes se veem impossibilitados em cumprir as expectativas que lhes são colocadas. O resultado dessa equação é, quase sempre, um discurso excludente, situado na culpabilização dos envolvidos, embora estejamos percebendo, de modo contundente, uma ampliação de iniciativas promovidas por pesquisadores de todo o país em favor dos letramentos acadêmicos.

Motivadas por este panorama de expansão e nos somando a esta rede, neste trabalho, buscamos mostrar como as primeiras ações realizadas no LILA refletem as atividades de pesquisa do projeto que foi sua base, descortinando conflitos em âmbito institucional, e como o laboratório buscou concretizar seu projeto de Letramentos Acadêmicos, em suas primeiras ações. Apesar de o número de respondentes ter ficado aquém do esperado, indicando uma possível lacuna no acesso a outras percepções que não as interpretadas, a recorrência das menções em cada um dos modelos de letramentos acadêmicos permitiu-nos traçar as primeiras propostas do laboratório. Os eventos de formação, pensados para atender o movimento cíclico de planejamento, implementação e avaliação, ao mesmo tempo, nascem de pesquisa e podem ser aprimorados após a avaliação, feita na pesquisa. É um ciclo que tem potencial para fomentar eventos e/ou materiais de formação de forma colaborativa entre os participantes do LILA nas diferentes instituições.

Outra questão fulcral é o trabalho em rede. As atividades iniciais em colaboração têm se mostrado exequíveis para o LILA. Um movimento maior em direção a uma rede nacional de laboratórios também desponta como ideia cara à comunidade envolvida na ROCA. Essas redes têm seu contato potencializado por meio das tecnologias que se tornaram de uso cotidiano por conta do distanciamento físico primordial nesse período de pandemia. De modo reiterado, temos ouvido que as demandas por formação e por pesquisas são inúmeras nas mais diversas instituições, sendo latente a percepção de que os laboratórios de modo isolado não conseguirão transformar suas realidades institucionais. Por isso tudo, defendemos que toda forma de trabalho colaborativo é válida e deve ser buscada.

É importante enfatizar que a contribuição desse trabalho está na exposição de como o mapeamento de ações e demandas de gestores de cursos de graduação foi essencial para a elaboração de propostas ancoradas nos contextos acadêmicos que constituíram o campo de pesquisa. Partindo do entendimento de que letramentos são sempre situados, ilustramos uma das formas usadas para investigar as necessidades contextuais. Outras pesquisas de mesma natureza, referentes à análise de questionários direcionados a estudantes de graduação e pós-graduação e à análise de ementas dos cursos de graduação, estão em andamento concomitantemente a esta, tendo em vista o caráter coletivo e colaborativo nas pesquisas no âmbito do LILA e poderão completar o quadro investigativo que alimenta a proposição de nossas atividades.

No que diz respeito a encaminhamentos futuros, antevemos um aumento considerável nas pesquisas do grupo, uma vez que cada nova proposta deflagra o reinício do fluxo metodológico de planejamento, implementação e avaliação. A tendência é que das formações dirigidas a docentes, nesse primeiro momento, emanem formações dirigidas a estudantes, mais adequadas às suas necessidades. Os docentes das várias áreas são tomados como colaboradores no processo de letramento acadêmico dos estudantes por entendermos que essa articulação apresenta potencial de transformar as percepções instrumentalizadoras dos usos de linguagem em práticas de reflexão e tomada de consciência sobre o fazer científico para todos os membros que partilham do espaço universitário.

