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O sistema discursivo de Periodicidade em texto argumentativo

Discursive system of Periodicity in an argumentative text

RESUMO

O sistema discursivo de Periodicidade proposto por Martin (1992)Martin, J.R. (1992). English Text: system and structure. John Benjamins. e Martin e Rose (2007)Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum. para a análise do fluxo discursivo em textos é fundamentado na Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday 1967Halliday, M.A.K. (1967). Notes on transitivity and theme in English Part 1. Journal of Linguistics, 3(1), 37-81. http://www.jstor.org/stable/4174950 (acesso 22 de agosto, 2022).
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, 1985Halliday, M.A.K. (1985). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge., 1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ; Halliday & Matthiessen 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold., 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ), mais precisamente nos conceitos hallidayanos de Tema e de Informação Nova (Novo), além dos conceitos de progressão temática e de hiperema (Daneš 1974Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter.) e de método de desenvolvimento textual e ponto (Fries 1981Fries, P.H. (1981). On the status of theme in English: Arguments from discourse. Forum linguisticum, 6, 1-38. ; 1995Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins.). Neste artigo, analisamos como ocorre o fluxo de informação em um texto argumentativo, verificando a relação dos Temas em diferentes níveis (hiperTemas e macroTemas) com o método de desenvolvimento e sua relação com o gênero de texto exposição de um ponto de vista. Também averiguamos a relação dos Novos oracionais com o macroNovo, o qual foca na expansão dos significados ideacionais em torno do campo do texto e coincide com a etapa de Reiteração da tese. Constatamos, no texto analisado, um método de desenvolvimento simples, com uma hierarquia de periodicidade em que unidades menores do discurso se estruturam dentro de unidades maiores.

Palavras-chave:
Linguística Sistêmico-Funcional; Periodicidade; método de desenvolvimento textual; texto argumentativo

ABSTRACT

The discursive system of Periodicity, proposed by Martin (1992)Martin, J.R. (1992). Theme, method of development and existentiality: The price of reply. Occasional Papers in Systemic Linguistics, 6, 147-83. and by Martin and Rose (2007)Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum. towards the analysis of discourse flow is based upon systemic functional linguistics (Halliday, 1967Halliday, M.A.K. (1967). Notes on transitivity and theme in English Part 2. Journal of Linguistics, 3(2), 199-244. https://www.jstor.org/stable/4174965 (acesso 22 de agosto, 2022).
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, 1985Halliday, M.A.K. (1985). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge.; Halliday; Matthiessen 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold., 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ). More precisely upon Hallidayan concepts of Theme and New information (New), in addition to concepts of thematic progression and hyperTheme (Daneš 1974Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter.) as well as texts’ methods of development and point (Fries 1981Fries, P.H. (1981). On the status of theme in English: Arguments from discourse. Forum linguisticum, 6, 1-38. ; 1995Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins.). In this study we analyze how information flows in an argumentative text to verify the relationship between different levels Themes (hyperTheme and macroThemes) and the method of development as well as their relationship with text genre and the expression of a point of view. We also looked at the relationship between New clauses and macroTheme, which focuses on the expansion of ideational meaning around the field of the text and coincides with the Reiteration of the thesis stage. Results show a simple method of development marked by a Periodicity hierarchy in which smaller discourse units are structured within greater units.

Keywords:
Systemic Functional Linguistics; Periodicity; method of development; argumentative text

1. Introdução

Na teoria sistêmico-funcional, Halliday (1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ) define linguagem como um sistema de escolhas para a construção de significados e para a interação social entre interlocutores reais. De acordo com o autor, a linguagem se organiza em torno de um propósito, desempenhando funções em contextos sociais. Em diversas situações diárias, usa-se a linguagem com o propósito de influenciar, compartilhar e modificar opiniões do outro, o que indica a importância de textos argumentativos nas mais diversas práticas sociais, como artigos de opinião, editoriais, cartas de leitor, provas em processos seletivos, processos judiciais, dentre tantas outras.

Na teoria hallidayana, a linguagem é um sistema estratificado, como camadas, em que os significados podem ser descritos e explicados. Os estratos são os seguintes: expressão (fonológico e grafológico), conteúdo (léxico-gramática e semântica) e contexto (de situação e de cultura) (Halliday & Matthiessen, 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ).

No estrato da semântica, a linguagem desempenha metafunções, dentre as quais está a metafunção textual, foco deste artigo, a qual possibilita a organização dos significados das demais metafunções (a ideacional e a interpessoal) no discurso. No estrato léxico-gramatical, os significados textuais são realizados pela estrutura temática.

Estudos sobre realizações léxico-gramaticais da metafunção textual em língua portuguesa, na perspectiva sistêmico-funcional, embora ainda pouco numerosos, trouxeram contribuições para a compreensão da organização dos significados em textos de diferentes contextos. A título de exemplo, Fuzer (2002Fuzer, C. (2002). As regularidades e as possibilidades de progressão temática nos textos de popularização científica. [Dissertação de mestrado]. Universidade Federal de Santa Maria.) mostrou, por meio da descrição e análise da estrutura temática, como as informações são distribuídas em textos de popularização da ciência. Outro estudo é o de Olioni (2010aOlioni, R.C. (2010a). Tema e N-Rema: a construção do fluxo de informação em textos narrativos sob uma perspectiva sistêmico-funcional. [Tese de doutorado]. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/1964 (acesso 22 de agosto, 2022).
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) que analisou como a narrativa em notícias é construída em relação ao mapeamento dos Temas e dos Novos oracionais, possibilitando a configuração de um esquema de texto que contém um ponto de vista do locutor somado às informações mais importantes a serem assimiladas pelo leitor.

Ninomiya (2012Ninomiya, L.R.S. (2012). Estruturação temática na tradução de textos literários da língua japonesa para a língua portuguesa: um enfoque sistêmico-funcional. [Tese de doutorado]. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. https://repositorio.pucsp.br/jspui/handle/handle/13560 (acesso 22 de agosto, 2022).
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), em sua análise da estrutura temática em três contos de literatura japonesa e suas traduções para o português, apontou que a tipologia linguística, algumas vezes, interfere nas escolhas para realização do Tema. Fuzer e Barbara (2014Fuzer, C., & Barbara, L. (2014). Estratégias de progressão temática com Temas tópicos não marcados em artigos científicos da Engenharia Civil. Revista Estudos Linguísticos 22(2), 113-142. http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.22.2.113-141
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) identificaram padrões de usos de Temas Tópicos não marcados em artigos acadêmicos da área de engenharia civil e sistematizaram estratégias de progressão temática na organização das informações, nesse contexto. Sippert (2017Sippert, L. (2017). Análise da progressão textual e da estrutura temática em resenhas de alunos do ensino superior: um olhar sistêmico-funcional aliado à perspectiva sociointeracionista. [Tese de doutorado]. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/156422 (acesso 22 de agosto, 2022).
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) analisou a progressão textual e a estrutura temática em resenhas produzidas por alunos no ensino superior, apresentando, como um dos resultados, que os padrões de estrutura temática estão diretamente relacionados à composição dos gêneros.

