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EDITORIAL

Num processo sempre dinâmico, estamos atentos às constantes mudanças na área da educação e, em especial, às ocorridas no campo das publicações periódicas. Temos observado um aumento expressivo das submissões de manuscritos nos últimos anos, mas, apesar do intenso fluxo, nos quase 30 anos de Educação em revista, procuramos manter o compromisso com a qualidade. Nesse contexto de mudanças, temos promovido adequações estruturais e processuais na revista. Um bom exemplo disso é a ampliação do quadro de editores. No começo de 2011, contávamos com uma estrutura organizacional composta por comissão editorial formada por um editor e dois editores adjuntos. Ao longo de 2011, fomos ampliando, gradativamente, a comissão, que, a partir de 2012, passou a contar com cinco editores adjuntos. Júnia Pereira Sales é a mais nova integrante da comissão. Quanto aos aspectos processuais, destaca-se a mudança da periodicidade da revista. De 1985, ano da primeira edição, até 2008 editávamos dois números a cada ano. A partir de 2009, passamos a publicar três números por ano e, em 2012, Educação em Revista passará a ser trimestral, ou seja, publicaremos, a partir de agora, quatro números a cada ano. Estamos preparando outras novidades que serão oportunamente comunicadas a todos os nossos leitores e colaboradores.

O primeiro número de 2012, volume 28, número 1, traz 22 artigos, que abrangem uma vasta gama de temáticas. Os artigos foram organizados em quatro blocos, em função da proximidade dos temas. No primeiro bloco, o eixo que aproxima os artigos é o da discussão de aspectos relacionados à história da educação; o tema que perpassa os artigos do segundo bloco focaliza questões relativas à docência; no terceiro bloco, ganham evidência os diferentes sujeitos da educação; e, finalmente, no quarto bloco, os textos tratam de diferentes experiências político-educativas.

No primeiro bloco, numa perspectiva histórica, temos seis artigos. O primeiro deles, de Amélia Cristina Bezerra, tem como título "O magistério de ensino secundário e a regulamentação da profissão (1931-1946)" e analisa tensões e disputas trabalhistas e a expansão do setor educacional privado, após 1930. Heloisa Rocha e Pedro Pinto Neto são os autores do artigo "Dos temores ao encanto: o cotidiano escolar na literatura brasileira". Eles partem de observação do lugar privilegiado que a literatura dos séculos XIX e XX ocupa nos processos de produção sobre a escola, para examinar os cotidianos escolares e os modos como seus sujeitos os representam. Em "O lugar simbólico da criança no Brasil: uma influência roubada?", Roselene Gurski analisa o lugar simbólico da infância no Brasil. Para tanto, ancora-se no conceito de experiência em Walter Benjamin, com apoio também em noções psicanalíticas, e argumenta sobre a possível ausência de um estatuto simbólico da criança. A questão da infância também é central no texto "A interiorização da assistência à infância durante a primeira república: de São Paulo a Ribeirão Preto", de autoria de Sérgio César da Fonseca. Em especial, são analisados o Asilo Anália Franco, o Instituto de Proteção e Assistência à Infância e o Patronato Diogo Feijó, como exemplos de interiorização da assistência à infância no estado de São Paulo, no final do século XIX e início do século XX. Kezia Nunes e Amarílio Ferreira Neto são os autores de "Além da lama e do lixo: movimentos de escolarização em São Pedro, Vitória/ES (1977-2007)". No texto, eles discutem um processo histórico particular de escolarização da infância. A partir de narrativas de atores como uma cozinheira e uma auxiliar de serviços gerais, analisam os usos táticos e estratégicos praticados pelos sujeitos envolvidos nos processos de mobilização popular. No texto "Reflexões sobre a influência de Maquiavel na educação e na formação do Estado Moderno", Terezinha Oliveira e Sandra Rubim tomam como fio condutor a obra O Príncipe. As autoras argumentam a favor da importância do estudo do pensamento de Maquiavel para a compreensão dos fundamentos políticos da modernidade e da formação do sujeito político moderno.

O eixo condutor, nos sete artigos do segundo bloco, é a docência, tanto nos aspectos relativos à formação quanto nos que dizem respeito à atuação docente. "A psicologia e o programa Ler e Escrever: a formação de Professores na escola" é o título do texto de Maria Sawaya. A autora analisa como os projetos de formação de professores em serviço têm se apropriado das concepções psicológicas sobre as crianças e sobre a aprendizagem. Reginaldo Carneiro investigou a escrita de diários por estudos de Pedagogia e apresenta os principais resultados no texto "A escrita de diários na formação docente". Ele salienta a importância da escrita para a formação desses futuros docentes. O campo da formação de professores para a Educação Profissional e Tecnológica é o tema central do texto de José Ângelo Gariglio e Suzana Burnier. Com o título "Saberes da docência na Educação Profissional e Tecnológica: um estudo sobre o olhar dos professores", os autores partem de uma reflexão sobre os saberes mobilizados pelos docentes e apontam para a necessidade de políticas públicas que viabilizem ações como regulamentação do exercício da docência na educação profissional. Zenita Guenther e Carina Rondini são as autoras de "Capacidade, dotação, talento e habilidades – uma sondagem da conceituação pelo ideário dos educadores". O texto analisa a conceituação de termos ligados ao tema da superdotação e conclui afirmando que há confusão nas referidas conceituações. A educação ambiental é o tema central do texto de Mayla Willik Valenti, Haydée Torres de Oliveira, Pavel Dodonov e Maura Machado Silva. O artigo tem como título "Educação ambiental em unidades de conservação: políticas públicas e a prática educativa" e realiza um estudo exploratório sobre as ações de educação ambiental desenvolvidas em unidades de conservação (UCs) brasileiras e uma possível influência do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) nessas práticas.

