Acessibilidade / Reportar erro

Pourquoi le français? Um estudo de caso sobre ideologias linguísticas

Pourquoi le français? A case study on language ideologies

RESUMO

Este trabalho inserido no campo da Política Linguística (PL) tem como objetivo investigar as ideologias linguísticas sobre a língua francesa (LF) presentes em textos de alunos de francês como língua estrangeira (FLE), em seis escolas de língua, na cidade de João Pessoa. Para atingirmos tal objetivo, analisamos, qualitativamente, as respostas a uma pergunta de um questionário aplicado a 174 alunos, explorando o conteúdo temático e os elementos textuais a partir da Linguística Textual (Koch, 2000aKoch, I. V. (2000a). A inter-ação pela linguagem. Contexto., 2000bKoch, I. V. (2000b). Argumentação e linguagem (6. ed.). Cortez.). A análise foi realizada conforme os pressupostos teóricos das Ideologias Linguísticas (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.; Arnoux & Del Valle, 2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
; e Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
). Os resultados indicaram que as ideias sobre a LF apresentam conexões diversas com dimensões sociais: estética - LF como símbolo de elegância e requinte e LF como representativa de uma cultura superior-, epistemológica - LF como língua da ciência -, identidade nacional - LF como língua da França -, identidade internacional - LF como língua da diplomacia - e laboral - LF como língua para o mercado de trabalho.

Palavras-chave:
ideologia linguística; análise textual; francês; FLE

ABSTRACT

This paper aims to investigate language ideologies related to the French language present in the texts of students of French as a foreign language (FFL) in six schools in the city of João Pessoa. To this end, answers to one of the questions of a questionnaire completed by 174 language school students were qualitatively analyzed, exploring the thematic content and textual elements from the perspective of text linguistics (Koch, 2000aKoch, I. V. (2000a). A inter-ação pela linguagem. Contexto., 2000bKoch, I. V. (2000b). Argumentação e linguagem (6. ed.). Cortez.). The analysis was performed based on the discussions of language ideologies (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.; Arnoux & Del Valle, 2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
; and Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
). Results indicated that the ideas related to the French Language (FL) have several connections to social dimensions, namely aesthetic - FL as a symbol of elegance and refinement and FL as representative of a superior culture -, epistemological - FL as the language of science -, national identity - FL as the language of France -, international identity - FL as the language of diplomacy -, and labor - FL as a language for the labor market.

Keywords:
language ideology; textual analysis; French; FFL

1. Introdução

Nas últimas décadas, a análise e interpretação da relação entre as línguas e os seres humanos no mundo social ganhou um espaço destacado em diferentes campos das Ciências Humanas, como a Antropologia e a Linguística. Segundo Woolard (2012Woolard, K. A. (2012). Introducción. Las Ideologías lingüísticas como campo de investigación. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 19-69). Catarata. ), as ideologias linguísticas (doravante IL) são um vínculo mediador entre as formas linguísticas e as formas sociais, colocando em jogo as conexões da língua com a identidade ou a estética, por exemplo. Assim, quando falamos de IL, não nos referimos somente a usos linguísticos, mas também a noções sobre pessoas, instituições ou grupos sociais. Neste sentido, a autora aponta que as IL têm sido objeto de investigação em diferentes abordagens, por exemplo: ideologia na interseção do uso da língua e estrutura (e.g. Hill, 2012Hill, J. H. (2012). ‘Hoy no hay respeto’. Nostalgia, ‘respeto’ y discurso antagónico en las ideologías lingüísticas del habla mexicano (Náhuatl). In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 95-117). Catarata.); etnografia da fala (e.g. Briggs, 2012Briggs, C. L. (2012). ¡Eres un mentiroso. Igual que una mujer!’ Construyendo ideologías lingüísticas dominantes en los chismes de los hombres warao. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard, & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 297-331). Catarata.); contato linguístico e conflito (e.g. Spitulnik, 2012Spitulnik, D. (2012). Mediando entre la unidad y la diversid. La producción de ideologías lingüísticas en la radiodifusión zambiana. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 212-244). Catarata.); intervenção explícita na língua: política, purismo e padronização (e.g. Kroskrity, 2012Kroskrity, P. V. (2012). El habla utilizada en la kiva de los tewas de Arizona como manifestación de una ideología lingüística dominante. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 139-163). Catarata.); letramento e ortografia (e.g. Schieffelin & Doucet, 2012Schieffelin, B. B., & Doucet, R. C. (2012). El criollo haitiano ‘real’: ideología, metalingüística y opción ortográfica. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard & P. V. Kroskrity (Orgs.). Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 368-404). Catarata.); historiografia da linguística (e.g. Collins, 2012Collins, J. (2012). Nuestras ideologias y las de ellos. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 332-350). Catarata.).

Sem a pretensão de sermos exaustivas, no Brasil, também identificamos alguns trabalhos4 4 A pesquisa foi realizada no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Utilizamos os seguintes filtros: o termo “ideologia linguística”, os anos de 2012 a 2021 e as áreas de Letras, Linguística Aplicada, Linguística e Língua Portuguesa. , dentre os quais destacamos: Rocha (2020Rocha, C. F. (2020). Ideologias linguísticas sobre a língua: uma análise glotopolítica da BNCC-EF. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal Fluminense. https://app.uff.br/riuff/handle/1/14590
https://app.uff.br/riuff/handle/1/14590...
) investigou a Base Nacional Curricular Comum de Língua Inglesa, desvelando as IL subjacentes à noção de “língua franca”, bem como de “língua e cultura” e de “norma e variação linguística”, sob a ótica da Glotopolítica; Zomer (2020Zomer, A. H. (2020). Ideologias e políticas linguísticas em jogo: reflexões sobre discursos acerca de práticas comunicativas na colônia holandesa de Arapoti/PR. 2020. [Tese de Doutorado]. Universidade Estadual de Campinas. https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_96a1fc76f07ade349ec458e868d5cc81
https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP...
) analisou as ideologias e políticas linguísticas presentes em uma colônia holandesa no estado do Paraná, enfocando os discursos sobre as práticas comunicativas em três instituições (igreja, escola e museu); Passoni (2018Passoni, T. P. (2018). O programa Inglês sem Fronteiras como política linguística: um estudo sobre as ideologias da língua inglesa no âmbito da internacionalização do ensino superior brasileiro. [Tese de Doutorado]. Universidade Estadual de Londrina. http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000218338
http://www.bibliotecadigital.uel.br/docu...
) estudou as ideologias sobre a língua inglesa na política linguística do Programa Inglês sem Fronteiras, escrutinando textos da esfera legal, midiática e educacional; Rivas (2015Rivas, C. C. M. (2015). Ideologias linguísticas e políticas de línguas indígenas: estudo comparativo no Brasil e no México a partir de 1988. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal Fluminense. https://app.uff.br/riuff/handle/1/3022
https://app.uff.br/riuff/handle/1/3022...
) descreveu os pressupostos ideológicos sobre as línguas nas políticas linguísticas do Brasil e do México, dentre outros.

Neste artigo, nos debruçamos sobre a pesquisa acerca das IL no contexto educacional brasileiro, tratando de preencher uma lacuna temática sobre as IL relacionadas à língua francesa (LF)5 5 Verificamos esta lacuna temática a partir de um levantamento feito no Banco de Teses e Dissertações da Capes sobre a LF no contexto educacional. . Buscamos responder à seguinte questão de pesquisa: quais IL sobre a LF emergem nos comentários de alunos de francês como língua estrangeira (FLE), em escolas de língua, na cidade de João Pessoa/PB? Assim, descrevemos as IL presentes nas razões que levaram os alunos a estudar a LF.

Cabe destacar que essa língua foi perdendo espaço no cenário educacional brasileiro ao longo dos anos devido a políticas linguísticas que privilegiam outras línguas estrangeiras como o inglês e o espanhol. A título de ilustração, destacamos as opções de línguas estrangeiras no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) - inglês e espanhol6 6 Na edição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2022, o inglês será a única língua estrangeira. -, bem como a promulgação da Lei nº 11.161, de 5 de agosto de 2005, que instituiu a obrigatoriedade da oferta do espanhol no Ensino Médio, e foi, posteriormente, revogada pela Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, que tornou obrigatório o ensino da língua inglesa na educação básica.