No estrato da semântica, tendo por base os princípios da teoria de Halliday (1978Halliday, M.A.K. (1978). Language as social semiotic: The social interpretation of language and meaning. Arnold., 1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ), Martin (1992Martin, J.R. (1992). Theme, method of development and existentiality: The price of reply. Occasional Papers in Systemic Linguistics, 6, 147-83. ) e Martin e Rose (2007)Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum. associam à metafunção textual da linguagem os sistemas semântico-discursivos de Identificação, que diz respeito ao rastreamento de pessoas e coisas no discurso, e de Periodicidade6 6 Por convenção da teoria descrita por Martin e Rose (2007), os nomes dos sistemas discursivos são grafados em versalete e letra inicial maiúscula. , que auxilia na compreensão de como os significados são organizados textualmente. Especificamente sobre o sistema de Periodicidade, foco deste artigo, dentre os poucos trabalhos que promovem análises em profundidade com base nesse sistema no contexto brasileiro, está o estudo de Rossi (2019Rossi, A.M. (2019). Análise de instanciações de gêneros de texto da família dos argumentos na abordagem sistêmico-funcional em livros didáticos de língua portuguesa para o ensino médio. [Tese de doutorado]. Universidade Federal de Santa Maria. https://repositorio.ufsm.br/handle/1/22797 (acesso 22 de agosto, 2022).
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), que indicou um ritmo previsível nos textos analisados e apontou que as ondas de informação fazem correlação com as etapas do gênero exposição da família dos Argumentos, conforme a abordagem de gênero da Escola de Sydney (Martin & Rose, 2008; Rose & Martin, 2012).

Em um cenário ainda incipiente sobre o sistema discursivo de Periodicidade em língua portuguesa, o presente trabalho busca ampliar e aprofundar o estudo sobre esse sistema no contexto brasileiro e suscitar discussões sobre seu funcionamento em um texto que compartilha o propósito de expor um ponto de vista. Mais precisamente, o presente estudo tem como objetivo analisar, com base no sistema de Periodicidade, como se organiza o fluxo de informação de um texto argumentativo.

Tendo em vista esse objetivo, nas seções a seguir, apresentamos nossas escolhas metodológicas, as concepções teóricas que fundamentam nossas análises e a sistematização dos resultados obtidos. Por fim, expomos algumas considerações que julgamos relevantes.

2. Metodologia

Este estudo é um desdobramento e aprofundamento das análises dos significados textuais em um dos textos do corpus da pesquisa de Rossi (2019Rossi, A.M. (2019). Análise de instanciações de gêneros de texto da família dos argumentos na abordagem sistêmico-funcional em livros didáticos de língua portuguesa para o ensino médio. [Tese de doutorado]. Universidade Federal de Santa Maria. https://repositorio.ufsm.br/handle/1/22797 (acesso 22 de agosto, 2022).
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). Como referência para exemplificação de componentes da metafunção textual e análise do sistema de Periodicidade, foi selecionado o texto coletado da seção Produção de textos do capítulo 8, no volume 1 da coleção Português e Linguagens, de Cereja e Magalhães (2013Cereja, W.R., & Magalhães, C. T. (2013). Português: linguagens. 9. ed. Saraiva.)7 7 A coleção foi a mais distribuída às escolas públicas brasileiras no triênio 2015-2017, conforme informação do PNLD 2015). . Originalmente, esse texto, que tem como título Narcisos do Século XXI (em anexo), fora produzido por um candidato ao ingresso no ensino superior no contexto do processo seletivo da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST), vinculada à Universidade de São Paulo (USP). Na seção do livro didático, o texto é antecedido pela apresentação da proposta da prova de redação do vestibular de 2010 (cujo assunto proposto para redação era um mundo formado por imagens); por isso, não há identificação do autor, que é referido como candidato do vestibular. Na sequência, há seis exercícios para reconhecimento de tema, tese e argumentos. Os autores da coleção informam que o texto obteve a nota máxima naquela edição do vestibular.

A perspectiva de gênero de texto adotada é da Escola de Sydney, segundo a qual gênero é processo social organizado em etapas para alcançar um propósito específico (Martin & Rose, 2008). O texto em análise tem potencial para instanciar o gênero exposição de um ponto de vista, da família dos Argumentos, que se constitui, tipicamente, das etapas Tese ^ Argumentos ^ Reiteração da tese.

Para a análise dos significados textuais e do fluxo de informações no referido texto, são adotados os seguintes procedimentos: (a) mapeamento dos Temas e dos Remas das orações e dos complexos oracionais; (b) identificação dos Temas em níveis maiores no texto (hiperTemas e macroTemas) para o estabelecimento de relações com um método de desenvolvimento do texto; (c) identificação de Novos oracionais, relacionando-os ao ponto do parágrafo, parte que contém o foco de informação; (d) identificação do macroNovo, e (e) estabelecimento de relações entre as fases do discurso (macroTemas, hiperTemas e macroNovo) com as etapas do gênero de texto instanciado.

3. Princípios básicos da Linguística Sistêmico-Funcional

Para descrever e explicar o fluxo das informações no discurso, Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum.), a partir dos estudos de Martin (1992)Martin, J.R. (1992). Theme, method of development and existentiality: The price of reply. Occasional Papers in Systemic Linguistics, 6, 147-83. , propõem, entre os sistemas discursivos8 8 Sobre os sistemas de Avaliatividade, Negociação, Identificação, Ideação e Conjunção, ver Rose e Martin (2007). , o de Periodicidade, tendo como base os princípios da Linguística Sistêmico-Funcional, teoria segundo a qual a linguagem é um sistema sociossemiótico por meio do qual as pessoas representam suas experiências, interagem e agem sobre os outros e sobre o mundo (Halliday & Matthiessen, 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ).

As escolhas linguísticas, não necessariamente conscientes, ocorrem dentro de um sistema de opções - a própria língua - em dado contexto (Halliday, 1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ). Essas escolhas são possíveis em relação paradigmática - “o que poderia ser no lugar de” (Halliday & Matthiessen, 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold., p. 22) - e sintagmática - “o que vai junto com” (Halliday & Matthiessen, 2004, p. 22Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold.).

Assim, a língua é “um sistema semiótico complexo” (Halliday & Matthiessen, 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold., p. 24), e a gramática é uma rede de escolhas significativas e inter-relacionadas em estratos: a fonologia e grafologia realizam a léxico-gramática, que, por sua vez, realiza a semântica, constituindo expressão e conteúdo, os quais se realizam sempre em contexto.