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  • Tognato, M; I. R. et al. (2021). Demandas dos cursos de pós-graduação em relação aos Letramentos acadêmicos. Revista Signum (UEL), 24(1), 149-161. http://dx.doi.org/10.5433/2237-4876.2021v24n1p149
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  • Vóvio, C. et al. (2010). Letramentos: rupturas, deslocamentos e repercussões de pesquisas em linguística aplicada. Campinas, SP: Mercado de Letras.
  • Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica México: UAM, Unidad Cuajimalpa.
  • 1
    A referida pesquisa está relacionada com o projeto Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos, financiado por meio da Chamada CNPq Nº 09/2018, Processo: 310413 / 2018- 4, com bolsa de produtividade em pesquisa para sua coordenadora, Vera Lúcia Lopes Cristovão.
  • 3
    Para fins de delimitação terminológica, utilizamos, neste artigo: a) letramentos acadêmicos (letras minúsculas) para o campo de estudos dos letramentos em contexto acadêmico; b) Letramentos Acadêmicos para o terceiro modelo descrito por Lea e Street (2014Lea, M., & Street, B. (2014). O modelo de “letramentos acadêmicos”: teoria e aplicações. Tradução de F. Komesu e A. Fischer. Filologia e Linguística Portuguesa, 16(2), 477-493. https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v16i2p477-493
    https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419....
    ).
  • 4
    Atualmente, o Instituto Federal do Paraná (IFPR) também faz parte do projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”, não sendo contemplado como campo de pesquisa na Fase 01 por sua entrada ter ocorrido posteriormente à geração dos dados.
  • 5
    O LILA - Laboratório Integrado de Letramentos Acadêmico-científicos é um projeto colaborativo e interinstitucional, decorrente dos resultados das pesquisas empreendidas no projeto “Ações de didatização de gêneros em prol de letramentos acadêmicos”. O laboratório tem como objetivo principal conceber e ofertar ações em prol dos letramentos acadêmico-científicos para as comunidades interna e externas das instituições envolvidas. Atualmente, participam do projeto seis instituições públicas estaduais e quatro federais, em todo o estado do Paraná.
  • 6
    Con el fin de entender la naturaleza específica de las prácticas discursivas que tienen lugar en la educación superior, y particularmente las 20 Literacidad académica dificultades que experimentan los estudiantes con las demandas de lectura y escritura en la universidad. (Zamora, 2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa., p.19).
  • 7
    1. Escritura académica: apropiación de la escritura como medio fundamental para construir y comunicar el conocimiento académico, de acuerdo con las formas y propósitos particulares de las disciplinas y comunidades académicas. 2. Comportamientos letrados: desarrollar la capacidad de dar explicaciones ordenadas, interpretaciones fundamentadas, argumentos lógicos y análisis abstractos. 3. Pensamiento crítico: desarrollar la capacidad para evaluar críticamente las ideas propias y ajenas, de plantear preguntas vitales, de identificar y resolver problemas, de utilizar y criticar fuentes, de elaborar ideas y argumentos, y de comunicar esas ideas en forma clara y efectiva. (Zamora, 2016Zamora, G. H. (2016). Literacidad académica. México: UAM, Unidad Cuajimalpa., p.20).
  • 8
    An academic literacies approach views the institutions in which academic practices take place as constituted in, and as sites of, discourse and power. It sees the literacy demands of the curriculum as involving a variety of communicative practices, including genres, fields, and disciplines. (Street, 2010Street, B. (2010). ‘Academic literacies approaches to genre?’. Revista Brasileira de Linguística Aplicada, 10(2), 347-361. https://doi.org/10.1590/S1984-63982010000200004
    https://doi.org/10.1590/S1984-6398201000...
    , p. 349).
  • 9
    O convite aos participantes incluiu o envio do projeto de pesquisa e de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com o qual os participantes consentiram ao preencherem o formulário. O projeto de pesquisa, assim como os instrumentos de geração de dados e o TCLE foram aprovados pelo Comitê de Ética (CAAE 09695319.4.1001.5231).
  • 10
    Cristovão et al., no preloCristovão, V. L. L. et al. (no prelo). Integrated Laboratory of Scientific-academic Literacies - LILA’: facing challenges in language education. Revista Letras (UFSM). [s.l.]: [s.n.].; Cristovão & Vignoli, 2020Cristovão, V. L. L. & Vignoli, J. C. S. (2020). Ações de Didatização de Gêneros em prol de Letramentos Acadêmicos: práticas e demandas. Horizontes, 38(1), 020012. https://doi.org/10.24933/horizontes.v38i1.869.
    https://doi.org/10.24933/horizontes.v38i...
    ; Tognato et al., 2021Tognato, M; I. R. et al. (2021). Demandas dos cursos de pós-graduação em relação aos Letramentos acadêmicos. Revista Signum (UEL), 24(1), 149-161. http://dx.doi.org/10.5433/2237-4876.2021v24n1p149.
    http://dx.doi.org/10.5433/2237-4876.2021...
    .
  • 11
    Os dados referentes às discussões e sugestões dos gestores estão em processo de análise por pesquisadores do LILA e serão divulgados futuramente.
  • 12
  • 13
    As primeiras ações LILA tiveram que levar em conta as dificuldades impostas pela pandemia de Covid 19: o fechamento das instituições, o atraso na implementação de ações inicialmente planejadas para serem presenciais, o adiamento do edital de Iniciação Científica (IC) de forma voluntária para novembro de 2020, na UEL. Essas questões afetaram negativamente as oficinas para estudantes que foram reagendadas para 2021.
  • 14
    Esse evento integra uma pesquisa de pós-doutorado da autora Marlene Aparecida Ferrarini-Bigareli, sob supervisão da Profa. Dra. Vera Lúcia Lopes Cristovão, e está em análise para futura divulgação de seus resultados.
  • 15
    Escala de critérios apropriados à avaliação de cada gênero de texto e que podem ajudar a aproximar as expectativas de docentes e discentes em relação a tarefas de produção e compreensão escrita.
  • 2
    Artigo relacionado ao projeto de pós-doutoramento Letramentos acadêmicos no ensino superior público paranaense: a graduação da Unespar em foco, sob supervisão da Profa. Dra. Vera Lucia Lopes Cristovão, concluído em 2020.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Dez 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    15 Mar 2021
  • Aceito
    30 Ago 2021
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