A fim de responder nossa questão norteadora, analisamos os comentários de uma única pergunta, de um questionário aplicado a 174 participantes7 7 O questionário completo conta com dez perguntas e foi elaborado para a conformação do corpus da dissertação de mestrado de Koffmann (2018) - desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFPB e defendida em 2018. . A questão - Por que você estuda a LF? - oferecia 14 opções de escolha e o estudante poderia ainda acrescentar outras opções, se desejasse, bem como poderia realizar comentários sobre a opção selecionada. Considerando que nosso interesse é descrever o ponto de vista dos estudantes de FLE, caracterizamos esta pesquisa em um paradigma interpretativista (Lin, 2015Lin, A. M. Y. (2015). Research posicionality. In F. M. Hult & D. C. Johnson (Eds.), Research methods in Language Policy anda Planning: A practical guide (pp. 21-32). Wiley Blackwell.). Realizamos uma análise de natureza qualitativa nas respostas dos alunos, explorando o conteúdo temático e os elementos textuais como índices de avaliação, marcadores de pressuposição, operadores argumentativos, dentre outros, a partir da Linguística Textual (Koch, 2000aKoch, I. V. (2000a). A inter-ação pela linguagem. Contexto., 2000bKoch, I. V. (2000b). Argumentação e linguagem (6. ed.). Cortez.).

Inserimos este trabalho no campo de pesquisa da Política Linguística (PL), compreendida por Spolsky (2004Spolsky, B. (2004). Language policy. Cambridge University Press. , 2009Spolsky, B. (2009). Language management. Cambridge University Press., 2012Spolsky, B. (2012). What is language policy. In B. Spolsky (Ed.), The Cambridge handbook of language policy (p. 3-15). Cambridge University Press.) como constituída de diferentes dimensões - gestão, práticas e ideologias. Para o autor, “A ideologia ou crenças linguísticas designam o consenso da comunidade de fala sobre o valor a aplicar a cada uma das variantes ou variedades linguísticas que compõem seu repertório”8 8 Todas as traduções são de responsabilidade das autoras. No original: “Language ideology or beliefs designate a speech community’s consensus on what value to apply to each of the language variables or named language varieties that make up its repertoire.” (Spolsky, 2004, p. 14). (Spolsky, 2004Spolsky, B. (2004). Language policy. Cambridge University Press. , p. 14). Para aprofundar o estudo da dimensão das ideologias, o presente trabalho adota a noção teórica de Del Valle (2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.), Arnoux e Del Valle (2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
) e Del Valle e Merinho (2016)Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
.

Para fins de organização retórica, este texto se constitui da seguinte forma: esta primeira seção apresenta uma breve revisão da literatura sobre IL no cenário internacional e nacional e tece as linhas gerais da pesquisa - pergunta de pesquisa, objetivo e design metodológico; a segunda discorre sobre IL; a terceira apresenta o processo metodológico utilizado para a constituição da pesquisa; a quarta descreve e discute os dados; e, por fim, a quinta mostra um resumo dos principais achados e as conclusões.

2. Aporte teórico

Ideologia Linguística é uma categoria teórica com diferentes concepções advindas de campos disciplinares diversos, enfocando aspectos distintos (Woolard, 2012Woolard, K. A. (2012). Introducción. Las Ideologías lingüísticas como campo de investigación. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 19-69). Catarata. ). Proveniente da Antropologia Linguística, uma definição precursora foi elaborada por Silverstein (1979Silverstein, M. (1979). Language structure and linguistic ideology. In P. R. Clyne, W. F. Hanks & C. L. Hofbauer (Orgs.). The elements: A parasession on linguistic units and levels (p. 193-247). Chicago Linguistic Society/University of Chicago. , p. 193) que compreende IL como “conjuntos de crenças sobre a linguagem articuladas pelos usuários como uma racionalização ou justificativa da estrutura e uso da linguagem percebidas”9 9 No original: “sets of beliefs about language articulated by the users as a rationalization or justification of perceived language structure and use.” (Silverstein, 1979, p. 193). . Essa noção enfatiza “o papel da consciência linguística como uma condição que permite que os falantes racionalizem e, de outra forma, influenciem a estrutura de uma língua”10 10 No original: “the role of linguistic awareness as a condition which permits speakers to rationalize and otherwise influence a language’s structure.” (Kroskrity, 2009, p. 497). (Kroskrity, 2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising., p. 407). O autor explora uma dimensão da língua que era marginalizada pelos acadêmicos (Kroskrity, 2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising.; Arnoux & Del Valle, 2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
).

Partindo do pressuposto de que abordar essa categoria analítica é adentrar em um terreno pantanoso e considerando que o presente trabalho se insere no campo da PL, é que adotamos a noção de IL desenvolvida por Del Valle (2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.) e, posteriormente, comentada por Arnoux e Del Valle (2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
) e Del Valle e Meirinho-Guede (2016)Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
. A escolha dessa noção se explica pelo fato de ser bastante profícua nos estudos de PL e de as IL estarem subjacentes em intervenções na(s) língua(s), visto que visam a modificar as ideias e práticas linguísticas dos falantes (Del Valle, 2007)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.. Del Valle (2007)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana. apresenta IL como

[...] sistemas de ideias que articulam noções de linguagem, as línguas, a fala e/ou a comunicação com formações culturais, políticas e/ou sociais específicas. Ainda que pertençam ao terreno das ideias e possam ser concebidas como quadros cognitivos que ligam coerentemente a linguagem a uma ordem extralinguística, naturalizando-a e normalizando-a (van Dick, 1995), também há que assinalar que se produzem e se reproduzem no terreno material das práticas linguísticas e metalinguísticas, dentre as quais apresentam para nós interesse especial as que exibem um alto grau de institucionalização.11 11 No original: “[...] sistemas de ideas que articulan nociones del lenguage, las lenguas, el habla y/o la comunicación con formaciones culturales, políticas y/o sociais específicas. Aunque pertenecen al ámbito de las ideas y se pueden concebir como marcos cognitivos que ligan coherentemente el lenguaje con un orden extralingüístico, naturalizándolo y normalizandólo (Van Dick, 1995), también hay que señalar que se producen y repoducen en el ámbito material de las prácticas lingüísticas y metalingüísticas, de entre las cuales presentan para nosotros interés especial las que exhiben un alto grado de institucionalización.” (Del Valle, 2007, p. 193). (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana., pp. 19-20).

Nesta definição, destacamos alguns aspectos: i) a dimensão “ideacional” das IL; ii) a filiação epistemológica dessa categoria a uma visão de língua não formal (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.; Woolard, 2012Woolard, K. A. (2012). Introducción. Las Ideologías lingüísticas como campo de investigación. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 19-69). Catarata. ); iii) a função naturalizadora; iv) a presença das IL em práticas metalinguísticas e linguísticas; v) o papel das instituições na produção e reprodução de IL. Em relação ao primeiro aspecto, a noção de Del Valle (2007)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana. se assemelha a definições de ideologia como um “fenômeno mental”, “representações subjetivas” (Woolard, 2012Woolard, K. A. (2012). Introducción. Las Ideologías lingüísticas como campo de investigación. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 19-69). Catarata. ), contudo não desconsidera a dimensão social. Sobre essa questão, Gal (2012Gal, S. (2012). Multiplicidad y controvérsia entre ideologias. Comentario. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 405-424). Catarata. ) destaca que as IL reportam “a questões de conhecimento humano (ideias, consciência e crenças sobre a relação entre a língua e a fala na vida social)12 12 No original: “Si bien las ideologías lingüísticas hacen siempre referencia a temas del conociemento humano (ideas, conciencia y creencias sobre la relaci[on entre la lengua y el habla en la vida social).” (Gal, 2012, p. 408). ”. No que se refere ao segundo aspecto, a noção de IL é embasada em uma concepção de língua como prática social, a qual conecta o linguístico e o extralinguístico (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
). A Antropologia Linguística, a Sociolinguística e a Glotopolítica são exemplos de campos de conhecimento que exploram o papel do contexto nos estudos da linguagem (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.). Nessa perspectiva, Del Valle (2007)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana. destaca que

Foram se produzindo assim uma série de convergências entre as quais acabo de denominar ramos contextuais da linguística e o que já convencionalmente se reconhece como a virada linguística das ciências sociais e da filosofia que criaram as condições necessárias para o desenvolvimento e reconhecimento da categoria analítica que aqui nos ocupa: as ideologias linguísticas.13 13 No original: “Se fueran producindo así una serie de convergencias entre las que acabo de llamar ramas contextuales de la lingüística y lo que ya convencionalmente se reconece como el giro lingüístico de las ciencias sociales y de la filosofia que crearon las condiciones necesarias para el desarollo y reconocimiento de la categoría analítica que aquí nos ocupa: las ideologías ligüísticas.” (Del Valle, 2007, p. 19). (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana., p. 19).