Os estratos do conteúdo se organizam em sistemas, e cada sistema é determinado pela escala de níveis: oração, grupo, palavra, morfema, em seus respectivos complexos associados. No estrato da léxico-gramática, a oração é a unidade central, vista como uma unidade plurifuncional, cujos componentes desempenham funções que realizam três metafunções da linguagem, definidas por Halliday e Matthiessen (2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold., 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ) como ideacional, interpessoal e textual, situadas no estrato da semântica. Cada uma dessas metafunções se relaciona com uma variável do contexto: campo, relações e modo, respectivamente.

Os significados ideacionais constroem representações de experiências que o falante/escritor tem do mundo externo e interno à sua consciência e realizam-se, na léxico-gramática, pelo sistema de transitividade. Os significados interpessoais dizem respeito às trocas entre os participantes na interação, que desempenham papéis sociais em um contexto específico. Esses significados realizam-se léxico-gramaticalmente pelos sistemas de MODO, modalidade e polaridade. Os significados textuais, por sua vez, organizam significados ideacionais e interpessoais e realizam-se léxico-gramaticalmente pelo sistema de estrutura temática (Halliday & Matthiessen, 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold.)9 9 Sobre a descrição dos sistemas léxico-gramaticais que realizam as metafunções em língua portuguesa, ver Fuzer e Cabral (2014). .

As metafunções da linguagem relacionam-se às variáveis do contexto de situação descritas por Halliday (1989Halliday, M.A.K. (1989). Part I. In M.A.K. Halliday & R. Hasan (Eds.), Language, context, and text: Aspects of language in a social-semiotic perspective. Oxford University Press. ), a partir da teoria sistêmico-estrutural de Firth e no contextualismo de Malinowski. A variável campo se refere à natureza da prática social que está sendo realizada, ao que está acontecendo, ao assunto e às atividades em que os participantes estão envolvidos; a variável relações se refere à natureza, aos papéis sociais e ao status dos participantes envolvidos na interação; e a variável modo, por sua vez, refere-se à natureza do meio de transmissão e à organização da mensagem, articulando os significados ideacionais e interpessoais. Tendo em vista o objetivo deste trabalho, apresentamos uma síntese dos pressupostos sobre a metafunção textual na seção 4, à qual se vincula o sistema discursivo de Periodicidade, apresentado na seção 5.

4. Metafunção textual: os conceitos de Tema e de Informação Nova

A metafunção textual, que sistematiza os significados ideacionais e interpessoais, está relacionada à construção do texto como forma de interação, organizando o fluxo de informação, ao estabelecer coesão e progressão no modo como o texto se movimenta, por meio de seus dois sistemas distintos, simultâneos e complementares: a estrutura temática, com suas funções de Tema e de Rema, necessariamente nesta ordem; e a estrutura de informação, referente à Informação Dada (Dado) e à Informação Nova (Novo) (Halliday & Mathiessen, 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ).

Com base na metafunção textual, os significados são vistos pelo viés do ouvinte/leitor e do falante/escritor. Para o falante/escritor, o início da oração é o ponto de partida para a organização da mensagem a ser desenvolvida no restante da oração, ao passo que, para o ouvinte/leitor, o início da oração geralmente é informação compartilhada, e o restante constitui nova informação, que passa a ser revelada ao interlocutor.

Dessa forma, a oração organizada como mensagem possui um elemento proeminente com status especial, o tema, considerado o ponto de partida escolhido pelo falante/escritor para iniciar a mensagem, orientando o ouvinte/leitor sobre a informação que está por vir, a qual vai ser desenvolvida em outra parte da oração, o Rema - a parte para onde a oração se move depois do ponto de partida. Conforme Halliday (1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. , p. 67), “o Tema fornece o meio para o restante da oração, o Rema”10 10 No original: “The Theme provides the environment for the remainder of the message, the Rheme”. . O Tema apresenta conteúdo experiencial, sendo identificado, do ponto de vista léxico-gramatical, como tudo no início da oração até o primeiro constituinte com função no sistema de transitividade. Esse componente desempenha um dos significados experienciais destacados em itálico nos exemplos a seguir: um participante (Exemplo 1), um processo (Exemplo 2)11 11 O Exemplo 2 é um refraseamento. ou uma circunstância (Exemplo 3). Os Remas não estão destacados12 12 Exemplos 1 e 3 foram extraídos do texto selecionado para análise (em anexo). .

  • (1) Platão (Tema) também discutia isso (Rema).

  • (2) Priorize (Tema) o seu mundo interior (Rema).

  • (3) Hoje (Tema) essa preocupação pode ser vista nos jovens, figurativizada na busca pela beleza (Rema).

No caso de hipotaxe, quando a oração dependente preceder a oração dominante (ordem marcada), há duas possibilidades de análise, conforme Halliday (1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ): (a) cada oração pode ser vista isoladamente, com seus respectivos Temas e Remas; e (b) o Tema do complexo oracional pode ser identificado pela oração dependente, enquanto o Rema pode ser representado por toda a oração dominante, como ilustrado no Exemplo 4.

  • (4) Quando o homem valoriza exacerbadamente sua imagem em detrimento do seu interior (Tema), [ele] pode se tornar obsessivo em busca pela imagem perfeita. 13 13 O Exemplo 4 é um refraseamento.

Em língua portuguesa, há casos em que a função de Tema não está expressa linguisticamente por um constituinte no estrato léxico-gramatical, não correspondendo a nenhuma realização morfológica (Gouveia & Barbara, 2006Gouveia, C., & Barbara, L. (2006). Marcado ou não marcado não é a questão, a questão é: onde está o Tema? In D. Motta-Roth, N.C.A. Barros & M.G. Richter (Eds.), Linguagem, cultura e sociedade. UFSM. ), mas se realiza por uma elipse, como [nós] no Exemplo 5.

  • (5) [Nós] (Tema, representado pela elipse) Podemos acompanhá-la nas milhares de fotos do Orkut que tem Photoshop para tornar a pessoa perfeita, ou no aumento da procura por clínicas de estética e academias, além da grande demanda por produtos de beleza (Rema).

A opção por determinado Tema em detrimento de outro, na elaboração de uma oração, implica modificação do foco oracional, orientando o ouvinte/leitor em relação à mensagem. O que foi exposto pode ser comprovado ao se compararem, para fins de ilustração, os Temas dos exemplos a seguir.

  • (6) A preocupação do homem quanto à sua figura (Tema) existe há séculos.

  • (7) Há séculos, (Tema) existe a preocupação do homem quanto à sua figura (Rema).14 14 O Exemplo 7 é um refraseamento.

