Neste número de Educação em Revista, apresentamos ao leitor três conjuntos de artigos: 1. A educação em diferentes interfaces com a cultura; 2. A educação nas dimensões do ensino e da aprendizagem; e 3. Análises educacionais sob a perspectiva foucaultiana. O presente número traz também o registro de uma conferência proferida por Tim Ingold, na UFMG, e, para finalizar, duas resenhas de livros recentemente publicados.
Abrindo o primeiro conjunto de artigos, Nelson de Luca Pretto, Salete Noro Cordeiro e Washington dos Santos Oliveira se valem de questões como software livre, código aberto, ética de colaboração de hackers, para discutir potencialidades de processos tecnológicos nos campos da educação e da cultura, no texto Produção cultural e compartilhamento de saberes em rede: entraves e possibilidades para a cultura e a educação. Cultura e história indígena estão no centro das reflexões propostas no artigo Narrativas Maxakali: possibilidades para o ensino de cultura e história indígena. De autoria de Pablo Luiz de Oliveira Lima e Nayara Silva de Carie, esse texto propõe o diálogo entre narrativas indígenas e teorias sobre narrativa histórica. A questão da cultura também é explorada no texto de Hércules Pimenta dos Santos. Com o título Minorias étnicas e educação: o Colégio Arnaldo Jansen de Belo Horizonte MG (1912-1947), o texto analisa, historicamente, tensões culturais, no campo da educação, ocorridas no começo do século XX. Fechando o primeiro conjunto de artigos, o texto Eventos artísticoculturais e participação da família na escola de educação infantil apresenta um estudo realizado em 2009, no norte da Itália, por Cinthia Magda Fernandes Ariosi. A autora analisa a contribuição de atividades culturais para a efetivação de práticas participativas da família no cotidiano da escola.
As dimensões do ensino e da aprendizagem são eixos centrais dos quatro textos do segundo conjunto de artigos. O primeiro, de autoria de Cláudio de Paiva Franco, tem como título Revisitando o conceito de autonomia no ensinoaprendizagem de línguas como sistema adaptativo complexo. Como indicado pelo próprio autor, o texto revisita o conceito de autonomia no contexto de ensinoaprendizagem de línguas e discute, "à luz da teoria da complexidade, a noção de autonomia como sistema adaptativo complexo". O segundo texto do conjunto aborda a questão da aprendizagem por uma perspectiva bastante diferente do primeiro, a perspectiva piagetiana. O texto é assinado por quatro autoras, Eliane Giachetto Saravali, Taislene Guimarães, Karina Perez Guimarães e Ana Paula Melchiori e tem como título Crenças envolvendo o não aprender: um estudo evolutivo sobre a construção do conhecimento social. Andréa Tereza Brito Ferreira é autora de Práticas dos professores alfabetizadores da EJA: o que fazem os professores, o que pensam os seus alunos. Nesse texto, ela analisa práticas de alfabetização de professoras da EJA e a relação dessas práticas "com a aprendizagem dos alunos no que se refere à apropriação da escrita alfabética". O último texto desse conjunto tem como título Investigando as interações em sala de aula: Wallon e as vinculações afetivas entre crianças de cinco anos. O texto é de autoria de Liege Gasparim e Helga LossSant'Ana e aborda questões da sala de aula a partir da perspectiva teórica de Henri Wallon.
O terceiro conjunto de artigos traz dois textos inspirados nas reflexões do francês Michel Foucault (19261984), um dos mais influentes pensadores ocidentais da segunda metade do século XX. O primeiro texto, de autoria de Maria Manuela Alvez Garcia, tem como título Teoria e prática na formação de professores: a prática como tecnologia do eu docente. Nele, são analisadas as "Diretrizes Curriculares para a Formação dos Professores da Educação Básica" no início da década de 2000, a partir das relações entre teoria e prática. Um dos conceitoschave usado pela autora, na referida análise, é o de governamentalidade. O segundo texto desse conjunto tem como título O bem e o mal da ordem pedagógica ou das relações possíveis entre o discurso religioso e o discurso pedagógico. Segundo o próprio autor, André Picanço Favacho, o argumento central do estudo é o de que "o cristianismo produziu as primeiras práticas de ensino no Ocidente e consolidou os primeiros contornos daquilo que podemos chamar discurso pedagógico".
Em outubro de 2011, o antropólogo inglês Tim Inglod visitou a UFMG a convite do IEAT (Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares). Na oportunidade, ele proferiu uma conferência com o título Making, growing, learning. Nessa conferência, Tim Ingold desenvolve a noção de que aprender é compreender na prática. Nessa perspectiva, ele se contrapõe à noção de aprendizagem como transmissão geracional de conhecimentos, por outro lado, também desenvolve a noção de que cada geração contribui para a próxima geração, na medida em que define tarefas e condições nas quais os principiantes crescem e se desenvolvem com a sabedoria dos antecessores. A conferência de Ingold é, sem dúvida, um convite à reflexão sobre as práticas de ensino e aprendizagem que habitam o cotidiano dos corredores das faculdades de educação em todo o mundo. Assim, acreditamos que sua leitura possa inspirar novos olhares e fazeres no campo da educação.
O número traz ainda duas resenhas. A primeira, de autoria de Francisca Izabel Pereira Maciel, intitulada Leitor em construção e/ou construção do leitor?, apresenta o livro Sobre ler, escrever e outros diálogos, uma coletânea de ensaios de Bartolomeu Campos de Queiroz organizada por Júlio Abreu. O livro "mantém vivo o pensamento de Bartolomeu", falecido em 2012. A segunda resenha, de autoria de Beatriz Gaydeczka, chamada A importância da leitura de imagens no ensino, aborda a obra Leitura de imagens, de Lucia Santaella, que "se propõe a ensinar a leitura de elementos não verbais que constroem o todo em imagens visuais".
Boa leitura!
Sérgio Cirino
Ana Galvão
Geraldo Leão
Júnia Sales
Manuela David
Zélia Versiani
(Editores)
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
10 Out 2013 -
Data do Fascículo
Set 2013