É nesse “clima de opinião” que as IL são compreendidas como produto de um contexto histórico, social, econômico e político e, ao mesmo tempo, como prática que constitui dado contexto (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
). Nesse sentido, as IL se caracterizam por sua contextualidade (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.). Ou seja, é “uma categoria que nos convida a pensar sobre a linguagem em relação ao contexto”14 14 No original: “Se trata de uma categoria que nos invita a pensar el linguaje em relación com el contexto” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016). (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
, p. 622). Um exemplo são as diferentes ressonâncias da IL do francês no percurso de integração de imigrantes magrebinos na França “na relação que existe entre aprendizagem ou conhecimento do francês e integração”15 15 No original: “au rapport qui existe entre apprentissage ou connaissance du français et intégration” (Biichlé, 2012, p. 47). (Biichlé, 2012Biichlé, L. (2012). Le parcours d’une invisible par procuration. In C. Trimaille & J-M. Eloy (Eds.), Idéologies linguistiques et discriminations (pp. 47-58). L’Harmattan.).

Em relação ao terceiro aspecto, a função naturalizadora explica como as ideias sobre a língua(gem) são tidas como “normais”, “dadas”, não questionáveis, definitivas. Em outras palavras, “têm efeito naturalizador - como se fossem verdades inapeláveis - das imagens que produzem da linguagem.”16 16 No original: “y tienen efecto naturalizador - como si de verdades inapelables se tratara - de las imágenes que producen del linguaje.” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016, p. 622). (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
, p. 622). Alguns exemplos de IL naturalizadas são: uma nação se define por uma língua ou sociedades desenvolvidas têm línguas superiores (Arnoux & Del Valle, 2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
). Já o quarto aspecto destaca que as IL podem ser (re)produzidas em instrumentos linguísticos como gramáticas, dicionários, manuais de estilo e, também, nas práticas linguísticas. Um exemplo desta última é o uso ou de uma forma com pretensão de neutralidade (e.g. prezades, prezad@s, prezadxs), ou do gênero feminino antecedido do masculino (e.g.: alunas e alunos), ou, ainda, do gênero masculino (e.g. alunos), conectando, deste modo, escolhas linguísticas a diferentes ideologias veiculadas na sociedade. Verificamos, assim, que as IL estão relacionadas a outras ideologias que circulam na sociedade, e estão inscritas em sistemas mais amplos associados a posições políticas e sociais (Woolard, 2012Woolard, K. A. (2012). Introducción. Las Ideologías lingüísticas como campo de investigación. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 19-69). Catarata. ). E, por fim, o quinto aspecto se refere ao modo como as IL são produzidas e reproduzidas no seio das instituições (eg. Estado, mídia, escola...). Nessa perspectiva, Del Valle (2007)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana. configura mais uma função das IL: a institucionalidade. Uma ilustração é a IL da padronização linguística relacionada à constituição de um Estado-Nação.

Adicionalmente, Del Valle (2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.) apropria-se de quatro dimensões das IL apresentadas por Kroskrity (2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising.)17 17 Para Kroskrity (2009), as IL se constituem em um conceito agrupado de diferentes dimensões que, por sua vez, estão em convergência umas com as outras. , a saber: a) interesses de um grupo social ou cultural; b) multiplicidade das ideologias; c) consciência dos membros do grupo; d) mediação entre as estruturas sociais e os usos da linguagem. A primeira dimensão destaca que as IL “representam a percepção da linguagem e do discurso que é construída no interesse de um grupo social ou cultural específico.”18 18 No original: “language ideologies represent the perception of language and discourse that is constructed in the interest os a specifc social or cultural group.” (Kroskrity, 2009, p. 501). (Kroskrity, 2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising., p. 501). Embora Del Valle (2007)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana. adote essa característica, o autor faz questão de se distanciar de uma percepção de IL como uma “manipulação consciente” de determinado grupo social sobre outro(s), pois não pretende associar a ideia de ideologia com falsa consciência ou oposição da verdade. Na visão de Del Valle (2007, p. 22)Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana., as IL se relacionam a “práticas e ideias naturalizadas e normalizadoras de ordem extralinguística, com a legitimação de um tipo específico de conhecimento que sustenta o exercício do poder e da autoridade.”19 19 No original: “prácticas e ideas naturalizadas y normalizadoras de un ordem extralingüístico, con la legitimación de un tipo determinado de saber que sirve de soporte al ejercicio del poder e la autoridad.” (Del Valle, 2007, p. 22). . A segunda dimensão corresponde à multiplicidade das IL pelo fato de haver divisões dentro dos grupos sociais como classe social, gênero, idade, dentre outras, promovendo, destarte, experiências diferenciadas nos agentes. Essa distribuição múltipla das IL ressalta a base sociológica dessa noção, possibilitando a análise do conflito e da hegemonia de uma IL em relação a outra. A terceira dimensão põe em evidência os diferentes níveis de consciência das IL pelos agentes. Nesse continuum, em uma extremidade temos uma consciência discursiva e em outra extremidade uma consciência prática ou naturalizadora. E, a quarta dimensão descreve as IL como “pontes” entre as formas da língua e as estruturas sociais. Nessa perspectiva, as formas da língua (re)produzem, de forma micro, a ordem política e econômica do mundo social.

O movimento politicamente correto na linguagem, por exemplo, ilustra cada uma dessas dimensões das IL: a promoção dessa linguagem está intimamente relacionada com interesses de grupos específicos considerados marginalizados dentro da sociedade (e.g.: LGBTQI+, feministas, movimentos antirracistas etc.), o que demonstra que as experiências sociais são vivenciadas de forma diferente por cada um desses grupos sociais. Por exemplo: uma pessoa pertencente ao grupo LGBTQI+ não se vê contemplada por um uso de uma linguagem não inclusiva dentro da sociedade. Essa política linguística é realizada de forma consciente pelos interessados como forma de desnaturalizar determinados usos da língua que promovam qualquer tipo de exclusão ou discriminação social.

Dentro da perspectiva teórica adotada neste trabalho, é possível identificar as IL em textos que regulam política ou juridicamente a(s) língua(s) como leis e decretos; em textos que visam a descrever, normatizar ou ensinar uma língua como gramáticas, dicionários, manuais de estilo, livros didáticos; em textos que tematizam sobre a(s) língua(s) ou suas variedades linguísticas como artigos de opinião ou redes sociais que abordam os usos corretos; em textos humorísticos ou midiáticos que relacionam grupos de pessoas a determinadas formas de uso da língua; em textos produzidos nas práticas linguísticas (Arnoux & Del Valle, 2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
; Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
). Nesta pesquisa, iremos analisar as IL presentes nos textos produzidos por estudantes de LF que comentaram a seguinte pergunta: por que você estuda a língua francesa?

3. Metodologia

Esta pesquisa se insere em um paradigma interpretativista (Lin, 2015Lin, A. M. Y. (2015). Research posicionality. In F. M. Hult & D. C. Johnson (Eds.), Research methods in Language Policy anda Planning: A practical guide (pp. 21-32). Wiley Blackwell.), visto que enfoca a “compreensão do propósito e significado dos atores sociais e ações sociais.”20 20 No original: “the interpretative approaches focus on understanding the purpose and meaning of social actors and social actions.” (Lin, 2015, p.25). (Lin, 2015Lin, A. M. Y. (2015). Research posicionality. In F. M. Hult & D. C. Johnson (Eds.), Research methods in Language Policy anda Planning: A practical guide (pp. 21-32). Wiley Blackwell., p. 25). Assim, buscamos descrever as IL sobre a LF a partir da perspectiva dos estudantes de FLE em escolas de línguas localizadas em João Pessoa/PB, pois nos ancoramos no pressuposto de que a realidade é construída na experiência social. Dentro desse paradigma, o questionário foi selecionado como instrumento de geração de dados.