No Exemplo 6 (original do texto), o ponto de partida escolhido pelo escritor foi representado pelo constituinte que expressa sobre o que trata a oração, “a preocupação do homem quanto à sua figura”, o que passa a ser desenvolvido no Rema “existe há séculos”. A escolha por esse Tema se justifica na leitura do texto como um todo (quando será percebida a vinculação entre as partes do texto na Seção 5). No refraseamento proposto no Exemplo 7, o ponto de partida escolhido (o Tema), por sua vez, foi a circunstância de tempo “Há séculos”, tendo sido especificado, em posição remática, sobre o que trata a oração: “a preocupação do homem quanto à sua figura”.

A opção do escritor pela construção da oração que ilustra o Exemplo 6 é a mais acertada nesse caso, visto que essa oração pertence ao segundo parágrafo do texto, já tendo sido apresentado sobre o que trata o texto no parágrafo anterior; ocorrendo, portanto, uma reiteração. Dessa forma, a opção do articulista coloca em posição temática algo que coincide com a Informação Dada, já de conhecimento do leitor. Isso vai contribuir com a progressão temática do texto que, conforme Daněs (1974, p. 114)Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter., refere-se à “escolha e ordem dos Temas das orações, sua concatenação mútua e hierarquia”15 15 No original: “(...) the choice and ordering of utterance themes, their mutual concatenation and hierarchy (...)” . O mapeamento de Temas ao longo do texto sob análise, por meio do seu conteúdo experiencial, reitera sobre o que trata este texto.

O Tema hallidayano, portanto, é funcional; tem motivação discursiva. Isso é corroborado por Fries (1995Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins., p. 7), ao afirmar que a noção de progressão temática de Daněs (1974)Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter. se refere aos “modos como os textos desenvolvem as ideias que eles apresentam (...) de onde os Temas vêm - como eles se relacionam a outros Temas e a Remas do texto”16 16 No original: “(...) the ways that texts develop the ideas they present (...) where Themes come from -- how they relate to other Themes and Rhemes of the text”. .

A função de Tema, na metafunção textual, relaciona-se com as funções de participante, processo e circunstância na metafunção ideacional, devido ao material lexical que estas apresentam. Quanto ao conteúdo experiencial identificado em posição temática em cada oração de um parágrafo, o que indica o ponto de partida escolhido pelo locutor para expressar a mensagem na oração, Fries (1983Fries, P.H. (1983). On the status of theme in English: Arguments from discourse. In J. S. Petöfi & E. Sözer (Eds.), Micro and macro connexity of texts (pp. 116-152). Buske Hamburg., p. 135) afirma que “a informação contida dentro dos Temas de todas as orações de um parágrafo cria o método de desenvolvimento daquele parágrafo”17 17 No original: “(...) the information contained within the themes of all of the sentences of a paragraph creates the method of development of that paragraph.” (grifo do autor). O método de desenvolvimento textual se refere, portanto, ao conjunto de Temas de um parágrafo/texto ao apresentar conteúdo experiencial de um determinado campo semântico. Um texto que não apresenta um campo semântico comum nos Temas não apresenta um método de desenvolvimento simples.

Quanto à marcação do Tema, o modo oracional é o critério para identificar se o Tema é marcado ou não marcado. Estabelece-se, aqui, uma relação entre a função de Tema na metafunção textual e as funções de Sujeito, Adjunto Circunstancial, Complemento e Predicador na metafunção interpessoal. No caso das orações declarativas, majoritariamente presentes no texto sob análise, estas possuem Tema não marcado, quando o constituinte que representa o Tema também exerce função interpessoal de sujeito (Halliday & Matthiessen, 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold.), como pode ser observado nos Exemplos 1, 5 e 6. No caso do exemplo 2, “Priorize (Tema) o seu mundo interior (Rema)”, há uma oração imperativa; logo, o Tema é um processo, sendo caracterizado como Tema não marcado.

O Tema marcado, por sua vez, recebe uma proeminência textual e ocorre quando o constituinte que o representa exerce função interpessoal de Adjunto Circunstancial, Complemento ou Predicador, no caso das declarativas. Isso pode ser observado no Exemplo 3, em que o constituinte “hoje”, que exerce a função de Tema na metafunção textual, também exerce a função de Adjunto Circunstancial na metafunção interpessoal.

Até aqui, referimo-nos ao Tema Simples, formado por um único componente que exerce função no sistema de transitividade e é identificado em posição inicial na oração, o chamado Tema Tópico, que é obrigatório, esteja expresso linguisticamente ou elíptico. Há também o Tema Múltiplo, caracterizado pela presença de dois ou três Temas na oração, sendo o Tema Tópico obrigatório. Pode haver um ou dois Temas facultativos que precedem o Tema Tópico: o Tema Textual, que conecta com o texto precedente os significados experienciais expressos no Tema Tópico (Exemplo 8); e/ou o Tema Interpessoal, que pode indicar o tipo de posição assumida pelo locutor (Exemplo 9). O Tema Textual pode anteceder o Tema Interpessoal ou vice-versa (Exemplo 10)18 18 O Exemplo 10 é um refraseamento. ; o importante é que um e/ou outro venha(m) necessariamente antes do Tema Tópico, quando estiver(em) presente(s) na oração.

  • (8) No entanto (Tema Textual), o aumento da importância da imagem na vida humana (Tema Tópico) ocorreu principalmente a partir do século XX (Rema).

  • (9) Gradativamente (Tema Interpessoal), o homem (Tema Tópico) tem optado por priorizar o exterior ao interior (Rema).

  • (10) Assim (Tema Textual), gradativamente (Tema Interpessoal), o homem (Tema Tópico) tem optado por priorizar o exterior ao interior (Rema).

Além da Estrutura Temática, composta pelas funções de Tema e Rema, conceituadas e exemplificadas anteriormente, a metafunção textual apresenta outro sistema: a estrutura ou unidade de informação, formada por Informação Dada (Dado) e Informação Nova (Novo) (Halliday & Mathiessen, 2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold.).

A Informação Dada é aquela de conhecimento compartilhado entre locutor e interlocutor, apresentada geralmente pelo falante/escritor no início da oração a fim de partir de algo já conhecido do ouvinte/leitor, orientando-o em relação ao que vai ser desenvolvido na mensagem. É informação opcional, não necessariamente expressa na oração, mas que pode ser recuperada no contexto linguístico precedente ou estar inserida no contexto de situação; em ambos os casos, é recuperável para o interlocutor.

Quanto à Informação Nova, obrigatória na oração, esta é desconhecida do interlocutor, razão pela qual deve ser apresentada a este pelo falante/escritor, tendo um valor maior e não sendo recuperável no contexto; constitui o foco da informação. De acordo com Fries (1995Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins.), a informação de maior valor na oração, aquela que deve ser retida pelo interlocutor, constituindo o ponto da oração, está localizada no final. Ainda conforme Fries (1995, p. 319)Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins., “a informação que constitui o ponto de um texto ou segmento do texto é regularmente encontrada dentro dos Remas”19 19 No original: “(...) information which is perceived to constitute the point of the text or text segment is regularly found within the Rhemes (...)”. . Assim, o conjunto de informações novas ao longo das orações constitui o ponto de um parágrafo/texto.