Nos dois últimos textos desse bloco, o destaque está no diálogo entre arte e prática educativa. Em "Performance e educação: relações, significados e contextos de investigação", Marcelo Pereira apresenta e discute o conceito de performance no contexto da prática educativa de professores, além de refletir sobre a materialidade da comunicação docente. Pedro Bessa e Vanderlei Mendes são os autores de "Conteúdo básico comum: ensino de arte em escolas públicas estaduais de Belo Horizonte". No texto, os autores apresentam os resultados de uma investigação sobre a implementação do ensino de arte em duas escolas públicas de nível médio, oferecendo material para que se reflita sobre o ensino de arte em outros contextos educativos.

No terceiro bloco, destacamos o sujeito da educação como centro das reflexões. "O papel dos relacionamentos interpessoais na internacionalização de instituições de ensino superior" é o título do texto de Roberto Duarte, José Castro e Ana Luiza Cruz. Os autores destacam que a literatura especializada negligencia alguns aspectos como o papel das redes de relacionamentos dos docentes nos processos de internacionalização. Assim, se debruçam na investigação comparativa entre duas universidades confessionais e mostram o papel relevante dos contatos interpessoais dos professores para o sucesso das políticas de internacionalização. Cristina Frade e Luciano Meira são os autores de "Interdisciplinaridade na escola: subsídios para uma zona de desenvolvimento proximal como espaço simbólico". Eles investigam como e em que condições uma proposta de trabalho interdisciplinar de Ciências e Matemática poderia encorajar os alunos a cruzar fronteiras disciplinares. Os resultados encontrados, segundo os autores, permitem argumentar a favor da zona de desenvolvimento proximal como espaço simbólico de mediação semiótica. O texto "Juventudes, conectividades múltiplas e novas temporalidades", de autoria de Suzana Schwertner e Rosa Fischer, discute as mudanças tecnológicas e seus efeitos nos modos de relacionamentos dos jovens. A pesquisa se desenvolve a partir de dados sobre o uso do tempo em relação ao consumo cultural de jovens. Maria José Viana apresenta os resultados da análise de entrevista e de autobiografias escolares em "Práticas socializadoras em famílias populares e a longevidade escolar dos filhos". Os dados coletados permitiram o direcionamento do olhar para o modo de autoridade parental e para traços disposicionais dos sujeitos/alunos(as) entrevistados(as). O mote para o artigo "A desatenção como eco da paixão pelo real", de autoria de Luciana Rodrigues e Márcio Farias, é o da discussão da capacidade de atenção na leitura alterada, na contemporaneidade, pelos processos de virtualização do real da indústria cultural. A partir da reflexão sobre a formulação de autores como Adorno, Freud e Zuin, os autores argumentam que a paixão pelo real produz uma dificuldade de que nos detenhamos perante algo, o que torna a desatenção um índice da angústia do particular.

No quarto bloco, três textos com temáticas distintas se aproximam pela dimensão política das suas discussões. Marilene Ribeiro é a autora do artigo "Educação do campo: embate entre movimento camponês e estado", no qual aponta a educação do campo como uma conquista do movimento camponês. O texto tem como intuito promover uma reflexão sobre os atuais desafios desse movimento. Com o título "Gestores escolares da Rede Pública em Minas Gerais – fatores de satisfação no trabalho", o texto de Luiz Rodrigo Moura, Luiza Lúcia Santana, Nina Rosa Cunha, Marco Aurélio Ferreira e Adriel Oliveira tem como objetivo investigar atitudes gerais de gestores da educação pública no cotidiano do trabalho. Os resultados apontam para a satisfação dos gestores em relação a alguns fatores como integração social e oportunidade de crescimento profissional. Também se aponta para um sentimento de ausência de satisfação em fatores como remuneração. Vera Lúcia Balinas e Álvaro Luis da Cunha se apoiam em Michel Foucault no texto "Apontamentos: a revista que não existe". Os autores analisam a criação da revista Apontamentos e, ao relativizarem ciência e cultura, argumentam sobre a cientificidade de uma experiência político-pedagógica.

Boa leitura!

Sérgio Cirino, Ana Galvão, Manuela David Geraldo Leão e Zélia Versiani

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 2012
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