Em um primeiro momento, foram elencadas as escolas que ofereciam curso de FLE como língua não obrigatória: Aliança Francesa de João Pessoa (AFJP), Casa Toulousaine, Centro de Línguas do Estado (CELIN), Centro de Línguas do Município (CELEST), Escola Marista Pio X e curso de extensão da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Em seguida, os gestores das respectivas instituições educacionais - diretores e/ou coordenadores -, e, também, os professores foram contatados. Depois, foram realizadas visitas às salas de aula para explicar a pesquisa aos alunos e, após o consentimento destes, o questionário foi aplicado no primeiro semestre de 201721 21 A pesquisa seguiu todos os procedimentos indicados pelo Comitê de Ética da UFPB. O número do CAAE é 69592717.0.0000.5188. . Participaram 174 estudantes, que estão caracterizados na Tabela 1.

Tabela 1
Perfil dos discentes.

Como mencionado anteriormente, o questionário completo foi elaborado para uma pesquisa de mestrado e foi constituído de dez questões, sendo quatro abertas, cinco semiabertas e uma relacionada ao perfil sociodemográfico do colaborador. As questões abordavam aspectos relacionados à LF e ao seu ensino e aprendizagem. Para o presente trabalho, exploramos apenas uma questão, a saber: por que razão você estuda a língua francesa? Para esta questão, foram construídas 14 opções de resposta22 22 As opções de resposta eram: 1) porque uma parte dos textos do meu curso de graduação/pós-graduação é em francês; 2) para ter melhores oportunidades de emprego; 3) porque pretendo fazer uma pós-graduação num país de língua francesa; 4) porque pretendo fazer um intercâmbio universitário; 5) porque acho o francês uma língua bonita e aprecio a sua sonoridade; 6) porque gosto da cultura dos países de língua francesa; 7) porque é uma língua chique/elegante; 8) porque tenho vontade de (conhecer /morar na) França ou num país de língua francesa; 9) porque permite o (aprendizado de/a comunicação em) outras línguas; 10) porque é mais fácil que a outra língua oferecida na escola; 11) porque meus pais/minha família/meus amigos falam francês; 12) porque meus pais acham que é importante; 13) porque gosto de aprender línguas estrangeiras; 14) porque já terminei meu(s) curso(s) de língua estrangeira e gostaria de agora aprender o francês. nas quais os colaboradores poderiam marcar mais de uma alternativa, bem como acrescentar outros tópicos na opção “outros”. Adicionalmente, foi solicitado um comentário sobre uma das opções assinaladas. Neste trabalho, nos debruçamos nos comentários dos estudantes e realizamos uma análise do conteúdo temático com o fim de identificar as IL que circulam no contexto dos cursos de FLE. Através da leitura e releitura dos comentários, identificamos as seguintes ideologias: LF como representativa de uma cultura superior, LF como língua da França, LF como símbolo de elegância e requinte, LF como língua para o mercado de trabalho, LF como língua da diplomacia e LF como língua da ciência.

No exame dos enunciados produzidos pelos estudantes, realizamos uma análise do conteúdo temático das respostas, bem como utilizamos o aporte da Linguística Textual (Koch, 2000aKoch, I. V. (2000a). A inter-ação pela linguagem. Contexto., 2000bKoch, I. V. (2000b). Argumentação e linguagem (6. ed.). Cortez.) para descrever a função textual-discursiva de diferentes elementos textuais (índice de avaliação, marcador de pressuposição etc.) que contribuem na orientação argumentativa das IL. Isso porque adotamos uma compreensão de que todos os textos são guiados por uma orientação argumentativa na medida em que visam a influenciar o outro, mesmo quando estes não defendem determinado ponto de vista (Cavalcante et al., 2019Cavalcante, M. M., Brito, M. A., Custódio Filho, V., Cortez, S. L., Pinto, R. B. W. S., & Pinheiro, C. L. (2019). O texto e suas propriedades: definindo perspectivas para análise. Revista (Com)textos linguísticos 13(25), 23-59. https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/article/view/27884
https://periodicos.ufes.br/contextosling...
). Desse modo, as relações de sentido identificadas nos textos dos alunos

se instauram, em incessante negociação, pela atividade interativa dos interlocutores na situação enunciativa particular, pelos indícios cotextuais integrados ao contexto sociocultural, pelas determinações do gênero discursivo, pelas ligações intertextuais e pela contenda argumentativa que orienta essa negociação. (Cavalcante et al., 2019Cavalcante, M. M., Brito, M. A., Custódio Filho, V., Cortez, S. L., Pinto, R. B. W. S., & Pinheiro, C. L. (2019). O texto e suas propriedades: definindo perspectivas para análise. Revista (Com)textos linguísticos 13(25), 23-59. https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/article/view/27884
https://periodicos.ufes.br/contextosling...
, p. 27).

Assim, os elementos textuais aqui analisados são tomados como “indícios cotextuais” que compõem um texto e este, por sua vez, é compreendido como um evento comunicativo que é enunciado de forma única e irrepetível, constituindo uma unidade de comunicação e de sentido, necessariamente, associada ao contexto sócio-histórico em que foi produzido (Cavalcante et al., 2019Cavalcante, M. M., Brito, M. A., Custódio Filho, V., Cortez, S. L., Pinto, R. B. W. S., & Pinheiro, C. L. (2019). O texto e suas propriedades: definindo perspectivas para análise. Revista (Com)textos linguísticos 13(25), 23-59. https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/article/view/27884
https://periodicos.ufes.br/contextosling...
). Nessa perspectiva, os enunciados dos alunos “sinalizam para o lugar de fala do locutor, apontando para valores, crenças, ideologias, que vão configurando os pontos de vista gerenciados no texto.” (Cavalcante et al, 2019, p. 31Cavalcante, M. M., Brito, M. A., Custódio Filho, V., Cortez, S. L., Pinto, R. B. W. S., & Pinheiro, C. L. (2019). O texto e suas propriedades: definindo perspectivas para análise. Revista (Com)textos linguísticos 13(25), 23-59. https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/article/view/27884
https://periodicos.ufes.br/contextosling...
). No caso específico deste trabalho, esses enunciados evidenciam as IL sobre a LF.

4. Análise de dados

Confirmando que as IL estabelecem a interseção entre o linguístico e o extralinguístico, identificamos nos textos dos alunos a ideia da LF como representativa de uma cultura superior , ilustrada nos excertos abaixo:

O estudo do francês permite, sobretudo23 23 Todos os grifos nos textos dos alunos são de nossa responsabilidade. , maior conhecimento de uma cultura tão rica e que teve importância relevante no mundo durante muitos anos. (A73)24 24 Os enunciados foram codificados com a letra A e um número cardinal (A1, A2...). e mantivemos a escrita tal qual foi produzida pelos alunos nos questionários. .

A cultura francesa sempre me interessou, sobretudo, a da região da França devido ao grande valor artístico (música, pintura, museu, arquitetura). (A17).

Sendo aluna de design de moda, é importante reconhecer a influência da cultura francesa na moda, pois, até os dias de hoje a França ainda é muito importante no universo da moda (A81).

Como é possível observar nos excertos, o A73 utiliza o advérbio “sobretudo” para destacar o aspecto principal do estudo da LF - a sua cultura -, bem como avalia essa cultura em um grau elevado através do uso do advérbio seguido de um índice de avaliação - “tão rica” -. Com a mesma orientação argumentativa, o A17 utiliza também de índices de avaliação para essa cultura como sendo de “grande valor”, colocando-a em uma escala superior. O texto do A17 e do A81 fazem referência explícita à França e, este último, destaca a influência deste país no campo da moda até hoje através do uso do marcador de pressuposição “ainda”. Embora o A73 não mencione “França” explicitamente, a referência se dá via memória, que pode ser identificada no excerto: “que teve importância relevante no mundo durante muitos anos”, considerando a influência deste país e da sua cultura no mundo.