A Informação Dada geralmente antecede a Informação Nova na oração, porque é comum o locutor partir daquilo que já é de conhecimento do interlocutor para, a partir daí, trazer o elemento novo. Geralmente, há relação entre Tema e Informação Dada e Rema e Informação Nova, como ilustra o Exemplo 11.

  • (11) A preocupação do homem quanto à sua figura (Tema coincide com Informação Dada, pois retoma ideia do período anterior) existe há séculos (Rema coincide com Informação Nova, pois esta é introduzida pelo locutor neste período).

Nesse exemplo, o Tema Tópico coincide com Informação Dada, pois a ideia expressa nessa oração já havia sido apresentada, no texto, de outras formas - “importância da imagem na vida humana” e “o homem tem optado por priorizar o exterior ao interior”. A Informação Nova se encontra no Rema, não tendo aparecido ainda no texto, anunciando ao leitor que a preocupação exacerbada com a aparência não é novidade do novo século, mas está presente nas sociedades “há séculos”.

Há casos, porém, em que a oração já inicia por Informação Nova, coincidindo com o Tema Tópico. Isso ocorre geralmente com Temas marcados, em que o locutor utiliza como constituinte um sintagma ou grupo que não desempenha a função interpessoal de Sujeito, mas de Adjunto Circunstancial, Complemento ou Predicador. O Exemplo 3 é um caso desse tipo, em que o termo “hoje”, em posição temática, exerce a função interpessoal de Adjunto Circunstancial, demarcando o tempo - a contemporaneidade.

O uso de “hoje” em posição temática, coincidindo com Informação Nova, serve para fazer contraste com o tempo relatado no período anterior - período “pós primeira guerra mundial” - em que a felicidade era representada pelo American Way of Life, ou seja, “ter casa própria, carros e filhos”. O contraste, aqui, por intermédio de “hoje”, revela que a mesma preocupação com o externo se apresenta, na atualidade, de forma distinta, isto é, por meio da “busca pela beleza”.

Estrutura temática e estrutura de informação são, portanto, sistemas diferentes, mas complementares. O Tema geralmente coincide com Informação Dada, aquela de conhecimento compartilhado, o que facilita o falante/escritor a orientar o ouvinte/leitor no direcionamento da mensagem. O conjunto de Temas mapeados ao longo de um parágrafo/texto representa a progressão temática deste, indicando, por meio do conteúdo experiencial dos Temas oracionais, o que constitui o método de desenvolvimento do texto, informação relevante sobre o referido texto.

Na relação com o Tema da oração, o Rema geralmente contém Informação Nova, aquela de maior valor para o ouvinte/leitor. A parte que contém a Informação Nova no Rema é o ponto da oração; o conjunto de novas informações ao longo do parágrafo constitui o ponto deste.

A relação entre Tema e Informação Nova se refere ao fluxo de informação de um parágrafo, isto é, como a nova informação apresentada ao interlocutor na parte do Rema da oração (o foco da oração) tem relação com o contexto oracional, o ponto de partida da mensagem, o Tema20 20 Para informações mais detalhadas sobre estrutura temática e estrutura de informação, ver Olioni (2010a, 2010b). .

A próxima seção aborda o sistema discursivo de Periodicidade, a partir de Martin (1992Martin, J.R. (1992). Theme, method of development and existentiality: The price of reply. Occasional Papers in Systemic Linguistics, 6, 147-83. ) e Martin e Rose (2007)Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum., que utilizam e ampliam conceitos de Halliday (1985Halliday, M.A.K. (1985). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge., 1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ) e Halliday e Mathiessen (2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold., 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ) sobre Tema e Informação Nova (Novo), além de conceitos de Daněs (1974)Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter. sobre progressão temática e hiperTema e de Fries (1981Fries, P.H. (1981). On the status of theme in English: Arguments from discourse. Forum linguisticum, 6, 1-38. ; 1995Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins.) sobre método de desenvolvimento textual e ponto.

5. Sistema discursivo de Periodicidade

Conforme Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum.), o sistema discursivo de Periodicidade diz respeito ao fluxo do discurso, ou seja, ao modo pelo qual os significados são empacotados para tornar mais fácil sua assimilação pelos leitores/ouvintes. O locutor, ao construir o texto, apresenta ao interlocutor, em primeiro lugar, ideias que promovem expectativas a respeito do que este espera encontrar ao longo do texto; na sequência, o escritor corresponde a tais expectativas, ao desenvolver suas ideias para, no final, consolidá-las, ao fazer uma síntese destas.

Há uma hierarquia em relação ao fluxo de informação no texto, que pode ocorrer nos seguintes estágios: nas orações, em ondas menores, por meio de Temas e Novos; nos parágrafos, em ondas maiores, quando a informação é antecipada por um hiperTema e resumida, no final, por um hiperNovo; e, em textos maiores, em ondas ainda maiores, por meio de macroTema(s) e macroNovo(s). O termo “onda” é usado, aqui, metaforicamente, para indicar que, no discurso, há um pico de proeminência textual, ou crista da onda, quando o leitor é levado a criar expectativas sobre o que será desenvolvido. Essa fase é seguida por uma cava da onda, ponto menos elevado, de menor proeminência, quando tais expectativas são consolidadas e sumarizadas.

As ondas pequenas ou menores se referem ao âmbito da oração, considerada por Halliday como uma onda de informação. A função de Tema aparece em um extremo da oração e o Novo em outro, tendo este uma proeminência textual diferente do Tema. O Novo apresenta relação com a informação desenvolvida a partir do Tema da oração, além de apresentar opções mais variadas do que o Tema. De acordo com Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum.), sob a ótica sistêmico-funcional, há duas ondas sobrepostas envolvidas na oração - a onda temática, com a crista no início da oração, e a onda nova, com a crista no final. Sendo assim, as escolhas para Tema e para Novo funcionam juntas para empacotar o discurso como fases de informação.