Nessa perspectiva, a IL da LF como representativa de uma cultura superior circula ainda hoje, o que nos permite supor que ela é reproduzida por diversos organismos responsáveis por sua propagação no mundo, como a Organização Internacional da Francofonia (OIF), a Federação Internacional de Professores de Francês (FIPF), a Federação Brasileira de Professores de Francês (FBPF) e suas Associações de Professores de Francês (APF), dentre as quais elencamos a Associação de Professores de Francês da Paraíba (APFPB), as Embaixadas Francesas, Alianças Francesas, Institutos franceses, dentre outros. Esses organismos se esforçam para propagar ao público a riqueza cultural francófona através de manifestações culturais, formações para os profissionais de FLE, intercâmbios, dentre outros eventos. Desta forma, a OIF promove a cooperação multilateral francófona a serviço de 88 Estados e governos em diversos domínios. No campo da LF, cultura e plurilinguismo, a OIF acompanha os organismos encarregados das PL dos países membros, promove a utilização e a divulgação da LF nos novos espaços de expressão mundial linguística, como no domínio das novas tecnologias, preocupa-se com o risco de homogeneização das línguas devido à globalização e, em consequência, cuida para que a cultura e LF sejam propagadas. Apoia ainda os professores de francês através da Federação Internacional de Professores de Francês (FIPF) e estabelece parcerias com a Embaixada da França no Brasil que, através de suas subvenções, contribui para a divulgação e difusão da cultura francófona e para a realização de projetos pedagógicos e didáticos inovadores no domínio do ensino e aprendizagem da LF. Como ilustração, em novembro de 2021, a APFPB pôde lançar um número da Revista Letras Raras25 25 Link para o número especial da Revista Letras Raras: http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/RLR/issue/view/102. graças à subvenção da Embaixada e ao apoio da FBPF. A Embaixada Francesa também realiza e/ou apoia importantes eventos culturais no Brasil, como o festival de cinema Varilux26 26 Em 2017, o Varilux foi recorde de público com mais de 180 mil espectadores, e passou a ser considerado o maior festival de cinema francês do mundo. Foram 19 filmes franceses inéditos exibidos em 56 cidades brasileiras, além de mesas redondas, masterclass, laboratório de roteiros e sessões educativas. Disponível em: <http://variluxcinefrances.com/2017/o-festival/>. Acesso em: 21 nov. 2017. Em 2020, com a pandemia mundial da COVID 19, o festival aconteceu online e contou, mais uma vez, com a parceria da Embaixada Francesa. Informação disponível em: <http://festivalvariluxemcasa.com.br/>. Acesso em: 24 jul. 2021. Atualmente, o Festival acontece presencialmente desde o 25/12/2021 e vai até o 8/12/2021, em algumas capitais e cidades brasileiras. Informação disponível em: https://variluxcinefrances.com/2021/. Acesso em: 30 nov. 2021. , a Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO)27 27 Festival de música internacional que acontece em algumas cidades brasileiras (em 2017, o festival passou pelas cidades de Olinda, Ouro Preto, Paraty, Tiradentes e Rio de Janeiro), movimenta milhares de pessoas e exibe também filmes, documentários e espetáculos infantis. Em 2021, o MIMO completa 18 anos de existência e encontra-se, atualmente, com edital aberto para o festival. Informação disponível em: <https://mimofestival.com/brasil/edital-premio-mimo-instrumental/>. Acesso em: 24 jul. 2021. e o FranceDanse28 28 O FranceDanse é evento de dança contemporânea que desde 2007 tem se apresentado em todos os continentes. No final de 2016, aconteceu em diversas cidades brasileiras e atingiu 32.000 espectadores. Disponível em:< https://www.pro.institutfrancais.com/fr/offre/francedanse>. Acesso em: 21 nov. 2017. . A importância da difusão da cultura e de eventos francófonos reverberam nos textos dos aprendizes de LF que dizem apreciar as informações culturais trazidas pelo professor em sala de aula. Um dos entrevistados (A53) cita, por exemplo, a “Semana de Cinema Varilux” como sendo uma das razões, dentre outras, para apreciar a aprendizagem da LF.

Todas essas iniciativas francesas servem para fortalecer a IL em torno do francês como língua de uma cultura superior, o que corrobora a compreensão de que essa ideia “é produzida e reproduzida em espaços institucionais que representam interesses concorrentes em termos desses mesmos modelos sociais e políticos.”29 29 No original: “una idea que se produce y reproduce en el seno de espacios institucionais que representan intereses enfrentados en cuanto a eses mismos modelos sociales y políticos.” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016, p. 630). (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
, p. 630). Nesse sentido, as IL sobre a LF propagadas por organismos responsáveis pela difusão dessa língua têm a função de fortalecer o espaço do francês frente a hegemonia da língua inglesa.

Como vimos nos excertos anteriores, a LF também está relacionada a um país específico - a França -, embora saibamos da existência de outros países que têm essa língua como oficial (e.g.: Senegal, Costa do Marfim, Gabão etc.) ou cooficial (e.g.: Canadá, Suíça, Bélgica etc.). Essa ideia ilustra a IL da LF como língua da França, conforme destacamos a seguir:

Penso em um dia ir morar na França, é um país que me identifico. Já visitei por várias vezes e me inspira em certos ideais sociais e econômicos. (A97)

A cultura francesa sempre me interessou, sobretudo, a da região da França devido o grande valor artístico (música, pintura, museu, arquitetura). (A17)

Além da riqueza da cultura europeia, das grandes obras que encontramos em francês, eu penso em visitar o país e conhecer muitas cidades francesas. (A11)

Nos textos, o léxico “França” ou a forma derivada “francesas” aparece, bem como a avaliação positiva de diferentes dimensões da sociedade francesa, como a artística - “das grandes obras que encontramos em francês” (A11), “o grande valor artístico (música, pintura, museu, arquitetura)” - (A17) e como a social e econômica - “me inspira em certos ideais sociais e econômicos” - (A97). O desejo de viajar ou morar neste país é uma razão que motiva os alunos (A97, A11) a estudarem a LF. Essa IL naturaliza (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.; Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
) a relação entre uma língua (LF) e um grupo específico (França), apagando todos os outros países francófonos.

Outra IL presente nos textos dos alunos é a da LF como símbolo de elegância e requinte, conforme ilustramos a seguir.

Além de ser uma língua mais “glamourosa”. (A158)

Eu sempre vi como uma língua chique e elegante, e que tinha um diferencial. (A119)

Um idioma culto, pertencente somente a pessoas de alta classe. (A102)

De uma sonoridade elegante, aspecto chique, conferindo dessa forma, seu rótulo de “elitizada”. (A45)

Observamos a utilização de vários índices de avaliação para a LF - “glamourosa” (A158), “chique” (119) (A45), “elegante” (A119) (A45) e “culto” (A102). Destacamos o texto do A158 que a posiciona como “mais glamourosa” em relação a outras línguas estrangeiras. Essas qualificações evidenciam um campo semântico de requinte, refinamento, de um encanto próprio que caracterizariam a LF. Acerca desta IL, também reproduzida institucionalmente, a Aliança Francesa produz uma campanha com o título “Em francês tudo fica mais charmoso”, na qual situações inusitadas - como encontrar um bigode em um prato de sopa em um restaurante ou receber um vestido com uma marca de queimadura de ferro em uma lavanderia - se transformam em episódios leves e até simpáticos quando explicados em francês30 30 Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=1Z2cIgz_9bA e https://www.youtube.com/watch?v=EblhpZyFYK8>. Acesso em: 15 jul. 2021. .

Por outro lado, essas propriedades (elegância e requinte) estão ligadas a uma camada específica da sociedade na qual os alunos parecem se identificar - uma elite social -. Essa percepção é exibida no texto do A102 que relaciona a LF a “pessoas de alta classe” e do A45 que atribui a ela um qualificativo de “elitizada”, associando-a a determinado grupo social. Ademais, interpretamos que uma razão para aprender esta língua é ter um status diferenciado na sociedade brasileira, assim, saber esta língua significa diferenciar-se das demais pessoas que têm conhecimento do inglês e/ou do espanhol.

Essa ideia ilustra o quanto a IL tem uma função contextualizadora (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.), pois esta visão reflete determinada ordem social existente em nossa sociedade. Nas palavras de Del Valle e Meirinho-Guede (2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
, p 629), “O estudo da condição ideológica das representações da linguagem deve, portanto, passar pela análise do modo como estão vinculadas ao contexto em que operam e da maneira como esse contexto lhes dá sentido pleno.”31 31 No original: “El estudio de la condición ideológica de las representaciones del lenguage deve pasar, por tanto, por el análisis del modo en que están ligadas al contexto en que operan y del modo en que este contexto les confiere pleno significado.” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016, p. 629). . Nessa perspectiva, essa IL confere aos sujeitos que sabem a LF o sentido de ter um diferencial em relação aos outros, no Brasil.

Nos textos dos alunos também emergiu a IL da LF como língua para o mercado de trabalho. Os excertos ilustram essa relação entre a LF e oportunidades de trabalho:

Como estudante de Gastronomia, sinto necessidade de aprender francês, pois a base da confeitaria é francesa e existe muitos materiais de pesquisa que encontramos na língua francesa. (A104)

As oportunidades de emprego serão maiores, por se tratar, a minha área de atuação específica, as Relações Internacionais. (A136)

Ter mais de uma língua em seu currículo abre as oportunidades de emprego mais qualificado. (A105)

Essa IL apresenta a LF como a “chave” ou “senha” para acessar um mercado de trabalho em áreas específicas, como Gastronomia (A104) e Relações Internacionais (A136). Em relação à Gastronomia, o ensino da LF com fins específicos está presente em cursos de bacharelado, principalmente, pelas práticas linguísticas de utilização de muitos termos franceses sem uma tradução para a língua portuguesa (Bessa, 2019Bessa, R. M. R. (2019). Ensinar a língua francesa específica da Gastronomia relatos e reflexões. Língu@ Nostr@ - Revista Virtual de Estudos de Gramática e Linguística, 6(2), 58-73. file:///C:/Users/Usuario/Downloads/linguanostra-4.-ensinar-a-lngua-francesa-especfica-da-gastronomia-relatos-e-reflexes.pdf
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/lingu...
). Nas palavras de Bessa (2019),

Termos franceses da gastronomia no Brasil mostram ainda como eles fazem parte da cultura gastronômica brasileira e no caso da categoria Confeitaria e Panificação, como há, na maioria dos casos, uma fidelidade dos sentidos à matriz francesa, apesar de terem sido atestadas variações e até mesmo possíveis criações. (Bessa, 2019Bessa, R. M. R. (2019). Ensinar a língua francesa específica da Gastronomia relatos e reflexões. Língu@ Nostr@ - Revista Virtual de Estudos de Gramática e Linguística, 6(2), 58-73. file:///C:/Users/Usuario/Downloads/linguanostra-4.-ensinar-a-lngua-francesa-especfica-da-gastronomia-relatos-e-reflexes.pdf
file:///C:/Users/Usuario/Downloads/lingu...
, p. 72).

Já o A105 não menciona uma área específica, mas destaca “oportunidades de emprego mais qualificado”. Nessa perspectiva, a ideia de a LF abrir portas para o mercado de trabalho está imbricada à ideia de oferecer para este candidato um emprego melhor, uma colocação distinta, o que corrobora com a IL da LF enquanto uma língua que pertence a uma elite social. A vinculação entre aprendizagem de língua estrangeira e empregabilidade apresenta algumas nuances quando se refere à LF: não é uma conexão entre realidade linguística e extralinguística que se adéqua a qualquer esfera de atividade laboral, bem como é estabelecida uma conexão com um tipo de emprego “nobre” ou “distinto”.

No que se refere à área de Relações Internacionais, essa IL se desdobra em outra - a de que a LF é a língua da diplomacia -, como podemos observar em:

Para mim, inglês [é importante] por se tratar de uma língua universal e ser falada em todo o mundo, espanhol porque moro na América Latina e francês porque documentos oficiais como exemplo ONU são em francês. (A23)

Essa ideia ancora-se no fato de que há organismos oficiais que têm a LF (acompanhada do inglês e/ou outras línguas) como língua oficial32 32 Dentre os organismos oficiais que tem a LF como língua oficial, podemos citar a ONU, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), o Comitê Internacional Olímpico (CIO), a União Postal Universal (organismo da ONU cuja única língua oficial é o francês e o inglês é considerado língua de trabalho), a União Europeia (UE) e a Comissão Europeia (CE). . Esta IL é ainda reproduzida por instituições de divulgação linguística, como é o caso da Aliança Francesa, que na página oficial de uma de suas unidades apresenta uma série de informações a partir do título “Francês: a língua da diplomacia”33 33 Disponível em: <https://www.aliancafrancesa.com.br/novidades/frances-lingua-da-diplomacia/>. Acesso em: 15 jul. 2021. .

Por outro lado, nos organismos da Organizações das Nações Unidas (ONU), como na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCED), o inglês é praticamente a única língua utilizada e os documentos produzidos ou disponíveis no site desse organismo encontram-se apenas em inglês. Mesmo os organismos com sedes em países francófonos, como é o caso da Comissão dos Direitos Humanos (HCDH), em Genebra, os documentos produzidos são redigidos, primeiramente, em inglês. Já o Ofício das Nações Unidas (ONUG), também em Genebra, privilegia a escrita dos comunicados de imprensa em francês e inglês, enquanto o Ofício das Nações Unidas (ONUV), em Viena, mesmo fazendo parte dos países membros da Francofonia, privilegia o inglês como língua de expressão e de redação de 95% dos documentos originais. O site da internet deste organismo se encontra em inglês e alemão (Wolf, 2008Wolf, A. (2008). Le français dans les organisations internationales. In L’avenir du Français (p. 25-29). Éditions des archives contemporaines.).

E, por último, identificamos a IL da LF como língua da ciência, conforme ilustram os excertos abaixo.

Pretendo fazer pós-graduação em um país da francofonia, especificamente Canadá (Quebec) ou França. Outra razão é que ao compreender francês terei acesso às publicações científicas publicadas nesse idioma. (A109)

O francês é uma língua que abre outras oportunidades, acadêmicas ou profissionais; curso arquitetura e a França oferece bons cursos de graduação e pós que pretendo me inscrever. (A32)

Produção acadêmica em minha área de pesquisa é muito relevante na França. (A95)

Nos textos, a LF é apresentada como “porta de entrada” para acessar o conhecimento científico produzido e divulgado nesta língua (A109, A95), bem como para ter “oportunidades acadêmicas” (A32). A associação entre o francês e o campo acadêmico é apresentado de duas formas distintas pelos estudantes: destacando ou não as áreas do conhecimento. A109 não particulariza um campo, já A32 e A95 especificam, respectivamente, “Arquitetura” e “minha área de pesquisa”. O papel da LF é categorizado em uma escala superior pelo A95 através do uso do advérbio “muito” como modificador do índice de avaliação “relevante”. O destaque feito pelos estudantes para a LF em algumas áreas coexiste com outra IL que circula no campo acadêmico - o inglês é a língua franca para a divulgação científica -. Contudo, a IL do francês como língua da ciência decorre de “avaliações que os falantes fazem das formas em um determinado espaço social” (Arnoux & Del Valle, 2010Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
, p. 6). No caso em tela, os estudantes de francês de algumas áreas do conhecimento compartilham uma valoração positiva sobre o francês no campo científico.

5. Considerações finais

O valor atribuído às línguas muda ao longo do tempo, um claro exemplo é a LF, que hoje não tem o mesmo prestígio que lhe foi conferido a partir do século XVII, período em que a França viveu uma intensa prosperidade econômica, política e cultural. No entanto, a partir da Segunda Guerra Mundial, o valor atribuído a esta língua já não será o mesmo e sua condição de língua internacional, de língua indispensável perderá força, e o inglês, paulatinamente, passará a ocupar este lugar. A LF já não goza do mesmo status de outrora.

Por outro lado, olhar para as motivações dos estudantes de João Pessoa presentes nos comentários analisadas neste trabalho, nos mostra que, apesar do declínio da LF no âmbito internacional, parte significativa das IL relacionadas a ela ainda circulam e perduram em sua materialidade histórica. Os processos de política linguística expõem suas ideologias, pois ao mesmo tempo ocultam e revelam posições políticas e sociais e mostram seu sentido histórico, e isto fica claro nos desdobramentos do status conferido às línguas ao longo do tempo. Hoje, através de seus organismos e instituições oficiais, tais como: OIF, Embaixadas e Consulados Franceses, Federações e Associações de professores de francês, Institutos e Aliança Franceses, dentre outros, essas IL se reproduzem em diferentes contextos. Apesar de a Francofonia ser um dispositivo geopolítico que vai além da língua, a preservação e difusão linguística estão entre seus principais objetivos. Assim, em uma nova contextualidade - no mercado linguístico, a LF não tem o mesmo valor que o inglês ou o espanhol, por exemplo -, velhas IL encontram espaço para serem difundidas institucionalmente e para garantir a permanência da naturalização das características que lhe são atribuídas. E embora o discurso da Francofonia vise a destacar a diversidade cultural e superar uma herança colonial, nos textos dos alunos, ainda persiste uma IL que relaciona a LF a uma nação específica - a França, o que confirma empiricamente as relações de poder que estão embutidas nesse empreendimento político.