Enquanto escolhas de Tema e Novo se referem ao âmbito da oração para o empacotamento do discurso, há, no nível do texto, o hiperTema e o hiperNovo, considerados ondas maiores de informação. Com base na ideia original de hipertema de Daněs (1974, p. 114)Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter., que afirma haver “os hiperTemas das unidades superiores do texto (tais como o parágrafo, o capítulo...)”21 21 No original: “the hyperThemes of the superior textual units (such as the paragraph, chapter…)”. , Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum., p.194) defendem que há “uma sentença-tópico como um tipo mais elevado de Tema: um hiperTema. Ao fazer isso, nós estamos dizendo que sua relação com o texto que segue é como a relação do Tema de uma oração com o restante da oração (...)”22 22 No original: “a ‘topic-sentence’ as a kind of higher level Theme: a hyperTheme. In doing so we’re saying that its relation to the text which follows is like the relation of a clause Theme to the rest of its clause (…)” . O hiperTema, portanto, se refere à sentença-tópico do parágrafo, sendo preditivo, criando expectativas no ouvinte/leitor sobre o que está por vir no desenrolar do parágrafo que introduz. É um nível mais elevado de Tema, também funcionando como orientador para o ouvinte/leitor.

O desenvolvimento da fase antecipada pelo hiperTema ocorre pela análise dos Temas e Novos oracionais ao longo do parágrafo. A Informação Nova vai sendo gerada em cada oração, à medida que a fase vai se desenvolvendo, o que acarreta uma sentença no final da fase, o hiperNovo. Para Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum., p. 196), “o hiperNovo nunca é uma paráfrase exata do hiperTema, nem é simplesmente um resumo da cava da onda; ele leva o texto para um novo ponto, ao qual só poderíamos chegar surfando nas ondas“23 23 No original: “the hyperNew is never an exact paraphrase of the hyperTheme, nor is it simply a summary of the wave’s trough; it takes the text to a new point, which we could only get to by surfing through the waves”. . Cabe ao hiperNovo refinar a Informação Nova, consolidando as expectativas ao resumi-las, sintetizando as informações acumuladas nos Novos oracionais do parágrafo. Resumindo, os hiperTemas contam ao leitor para onde ele está indo em determinada fase e, na sequência, o Novo de cada oração ao longo do parágrafo vai acumular informação; o hiperNovo, por sua vez, fecha a fase, contando ao leitor onde ele esteve.

De acordo com Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum., p. 197), pode haver ondas ainda maiores, que se desenvolvem em fases maiores do discurso, ou seja, “Temas de nível mais elevado prevendo hiperTemas, os macroTemas, e Novos de nível mais elevado refinando hiperNovos, os macroNovos”24 24 No original: “higher level Themes predicting hyperThemes as macroThemes, and higher level News distilling hyperNews as macroNews”. . O termo Periodicidade, referente ao empacotamento de significados textuais com base em camadas de informação, é usado por Martin e Rose (2007)Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum., então, para capturar uma regularidade do fluxo de informação no texto, isto é, a tendência de cristas de informação formarem um modelo regular e de a hierarquia de ondas formar um ritmo previsível de acordo com o gênero. Os modelos de ondas são demonstrados na Figura 1, em que os Temas, hiperTemas e macroTemas caracterizam o método de desenvolvimento do texto, predizem o que está por vir e estabelecem relação com o gênero; os Novos, hiperNovos e macroNovos, por sua vez, consolidam a informação, caracterizando o ponto e estabelecendo relação com o campo do texto.

Figura 1
Níveis de Tema e de Novo no discurso

Da articulação entre as realizações léxico-gramaticais da metafunção textual e as funções do sistema discursivo de Periodicidade, é possível sistematizar o fluxo das informações no texto em análise, como mostra o Quadro 1, na qual os macroTemas, hiperTemas e macroNovo25 25 Quando houver mais de um macroTema no texto, estes serão numerados em ordem crescente a partir do primeiro hiperTema, como está representado na configuração. No caso de haver mais de um hiperTema no texto, estes são numerados em ordem crescente de progressão das ideias do texto, como está representado nesta configuração. Em ambos os casos, segue-se o padrão de numeração estabelecido em Martin e Rose (2007, p.198). estão destacados em itálico; os Temas oracionais, no desenvolvimento de cada hiperTema, também estão identificados em itálico.

Quadro 1
Configuração do sistema de Periodicidade no texto Narcisos do século XXI

Para melhor sistematizar a análise, nós a iniciamos pelas ondas de informação maiores no texto. Os macroTemas funcionam como um nível mais elevado de Tema que antecipa os hiperTemas: hipertemai e hiperTemaii. O macroTemaii desse texto corresponde ao título, que, metaforicamente, estabelece uma analogia entre homens e mulheres do século XXI, que se preocupam exacerbadamente com a beleza de seus corpos, e Narciso, um personagem da mitologia grega que se apaixona pela sua própria imagem refletida num lago.

O macroTemai, por sua vez, que pode ser sintetizado por “o aumento da importância da imagem na vida humana tem acarretado a sobreposição do mundo imaginário ao mundo real”, coincide com a Tese a ser defendida pelo articulador, cuja expectativa já fora criada no título. O macroTemai prevê para o leitor o que vai aparecer nos dois hiperTemas a seguir - no hiperTemai, afirma-se que “a preocupação do homem quanto à sua figura existe há séculos”, ou seja, há a defesa de uma construção social, cultural e histórica da beleza humana; já no hiperTemaii, menciona-se que “o aumento da importância da imagem na vida humana ocorreu principalmente a partir do século XX”.

Os hiperTemas coincidem com a etapa dos Argumentos levantados na defesa da Tese. O hiperTema antecipa o que vai ser desenvolvido pelos Temas e Novos oracionais, ou seja, exemplos ao longo da história que ilustram o que fora mencionado pelo articulador do texto. Quanto ao hiperTemaii, este anuncia o que vem a seguir, ao longo das orações do parágrafo, isto é, fatos históricos e exemplos do século XX que comprovam a assertiva expressa neste hiperTema.

As ideias contidas no desenvolvimento do hiperTemai - alguns fatos históricos em ordem cronológica até o final do século XIX que desenvolvem a tese - são aparentemente suficientes para indicar que a Tese expressa no macroTemai já pudesse ter sido defendida totalmente no texto. No entanto, o hiperTemaii, no seu desenvolvimento, ilustra de que modo o aumento da importância da imagem na vida humana ocorreu principalmente a partir do século XX”.

Para finalizar o texto, no que se refere às ondas de informações maiores, o macroNovo, que tem correspondência com a etapa Reiteração da Tese, na Estrutura Esquemática do Gênero em questão, da família dos Argumentos, encerra o texto, ao sintetizar o que fora apresentado até então - ser da natureza do homem preocupar-se com sua imagem - indo além, ao mencionar que a preocupação doentia iniciada no século XX quanto à busca da imagem perfeita não pode se tornar algo obsessivo para o ser humano.

Passamos à análise das ondas de informação menores. No Quadro 2, apresentamos o mapeamento dos Temas e Novos no segundo parágrafo do texto, o qual corresponde ao desenvolvimento do hiperTemai.