Em suma, as ideias sobre a LF expressas nos textos dos alunos apresentam conexões diversas com diferentes dimensões sociais: estética - LF como símbolo de elegância e requinte e LF como representativa de uma cultura superior; epistemológica - LF como língua da ciência; identidade nacional - LF como língua da França; identidade internacional - LF como língua da diplomacia; e, laboral - LF como língua para o mercado de trabalho. Considerando o contexto educacional em que estão inseridos os participantes, questionamos se estas IL não seriam reproduções das que estão presentes em materiais didáticos, nas práticas dos professores e em anúncios de divulgação de cursos de FLE, o que suscitaria a realização de novas investigações.

Acreditamos que as reflexões realizadas neste trabalho exemplificam, por meio de um estudo sobre a LF, a incidência das IL nos discursos relacionados à aquisição de línguas. As IL trazem inúmeras consequências para processos sociais e linguísticos, e incorporar estudos que se dediquem a sua análise e interpretação ao campo da Linguística é de fundamental importância para incrementar seus resultados e estreitar laços, sempre tão profícuos, com áreas do conhecimento que dialogam diretamente com a Política Linguística.

Referências

  • Arnoux, E. N., & Del Valle, J. (2010). Las representaciones ideológicas del lenguaje: discurso glotopolítico y panhipanismo. Spanish in context, 7(1), 1-24. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
    » https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1073&context=gc_pubs
  • Bessa, R. M. R. (2019). Ensinar a língua francesa específica da Gastronomia relatos e reflexões. Língu@ Nostr@ - Revista Virtual de Estudos de Gramática e Linguística, 6(2), 58-73. file:///C:/Users/Usuario/Downloads/linguanostra-4.-ensinar-a-lngua-francesa-especfica-da-gastronomia-relatos-e-reflexes.pdf
    » file:///C:/Users/Usuario/Downloads/linguanostra-4.-ensinar-a-lngua-francesa-especfica-da-gastronomia-relatos-e-reflexes.pdf
  • Biichlé, L. (2012). Le parcours d’une invisible par procuration. In C. Trimaille & J-M. Eloy (Eds.), Idéologies linguistiques et discriminations (pp. 47-58). L’Harmattan.
  • Briggs, C. L. (2012). ¡Eres un mentiroso. Igual que una mujer!’ Construyendo ideologías lingüísticas dominantes en los chismes de los hombres warao. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard, & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 297-331). Catarata.
  • Cavalcante, M. M., Brito, M. A., Custódio Filho, V., Cortez, S. L., Pinto, R. B. W. S., & Pinheiro, C. L. (2019). O texto e suas propriedades: definindo perspectivas para análise. Revista (Com)textos linguísticos 13(25), 23-59. https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/article/view/27884
    » https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/article/view/27884
  • Collins, J. (2012). Nuestras ideologias y las de ellos. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 332-350). Catarata.
  • Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana.
  • Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
    » https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
  • Gal, S. (2012). Multiplicidad y controvérsia entre ideologias. Comentario. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 405-424). Catarata.
  • Hill, J. H. (2012). ‘Hoy no hay respeto’. Nostalgia, ‘respeto’ y discurso antagónico en las ideologías lingüísticas del habla mexicano (Náhuatl). In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 95-117). Catarata.
  • Koch, I. V. (2000a). A inter-ação pela linguagem. Contexto.
  • Koch, I. V. (2000b). Argumentação e linguagem (6. ed.). Cortez.
  • Koffmann, R. S. L, (2018). Ideologias Linguísticas sobre a língua francesa nos discursos dos alunos e professores dos cursos de línguas de João Pessoa. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal da Paraíba. https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/16721
    » https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/16721
  • Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising.
  • Kroskrity, P. V. (2012). El habla utilizada en la kiva de los tewas de Arizona como manifestación de una ideología lingüística dominante. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 139-163). Catarata.
  • Lin, A. M. Y. (2015). Research posicionality. In F. M. Hult & D. C. Johnson (Eds.), Research methods in Language Policy anda Planning: A practical guide (pp. 21-32). Wiley Blackwell.
  • Passoni, T. P. (2018). O programa Inglês sem Fronteiras como política linguística: um estudo sobre as ideologias da língua inglesa no âmbito da internacionalização do ensino superior brasileiro. [Tese de Doutorado]. Universidade Estadual de Londrina. http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000218338
    » http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000218338
  • Rocha, C. F. (2020). Ideologias linguísticas sobre a língua: uma análise glotopolítica da BNCC-EF. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal Fluminense. https://app.uff.br/riuff/handle/1/14590
    » https://app.uff.br/riuff/handle/1/14590
  • Rivas, C. C. M. (2015). Ideologias linguísticas e políticas de línguas indígenas: estudo comparativo no Brasil e no México a partir de 1988. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal Fluminense. https://app.uff.br/riuff/handle/1/3022
    » https://app.uff.br/riuff/handle/1/3022
  • Schieffelin, B. B., & Doucet, R. C. (2012). El criollo haitiano ‘real’: ideología, metalingüística y opción ortográfica. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard & P. V. Kroskrity (Orgs.). Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 368-404). Catarata.
  • Silverstein, M. (1979). Language structure and linguistic ideology. In P. R. Clyne, W. F. Hanks & C. L. Hofbauer (Orgs.). The elements: A parasession on linguistic units and levels (p. 193-247). Chicago Linguistic Society/University of Chicago.
  • Spitulnik, D. (2012). Mediando entre la unidad y la diversid. La producción de ideologías lingüísticas en la radiodifusión zambiana. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 212-244). Catarata.
  • Spolsky, B. (2004). Language policy. Cambridge University Press.
  • Spolsky, B. (2009). Language management. Cambridge University Press.
  • Spolsky, B. (2012). What is language policy. In B. Spolsky (Ed.), The Cambridge handbook of language policy (p. 3-15). Cambridge University Press.
  • Wolf, A. (2008). Le français dans les organisations internationales. In L’avenir du Français (p. 25-29). Éditions des archives contemporaines.
  • Woolard, K. A. (2012). Introducción. Las Ideologías lingüísticas como campo de investigación. In B. B. Schieffelin, K. A. Woolard, K. & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 19-69). Catarata.
  • Zomer, A. H. (2020). Ideologias e políticas linguísticas em jogo: reflexões sobre discursos acerca de práticas comunicativas na colônia holandesa de Arapoti/PR. 2020. [Tese de Doutorado]. Universidade Estadual de Campinas. https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_96a1fc76f07ade349ec458e868d5cc81
    » https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_96a1fc76f07ade349ec458e868d5cc81
  • 4
    A pesquisa foi realizada no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Utilizamos os seguintes filtros: o termo “ideologia linguística”, os anos de 2012 a 2021 e as áreas de Letras, Linguística Aplicada, Linguística e Língua Portuguesa.
  • 5
    Verificamos esta lacuna temática a partir de um levantamento feito no Banco de Teses e Dissertações da Capes sobre a LF no contexto educacional.
  • 6
    Na edição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2022, o inglês será a única língua estrangeira.
  • 7
    O questionário completo conta com dez perguntas e foi elaborado para a conformação do corpus da dissertação de mestrado de Koffmann (2018Koffmann, R. S. L, (2018). Ideologias Linguísticas sobre a língua francesa nos discursos dos alunos e professores dos cursos de línguas de João Pessoa. [Dissertação de Mestrado]. Universidade Federal da Paraíba. https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/16721
    https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle...
    ) - desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFPB e defendida em 2018.
  • 8
    Todas as traduções são de responsabilidade das autoras. No original: “Language ideology or beliefs designate a speech community’s consensus on what value to apply to each of the language variables or named language varieties that make up its repertoire.” (Spolsky, 2004Spolsky, B. (2004). Language policy. Cambridge University Press. , p. 14).
  • 9
    No original: “sets of beliefs about language articulated by the users as a rationalization or justification of perceived language structure and use.” (Silverstein, 1979Silverstein, M. (1979). Language structure and linguistic ideology. In P. R. Clyne, W. F. Hanks & C. L. Hofbauer (Orgs.). The elements: A parasession on linguistic units and levels (p. 193-247). Chicago Linguistic Society/University of Chicago. , p. 193).