Quadro 2
Mapeamento dos Temas e Novos que desenvolvem o hiperTemai

Observa-se, no Quadro 2, que o ponto de partida do escritor para aquilo que será desenvolvido está em posição temática no âmbito de cada oração, para desenvolver o que foi antecipado no hiperTemai, “a preocupação do homem quanto à sua figura ao longo do tempo”. No caso do referido parágrafo, os Temas revelam, ao longo da história, exemplos dessa preocupação do homem em relação à sua figura, por meio do mito de Narciso, do filósofo Platão, do amor imaginário, do mundo real, de poetas e de duas obras literárias que abordam a idealização da mulher. Quanto ao Novo, no referido parágrafo, apresenta-se, nos Remas, resumidamente, o seguinte: “o amor imaginário como sendo melhor, porque perfeito, mesmo impossível de se realizar no mundo real” e “a idealização feminina na literatura, por meio da menção a poetas e romancistas” - dois exemplos da preocupação humana quanto à sua figura, o que fora previsto pelo hiperTemai. Os Temas e Novos presentes no terceiro parágrafo estão apresentados no Quadro 3.

Quadro 3
Mapeamento dos Temas e Novos que desenvolvem o hiperTemaii

As ideias mencionadas no hiperTemaii, que se encontram no terceiro e no quarto parágrafo do texto, são desenvolvidas por meio dos Temas e Novos das orações, como segue: (a) nos Temas “a preocupação com modelos externos” e “hoje”, referindo-se à atualidade, após terem sido mencionados exemplos em ordem cronológica sobre a preocupação com a imagem humana no parágrafo anterior; “[nós]”, em referência ao leitor e à sociedade em geral, por meio de um recurso utilizado pelo articulador para conseguir adesão do leitor às suas ideias; e “essa geração L’Oreal, fruto da sociedade capitalista que incentiva o consumo em larga escala”; (b) nos Remas oracionais, por sua vez, em relação ao Novo, o ponto do parágrafo, há os exemplos que confirmam “o aumento da importância da imagem na vida humana” ter ocorrido principalmente a partir do século XX - “o ‘American Way of Life’ como imagem da felicidade”; “a busca pela beleza”; “milhares de fotos do Orkut, aumento da procura por clínicas de estética e academia, grande demanda por produtos de beleza”; e “a beleza externa em detrimento da interna”.

Com base na análise apresentada, podemos considerar que o método de desenvolvimento desse texto, caracterizado pelas diferentes camadas de Temas, reitera o assunto sobre o qual o autor se posiciona: a preocupação do ser humano com sua imagem. A Tese é apresentada como macroTema, e os argumentos como hiperTemas (Quadro 4), organizando, assim, as informações que realizam o propósito do gênero Exposição.

Quadro 4
Relações entre camadas de Tema e Novo, fases do discurso e etapas do gênero

O conjunto de Novos oracionais desenvolve a ideia apresentada nos hiperTemas: “a idealização do amor imaginário, impossível de se realizar no mundo real”; “a idealização feminina na literatura”; “o ‘American Way of Life’ como imagem da felicidade”; “a busca pela beleza”; “o aumento da procura por clínicas de estética e academia”; “a grande demanda por produtos de beleza”; e “a beleza externa em detrimento da interna”. Não há hiperNovo no texto sob análise para resumir e consolidar as informações contidas nos Novos de cada parágrafo, o que é uma característica desta produção. Há, sim, um macroNovo, que estabelece relação com o macroTemai, reiterando a preocupação do homem com sua imagem; além disso, o macroNovo caracteriza-se como o ponto deste texto, ao amarrar o discurso desenvolvido até esta fase e ir além, ao alertar que “a preocupação doentia [do homem] não pode se tornar obsessiva (...) em busca de sua imagem perfeita”. O macroNovo, neste caso, estabelece relação com a etapa Reiteração da tese do gênero Exposição.

6. Considerações finais

Com base no sistema discursivo de Periodicidade, descrito em Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum.) a partir de Martin (1992)Martin, J.R. (1992). Theme, method of development and existentiality: The price of reply. Occasional Papers in Systemic Linguistics, 6, 147-83. para a análise do fluxo do discurso, e dos conceitos de Halliday (1978Halliday, M.A.K. (1978). Language as social semiotic: The social interpretation of language and meaning. Arnold.; 1994Halliday, M.A.K. (1994). An introduction to functional grammar. 2nd ed. Routledge. ) e Halliday e Mathiessen (2004Halliday, M.A.K., & Matthiessen, C.I.M.M. (2004). An Introduction to Functional Grammar. 3rd ed. Arnold.; 2014Halliday, M.A.K. (2014). Halliday’s Introduction to Functional Grammar. 4th ed. Routledge. ) sobre Tema e Informação Nova, além de conceitos de Daněs (1974)Daneš, F. (1974). Papers on Functional Sentence Perspective and the organisation of the text. In F. Daneš (Ed.), Papers on functional sentence perspective (pp. 106-128). Mouton de Gruyter. sobre progressão temática e hiperTema e de Fries (1981Fries, P.H. (1981). On the status of theme in English: Arguments from discourse. Forum linguisticum, 6, 1-38. , 1995Fries, P.H. (1995). Themes, Methods of Development, and Texts. In R. Hasan & P.H. Fries (Eds.), On Subject and theme: A discursive functional perspective (pp. 317-360). John Benjamins.) sobre método de desenvolvimento textual e ponto, centramo-nos na análise de como se organiza o fluxo de informação de um texto argumentativo. Nesta análise, os resultados evidenciaram os seguintes aspectos:

  1. o título funciona como o macroTemaii, criando expectativas no leitor sobre o que trata o texto: a valorização humana do externo em detrimento do interno;

  2. o primeiro parágrafo é identificado como o macroTemai, fase do discurso que corresponde à etapa Tese do gênero Exposição da família dos Argumentos, em que é revelado o ponto de vista adotado pelo autor sobre o que o texto aborda, isto é, a supervalorização do externo, podendo levar o ser humano à sua descaracterização;

  3. o segundo parágrafo corresponde ao hiperTemai, “a preocupação secular do homem com a sua imagem”, que tem relação com a etapa Argumentos, em que o corpo do parágrafo desenvolve, por meio dos seus Temas e Novos, a expectativa criada;

  4. o terceiro parágrafo contém o hiperTemaii, “o aumento da valorização da imagem a partir do século XX”, o que também corresponde à etapa Argumentos; a expectativa criada no hiperTemaii é desenvolvida no corpo do parágrafo 3 e em todo o parágrafo 4 pelos Temas e Novos, caracterizando o segundo argumento a fundamentar a Tese;

  5. o macroNovo encerra o texto, estabelecendo relação com o macroTemaii e indo além, ao afirmar que o aumento da preocupação do ser humano com o externo, principalmente no século XX, não pode se tornar uma obsessão.