  • 10
    No original: “the role of linguistic awareness as a condition which permits speakers to rationalize and otherwise influence a language’s structure.” (Kroskrity, 2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising., p. 497).
  • 11
    No original: “[...] sistemas de ideas que articulan nociones del lenguage, las lenguas, el habla y/o la comunicación con formaciones culturales, políticas y/o sociais específicas. Aunque pertenecen al ámbito de las ideas y se pueden concebir como marcos cognitivos que ligan coherentemente el lenguaje con un orden extralingüístico, naturalizándolo y normalizandólo (Van Dick, 1995), también hay que señalar que se producen y repoducen en el ámbito material de las prácticas lingüísticas y metalingüísticas, de entre las cuales presentan para nosotros interés especial las que exhiben un alto grado de institucionalización.” (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana., p. 193).
  • 12
    No original: “Si bien las ideologías lingüísticas hacen siempre referencia a temas del conociemento humano (ideas, conciencia y creencias sobre la relaci[on entre la lengua y el habla en la vida social).” (Gal, 2012Gal, S. (2012). Multiplicidad y controvérsia entre ideologias. Comentario. In B. B. Schieffelin, K. A. Wooard & P. V. Kroskrity (Eds.), Ideologías lingüísticas: práctica y teoría (pp. 405-424). Catarata. , p. 408).
  • 13
    No original: “Se fueran producindo así una serie de convergencias entre las que acabo de llamar ramas contextuales de la lingüística y lo que ya convencionalmente se reconece como el giro lingüístico de las ciencias sociales y de la filosofia que crearon las condiciones necesarias para el desarollo y reconocimiento de la categoría analítica que aquí nos ocupa: las ideologías ligüísticas.” (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana., p. 19).
  • 14
    No original: “Se trata de uma categoria que nos invita a pensar el linguaje em relación com el contexto” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
    https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
    ).
  • 15
    No original: “au rapport qui existe entre apprentissage ou connaissance du français et intégration” (Biichlé, 2012Biichlé, L. (2012). Le parcours d’une invisible par procuration. In C. Trimaille & J-M. Eloy (Eds.), Idéologies linguistiques et discriminations (pp. 47-58). L’Harmattan., p. 47).
  • 16
    No original: “y tienen efecto naturalizador - como si de verdades inapelables se tratara - de las imágenes que producen del linguaje.” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
    https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
    , p. 622).
  • 17
    Para Kroskrity (2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising.), as IL se constituem em um conceito agrupado de diferentes dimensões que, por sua vez, estão em convergência umas com as outras.
  • 18
    No original: “language ideologies represent the perception of language and discourse that is constructed in the interest os a specifc social or cultural group.” (Kroskrity, 2009Kroskrity, P. V. (2009). Language ideologies. In A. Duranti (Ed.), A companion to Linguistic Antropology. Blackwell Publising., p. 501).
  • 19
    No original: “prácticas e ideas naturalizadas y normalizadoras de un ordem extralingüístico, con la legitimación de un tipo determinado de saber que sirve de soporte al ejercicio del poder e la autoridad.” (Del Valle, 2007Del Valle, J. (2007). Glotopolítica, ideología y discurso: categorías para el estudio del estatus simbólico del español. In J. Del Valle (Ed.), La lengua, ¿pátria común? Ideas e ideologías del español (pp. 13-29). Vervuert/Iberoamericana., p. 22).
  • 20
    No original: “the interpretative approaches focus on understanding the purpose and meaning of social actors and social actions.” (Lin, 2015Lin, A. M. Y. (2015). Research posicionality. In F. M. Hult & D. C. Johnson (Eds.), Research methods in Language Policy anda Planning: A practical guide (pp. 21-32). Wiley Blackwell., p.25).
  • 21
    A pesquisa seguiu todos os procedimentos indicados pelo Comitê de Ética da UFPB. O número do CAAE é 69592717.0.0000.5188.
  • 22
    As opções de resposta eram: 1) porque uma parte dos textos do meu curso de graduação/pós-graduação é em francês; 2) para ter melhores oportunidades de emprego; 3) porque pretendo fazer uma pós-graduação num país de língua francesa; 4) porque pretendo fazer um intercâmbio universitário; 5) porque acho o francês uma língua bonita e aprecio a sua sonoridade; 6) porque gosto da cultura dos países de língua francesa; 7) porque é uma língua chique/elegante; 8) porque tenho vontade de (conhecer /morar na) França ou num país de língua francesa; 9) porque permite o (aprendizado de/a comunicação em) outras línguas; 10) porque é mais fácil que a outra língua oferecida na escola; 11) porque meus pais/minha família/meus amigos falam francês; 12) porque meus pais acham que é importante; 13) porque gosto de aprender línguas estrangeiras; 14) porque já terminei meu(s) curso(s) de língua estrangeira e gostaria de agora aprender o francês.
  • 23
    Todos os grifos nos textos dos alunos são de nossa responsabilidade.
  • 24
    Os enunciados foram codificados com a letra A e um número cardinal (A1, A2...). e mantivemos a escrita tal qual foi produzida pelos alunos nos questionários.
  • 25
    Link para o número especial da Revista Letras Raras: http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/RLR/issue/view/102.
  • 26
    Em 2017, o Varilux foi recorde de público com mais de 180 mil espectadores, e passou a ser considerado o maior festival de cinema francês do mundo. Foram 19 filmes franceses inéditos exibidos em 56 cidades brasileiras, além de mesas redondas, masterclass, laboratório de roteiros e sessões educativas. Disponível em: <http://variluxcinefrances.com/2017/o-festival/>. Acesso em: 21 nov. 2017. Em 2020, com a pandemia mundial da COVID 19, o festival aconteceu online e contou, mais uma vez, com a parceria da Embaixada Francesa. Informação disponível em: <http://festivalvariluxemcasa.com.br/>. Acesso em: 24 jul. 2021. Atualmente, o Festival acontece presencialmente desde o 25/12/2021 e vai até o 8/12/2021, em algumas capitais e cidades brasileiras. Informação disponível em: https://variluxcinefrances.com/2021/. Acesso em: 30 nov. 2021.
  • 27
    Festival de música internacional que acontece em algumas cidades brasileiras (em 2017, o festival passou pelas cidades de Olinda, Ouro Preto, Paraty, Tiradentes e Rio de Janeiro), movimenta milhares de pessoas e exibe também filmes, documentários e espetáculos infantis. Em 2021, o MIMO completa 18 anos de existência e encontra-se, atualmente, com edital aberto para o festival. Informação disponível em: <https://mimofestival.com/brasil/edital-premio-mimo-instrumental/>. Acesso em: 24 jul. 2021.
  • 28
    O FranceDanse é evento de dança contemporânea que desde 2007 tem se apresentado em todos os continentes. No final de 2016, aconteceu em diversas cidades brasileiras e atingiu 32.000 espectadores. Disponível em:< https://www.pro.institutfrancais.com/fr/offre/francedanse>. Acesso em: 21 nov. 2017.
  • 29
    No original: “una idea que se produce y reproduce en el seno de espacios institucionais que representan intereses enfrentados en cuanto a eses mismos modelos sociales y políticos.” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
    https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
    , p. 630).
  • 30
  • 31
    No original: “El estudio de la condición ideológica de las representaciones del lenguage deve pasar, por tanto, por el análisis del modo en que están ligadas al contexto en que operan y del modo en que este contexto les confiere pleno significado.” (Del Valle & Meirinho-Guede, 2016Del Valle, J., & Meirinho-Guede, V. (2016). Ideologías lingüísticas. In J. Gutiérrez-Rexach (Ed.), Enciclopedia de lingüística hispánica (v. 2. pp. 622-631). Routledge. https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=&httpsredir=1&article=1273&context=gc_pubs
    https://academicworks.cuny.edu/cgi/viewc...
    , p. 629).
  • 32
    Dentre os organismos oficiais que tem a LF como língua oficial, podemos citar a ONU, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), o Comitê Internacional Olímpico (CIO), a União Postal Universal (organismo da ONU cuja única língua oficial é o francês e o inglês é considerado língua de trabalho), a União Europeia (UE) e a Comissão Europeia (CE).
  • 33

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    23 Set 2021
  • Aceito
    10 Jan 2022
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP PUC-SP - LAEL, Rua Monte Alegre 984, 4B-02, São Paulo, SP 05014-001, Brasil, Tel.: +55 11 3670-8374 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: delta@pucsp.br