No texto analisado, constatamos um método de desenvolvimento simples, com uma hierarquia de Periodicidade em que unidades menores do discurso se estruturam dentro de unidade maiores. Para estudos futuros, destacamos a importância da ampliação do corpus de análise para verificar se os resultados aqui apresentados podem indicar padrões de realização da estrutura temática e, por conseguinte, do fluxo informacional de textos cujo propósito sociocomunicativo é expor um ponto de vista, possibilitando, assim, o cruzamento dos dados da Periodicidade em textos argumentativos.

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  • 6
    Por convenção da teoria descrita por Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum.), os nomes dos sistemas discursivos são grafados em versalete e letra inicial maiúscula.
  • 7
    A coleção foi a mais distribuída às escolas públicas brasileiras no triênio 2015-2017, conforme informação do PNLD 2015).
  • 8
    Sobre os sistemas de Avaliatividade, Negociação, Identificação, Ideação e Conjunção, ver Rose e Martin (2007)Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum..
  • 9
    Sobre a descrição dos sistemas léxico-gramaticais que realizam as metafunções em língua portuguesa, ver Fuzer e Cabral (2014Fuzer, C., & Cabral, S.R.S. (2014). Introdução à gramática sistêmico-funcional em língua portuguesa. Mercado de Letras.).
  • 10
    No original: “The Theme provides the environment for the remainder of the message, the Rheme”.
  • 11
    O Exemplo 2 é um refraseamento.
  • 12
    Exemplos 1 e 3 foram extraídos do texto selecionado para análise (em anexo).
  • 13
    O Exemplo 4 é um refraseamento.
  • 14
    O Exemplo 7 é um refraseamento.
  • 15
    No original: “(...) the choice and ordering of utterance themes, their mutual concatenation and hierarchy (...)”
  • 16
    No original: “(...) the ways that texts develop the ideas they present (...) where Themes come from -- how they relate to other Themes and Rhemes of the text”.
  • 17
    No original: “(...) the information contained within the themes of all of the sentences of a paragraph creates the method of development of that paragraph.”
  • 18
    O Exemplo 10 é um refraseamento.
  • 19
    No original: “(...) information which is perceived to constitute the point of the text or text segment is regularly found within the Rhemes (...)”.
  • 20
    Para informações mais detalhadas sobre estrutura temática e estrutura de informação, ver Olioni (2010aOlioni, R.C. (2010a). Tema e N-Rema: a construção do fluxo de informação em textos narrativos sob uma perspectiva sistêmico-funcional. [Tese de doutorado]. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/1964 (acesso 22 de agosto, 2022).
    http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/...
    , 2010bOlioni, R.C. (2010b). Tema e N-Rema: a construção do fluxo da informação. In D. C. Tagliani (Ed.), Linguística e língua portuguesa: reflexões (pp. 69-86). CRV. ).
  • 21
    No original: “the hyperThemes of the superior textual units (such as the paragraph, chapter…)”.
  • 22
    No original: “a ‘topic-sentence’ as a kind of higher level Theme: a hyperTheme. In doing so we’re saying that its relation to the text which follows is like the relation of a clause Theme to the rest of its clause (…)”
  • 23
    No original: “the hyperNew is never an exact paraphrase of the hyperTheme, nor is it simply a summary of the wave’s trough; it takes the text to a new point, which we could only get to by surfing through the waves”.
  • 24
    No original: “higher level Themes predicting hyperThemes as macroThemes, and higher level News distilling hyperNews as macroNews”.
  • 25
    Quando houver mais de um macroTema no texto, estes serão numerados em ordem crescente a partir do primeiro hiperTema, como está representado na configuração. No caso de haver mais de um hiperTema no texto, estes são numerados em ordem crescente de progressão das ideias do texto, como está representado nesta configuração. Em ambos os casos, segue-se o padrão de numeração estabelecido em Martin e Rose (2007Martin, J.R., & Rose, D. (2007). Working with discourse: meaning beyond the clause. Continuum., p.198).
  • 26
    O texto sob análise foi transcrito na íntegra, como publicado no livro didático.
  • Contribuição dos autores

    Nós, Raymundo da Costa Olioni, Angela Maria Rossi e Cristiane Fuzer, declaramos, para os devidos fins, que não temos qualquer conflito de interesse, em potencial, neste estudo.

Anexo

26 26 O texto sob análise foi transcrito na íntegra, como publicado no livro didático.

Narcisos do século XXI

O aumento da importância da imagem na vida humana tem acarretado a sobreposição do mundo imaginário ao mundo real. Gradativamente, o homem tem optado por priorizar o exterior ao interior. Isso é consequência de uma sociedade que exige a propagação e dinamização de padrões estéticos e sociais, que levarão o homem à descaracterização massificada.

A preocupação do homem quanto à sua figura existe há séculos. O mito de Narciso, que se apaixonou por seu reflexo na água e na busca por ele, morreu afogado, é um exemplo. Platão também discutia isso. Para ele, o amor imaginário, impossível de se realizar, é melhor, pois pode ser perfeito, ao passo que na realidade, nunca é. Mais tarde, com os poetas, a imagem novamente ganhou importância, dessa vez, com a idealização feminina. Fosse com Marília de Dirceu, fosse com Iracema, de José de Alencar, ambos autores tinham em mente a figura de uma mulher, por eles tão necessária.

No entanto, o aumento da importância da imagem na vida humana ocorreu principalmente a partir do século XX. A preocupação com modelos externos se deu segundo um padrão surgido nos Estados Unidos pós-1ª Guerra Mundial, em que o “American Way of Life” de ser ter casa própria, carros e filhos, passou a ser a imagem da felicidade.

Hoje essa preocupação pode ser vista nos jovens, figurativizada na busca pela beleza. Podemos acompanhá-la nas milhares fotos do Orkut que tem Photoshop para tornar a pessoa perfeita, ou no aumento da procura por clínicas de estética e academias, além da grande demanda por produtos de beleza. Essa geração L’Oreal, fruto da sociedade capitalista que incentiva o consumo em larga escala, vai perdendo sua personalidade e individualidade na busca ser uma Angelina Jolie ou Brad Pitt, priorizando sempre a beleza externa em detrimento da interna.

Assim, podemos perceber que é da natureza do homem preocupar-se com sua imagem. No entanto, a preocupação doentia iniciada no século XX não pode se tornar obsessiva a ponto de dominar a juventude e espalhar-se por toda raça humana, que um dia pode vir a ser um grande Narciso e matar-se em busca de sua imagem perfeita.

Fonte: NARCISOS do século XXI. In: CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, C. T. 2013Cereja, W.R., & Magalhães, C. T. (2013). Português: linguagens. 9. ed. Saraiva.. Português linguagens, v.1. São Paulo: Saraiva. p. 380.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Abr 2021
  • Aceito
    13 Dez 2021
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